O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Declaração de Principios. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Declaração de Principios. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

E por falar em blogs... uma declaracao de principios - Paulo Roberto de Almeida

Ainda no capítulo da revisão de listas de trabalhos antigos, descubro este, meio escondido, num outro blog que também anda meio esquecido, aliás totalmente inoperante.
Como tem valor permanente, posto tal qual figura no registro sequencial de trabalhos.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 31 de janeiro de 2014

Declaração de princípios: sou um homem de causas...

Paulo Roberto de Almeida
Postagem inaugural no novo blog
Aberto na terça-feira, 20 de junho de 2006

1) Declaração de princípios

Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando como um cruzado, pelas causas que me comovem. [...] Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas.
Darcy Ribeiro

Como Darcy Ribeiro, a quem conheci na sua volta ao Brasil, ainda antes da redemocratização, sou um homem de causas.

As minhas são as da inteligência, da racionalidade, da cultura, da educação, da tolerância, da democracia e do comprometimento com o bem-estar e a justiça.
Encontro muitas das causas que procuro nos livros, bem menos do que na vida real, o que seria obviamente preferível.

Também tenho algumas causas “contra”: sou contra a ignorância, a irracionalidade (sobretudo em matéria de políticas públicas), o mau-uso do dinheiro público e a malversação das instituições estatais por gente descomprometida com os princípios da democracia e do bem-estar social. Sou contra a intolerância em matérias de opinião e de religião, contra todos os fundamentalismos e integrismos existentes (nem todos são necessariamente de natureza religiosa), e sou contra, de maneira geral, as crenças irracionais.

Creio na capacidade da humanidade em elevar-se continuamenta na escala da civilização, na defesa dos direitos do homem, de valores morais que transcendem os relativismos culturais. Sou pela universalização da democracia, mesmo contra a razão de Estado.

Sou, em princípio, a favor da igualdade, mas contra o mero igualitarismo: ou seja, sou pelo reconhecimento dos méritos individuais e do esforço próprio na conquista de objetivos de vida, mas acredito que os desprovidos da vida devam ser ajudados, sobretudo intelectualmente, menos do que materialmente. A educação deve ser repartida entre todos, como forma de capacitar o maior número possível na busca do sucesso individual, com base no desempenho próprio, não em assistência pública.

O crescimento da ignorância e dos irracionalismos contemporâneos assusta-me, tanto quanto a desonestidade na vida pública, tendência lamentável que se observa no Brasil e em muitos outros países.

Sobretudo, sou um defensor da integridade do trabalho intelectual e posiciono-me profundamente contra a desonestidade acadêmica. Acredito que todos devemos nos esforçar para construir um mundo melhor do que aquele que recebemos de nossos antecessores. Nossa responsabilidade individual é a de deixar um mundo melhor para os que nos sucederão.

Como professor eventual, o que exerço de forma irregular, acredito ser minha obrigação transmitir o máximo de conhecimentos aos aprendizes, mas essencialmente provê-los de métodos de aprendizado auto-sustentado, defensor acirrado que sou do auto-didatismo. Considero-me um pesquisador livre, sem qualquer subordinação a instituições ou corporações.

Acredito poder repetir como Popper:
A tarefa mais importante de um cientista é certamente contribuir para o avanço de sua área de conhecimento. A segunda tarefa mais importante é escapar da visão estreita de uma especialização excessiva, interessando-se ativamente por outros campos em busca do aperfeiçoamento pelo saber que é a missão cultural da ciência. A terceira tarefa é estender aos demais a compreensão de seus conhecimentos, reduzindo ao mínimo o jargão científico.
Karl Popper, em "Ciência: problemas, objetivos e responsabilidades" (1963)

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20 de junho de 2006.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Minha Declaração de Voto: em quem não vou votar... - Paulo R. Almeida


Minha Declaração de Voto: em quem não vou votar...

Paulo Roberto Almeida

Vou voltar a um assunto do qual eu preferia não me ocupar: as próximas eleições, em segundo turno, de 31 de outubro. Não para declarar o meu voto em favor de um dos dois candidatos, mas para retomar a mensagem que eu já havia delineado uma primeira vez neste texto: “Declaração de voto: dez pequenas regras contrarianistas”, Espaço Acadêmico (ano 10, n. 112, setembro 2010, p. 80-87; link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/11010/5972). Ou seja, eu declaro peremptoriamente que não tenho candidato, no sentido em que não me julgo representado ou identificado com nenhuma das propostas que estão sendo oferecidas pelos dois candidatos restantes. Sou por demais independente e contestador desse status quo “estagnacionista” no Brasil para me encantar com a visão do mundo e com os projetos estatizantes e dirigistas de cada um deles.
Mas tenho, sim, minhas preocupações, que tenho expressado aqui em caráter parcial e fragmentado, “pílulas de pensamento” que não chegam a constituir exatamente uma proposta coerente (tanto porque não me julgo homem de partido e não tenho por que ficar fazendo publicidade de propostas políticas). Por isso mesmo vou repetir o mesmo procedimento seguido da vez anterior, e dizer em quem, ou em quais propostas não vou votar, pois as encontro especialmente negativas do ponto de vista da democracia, dos direitos humanos, das liberdades em geral no Brasil, além e acima das medidas de caráter econômico que possam ser implementadas por um ou outro dos candidatos eleitos.
Sim, tenho quase certeza de que as políticas econômicas não tendem a diferir muito entre si e representarão, na verdade, uma continuidade do que já temos. Claro, num caso temos a gastança compulsiva daqueles que acreditam no Estado, que acham que só o Estado pode fazer “justiça social”, e no outro temos um pouco mais, mas apenas um pouco mais, de responsabilidade fiscal, com uma visão mais mercadista ou menos intrusiva do papel do Estado na vida econômica. Isso pode fazer uma grande diferença no médio e longo prazo, embora seja menos relevante no horizonte de 4 anos, mas pode sim ser impactante dependendo das decisões que serão tomadas na próxima administração.
O que me separa de um deles, portanto, não é bem a economia, mas a política, ou mais exatamente os valores que devem guiar a atividade política e a chamada governança, com seus reflexos na vida de todos e cada um de nós, em termos de ética na vida pública, nos negócios, na gestão governamental, no tratamento dos meios de comunicação e coisas assim. Acho que não preciso me estender demasiado pois os leitores que frequentam este espaço são suficientemente inteligentes para saber do que estou falando e o que pretendo dizer, sem precisar expressar com todas as letras.
Acredito, sim, que o Brasil corre um grande perigo: o do retrocesso nessas práticas que podem ter uma influência decisiva na governança e nos valores que queremos ver predominando na vida pública. Como sempre escrevi aqui, eu tenho horror à desonestidade intelectual, à mentira, à fraude, à mistificação, à demagogia e ao populismo. E não tenho nenhum restrição de dizer que gostaria de ter, sim, um governo de elite, se por elite entendemos o mérito, o conhecimento, a busca do melhor, independentemente de origem social, de pertencimento étnico, de afiliação política ou religiosa. Membros da elite buscam o refinamento das pessoas, não a vulgaridade e o rebaixamento no mínimo denominador comum. Pessoas que integram a elite – e são todos aqueles que detém cargos de responsabilidade na vida pública, qualquer que seja a sua origem social ou condição profissional – visam o bem comum, isto é, o da coletividade, não o de um grupo determinado, não o de uma facção; elas querem a união dos esforços para vencer obstáculos, não opor classe contra classe, grupo contra grupo, como fazem todos os candidatos a ditador ou caudilho. Assim como eu ascendi à elite vindo de um meio muito pobre, pelo trabalho e pelo estudo, eu pretendo que todos tenham as chances que eu tive, por meio de escolas de qualidade que se dediquem a unir os brasileiros, não a dividi-los em supostas raças ou grupos étnicos. Sou contra qualquer apartheid, sou contra a vulgaridade, sou contra a mediocridade.
Não acho que preciso me estender mais sobre o assunto. Todos sabem o que penso, e todos podem assumir sua própria responsabilidade dentro de dois dias.
Por fim, quero dizer que mesmo sendo contra o voto obrigatório, sou contra o voto nulo, e acho que cada um deve assumir sua parcela de responsabilidade sobre o país que desejamos ter para nós e para todos aqueles com os quais convivemos, inclusive aqueles que virão depois de nós.
Boa cidadania a todos.
Paulo Roberto Almeida
(Shanghai, 29.10.2010)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Minha moral e a deles...

Minha moral e a deles...
(uma declaração de princípios)
Paulo Roberto de Almeida

O título acima representa uma paráfrase, ligeiramente invertida, de um pequeno panfleto redigido em 1938 por Leon Trotsky, então exilado no México: A Moral Deles e a Nossa. Meu texto, não apenas em função da inversão pronominal e da redução ao singular, se situa, decididamente, nas antípodas do espírito bolchevique e pretensamente revolucionário do exilado do stalinismo triunfante (e que se juntaria, macabramente, às suas vítimas dois anos mais tarde). Em seu panfleto cheio de circunvoluções filosóficas e justificativas de ocasião, Trotsky tentava legitimar a violência revolucionária praticada por Lênin e por ele mesmo, no curso da guerra civil que se seguiu ao putsch bolchevique, ao mesmo tempo em que condenava a violência de Stalin revelada nos processos de Moscou, de eliminação dos velhos bolcheviques, como sendo, segundo ele, uma moral degradada, uma violência anti-revolucionária e uma política degenerada, que objetivamente não servia à causa do socialismo.
Meu texto não pretende justificar nada, tanto porque eu não defendo governos ou regimes e não preciso legitimar nenhum poder político constituído, que não seja o poder da inteligência e o regime da razão. Meu texto visa apenas acertar as contas comigo mesmo, algo obviamente dispensável em condições normais de pressão e de temperatura, mas que se afigura necessário quando o mundo à nossa volta se torna um pouco confuso, pelo crepitar de inteligências refulgindo sob os flashes e microfones, dando lições a torto e a direito (bem, mais num sentido do que no outro), passando lição de moral em gente que pensa diferente de si próprio, tentando justificar certas coisas que me parecem óbvias na sua platitude estúpida. Nessas horas, sentimos necessidade de identificar certas coisas e de estabelecer claramente, o que nos separa, o que me separa de certa categoria de pessoas.
Não pretendo fazer de minha parte um tratado de moral, mas como disse uma vez George Orwell, em tempos de desonestidade declarada, de enganação geral, o ato de contar a verdade pode ser revolucionário. Trata-se apenas de relatar certas coisas evidentes por si mesmas, de confirmar a adesão a princípios simples e cristalinos, de manter a dignidade pessoal mesmo quando a maioria se inclina para o um lado, mas você não hesita e tem certeza de que o caminho é pelo outro lado. Essa postura não tem a ver com qualquer condição pessoal ou profissional, ela apenas existe, ponto.
No plano exclusivamente pessoal, por exemplo, acredito que se deve manter a palavra dada, mesmo quando se enfrenta uma situação adversa, decorrente desses compromissos assumidos. Obviamente não estou falando de promessas de apoio a quem quer que seja, dado que circunstâncias mudam, as pessoas mudam, e situações novas se apresentam; refiro-me a empenho em cumprir o prometido, em manter-se fiel ao que foi acordado com base em negociações abertas e transparentes. Por isso mesmo tenho buscado preservar certos princípios que me parecem permanentes, aliás reafirmados menos de um ano atrás, numa declaração de princípios que me permito reproduzir novamente aqui, pois ela expressa fielmente o que penso.

Existem certas coisas que independem da idade, da condição pessoal ou profissional, da situação econômica, de crenças religiosas ou afiliações políticas. Existem certos valores intangíveis que não são determinados por interesses econômicos ou vantagens momentâneas, que transcendem uma análise de custo-benefício imediato, ou mesmo perspectivas de ganhos no médio ou longo prazo. São questões inegociáveis, pelo menos para os que acreditam nelas.
Refiro-me a uma determinada concepção do mundo, da vida, da conduta pessoal, do comportamento social, do comprometimento com a própria história de vida. Esses valores são os da integridade moral, da honestidade intelectual, do compromisso com a verdade, da busca do que é moralmente justo, do que pode ser uma aproximação ao que é eticamente correto, ao que é legitimamente válido fazer, dizer ou defender. A busca da verdade é um desses valores que se mantêm íntegros, mesmo na adversidade, mesmo no confronto com forças superiores, mesmo nas dificuldades temporárias, mesmo ao custo do sacrifício de vantagens pessoais, de situações estabelecidas, de retrocessos materiais.
Tenho buscado, ao longo de minha vida – em meus escritos, em minhas atividades profissionais, em minhas aulas, na exposição de minhas idéias, em meu site pessoal, em meus blogs, em listas de discussões, em todas as minhas intervenções públicas – expressar exatamente aquilo que penso, não como reflexo de sentimentos pessoais, impressões subjetivas ou desejos individuais, mas como resultado de pesquisas, de leituras, de reflexões confrontadas aos dados da realidade, do debate aberto, da defesa da racionalidade, do uso da lógica como instrumento supremo de exercício da razão, enfim, como produto da mais simples expressão daquilo que representa a dignidade da palavra adequada à questão posta, a correspondência exata do problema colocado com uma solução possível, apenas determinado pela lógica, pela razão e pela verdade tentativa. Em uma palavra, tenho buscado viver de uma maneira digna.
O que vou dizer agora poderia ser precedido por: “Acredito que...”, mas não vou fazê-lo, pois considero o que vem exposto a seguir como uma espécie de imperativo moral. Não se deve fazer concessões a interesses partidários, a interesses econômicos, a fundamentalismos religiosos, a vantagens pessoais. Apenas a busca da verdade deve guiar aqueles que estão comprometidos com o debate aberto, a honestidade intelectual, a dignidade da palavra dada. Entre os valores que devem ser defendidos, com toda a determinação, estão a busca da honestidade intelectual, do bem comum, da dignidade da pessoa humana, da defesa desses mesmos princípios contra interesses pecuniários, da luta contra a mentira, o roubo, a violação da dignidade individual, a mistificação dos fatos e a distorção de provas empíricas. A demagogia e a mentira devem ser combatidas independentemente de quem as expressam, a fraude e a desonestidade devem ser reprimidas em quaisquer circunstâncias, os formalismos processuais devem ser repelidos em nome das evidências intencionais, e todos devem ser responsabilizados pelas palavras ditas e pelos atos cometidos.
São apenas algumas questões de princípio que devem ficar claras a todos os que interagem comigo, por quaisquer meios ou veículos. Sempre defenderei as mesmas idéias e valores, independente do tempo e da temperatura, da hora e da situação, sem qualquer concessão a oportunismos e acomodações.
Poderia acrescentar, entre parênteses, que considero o Brasil, seu cenário político, suas lideranças nacionais, os responsáveis pela ordem jurídica e os chamados representantes da vontade popular como singularmente distantes desses ideais, mas não vou fazê-lo, neste momento, pois creio que não é o caso de adentrar em uma discussão específica a uma situação. Esta é uma declaração de princípios, e como tal deve restar. Meus leitores inteligentes sabem do que estou falando; aqueles politicamente motivados, ideologicamente determinados, podem recusar minhas palavras, mas sou indiferente a esse tipo de contestação.
Acho que os que freqüentam os meus espaços de interação – site, blogs, listas, aulas, entrevistas e exposições orais e diretas – já sabem disso. Eu não precisaria relembrar tudo isso se, de vez em quando, algum espírito partidário ou fundamentalista, não tentasse colocar em dúvida esses princípios. Isto vale para minha conduta relacional (e pessoal), tanto quanto para a condução dos espaços de interação que me são dados administrar ou deles participar.
Esta é a minha moral, e por meio dela pode-se perceber que ela se distingue fundamentalmente da moral deles. Vale!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de setembro de 2009.
Shanghai, 10 de junho de 2010.