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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 15 de julho de 2013

O fim da bonanca economica chinesa deixa o Brasil em situacao dificil -Afonso Celso Pastore

Os keynesianos de botequim da república dos companheiros, seguindo neste caso a bobagem do seu mestre, que pretendia ter invertido a chamada "Lei de Bastiat" (para quem a oferta criaria sua própria demanda), sempre insistiram em estimular a demanda brasileira, conseguindo, com isso, apenas estimular a inflação e diminuir o crescimento.
Os resultados estão aí, para ninguém botar defeito.
Paulo Roberto de Almeida

O fim da bonança externa
Affonso Celso Pastore  *
O Estado de S.Paulo, 14/07/2013
Há duas mudanças em marcha na economia internacional. Primeiro, os Estados Unidos vêm retomando o crescimento sustentado, com o Federal Reserve devendo iniciar em breve a redução das compras de ativos. Com isso, o dólar se valoriza, readquirindo o seu DNA de moeda forte. Segundo, o crescimento da China vem se desacelerando, o que leva à desaceleração da demanda mundial de commodities, reduzindo seus preços.
Há, assim, um redirecionamento de fluxos de capitais para os EUA em detrimento dos países emergentes, e há uma perda de relações de troca nos países produtores de commodities. Essas mudanças marcam o fim do período dominado pela bonança externa - a abundância de ingressos de capitais combinada com o aumento de preços de commodities que por alguns anos favoreceu o crescimento brasileiro.
Com uma breve interrupção na fase aguda da crise internacional, em 2008/2009, o crescimento econômico brasileiro se beneficiou dos fortes ingressos de capitais. Cresceram os investimentos estrangeiros diretos; os ingressos de capitais ajudaram a expansão do crédito; e empresas puderam se capitalizar lançando ações que atraíram capitais estrangeiros.
Foram esses ingressos que financiaram os déficits nas contas correntes provocados pelo excesso dos investimentos sobre as poupanças domésticas, e foram eles que permitiram o ciclo de IPOs de 2006 e 2007, no qual várias empresas saíram da informalidade, melhoraram a governança e se capitalizaram, criando um ambiente de negócios estimulador dos investimentos.
Porém, tão ou mais importante do que isso foi o ciclo de elevação dos preços internacionais de commodities. Os efeitos da elevação dos preços de commodities sobre o crescimento do PIB aparecem claramente no gráfico nesta página, que é repetidamente mostrado pelo economista José Carlos Faria,superpondo as taxas de variação dos preços de commodities às taxas de variação do PIB.
Testes de causalidade aplicados a essas duas séries mostram que são os movimentos nos preços de commodities que causam os movimentos nas taxas de variação do PIB, e não o contrário, e a correlação positiva elevada e estável entre as duas séries atesta que a aceleração no crescimento dos preços de commodities conduz à aceleração no crescimento do PIB. Tanto a aceleração do crescimento no período de 2006 a 2008 quanto a forte recuperação da economia em 2010 são em grande parte fruto de um acentuado crescimento dos preços de commodities.
O Brasil é reconhecidamente um país produtor de commodities, mas tem uma estrutura produtiva muito diferente da Austrália, país no qual uma correlação positiva elevada como a mostrada no gráfico não causaria qualquer estranheza. Contudo, apesar de o peso do setor de serviços no PIB brasileiro ser muito grande, e de o País ter um setor industrial grande e diversificado, há setores importantes, com reflexos nos demais, cujo desempenhe depende diretamente dos preços dí commodities. São os casos do agronegócio, da mineração e da siderurgia.
Mais importante ainda é o fato de que a elevação dos preços de commodities leva a ganhos de relações de troca, que permitem o crescimento dos investimentos acima das poupanças domésticas, que são reconhecidamente escassas, levando à absorção de poupanças externas na forma de importações líquidas, sem que o déficit na contas correntes seja excessivamente pressionado.
Por um caminho ou por outro, as elevações dos preços internacionais de commodities levam a uma expansão da formação bruta de capital fixo. Se no gráfico substituirmos as taxas anuais de variação do PIB pelas taxas anuais de variação da formação bruta de capital fixo, veremos reproduzido o mesmo padrão de elevada correlação positiva, com os testes de causalidade mostrando que neste caso também são os preços de commodities que causam variações nos investimentos, e não o contrário.
Diante desses dados, não poderia haver nenhuma surpresa quanto à desaceleração da economia em 2012 e 2013: ela se deve em parte aos desestímulos vindos da queda dos preços internacionais de commodities. Em um passado não muito distante, o Brasil tinha seu crescimento impulsionado pelo crescimento da China, que expandia a demanda de commodities elevando seus preços. Agora, a desaceleração do crescimento na China contribui significativamente para a desaceleração do crescimento no Brasil.
A queda dos investimentos reduz o crescimento do PIB potencial, e nesse sentido a desaceleração ocorrida nos últimos anos é um fenômeno ligado à oferta, e não à demanda. Porém, desde a resposta à recessão de 2008/2009, todas as ações do governo estão voltadas apenas ao estímulo da demanda. Foi no pressuposto de que "a demanda cria a sua própria oferta", que o governo forçou uma queda exagerada da taxa de juros a partir de 2011, e que provocou acentuada expansão fiscal em 2012 e 2013, elevando a demanda sem o correspondente estímulo à produção, aumentando a inflação e o déficit em contas correntes. A queda da taxa de juros não foi capaz de libertar o "espírito animal" dos empresários, porque este estava acorrentado pelo desestímulo vindo do final da bonança externa. A insistência em ampliar a demanda levou a uma situação de pleno emprego, que elevou os salários e o custo unitário do trabalho na indústria, impedindo-a de crescer, mas, em contrapartida/o crescimento dos salários acentuou a inflação.
Resta, apenas, comemorar uma consequência da valorização do dólar; da queda dos ingressos de capitais e das relações de troca, que é a depreciação cambial. Com ela, uma parte da competitividade perdida pela indústria poderá ser recuperada, elevando os seus lucros e favorecendo o aumento dos investimentos. Mas, para que a competitividade seja recomposta, é preciso que a depreciação do câmbio nominal influencie predominantemente o câmbio real, e não simplesmente o aumento da inflação.
Isto requer que a depreciação do câmbio nominal seja seguida da austeridade nas políticas fiscal e monetária, e na medida em que o governo continuar tímido no uso do instrumento fiscal, a carga terá de ser suportada pela taxa de juros. A recusa em seguir este caminho trará como conseqüência uma inflação persistentemente mais elevada e crescimento econômico medíocre.
 * ECONOMISTA E EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Otimismo economico proximo do fim: Afonso Celso Pastore


Acabou a Unanimidade do Cenário Cor de Rosa

sábado, 16 de outubro de 2010

Reservas internacionais do Brasil: um custo altissimo para a Nacao

Eu sempre falei a mesma coisa, sem ter os números precisos (e acredito que este economista tampouco os tenha), mas a ordem de grandeza deve ser mesmo em torno do 10% do volume de reservas: ou seja, se as reservas estão em 280 bilhões de dólares e se aproximam rapidamente de 300 bilhões, como afirma o ministro da Fazenda, então isso representa um custo de 28 a 30 bilhões de dólares, o que faz, aproximadamente, 50 bilhões de reais, bem mais, portanto, do que o anunciado pelo economista.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, segundo a matéria, que o Brasil deve fazer isso mesmo: “Nós temos um custo de fato, mas é melhor pagar este custo do que ter uma economia mais vulnerável”.
Isso é um absurdo um governo, que já investe pouco, jogar 1,5% do PIB apenas para manter reservas exageradamente elevada não está fazendo uma economia menos vulnerável. Está apenas dilapidando recursos nacionais com reservas desnecessárias que na verdade estão financiando o governo americano.
O Tesouro americano agradece, mas nós, brasileiros, poderíamos passar sem essa.
Paulo Roberto de Almeida

Reservas externas custam R$ 45 bi por ano ao Brasil
Estado de São Paulo, 16/10/2010

A manutenção das reservas internacionais superiores a US$ 280 bilhões custa ao contribuinte brasileiro cerca de R$ 45 bilhões ao ano, o equivalente a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo estimativas de economistas como o ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore e o ex-diretor da instituição Alexandre Schwartsman.

O valor supera o total de investimentos públicos previstos para 2010. No primeiro semestre, o governo investiu um recorde de R$ 20,6 bilhões. Se mantiver o ritmo – o que é difícil, porque a lei eleitoral veta desembolsos próximos do pleito -, o total no ano chegará a R$ 41,2 bilhões.

As reservas custam caro porque o BC aplica a maior parte dos recursos em títulos públicos de países desenvolvidos, notadamente dos Estados Unidos, que hoje em dia pagam taxas de juros próximas de zero. Como o Brasil não tem excedente orçamentário para adquirir os dólares, o governo o faz por meio de endividamento. Só que a Selic (a taxa básica de juros da economia brasileira) está em 10,75% ao ano. A diferença entre o juro externo e o interno é o custo das reservas.

Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o Brasil caminha rapidamente para chegar a reservas de US$ 300 bilhões. “Nós temos um custo de fato, mas é melhor pagar este custo do que ter uma economia mais vulnerável”, disse, em entrevista à GloboNews.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Addendum em 19/10/2010:
Brasil tem maior custo de reservas
Claudia Safatle - de Brasília
Valor Econômico, 19/10/2010

Câmbio: Levantamento de técnicos do governo aponta impacto da política de juros elevados

Dentre os países detentores das maiores reservas cambiais, o Brasil é o que tem a mais alta taxa básica de juros (10,75% ao ano) e, portanto, o maior custo fiscal para carregar as reservas de US$ 280 bilhões. Somando o custo de carregamento dado pelo diferencial de taxa de juros interna e externa ao custo de equalização, medido pela apreciação do real frente ao dólar, chega-se a mais de R$ 50 bilhões por ano.

A segunda maior taxa de juros nos países selecionados é a da Rússia, com 7,75% ao ano e reservas totais de US$ 458 bilhões, equivalentes a 40,7% do PIB do país.

No Brasil as reservas ainda são pequenas com relação ao PIB - 13,25%. Na China, com US$ 2,6 trilhões em caixa, as reservas correspondem a 53% e os juros anuais são de 5,3%. E na Índia, com reservas de US$ 261 bilhões, correspondente a 23% do PIB, os juros são de 5% ao ano. A comparação foi feita por técnicos do governo para dar a dimensão do custo da política de acumulação de reservas no Brasil, em função da distorção da taxa de juros doméstica.

Tomando como hipótese que esses países aplicam suas reservas de forma preponderante em títulos de longo prazo do Tesouro americano e recebem uma rentabilidade de 2% a 3% ao ano, a Índia gastaria algo como US$ 3,5 bilhões para carregar suas reservas cambiais. Cifra mais modesta é calculada para a Coreia do Sul, país que dispõe de US$ 285 bilhões em reservas (35% do PIB) e tem juros nominais de 2,25% ao ano. Outros países como Taiwan e Arábia Saudita, com reservas de US$ 380 bilhões (98% do PIB) e de US$ 434 bilhões (109% do PIB), respectivamente, têm juros básicos ainda menores. Em Taiwan a taxa é de 1,5% e na Arábia Saudita, de 2% ao ano.

Patamar dos juros, portanto, é a diferença básica entre os países emergentes que acumularam grandes somas em reservas cambiais nos últimos anos.

Cálculos técnicos indicam que, usando tanto a taxa de juros implícita da dívida pública quanto a taxa Selic, o custo de carregamento das reservas brasileiras, que devem chegar a US$ 300 bilhões este ano, subiu de 0,9% do PIB até 2008 para pouco mais de 1% do PIB atualmente. Como o produto soma cerca de R$ 3,4 trilhões, 1% de gasto para sustentar as reservas corresponderia a R$ 34 bilhões. Além do diferencial de juros, o governo tem que arcar também com a equalização cambial - quando o real se aprecia o Banco Central registra prejuízo e, quando se deprecia, a instituição apura lucro e ambos são transferidos ao Tesouro Nacional. Como este ano foi de apreciação da moeda, até setembro, segundo dados do BC já houve prejuízo de R$ 14,9 bilhões. Já em 2008, quando houve uma substancial depreciação do real, o BC gerou um lucro espetacular de de R$ 171,4 bilhões e o repassou ao Tesouro Nacional.

Ter reservas cambiais mostrou-se um seguro indispensável para tempos de crises nos mercados internacionais. Na pior crise global dos últimos tempos, em 2008, o Brasil tinha reservas de US$ 200 bilhões mais operações de swap cambial de US$ 20 bilhões. É razoável supor, portanto, que a título de seguro contra crises, esse patamar estava de bom tamanho. Todos os dólares comprados pelo BC de lá para cá seriam, portanto, para impedir uma valorização ainda mais forte do real. O custo de acumulação é elevado. Mas o raciocínio agora deve ser outro, confrontando o peso fiscal das reservas cambiais com a situação do setor exportador do país.