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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Luiz Jorge Werneck Vianna, obituários (enviados por Maurício David)

 O diabo anda solto... Só nesta semana 3 grandes intelectuais ( Affonso Celso Pastore, Mauro Boyanovsky e Werneck Vianna) foram retirados do nosso convívio intelectual... O que nos restará se não revisitar as suas contribuições para a interpretação do nosso Brasil contemporâneo ? Do Werneck (como chamávamos os seus amigos e companheiros de luta...) guardo a convivência no exílio no Chile, apesar de ter sido um período em que êle passou por muitas dificuldades de adaptação (tanto que resolveu voltar abruptamente ao Brasil, o que o levou a ser preso tão logo chegou. Foi acolhido então por Francisco Weffort – que viria a ser Secretário Geral do PT e, posteriormente, Ministro da Cultura dos governos do Fernando Henrique, de quem era grande amigo,  e pelo próprio FHC, no CEBRAP). Werneck foi sempre um militante intelectual dedicado, um homem de Partido, sem perder jamais a ternura... Agora que se foi logo após a morte do Weffort e que o Fernando Henrique vive os seus momentos finais de vida, como seria bom que existisse uma vida após a morte (coisa de quer estou cada vez mais cético...) para que pudéssemos ter a esperança de trocar algumas idéias nos espaço celestial, caso houvesse uma vida futura...

Mauricio David


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Luiz Carlos Azedo - Werneck Vianna, intérprete do Brasil contemporâneo 

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Correio Braziliense

Difusor do pensamento gramsciano no Brasil, produziu ensaios que servem de referência para o estudo do liberalismo, do Judiciário e da nossa modernização conservadora

O sociólogo carioca Luiz Jorge Werneck Vianna faleceu, nesta quarta-feira, aos 85 anos. Fez parte de uma geração de artistas e intelectuais que formou o pensamento crítico da esquerda brasileira nas décadas de 1960, 1970 e 1980, entre os quais, destacam-se Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Joaquim Pedro, Walter Lima Jr., Zelito Viana, Luiz Carlos Barreto, Glauber Rocha, Leon Hirszman, Ferreira Gullar, Leon Amoedo, Tereza Aragão, Zuenir Ventura, Milton Temer, Norma Pereira Rego, Leandro Konder, Darwin Brandão, Marilia Kranz, Ziraldo, Jaguar, Albino Pinheiro, Ferdy Carneiro, Hélio Oiticica e Hugo Bidet, Hugo Carvana, Paulo Góes, Vergara, Carlinhos Oliveira, Zózimo Amaral, Tom Jobim, Carlos Lira, Vinicius do Moraes e Oduvaldo Viana Filho.

Residentes no Rio de Janeiro, em sua maioria, formavam a chamada República de Ipanema. Apesar da influência do antigo PCB no meio cultural carioca, muitos não eram comunistas e tinham profundas divergências com os militantes do setor cultural do velho Partidão, do qual Werneck fez parte. Com raízes familiares na aristocracia cafeeira fluminense, Werneck Vianna foi criado em Ipanema e estudou nos melhores colégios da Zona Sul carioca, mas teve trajetória rebelde, influenciado por autores como Monteiro Lobato, Eça de Queiroz, Fiódor Dostoiévski e Miguel de Cervantes.

Em 1958, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Estado da Guanabara (atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Uerj), concluindo o curso em 1962. Em 1967, graduou-se em ciências sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e, dois anos após, ingressou na primeira turma de mestrado do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Sua trajetória acadêmica, porém, foi interrompida na década de 1970, por cinco inquéritos policiais-militares, que o levaram a se exilar no Chile.

Retornou do exílio um ano após. Ao chegar, foi detido por seis meses. Acolhido em São Paulo por Francisco Weffort, seu orientador no doutorado em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), começou a trabalhar no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), fundado em 1969, com financiamento da Fundação Ford, por professores da Universidade de São Paulo (USP) afastados pelo regime militar, entre os quais, Boris Fausto, Elza Berquó, Fernando Henrique Cardoso, Francisco de Oliveira, José Arthur Giannotti, Octavio Ianni, Paul Singer e Roberto Schwarz.

Em 1974, com outros intelectuais que estudavam O Capital, de Karl Marx, como Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho, foi aluno de Anastacio Mansilla na Escola de Quadros do PCUS. No mesmo ano, de volta ao Brasil, foi um dos redatores do programa político do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1975, fugindo da repressão ao PCB em São Paulo, retornou ao Rio de Janeiro e, escondido na casa do dramaturgo Paulo Pontes, companheiro da época de CPC, escreveu sua tese de doutorado: Liberalismo e sindicato no Brasil (Paz e Terra, 1976).

Modernização autoritária

Por três décadas, Werneck foi professor do Iuperj e, durante o biênio 2003-2004, presidiu a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). Encerrou sua carreira acadêmica como professor de sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Um dos grandes responsáveis pela difusão do pensamento gramsciano no Brasil, no rastro do jornalista Luiz Mario Gazzaneo, produziu ensaios que servem de referência para o estudo do pensamento social brasileiro, principalmente o liberalismo, do papel do Judiciário e da modernização do Brasil.

Destacam-se entre seus trabalhos, pela atualidade: A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil, com Maria Alice Rezende de Carvalho, Manuel Palacios Cunha Melo e Marcelo Baumann Burgos (Revan, 1999); Esquerda brasileira e tradição republicana: estudos de conjuntura sobre a era FHC-Lula (Revan, 2006); Uma sociologia indignada — Diálogos com Luiz Werneck Vianna, de Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Ed. UFJF, 2012); Modernização sem o moderno: análise de conjuntura na era Lula (Contraponto/Fundação Astrojildo Pereira) e Diálogos gramscianos sobre o Brasil (Fundação Astrojildo Pereira, 2018).

Liberalismo e Sindicato no Brasil é um esforço de compreensão das profundezas da nossa “modernização conservadora”, no contexto das obras de Simon Schwartzman, Florestan Fernandes (1975) e José Murilo de Carvalho (1980). Estudou o liberalismo numa sociedade marcada pelo escravismo e pelo patrimonialismo. Sua tese de que a modernização brasileira não significava ruptura e/ou desaparecimento das elites tradicionais, mas a renovação dessas forças, continua atualíssima.

Segundo Werneck Vianna, numa sociedade excludente e autoritária, que não incorporou os valores liberais, o caminho da modernização foi o Direito e suas instituições, em meio a rupturas e negociações entre elites. Em síntese, a modernização brasileira ocorreu e ainda ocorre em meio a negociações entre o moderno e a cultura do atraso, sem rupturas com ele, mas em compromisso. Werneck condenou a luta armada e apostou na luta política pelas liberdades e na mobilização da sociedade civil durante o regime militar; após a redemocratização, na participação política radicalmente comprometida com a democracia representativa como valor universal.

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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Morre aos 85 anos Luiz Werneck Vianna, referência na sociologia brasileira 

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Folha de S. Paulo

Referência nas ciências sociais do Brasil, acadêmico foi opositor da ditadura e um dos críticos iniciais da Lava Jato

SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO - Morreu nesta quarta-feira (21) aos 85 anos Luiz Werneck Vianna, professor e ex-presidente da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) e referência na sociologia brasileira.

O acadêmico foi autor de livros como "Liberalismo e Sindicato no Brasil" (1976), "Esquerda Brasileira e a Tradição Republicana" (2006) e a "A Judicialização da Política e das Relações Sociais no Brasil" (1999). Foi mestre em ciência política pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e doutor em sociologia pela USP.

Também era graduado em direito e foi advogado de presos políticos durante a ditadura militar. Integrante do Partido Comunista Brasileiro nos anos 1960, o sociólogo teve que ir para a clandestinidade durante o período autoritário e passou um período exilado no Chile.

Vianna foi criado no bairro de Ipanema, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, e frequentou colégios de elite, mas dizia que sua família era de "de classe média, de recursos não abundantes, também não muito escassos".

Em depoimento a centro de pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas), falou sobre a aproximação no auge da ditadura de intelectuais com o MDB, que incluía a atuação de Fernando Henrique Cardoso, também acadêmico.

"Fizemos esse programa, que foi editado um livrinho vermelho: era o programa do MDB de 74 e fomos a uma reunião em Brasília", disse ele.

A eleição parlamentar de 1974 marcou um dos principais reveses da ditadura militar.

Também no depoimento, disse que conheceu o hoje presidente Lula também naquela época, em encontro de delegados sindicais. Dizia lamentar que os grupos políticos do petista e do tucano tivessem perdido conexão.

Werneck Vianna sempre se manteve atuante no debate político do país. Mais recentemente, em 2022, escreveu que Jair Bolsonaro representava o risco real de um "fascismo –tabajara, mas fascismo– que nos ronda desde os anos 1930, derrotado por duas vezes, em 1945 e 1985, mas nunca erradicado, entranhado como está em nossa história de modernização capitalista autoritária".

Também foi crítico em suas análises sobre a Operação Lava Jato desde os estágios iniciais da investigação, classificando as autoridades como "tenentes de toga" —em referência aos jovens militares da década de 1920.

As críticas de Vianna à Lava Jato levaram o colunista da Folha Elio Gaspari a escrever em dezembro de 2016: "Werneck sabe do que fala. Conhece a história da República e traçou o melhor retrato do Judiciário nacional no seu livro 'Corpo e Alma da Magistratura Brasileira'. Durante dez anos, ajudou a aperfeiçoar os conhecimento de toda uma geração de juízes e promotores como professor da Escola da Magistratura. Sua perplexidade diante do rumo tomado pelo conjunto de iniciativas derivadas da Operação Lava Jato reflete a ansiedade de um mestre diante do tenentismo togado".

A PUC do Rio de Janeiro, onde lecionou, publicou nota de pesar afirmando que ele foi um intelectual de "grande relevância para o campo da sociologia e para a comunidade acadêmica como um todo", deixando "'marca indelével na história do pensamento social do Brasil".

"Durante sua trajetória, contribuiu de forma significativa para o avanço do conhecimento científico e para o debate público, sempre pautado pela ética, pela integridade e pelo compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e democrática."

O Hospital Copa D'Or informou que não tinha autorização para divulgar mais detalhes da morte.

A Anpocs, presidida pelo professor entre 2003 e 2004, disse que as obras dele se tornaram clássicas nos estudos sobre o país.

"Seu legado intelectual para as Ciências Sociais é inestimável, e seguirá inspirando reflexões sobre o Brasil do passado e do presente."

O Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo afirmou: "Werneck foi um dos cientistas sociais brasileiros mais importantes da sua geração. Nos seus mais variados trabalhos juntava uma perspectiva analítica e de intervenção".

"Perde a inteligência brasileira um dos seus mais ilustres representantes. Perdi um velho camarada e amigo. Meu profundo sentimento pelo falecimento do grande cidadão brasileiro, Luiz Werneck Vianna. Meus pêsames a família e seus amigos e amigas", escreveu o ex-deputado Roberto Freire, que presidiu o PCB e se tornou depois presidente do PPS, que viria a se tornar o Cidadania.

O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que o acadêmico "espalhou senso de justiça, ciência política comprometida com os explorados e inteligência crítica". "Cumpriu sua missão nessa vida. Fará falta nesses tempos de tanta indigência intelectual."

 

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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Sociólogo Luiz Werneck Vianna morre no Rio 

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Valor Econômico

Professor da PUC, ele é autor de livros como 'Liberalismo e sindicato no Brasil'

O sociólogo Luiz Werneck Vianna morreu nessa quarta-feira (21), aos 86 anos. O sociólogo estava internado no Hospital Copa D'Or, que confirmou a morte por meio de nota e informou não ter autorização para divulgar mais detalhes.

Werneck nasceu no Rio em 1938 e se formou em direito na antiga Universidade do Estado da Guanabara, atual Uerj, em 1962. Depois, graduou-se em ciências sociais pela UFRJ, em 1967.

O sociólogo militou em movimentos comunistas e atuou no Centro Popular de Cultura. Em fins de 1970, no auge da repressão do regime militar, foi perseguido e exilou-se no Chile. Retornou um ano depois ao país e foi detido por seis meses.

No Brasil, publicou uma série de livros considerados fundamentais para a sociologia brasileira, como “Liberalismo e sindicato no Brasil”.

Werneck Vianna foi colunista do Valor entre 2010 e 2011, onde escrevia semanalmente às segundas-feiras, e fazia análises do cenário político do país.

O sociólogo atuou em mais de uma dezena de instituições universitárias pelo país. Atualmente, era professor da PUC-Rio, que, em nota, lamentou a morte do sociólogo: “Luiz Werneck Vianna foi um intelectual de grande relevância para o campo da sociologia e para a comunidade acadêmica como um todo. Seu legado se estende nas orientações de muitas gerações, estudos e reflexões sobre a sociedade brasileira, onde deixou uma marca indelével na história do pensamento social no Brasil.”

Na nota, a universidade lembrou da trajetória de Werneck Vianna e sua contribuição para o “avanço do conhecimento científico e para o debate público”.

Abaixo, a íntegra da nota divulgada pela universidade.

"É com grande pesar que a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) recebe a notícia do falecimento do reconhecido sociólogo Luiz Werneck Vianna, ocorrido hoje.

Luiz Werneck Vianna foi um intelectual de grande relevância para o campo da sociologia e para a comunidade acadêmica como um todo. Seu legado se estende nas orientações de muitas gerações, estudos e reflexões sobre a sociedade brasileira, onde deixou uma marca indelével na história do pensamento social no Brasil.

Durante sua trajetória, contribuiu de forma significativa para o avanço do conhecimento científico e para o debate público, sempre pautado pela ética, pela integridade e pelo compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Sempre foi muito generoso, com seus colegas professores e alunos, tanto no sentido intelectual quanto no sentido pessoal.

Em nossa Universidade, Professor Werneck contribuiu para a consolidação do nosso Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e rapidamente se tornou uma referência em nosso Departamento de Ciências Sociais e para toda a Universidade, onde continuou lecionando até o ano passado.

Expressamos nossas condolências à família, aos amigos e aos colegas de Luiz Werneck Vianna, e manifestamos nosso reconhecimento e gratidão por sua inestimável contribuição ao saber e à cultura.

Que seu legado continue inspirando gerações futuras e que sua memória seja honrada com o compromisso contínuo pela busca do conhecimento e pela transformação social."

 

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