domingo, 1 de dezembro de 2024

Uma longa mensagem a meu amigo Mauricio David - Paulo Roberto de Almeida

Tributo a Mauricio David por Paulo Roberto de Almeida: unidos no amor às leituras e ao conhecimento

Paulo Roberto de Almeida

 Transcrevo, a seguir, como forma de não perder, minha resposta de agradecimento a um envio matinal, neste domingo primeiro dia do último mês do ano de pouca graça de 2024, contendo diversas postagens sequenciais que meu grande amigo Mauricio David efetuou na sua remessa de bons materiais de leitura que ele envia religiosamente (êpa, eu continuo sendo um irreligioso) a todos os seus amigos, desta vez transcrevendo materias que eu mesmo postei, como repositório pessoal e “biblioteca aberta” aos meus seguidores ou simples curiosos, no blog Diplomatizzando, um pequeno espaço de culto à inteligência e à resistência intelectual (contra os dogmatismos) que mantenho ativo desde 2004, ou seja, por duas décadas inteiras e que foi precedido, ou foi contemporâneo de vários outros blogs pessoais que alimentei por certo tempo.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 1/12/2024


Grato pela transcrição de varias postagens do meu blog Diplomatizzando, meu caro Maurício, um espaço que eu costumo chamar de “quilombo de resistência intelectual” (à imbecilidade e à burrice, geralmente presentes nas redes ditas “sociais”), mas que também pode ser visto como um espaço aberto à leitura de coisas inteligentes (na minha concepção pessoal), algumas quais vou buscar ou recebo gentilmente graças à pletora de um volume inacreditavelmente gigantesco de excelentes materiais de leitura que você oferece quase diariamente nos seus envios generosos aos amigos e destinatários. Retiro mais da metade do que posto no Diplomatizzando dos seus envios diários, o resto de assinaturas gratuitas ou pagas que eu mesmo fiz, ou de postagens de terceiros, às quais tenho acesso, esforçando-me para atribuir os devidos créditos, quando isso é possível.

Tenho, neste momento, de agradecer imenso essa sua variada, diversificada e inteligente oferta de boas leituras, aproveitando também para agradecer mais uma vez o precioso presente de que fui objeto , em Paris, onde nos conhecemos, da primeira edição da Topbooks, em um único volume encadernado (hard cover) das memórias de Roberto Campos, Lanterna na Popa, um título não condizente com a imensa importância que o genial economista-diplomata (nessa ordem) teve na formação (na vanguarda, ou seja, na proa) de tanta gente esclarecida neste país ignorante, uma pequena tribo de bem formados e bem-informados, entre os quais eu mesmo me incluo (graças ao Roberto Campos, entre outros).
Lembro-me perfeitamente (e isso foi decisivo em minha formação e itinerário intelectuais) de ter ido assistir nas Faculdades Mackenzie, em 1966, a uma palestra que ele deu sobre o PAEG. Eu era então um mero office-boy de 16 anos numa grande multinacional do centro de SP, convictamente marxista (condição a que me tinham levado minhas leituras não exclusivamente, mas essencialmente de esquerda, a que fui levado por uma precoce adesão política e leituras “sérias” logo depois do golpe de 1964). Eu entrei disposto a recusar preventivamente e dogmaticamente todos os argumentos em defesa da ditadura e do “arrocho salarial” por aquele a quem nós, esquerdistas, chamávamos depreciativamente de “Bob Fields), e acabei saindo da palestra atordoado e admirativo pelo rigor metodológico e factual de um dos mais inteligentes e esclarecidos indivíduos que “conheci” na vida, junto com Raymond Aron, San Tiago Dantas, Mauricio Tragtenberg, Rubens Ricupero, Stephen Jay Gould, David Landes, José Guilherme Merquior, Celso Lafer e poucos outros. Posso dizer que a palestra de Roberto Campis constituiu um dos marcos transformadores numa trajetória pessoal que estava destinada a ser apenas dogmaticamente esquerdista, mas que acabou ss transformando num itinerário a partir de então eclético e aberto às mais variadas leituras e absorções intelectuais.
Terminei por expressar meu reconhecimento por essa transformação tardiamente, num livro que coordenei (e escrevi mais da metade) em 2017, aos cem anos do nascimento de Roberto Campos, intitulado O Homem Que Pensou o Brasil: Trajetória Intelectual de Roberto Campos (Appris), que gostaria de lhe oferecer como agradecimento e retribuição pelas memórias dele, ganhas em 1994. 
Estou escrevendo mais um pequeno texto sobre essa loucura da “nova ordem global multipolar”, já aceita e incorporada como programa de governo e de Estado por Lula 3, invariavelmente seguido pelo bando de acadêmicos beatos que o seguem fielmente e dogmaticamente desde muito tempo. Também me preocupa muito essa outra adesão irrefletida, do Lula e dos submissos diplomatas que aceitam qualquer coisa vinda do alto, do Brics, manipulado por duas grandes autocracias que estão nas antípodas do que queremos ser como nação desenvolvida e inserida numa economia global preferencialmente liberal e democrática.
Muito grato, pois, pelo seu e-mail de 1/12/2024, quando recém começo a ler as coisas que me chegam quotidianamente.
O grande abraço do
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Sent from my iPhone
Paulo Roberto de Almeida”

Brasília, 1/12/2024

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On 30 Nov 2024, at 19:02, mauriciodavid@terra.com.br wrote:



Conheço o embaixador Paulo Roberto de Almeida há mais de 30 anos, desde quando êle foi designado para a nossa Embaixada em Paris e eu por ali estava. Nos tornamos grandes amigos. Sou suspeito para falar do Paulo Roberto. Além das suas excelsas qualidades humanas e profissionais, sempre nutri profunda admiração por sua capacidade intelectual e extraordinária capacidade de trabalho. O Paulo Roberto é um dínamo, capaz de fazer 30 coisas ao mesmo tempo (eu fico estupefato, porque eu mesmo não consigo fazer mais do que 3 ou 4...). Enquanto estou pensando em A ou B, o Paulo Roberto já está no XYZ... Fico babando de admiração, talvez porque percebo que há gente que fica babando de ódio pela sua extraordinária capacidade de trabalho. Também sempre admirei a sua resiliência (acompanhei de perto as discriminações que o Paulo Roberto sofreu na sua carreira no Itamaraty, vítima que foi de mentes invejosas. Como também sofri muito na vida discriminações odiosas, a capacidade de resilência do Paulo Roberto sempre foi uma fonte de inspiração para mim).

Recebi hoje este texto do meu amado amigo, que passo à leitura e reflexão dos que acompanham também as minhas reflexões.

MD

 

O Brasil na maior encruzilhada de sua história: pode-se escolher uma “nova ordem mundial”? - Paulo Roberto de Almeida


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