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quarta-feira, 8 de maio de 2013

E por falar em exportações e importações, um artigo de Gary North

Agradeço ao Eduardo, do Rio de Janeiro, esta remessa sempre bem vinda.
Paulo Roberto de Almeida

Qual o benefício de exportar mais do que importar?
por , segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

 

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Guido Mantega cumprindo sua função: atender ao lobby dos exportadores, espoliando o poder de compra do resto da população brasileira
Ao longo dos últimos 300 anos, o senso comum reinante entre os economistas convencionais, a mídia e os leigos é o de que um país estará em melhor situação se ele exportar mais bens e serviços do que ele importa.  A crença dominante é a de que, se um país é um exportador líquido, então este país é uma verdadeira usina de prosperidade.
É por isso que, segundo este raciocínio, a China é considerada por esses economistas e seus seguidores na mídia uma potência econômica.  O país é competitivo por causa de sua capacidade de exportar muitos bens para outros países.  Porém, para fazer isso, há uma contrapartida: a China inevitavelmente tem de aceitar notas promissórias dos estrangeiros. 
Quando um país exporta bens, o que ele recebe em troca são meros dígitos eletrônicos contabilizados em moeda estrangeira — atualmente, o dólar.  Como o dólar não é moeda corrente na esmagadora maioria das nações do globo, o que um país exportador recebe, na realidade, é um título da dívida do governo americano.  Os dólares digitais que este país recebe em decorrência de suas exportações são reinvestidos nos EUA, na aquisição de títulos do governo americano.  No balancete do Banco Central, esta aquisição de títulos do governo é contabilizada como "reservas internacionais".
O que realmente ocorre é o seguinte: indivíduos que trabalham no ramo da exportação estão dispostos a aceitar notas promissórias, ou outros tipos de ativos baseados em dígitos eletrônicos, em troca de bens físicos.  O exportador recebe dinheiro eletrônico — no caso, dólares americanos — em sua conta bancária.  Para ele, estes dólares têm valor.  Se não tivesse, ele não teria exportado os bens.  Ele pode trocar estes dólares por sua moeda doméstica (no caso, ele vende dólares ao seu banco, que irá creditar sua conta-corrente com moeda nacional) ou ele pode manter estes dólares no exterior, depositado em um banco estrangeiro.  Talvez ele prefira comprar ações ou outros ativos estrangeiros que são vendidos em dólares.  A questão é que esse exportador está disposto a aceitar notas promissórias — no caso, promessas digitais — em troca de seus bens reais.  Esta é o único princípio por trás da exportação.
Os EUA são o exemplo clássico de um país que importa muito mais bens do que exporta.  No entanto, os EUA também são considerados uma potência econômica.  Por quê?  Porque estrangeiros estão sempre dispostos a investir no país.  O problema é que o investimento favorito é a compra de títulos emitidos pelo Tesouro americano.  Embora alguns investidores estrangeiros comprem estes títulos, quem os compra em sua esmagadora maioria são os bancos centrais estrangeiros.  Os bancos centrais estrangeiros compram títulos do governo americano porque seus respectivos governos querem manter suas moedas nacionais depreciadas em relação ao dólar, de modo a aumentar as exportações para os EUA.  Em outras palavras, o governo chinês é a real fonte do poderio exportador daquela nação, pois é ele quem manipula o mercado de câmbio para favorecer suas indústrias exportadoras.
Utilizar o poder estatal para subsidiar uma pequena porcentagem da população doméstica (os exportadores, cujo lobby é poderoso em qualquer nação do mundo) ao mesmo tempo em que se prejudica a esmagadora maioria da população (os consumidores, que não têm lobby em nenhuma nação do mundo) é a norma atual em todas as grandes economias do globo.  E a retórica utilizada também é a mesma: beneficiar alguns poucos em detrimento de todo o resto é algo que se faz em nome do fortalecimento da nação. 
O argumento, como em todas as promessas governamentais, é totalmente falacioso.
O que fortalece a população de um país é ter uma moeda previsível.  Isso faz com que os prognósticos de investimento sejam mais fáceis.  A preocupação das pessoas com relação às flutuações do valor da moeda é reduzida.  Mas é impossível obter uma moeda previsível em termos internacionais, pois os governos dos outros países estão continuamente manipulando suas moedas, quase sempre por meio da expansão da oferta monetária.  Em outras palavras, todos os bancos centrais estrangeiros inflacionam.  Sendo assim, uma moeda doméstica cuja oferta seja constante irá se apreciar continuamente em relação às moedas estrangeiras.  Isso significa que seu poder de compra irá aumentar continuamente.  Não haverá taxas de câmbio estáveis entre os países.
Se o Banco Central de um determinado país estivesse operando sob um padrão-ouro genuíno, ele não poderia inflacionar desmedidamente a moeda deste país.  O mesmo valeria para seu sistema bancário de reservas fracionárias.  Qualquer banco que expandisse o crédito enfrentaria uma corrida em seu estoque de moedas de ouro.  Suas reservas de ouro iriam se exaurir rapidamente.  Portanto, o temor de uma corrida bancária, na qual os correntistas apresentam seu dinheiro digital e exigem restituição em moedas de ouro, restringiria a expansão da oferta monetária.  Isso significa que a moeda deste país irá se apreciar em relação a todas as moedas estrangeiras que não estão restringidas por tal ameaça.  Isso significa que os cidadãos que residem na nação sob o padrão-ouro poderiam importar bens estrangeiros a preços decrescentes.  A cada ano as importações estariam mais baratas.  Como consumidores, estes cidadãos seriam beneficiadas e seu padrão de vida aumentaria a cada ano.
Supondo que estas pessoas estão produzindo bens de valor, o que significa que elas estão adquirindo uma moeda denominada em ouro, seu patrimônio líquido está aumentando continuamente.  Por quê?  Porque, com a mesma quantidade de dinheiro, elas podem comprar quantidades cada vez maiores de bens importados.  Elas estão vivenciando aquilo que todos nós adoramos vivenciar: preços cada vez menores para os bens e serviços que desejamos comprar.
Dado que há uma quantidade muito maior de pessoas voltadas para o mercado doméstico do que para as exportações, uma política de moeda estável iria beneficiar aquelas pessoas que são mais produtivas, mais economicamente eficientes e que melhor atendem às demandas da população.  Estas conseguiriam obter um fluxo contínuo da moeda doméstica.  Seu custo de vida cairia ano após ano, de forma consistente, porque os bancos centrais estrangeiros estão inflacionando suas respectivas moedas.  O valor daquelas moedas em relação à moeda estável deste país cairia continuamente.
Logo, uma moeda estável traria um grande benefício para aqueles consumidores que vivem sob este padrão-ouro.  E estes consumidores formam a esmagadora maioria dos consumidores de um país.  Apenas uma relativamente pequena porcentagem dos empreendedores e trabalhadores de uma nação está no setor exportador da economia.  É por isso que a desvalorização da moeda nacional é um subsídio apenas para uma minoria de empresários e trabalhadores.  A vasta maioria dos residentes desta nação é prejudicada.  Ela é obrigada a pagar mais caro por bens importados por causa da política de seu Banco Central de inflacionar a oferta monetária a fim de manter a moeda nacional desvalorizada perante as outras moedas. 
Ao depreciarem sua própria moeda, os planejadores monetários estão prejudicando os interesses da grande maioria dos cidadãos desta nação.  O subsídio beneficia apenas uma minoria.  O fato de haver uma enorme quantidade de pessoas na maioria permite que sua riqueza seja espoliada por meio da inflação da oferta monetária, permitindo ao setor exportador ganhar receitas acima das de mercado ao exportar seus bens.  Uma minoria não pode subsidiar uma maioria.  Sempre tem de ser ao contrário.
Portanto, uma economia com uma moeda estável irá beneficiar a grande maioria de seus cidadãos, os quais poderão comprar a preços continuamente mais baixos.  Essa verdade econômica irrita os defensores do mercantilismo.  Eles dizem que tal política é maléfica.  Eles estão convencidos de que ter um Banco Central depreciando continuamente a moeda como forma de subsidiar o setor exportador é algo extremamente benéfico para uma nação, e que a reduzida quantidade de bens e serviços que estarão disponíveis para os consumidores domésticos (tanto em decorrência das menores importações quanto pelo fato de mais produtos domésticos estarem sendo exportados) é algo sem nenhuma importância.
Os defensores do mercantilismo jamais discutem a realidade econômica desta redistribuição de riqueza.  Eles jamais apontam para aquela incontestável realidade: que a esmagadora maioria dos cidadãos é obrigada a arcar com perdas econômicas, principalmente quando se leva em conta os ganhos que obteriam caso pudessem adquirir bens estrangeiros a preços cada vez menores.
A vasta maioria dos cidadãos de qualquer país não faz a mais mínima ideia da relação entre expansão monetária e redução das importações.  Eles não entendem que estão sendo prejudicados pela política de depreciação monetária feita pelo seu governo.  Se eles entendessem de economia, iriam imediatamente exigir um padrão-ouro puro, e iriam prontamente se beneficiar do crescente valor internacional de sua moeda nacional.  Como iriam se beneficiar?  Podendo comprar uma quantia cada vez maior de bens estrangeiros a preços cada vez menores.
Infelizmente, são tão poucas as pessoas que entendem de lógica econômica, que este subsídio coercivamente extraído de uma maioria para uma minoria não é visto como um programa de transferência de riqueza dos mais pobres (consumidores comuns) para os mais ricos (barões do setor exportador).  Sempre que o governo de um país adota o mercantilismo — algo que ocorre a aproximadamente 100% do tempo —, ele o faz sabendo que praticamente ninguém compreende que aquela política prejudica a vasta maioria dos cidadãos e beneficia apenas uma minoria que está no setor exportador da economia.  Mais ainda: ele o faz sabendo inclusive que contará com o resoluto apoio da mídia e dos desinformados de plantão, que acreditam que um "setor exportador subsidiado fortalece a economia do país".
O mundo está hoje adotando políticas de depreciação monetária competitiva.  Se um país deprecia sua moeda, o outro quer depreciar mais. "Tudo pelos exportadores!" Isso irá prejudicar severamente a vasta maioria dos cidadãos de todas as nações.  Eles não poderão usufruir o benefício de ter uma moeda doméstica forte, algo que os permitiria importar mais bens estrangeiros.  Eles seriam capazes de adquirir os bens e serviços que quisessem, a preços continuamente declinantes, caso sua moeda nacional fosse baseada em um padrão-ouro.  Caso desfrutassem de plena conversibilidade em ouro — isto é, caso pudessem ir a um banco para trocar dinheiro digital por moedas de ouro —, eles vivenciariam um padrão de vida crescente.  Mas como eles não entendem de economia, eles aceitam (e até aplaudem) as políticas mercantilistas de seu governo.  Eles aceitam que sua moeda seja depreciada e seu padrão de vida seja reduzido.  Eles aceitam ser roubados em prol da boa vida dos exportadores.  Eles gostam de ver seus bens sendo enviados para estrangeiros a troco de nada (apenas os exportadores ficam com as notas promissórias).
É lamentável que a maioria das pessoas não entenda de economia.  Para os exportadores, no entanto, que se beneficiam deste assalto ao poder de compra da população, essa ignorância econômica de seus compatriotas é uma dádiva.  Dado que é impossível ganhar algo a troco de nada, o que ocorre é que um pequeno grupo de exportadores ganha muito e, em troca, o restante das massas fica com preços crescentes para quase todos os bens e serviços da economia.  E ainda bate palma.


Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website

sábado, 19 de maio de 2012

Keynesianismo: uma total falta de logica - Gary North

Vale a pena ler este longo artigo, enviado pelo Eduardo Rodrigues, para confirmar o que já sabíamos: um pouco como o socialismo, o keynesianismo dura enquanto durar o dinheiro dos outros. Neste caso, ele dura indefinidamente, enquanto os keynesianos encontrarem uma maneira de "financiamento": mais emissões, mais impostos, mais inflação, mais endividamento, até perder de vista. Mas um dia, isso vem abaixo...
Paulo Roberto de Almeida
Austeridade, otimismo e a dissolução do estado assistencialista keynesiano
por 
Instituto Von Mises Brasil, quarta-feira, 16 de maio de 2012
Os keynesianos e os declaradamente anti-keynesianos se deram as mãos e, atuando em conjunto, passaram a propagandear um erro intensamente keynesiano: falar sobre a "austeridade" fiscal na Europa como sendo um fato negativo.  Um colunista da revista Forbes se referiu à austeridade como sendo uma espiral mortífera.
A palavra "austeridade", que surgiu com a crise da dívida do governo da Grécia dois anos atrás, tem sido utilizada pela mídia como tendo exclusivamente um único sentido: reduções nos gastos dos governos nacionais.  A palavra não é utilizada em relação à economia como um todo.
Mais do que isto: a palavra tem sido utilizada para explicar as contrações nas economias da Europa.  Fala-se que as reduções nos gastos dos governos estão causando a recessão das economias europeias.  Esta explicação é baseada inteiramente nos modelos keynesianos que dominam os livros-textos.
Mas há um problema: não houve reduções nos gastos.  Ao que tudo indica, para a mídia, "austeridade" não significa o mesmo que significa para uma pessoa normal: cortes severos nos gastos governamentais.  Ao que tudo indica, "austeridade" significa não haver absolutamente nenhum corte de gastos.
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Keynesianos sempre defendem aumentos nos gastos do governo.  Este é o âmago do keynesianismo.  O keynesianismo depende inteiramente de um mantra: "Gastos do governo curam recessões".  Todo o resto é periférico: inflação monetária, tributação crescente e livre comércio.  Estas questões periféricas sempre serão sacrificadas em prol da suprema premissa econômica: "Gastos do governo curam recessões."
É deste ponto que qualquer análise do keynesianismo deve partir.  Qualquer doutrina econômica, qualquer política econômica, qualquer solução proposta para a atual crise deve ser avaliada em termos deste mantra.  Qualquer coisa que não comece e não termine com este mantra não é keynesianismo.  Qualquer coisa que o faça, é keynesianismo.
Qualquer ideologia pode se declarar triunfante quando até mesmo seus professos críticos adotam tanto as suas conclusões quanto a sua retórica, e o fazem sem perceber.  Isto significa que os promotores desta ideologia obtiveram êxito total em estipular os termos do debate público.  É muito difícil substituir uma ideologia ou uma visão de mundo quando seus promotores já conseguiram estabelecer os termos do debate.
É algo que pode ser feito, é claro; mas, para fazer isso, os promotores de uma ideologia rival têm de expor não apenas os erros do atual sistema, como também a concordância implícita concedida pelos supostos críticos da ideologia dominante.  Tal postura, é bom deixar claro, não irá lhe garantir novas amizades entre estes infelizes que creem estar obtendo vitórias significativas ao argumentarem apenas contra aspectos periféricos da ideologia inimiga ao mesmo tempo em que aceitam todos os seus pressupostos centrais e todas as suas receitas políticas.  Eles já foram fisgados.
Um exemplo recente de um bem-intencionado, porém conceitualmente confuso anti-keynesiano pode ser conferido em um recente artigo da Forbes.  O título era poderoso: "O keynesianismo é a nova Peste Negra".  Mas o artigo concluía que a grande tragédia da Europa atual é a "austeridade".
Em teoria, a mídia universalmente define austeridade como cortes nos gastos do governo.  Eu nunca vi o termo sendo empregado em qualquer outro sentido.  Qualquer autor que utilizar esta palavra em algum outro sentido tem de explicar aos seus leitores o motivo deste novo significado.  Como o artigo da Forbes não ofereceu nenhuma outra distinção ou alternativa, interpretei o termo ao pé da letra.
Se a austeridade é a grande perversidade do momento, então a implicação é inevitável: aumentar os gastos governamentais e abandonar qualquer austeridade (que nunca houve) é algo positivo.
O mantra austríaco
Os economistas seguidores da Escola Austríaca também têm um mantra: "Menos impostos aumentam a liberdade."  Liberdade é necessária para o crescimento econômico.
Se um governo não puder reduzir impostos sem que isso o leve à falência, então ele tem de cortar gastos caso não queira quebrar.
Os governos europeus estão todos no caminho da falência.  O do Japão também.  O mesmo vale para o dos EUA.  A solução é cortar impostos e cortar gastos ainda mais.
"Nada de mais gastos governamentais.  Menos gastos governamentais!"
"Nada de mais déficits orçamentários.  Menos déficits orçamentários!"
"Nada de mais impostos.  Menos impostos!"
"Nada de mais inflação monetária.  Menos inflação monetária!"
Em suma: "Deixem o povo livre!"
A solução para a recessão europeia não é aumentar os gastos governamentais, e sim o oposto: reduzir os gastos dos governos.  E os impostos.  A solução, portanto, é mais austeridade.
Com isto em mente, examinemos um artigo que argumenta que a austeridade é a maior ameaça para a prosperidade da Europa.
Uma espiral mortífera?
O artigo começa com uma análise da política europeia.  Ele afirma que os eleitores estão desalojando todos os políticos que estão no poder, em todos os países.  Sarkozy foi a oitava baixa ao longo dos últimos doze meses.  Por que isso está acontecendo?  Eis a resposta sugerida:
Os eleitores da Espanha, da Grécia, da França etc. entendem que as elites governamentais empurraram suas economias para espirais mortíferas, e estão expressando este seu descontentamento nas urnas.
A questão mais fundamental, no entanto, é esta: por que estas elites empurraram suas respectivas economias para esta suposta espiral mortífera?  Por que fervorosas elites keynesianas fariam tal coisa?
Não sejamos ingênuos.  O Ocidente tem sido gerido por elites keynesianas, ou por políticos seguidores de ideias keynesianas, desde 1930 — seis anos antes de Keynes oferecer sua ininteligível justificativa para as políticas então adotadas pelos políticos, por meio de seu livro "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda".
O Banco Central Europeu, seguindo ideias keynesianas, empurrou as economias europeias para um crescimento econômico artificial entre os anos 2001 e 2007.  As economias da periferia da Europa — o chamado "Club Med" — entraram em uma acentuada expansão econômica.  O mesmo ocorreu com o membro honorário do Club Med: a Irlanda.  Os valores dos imóveis na Irlanda quadruplicaram.  Parecia que tudo iria durar para sempre.  As elites — principalmente os economistas — não emitiram nenhum alerta, exceto os economistas seguidores da Escola Austríaca, que, como sempre, foram sumariamente ignorados como se fossem dinossauros.
E então veio a fase da contração econômica.  Tudo o que o Banco Central Europeu havia feito antes de 2007 — inflacionar —, ele passou a fazer ainda mais agressivamente desde 2008.  Os governos europeus incorreram em déficits ainda maiores.  Todos eles implementaram estímulos keynesianos.  Nada funcionou.  A Europa entrou novamente em recessão.
No primeiro semestre de 2010, investidores europeu finalmente se atentaram para o fato de que a população do Club Med não era capaz de concorrer economicamente com o resto da Europa.  Tais países apresentavam seguidos déficits comerciais com o resto da Europa.  Este pessoal calmo e relaxado estava vivendo de dinheiro tomado emprestado junto ao resto da Europa.  Seus respectivos governos faziam o mesmo.  Eles não tinham a intenção de quitar estes empréstimos.
E por que não?  Porque é isto que o keynesianismo ensina.  Empréstimos governamentais não serão pagos.  Nunca.  A dívida governamental irá aumentar continuamente.  E com ela, a prosperidade.
Dois anos atrás, o Partido Socialista da Grécia descobriu a real profundidade do buraco da dívida em que o governo havia se metido.  As taxas de juros então começaram a subir nos países PIIGS.  Estes governos estavam encurralados.  Eles não mais poderiam continuar incorrendo em déficits crescentes, pois o custo dos empréstimos estava aumentando.
E foi aí que a realidade do keynesianismo se manifestou: déficits, ao contrário do que imaginam keynesianos, realmente importam.  Dinheiro não é de graça.  Dívidas devem ser roladas de acordo com os juros de mercado.  O horror!
E foi aí que os governos do sul da Europa começaram a "controlar" um pouco mais os gastos.  Não muito, como se vê no gráfico acima.  Os déficits continuam em níveis inauditos: acima de 6% do PIB.
Os keynesianos rotularam isso de "austeridade".
Mas não é austeridade, é claro.  São déficits orçamentários em escala maciça.  Austeridade é quando os governos incorrem em superávits orçamentários e utilizam as receitas em excesso para pagar a dívida nacional.
Não há austeridade na Europa desde aproximadamente 1914.
O padrão-ouro vigente de 1815 a 1914 impingia austeridade.  Esta era sua principal função e seu maior serviço à humanidade.  Ele obrigava os governos ocidentais a se manterem austeros.  E isto permitiu o setor privado crescer a taxas aceleradas.
Keynesianos odeiam o padrão-ouro porque eles acreditam que gastos governamentais crescentes são o que permitem o aumento dos gastos em consumo; e os gastos em consumo — e não a poupança — são, para os keynesianos, a base da prosperidade.
O público, que prefere o consumismo à austeridade de uma poupança, gosta das políticas do keynesianismo.  Déficits intermináveis, endividamento sem dor, crescimento ininterrupto: os keynesianos prometem, e os eleitores acreditam.
Porém, o dia do acerto de contas chegou em 2010.  O dinheiro gratuito ficou caro.  A festa não acabou, mas alguns dos convidados foram mandados de volta pra casa, onde se juntaram aos jovens adultos que estão sentados no sofá assistindo à televisão, pois não há empregos.
O público se sente traído.  Os eleitores, milhões deles, acreditaram no sonho keynesiano.  Políticos prometeram realizar a façanha de transformar pedras em pães.  Os eleitores aplaudiram.
Mas os tempos mudaram, nos diz o artigo.
Infelizmente para a Europa e para o mundo atual, não há, em todo o continente, candidatos ou partidos em prol do crescimento econômico para oferecer um alívio dos programas de austeridade que estão reduzindo suas economias a pó.  Sem ter ninguém em quem votar, tudo o que o eleitorado europeu tem podido fazer é votar contra.  Eles passaram a explicitar seus protestos derrotando os políticos atualmente no poder.
Os políticos que estavam no poder fizeram promessas excessivas.  Eles há muito vinham dizendo para o eleitorado que déficits não importavam.  Déficits não importavam enquanto os bancos do resto da Europa continuassem emprestando para os PIIGS a taxas de juros de alemãs, cuja população é bem mais frugal.  E então veio a realidade.
A Europa como um todo está em recessão; Grécia, Espanha e Portugal estão em depressão.  O que as pessoas devem fazer se os chefs econômicos tanto à esquerda quanto à direita estão oferecendo o mesmo e venenoso menu de "austeridade"?
Orçamentos equilibrados continuam sendo apenas uma miragem.  Cortes de gastos excessivamente tímidos, que confessadamente têm o objetivo extremamente modesto de reduzir os déficits para altos 3% do PIB em incríveis dez anos, são hoje tidos como "venenoso menu de austeridade".  Colocando em uma terminologia mais familiar, há um excesso de pedras e pouquíssimos pães.  Os eleitores não irão tolerar isso.
A razão por que não há chefs econômicos promovendo o crescimento é simples: alguém tem de financiar o crescimento dos gastos do governo.  Quem fará isso?  Quem confia nos PIIGS?
Quanto mais alto os eleitores protestam contra a austeridade, menor será o número de emprestadores — no caso, investidores dispostos a emprestas a taxas abaixo de 10%.
Peste!
O artigo, no final, chega ao seu objetivo.
Então, o que aconteceu na Europa?  A resposta curta é "peste".  A Peste Negra do século XIV foi causada pela Yersinia pestis bacterium, que foi disseminada por ratos.  A peste atual é resultado do keynesianismo, que está sendo difundido pelos economistas dos departamentos das principais universidades do mundo e também do The New York Times.  Infelizmente, ao contrário da Yersinia pestis, o keynesianismo é imune a antibióticos.
Como o artigo define keynesianismo?  Erroneamente.  Ele diz que keynesianos defendem aumento de impostos e cortes de gastos.
Austeridade, como está sendo atualmente praticada na Europa, baseia-se na crença keynesiana de que aumentos de impostos e cortes de gastos do governo possuem o mesmo efeito sobre os déficits do governo e sobre a economia.  Com efeito, as mais virulentas cepas do keynesianismo fazem as pessoas acreditar que aumentar a alíquota máxima do imposto de renda e aumentar os gastos governamentais pode realmente estimular o PIB, pois "os ricos" possuem uma "propensão marginal para poupar" mais alta do que os beneficiados por repasses governamentais.
François Hollande, o vencedor das eleições presidenciais da França, é um keynesiano.  Ele acredita que elevar a alíquota máxima do imposto de renda da França para 75% ao mesmo tempo em que contrata mais 60.000 professores sindicalizados irá melhorar as coisas.
Como assim?  O que o um político declaradamente socialista tem a ver com o keynesianismo?  Keynesianismo é aquilo que Paul Krugman defende: mais gastos e mais déficits, tudo em conjunto com uma grande expansão monetária feita pelo Banco Central para poder financiar esta expansão.
Qual político ou economista keynesiano já se pronunciou abertamente a favor de cortes de gastos, ou seja, austeridade?  Economistas austríacos já.  Ron Paul já.  É por isso que os austríacos e Ron Paul são marginalizados pela mídia keynesiana, que os considera excêntricos.
Para um político cuja mente está infectada de keynesianismo, faz todo o sentido tentar reduzir um déficit orçamentário por meio de uma combinação de aumento de impostos e cortes de gastos, com o equilíbrio entre os dois sendo determinado por alguma combinação entre considerações políticas e "equidade".
Há muitos políticos na Europa que impuseram mais tributos sobre os ricos.  Os eleitores sempre os encorajaram a fazer isso, e adoravam quando isso era feito.  Os eleitores hoje estão injuriados com os "cortes" de gastos.  Cortes de gastos reduzem o fluxo de fundos para burocratas do governo e para os clientes do estado.  É por isso que os sindicatos gregos fazem baderna.
O keynesianismo tradicional clama por mais gastos, mais endividamento e — caso os investidores privados exijam juros mais altos — mais expansão monetária feita pelo Banco Central para comprar mais títulos da dívida do governo.  O artigo espertamente rejeita esta monetização.  Mas não clama por um padrão-ouro.  Em vez disso, defende o euro.  Por isso, o artigo sofre de uma ilusão: imaginar que o euro não é somente mais um veículo inflacionário; imaginar que ele seja superior a dracmas geridos por keynesianos.
A hierarquia política keynesiana impôs o euro sobre os eleitores em 1999.  Os porta-vozes das elites vêm condenando a saída da Grécia da zona do euro.  Os tecnocratas gregos, que não foram eleitos pelo povo, assim como os tecnocratas de todo o resto da Europa, ou são ex-empregados do Goldman Sachs ou serão futuros empregados dele.  Eles estão agora sendo desalojados pelo eleitorado.  Os eleitores são populistas e socialistas.  Eles são simpatizantes da elite keynesiana apenas durante a fase expansionista do estado assistencialista.  Quando a conta chega, eles passam a defender emissão monetária feita individualmente pelos governos nacionais, tributação dos ricos, sindicalismo e aumentos nos gastos governamentais.
Conclusão
O keynesianismo está em uma espiral de morte.  Na mesma situação está o socialismo populista.  E o mesmo ocorre com o sistema monetário fiduciário, de características fascistas (corporativistas).  Todos estão em espirais mortíferas porque todos rejeitam esta premissa: "Impostos menores aumentam a liberdade".
A liberdade irá vencer.  Esta é uma afirmação escatológica, eu sei.  Uma das maneiras como ela irá prevalecer é por meio da falência da ordem social keynesiana, que defende mais impostos, mais regulamentações, mais déficits, mais inflação.
Para haver austeridade genuína, o governo tem de entrar em dieta: seus gastos devem ser genuinamente cortados.
É isso o que o eleitorado europeu não quer.  Mas é isso o que ele vai receber.
"Nada de menos austeridade.  Mais austeridade!"

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website.

domingo, 14 de agosto de 2011

O comeco do fim do Estado assistencialista - Gary North

Um leitor, Eduardo Rodrigues, do Rio de Janeiro, fez um curto, incisivo, objetivo e perfeito comentário a este outro post neste blog, este aqui:

A falencia do Estado (supostamente) de bem-estar - Ubiratan Iorio
Desafio qualquer ser vivente neste "nosso planetinha", como diria um cidadão que já imaginou um dia que a Terra pudesse não ser redonda, a contestar um milímetro do diagnóstico oferecido aqui pelo professor Ubiratan Iório.
Paulo Roberto de Almeida

A FALÊNCIA DO WELFARE STATE"...
Ubiratan Iório, 30/06/2010
(ler o artigo dele, neste link)

O comentário foi este:

Eduardo Rodrigues, Rio disse...
Os eleitores ocidentais votaram por um estado assistencialista. A maioria está viciada em programas de transferência de renda. Eles realmente acreditam que, se o governo adotar um plano de austeridade — entrando em uma dieta fiscal —, isso irá causar uma recessão. Logo, eles estão determinados a manter vivo o estado assistencialista. Porém, esse arranjo está em inexorável marcha rumo ao colapso. Por quê? Porque o estado assistencialista sempre dependeu da capacidade de seus governos se endividarem a juros baixos.

Gary North
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1071

Transcrevo agora o artigo citado de Gary North, que está inteiramente na linha do artigo transcrito acima de Ubiratan Iorio.
Paulo Roberto de Almeida

O atual arranjo monetário está rachando
Gary North
Instituto Ludwig Von Mises Brasil, quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Patinadores de gelo que gostam de praticar seu esporte em lagos ou em grandes lagoas sabem desde cedo que não devem patinar sobre o gelo fino. O som de gelo rachando é um sinal de que eles devem começar a se dirigir rapidamente para a terra firme.

Na sexta-feira, 5 de agosto de 2011, o mundo ouviu o gelo rachando. Ao final daquele dia, a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou a classificação da dívida do governo americano em um ponto: de AAA para AA+.

A decisão do Congresso americano, no dia anterior, de elevar o teto da dívida do governo em US$ 2 trilhões foi uma verdadeira fissura no gelo. A Standard & Poor's apenas tornou a rachadura semi-oficial. "Sim, esse barulho ruidoso que vocês ouviram na terça-feira é realmente o que vocês estão pensando."

E isso não foi tudo. O Banco Central Europeu (BCE), na sexta-feira passada, anunciou que iria fazer mais uma reunião de fim de semana para lidar com mais uma crise no mercado de títulos da dívida dos governos europeus. Desta vez, os papeis da dívida emitidos pelos governos da Itália e da Espanha estavam sob intenso ataque no mercado de títulos. Os investidores estavam exigindo juros maiores.

O som da rachadura foi intenso.
No domingo, o Banco Central Europeu anunciou que irá começar a comprar diretamente títulos emitidos pelos tecnicamente insolventes governos da Itália e da Espanha. Em outras palavras, o BCE capitulou. Ele faz a mesma coisa em relação à dívida do governo grego. Pelo que foi acordado no Tratado de Maastricht e no Tratado de Lisboa, ele não pode fazer isso. Mas quem liga para acordos firmados por governos? Você não pode fazer omeletes sem quebrar alguns ovos. Ou sem que a galinha os tenha posto.

O ingrediente essencial dessas omeletes é a moeda fiduciária de curso forçado. O BCE irá criar o dinheiro necessário para comprar esses títulos da dívida. E há uma enormidade de títulos a serem comprados. A Itália tem aproximadamente 2 trilhões de euros em título. A Espanha, por volta de 1 trilhão.

Itália e Espanha são devedoras monumentais. Elas não são devedoras insignificantes como a Grécia. Há uma quantia fabulosa de dinheiro investida nos títulos da dívida destes dois PIIGS. Os banqueiros da Europa pensaram: "Nenhuma nação ocidental jamais dará um calote". Ato contínuo, eles vorazmente compraram esses papeis da dívida. Agora estão na iminência de sofrer prejuízos de 50% ou mais com esses investimentos ruins. Os grandes bancos não têm nenhuma intenção de aceitar esse prejuízo. E por que deveriam? O BCE está ali pronto para socorrê-los. Socorrer os grandes bancos é a tarefa #1 de todos os bancos centrais. Eles foram criados para isso. E também para financiar dívidas dos governos. Não há nenhum motivo para os grandes bancos se preocuparem.

O BCE não precisa comprar toda essa dívida. O simples fato de ele deixar claro que está sempre em prontidão para comprar parte da dívida já é o suficiente para acalmar temporariamente os mercados e, com isso, manter os juros desses títulos abaixo dos 6% que estavam sendo obrigados a pagar durante a semana passada. Mas este é apenas mais um caso de postergar o inevitável, de apenas reduzir a velocidade quando já se está na estrada da insolvência.

O BCE, obviamente, tem de fazer alguma cena. E o que ele faz são apenas alguns protestos superficiais acerca de suas decisões. Seus lábios dizem "não, não", mas seus olhos dizem "sim, sim". O BCE emite declarações sobre sua responsabilidade de manter a inflação de preços baixa e, em seguida, ele cria dinheiro para comprar títulos de países caloteiros.

Nota: todos os países são caloteiros. Mas alguns são mais caloteiros que outros.

Os gorgolejos de Merkel
Nesse sentido, o BCE é igual à primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. Ela também faz declarações zangadas do tipo "não haverá mais socorros". Mas sempre que ocorre uma grande crise financeira em decorrência de uma ameaça de calote proferida por um berrante membro do PIIGS, ela, Sarkozy e demais asseclas se reúnem em um fim de semana e propõem uma nova rodada de socorro. Gosto de pensar nas declarações preliminares de Merkel como gorgolejos. Por que o som de um gorgolejo? Porque ela sempre engasga com as palavras que logo em seguida será obrigada a engolir.

Merkel faz barulhos de gorgolejo para pacificar os eleitores alemães. Os eleitores alemães têm uma vaga noção de que são eles que acabarão tendo de pagar pelos erros dos banqueiros alemães, dos banqueiros franceses, e de todos os outros banqueiros. E estão corretos. São eles que pagarão.

O que os eleitores alemães ainda não entenderam é que os banqueiros sempre souberam desde o início que haveria pacotes de socorro em caso de dificuldades. Os bancos espertamente perceberam que seriam socorridos. Eles emprestaram dinheiro aos PIIGS. Era um dinheiro muito fácil. Não havia risco. Mas, você diria, havia sim algum risco. Sim, sim — mas não para os grandes bancos. O BCE, o FMI e outras agências de socorro aceitariam intervir para corrigir as consequências das decisões ruins dos bancos.

Exatamente como fizeram o Banco Central americano e o Tesouro em setembro e outubro de 2008. Eles saíram comprando as dívidas podres em posse dos maiores bancos comerciais americanos, tudo ao seu valor de face.

O que os eleitores farão em relação a tudo isso? Nada que traga grandes consequências. Poucos eleitores entendem o que está acontecendo, mas estes não têm meios para protestar efetivamente. Os legislativos seguem dando continuidade ao processo de resgate. Não há nenhum projeto de corte de gastos. Não há nenhuma intenção de se reduzir as dívidas dos governos. Nunca houve.

Os eleitores alemães não têm como impor restrições ao BCE. O comitê alemão do BCE se limita a fazer gorgolejos. Eles votam 'não' em todas as reuniões do BCE, já sabendo que seus votos são irrelevantes para o resultado final. Eles não têm votos suficientes na hierarquia do BCE para interromper sua política de comprar títulos dos PIIGS. Eles apenas se limitam a acompanhar a maré e a fingir alguma insatisfação. Tudo cena para mostrar ao eleitorado alemão o quanto eles são atuantes.

Só há uma solução para a Alemanha: retirar-se do Sistema Monetário Europeu (SME). A Alemanha pode abandonar o euro. O país possui uma posição econômica forte o bastante para fazer isso. O SME permite que as nações tenham seus próprios bancos centrais — que são meras sucursais do BCE —, mas não suas próprias moedas. A Alemanha pode se separar. Mas isso irá gerar um revertério político doméstico de proporções monumentais. E isso não é algo provável no futuro próximo.

Os planejadores da Nova Ordem Mundial sempre planejaram utilizar a Europa como primeiro passo: o modelo de todas as coisas boas que uma integração econômica centralmente planejada e baseada em tratados pode atingir.

Mas esse grande experimento está se desfazendo perante nossos olhos. Os planejadores da Nova Ordem Mundial não conseguiriam criar uma Nova Ordem Mundial europeia de uma só vez. Eles sabiam disso. Eles foram fazendo isso pouco a pouco, um tratado de cada vez, durante 50 anos, começando pelo Tratado de Paris em 1951. Depois veio uma série de tratados assinados em Roma.

O problema é este: eles não conseguiram os votos necessários para fundir todos os bancos centrais em um só. Os outros ainda existem como fantoches, representantes sem autoridade. Mas existem. Os eurocratas também não conseguiram criar uma agência fiscal comum que controlaria os déficits de cada nação. Portanto, o sistema possui um ponto fraco: parlamentos nacionais que podem incorrer em déficits operando sob a chancela de um banco central comum cujo principal propósito é extra-oficial — socorrer grandes bancos.

Austeridade (para os governos)
Este sistema está agora visivelmente se desintegrando. Líderes políticos do norte da Europa estão pedindo aos PIIGS que adotem "austeridade" econômica — redução dos déficits dos governos. A Irlanda curvou-se. Prometeu reduzir seu déficit. Mas fez isso somente porque o partido político (Fianna Fáil) que estava no poder no fim de 2010 concordou com termos impostos pelo FMI para receber novos empréstimos — empréstimos esses que os líderes desse partido, apenas uma semana antes, haviam negado ser necessários. O eleitorado irlandês não teve voz. Alguns meses mais tarde, nas eleições, eles despojaram esse partido do poder. Mas já era tarde demais.

Como resposta a isso tudo, o jornal Irish Times publicou a charge política mais acurada e mais obscena que já vi ser publicada em um jornal da grande mídia. Mas os protestos se limitaram a apenas isso: protestos simbólicos.

Por que o governo da Irlanda se curvou? Porque ele já estava no limite. Ele já havia estatizado seus bancos e assumido suas dívidas. E agora os bancos estavam prestes a quebrar. O Irish Times descreveu o dilema:

O ministro das finanças Brian Lenihan disse que o socorro era necessário porque os bancos irlandeses haviam se tornado completamente dependentes de empréstimos concedidos pelo Banco Central Europeu, e, assim como o governo, correm o grande risco de ficarem de fora do mercado internacional de crédito por pelo menos um ano.

Ele disse que os seis bancos da Irlanda, cinco dos quais já estão nacionalizados ou estão parcialmente sob o controle do estado, teriam seu tamanho reduzido, seriam fundidos e possivelmente vendidos.

"Por causa dos grandes riscos que os bancos irlandeses assumiram no início desta década, eles se tornaram um risco enorme não apenas para este país como também para a zona do euro como um todo", disse ele.

Os bancos irlandeses investiram agressivamente em um desenfreado mercado imobiliário aqui na Irlanda e lá fora. Após a crise do crédito de 2008 ter feito com que os preços dos imóveis entrasse em queda livre, o governo tentou impedir que os bancos quebrassem assumindo o controle de todas as suas dívidas. Essa promessa sem precedentes — feita para manter a confiança dos investidores no país — não pode ser mantida sem um pacote de socorros para o governo, como o próprio acabou finalmente sendo forçado a admitir.

Isso soa familiar? Em todo o ocidente, os bancos concederam empréstimos para atividades de alto risco. O mercado imobiliário americano e europeu, de 2001 a 2007, foi totalmente aditivado pela criação de moeda fiduciária pelos bancos centrais e pelo sistema bancário de reservas fracionárias. Mas agora aprendemos que as dívidas de determinados governos são apenas marginalmente melhores do que os empréstimos ruins concedidos ao mercado imobiliário. E esses empréstimos ainda têm de ter seu valor contábil reduzido pelos bancos. Se isso ocorrer, o capital dos bancos será reduzido, podendo levar a uma quebradeira generalizada.

O aumento dos juros e os credores dos PIIGS
Esse risco de insolvência governamental é muito pior para os bancos. Por quê? Porque embora os governos possam assumir e esconder os empréstimos ruins feitos pelos bancos, eles não podem esconder sua própria e crescente insolvência. O mercado de crédito continua aumentando os juros que os emprestadores estão dispostos a aceitar. E os governos têm de pagar esses juros cobrados, o que está comendo seus orçamentos.

Os eleitores dos PIIGS podem ir às ruas protestar contra cortes no orçamento e contra aumentos de impostos. Mas isso não altera o fato de que emprestadores privados não mais estão dispostos a emprestar dinheiro a esses governos a juros baixos. Os protestos, na verdade, acabam servindo para persuadir os emprestadores de que determinados países dos PIIGS possuem uma classificação de crédito ainda pior. Consequentemente, os emprestadores elevam os juros novamente.

As únicas saídas são estas: (1) equilibrar o orçamento, (2) encontrar emprestadores que não estejam preocupados com riscos.

Os governos dos PIIGS precisam de uma desculpa para poder cortar gastos assistencialistas. Quando o BCE ou o FMI emprestam dinheiro e impõem condições, os políticos podem culpar estes emprestadores insensíveis. Essa estratégia foi tentada pelo último governo irlandês e não deu certo. Ele caiu. Mas isso de nada adiantou para os irlandeses, pois o novo governo eleito também aceitou docilmente os termos dos empréstimos.

Os PIIGS podem, é claro, pegar esse dinheiro que lhes foi emprestado e em seguida se recusar a obedecer aos termos impostos. Se um governo não fizer isso — ou seja, se ele docilmente aceitar todos os termos impostos —, ele pode ser despejado nas próximas eleições. Porém, como os irlandeses descobriram, isso não muda nada. O novo governo está obedecendo direitinho aos termos impostos pelo FMI.

Em algum momento, os eleitores de algum país dos PIIGS irão despojar o governo vigente e substituí-lo por um governo que irá enganar o FMI e o BCE. Esse novo governo não irá cortar gastos. Mas aí os juros sobre os empréstimos para esse governo irão subir acentuadamente. O governo terá então de se decidir entre: (1) cortar gastos assistencialistas para poder pagar os juros ou (2) dar um calote.

Há uma terceira opção: sair do Sistema Monetário Europeu. Colocar seu banco central doméstico no controle da situação. Dizer a ele para comprar os títulos da dívida do país. Em outras palavras, esse governo estará agora livre para inflacionar. Ele dará o calote na sua dívida por meio da inflação monetária.

Os eleitores europeus estão paralisados
Os eurocratas dizem continuamente que isso não irá ocorrer. Mas é claro que irá ocorrer. Os políticos, alguma hora, terão de atender aos apelos de seus eleitores, que sempre querem benesses de seus governos. Mas os eleitores não obterão benesses; eles obterão apenas dinheiro desvalorizado. Mas tal situação tem se revelado bastante aceitável para a maioria dos eleitores ocidentais desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Sim, os eleitores alemães estão dispostos a protestar contra a inflação, pois, dentre os europeus, são os únicos que se acostumaram com uma inflação de preços baixa. Ademais, a Alemanha continua sendo uma nação exportadora. Sua economia está se saindo bem dentro da União Europeia. Mas isso gera um problema. Para que esse arranjo continue funcionando, o país tem de socorrer os PIIGS por meio de subsídios governamentais diretos. O país também tem de concordar com o BCE e apoiá-lo quando ele decide imprimir dinheiro para comprar títulos da dívida dos PIIGS. Os alemães podem não gostar desse arranjo, mas a única maneira de sair dele é impedindo o seu governo de conceder pacotes de socorro a outros governos. E, para fazer isso, seria necessário retirar a Alemanha do Sistema Monetário Europeu.

Ato contínuo, a Alemanha teria de lidar com dois enormes problemas. Primeiro, sua nova moeda adotada iria se valorizar em relação ao euro. Isso iria reduzir as exportações alemãs. Os economistas defensores do setor exportador (leia-se mercantilistas) começariam a gritaria em prol de uma desvalorização da moeda. O lobby da indústria de exportação sempre é bem sucedido politicamente em países que apresentam superávit na balança comercial. O mercantilismo é ainda uma grande força política em países com superávit no balanço de pagamentos. "Não matemos a galinha dos ovos de ouro!"

O segundo problema seria o arrocho sobre os bancos alemães. Esses bancos emprestaram bilhões de euros aos PIIGS. Caso estes países quitem seus empréstimos — algo bastante improvável —, eles o farão em euros. Porém, o euro estará desvalorizado em relação ao recém-ressuscitado marco alemão. Logo, mesmo que haja algum pagamento de juros sobre os empréstimos concedidos pelos bancos alemães, tais pagamentos serão feitos em moeda depreciada. Os bancos sofrerão prejuízos em seus balancetes. Seu capital será reduzido. Eles emprestarão menos para os alemães. Os juros subirão. A economia entrará em recessão.

Os eleitores ocidentais votaram por em estado assistencialista. A maioria está viciada em programas de transferência de renda. Eles realmente acreditam que, se o governo adotar um plano de austeridade — entrando em uma dieta fiscal —, isso irá causar uma recessão. Logo, eles estão determinados a manter vivo o estado assistencialista. Porém, esse arranjo está em inexorável marcha rumo ao colapso. Por quê? Porque o estado assistencialista sempre dependeu da capacidade de seus governos se endividarem a juros baixos.

Um pesadelo keynesiano
Economistas keynesianos sempre basearam todos os seus argumentos em uma suposição: "empréstimos concedidos ao governo são seguros". Essa era a visão de Keynes, afirmada obscuramente em seu A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936).

Eis a lógica keynesiana: Emprestadores subitamente ficam com receio de emprestar. Isso gera redução no consumo. A economia entra em recessão e permanece em recessão. Esse é o keynesianismo resumido.

Quer mais? Aqui vai mais. Emprestadores querem segurança. Eles são receosos de emprestar para mutuários privados, que podem dar calote. Assim, eles preferem emprestar para governos. O governo, por sua vez, utilizará esse dinheiro para custear vários projetos que o livre mercado não quis empreender por julgá-los dispendiosos e geradores de prejuízo. Isso faz com que a economia volte a crescer.

Conceitualmente, isso é totalmente parvo. Suponho que você consiga ver o porquê. Emprestadores inevitavelmente terão de colocar seu dinheiro em algum lugar, a menos que gastem tudo consumindo — algo que os economistas keynesianos também consideram uma escolha excelente. Emprestadores que possuem dinheiro suficiente para afetar a economia não guardam dinheiro vivo dentro da gaveta ou debaixo do colchão. Eles colocam em bancos ou em fundos de investimento. Se esse dinheiro não for emprestado para o governo gastá-lo em algum projeto centralmente planejado ou comprando de votos, ele inevitavelmente irá para algum outro investimento. Isso deveria ser óbvio para qualquer pessoa que tenha a mais mínima noção de como funciona o sistema financeiro.

É por isso que o keynesianismo é conceitualmente obtuso. Entretanto, a maioria dos economistas com Ph.D. se recusam, por motivos profissionais, a enxergar isso. Eles não leram o livro de W.H. Hutt, The Theory of Idle Resources (1939).

Essa crucial suposição — "emprestar para o governo é quase risco zero" — está finalmente caindo em descrédito. E está senda desacreditada justamente pelas ações dos políticos. Eles são incapazes de manter o orçamento de seus governos sob controle.

É por isso que os economistas keynesianos ficaram apopléticos com o rebaixamento da classificação de risco dos títulos da dívida americana. Eles também ficaram enfurecidos com o fato de que a sagacidade do BCE ao decidir ajudar diretamente a Itália e a Espanha esteja sendo questionada. A suposição keynesiana sempre foi a de que emprestadores deveriam investir dinheiro em títulos do governo. O mercado de títulos do governo é a base de todas as teorias keynesianas sobre gastos contracíclicos dos governos.

Em períodos de expansão econômica, jamais ouvimos keynesianos declararem em uníssono que este é o momento de o governo cortar gastos e começar a pagar a dívida. Entretanto, sempre se diz que Keynes também defendia políticas contracíclicas em períodos de expansão econômica, e não apenas em períodos de recessão. Isso significa que o governo deve gerar superávits orçamentários para reduzir a dívida em épocas de crescimento econômico. Curiosamente, jamais foram apresentadas citações de Keynes defendendo tal postura. Da mesma forma, jamais vemos declarações de economistas keynesianos defendendo a redução da dívida.

E não há motivos para isso acontecer. A economia keynesiana é a economia do assistencialismo. O keynesianismo sempre foi uma fachada para a distribuição de riqueza. Oficialmente, essa distribuição de riqueza é justificada em nome de se estar ajudando aos pobres. Operacionalmente, a distribuição de riqueza ocorre em benefícios dos grandes bancos e do setor público.

Sempre que ocorre uma crise financeira, governos e bancos centrais socorrem os grandes bancos. Invariavelmente, os economistas keynesianos sempre aplaudem essa política durante períodos de crise. E então, após a poeira baixar e os bancos socorridos estarem maiores e mais poderosos do que antes, os keynesianos reclamam que o governo socorreu os poderosos mais uma vez.

Não é que os keynesianos sejam lentos para aprender. O problema é que eles não querem aprender.

Conclusão
Estamos testemunhando a rachadura do logo de gelo. O público está patinando sobre o lago. Eles estão ouvindo o som das rachaduras. Alguns poucos patinadores, os mais espertos, já começaram a correr em direção à terra firme. O ouro chegou a US$ 1.750 na segunda-feira em resposta à rachadura de sexta-feira, provocada pela Standard & Poor's.

Dezenas de milhões de americanos e um número igualmente grande de europeus ficarão encurralados quando o Grande Calote chegar. Sim, Alan Greenspan negou que isso possa acontecer algum dia.

"Os Estados Unidos podem pagar qualquer dívida que tenham, pois sempre podemos imprimir dinheiro para fazer isso. Portanto, a probabilidade de calote é zero", disse Greenspan em uma entrevista à rede NBC.

Podemos ficar mais tranquilos agora.

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website.
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Desmantelando o keynesianismo - Gary North

Quatro imagens contra o keynesianismo
Gary North
Artigos - Economia
Instituto Von Mises Brasil, 04 Agosto 2010

Gary North ensina como reduzir a pó os sofismas do keynesianismo, a teoria econômica idolatrada pelos sociais-democratas, nazistas e socialistas, responsável pelo crescimento da opressão estatal e de grandes colapsos econômicos nas últimas décadas.

Quatro imagens fornecem as ferramentas conceituais necessárias para refutar a teoria econômica keynesiana: a arma, a carteira, o título da dívida e a impressora de dinheiro. Lembre-se delas todas as vezes que você ler uma propaganda keynesiana exaltando os últimos planos de gastos do governo. Explico.

Pense que você está em um debate público. Se você quiser arruinar um oponente intelectual em um debate, descubra qual o seu principal ponto fraco e atenha-se a ele. Nunca o deixe escapar. Garanta que a platéia sairá do debate tendo em mente todas as refutações que você apresentou.

Ao se preparar para um debate, lembre-se sempre desse princípio da comunicação eficaz: "É mais fácil esquecer uma formula do que uma imagem mental".

Economistas acadêmicos amam fórmulas. E essa é justamente sua maior vulnerabilidade. Ao contrário das fórmulas da física, as fórmulas dos economistas escondem profundos erros conceituais; erros que simples imagens mentais mostram ser um absurdo total. O indivíduo comum pode prontamente perceber e entender esses erros por meio do uso de simples imagens mentais. Já os economistas acadêmicos, por outro lado, são deliberadamente treinados em sua pós-graduação para ignorar essas imagens. Eles são facilmente cegados por fórmulas. Isso os coloca em desvantagem nos debates públicos, especialmente quando têm de debater membros de uma escola de pensamento econômico que não utiliza fórmulas: a escola austríaca de economia. Irei agora dar uma demonstração de como esse princípio funciona num debate.

A FÓRMULA CENTRAL DO KEYNESIANISMO

A descrição da economia keynesiana na Wikipédia é um bom lugar para se começar. Aqui, temos a fórmula keynesiana presente em todos os livros-texto:

Em representação científica, a Fórmula Keynesiana consiste da seguinte composição:

C + I + G + X - M = Y(PIB)

que significa:

Consumo + Investimento + Gastos Governamentais + Exportações - Importações = Produto Interno Bruto

Isso é coisa padrão. Começa aqui:

Os gastos são o núcleo da economia keynesiana - que formam o gasto agregado. Consumo (C) é uma série de decisões individuais de alocação de recursos por toda a sociedade. Investimento (I) é uma série de decisões individuais de alocação de recursos por toda a sociedade. Exportações (X) são uma série de decisões individuais de alocação de recursos por toda a sociedade. O mesmo se aplica às importações.

Já os gastos governamentais representam um tipo diferente de decisão de alocação. "Está vendo essa arma? Está vendo para onde ele está apontada? Passe a carteira!"

O estudante pode ver que o gasto total se baseia em todas as quatro letras da fórmula. C, I, X e M se originam das ações dos proprietários originais dos recursos. Já o G não se origina das ações dos proprietários originais dos recursos. G se origina da ação do seu novo proprietário, após múltiplas transações feitas sob a mira da arma.

G não cria nada. G confisca. G não pode gastar nada que não tenha antes extraído à força dos consumidores ou investidores.

C, I, X e M são baseados na produção. Eles representam forças criativas. G é baseada no confisco. Não é uma força criativa. Tudo o que é gasto por G é feito à custa de C, I, X ou M. Quando G gasta, ele o faz à custa de todos os outros.

Um estudante perspicaz é esperto o bastante para imaginar o que a maioria das pessoas faz quando constantemente ameaçadas por ladrões com armas, mesmo quando os ladrões carregam distintivos. Elas não irão colocar todo o seu dinheiro em suas carteiras. Elas irão esconder parte do seu dinheiro. Elas não irão gastá-lo. Pessoas que carregam distintivos e armas chamam esse ato de entesouramento da moeda. Trata-se de Algo Muito Ruim, eles nos asseguram.

PEGANDO EMPRESTADO DE PEDRO PARA SUBSIDIAR PAULO

É aqui que Keynes vem ao socorro dos governos de todos os lugares. Para evitar que as pessoas entesourem seu dinheiro - mantendo-o assim a salvo da sanha tributária, mas consequentemente levando a uma redução do gasto agregado -, Keynes aconselhou aos governos oferecerem títulos de dívida que paguem juros. Dessa forma, os governos poderiam obter empréstimos, gastar e, com isso, manter o nível do gasto agregado. "Escondam as armas. Ofereçam títulos."

Apenas estudantes muito espertos irão fazer essas duas perguntas óbvias:

De onde o governo irá tirar dinheiro para pagar esse empréstimo e seus juros?

De onde as pessoas irão tirar dinheiro para emprestar ao governo?

As respostas dos políticos para a primeira pergunta é fácil: (1) nós iremos contratar mais homens com distintivos e armas; (2) nós iremos oferecer mais títulos de dívida. Porém, essas não são respostas elucidativas; são apenas embromação, pois a pergunta continua sem resposta.

Então Keynes acrescentou isso: "Imprimam mais dinheiro". Ele especificamente ensinou que os salários reais iriam cair junto com o poder de compra em tempos de inflação de preços. Membros dos sindicatos iriam aceitar esses menores salários reais, Keynes ensinou. Isso iria levar a um maior emprego: salários menores significam mais demanda por mão-de-obra. Ele implicitamente supôs que os sindicalistas eram tolos, assim como os economistas que eles contratariam para fazer negociações.

E quanto à segunda pergunta? De onde os emprestadores tirarão dinheiro para emprestar para o governo? A resposta de Keynes fazia aparente sentido naquela época, quando as pessoas guardavam ouro (nos EUA) ou moeda corrente (em todo o resto do mundo) em casa. Porém, após 1934 nos EUA, quando Seguro Federal para Depósitos Bancários foi criado (seguro esse que hoje existe em todo o mundo), o argumento de Keynes perdeu o sentido. As pessoas passaram a depositar seu dinheiro nos bancos. Os bancos então passaram a emprestar esse dinheiro. Dali em diante, o governo poderia emitir vários títulos e incorrer em grandes déficits orçamentários, que os bancos iriam utilizar o dinheiro de seus correntistas para comprar esses títulos do governo. O problema é que os empreendedores agora não teriam mais a mesma facilidade de antes para conseguir empréstimos junto a esses bancos, que passaram a canalizar o dinheiro para os títulos do governo.

Keynes imaginou que, sob esse arranjo, o gasto agregado não iria se alterar. É aí que sua teoria desmorona.

Mesmo no primeiro caso - entesouramento da moeda -, o argumento já não fazia sentido em 1933. Quando a moeda é entesourada, os preços têm de cair. Quando os preços caem em consequência do entesouramento - que representa um aumento da demanda por moeda -, a moeda volta a ser gasta. Os vendedores tornam-se sedutores: "Tenho uma grande promoção para você!" Com isso, as pessoas deixam de entesourar e passam a gastar. Se os preços são livres e flexíveis - e em um livre mercado eles são -, então o governo não precisaria emitir títulos para fazer com que as pessoas voltassem a gastar. Bastaria apenas remover todas as restrições legais que impedem esse rearranjo de preços: tarifas, quotas e políticas de preços mínimos.

Tão logo o estudante entenda isso, o professor poderá ir adiante e passar da lógica para a retórica: persuasão por meio da imagística.

SUBSTITUA IMAGENS POR FÓRMULAS
Eis o verbete da Wikipédia para gastos do governo.

Gastos governamentais ou despesas governamentais consistem em compras do governo, as quais podem ser financiadas por senhoriagem [inflação], impostos ou empréstimos contraídos pelo governo. Os gastos governamentais são considerados um dos principais componentes do produto interno bruto.

John Maynard Keynes foi um dos primeiros economistas a defender déficits governamentais como parte de uma política fiscal para curar uma contração econômica. Na economia keynesiana, acredita-se que um maior gasto governamental eleva a demanda agregada e aumenta o consumo.

Aqui, eu sugiro o seguinte. Faça a pergunta novamente: "Como o governo irá fazer para pegar o dinheiro da carteira ou da conta bancária dos emprestadores sem que isso reduza os gastos deles?"

Continue mencionando 'carteira'. As pessoas conhecem e entendem de carteiras. Elas não entendem muito é de fórmulas. Continue mencionando 'impressoras'. Elas sabem o que é falsificação.

O estudante deverá sempre ter a imagem mental de uma arma, de uma carteira, de um título de dívida e de uma impressora. Uma fórmula não transmite conhecimento eficazmente. Uma imagem mental, sim. As pessoas esquecem fórmulas mais rapidamente do que esquecem imagens mentais.

O núcleo da economia keynesiana é este: atribuir uma produtividade econômica autônoma à agência em posse da arma. De alguma forma, o governo pode elevar o gasto agregado da economia (1) sem estar produzindo nada de novo e (2) sem que isso reduza os gastos em outros lugares da economia. Keynes nunca explicou como isso seria possível. Nem seus discípulos.

Eis o núcleo do erro keynesiano: "G pode aumentar sem subtrair de C, I, X e M". É fácil mostrar isso pela fórmula. Mas ainda é apenas uma fórmula. Tente transformar a fórmula em uma imagem mental.

Diga ao estudante, "Quando você vir G, pense numa arma" [em inglês é mais fácil: G = Gun]. Essa imagem mental destroi a autoridade da fórmula.

E o estudante vai retrucar: "Toda a economia keynesiana não pode ser resumida apenas nisso". Mas pode. Com efeito, toda a economia keynesiana é apenas isso. E ele prossegue: "Alguém teria apontado isso ainda em 1936 se isso fosse tudo o que há nela." Poucos, além de Mises e Hayek, fizeram isso. E esses poucos passaram a ser ignorados após 1948, o ano em que Paul Samuelson publicou seu livro texto de economia.

Como assim? Por que toda essa platitude foi aceita? Por causa daquilo que George Orwell observou em 1946, o mesmo ano em que Keynes morreu. "Enxergar o que está na frente do nariz exige um esforço constante".

Seja a criança na parada que grita: "O imperador está nu!" Comece com a explicação mais simples - a visual - sobre o núcleo do colossal erro de Keynes. Não deixe passar batido.

Comece com a arma, a carteira, o título da dívida e a impressora. A fórmula do PIB é simplesmente uma fachada para agradar economistas.

A quem interessar possa, estou desenvolvendo um projeto de análise crítica da teoria keynesiana sob a perspectiva da escola austríaca. Para mais informações, venha aqui.

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website.

Publicado no site do Instituto Ludwig von Mises Brasil com o título: Quatro imagens mentais para imunizar pessoas sensatas contra o keynesianismo

Tradução: Leandro Augusto Gomes Roque