Desde que começou o caso Mensalão, quando se revelou toda a extensão das patifarias, falcatruas, ladroagem, roubalheiras, malversações, desvios, extorsões, chantagens, mentiras mentirosas (é preciso reforçar), mistificações, cinismo e desfaçatez -- e vocês continuem buscando no dicionário todos os demais adjetivos e substantivos apropriados -- os brasileiros mais atentos, simples cidadãos bem informados, que sabem ler os jornais -- como eu e você, por exemplo -- já tinhamos chegado a esta conclusão singela: sim, estamos sendo governados por uma organização criminosa, uma máfia, no sentido estrito e em todos os sentidos latos dessa expressão.
Na verdade, a compulsão para o crime, e a criminalidade (sempre a redundância, pois neste caso é inevitáve), precede a campanha de 2002 e os "recursos não contabilizados" desde antes, durante e depois, desde sempre, e continuando, mesmo durante o Mensalão, até agora mesmo, em várias esferas que ainda não foram descobertas pelos investigadores atilados.
Os companheiros, como vários outros ladrões de galinhas, começaram modestamente: roubando a merenda das crianças, as verbas do recolhimento de lixo, os contratos de transportes públicos nas pequenas prefeituras de interior. Mas isso ainda era na fase de acumulação primitiva, quanto eles estavam no que se poderia chamar de "modo artesanal de corrupção", que é o de todo bandido dos becos e dos corredores de certos poderes, enfim, o que fazem os profissionais do ramo, no puro estilo pork barrel, como diriam os americanos (que entendem de todos os tipos de corrupção, mas são ainda superados pelos japoneses e sobretudo pelos italianos).
Depois, os companheiros passaram à extorsão pura e simples, quando chegaram a algumas prefeituras mais importantes, aquelas de PIB relevante, o que pode ter dado até uma morte ou duas, por acidentes de trabalho, digamos assim.
Nessa fase, os companheiros ainda contavam com a ajuda dos amigos de fé e bons camaradas, os cubanos, os narcotraficantes, os bolivarianos uma vez instalados no poder, e podendo contar com a sua vaca petrolífera. Foi bastante dinheiro por essa via, tanto é que agora eles estão devolvendo, até em dobro, ou o triplo, a quem é mais necessitado do que eles, quem na verdade conseguiu produzir no país um retrato perfeito do que é o socialismo: penúria, mentira, corrupção, desorganização econômica, corrupção, fraudes sem fim, Estado policiais, mais corrupção, privilégios para a nomenklatura, a nova classe, ainda mais corrupção, etc...
Mas, esses tempos de pequenos golpes de punguistas de bairro ficaram para trás. Quando os companheiros se apossaram de sua vaca petrolífera, foi como o Abre-te Sésamo do Ali Babá contemplando a caverna cheia de tesouros dos quarenta ladrões: uma riqueza infinita. Eles ficaram extasiados: não precisavam mais roubar a varejo. Finalmente, eles chegaram no modo industrial de produção, aliás até mais: na etapa superior da corrupção, da extorsão, da roubalheira generalizada. O Abre-te Sésamos era uma mina inesgotável de recursos para construir todos os projetos de dominação, comprando as vontades, os bolsos, abastecendo as contas, e até tomando conta das consciências dos amadores que os precederam.
E tudo isso montado com gente que foi treinado pela DGI e que sabe mentir como os melhores chefes de famiglia, os capi di tutti i capi. Pois é, o chefe da quadrilha conseguiu montar um império do crime. E por enquanto anda impune por aí.
Você ainda duvida de que estamos à sombra de uma organização criminosa? Não duvide mais. As provas estão pingando por todos os lados. Mas o que vai abaixo são apenas matérias para registro histórico. No fundo, todos nós já sabíamos que estávamos sendo governados por mafiosos.
Paulo Roberto de Almeida
Laryssa Borges
VEJA.com, 03/12/2014
Indicado
pelo ex-ministro mensaleiro José Dirceu para a Diretoria de Serviços da
Petrobras, Renato Duque era o responsável direto por negociar a cobrança
de propina com as empreiteiras que tinham contratos com a estatal. As
revelações constam do depoimento do executivo Augusto Ribeiro de
Mendonça Neto, da empresa Toyo Setal, que firmou um acordo de delação
premiada para revelar detalhes do esquema do petrolão em troca de
possíveis benefícios judiciais. Ao lado do ex-diretor de Abastecimento
da Petrobras Paulo Roberto Costa, Renato Duque recebia listas
manuscritas com o acordo feito pelas empreiteiras e sabia previamente
quais empresas deveriam ser convidadas para participar das licitações da
Petrobras.
Mais:
todas as construtoras que participavam dos acertos tinham conhecimento
prévio do valor da extorsão que tanto Costa quanto Duque pretendiam
cobrar para oficializar a empresa vencedora: a propina a Costa seria de
1% por contrato, e de Duque outros 2%, embora cada empresa negociava
diretamente com os diretores, em uma espécie de barganha de propina. No
caso da Toyo Setal, por exemplo, Duque recebeu 1,3% de propina por
contrato celebrado com a Petrobras, enquanto Costa recebeu 0,6%.
Cabia ao
presidente da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, repassar a Duque os
detalhes do acerto prévio do chamado “Clube do Bilhão”, o cartel de
empresas que partilhavam os contratos da Petrobras.
Na noite
desta terça-feira, o ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal
(STF), revogou a prisão preventiva de Duque, que deixou a carceragem da
Polícia Federal em Curitiba (PR) nesta quarta.
“Existia
um acerto de comissões entre as empresas do Clube do Bilhão vencedoras
das licitações da Petrobras e os diretores Paulo Roberto Costa e Renato
Duque”, revelou Mendonça Neto. “Era importante que os dois diretores
[Duque e Costa] soubessem a lista das empresas que seriam convidadas”,
completou. Em alguns casos, disse o executivo em depoimento de delação
premiada. Em alguns casos, 3% em comissão poderiam representar até 50%
do lucro que seria auferido pela empresa vencedora. “O impacto
financeiro da propina nos contratos era bastante significativo”, resumiu
o empresário, que detido ao lado dos executivos das principais
empreiteiras do país na sétima fase da Operação Lava Jato, no dia 14 de
novembro.
Além de
ter dado detalhes do esquema criminoso de pagamento de propina e fraude
em licitações na Petrobras, Mendonça Neto explicou a profissionalização
do “clube de empreiteiras” e disse que, para organizar o cartel e
garantir que as empreiteiras saíssem vitoriosas nos contratos de seu
interesse, havia um regulamento semelhante a de um campeonato de
futebol. “As regras do Clube ao longo do tempo foram aprimoradas e
chegaram a ser escritas como se fossem um regulamento de campeonato de
futebol”, disse. A partir das reuniões do Clube, o coordenador do grupo,
Ricardo Pessoa, elaborava a lista e a entregava a Renato Duque,
mencionando quais as empresas que deveriam ser convidadas pela Petrobras
para o certame específico. As mesmas listas foram entregues a Paulo
Roberto Costa. O Clube estabeleceu uma relação direta com o então
diretor de Engenharia Renato Duque para que as empresas convidadas para
cada certame fossem as indicadas previamente.
O Clube
era formado por Márcio Faria, da Odebrecht, Ricardo Pessoa, da UTC, João
Auler, da Camargo Correa, Elton Negrão, da Andrade Gutierrez, um
interlocutor citado como Vilaça, em nome da Mendes Junior. Pessoa,
presidente da UTC, era o “meio de campo” e “intermediário” com Renato
Duque e mandava mensagens de texto para cada representante das empresas
para agendar as reuniões do Clube. “As reuniões do Clube tinham o
propósito de analisar o programa de obras da Petrobras, somando as
informações de todos os participantes porque, apesar do programa de
obras da Petrobras ser algo anunciado pela própria estatal, a forma como
os pacotes seriam divididos e quando eles seriam efetivamente
licitados eram informações que dependiam de relacionamento diário com as
áreas da Petrobras”, relatou o executivo ao descrever a atuação
criminosa dos empreiteiros.
Reinaldo Azevedo, 03/12/2014
É,
leitores, dá para escolher a natureza do crime! Que coisa! A sensação
de que o país é dominado por uma quadrilha é bem mais do que isso.
Parece mesmo ser um dado objetivo. Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, um
dos executivos da Toyo Setal, afirmou que a propina que a empresa pagou
para o esquema fluiu na forma de doações legais ao PT. É claro que é
muito grave porque isso transforma o partido numa organização criminosa
que usa a sua fachada legal para extorquir empresas.
Júlio
Camargo, o outro executivo da Toyo Setal, que também fez acordo, disse
coisa um pouco diferente, de não menos gravidade, mas outra espécie de
dolo. Segundo disse à Polícia Federal, ele pagou R$ 137 milhões em
propinas: US$ 40 milhões (R$ 102 milhões pelo câmbio de hoje) a Fernando
Baiano e R$ 35 milhões ao petista Renato Duque, então diretor de
Serviços, e a Pedro Barusco, seu subordinado — aquele que vai devolver
US$ 97 milhões aos cofres públicos.
Querem ver
como as coisas começam a se complicar: segundo Camargo, ele era
orientado a fazer depósitos em contas na Suíça, no Uruguai, em Hong Kong
e na China continental. Em que o seu depoimento difere do de Mendonça
Neto, seu parceiro de empresa? Ambos admitem que faziam, sim, pagamento
de propina, mas Camargo diz que esse dinheiro não se confundia com
doações; já o outro sustenta que sim. O que é melhor para o Brasil e
para a Petrobras? Nem uma coisa nem outra. O que é melhor para os
partidos? Entendo que o crime cometido é o mesmo, com a diferença de que
o esquema revelado por Mendonça Neto traz também o crime eleitoral.
Mas
atenção: uma forma não exclui a outra. Ambas podem ter convivido e se
estreitado num abraço insano. Vejam que mimo: em dois contratos apenas,
firmados para o Projeto Cabuínas 2 e o consórcio Interpar, Camargo
confirmou ter pagado a Duque e Barusco R$ 15 milhões através de contas
fora do país. Segundo ele, os repasses a Paulo Roberto eram feitos
através do doleiro Alberto Youssef.
Segundo
Camargo, ele criou as empresas de consultoria Treviso, Piemonte e Auguri
para receber as comissões e repassar ao esquema. Os consórcios
vencedores das obras depositavam o dinheiro sujo no banco uruguaio
Interbotom e nos suíços Credit Suisse e Banque Cramer.
Por Reinaldo Azevedo
Reinaldo Azevedo, 03/12/2014, às 17:15
O
executivo Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da Toyo Setal, que fez
acordo de delação premiada, afirmou em depoimento à Justiça que parte da
propina manipulada pela quadrilha foi repassada ao PT na forma de
doações legais, entre 2008 e 2011. Em entrevista recente, o tucano Aécio
Neves afirmou que perdeu a eleição para uma organização criminosa.
Será? Já chego ao ponto. Vamos ver.
Lembram-se
da CPI dos Correios — ou CPI do Mensalão? Duda Mendonça admitiu que
recebeu no exterior US$ 3,6 milhões como parte do pagamento pela
campanha eleitoral de Lula em 2002. Atenção: o pagamento foi feito
quando o Babalorixá de Banânia já era presidente da República. Origem do
dinheiro? Ninguém sabe. Que era caixa dois, bem, isso era, né? Era
dinheiro público? Até onde se sabe, não.
E agora?
Tudo piorou. A ser verdade o que diz Mendonça Neto, o PT fez campanha
eleitoral com dinheiro da Petrobras. O que isso tem a ver com doação
legal? Nada! Trata-se, obviamente, de usar a lei para lavar a propina.
Segundo o executivo, os pagamentos foram feitos entre 2008 — ano de
eleições municipais — e 2011. Entre as duas pontas, está 2010, quando
Dilma se elegeu presidente pela primeira vez. Se ele não estiver
mentindo, houve dinheiro sujo na campanha.
Ah, sim:
Mendonça Neto diz ainda que só a sua empresa repassou à dupla Renato
Duque — o petista que era diretor de Serviços da Petrobras e que foi
solto pelo ministro Teori Zavascki — e Pedro Barusco nada menos de R$ 30
milhões. Lembrança à margem: Barusco fez acordo de delação premiada e
aceitou devolver a fantástica soma de US$ 97 milhões aos cofres
públicos. O empresário afirmou que, no caso da Toyo Setal, Paulo Roberto
Costa recebia 0,6% de propina sobre o valor do contrato; Duque, o
petista, 1,3%.
Avancemos
um pouco. Tanto Paulo Roberto como Alberto Youssef disseram em seus
respectivos depoimentos que a prática não era diferente nas demais
estatais e em ministérios. E por que deveríamos achar o contrário? Os
critérios de nomeação não são os mesmos? Não se procede igualmente ao
loteamento de cargos? Até hoje ninguém me respondeu por que um partido
político quer a diretoria de Serviços de uma estatal. Para tocar piano?
Por razões ideológicas? Mais: o executivo da Toyo Setal se refere ao
período 2008-2011. Ocorre que, quando a PF deflagrou a operação Lava
Jato, a roubalheira estava em curso.
Organização criminosa?
Pois é… o senador Aécio Neves afirmou numa entrevista que perdeu a
eleição para uma organização criminosa. Rui Falcão, presidente do PT,
partido que ganhou a disputa, afirmou que vai processá-lo. Huuummm… Eu
tinha entendido que o presidente do PSDB não se referia propriamente ao
PT, mas aos métodos empregados.
Se Mendonça Neto estiver falando a verdade, aí não se duvide: a organização criminosa é mesmo o PT.
Por Reinaldo Azevedo
Vanessa Borges e Marcela Mattos
VEJA.com, 3/12/2014
O executivo Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da empresa Toyo
Setal, disse em depoimento à Justiça, após firmar um acordo de delação
premiada, que parte da propina recolhida pela quadrilha que se instalou
na Petrobras foi repassada para o caixa do Partido dos Trabalhadores por
meio de doações oficiais, entre 2008 e 2011. Segundo ele, os repasses
foram feitos por meio das contas das empresas Setec Tecnologia e PEM
Engenharia. A maquiagem nos desvios, incluindo os recursos como se
fossem doações partidárias, era uma estratégia para dificultar o
rastreamento do dinheiro oriundo do crime. De acordo com Mendonça Neto,
apenas em relação a sua empresa, os ex-diretores da Petrobras Renato
Duque e Paulo Roberto Costa receberam propina de até de 30 milhões de
reais.
Braço
direito de Duque, cabia ao ex-gerente de Serviços Pedro Barusco tratar
diretamente da propina com a empresa. Conforme o depoimento, o
ex-funcionário, que fez acordo com a justiça para devolver quase 100
milhões de dólares, recebeu os valores das empreiteiras em parcelas em
dinheiro, remessas em contas indicadas no exterior e como doações
oficiais ao PT. No esquema do petrolão, Barusco chegou a pedir que parte
da propina fosse entregue em dinheiro vivo em um escritório em São
Paulo, enquanto os pagamentos no exterior eram destinados a uma única
conta definida previamente por Renato Duque. (…)
Aeroportos
– O executivo da Toyo Setal informou ainda ter tido notícias de
cobrança de propina durante as obras de instalações elétricas no
aeroporto de Brasília em 2002. O contrato original era entre a Infraero e
a Construtora Beter, mas a empreiteira subcontratou a PEM Engenharia
para executar a obra, informando à subcontratada da necessidade de pagar
propina ao então presidente da estatal aeroportuária Carlos Wilson.
Mendonça Neto diz, porém, que “não possui nenhum elemento concreto
acerca do suposto pagamento de comissão para Carlos Wilson”, porque a
propina estava sendo negociada exclusivamente pela Beter.?
Duque
Indicado pelo ex-ministro mensaleiro José Dirceu para a Diretoria de
Serviços da Petrobras, Renato Duque era o responsável direto por
negociar a cobrança de propina com as empreiteiras que tinham contratos
com a estatal. Ao lado do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo
Roberto Costa, Renato Duque recebia listas manuscritas com o acordo
feito pelas empreiteiras e sabia previamente quais empresas deveriam ser
convidadas para participar das licitações da Petrobras.
Mais:
todas as construtoras que participavam dos acertos tinham conhecimento
prévio do valor da extorsão que tanto Costa quanto Duque pretendiam
cobrar para oficializar a empresa vencedora: a propina a Costa seria de
1% por contrato, e de Duque outros 2%, embora cada empresa negociasse
diretamente com os diretores, em uma espécie de barganha de propina. No
caso da Toyo Setal, por exemplo, Duque recebeu 1,3% de propina por
contrato celebrado com a Petrobras, enquanto Costa recebeu 0,6%.
Cabia ao
presidente da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, repassar a Duque os
detalhes do acerto prévio do chamado “Clube do Bilhão”, o cartel de
empresas que partilhavam os contratos da Petrobras.
Na noite
desta terça-feira, o ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal
(STF), revogou a prisão preventiva de Duque, que deixou a carceragem da
Polícia Federal em Curitiba (PR) nesta quarta.
Por Reinaldo Azevedo
Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
Indicado
pelo ex-ministro mensaleiro José Dirceu para a Diretoria de Serviços da
Petrobras, Renato Duque era o responsável direto por negociar a cobrança
de propina com as empreiteiras que tinham contratos com a estatal. As
revelações constam do depoimento do executivo Augusto Ribeiro de
Mendonça Neto, da empresa Toyo Setal, que firmou um acordo de delação
premiada para revelar detalhes do esquema do petrolão em troca de
possíveis benefícios judiciais. Ao lado do ex-diretor de Abastecimento
da Petrobras Paulo Roberto Costa, Renato Duque recebia listas
manuscritas com o acordo feito pelas empreiteiras e sabia previamente
quais empresas deveriam ser convidadas para participar das licitações da
Petrobras.
Mais:
todas as construtoras que participavam dos acertos tinham conhecimento
prévio do valor da extorsão que tanto Costa quanto Duque pretendiam
cobrar para oficializar a empresa vencedora: a propina a Costa seria de
1% por contrato, e de Duque outros 2%, embora cada empresa negociava
diretamente com os diretores, em uma espécie de barganha de propina. No
caso da Toyo Setal, por exemplo, Duque recebeu 1,3% de propina por
contrato celebrado com a Petrobras, enquanto Costa recebeu 0,6%.
Cabia ao
presidente da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, repassar a Duque os
detalhes do acerto prévio do chamado “Clube do Bilhão”, o cartel de
empresas que partilhavam os contratos da Petrobras.
Na noite
desta terça-feira, o ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal
(STF), revogou a prisão preventiva de Duque, que deixou a carceragem da
Polícia Federal em Curitiba (PR) nesta quarta.
“Existia
um acerto de comissões entre as empresas do Clube do Bilhão vencedoras
das licitações da Petrobras e os diretores Paulo Roberto Costa e Renato
Duque”, revelou Mendonça Neto. “Era importante que os dois diretores
[Duque e Costa] soubessem a lista das empresas que seriam convidadas”,
completou. Em alguns casos, disse o executivo em depoimento de delação
premiada. Em alguns casos, 3% em comissão poderiam representar até 50%
do lucro que seria auferido pela empresa vencedora. “O impacto
financeiro da propina nos contratos era bastante significativo”, resumiu
o empresário, que detido ao lado dos executivos das principais
empreiteiras do país na sétima fase da Operação Lava Jato, no dia 14 de
novembro.
Além de
ter dado detalhes do esquema criminoso de pagamento de propina e fraude
em licitações na Petrobras, Mendonça Neto explicou a profissionalização
do “clube de empreiteiras” e disse que, para organizar o cartel e
garantir que as empreiteiras saíssem vitoriosas nos contratos de seu
interesse, havia um regulamento semelhante a de um campeonato de
futebol. “As regras do Clube ao longo do tempo foram aprimoradas e
chegaram a ser escritas como se fossem um regulamento de campeonato de
futebol”, disse. A partir das reuniões do Clube, o coordenador do grupo,
Ricardo Pessoa, elaborava a lista e a entregava a Renato Duque,
mencionando quais as empresas que deveriam ser convidadas pela Petrobras
para o certame específico. As mesmas listas foram entregues a Paulo
Roberto Costa. O Clube estabeleceu uma relação direta com o então
diretor de Engenharia Renato Duque para que as empresas convidadas para
cada certame fossem as indicadas previamente.
O Clube
era formado por Márcio Faria, da Odebrecht, Ricardo Pessoa, da UTC, João
Auler, da Camargo Correa, Elton Negrão, da Andrade Gutierrez, um
interlocutor citado como Vilaça, em nome da Mendes Junior. Pessoa,
presidente da UTC, era o “meio de campo” e “intermediário” com Renato
Duque e mandava mensagens de texto para cada representante das empresas
para agendar as reuniões do Clube. “As reuniões do Clube tinham o
propósito de analisar o programa de obras da Petrobras, somando as
informações de todos os participantes porque, apesar do programa de
obras da Petrobras ser algo anunciado pela própria estatal, a forma como
os pacotes seriam divididos e quando eles seriam efetivamente
licitados eram informações que dependiam de relacionamento diário com as
áreas da Petrobras”, relatou o executivo ao descrever a atuação
criminosa dos empreiteiros.
Por Reinaldo Azevedo
Reinaldo Azevedo, 02/12/2014
O
ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, concedeu uma
liminar revogando a prisão de Renato Duque, ex-diretor de serviços da
Petrobras e homem do PT na empresa. Ele é ligado ao ex-ministro José
Dirceu. Segundo Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, era Duque quem
cuidava da parte da propina destinada ao PT. Só para lembrar: um
subordinado de Duque, Pedro Barusco, se comprometeu a devolver US$ 97
milhões aos cofres públicos.
Até o
começo da madrugada desta quarta, não se conheciam os motivos que
levaram Zavascki a conceder a liminar. Ele disse que ainda divulgaria o
inteiro teor da sentença. A sua única ação preventiva foi recolher o
passaporte de Duque. Até agora, apesar de todas as evidências, o petista
nega que tivesse conhecimento de qualquer irregularidade na estatal.
Como é notório, “não saber” é uma tradição do petismo. Vamos ver qual é o
critério, né? Tudo indica que, se Duque pode ter revogada a prisão
preventiva, os demais presos também podem.
A Galvão
Engenharia, por exemplo, entregou à Justiça Federal do Paraná provas de
que pagou propina de R$ 8,8 milhões a uma empresa de consultoria do
engenheiro Shinko Nakandakari. Segundo a empreiteira, tratava-se de mera
operação de despiste. Shinko, na verdade, faria a coleta de dinheiro
sujo em nome da Diretoria de Serviços, comandada pelo petista Duque.
O indicado
de Dirceu era, sim, originariamente, funcionário da Petrobras, mas era
considerado apenas “mediano”. Foi a chegada da companheirada ao poder
que lhe abriu o caminho para a glória: tornou-se o titular da poderosa
Diretoria de Serviços, onde permaneceu de 2003 a 2012.
A menos
que haja uma razão muito particular, até agora desconhecida, para
libertar Duque, pode-se esperar um festival de solturas nas próximas
horas. Se ele pode sair da cadeia, por que não os outros?
Teori
Zavascki compôs, ao lado de Roberto Barroso, a dupla de ministros do
Supremo que abriu caminho para anular a condenação de José Dirceu, de
Delúbio Soares e de José Genoino por formação de quadrilha no escândalo
do mensalão. Ele e Barroso são os dois ministros do tribunal mais
apreciados pelos petistas. Ganham até de Ricardo Lewandowski. E olhem
que a concorrência é dura!
Por Reinaldo Azevedo
A
VERDADE QUE NÃO QUER CALAR – Em CPI, Paulo Roberto diz que roubalheira é
generalizada e que esquema corrupto da Petrobras está em vigência em
todos os órgãos do governo
Reinaldo Azevedo, 02/12/2014
Paulo
Roberto Costa falou pouco na CPMI da Petrobras, na sessão marcada para
uma acareação entre ele e Nestor Cerveró, ex-diretor da área
Internacional da empresa. Falou pouco, mas bem mais do que o governo e a
oposição esperavam. Ex-diretor de Abastecimento da estatal, ele fez um
acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Deixou
claro, de saída, que não poderia entrar em detalhes, mas, ainda assim,
foi inequívoco e disse que reafirma todo o conteúdo da delação premiada.
Foi além. Segundo disse, o esquema de roubalheira semelhante ao da
Petrobras funciona também nas outras áreas da administração, a saber:
“nas rodovias, portos, ferrovias e aeroportos”.
Muito bem,
leitores! Desde que esse escândalo veio à luz, tenho insistido neste
aspecto: se uma quadrilha de criminosos se apoderou da Petrobras, por
que seria diferente nas outras estatais e nos organismos diretamente
vinculados a ministérios? Não há razão para ser. Afinal, os critérios
para nomear diretores de outras estatais ou de autarquias do governo são
os mesmos: loteamento entre partidos. Volto à minha pergunta de sempre:
por que uma legenda faz tanta questão de ter a diretoria de uma empresa
pública? Por ideologia, convenham, não é. Se a safadeza na Petrobras
assume proporção multibilionária, imaginem o que se passa no conjunto do
país.
Paulo
Roberto admitiu ter assumido a diretoria de Abastecimento em razão de um
arranjo político, indicado pelo PP. Disse ter saído em 2012 porque não
aguentava mais as pressões: “Às vezes você entra em um processo e não
tem como sair. Mas eu saí. Saí em 2012, mas o processo continuava.”
Então pensemos: os cargos continuam a ser indicados em razão da
influência política? A resposta, obviamente, é “sim”. Tanto é verdade
que Sérgio Machado deve deixar de vez a presidência da Transpetro, e
caberá ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), informalmente
ao menos, indicar o substituto.
E-mail
Costa referiu-se ao e-mail que ele enviou
em 2009 à então ministra Dilma Rousseff, revelado por reportagem de
VEJA. Só para lembrar: na mensagem, ele alertava para o fato de que o
TCU recomendara a suspensão de recursos para obras da Petrobras —
justamente aquelas em que havia corrupção. E Paulo Roberto sugere que o
governo deveria ignorar as advertências. E Lula as ignorou, é bom
destacar.
O
ex-diretor da Petrobras, nesse particular, contou uma história um pouco
inverossímil: disse que só mandou o e-mail porque estava “enojado” com o
que se passava na empresa. Não dá par cair nessa conversa. Membro ativo
da quadrilha, o texto sugere que ele estava é preocupado com a
possibilidade de ver secar a fonte. Ele sustenta ainda que o petista
José Sérgio Gabrielli, então presidente da estatal, teve conhecimento
prévio da mensagem. De todo modo, aquele e-mail revela que Dilma e Lula
tinham como ter estancado a sangria.
E as
provas? Paulo Roberto responde: “Não tem nada na delação que eu não
confirme. É um instrumento extremamente sério. Não pode ser usado de
artifício. O que está lá, eu confirmo. Provas? Estão existindo, estão
sendo colocadas. Falei de fatos, dados e das pessoas. Tudo o que eu
falei eu confirmo”. A terra ainda pode tremer. Até porque ele reafirmou
que “algumas dezenas” de políticos estão envolvidos na roubalheira.
Por Reinaldo Azevedo