As afirmações do presidente Lula sobre a tragédia atual envolvendo Hamas e Israel, com alusões ao Holocausto hitlerista absolutamente equivocadas, são inaceitáveis do ponto de vista histórico e diplomático, e apenas diminuem sua credibilidade como interlocutor responsável em face dessa tragédia. Elas apenas revelam seu despreparo para tratar desse assunto. (PRA)
Israel convoca o embaixador do Brasil após Lula comparar guerra em Gaza com Holocausto
Netanyahu diz que Lula 'cruzou linha vermelha'. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) também reagiu e chamou as declarações do presidente brasileiro de infundadas: 'distorção perversa da realidade'.
Por g1, 18/02/2024 12h55
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que vai convocar o embaixador brasileiro para "uma dura conversa de repreensão", após a fala do presidente Lula que comparou a guerra em Gaza com o Holocausto nazista e ações de Hitler.
"As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender", disse Netanyahu, em uma publicação neste domingo (18) no X (antigo Twitter).
"Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha"
O ministro das Relações Exteriores do país, Israel Katz, disse que ninguém irá comprometer o direito que Israel tem de se defender.
Lula deu as declarações durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estado do continente.
"O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula.
A fala de Lula também gerou reação da Confederação Israelita do Brasil (Conib). Para a entidade, o discurso do petista é uma "distorção perversa da realidade".
"Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu", diz nota da Conib.
O presidente Lula fez a afirmação após ser questionado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à agência da Organização das Nações Unidas (ONU) que dá assistência a refugiados palestinos, a UNRWA.
No fim de janeiro, Israel acusou funcionários da UNRWA de envolvimento com ações terroristas do Hamas, o que motivou a suspensão de auxílio por parte de governos ocidentais, como os do Estados Unidos, Canadá, Austrália e Reino Unido. Não se sabe quantos funcionários estariam envolvidos.
Lula disse que, se houve um "erro" na UNRWA, que os responsáveis sejam investigados, mas afirmou que a ajuda humanitária não pode ser suspensa. Recentemente, o governo brasileiro anunciou que vai prestar auxílio à agência.
"A Conib repudia as declarações infundadas do presidente Lula comparando o Holocausto à ação de defesa do Estado de Israel contra o grupo terrorista Hamas. Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu. Essa distorção perversa da realidade ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes.
O governo brasileiro vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira. A Conib pede mais uma vez moderação aos nossos dirigentes, para que a trágica violência naquela região.não seja importada ao nosso país."
Um comentário:
Professor, não consigo deixar de concordar com o que disse Lula sobre o genocídio cometido por Israel.
Pode-se discutir qual a forma mais efetiva de fazê-lo, mas não seu mérito, dado que não há qualquer desculpa para a desproporcionalidade, a tragédia humana e a fragilidade das justificativas apresentadas e que, incrivelmente, tem sido aceitas pelos principais lideres mundiais.
Dito isso, sei que a forma normalmente se sobrepõe ao mérito nas relações interpessoais, conceito obviamente extensivo à diplomacia e às relações exteriores. Sei que citar aquele-que-não-deve-ser-nomeado possui chances esmagadoras de invalidar todo um argumento… mas é impossível ignorar a hipocrisia de que um Estado cujo povo tenha sofrido tamanha perseguição possa estar cometendo, paralelamente, um extermínio e uma anexação de territórios, pintados mal e porcamente como “legítima defesa”.
Até aqui, expressei minhas opiniões sobre o assunto, e agora trago, respeitosamente, uma pergunta:
O poder israelense de controlar o discurso sobre a ofensiva palestina fica prejudicado pela primeira fala contundente de um líder global desse porte? Ou a capacidade de instrumentalizar o sofrimento de seus antepassados criaria uma cortina de fumaça suficientemente densa para que as “bombas de legítima defesa” continuem a chover sobre a Palestina?
Peço desculpas desde já pela mensagem anônima. Infelizmente me falta a disposição de lidar com as possíveis retaliações pessoais que são comuns a esse tema, onde as paixões quase sempre se sobrepõem à análise crítica e ao diálogo.
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