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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 23 de janeiro de 2022

Eleições 2022: os Faria-Lulers - Helena Chagas, Lydia Medeiros (Capital Político)

 Lá vêm os “farialulers”

Helena Chagas, Lydia Medeiros

Uma análise da conjuntura 

Capital Político, Brasília, 23/1/2022 - no145

A entrevista do ex-presidente Lula aos sites independentes, afirmando que não quer voltar ao cargo para resolver os problemas do sistema financeiro e dos empresários, que pretende “botar os pobres no Orçamento e os ricos no Imposto de Renda” e que não dará prioridade a compromissos fiscalistas, mas, sim, a “pagar a dívida social”, não compõe exatamente uma narrativa agradável aos ouvidos do chamado mercado.

 Mas a boa repercussão da fala junto ao setor financeiro não surpreendeu seus analistas, porque tem origem num processo de aproximação que começou há semanas. Setores do mercado que leram as pesquisas da virada do ano, confirmando a liderança isolada do petista e as chances rarefeitas de uma terceira via, começam, pragmaticamente, a trabalhar com a possibilidade de vitória do ex-presidente. Isso vem implicando um esforço para ver o copo meio cheio em relação a Lula e buscar convergências.

No caso da entrevista, elas foram encontradas no discurso aliancista do ex-presidente, que praticamente confirmou Geraldo Alckmin como vice em sua chapa, enquadrou a ala petista contrária à parceria e mostrou que, se vencer, seu governo irá além do PT e da esquerda. A disposição de “conversar com todo mundo”, inclusive com o setor financeiro, foi o suficiente para “encher o copo” do mercado, com repercussão positiva no câmbio e nos negócios.

Não há data para essas conversas. A pauta desses “farialulers”, como estão sendo chamados de brincadeira, é complexa. Terá que ser reduzida a pontos básicos quando for apresentada a Lula — se é que já não foi, informalmente. Um deles passa pela recuperação da imagem externa do país, com a urgência de se criar um ambiente favorável ao retorno de investidores, como os fundos ambientais que fugiram de Bolsonaro. Analistas acham que, se o próximo presidente sinalizar com nomes experientes e respeitados para essa área, a reação positiva será imediata.

Há previsões também de que, eleito o petista, o mercado não vai confrontar sua prioridade aos investimentos públicos para retomada do desenvolvimento e a uma forte injeção de recursos no campo social. Aos olhos desse pessoal, esses gastos são comparativamente pequenos, e devem aumentar. Preocupam-se, sim, em compatibilizar princípios que sustentam a rentabilidade e a remuneração do setor com uma política desenvolvimentista. Vão lembrar a Lula que estão previstos investimentos

privados maciços no setor de infraestrutura — portos, ferrovias, energias renováveis — no próximo governo. Já contratados, podem fazer parte da retomada da economia, organizada e conduzida por quem ganhar a eleição.

Se a conversa avançar, certamente vai aflorar a ansiedade do pessoal do mercado em relação à escolha da futura equipe econômica. Nenhum dos nomes de petistas e antigos auxiliares que vêm circulando nas discussões sobre o programa de governo agrada ao setor — o que não chega ser novidade. Há torcida por um nome novo, técnico ou de político experiente, como, por exemplo, algum ex-governador que tenha fechado direitinho as contas do estado. Como a torcida do mercado financeiro pode ter efeito contrário, alguns acham melhor ficar calados.

As referências do petista à reforma tributária agradaram, bem como o tom contido em relação à rediscussão da reforma trabalhista. Outra grande apreensão dessa turma começou a se dissipar. Lula não falou em reverter a autonomia do Banco Central. Agradou ao dizer que chamará para conversar o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, hoje com mandato, e que “o BC tem que ter compromisso com o Brasil, e não comigo”.

Ao fim e ao cabo, ao falar para blogs de esquerda, o ex-presidente parece ter alcançado, mesmo sem mirar, inusitada sintonia com setores da direita no mercado. Foram tantos os recados considerados tranquilizadores que o serviço Scoop by Mover, um portal de notícias do ramo, chamou Lula de “roteador de sinais”.


terça-feira, 26 de outubro de 2021

O Meteoro e a renovação da política externa - Marcos Magalhães (Capital Político)

 O Meteoro e a renovação da política externa

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Brasil longe da festa da eleição de Biden - Marcos Magalhães (Capital Político)

 Parece que quando o presidente Bolsonaro finalmente reconhecer a vitória (ugh!) de Biden e decidir apresentar seus cumprimentos, isso vai ser considerado totalmente inadequado e irrelevante.

Paulo Roberto de Almeida

 

Longe da festa

Marcos Magalhães

Capital Político, 10/11/2020


A primeira segunda-feira após o anúncio da vitória de Joe Biden amanheceu em festa. O fim da longa espera pelos resultados das eleições nos Estados Unidos e a notícia de que uma das vacinas em fase final de desenvolvimento demonstrou 90% de eficácia contra o coronavírus levaram o otimismo de volta aos mercados.

As bolsas subiram na Europa e na Ásia. No Brasil, o Ibovespa começou a semana em alta de 4%. O dólar, que andava arisco, caiu à menor cotação desde setembro. Tudo isso apesar do estado de negação do ainda presidente Donald Trump. E, no caso dos mercados brasileiros, do silêncio do presidente Jair Bolsonaro.

Durante o final de semana, líderes de várias partes do mundo enviaram mensagens de felicitação ao presidente eleito Joe Biden. A primeira-ministra Angela Merkel disse que os Estados Unidos e a Alemanha, como parte da União Europeia, devem enfrentar juntos “os grandes desafios do nosso tempo”.

De Tóquio, o primeiro-ministro Yoshihide Suga postou no Twitter que espera trabalhar com Biden para fortalecer as relações bilaterais e garantir “paz, liberdade e prosperidade” na região do Indo-Pacífico.

Os vizinhos argentinos também foram rápidos. “Saúdo Joe Biden, o próximo presidente dos Estados Unidos, e Kamala Harris, que será a primeira vice-presidente feminina daquele país”, escreveu o presidente Alberto Fernández em suas redes sociais. 

É bem verdade que o governo chinês optou inicialmente pelo silêncio. “Tomamos conhecimento de que Biden se declarou vencedor nas eleições”, disse o porta-voz Wang Wenbin. “Nosso entendimento é que o resultado da eleição será determinado de acordo com as leis e procedimentos dos Estados Unidos”.

Depois de experimentar um período de grande tensão no relacionamento com Trump, Pequim avalia o que esperar do novo momento político americano. “No curto prazo as relações serão menos tensas”, escreveu no Global Times o vice-diretor do Instituto de Estudos Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Yuan Zheng.

“Mas no longo prazo”, ressalvou o especialista, “os laços bilaterais deverão enfrentar maiores desafios, à medida que Biden ressalta a liderança americana, e ele não poupará esforços para se alinhar aos países aliados para conter a China, o que parece ser mais ameaçador para a China em comparação à administração Trump”.

Silêncio

Se o governo chinês ao menos apresentou uma declaração diplomática a respeito da eleição de Biden, Brasília permaneceu em silêncio. Apenas o vice-presidente Hamilton Mourão previu que, “na hora certa”, Bolsonaro transmitiria os “cumprimentos do Brasil a quem for eleito”.

Segundo Mourão, o presidente estaria apenas aguardando notícias sobre a possibilidade de serem detectados votos falsos nas eleições americanas. Uma precaução que não parece haver sido compartilhada pelos líderes das maiores democracias do mundo, que não só reconheceram os resultados das eleições como já enviaram saudações ao presidente eleito.

Sob o argumento do cuidado com possíveis fraudes eleitorais, Bolsonaro mantém a fidelidade a Trump e se cala. Seu silêncio serve como poderosa mensagem à sua base política, decepcionada com os resultados das urnas. Mas deixa todo um país refém dos sentimentos dos integrantes de seu núcleo duro de seguidores.

Ninguém duvida que o Brasil e os Estados Unidos manterão as suas tradicionais relações. Mas a postura inicial de Brasília em relação ao futuro governo americano pesará na hora de redefinir as bases desse relacionamento, agora sob uma administração democrata.

Prioridades

Na verdade, o governo brasileiro anda muito seletivo ao definir as suas prioridades externas. Até hoje Alberto Fernández espera uma mensagem de congratulações de Bolsonaro por sua eleição para a presidência da Argentina, há um ano. E a Argentina é a principal parceira do Brasil no Mercosul.

Fernández, por sinal, estava na cerimônia de posse no final de semana do novo presidente da Bolívia, Luis Arce. O governo brasileiro não enviou sequer um ministro a La Paz. Foi representado pelo embaixador na Bolívia, Octavio Cortes. Até mesmo o presidente da Colômbia, Iván Duque, politicamente próximo de Bolsonaro, esteve na capital boliviana.

O presidente brasileiro parece mais preocupado com as cores do redesenhado mapa político regional. Ele tem dito que anda atento à expansão do vermelho pela vizinhança.

Entre os motivos de sua apreensão estão as eleições de Fernández e Arce, além da recente decisão dos eleitores chilenos, em plebiscito, de convocar uma assembleia para dar ao país uma nova Constituição, que substitua o texto herdado do ditador Augusto Pinochet – que já foi elogiado publicamente por Bolsonaro.

O ambiente político na Bolívia ainda está longe da estabilidade. Houve manifestações na região opositora de Santa Cruz de la Sierra em defesa de uma auditoria das eleições presidenciais. Três dias antes da posse ocorreu um atentado contra o presidente eleito. Uma bomba de dinamite foi lançada contra o seu escritório de campanha.

Mesmo assim, Arce optou por um discurso de conciliação. “Iniciamos uma nova etapa em nossa História e queremos fazê-lo com um governo que seja para todos e para todas, sem discriminação”, disse o novo presidente da Bolívia.

A 6230 quilômetros dali o presidente Joe Biden também apostou na conciliação em seu primeiro pronunciamento após a divulgação dos resultados que lhe garantiram a vitória. “Precisamos parar de tratar os oponentes como inimigos”, recomendou. “É hora de deixar de lado a retórica inflamada, acalmar os ânimos, ouvirmos uns aos outros”.

Párias

Suas palavras espalharam uma sensação de alívio, que podia ser percebida em artigos, editoriais de grandes jornais e declarações de líderes de várias partes do mundo. Não porque se trate de um presidente mais liberal ou mais conservador, mas porque o presidente eleito indica preferência pelo diálogo e, sempre que possível, pela cooperação internacional.

O meio ambiente é um bom exemplo. Biden promete recolocar os Estados Unidos no Tratado de Paris sobre mudanças climáticas, em sintonia com aquilo que a atual liderança do Itamaraty vê como “globalismo”. E indica que terá atenção especial ao desmatamento da Amazônia, o que colocou o governo brasileiro em estado de prontidão.

Em discurso a jovens diplomatas, duas semanas antes das eleições americanas, o ministro Ernesto Araújo mostrou que não liga muito para os que acusam a sua gestão de ter promovido o isolamento do Brasil – com exceção, é claro, da aproximação com Donald Trump.

“Nos discursos de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas deste ano, os presidentes Bolsonaro e Trump foram praticamente os únicos a falar em liberdade”, disse Araújo. “Sim, o Brasil hoje fala em liberdade através do mundo. Se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”.

Para Araújo, “é bom ser pária”. Ele é visto como um dos integrantes do chamado grupo ideológico do governo, esse mesmo que Bolsonaro procura agradar ao retardar o envio de saudações a Joe Biden por sua internacionalmente reconhecida eleição.

Os “ideológicos” vibravam quando Bolsonaro falava publicamente de seu apoio à reeleição de Trump, integrante da mesma direita radicalizada que aposta no confronto como método político. E aplaudiram o presidente quando ele criticou os eleitores argentinos por suas escolhas.

O Brasil não pode ficar refém dos “ideológicos”. O país levou décadas para moldar a reputação de um parceiro confiável na construção de consensos. Poderá ter de dedicar anos para reconstruir a sua imagem junto à comunidade internacional.

Marcos MagalhãesMarcos Magalhães

Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ magmarcos@outlook.com

 

 

quinta-feira, 6 de junho de 2019

A vez dos negacionistas climáticos em Brasília - Marcos Magalhães

A vez dos negacionistas em Brasília
Marcos Magalhães
Capital Politico, 4/06/2019 

Poucos dias depois das eleições europeias, marcadas entre outros fatos pelo forte avanço dos partidos verdes, começam a ganhar terreno em Brasília as vozes daqueles que contestam as advertências sobre a mudança climática e os seus efeitos sobre a vida no planeta. No papel de cientistas, diplomatas e políticos, eles estiveram em comissões do Senado e da Câmara apresentando gráficos, criticando o que chamam de previsões catastróficas e lançando um olhar de desconfiança em relação ao Hemisfério Norte.

O tema chegou ao Senado por meio de uma audiência pública conjunta das Comissões de Meio Ambiente e de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Logo na abertura da reunião, o senador Márcio Bittar (MDB-AC), primeiro autor do requerimento para a realização da audiência, deu o tom de sua preocupação. Ele disse que tem procurado, “com uma dose de coragem”, estimular o debate sobre o que chamou de o “tema mais polêmico do mundo”. E criticou a “vassalagem” do Brasil, que, a seu ver, tem aceitado “tudo isso” como verdade absoluta, para evitar perdas no comércio internacional.

“Agora nós temos um novo governo, e é importante saber se este novo governo mantém a linha que foi vitoriosa nas eleições passadas, que a meu juízo – e teve o meu apoio – é uma linha de soberania nacional, de não entregar grande parte do patrimônio nacional sob argumentos que são hipóteses que não se confirmaram”, afirmou Bittar.

Coube a ele, por meio de seu requerimento, convidar para a audiência dois cientistas que têm apresentado duras críticas aos integrantes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão criado pelas Nações Unidas para acompanhar o tema: Luiz Carlos Baldicero Molion, da Universidade Federal de Alagoas, e Ricardo Augusto Felício, da Universidade de São Paulo. A exemplo dos negacionistas norte-americanos, que têm levado suas dúvidas a Washington, os dois professores inauguraram, em Brasília, a prática de contestação no Poder Legislativo da participação humana na mudança climática.

Segundo Molion (foto de sua exposição na audiência pública), o clima varia por causas naturais, e os eventos extremos – como tempestades e inundações – sempre aconteceram e vão continuar a acontecer. Então, a seu ver, é preciso haver mais planejamento e adaptação, porque a população mundial está aumentando. Para o professor, as emissões de gás carbônico, que devem ser controlada em todo o mundo segundo o Acordo de Paris, não podem ser responsabilizadas pelo aquecimento global.

“O CO2 não controla o clima global”, disse Molion durante a audiência conjunta no Senado. “Ele não é um gás vilão; ele é o gás da vida. Este planeta já teve 7.000 ppm de CO2. Hoje, só tem 400 ppm. A maioria das plantas deixa de funcionar com a concentração em torno de 200 ppm. Nós só estamos com 400 ppm. Se baixarem a concentração de CO2, nós não vamos ter mais plantas”, advertiu.

Em resposta ao senador Fabiano Contarato (Rede-ES), que lhe perguntou se não haveria então nenhum problema em desmatar a Amazônia, Molion foi direto. Sob o ponto de vista do clima, argumentou, “a Amazônia não faz sentido nenhum”, porque ela seria neutra. A preservação da floresta, a seu ver, só faz sentido com os objetivos de preservar a biodiversidade e evitar a erosão e o assoreamento dos rios. “Nesse caso, a mata é importante”, avaliou. “É claro que o homem interfere no microclima, mas no clima regional não interfere, e no clima global, muito menos”, concluiu.

Felício aprofundou a crítica ao IPCC e acrescentou uma pitada geopolítica. Com um broche da bandeira do Brasil na lapela, ele questionou os modelos gerados pelos cientistas do painel das Nações Unidas. Alguns desses modelos, quando rodados, observou “fazem o planeta virar uma bola de neve”, enquanto outros “fazem o planeta virar uma estufa gigantesca”. Para o professor, as advertências do IPCC servem de “legitimação geopolítica” para intervenção em decisões que devem ser tomadas pelos próprios países. Tudo faria parte, a seu ver, de uma ação de “agentes internos e externos sobre a nossa soberania”.

O convite aos dois pesquisadores pode ser compreendido como parte de uma batalha de comunicação, movida principalmente por parlamentares ligados ao agronegócio. Importadores de vários países, especialmente europeus, têm sofrido pressão para evitar a compra de soja brasileira produzida em regiões onde pode ter havido desmatamento, especialmente na Amazônia. O desmatamento dessas áreas, segundo o argumento frequentemente lembrado, contribui para o aquecimento global, que, de acordo com os negacionistas, não está ligado à atividade humana. Ambientalistas europeus acompanham cada vez mais de perto essa questão e poderão ser seguidos, nos próximos anos, por ativistas de outros países importadores.

Esse movimento tem preocupado as bancadas ligadas ao agronegócio. Para elaborar uma posição, esses parlamentares foram buscar respostas não apenas no meio acadêmico, mas no próprio governo. O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, esteve na Comissão de Agricultura da Câmara apenas um dia depois da primeira audiência no Senado relativa à questão climática. Ele considerou prioritário o investimento na mudança da imagem da agricultura brasileira, prejudicada, a seu ver, pela divulgação de “informações equivocadas” nos países importadores. Sem mencionar diretamente a acusação de que o agronegócio brasileiro teria influência sobre o aquecimento global, ele fez a defesa da produção nacional.

“O Brasil se tornou um dos atores mais importantes na agricultura mundial e, até por isso, começou a enfrentar barreiras à entrada de seus produtos em outros mercados”, disse Araújo aos deputados. “Em muitos casos a imagem do agronegócio brasileiro é criticada para minar a competitividade de nossos produtos, mas é preciso lembrar que apenas 30% de nosso território são usados para produzir alimentos e 60% se mantêm com vegetação nativa”, enumerou.


Os competidores internacionais do Brasil no mercado de alimentos podem mesmo, como observou o ministro, valer-se do argumento do aquecimento global para enfrentar com maior sucesso a concorrência brasileira. Também podem ser comprovados os números apresentados por Araújo sobre a extensão da área protegida no Brasil. Esses argumentos estão bem encaminhados quando se trata da produção de alimentos longe de áreas desmatadas. Mas podem ser questionados nos casos onde os produtos exportados são provenientes de áreas antes cobertas pelas florestas. E a contestação patrocinada por parlamentares ligados ao agronegócio de informações científicas aceitas internacionalmente a respeito da mudança climática não parece ajudar a agricultura brasileira. Ao contrário, ela pode provocar desconfianças em relação aos motivos dessa iniciativa.