Uma análise quase completa da possível degradação militar da Ucrânia pelo estrangulamento energético e da morte provável ou nova emigração maciça da população pela paralisia econômica e social do país, o maior crime de guerra e contra a humanidade do Estado terrorista de Putin. Não é possível que Lula considere a Rússia como um interlocutor válido nas atuais circunstâncias; se o fizer, será um aliado de um criminoso de guerra.
Impossibilitado de conquistar a Ucrânia, Putin está agora empenhado em destrui-la completamente, em reduzi-la a ruínas, e a matar o seu povo. Depois de Hitler é o mais sério candidato a um Nuremberg, que infelizmente não virá.
Paulo Roberto de Almeida
Breve análise sobre os ataques de mísseis de cruzeiro e drones kamikaze ao sistema energético ucraniano
Rodolfo Queiroz Laterza¹ e Ricardo Cabral²
Introdução
A partir da mudança do comando das forças russas no teatro de operações da Ucrânia, com a assunção do General Surovikin, houve uma alteração significativa na abordagem estratégica por parte da Rússia no conflito.
Surovikin promoveu uma série de mudanças no Exército russo: retraimento da linha de frente russa para posições mais defensáveis, reforçou as unidades em contato com os inimigos com os mobilizados recebidos dos centros de formação, organizou uma defesa móvel (blindados e tropa aeromovel) mais efetiva e com a chegada de novas unidades (recentemente formadas) promoveu o rodízio das unidades de frete. Em paralelo, reforçou a unidade de comando ampliando as ações de comando e controle sobre as unidades chechenas, de paramilitares e os destacamento de mercenários. Em seguida, procurou retomar a iniciativa com operações de forças especiais e contra-ataque aos pontos frágeis da linha de contato ucraniana. Outra mudança estratégica foi a realização de ataques seletivos à infraestrutura energética ucraniana a qual vamos abordar neste ensaio.
Os ataques a infraestrutura energética ucraniana
Através de drones kamikaze do tipo Geranium-2 (que emprega tecnologia iraniana do drone Shaheed 136 – para maior informação sobre drones iranianos, ver o artigo https://historiamilitaremdebate.com.br/o-programa-de-drones-do-ira/. Ataques da aviação estratégica de longo alcance empregando mísseis de cruzeiro Kh-101 e Kh-55, além de mísseis de cruzeiro Kalibr disparados de navios da Frota do Mar Negro, tem causado danos significativos à infraestrutura energética ucraniana prejudicando sensivelmente o funcionamento da sociedade e da economia (estimativa de queda de até 50% do PIB, somente no ano de 2022 de acordo com previsões do Banco Mundial).
Em 15 de novembro de 2022, os russos deflagraram um ataque com mais de 100 mísseis. Neste ataque foram destruídos mais de 15 instalações de energia e explosões foram registradas em quase metade da Ucrânia, incluindo as regiões de Lviv, Kyiv, Rivne, Kharkiv, Zhytomyr, Chernihiv, Poltava, Cherkasy, Dnipro e Khmelnytskyi, informou a mídia ucraniana. As tentativas de Moscou de privar a Ucrânia de calor atingiram um ponto crítico, atualmente Com 7 milhões de cidadãos estão sem energia e as temperaturas noturnas estão caindo abaixo de zero. Os ataques russos, somente no mês de outubro, já tinham danificado mais de 40% da infraestrutura de energia da Ucrânia, aumentando o risco de mortes de civis quando o inverno.
A Rússia continua a infligir ataques ao sistema energético da Ucrânia, razão pela qual em várias regiões ucranianas a eletricidade é fornecida por algumas horas por dia e em algumas regiões o fornecimento de energia está interrompido. De acordo Denys Shmyhal, primeiro-ministro da Ucrânia, quase metade do sistema de energia da Ucrânia já foi desativado.
Hoje, o balanço energético ucraniano está claramente deslocado para as centrais nucleares, que no ano passado forneciam 55% de toda a eletricidade, seguindo-se as centrais termoelétricas e termeléricas (centrais combinadas de calor e eletricidade) que geram cerca de 30%, as centrais hidroelétricas contribuem com cerca de 7% e as fontes de energia renováveis são em torno de- 8%.
A maioria das usinas nucleares está localizada no oeste da Ucrânia. Essas usinas elas são o elemento mais estável em seu sistema de energia. As usinas termelétricas e a cascata da UHE Dnieper estão concentradas no centro do país. As regiões orientais são alimentadas principalmente por usinas termelétricas, altamente dependentes das reservas de carvão. As usinas hidrelétricas também são vulneráveis: para seu funcionamento estável, o nível de água nos reservatórios é crítico. A destruição de uma ou mais barragens leva a uma séria redução na quantidade de energia gerada.
É importante afirmar que até outubro de 2022, o setor de energia da Ucrânia diminuiu em mais de 30%. Zaporozhye, a maior usina nuclear do país passou a fazer parte da Rússia e foi colocada em “modo de suspensão” devido à ameaça de acidentes. Kyiv também perdeu sete das 15 usinas termelétricas localizadas na região de LPR, DPR e Zaporozhye.
Acima de tudo, de acordo com o Ministério da Energia da Ucrânia, as usinas termelétricas e usinas combinadas de calor e energia (TPPs e CHPPs) sofreram mais – os bombardeios afetaram cerca de 50% de suas capacidades. Ao mesmo tempo, as estações não afetadas pelo bombardeio assumiram a carga das danificadas, de modo que a carga de todo o sistema de energia aumentou. E por causa do aumento do trabalho das usinas hidrelétricas de Kiev e Kanev, o nível da água no Dnieper aumentou.
Além de usinas termelétricas e termelétricas, subestações com nível de tensão de 330 kV (kilovolt) se tornaram alvo do ataque russo, e objetos grandes com nível de tensão de 750 kV aparentemente não foram atingidos.
Estes ataques russos a usinas, subestações de energia e a infraestrutura energética prejudicam o fluxo de das várias classes de suprimento às FAU, degradando a logística militar ucraniana. Isso porque os ataques à infraestrutura de energia da Ucrânia não têm efeito direto no curso das hostilidades, porque todas as linhas de frente têm geradores próprios, as brigadas têm motores a gasolina-diesel. Mas sem dúvida minam o moral da tropa e da população.
Neste contexto, os engenheiros ucranianos estão empenhados em consertar danos a subestações de energia e acionar sistemas de emergência, mas a capacidade de transmissão do sistema de energia em várias regiões da Ucrânia já se esgotou e nada pode ser feito a respeito, pois os bombardeios continuam.
As ferrovias também foram seriamente afetadas: devido a grandes interrupções no fornecimento de energia, os trens elétricos pararam. As locomotivas a diesel existentes não são suficientes para remediar a situação, pois alguns trens de passageiros chegam a atrasar por 14 horas, de acordo com notícias da mídia ucraniana. Vale frisar que 70% das estradas de ferro na Ucrânia são eletrificadas e 30% das estradas são tracionadas por máquinas a diesel. Em termos de densidade ferroviária, a Ucrânia era a mais saturada de todas as repúblicas da URSS, apesar de ser a mais extensa.
Depois que os ataques das Forças Aerospaciais e da Marinha Russa começaram a destruição das subestações de trens, as FAU começaram a retirar esses motores a diesel, retirando-os das estradas não eletrificadas. Para transportar tropas para o leste, essas locomotivas a diesel sobressalentes são usadas ativamente no momento.
Pela primeira vez, na semana do dia 18-19/12, o Estado de Emergência foi declarado no país devido à situação do setor de energia elétrica.
O tempo de recuperação do sistema de energia indica indiretamente problemas com a precisão dos ataques russos, visto que os mísseis de cruzeiro às vezes não atingem as usinas de energia e estações de distribuição importantes, mas terrenos baldios, deixando enormes buracos. Somente isoladores e fios podem ser danificados dessa maneira, que são em média restaurados em 12 horas.
Entretanto, os ataques as unidades críticas de produção de energia, como as usinas termelétricas e hidrelétricas devem continuar no âmbito da estratégia russa de degradar progressivamente a infraestrutura ucraniana. Em nosso entendimento, o próximo alvo russo deve ser a Usina Termelétrica de Zmievskaya, haja vista ser a principal unidade de fornecimento de energia do complexo de Kharkov, bem como um ataque à usina CHPP-3, que é responsável por alimentar as instalações industriais da região, algumas delas convertidas para o esforço de guerra ucraniano.
Um dos principais efeitos dos ataques russos no setor de energia da Ucrânia foi a transição generalizada das Forças Armadas da Ucrânia para fontes de energia de backup – geradores a diesel e gasolina. De acordo com fontes como Newsfront e Kiev Independent, a situação mais difícil é observada nas zonas de batalha, ema áreas como Bakhmut , Soledar e Marinka.
Nessas áreas, devido às hostilidades, quase não há fornecimento centralizado de eletricidade, isso é um grande problema tendo em vista que o exército russo estar usando ativamente armas pesadas, provocando um grande número de feridos graves nas FAU. Neste setor do teatro de operações os hospitais de campanha não podem fazer cirurgias mais complexas nos soldados ucranianos feridos em tempo hábil.
A escassez de energia elétrica é agravada pela necessidade da prioridade dos reparos e manutenção de rotina em equipamentos e veículos militares. Todos os geradores a diesel e a gasolina relativamente potentes estão empenhador nos centros de manutenção. Em alguns casos, esse processo é organizado perto de hospitais, onde existem sistemas autônomos de fornecimento de energia relativamente potentes de 800–1000 KVA.
Conectar centenas de consumidores a essas redes causa quebra de equipamentos médicos por sobrecarga operacional. Por exemplo, nas cidades de Konstantinovka, Druzhkovka e Toretsk, já foi registrada a falha de geladeiras para bancos de sangue e sistemas-chave de hospitais distritais e municipais, de salas de cirurgia a vestiários e elevadores, o que complica muito a recepção dos feridos de áreas especialmente perigosas.
Na zona de operações de Yuzhno-Bakhmut, de acordo com a mídia ucraniana, desde dezembro, devido a necrotérios superlotados e equipamentos de refrigeração que não funcionavam. Em consequência, os corpos dos soldados mortos das FAU começaram a ser levados para o território do hospital psiquiátrico e edifícios do hospital de tuberculose na vizinha Toretsk para dar lugar a novos cadáveres.
Outro problema das FAU após o início dos ataques às redes elétricas (instalações de geração e linhas de energia) e a consequente escassez de energia foi com o fornecimento de combustível necessário para a operação de geradores a diesel e gasolina. No momento, as FAU estão empenhando recursos significativos na manutenção do sistema de recebimento e distribuição de combustível e lubrificantes tanto na linha de frente quanto na retaguarda.
Ao mesmo tempo, geradores comuns com potência de 3-5 kW não são adequados para consertar equipamentos em escala industrial e usinas com potência de 30 kW e acima requerem pelo menos 115-125 litros de combustível por hora. A partir de outubro de 2022, a logística das FAU não estão conseguindo fornecer as centenas de toneladas de combustível por dia necessárias para manter o ritmo de operações.
Por conta disso, as FAU tiveram que lidar com duas dificuldades: primeiro, obter o combustível necessário para o abastecimento de suas unidades; segundo distribui-la nos centros de formações de combate, divisões, brigadas e batalhões.
A degradação das capacidades logísticas tem redundado em perdas de homens e meio devido à escassez de combustível nas fileiras das FAU. As 24ª, 57ª, 30ª e 71ª Brigadas Jaeger na área de Bakhmut, a 68ª Jaeger e a 72ª Brigada Mecanizada na zona de ação Ugledar e de Pavlovka, além da 79ª Brigada em Maryinka.
Uma situação semelhante está se desenvolvendo agora na direção de Starobelsky, onde as unidades de defesa territorial, das FAU e dos destacamentos de mercenários exigem um atendimento médico, sendo que cuidar dos feridos é uma questão cada vez mais difícil para o regime ucraniano devido à sobrecarga de toda ordem do sistema logístico.
O governo da Ucrânia pediu às pessoas em todo o país que economizem energia, e aqueles que deixaram o país, se possível, fiquem no exterior durante o inverno. Ademais, a escassez de eletricidade prejudica o trabalho das empresas industriais restantes, incluindo o reparo de equipamentos militares.
Conclusão
Em resposta aos ataques Russos, a Ucrânia, com a ajuda da OTAN, está fortalecendo seus sistemas antimísseis e de defesa aérea (ABM e defesa aérea), como mísseis Patriot, IRIS-T, Hawk e Crotale. No entanto, esses sistemas tem sido insuficientes para defender a grande quantidade de instalações sensíveis.
Na atual conjuntura, início do inverno de 2022, existe a ameaça da continuidade da destruição da infraestrutura de produção e distribuição de energia. Não se pode descartar a possibilidade de que os russos expandam seus ataques a rede de transportes, instalações industriais e centros logísticos.
Até o momento, os ataques seletivo ao setor de produção e distribuição de energia, já reduziu a capacidade ucraniana de sustentar a população e fornecer ao exército os recursos necessários para continuar a guerra, tornando ainda mais oneroso para a OTAN manter as FAU operacionais. A consequência, nós estamos observando no campo de batalha, a redução do ritmo das operações, das capacidades de combate ucranianas e da sua eficácia.
A mobilização dos recursos nacionais russos e a decretação formal de guerra, por parte do Kremlin, somado a contínua provisão de armas e assistência militar, por parte da OTAN, à Ucrânia são fatores que aumentam a possibilidade do prolongamento do conflito.
Uma trégua (sem nenhuma proposta de solução diplomática) como a proposta por Zelensky, daria tempo para a Ucrânia se rearticular em termos logísticos e muito provavelmente prosseguir lutando por mais tempo.
As tentativas de Moscou de reduzir drasticamente a capacidade ucraniana de produzir e distribui energia atingiram um ponto crítico, atualmente com 7 milhões de cidadãos sem gás ou eletricidade, em um ambiente cujas temperaturas estão caindo abaixo de zero. Os ataques russos, somente no mês de outubro, já tinham danificado mais de 40% da infraestrutura energética da Ucrânia, aumentando o risco de mortes, quando o inverno atingir seu apogeu.
No atual ritmo de degradação das capacidades nacionais ucranianas, existe uma grande probabilidade de que em breve a OTAN tenha que lidar com um país vizinho colapsado, com a economia destruída, social e politicamente instável, com setores da sociedade rancorosos e radicalizados.
Imagem de Destaque: http://www.gbnnews.com.br/2015/12/kalibr-o-missil-lancado-na-midia.html#.Y6npsRXMKM8
Autores:
¹ Delegado de Polícia, Mestre em Segurança Pública, historiador, pesquisador em geopolítica e conflitos militares
² Mestre e Doutor em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC) da UFRJ, professor-colaborador e do Programa de Pós-Graduação em História Militar Brasileira (PPGHMB – lato sensu), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO e Editor-chefe do site História Militar em Debate e da Revista Brasileira de História Militar. Website: https://historiamilitaremdebate.com.br
Fontes consultadas:
https://focus.ua/
https://www.fpri.org/
https://kyivindependent.com/home
https://jamestown.org/
https://news-front.info/
https://www.pravda.com.ua/
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