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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Brasil deve perder SGP da UE: coitado do Brasil (ou sera que nao?)

O Brasil, que é mais industrializado do que vários membros da UE, quer ainda ser tratado como coitadinho em desenvolvimento...
O atraso brasileiro não é exatamente material. É mental...
Paulo R. de Almeida

Um recado europeu ao Brasil
Editorial - O Estado de S.Paulo
20 de julho de 2011

O Brasil deve perder em 2014 as preferências tarifárias concedidas pela União Europeia, avisa o negociador comercial do bloco, Karel de Gucht. Depois de ter apostado quase todas as suas fichas nas negociações globais de comércio, a Rodada Doha, a diplomacia comercial brasileira enfrenta hoje as consequências de uma série de opções erradas. Nove anos e meio depois do lançamento, a rodada está atolada num impasse e ninguém sabe se algum dia será concluída. O projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foi enterrado pelo terceiro-mundismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu companheiro Néstor Kirchner. O Mercosul só concluiu tratados comerciais com economias em desenvolvimento e as conversações com a União Europeia, retomadas há pouco tempo, continuam lentas e pouco promissoras. Se nenhum resultado for obtido nos próximos dois anos e meio, o Brasil poderá ficar no pior dos mundos, sem as preferências europeias, em desvantagem no mercado americano e forçado a competir em condição de inferioridade com a China e outras potências comerciais dinâmicas.

A advertência do comissário europeu para o Comércio é um instrumento de pressão para estimular o Brasil e seus parceiros do Mercosul a se esforçarem mais pelo acordo com a União Europeia. Para isso, os sul-americanos terão de ser mais generosos nas concessões, especialmente na área industrial. Isso dependerá principalmente de brasileiros e argentinos. Estes, durante anos, foram os menos dispostos a abrir seu mercado a exportadores industriais europeus. Não mudaram muito e mantêm-se aferrados a medidas protecionistas até contra seu principal parceiro comercial, o Brasil. Mas os brasileiros também se mostram hoje pouco dispostos a oferecer concessões comerciais, por causa do câmbio valorizado e de outras desvantagens.

Nos países mais industrializados, o ambiente, agora, também não é favorável à negociação de acordos de livre comércio. O desemprego continua elevado. Nos dois lados do Atlântico Norte a ideia de maior abertura a produtores estrangeiros é altamente impopular. No caso dos Estados Unidos, há um fator agravante. Durante a campanha eleitoral, o presidente Barack Obama cortejou alguns dos sindicatos mais protecionistas do país. Até agora, evitou decepcioná-los, embora tenha pressionado o Congresso para aprovar alguns acordos assinados pelo Executivo nos últimos anos.

Na Europa, os agricultores continuam rejeitando a liberalização dos mercados. A curto prazo, a proximidade das eleições na França, previstas para maio de 2012, também dificultam as negociações.

Mas o aviso do comissário europeu é mais que um instrumento de pressão. O governo brasileiro deve, naturalmente, continuar negociando e estimulando os parceiros do Mercosul a se empenhar no jogo com os europeus. Mas tem de ser realista e levar em conta, seriamente, a hipótese de um novo impasse.

Confirmada essa hipótese, o acesso ao mercado europeu será mais difícil do que hoje, porque as vantagens do Sistema Geral de Preferências desaparecerão em 2014 e nenhum acordo comercial terá sido assinado. As preferências, no entanto, continuarão sendo concedidas a países pobres, isto é, com renda per capita baixa (a do Brasil é média). Alguns desses países pobres são fortes competidores em algumas áreas industriais, por causa de salários muito reduzidos. Terão, portanto, mais vantagens contra o Brasil.

Essa perspectiva é mais um bom motivo - entre tantos outros - para se adotar no Brasil, seriamente, a tão prometida e, até hoje, não concretizada política de competitividade. Desde o começo do ano, ministros da área econômica têm falado sobre medidas para reduzir os custos do investimento, da produção e da exportação. Mas a cada pronunciamento as inovações esboçadas se tornam mais modestas, porque o hábito da gastança dificulta a redução de tributos.

Além disso, a ineficiência do governo dificulta os investimentos na infraestrutura, outra importante desvantagem dos brasileiros. Seria bom se a advertência do comissário europeu pelo menos provocasse algum susto em Brasília.

domingo, 19 de junho de 2011

Brasil-UE: a tal de relacao estrategica (tem muitas...)

Preocupaciones brasileñas
JOSÉ IGNACIOTORREBLANCA
El País, 17/06/2011

La cuestión no es si Brasil es socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es socio estratégico para Brasil

Escribo desde Brasilia, un festival de arquitectura y urbanismo que provoca sensaciones encontradas. Se celebra el XVIII Foro Brasil-Europa y he venido a encontrar la respuesta a una pregunta aparentemente sencilla. Brasil, dicen los documentos oficiales que se manejan en Bruselas, es un socio estratégico para la UE. Que la UE se fije en Brasil es fácil de entender: es ya la octava potencia económica del mundo, habiendo sobrepasado a miembros tradicionales del G-7 como Canadá e Italia, y va camino de convertirse en la quinta. Aquí, el efecto de la crisis ha sido tan leve como increíble el efecto rebote posterior: en 2010 el país creció a un 7.5%, así que lo que en realidad preocupa es un posible sobrecalentamiento de la economía. Brasil tiene algunas cosas de las que los europeos carecemos: una población joven, ingentes recursos naturales, una cesta energética en la que hasta el 40% de su consumo tiene su origen en energías renovables y un entorno geopolítico completamente favorable, pues carece de rivales o enemigos de peso. Para colmo de la envidia, tiene un superávit comercial con China, algo que en Europa cuesta siquiera imaginar. Estamos pues ante una potencia económica, energética y medioambiental de crucial importancia para la Unión Europea.

De todos los BRIC (Brasil, Rusia, India y China), Brasil es el más afín a Europa; además es una democracia y tiene una economía de mercado abierta, lo que no todos los BRIC pueden decir. Como dicen algunos aquí, Brasil es el "extremo Occidente", así que, al menos en teoría, deberíamos jugar en el mismo equipo. La cuestión no es entonces si Brasil es un socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es un socio estratégico para Brasil. Para responder a esta pregunta me ha parecido primero necesario averiguar qué quiere Brasil y qué le preocupa. Con las entrevistas que he hecho en el Ministerio de Exteriores brasileño y las ponencias de los participantes he elaborado una lista de preocupaciones.

Por un lado, les preocupa que la UE esté dejando pasar la oportunidad de cerrar las negociaciones comerciales con Mercosur. La presidencia española de la UE desbloqueó las negociaciones, pero los avances han sido escasos, cosa que atribuyen al proteccionismo agrícola de la UE y a los ciclos electorales europeos. También están preocupados por las no-admisiones de turistas brasileños a territorio Schengen y las condiciones, dicen que humillantes, en las que se gestionan estas repatriaciones. De igual forma, protestan por el bloqueo europeo a las exportaciones de etanol (Brasil es el primer exportador mundial), así como por la indiferencia de los europeos a la hora de calcular el impacto de sus regulaciones sobre la industria brasileña (se cita como ejemplo la directiva REACH sobre productos químicos, cuyas 273 páginas de normas obligan a las empresas brasileñas a invertir ingentes recursos en entender cómo aplicarla correctamente).

Otra preocupación es que los organismos internacionales estén llenos de europeos y que estos les presionen para secundar sus posiciones sin a cambio satisfacer los objetivos brasileños. Brasil ha hecho del logro de un asiento permanente en el Consejo de Seguridad de Naciones Unidas un elemento central de su política exterior, pero los europeos no apoyarán esa demanda mientras siga prefiriendo alinearse con Rusia y China antes que con ella en las votaciones. Brasil se abstuvo en la votación del Consejo de Seguridad de la ONU sobre Libia. Lejos de arrepentirse, los brasileños señalan que los bombardeos de la OTAN sobre Trípoli en busca de Gadafi exceden el mandato original de la Resolución 1.973 y confirman que hicieron lo adecuado.

Pero si algo preocupa de verdad aquí es la desindustrialización. Brasil lo ha apostado prácticamente todo a la exportación de materias primas: además de dos millones de barriles de petróleo, el país es el primero del mundo en exportaciones de café, azúcar, tabaco y vacuno, y segundo en exportaciones de soja. Aunque China compra una gran parte de esas materias, a cambio inunda su mercado de manufacturas baratas con un yuan artificialmente devaluado, lo que tiene el efecto de hundir la industria nacional y desplazar los productos brasileños de sus mercados naturales latinoamericanos, también por cierto de los africanos (nótese que en la última década Brasil ha quintuplicado su comercio con África y abierto 35 nuevas embajadas). Esta lista de preocupaciones, tan diferente de las nuestras, es la madeja que Europa tiene que desenredar si quiere ser escuchada por Brasil. Hacerlo no parece precisamente fácil, pero sí inevitable si se quiere ser estratégico para Brasil.

Twitter: @jitorreblanca