O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Christine Lagarde. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Christine Lagarde. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Brasil: uma forca perturbadora no FMI, segundo a Diretora-Gerente; e como...

Claro, ela estava brincando, e referindo-se à Copa do Mundo, mas é verdade que o Brasil sempre teve relações tempestuosas com o Fundo, e desde outros Carnavais: começamos com um acordo, em 1958, que foi denunciado demagogicamente pelo presidente Juscelino Kubitschek, "apenas" porque ele queria construir Brasília sem orçamento, à margem do orçamento, contra o orçamento. O FMI só queria que o Brasil colocasse suas contas em ordem, mas a consequência foi o início da inflação no Brasil, que resultou em 1964, e depois na voragem dos anos 1980 e início dos anos 1990. Parece que, agora mesmo, os companheiros, que já chamaram a diretora-gerente do FMI de "presidenta" do FMI, e que também denunciaram, demagogicamente um acordo com o Fundo (o de 2002, renovado em 2003, e que poderia ir até 2007, mas interrompido por eles em 2005, a um grande custo para o Brasil), estão provocando mais inflação, para desgosto de todos nós que já sofremos bastante sob os ciclos inflacionários anteriores.
Enfim, hoje mesmo acabo de terminar um artigo sobre as relações entre o Brasil e o FMI, nestes 70 anos de história desde Bretton Woods. Aliás, começo antes, como revelado neste resumo do artigo que transcrevo abaixo, mais o sumário do artigo. Mais adiante, darei conhecimento da íntegra.
O Brasil e o FMI desde Bretton Woods: 70 anos de História”.

Resumo: Ensaio sobre a inserção do Brasil no sistema monetário internacional, desde antes de Bretton Woods: uma conferência interamericana no Rio de Janeiro, em 1942, já previa o estabelecimento de um Fundo Internacional de Estabilização. O ensaio retraça o itinerário do FMI, com destaque para a mudança de padrão cambial em 1971, e segue as relações entre o Brasil e a instituição, com ênfase nos acordos contraídos sob diferentes políticas econômicas e em momentos diversos de crises nas transações externas; o primeiro acordo foi rompido por razões políticas em 1958, e o mais recente, de 2003, foi suspenso em 2005, antes de sua conclusão, também por motivos políticos. São destacados os problemas enfrentados pelo FMI no período – estabilidade cambial, liquidez, monitoramento das economias nacionais – e as circunstâncias que levaram o Brasil a contrair seus muitos acordos com a instituição; uma tabela final lista todos esses acordos e os valores envolvidos.
Sumário:
1. O FMI começou no Brasil, dois anos antes de Bretton Woods
2. Os Direitos Especiais de Saque também começaram no Brasil
3. Os desequilíbrios se acumulam e Nixon corta o Nó Górdio de Bretton Woods
4. Os choques do petróleo e a crise da dívida latino-americana dos anos 1980
5. Encontros e desencontros entre o Brasil e o FMI nas duas décadas perdidas
6. As crises asiáticas e a moratória russa: o Brasil volta ao FMI
7. A crise argentina e cenário eleitoral de 2002: as novas fases do drama
8. A esquerda anti-FMI e o fim dos acordos formais

Anexo: Brasil: acordos formais estabelecidos com o FMI, 1958-2010
Até lá
Paulo Roberto de Almeida

Brasil não está fazendo reformas estruturais, diz diretora do FMI

O Globo, 30/07/2014


Às vésperas do recesso de verão do Fundo Monetário Internacional (FMI), a diretora-gerente Christine Lagarde reuniu-se na manhã desta terça-feira com um grupo de jornalistas, na sede do organismo multilateral, para discutir as perspectivas da economia mundial. Ao falar do Brasil, brincou que o país foi “uma força perturbadora” dos trabalhos do organismo por um mês, devido à Copa do Mundo, durante a qual funcionários, diretores e ela própria pararam constantemente para acompanhar os jogos. Mas também falou sério. Questionada se, diante de 15 meses de prognósticos ruins e repetição das mesmas recomendações, o governo brasileiro estava falhando na adoção de políticas para corrigir fragilidades, diplomaticamente concordou:
— Temos reiterado as mesmas fortes recomendações para que reformas estruturais sejam feitas, gargalos sejam reduzidos na economia e que o potencial, a capacidade de o Brasil entregar crescimento seja liberada. E isso não vem sendo feito — afirmou a diretora-gerente, que colocou o Brasil ainda em estado de atenção em relação à expansão do déficit em conta corrente (que fechou em 3,6% do PIB, ou 2,9% justados, em 2013, para um patamar que o Fundo considera ideal entre 1% e 2,5%).
Lagarde reforçou a mensagem de que o mundo passa por um período de retomada desigual do crescimento, com tração nos motores dos países ricos e desaceleração sincronizada e sistemática das nações emergentes. Alertou para os riscos associados à normalização das políticas monetárias dos EUA e do Reino Unido, que pode provocar turbulências e desarrumar ainda mais a casa dos países em desenvolvimento.
O receituário para vencer os obstáculos, disse Lagarde, é inequívoco: reformas estruturais, conserto dos problemas macroeconômicos (inflação alta, déficits em contas externas, desequilíbrios fiscais) e muita coordenação entre autoridades.
Ela acredita ainda que a criação de mecanismos como o Arranjo de Contingência de Reservas (ACR) das nações que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não afronta o FMI, e sim convoca parceria entre os diversos agentes, refletindo um mundo multipolar mas interdependente. A diretora-gerente considera ainda que a falha do Congresso dos EUA em ratificar a reforma de governança do Fundo, que dará mais poder aos emergentes, não afeta a eficiência da instituição nem lhe retira credibilidade.
Sobre a iminência de default da Argentina, nesta quarta-feira, Lagarde afirma que os efeitos serão circunscritos ao país sul-americano, do ponto de vista de turbulências. Mas o episódio acentuará a necessidade de reavaliação dos processos de reestruturação de dívida, da eficiência da ação coletiva, “(d)a escolha de leis e outros critérios legais tipicamente encontrados nesses casos”. O próximo trabalho do FMI sobre o tópico será apresentado à diretoria-executiva do órgão entre o fim de setembro e o início de outubro, pouco antes da Reunião Anual da instituição e do Banco Mundial, em Washington.
Abaixo, alguns trechos da entrevista.
CONDIÇÕES GLOBAIS
“Estamos passando por uma recuperação desigual do crescimento global. O que estamos identificando é risco associado com a normalização das políticas monetárias dos países ricos, começando com EUA e Reino Unido. O Fed (Federal Reserve, BC americano) e o Banco da Inglaterra estão agora considerando o fim dos estímulos e a elevação dos juros. Banco Central Europeu e Banco do Japão provavelmente continuarão mais um tempo com a política acomodativa. Haverá consequências. Se a comunicação for bem calibrada e feita, acreditamos que os efeitos colaterais serão administráveis. Mas claramente temos em mente o que aconteceu em maio do ano passado e como apenas a comunicação da intenção afetou os mercados emergentes”.
Emergentes
“Também temos uma desaceleração mais sincronizada dos emergentes. Eu colocaria a China de lado, pois medidas tomadas vão segurar o crescimento de 7,5%. Mas demais emergentes, sim. Isso terá ‘consequências para a vizinhança’, no sentido de que os países que comercializam ou se beneficiam de investimentos dessas nações emergentes vão arcar com os efeitos desta desaceleração sincronizada. Se levarmos esses dois elementos em consideração (desaceleração e normalização monetária dos ricos), claramente haverá impacto na tentativa das autoridades tomarem medidas e realçar a fragilidade do crescimento”.
Setor externo e ações

“(Antes), era mais uma questão do superávit da China versus o déficit dos EUA no debate. O que vemos agora é menos desequilíbrio, mas esta questão está mais espalhada. Do lado superavitário, claramente vemos dois líderes, China e Alemanha. Do lado do déficit, temos os suspeitos de sempre, os EUA e alguns dos países europeus, mas também países como Turquia, África do Sul e Brasil. Está espalhando-se esse lado do déficit. Então, acreditamos que o caminho de políticas é manter a casa em ordem, cada um com suas particularidades no caso dos emergentes. O que é comum a todos é fazer reformas estruturais de diversas categorias. E nos frontes monetário e fiscal, cada um também tem políticas para adotar. A segunda recomendação é: falem uns com os outros. E a terceira é cooperem o quanto puderem. Parece incongruente recomendar cooperação em tempos em que você não vê muita cooperação, mas, economicamente, isso é o mais desejável, mais comunicação, mais cooperação, particularmente os banqueiros centrais, quando forem mudar o curso de política”.
Copa do Mundo

“O Brasil foi uma força perturbadora do trabalho do FMI recentemente, porque a Copa do Mundo mobilizou todo mundo nesta instituição, todos grudados na tela de TV por um mês e muitos jogos. Afetou todos os níveis da instituição, dos diretores-executivos ao staff, incluindo a diretora-gerente, embora eu não tenha assistido todos os jogos, mas vi alguns”.
Brasil

“É verdade que temos revisado para baixo nossas projeções para o Brasil e é verdade que todos temos reiterado as mesmas fortes recomendações para que reformas estruturais sejam feitas, gargalos sejam reduzidos na economia e que o potencial, a capacidade de o Brasil entregar crescimento seja liberada. E isso não vem sendo feito”.
Argentina
“Estamos obviamente monitorando a situação. A Argentina está fora dos mercados financeiros e de qualquer círculo financeiro há muito tempo e, embora defaults sejam sempre lamentáveis, nós não temos a visão de que teria grandes consequências significativas além daquela situação geográfica particular (…) (há) a questão significativa dos princípios da reestruturação de dívidas e qual seria o resultado das decisões legais que estão sendo tomadas em NY no momento, que têm significado mais amplo. Os princípios da reestruturação de dívidas e a eficiência da ação coletiva precisarão ser reavaliadas, junto com escolhas de leis e outros critérios legais tipicamente encontrados nesses casos. É neste ponto em que estamos trabalhando e continuaremos nos próximos meses”.

Reforma de governança e credibilidade o FMI

“Sobre (a redistribuição das) cotas, não acho que afete a eficiência do Fundo, a efetividade da diretoria. Quando olho para os nossos programas, linhas de crédito em vigor, a estabilidade que tentamos entregar por intermédio da nossa assistência técnica, da supervisão bilateral que oferecemos baseada em 70 anos de expertise em campo, não acho que a falha de alguns membros em aprovar a reforma de governança é um impedimento às nossas operações. Isso está corroendo a credibilidade da instituição. Alimenta algumas pesquisas acadêmicas e alguns editoriais de observadores, mas na minha vida cotidiana, nas nossas operações com o staff e os membros da diretoria, e, mais importante, nas minhas tratativas com as autoridades dos países, incluindo com as dos países do Brics, isso não afeta o Fundo e não corrói nossas ações”.

Iniciativas financeiras dos Brics

“O Arranjo de Contingência de Reservas (ACR) criado pelo Brics vem sendo construído nos últimos três ou quatro anos. Então, acho que é bastante independente da falha dos EUA em ratificarem a reforma (de governança). É atribuída uma ligação pelos observadores, mas o Brics já vinha falando disso há algum tempo, eles decidiram em um encontro deles, há alguns anos, os princípios (do ACR). Há uma cooperação intrínseca entre o ACR e o FMI. Dos US$ 100 bilhões que o Brics reservaram, cada membro pode sacar do que aportou até 30%. Para mais, tem que ter um programa em curso com o FMI. Quando se olha para a relação do FMI com essas novas agências, os acordos, é muito similiar ao Chiang Mai (mecanismo de contingência e reserva) criado pelos países asiáticos, que tem o FMI do outro lado. Não digo que foi um ‘corte e cola’. O Brics não é uma região, Brics é um agrupamento com interesses comuns. Embora, por interesses comuns, eu digo a mim mesma ‘eles não são a mesma coisa de forma alguma’…”.
Papel do FMI
“Estamos celebrando os 70 anos das instituições de Bretton Woods e há muita nostalgia expressa sobre os objetivos dos ‘fundadores’. O mundo mudou ao redor do FMI e o próprio Fundo mudou imensamente. E continuará a mudar. Esta é uma das belezas desta instituição, ela se ajusta, é flexível, mudamos os instrumentos e os programas ao longo do tempo, mudamos a supervisão, ampliamos massivamente a assistência técnica. E continuaremos a fazê-lo. Todo o mundo está mudando continuamente. O equilíbrio de poder está mudando, há confrontos e há poderes econômicos emergindo, se consolidando e cooperando, há efeitos sobre os vizinhos, que valerá a pena continuar explorando. O fato é que a rede de proteção que os coreanos particularmente demandaram no encontro do G-20 vem sendo construída, em torno do arranjo do Chiang Mai, do mecanismo europeu de estabilidade, do ACR, dos instrumentos de swap entre vários bancos centrais. Isso reflete o fato de que o mundo é vastamente global e interdependente e precisa, provavelmente, de diferentes camadas nesta rede de proteção. Mas não vejo nada que seja inconsistente com a missão do FMI, que acho que é coordenação, cooperação entre os pilares das redes de proteção internacionais – das quais o FMI é a peça central”.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Gustavo Franco, disfarcado de Mme Lagarde, humilha Guido Mantega: impagavel...

A resposta de Madame Lagarde


O Estado de S.Paulo, 04 de agosto de 2013

GUSTAVO H.B. FRANCO
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, dirigiu uma carta à diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em julho de 2013, solicitando uma revisão metodológica no cálculo da Dívida Bruta do Brasil. O organismo trabalha com um valor correspondente a 68% do PIB e as autoridades brasileiras reconhecem apenas 58,7%. Logo abaixo, num exercício inteiramente ficcional, imagina-se o teor de uma carta resposta, de caráter pessoal e confidencial.
"Washington, 2 de agosto de 2013
Mon cher Guido,
Demos boas gargalhadas com a sua mui amável carta trazendo o seu pedido para mudarmos a metodologia de apuração da Dívida Bruta brasileira, que, de qualquer jeito, se me permite a piada insolente, continua sendo uma bruta dívida por qualquer critério que possamos escolher. Esteja certo que vamos trabalhar o assunto da maneira mais conveniente para todos, pois, como você bem sabe, não há outra instituição multilateral neste mundo de Deus que melhor compreenda a necessidade de as autoridades jogarem para a torcida. Ademais, em condições normais, as queixas e os pedidos que aparecem são sempre malcriados, pois, como sabemos, somos uma organização que todos adoram detestar, aí incluídos os representantes que mandam para cá.
Sei bem que o amigo anda enfrentando críticas centradas nos dribles contábeis que vocês inventaram para enfeitar os números fiscais. Aqui nesta casa, como você já terá observado muitas vezes, todos somos admiradores do futebol arte, e nesse quesito vocês são os indisputáveis campeões mundiais, os artistas que todos querem ver em ação.
Pena que nos últimos anos, desde a Copa de 1994, tenha havido certa "germanização" dos assuntos fiscais e monetários contrariando a vocação brasileira para a criatividade. Nossos analistas apaixonados pelo futebol brasileiro vinham se deslocando para a cobertura dos jogos de Espanha, Itália, Portugal e Grécia, a fim de melhor exercitar o fascínio pela inovação. Felizmente, todavia, graças ao trabalho de vocês, esse longo inverno chegou ao fim. Desde os tempos do ministro Delfim, e daquelas inesquecíveis cartas de pura embromação, nós não víamos nada tão interessante. Dê os meus parabéns ao moço do Tesouro, ele tem um futuro brilhante pela frente, talvez em Wall Street. Só posso imaginar o que será capaz de fazer quando aprender sobre derivativos.
Deve ter sido ele o autor da minha passagem favorita de sua carta, quando você diz que os títulos do Tesouro na carteira do Banco Central "não têm natureza fiscal". Que achado! Dívida de natureza não fiscal seria como dinheiro de caráter não monetário. Ninguém do "staff" tinha ouvido nada parecido, e seguramente a novidade vai causar sensação na França, posso lhe garantir. Jean Baudrillard, caso estivesse vivo, escreveria certamente sobre isso, nada pode ser mais pós-moderno e consistente com sua semiótica do simulacro.
Veja, Guido, eu sou advogada, não sei nada sobre números e, por isso, talvez não seja mesmo capaz de apreciar como deveria o trabalho de vocês. Mas de contabilidade eu entendo uma coisa ou outra, pois bastam as quatro operações e saber que a obrigação de um é a riqueza de outro. Com esse pouquinho de conhecimento, consegui capturar a malícia utilizada em seu texto quando você afirma que os títulos do Tesouro que não estão "em poder do público" não devem estar na estatística de "dívida bruta". Está tudo dentro de casa, não é mesmo? O "staff" diz que é um tolo argumento de senso comum, como costumam ser as grandes falácias em economia, o que, para mim, soa como uma espécie de elogio a seu texto.
É claro que eles dizem um monte de outras coisas horríveis de vocês, esses caras são pagos para achar defeito nas coisas. A maior parte dessas mesquinharias é muito difícil para uma advogada, mas o pedaço que eu entendi, eu não consigo contestar e, por isso, preciso que você me ajude. Eles dizem que topam excluir da estatística da dívida bruta qualquer coisa que você, Guido, possa cancelar sem que isso traga qualquer implicação patrimonial para ninguém, como títulos em tesouraria. Mas esse não é bem o seu caso, certo? Se você cancelar esses títulos que você quer tirar da conta, você vai quebrar o Banco Central, não? Afinal, são cerca de R$ 400 bilhões em títulos a cancelar no ativo e o patrimônio do BCB é de R$ 21,5 bilhões. Muito feio, não?
Mas quem se importa com o que diz o "staff". De minha parte, fico curiosa sobre o assunto, como dizem os advogados, "por amor ao debate". Importante mesmo é o que vai se passar diante dos olhos do distinto público, a saber: vou lhe escrever uma carta com felicitações pelos progressos alcançados no terreno fiscal, com uma reserva ou outra para não ficar adulatório, e vou acrescentar que, mesmo reconhecendo os méritos (vou precisar muito cuidado com a linguagem aqui) de seu pedido, não podemos mudar nada de natureza metodológica que não seja aplicável para todo o mundo, inclusive para aqueles alemães insuportáveis. Você sabe como é difícil conversar desses assuntos com esse povo. J'adore quando você implica com eles e com os americanos! Nisso você me faz lembrar o finado Jacques Rueff, ele não era do seu tempo e foi uma lenda na França. É invenção dele a expressão "privilégio exorbitante", para provocar os americanos (e que virou título de um livro recente do Barry Eichengreen, que trabalhou aqui conosco), mais ou menos como você fez com a sua já consagrada "guerra cambial".
Em ambos os casos, nós bem sabemos que se trata apenas de uma tola frase de efeito para consumo da imprensa não especializada e dos círculos alternativos, e Rueff não tinha nada que ver com você: era um liberal de corte austríaco, seguidor de Von Mises, apóstolo do padrão ouro e membro da Academia Francesa, onde ocupou a cadeira de Jean Cocteau. Por isso, talvez o marechal De Gaulle o chamasse de "meu poeta das finanças".
Seu texto não tem lá muita poesia, mas eu entendi bem o seu propósito. Eu escrevo a minha carta, você continua a fazer a conta do jeito que você achar mais conveniente, e a vida segue, cada um no seu quadrado.
Transmita meus cumprimentos à sua equipe, aos quais se junta o nosso querido DSK que apenas alerta para os riscos do excesso de maquiagem.
Um último ponto, já ia me esquecendo: obrigada pela sua rápida intervenção no affaire do pacote grego. Era só o que faltava, não é? Nunca sentimos tantas saudades do finado Alexandre Kafka, um homem gentil e sensato. Sei que vocês querem esse rapaz longe daí, mas você não acha que já sofremos o suficiente?
Cordialmente,
Christine."

sábado, 18 de maio de 2013

En Garde, Lagarde: a conversation with IMF's head (WSJ)


En Garde!



The Wall Street Journal, May 18, 2013
[image]Photography by Platon
Christine Lagarde
IT IS NO EASY JOB, being the grand negotiator at almost every financial crisis in the world in these troubled times. But as head of the International Monetary Fund, or IMF,Christine Lagarde has played a role in dealing with everything from the Cyprus bank scare to Chinese exchange rates.
A lawyer by training, she came to the post after a six-year stint in the French cabinet. She is described as warm, informal—and highly disciplined. She was, after all, a member of the French national synchronized swim team in her youth, and still hits the gym almost every day.

WSJ.Money Summer 2013

[image]
WSJ.Money: A magazine about the world of wealth and the pleasures and pitfalls of managing your money. Coming out this Saturday inside The Wall Street Journal.
Rumors persist that Lagarde may someday return to France and run for president. But these days, her focus is on repairing battered markets and an ailing global economy, a task that requires diplomacy and stamina. She recently sat down in her Washington, D.C., office with David Wessel, the Journal's economics editor, to talk about the state of the world. Her edited remarks follow:
Q: We've come through a devastating financial crisis. Are we out of this?
A: We avoided a collapse in 2012. We have to guard against a relapse, and we certainly do not have the luxury of relaxing. I think 2013 is going to be a critical year.
Q: In what sense?
A: A lot of the advanced economies' leaders, thinkers, decision-makers are tired with crisis management. They want out of it. In a way, that's good; but there is still work to be done. About 80 percent of the decisions have been made, for instance, in the strengthening of the European Union—a lot of the financial sector is better governed, better capitalized, better supervised. But if you don't do 100 percent of it, you're at risk again.
Q: There seems to be an unfortunate but understandable tension, particularly in Europe. When things start to get a little better complacency sets in. It's almost as if we need another crisis in order to get things moving again.
A: I don't think it's Europe specific. I think it's also true in other economies, including in the U.S. The fiscal cliff is dealt with, and yet there is more to be done. The moment yesterday's crisis is dealt with, you want to forget about tomorrow's issues. The central banks have been very helpful in that respect. They've accommodated a degree of slow-paced reforms and gradual fiscal consolidation.
Q: Have we done enough to renovate the financial system so we don't have another crisis, or is there still more work to do? Are we safe from the banks yet?
A: No, not yet. It's my 80/20 rule: I think 80 percent of the job has been done—liquidity ratios, identifying the systemically important international financial institutions—but if you turn to the over-the-counter derivative markets, for instance, it hasn't been done. It's still very obscure and not transparent at all. Plenty of work has been done, but international cooperation is going to be critically important, because otherwise you'll have people having done what they think is their job in their respective corner but it will not be consistent with what others will have done. Bankers, traders, financiers are very smart and astute people; they will find out what is the right channel to optimize the system—which is fine, as long as risks are taken care of and as long as, at the end of the day, it's not the taxpayer who picks up the bill.
There's another issue, which is much on my mind: the rapid growth and development of emerging-market economies. For the moment, they have been quite sheltered because they are not financially sophisticated. It sounds a little patronizing to say that, but when you look at the development of their financial sector, the size of their financial sector relative to total [GDP], it is not that mature. It will develop, it will increase, it will be more interconnected and, as a result, there will be crises arising. The last crisis was in the advanced economies, but there will be one in emerging markets as well.
Q: Do you think democracy is up to the challenges we face?
A: In the short run, it's a hurdle. You need to comply with the parliamentary rules, you need to communicate and you need to be transparent, which are the attributes of democracy. But in the long run, it's a win-win because if there is ownership, there is appreciation of what each and every one in the system has to do.
The last financial crisis was in the advanced economies, but there will be one in the emerging markets as well.
Q: Asia is about 60 percent of the world's population, and it will be about two-thirds by 2025. It's obviously a growing share of the world economy. What challenges do you see in that?
A: One of the key challenges will be aging. Whichever corner you look at, with a few exceptions, you have rapidly aging populations, and that will have consequences in terms of consumption patterns, saving patterns, productivity and general development—which these populations, governments and international institutions, including the IMF, will have to be cautious about. That will be the case for Japan and China. India is going to be a different story. But you take Japan and China, and you have the second- and third-largest economies of the world.
Q: And it comes at the same time as we have similar trends in the U.S. and Europe. So what's the problem? What are the tensions?
A: I think we need to be very open-minded about this, because typically the norm would be for aging people to actually save less. This is not what we are seeing in Japan. What we'll see in China will be interesting—a country where pension schemes, health benefits and welfare systems are certainly not as developed as they are in the advanced economies. How will people behave? How will they save? How will they consume? Will they rely on the next generation?
Q: Look at the other side of the coin: the youth bulge in the Middle East and Africa. What about that?
A: Big challenges. This youth bulge is located in countries that have a pretty high growth level, much higher than in many other places in the world. Starting from such a low base, the per-capita growth of those countries will very likely progress, and that will cause frustration, backlash, possibly social unrest, certainly population migrations. And again, from an economy point of view, things have to be thought through in advance. These big trends will not materialize in the next two or three years. You're talking not just 10 to 20 years, you're talking 10 to 50 years. But they should be anticipated now.
[image]
Q: What kind of things do you think we should be doing to get ready for that? Is it a question of research, taxes, fiscal policy or immigration policy?
A: All of it.
Q: When you talk to leaders of governments, do they talk about these long-term demographic things?
A: They're more focused on the short term because that's where they have to make decisions, that's where their own personal future lies. And you tend to stand where you sit.
Q: How big an economic risk do you think climate change is?
A: It's a massive risk and it's a huge opportunity, and for the moment we are ignoring both risk and opportunities associated with it. At the IMF, we look at it from a narrow lens—energy-subsidy reform, the price of carbon, a market for carbon. You know about half a trillion dollars is actually spent directly on subsidies for fuel, gas and electricity. To engage governments to change that and to make sure they can encourage better spending—not encourage massive consumption of fossil energy—it's very difficult. Yet it's a risk and an opportunity. The risk is excessive consumption. The opportunities are huge, with the spending that is saved reoriented toward infrastructure, education, health, you name it.
Q: What are the risks of not addressing climate change?
A: Our kids will be grilled, fried, toasted and roasted.
Q: You have said economists and policy makers have unwisely downplayed inequality. Why does that concern you?
A: Point No. 1: What we see from just looking at the numbers is a massive unequal distribution of wealth around the world—and not just in advanced economies, pretty much everywhere. Point No. 2: We now have research that demonstrates more equal distribution of wealth is conducive to more sustainable growth. So if we all take the view that solid balance and sustainable growth is adequate, necessary for a more balanced world with less unemployment and less risk of social unrest, the conclusion is fairly straightforward. We must pay, and governments must pay, more attention to a more equal distribution of wealth. I'm not a communist, but the reality is there.
Q: I'm curious, what's at the top of your worry list when you go home at night?
A: Climate change is one for sure. So is the education of women. I know it's a little bit farfetched relative to the core business of the IMF and its mandate. But I'm personally convinced that it is the answer to many, many, many issues. Whatever we can do to encourage and facilitate the education of young girls, access to financing for women, I think will go a long way in the development and better stability of economies around the world. Those are sort of long-term goals. I go to bed at night thinking about more short-term issues: countries facing difficulties; the U-turn by the Japanese authorities and whether it's going to work; the U.S. challenge of coming up with a credible plan to reduce the deficit and to change the trend of debt.
Q: Do we have global governance that's adequate for the globalization of markets and corporations and for issues like climate change?
A: No, I don't think so. But I think that it is going to be difficult to achieve what would be desirable. Look at financial-market supervision, or the definition of norms and standards in all sectors and areas, or the organization of a carbon-emission market. It would be a good occasion to design a new system—or global economic and financial surveillance around the world—in order to anticipate a potential crisis. All these functions will be even more necessary in the future. But global governance is resented by governments, who have their own sovereignty.
Q: I sense a great deal of excitement about Africa at the moment. Is it justified and, more importantly, what has to happen for this momentum to continue?
A: I sense the same thing, particularly in the corporate world. I think it's partly caused by the richness of all sorts of commodities that lie out there underground. It's also prompted by the population size and the fact that there will be so many people between the ages of 16 and 40 who will be an available workforce. What will keep the momentum? I would say two things: peace and education of women, because if the education of women is not tackled promptly, then I think we will be heading for very difficult demographic challenges in Africa.
Q: Besides Europe and North America, you've been to Algeria, Brazil, Chile, China, Colombia, Egypt, Germany, India, Indonesia, Japan, Latvia, Malawi, Mauritius, Mexico, Malaysia, Niger, Nigeria, Peru, Philippines, Russia, Saudi Arabia, South Africa, Thailand, Tunisia and Turkey. If you were to go back and visit some places as a tourist—leaving out France and the United States—where would you most like to go?
A: I think I'd like to go back to Peru and to Tunisia.
Q: Why?
A: Peru because there's such a mixture of coastline, extraordinary colors, historical remains or sights that I haven't seen, and extremely gentle people that I've met. As for Tunisia, it's the warmth, and I want to see how changes are taking place. And you also have a mixture of beautiful sea. I think in a previous life I must have been a dolphin, so anything that has this attracts me.
Q: How do you manage the jetlag of all these trips?
A: First of all, I can sleep on a plane. I don't drink. I don't smoke. I don't eat meat. I think I have a healthy schedule that helps me cope with different time zones. I think it helps. I used to fight against my own body and tell myself don't doze, don't give up, you're on daylight. I don't fight with my body anymore. When I sense that it needs a 10-minute doze, I let myself doze. I might sit in the back of a car and tell the person next to me just give me a break, don't talk to me, I'm going to sleep.