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domingo, 19 de abril de 2020

À Espera dos Bárbaros, de Constantine Cavafy - tradução de Marcelo Raffaelli

Já descrevi, diversas vezes, a chegada ao poder dos novos "companheiros", como sendo uma bizarra invasão dos novos bárbaros, esses que nos assediam, de diversas maneiras.
Lembrava-me, vagamente, daquele prêmio Nobel dado a um poeta grego, muitos anos atrás, que havia escrito um poema sobre essa temática, da expectativa de uma invasão de bárbaros.
Quando ele ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, lembro-me de ter lido esse poema, em algum lugar, talvez na New York Review of Books, mas não tenho certeza. Em todo caso, ficou na minha lembrança.
No intervalo, lembrei-me de um romance de temática similar, de Dino Buzatti, O Deserto dos Tártaros. 
O problema é que, tanto no romance, quanto no poema, os bárbaros nunca chegam, e os “nossos” já estão aqui, invadindo tudo e destruindo todas as instituições.
Agora, fui salvo pelo meu amigo e colega, embaixador aposentado, Marcelo Raffaelli, que não apenas me remeteu esse poema, como o traduziu não do grego, mas a partir de sua versão em inglês, como está dito abaixo.
Cabe fazer este registro…
Grato ao embaixador Marcelo Raffaelli.
Paulo Roberto de Almeida

À ESPERA DOS BÁRBAROS
POEMA DE CONSTANTINE CAVAFY, TRADUZIDO DO GREGO PARA O INGLÊS POR EDMUND KEELEY, RETRADUZIDO PARA O PORTUGUÊS POR MARCELO RAFFAELLI, QUE NÃO FALA GREGO
O que estamos esperando, todos juntos no fórum?
            Os bárbaros vão chegar hoje.
Por que nada se passa no Senado?
Por que os senadores lá se sentam, sem legislar? 
            Porque os bárbaros vão chegar hoje.
            Para que os senadores fariam leis agora?
            Quando os bárbaros chegarem, eles farão as leis.
Por que nosso imperador madrugou, tão cedo,
E sentou-se em seu trono, à porta da cidade,
Em traje solene, com sua coroa?
            Porque os bárbaros vão chegar hoje
            E o imperador quer receber seu chefe,
            Mesmo tem um pergaminho para lhe dar.
Por que nossos dois cônsules e pretores envergam hoje
Suas togas escarlates, todas bordadas?
Por que puseram braceletes com pedras preciosas,
Anéis luxuosos, de esmeraldas magníficas?
Por que envergam elegantes bengalas,
Lindamente trabalhadas em ouro e prata?
            Porque os bárbaros vão chegar hoje
            E coisas assim encantam os bárbaros.
Por que nossos grandes oradores não vêm, como sempre,
Fazer seus discursos, dizer o que têm a dizer?
            Porque os bárbaros vão chegar hoje e
            Eles detestam retórica, discurso empolado.
Por que esta perplexidade, esta súbita confusão?
(Como as caras das gentes ficaram sérias!) 
Por que praças e ruas se esvaziam tão depressa,
Todos se recolhendo com ar pensativo?
            Por que a noite caiu e os bárbaros não vieram?
            E alguns dos nossos, recém-vindos da fronteira,
            Disseram que não existem mais bárbaros.
E agora, que nos acontecerá, sem os bárbaros?
Eles podiam ter sido uma solução...