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terça-feira, 27 de março de 2012

Argentina perde SGP dos EUA: as consequencias sempre veem depois...

Parece que aprendizes de feiticeiro, ou de shaman, estão no comando da Argentina.
Ou talvez a turma dos trapalhões...
Quem sabe até a patota do Chapolin Colorado?
Paulo Roberto de Almeida

US drops trade preferences for Argentina
BUENOS AIRES, Argentina (AP) — The United States dropped Argentina on Monday from its system of trade preferences, citing the South American country's failure to pay court-ordered damages of $300 million plus interest to two U.S. companies.
Until Argentina pays up, the country no longer qualifies under a U.S. trade preferences law that enabled $477 million in Argentine goods to enter the United States duty-free last year, U.S. Trade Representative Ron Kirk said.
Nearly all the world's countries get the U.S. preferences, which as of Monday apply as well to the Republic of South Sudan, Kirk announced. That leaves Argentina in the company of Syria, Belarus and the rest of Sudan as the only countries not eligible, the U.S. Trade Office said.
President Barack Obama notified Congress of the move in a note that accused Argentina of "not acting in good faith."
The trade preference system was created in 1974 to promote developing countries, and now enables nearly 5,000 kinds of products to enter the U.S. market free of import taxes, saving their producers a total of $18.5 billion worldwide.
Obama announced the move only two days after the Argentine Embassy in Washington had sponsored a Cabinet-level mission to promote U.S. trade and investment. It's the second critical announcement from Washington this month; the U.S. government also included Argentina among countries most affected by money laundering.
Argentina hasn't paid the debt because it's desperate to stop capital flight after eating up $10 billion of its reserves last year. Having to say goodbye to more than $300 million in one blow would be psychologically damaging. But refusing to comply could have a boomerang effect, said economist Milagros Gismondi of Orlando J. Ferreres y Asociados in Buenos Aires.
"Capital flight remains very strong in Argentina," she said. "But in economics you have to really understand the consequences. The economy is a dynamic thing, not static. This could slow exports and by the end of the year have many more negative consequences than positives."
Opposition congressman Julian Obligio of the PRO party was withering in his criticism.
"The bureaucrats of this government don't understand how global commerce works, and apply measures whose failures have been proven by history," he said. "If the government continues down this road, by year's end the Argentines will be poorer and farther than ever from the quality of life our neighbors enjoy."
But Argentina's Foreign Ministry sought to blame the companies involved, Azurix and Blue Ridge, for failing to accept Argentina's terms for paying the bills. The government has not publicly explained exactly what those terms are.
"Argentina laments this attempt to obligate our country to take a decision that violates our laws," the ministry said.
According to a report in Argentina's daily La Nacion, Argentina sought to force the U.S. companies to collect their payments within Argentina, where they would be forced to comply with strict currency control rules, and under terms similar to those accepted by hedge funds who knuckled under in 2005 and 2010 and accepted 70 percent cuts in what they had hoped to get from Argentine bonds.
Associated Press Writer Luis Alonso Lugo in Washington contributed to this report.


quinta-feira, 21 de julho de 2011

Brasil deve perder SGP da UE: coitado do Brasil (ou sera que nao?)

O Brasil, que é mais industrializado do que vários membros da UE, quer ainda ser tratado como coitadinho em desenvolvimento...
O atraso brasileiro não é exatamente material. É mental...
Paulo R. de Almeida

Um recado europeu ao Brasil
Editorial - O Estado de S.Paulo
20 de julho de 2011

O Brasil deve perder em 2014 as preferências tarifárias concedidas pela União Europeia, avisa o negociador comercial do bloco, Karel de Gucht. Depois de ter apostado quase todas as suas fichas nas negociações globais de comércio, a Rodada Doha, a diplomacia comercial brasileira enfrenta hoje as consequências de uma série de opções erradas. Nove anos e meio depois do lançamento, a rodada está atolada num impasse e ninguém sabe se algum dia será concluída. O projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foi enterrado pelo terceiro-mundismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu companheiro Néstor Kirchner. O Mercosul só concluiu tratados comerciais com economias em desenvolvimento e as conversações com a União Europeia, retomadas há pouco tempo, continuam lentas e pouco promissoras. Se nenhum resultado for obtido nos próximos dois anos e meio, o Brasil poderá ficar no pior dos mundos, sem as preferências europeias, em desvantagem no mercado americano e forçado a competir em condição de inferioridade com a China e outras potências comerciais dinâmicas.

A advertência do comissário europeu para o Comércio é um instrumento de pressão para estimular o Brasil e seus parceiros do Mercosul a se esforçarem mais pelo acordo com a União Europeia. Para isso, os sul-americanos terão de ser mais generosos nas concessões, especialmente na área industrial. Isso dependerá principalmente de brasileiros e argentinos. Estes, durante anos, foram os menos dispostos a abrir seu mercado a exportadores industriais europeus. Não mudaram muito e mantêm-se aferrados a medidas protecionistas até contra seu principal parceiro comercial, o Brasil. Mas os brasileiros também se mostram hoje pouco dispostos a oferecer concessões comerciais, por causa do câmbio valorizado e de outras desvantagens.

Nos países mais industrializados, o ambiente, agora, também não é favorável à negociação de acordos de livre comércio. O desemprego continua elevado. Nos dois lados do Atlântico Norte a ideia de maior abertura a produtores estrangeiros é altamente impopular. No caso dos Estados Unidos, há um fator agravante. Durante a campanha eleitoral, o presidente Barack Obama cortejou alguns dos sindicatos mais protecionistas do país. Até agora, evitou decepcioná-los, embora tenha pressionado o Congresso para aprovar alguns acordos assinados pelo Executivo nos últimos anos.

Na Europa, os agricultores continuam rejeitando a liberalização dos mercados. A curto prazo, a proximidade das eleições na França, previstas para maio de 2012, também dificultam as negociações.

Mas o aviso do comissário europeu é mais que um instrumento de pressão. O governo brasileiro deve, naturalmente, continuar negociando e estimulando os parceiros do Mercosul a se empenhar no jogo com os europeus. Mas tem de ser realista e levar em conta, seriamente, a hipótese de um novo impasse.

Confirmada essa hipótese, o acesso ao mercado europeu será mais difícil do que hoje, porque as vantagens do Sistema Geral de Preferências desaparecerão em 2014 e nenhum acordo comercial terá sido assinado. As preferências, no entanto, continuarão sendo concedidas a países pobres, isto é, com renda per capita baixa (a do Brasil é média). Alguns desses países pobres são fortes competidores em algumas áreas industriais, por causa de salários muito reduzidos. Terão, portanto, mais vantagens contra o Brasil.

Essa perspectiva é mais um bom motivo - entre tantos outros - para se adotar no Brasil, seriamente, a tão prometida e, até hoje, não concretizada política de competitividade. Desde o começo do ano, ministros da área econômica têm falado sobre medidas para reduzir os custos do investimento, da produção e da exportação. Mas a cada pronunciamento as inovações esboçadas se tornam mais modestas, porque o hábito da gastança dificulta a redução de tributos.

Além disso, a ineficiência do governo dificulta os investimentos na infraestrutura, outra importante desvantagem dos brasileiros. Seria bom se a advertência do comissário europeu pelo menos provocasse algum susto em Brasília.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Brasil: querendo ser grande, mas desejando ficar pequeno...

Talvez algum psiquiatra chamasse esse tipo de comportamento de síndrome ou transtorno bipolar, ou seja, querendo ser uma coisa e outra, ao mesmo tempo.
Em outros termos, o Brasil quer ser grande, pretende ser tratado como grande, mas na área comercial quer ser pequeno, e tratado como pequeno.
Precisaria saber o que se deseja, finalmente...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil perde privilégios de país emergente
Jamil Chade
O Estado de S. Paulo, 19/04/2011

UE deve pôr fim a benefícios às exportações do Brasil em maio; EUA e Japão, em seguida

De tanto declarar que será a quinta maior economia do mundo, o Brasil agora começa a deixar de ser tratado como um país pobre e terá as preferências comerciais às suas exportações retiradas.

Europeus, japoneses e americanos estão usando o crescimento da economia brasileira como argumento para acabar com preferências dadas ao País por décadas. O primeiro a suprimir benefícios será a União Europeia (UE), em maio.

Bruxelas vai suspender as preferências tarifárias que dá para mais de 12% das exportações brasileiras, argumentando que o País não precisa mais de ajuda. Tóquio e Washington também já indicaram que farão o mesmo.

Diante da nova realidade, a diplomacia brasileira agora é obrigada a reverter o discurso e alertar que, na realidade, ainda enfrenta desafios sociais e econômicos importantes.

Na prática, a UE promove o Brasil a uma nova condição e cria uma diferenciação entre a economia nacional e a dos demais países em desenvolvimento. Estabelecido há décadas, o Sistema Geral de Preferências da UE foi criado justamente como forma de incentivar as exportações de países em desenvolvimento.

Em 2010, 3,1 bilhões das exportações nacionais contaram com a ajuda da redução tarifária, permitindo que alguns produtos manufaturados ainda tivessem certa competitividade no mercado europeu, entre eles, têxteis, químicos, máquinas, autopeças e mesmo alguns agrícolas.

"Estimamos que o sistema precisa funcionar prioritariamente para aqueles países que mais precisam de ajuda", apontou uma fonte da Comissão Europeia. "Há países que, há uma década, estavam em um nível e, hoje, já estão em outro."

Para Bruxelas, há uma nova realidade internacional. "Todos temos de nos acomodar a essa nova situação", indicou o negociador europeu. "O Brasil e outros países precisam entender que não terão mais os mesmos privilégios."

No caso europeu, as medidas serão anunciadas no mês que vem, mas entrarão em vigor apenas em 2012.

Efeito dominó. O governo japonês já indicou que também suspenderá privilégios ao Brasil. Nos Estados Unidos, o Congresso já revê os benefícios que concede às exportações brasileiras e indica que não pode continuar tratando Brasil e Malawi da mesma forma.

Na Organização Mundial do Comércio (OMC), o País sofre com o mesmo problema. O governo americano insiste que o Brasil - além de China e Índia - precisa deixar de ser tratado como emergente e ter um tratamento mais parecido ao dado aos países ricos. O governo americano quer que o Brasil elimine tarifas de importação para milhares de produtos e pede "mudança de atitude" se quiser começar a fechar acordos comerciais.

Isso porque, segundo eles, o Brasil já se beneficiou do acesso aos mercados na última década, sem dar nenhum retorno. "Esperamos que o Brasil assuma sua responsabilidade no mesmo nível que tem sido beneficiado pela economia mundial. Ninguém questiona que uma parte significativa do milagre da economia brasileira seja atribuída à sua habilidade para exportar. Esse progresso é manifestação de trabalho duro, mas também de que existem mercados abertos. O Brasil tem tido benefícios por ter acesso a mercados e pelas concessões feitas pelos ricos na Rodada Uruguai há 16 anos, que criaram oportunidades para o País desenvolver indústrias de classe mundial", afirmou há poucas semanas Michael Punke, embaixador americano na OMC.

O governo brasileiro acredita que americanos, europeus e japoneses apenas estão usando a expansão da economia brasileira como desculpa para manter barreiras e frear as exportações nacionais. Mas tanto na UE, como em Washington, Tóquio e Genebra, o Brasil foi obrigado a mudar o tom ufanista e até explicitar a falta de competitividade do setor industrial nacional.

Em reuniões da OMC com americanos e europeus, o Itamaraty já começou a explorar os problemas do País para justificar a manutenção de tarifas de importação e para pedir concessões dos ricos.

Munição
Numa tentativa de manter os benefícios, o Itamaraty se municia de dados desfavoráveis ao Brasil. Com os EUA, por exemplo, as exportações industriais brasileiras caíram 40% em 2010.