Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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segunda-feira, 25 de março de 2019
Da velha Guerra Fria geopolítica à nova Guerra Fria Econômica - Paulo Roberto de Almeida
Embora sequer aberta ou declarada naquela ocasião, eu já dizia que se podia declarar a China como vencedora potencial da nova contenda geoeconômica, simplesmente porque ela possuía a estratégia adequada para esse tipo de embate. Creio que esse cenário está em pleno desenvolvimento nos dias que correm.
Cabe reconhecer que o governo Trump vem facilitando enormemente esse desenlace fatal, na medida em que o presidente mercantilista e protecionista colabora na aceleração desse processo, ao retirar os EUA da globalização e ao deixar os chineses livres para implementar de forma praticamente desimpedida seu intento globalizador — agora traduzido na estratégia “Belt and Road Initiative” —, desta vez com parceiros do próprio G7, como a Itália, ademais de outros sócios menores do império americano, como a Nova Zelândia, por exemplo, que também se prepara para aderir.
A nova Guerra Fria Econômica refaz a história mundial de antes da época dos descobrimentos ultramarinos, ao levar, desta vez, produtos e serviços chineses ao coração da Eurásia e ao seu promontório ocidental, em lugar de serem os antigos mercadores ao estilo de Marco Polo a penetrar nos poeirentos caminhos da velha Rota da Seda até o império então dominado pelos sucessores de Gengis Khan.
Sinto-me gratificado por ter antecipado em dez anos uma evolução que já então me parecia inevitável. Vou buscar e postar novamente neste espaço aquele meu ensaio antecipatório.
E o que faz o atual chanceler brasileiro em face desse cenário? Ao que se tem notícia, ainda recentemente ele estava criticando uma inexistente “China maoísta”, uma fantasmagoria desfeita quatro décadas atrás. Numa aula "mínima" dada aos estudantes do Instituto Rio Branco até confirmou, ridiculamente, que nós, brasileiros, podíamos vender nossos produtos primários à China, mas que "não iríamos vender a nossa alma".
O próprio presidente desmentiu-o imediatamente, ao anunciar que iria visitar a China ainda este ano, antecipando os grandes negócios que o Brasil poderia fazer com o gigante asiático.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25/03/2019
Ver o artigo de João Paulo Charleaux, "Como a China busca reeditar a antiga Rota da Seda", no jornal digital Nexo (23/03/2019), para o qual contou com a colaboração de Oliver Stuenkel, professor na FGV-SP e grande especialista do "mundo pós-ocidental" – título de um de seus livros –, explicando como a China administra esse grande projeto, "no qual a China aparece como principal potência do mundo, dona de um passado glorioso":
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/03/23/Como-a-China-busca-reeditar-a-antiga-Rota-da-Seda?utm_source=socialbttns&utm_medium=article_share&utm_campaign=self&fbclid=IwAR2FFJfVv_tSPpCGZAWeiV46Rc77TGZmSIid5O5PkSPa1e6vvCL2XbxZQKc
De fato, como explica Stuenkel, trata-se de um passo "muito importante", uma vez que a Itália é o primeiro "país do G7 a aderir [ao projeto], o que dá uma legitimidade a mais. Mostra que isso não é um projeto só para países pobres e desesperados por recursos."
sábado, 16 de março de 2019
China: como eliminar a pobreza no espaco de uma geracao? - Alvin Powell (Harvard Gazette)
Mas, o sucesso econômico da China, mesmo que não possa ser replicado em outros países, merece, sim, ser estudado, pois outros países de base agrária atrasada podem aprender com a liberação econômica gradual sobre os mercados e as atividades econômicas de modo geral, o que pode ser visto a partir da tolerância demonstrada por Deng Xiaoping em relação à reapropriação das terras anteriormente pertencentes às comunas populares pelas famílias camponesas. O restabelecimento dos mercados com produtos privados e a aceitação dos investimentos diretos estrangeiros fizeram o resto, e aí o crescimento econômico passou a ser conduzido mais pelos capitalistas privados do que pelos burocratas e mandarins do Estado.
Ninguém pode replicar o caminho da China para o desenvolvimento, mas medidas adotadas de abertura econômica e de liberalização comercial podem, sim, ser repetidas por outros países.
Paulo Roberto de Almeida
Harvard's many research ties to that nation reflect broad engagement, as President Bacow visits
NATIONAL & WORLD AFFAIRS
Looking to China for lessons on helping the poor
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sábado, 9 de março de 2019
Os jesuitas na corte imperial chinesa (XVI-XVIII) - Carmen Lícia Palazzo
Paulo Roberto de Almeida
É da junção destas duas componentes, a mais prática e oral e a mais erudita de aprendizagem de língua também escrita, que nasce o facto de a cidade portuária ser o primeiro lugar por excelência de cruzamento de chinês e do japonês com o latim, português, castelhano, italiano (Barreto, 2006, p.314).
Na Europa, recrudesciam também as críticas aos métodos inacianos de aculturação o que, ao menos parcialmente, influenciaria na dissolução da Ordem. De parte dos jesuítas, já não havia mais uma personalidade forte, batalhadora por suas idéias e prestigiada em Roma, como Alessandro Valignano no século XVI, que pudesse defender a originalidade de seus métodos de aproximação com as populações locais, visando abrir caminho para a catequese.
KIRCHER, A. China Monumentis, Qua Sacris, quà Profanis, nec non variis Naturae & Artis Spectaculis, Aliarumque rerum memorabilium Argumentis Illustrata. Amsterdam: Janssonius van Waesberge & Elizer Weyerstraten, 1667.
RICCI, M. Della entrata della Compagnia di Giesù e Christianità nella Cina. Macerata: Quodlibet, 2010 (Editado por Piero Corradini a partir do manuscrito do Arquivo Romano da Companhia de Jesus, em: Jap.-Sin., 106a.).
VALIGNANO, A. Apología de la Compañia de Jesús de Japón y China/ Apología en la cual se responde a diversas calumnias que se escribieron contra los padres de la Compañia de Jesús de Japón y de la China (1598). Osaka: Eikodo, 1998.
ALVES, J.M.S. Um porto entre dois impérios. Macau: Imprensa Oficial de Macau, 1999.
BARRETO, L. F. Macau: Poder e Saber: séculos XVI e XVII. Lisboa: Editorial Presença, 2006.
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KILANI, M. L’invention de l’autre. Lausanne: Éditions Payot Lausanne, 1994.
LAVEN, M. Mission to China. Londres: Faber & Faber, 2011.
PALAZZO, C. L. Relatos ocidentais sobre os khanatos mongóis: Pian di carpine e Rubruck. Revista Signum, 2011, v., n. 2, 2011, p. 124-138.
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ZHANG, X. Following the steps of Matteo Ricci to China. Beijing: China Intercontinental Press, 2009.
ZHU, J. Missionary in Confucian Garb (edição bilíngue inglês/mandarim). Beijing: China Intercontinental Press, 2010.