Assassinato, legado social e trajetória política de Marielle Franco são tema de exposição no Congresso Nacional
BRASÍLIA – No próximo dia 14 de março será inaugurada a exposição “Marielle Franco – Nesse lugar”, uma amostra do acervo biográfico da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada na mesma data em 2018, aos 38 anos.
A exposição inédita na Câmara Federal, organizada pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, se soma a outras organizações brasileiras e estrangeiras como a Anistia Internacional, no objetivo de memória política da vereadora, uma das principais vozes da população periférica da cidade do Rio de Janeiro.
“Marielle Franco – Nesse lugar” também reforça a afirmação de protesto da família da parlamentar, amigos, sociedade, organizações no Brasil e no mundo contra a impunidade dos mandantes do assassinato de Marielle, que também vitimou de forma trágica o assessor da parlamentar, o motorista Anderson Gomes.
A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco é contudente sobre o que representa a exposição e espera contribuir com a difusão da memória de Marielle, lembrar da luta por justiça sobre o seu assassinato e inspirar mais pessoas na construção de projetos coletivos que gerem impacto social positivo e que transformem a realidade das pessoas.
Quando foi assassinada, Marielle exercia seu mandato de vereadora há um ano e três meses. Ela foi eleita em 2016 e imediatamente passou a incomodar ainda mais os inimigos da democracia. Marielle foi assassinada por ser mulher, uma ativista social e política, parlamentar pelo PSOL e uma liderança periférica em ascensão. A história de luta de Marielle começou na comunidade da Maré, no Rio, e hoje seu legado político faz parte da história política e social do Brasil, e uma referência mundial.
Em sua memória e para celebrar seu legado, serão apresentadas as ações do mandato de Marielle, com referências ao contexto histórico em que se desenvolveu seu projeto político. O período da vida política de Marielle abordado na exposição vai da sua campanha, 2016, até sua última atividade já como vereadora da cidade do Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018.
As mortes de Marielle e Anderson são somadas aos casos de homicídios não esclarecidos no Brasil. Para se ter ideia, apenas 37% dos homicídios praticados no País em 2019 – último ano com dados disponíveis, foram esclarecidos. O índice, que era de 44% em 2018, é da pesquisa Onde Mora a Impunidade, do Instituto Sou da Paz.
A pesquisa ressalta que o Estudo Global Sobre Homicídios, da Organização das Nações Unidas (ONU), com dados de 2019, mostra que a média global de esclarecimento de homicídios é de 63%. Na Europa é 92%; Oceania, 74%; Ásia, 72%; África, 52%; e Américas, 43%. O critério utilizado foi a capacidade das instituições policiais de identificar pelo menos um suspeito do crime.
Com acesso livre para o público de 15 a 23 de março, a abertura da exposição ocorrerá logo após Sessão Solene in Memorian a Marielle Franco e Anderson Gomes, no Plenário da Câmara dos Deputados, no dia 15, às 10 horas. A Sessão foi requerida pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) e contará com a presença de familiares, parlamentares e é aberta ao público.
Multimídia: memória política de Marielle
Além da exposição, a Fundação Lauro Campos & Marielle Franco lança também um livro no segundo semestre de 2023 e um site exclusivo para manter viva a trajetória e memória de Marielle. O trabalho foi viabilizado pela Fundação Lauro Campos & Marielle Franco, que é presidido pela advogada Natália Szermeta. A fundação é um braço de estudo e pesquisa do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), sigla de Marielle, e desenvolve atividades nas esferas da teoria e da cultura, fornecendo subsídios para a militância e estimulando a formulação teórica dos quadros partidários, funcionando como uma espécie de usina de ideias.
Entenda o nome da exposição
“Marielle Franco – Nesse lugar”, nome que dá título ao evento, é uma referência a uma expressão muito usada pela vereadora. Antes considerado um vício de linguagem nos seus discursos, foi incorporada como uma metáfora de uma política fortemente ancorada no território do Rio de Janeiro, mas também no lugar de fala para os debates de gênero, raça e classe em todos os espaços.
Túnel da exposição
Um túnel colorido de cerca de 8 metros de extensão ocupa o Espaço do Servidor, próximo à entrada do Anexo II da Câmara Federal, e traz uma linha do tempo com os eventos realizados por Marielle Franco, conectados por trechos de discursos e textos publicados no período. A ideia é remeter o visitante à atmosfera agitada, majoritariamente feminina, colorida e quase caótica de um mandato que durou apenas um ano, mas que debateu inúmeras pautas e incidiu verdadeiramente na política carioca.
Para a realização do evento, a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco contou com o apoio da Liderança do PSOL na Câmara dos Deputados, que escolheu o Espaço do Servidor, uma área ampla e de fácil acesso e visualização dos parlamentares, funcionários e visitantes que visitam a Casa, para receber a estrutura.
A exposição conta ainda com uma versão online, interativa, onde é possível ver não só as fotos e trechos expostos no túnel, como também vídeos e áudios dos momentos selecionados. De acordo com a Fundação LCMF, é o primeiro produto de um projeto de memória do partido que deve contar ainda com a publicação de um livro com os principais discursos da vereadora e ações de promoção da memória do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
As fotos e textos apresentados formam uma seleção inédita, feita a partir dos arquivos da Câmara Legislativa do Rio de Janeiro, dos jornais e revistas do período e das redes sociais da vereadora.
A convite da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, a curadoria ficou a cargo de Fernanda Chaves, sobrevivente do assassinato, e Priscilla Brito, também ex-integrante do mandato de Marielle. Ana Marcela Terra, Jaime Cabral e Lorena Gonçalves foram responsáveis pela pesquisa. Toda a concepção visual da exposição ficou a cargo de Cesar Paciornik e Evlen Lauer. A produção é de Madu Krasny.
MP do Rio nomeia integrantes para investigar morte de Marielle Franco Agência Brasil, 04/03/2023
O procurador-geral de Justiça do Estado do Rio, Luciano Mattos, nomeou os novos integrantes da força-tarefa que acompanharão as investigações sobre os mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
O crime completa cinco anos no dia 14 de março e ainda não houve conclusão sobre mandantes e motivações.
As investigações da Polícia Civil e do MPRJ apontaram o sargento reformado e expulso da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ) Ronnie Lessa como o autor dos disparos, com colaboração do ex-policial militar Élcio Queiroz.
Eles estão presos preventivamente desde 2019 e respondem por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima) e pela tentativa de homicídio contra uma assessora de Marielle, que também estava no veículo e sobreviveu.
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