O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador Itamaraty. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Itamaraty. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 25 de junho de 2019

Itamaraty em decadência: FSP repercute matéria do Guardian

A jornal britânico, diplomatas brasileiros reclamam de decadência do Itamaraty

O Itamaraty vive um processo de desmonte de décadas de tradição diplomática sob a liderança do chanceler Ernesto Araújo. A reclamação foi feita por diversos funcionários do ministério ao jornal britânico The Guardian, em reportagempublicada nesta terça-feira (25).
A reportagem –assinada por Tom Phillips, correspondente do jornal britânico na América Latina– descreve o Ministério das Relações Exteriores como “uma joia do estadismo latino-americano”. Mas, de acordo com o texto, muitos diplomatas temem que a “revolução bolsonariana na política externa” possa prejudicar a posição do Brasil no mundo.
“Eu sinto desgosto”, disse ao jornal Rubens Ricupero, ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos. “O que eu ouço dos meus colegas que ainda estão ativos é que, no corpo diplomático, há quase uma completa rejeição ao ministro e às diretrizes atuais … Ele não é levado a sério –nem dentro nem fora do ministério”.
Já Roberto Abdenur, ex-embaixador na China, Alemanha e Estados Unidos, afirmou que “nossas relações exteriores atuais levam o Brasil de volta a um período da história em que o Brasil nem mesmo existia: a Idade Média”.
Para Marcos Azambuja, ex-secretário-geral do Itamaraty, “houve uma mudança –e temo que seja uma mudança para pior”. “Eu não imaginei que isso pudesse acontecer”, acrescentou.
A reportagem avalia algumas das principais mudanças nas relações internacionais do Brasil desde que Araújo assumiu o comando da pasta. O texto cita, por exemplo, o surgimento de desavenças em relação à China, principal parceiro comercial do país, e a aproximação com líderes da direita nacionalista, como o presidente americano, Donald Trump, e o premiê húngaro, Viktor Orbán.
A reportagem também diz que, graças às mudanças em curso no Itamaraty, o Brasil arrisca perder o papel de liderança na agenda climática internacional e, ao abraçar o governo de Binyamin Netanyahu em Israel, compromete as relações com parceiros do Oriente Médio.
“Eu diria que esta é mudança mais dramática na política externa brasileira em um século”, disse ao jornal britânico Oliver Stuenkel, especialista em relações internacionais na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

FORMULADORES DE POLÍTICA EXTERNA
No texto, Araújo é descrito como um “chanceler pró-Trump e defensor da Bíblia que diz que o aquecimento global é uma conspiração marxista e que o nazismo é um movimento de esquerda”.
A reportagem também relata o desconforto em relação a Olavo de Carvalho, guru ideológico do governo, e ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente que “é amplamente visto como o chanceler de fato do Brasil”.
Alguns diplomatas reclamam do papel de destaque dado por Eduardo a Steve Bannon. Ex-auxiliar de Trump e líder do grupo populista de direita conhecido como O Movimento, Bannon foi convidado para jantar com Jair Bolsonaro durante sua visita a Washington em março.
“Estamos na situação perversa, absurda de ter um cidadão estrangeiro influenciando a política externa do Brasil”, afirmou Abdenur ao jornal britânico.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Deus no Itamaraty - Maria Herminia Tavares de Almeida (FSP)

Eu me pergunto, se já se mandou benzer o Palácio Itamaraty, como garantia.
Onde está Deus, sempre aparece um outro personagem...
Nunca se sabe...
Em todo caso, caminho no deserto, na terra do sol, não estou mais associado ao ridículo, um adjetivo que já levantou a ira do templário contra mim. Não sei se serei excomungado por postar novas peças acusatórias em meu blog.
Mas, em face do que vejo em certas mensagens de Twitter, não estou só no caminho da cruzada.
O exército é brancaleônico, eu sei, e por isso mesmo ridiculamente ridículo.
Paulo Roberto de Almeida

Deus no Itamaraty

Nacionalismo míope e alinhamento automático podem levar o país à insignificância

“Deus em Davos. Falei disso em minha apresentação na abertura do seminário Globalismo”, informou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em sua conta no Twitter.
Vale uma visita ao site da Fundação Alexandre de Gusmão para ouvir as conferências do seminário. Especialmente, as de duas figuras importantes na política externa brasileira: o chefe da diplomacia e o assessor internacional da Presidência.
Durante longos 45 minutos, o chanceler empilhou ideias e citações no esforço de explicar que o “globalismo” é uma espécie de religião ateia, cujo evangelho junta “ambientalismo”, a ideia de direitos
humanos universais e o politicamente correto. Tudo produto do “gramscismo” (de Antonio Gramsci, pensador e líder comunista italiano que morreu sob o fascismo, em 1937) e do “fisiologismo” (muito provavelmente o ministro queria dizer materialismo).
Ainda segundo a sua teoria, quando descartou a ideia de Deus, ao fim da Guerra Fria, o liberalismo ocidental haveria aberto o caminho para a expansão da ideologia globalista. Ao levar Deus ao Fórum Mundial de Davos, o presidente Jair Bolsonaro teria começado a alinhar o Brasil à cruzada conservadora mundial.
O seu assessor internacional Filipe Martins foi mais direto. O globalismo é a ideologia de uma tecnocracia apátrida e cosmopolita, instalada nas organizações multilaterais, querendo destruir a soberania nacional. 
Nacionalismo versus globalismo, eis o grande combate do século 21, proclamou o professor que se notabilizou também por enriquecer a agenda do país com a luta contra a tomada de três pinos, as urnas eletrônicas e a reforma ortográfica. Na guerra do século, avisou, estamos ao lado do nacionalismo, abraçados a Trump, ao húngaro Orban, ao indiano Modi. 
Não é possível avaliar o impacto desse livre-pensar sobre a política exterior do Brasil. Esta não depende só, nem principalmente, da vontade dos governantes, mas da pressão de interesses internos, assim como da geopolítica e dos recursos de poder e influência ao alcance de um país como este.
Muitas coisas continuarão a se mover sobre os mesmos trilhos de há muito assentados e sob a condução de um corpo diplomático treinado para buscar o melhor para o país.
Mas o nacionalismo míope à existência de problemas globais —como a degradação ambiental, as migrações ou as pandemias— somado a alinhamentos automáticos a governantes estrangeiros, na base de proximidade ideológica, podem isolar o Brasil e condená-lo à insignificância.
O Deus de Bolsonaro passou por Davos sem abalar a ordem mundial. Falta saber que estragos poderá fazer no Itamaraty.

=========

CQD: (20/06/2019)

Vetustatem novitas, umbram fugat veritas...

(Do hino "Lauda Sion", de Santo Tomás de Aquino, composto em 1264 para a primeira celebração de Corpus Christi)

E eu estarei convosco todos os dias, até o final dos tempos.


(Mateus, 28:20)

Adivinhem quem tuitou?


quinta-feira, 13 de junho de 2019

Lista de diplomatas promovidos em junho de 2019: cumprimentos

Publicada a lista dos diplomatas promovidos neste primeiro semestre de 2019.
A todos eles meus cumprimentos.
Paulo Roberto de Almeida

Diplomatas promovidos no primeiro semestre de 2019

A MINISTRO DE PRIMEIRA CLASSE
Márcia Donner Abreu
Paulo Roberto Soares Pacheco
Juliano Féres Nascimento
Pedro Gustavo Ventura Wollny
Fabio Mendes Marzano
Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega
Nestor José Forster Junior

A MINISTRO DE PRIMEIRA CLASSE DO QUADRO ESPECIAL
José Antonio Gomes Piras

A MINISTRO DE SEGUNDA CLASSE
Alan Coelho de Séllos
Luiz Maria Pio Corrêa
José Eduardo Bernardo dos Santos
Caio Mário Renault
Erika Almeida Watanabe Patriota
Mauricio Medeiros de Assis
Maria Angélica Ikeda
Marcus Rector Toledo Silva
Otávio Gabriel de Carvalho Santos Briones
João Carlos Beato Storti
Rodrigo de Oliveira Godinho
Paula Aguiar Barboza
Braz da Costa Baracuhy Neto

A MINISTRO DE SEGUNDA CLASSE DO QUADRO ESPECIAL
Ricardo José Lustosa Leal

A CONSELHEIRO
Bernardo Henrique Penha Brasil
Pablo Braga Costa Pereira
Camila Silva Leão D`Araújo Olsen
Marcela Pompeu de Sousa Campos
Guillermo Esnarriaga Arantes Barbosa
Carolina de Cresce El Debs
Ronaldo Lima Vieira
Rodrigo Oliveira Govedise
Carlos Ribeiro Santana
Ruy de Freitas Ciarlini
Henrique Choer Moraes
Luis Alberto Fernández y Sagarra
Wagner de Andrade Alves
Beatriz Augusta de Sousa Vasconcelos Goes
Gilsandra da Luz Clark
Marcos Mauricio Toba
Guilherme Marquardt Bayer

A CONSELHEIRO DO QUADRO ESPECIAL
João Luiz de Medeiros

A PRIMEIRO SECRETÁRIO
Tiago Ribeiro dos Santos
Igor da Silva Barbosa
Pedro Henrique Fleider Wolanski
Eduardo Minoru Chikusa
Edison Luiz da Rosa Junior
Marcela Magalhães Braga
Vitor Puech Bahia Diniz
Filipe Abbott Galvão Sobreira Lopes
Paulo Thiago Pires Soares
Felipe Dutra de Carvalho Heimburger
Marianne Martins Guimarães
Fernando de Azevedo Silva Perdigão
Joaquim Aurélio Correia de Araújo Neto
Luis Pinto Costa
Leandro Santos Teixeira
Leonardo Dutra Rosa
Marcelo Brandt de Oliveira
André Campos Ferreira Makarenko
Fabiano Burkhardt

A SEGUNDO SECRETÁRIO (POR ANTIGÜIDADE)
Pedro Ivo Ferraz da Silva
Laura Paletta Crespo
Alexandre Vieira Manhães Ferreira
Hugo Freitas Peres
Gustavo Fortuna de Azevedo Freire da Costa
Andrezza Brandao Barbosa
Luiz de Andrade Filho
André Luís Bridi
Lucas Hage Chahine Assumpção
Geórgenes Marçal Neves
Alexandre Piana Lemos
Felipe Neves Caetano Ribeiro
Leticia dos Santos Marranghello
Maria Lima Kallás
Caio Grottone Teixeira da Mota
João Marcelo Costa Melo
Pedro Piacesi de Souza
Pedro Meirelles Reis Sotero de Menezes
Guilherme Rafael Raicoski
Filipe Brum Cunha

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Seminario (Anti)Globalismo no Itamaraty: palestra do ministro de estado

Nesta manhã de 12 de junho de 2019, Dia dos Namorados, fui despertado não por alguma chamada da família Bolsonaro – cujo chefe vive falando em casamentos estranhos –, mas por um aviso de um dos meus leitores no sentido em que não conseguiu mais acessar o famoso vídeo da alocução nietzscheana do nosso chanceler, culpando aquele bizarro filósofo alemão do final do século XIX pelo fato de que a humanidade (pelo menos a ocidental) tenha sido privada da presença de Deus, embora ele seja suficientemente lido para confirmar que a afirmação de que "Deus está morto" já aparecia em Dostoievski.
Fui conferir agora, pois eu tinha colocado o link para a palestra inaugural do ministro em minha postagem-resumo do seminário, neste link: 
http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/06/seminario-sobre-globalismo-no-itamaraty.html
e de fato não mais achei, pelo menos não no link originalmente fornecido.
Acessando, porém, o canal YouTube do Itamaraty, lá está, efetivamente, a rica palestra do chanceler. Caso os interessados também estejam interessados em minhas parcas notas, apressadas, que consegui tomar, enquanto ele passava de suas folhas dispersas a uma edição em alemão de Nietzsche (que ele se eximiu de mencionar bibliograficamente), transcrevo abaixo o resumo que consegui fazer durante a palestra, remetendo ao link acima para minha avaliação inicial (e final) do seminário.
O vídeo agora encontra-se neste link: 
https://www.youtube.com/watch?v=mWajQ0NBeio

segunda-feira, 10 de junho de 2019


Seminário sobre Globalismo no Itamaraty - resumo por Paulo Roberto de Almeida

Seminário sobre globalismo no Itamaraty
Notas de Paulo Roberto de Almeida
Seminário “Globalismo”, Palácio Itamaraty, Brasília, DF
Auditório Wladimir Murtinho 10 de junho de 2019
  
Introdução: Paulo Roberto de Almeida
(...)

Resumo das palestras por Paulo Roberto de Almeida
10:00-10:30 Abertura:
Embaixador Ernesto Araújo, Ministro de Estado das Relações Exteriores
(Nota PRA: se o texto aparece muito confuso, a culpa não é minha: a confusão mental, as hesitações, as idas e vindas são próprias do palestrante: o vídeo pode confirmar isso: https://m.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=PpNNLl4wZXw)

Addendum em 12/06/2019: 
Depois de postado o link acima, não mais funciona: 
Vídeo indisponível

Abre com leitura de Nietzsche: “vou contar a história dos próximos 200 anos”, ou seja, o niilismo, em Vontade de Poder. O pensamento de Nietzsche, famoso pela sua frase, “Deus está morto”, é uma descrição e uma superação do niilismo. Essa ideia de que Deus está morto se tornou o postulado central de todo o pensamento posterior; uma ruptura radical, que explica o marxismo-leninismo e o comunismo; trata-se da destruição da moral burguesa, anunciada por Marx, que é responsável pelo leninismo e pelo fascismo; isso já está na Ideologia Alemã, de Marx e Engels, e na Genealogia da Moral, de Nietzsche, são obras paralelas; o comunismo e o nazi-fascismo dependem da morte de Deus; ambos instalam um antropocentrismo radical. Mais interessante é uma frase do psicanalista Jacques Lacan, “se Deus não existe, nada é permitido”, eu [EA] me identifico com essa frase, pois ela transmite essa falsa liberdade trazida pelo niilismo moral.
Frase do Nietzsche: para um cristão isso não representa um problema. O próprio Nietzsche é um profeta herético, desse renascimento/ Existem cartas que ele escreveu no período de sua loucura, a partir de 3 de janeiro de 1889; ele assina como “crucificado”, diz “o mundo está esclarecido porque Deus está sobre a terra”; existem cartas para Cosima Wagner, que Nietzsche assina como Dionísio, o deus da morte e do renascimento na Grécia antiga; essa oposição entre apolíneo e dionisíaco é típica do pensamento de Nietzsche; de certa forma, Nietzsche se apresenta como o próprio crucificado, se entrega ao abismo da angústia intelectual, como uma figura para-cristã: Ecce Homo. Nietzsche anuncia o século XXI, que é tempo que nós estamos vivendo. Nos últimos dias antes da sua loucura, um dos textos diz: “eu trago a guerra, não a guerra entre povo e povo, entre classe e classe, mas entre a subida e a descida, entre a vontade da vida e a vingança contra a vida”. Nietzsche já nega a concepção da luta nacional, e nega também a luta de classes, concepção do comunismo. Podemos ler a história posterior entre a subida e a descida. Trata-se da história do espírito (aqui entramos em Hegel), é uma prosopopeia da história posterior; uma maneira de ver a história do século XX e XXI, de qual participamos.
Nesse texto, Nietzsche prega uma quebra da história total, como Lênin faria depois. Coloca o desdobramento da luta entre a subida e a descida, como os passos onde se desdobrarão esse movimento; trata-se da história do homem como pura fisiologia, como Lênin e o NSAPD (partido nazista) tentam implementar. O que existe ao longo do século XX é esse terrível mergulho sem Deus; é preciso saber se um dia conseguiremos emergir desse mergulho. Essas duas ideologias, comunismo e nazismo lutaram por sua preeminência durante o século XX. Mas quem lutou contra? Foram as democracias liberais, quando ainda existia um pouco da ordem antiga, quando não se tinha rompido com a ideia de Deus; onde havia liberdade e espaço para a ideia de Deus; no corpo das democracias liberais continuava a bater um coração conservador; essa foi a espinha dorsal do Ocidente que lhe permitiu vencer primeiro o nazi-fascismo, depois o comunismo. Ao longo da Guerra Fria, esse modelo acabou se impondo ao modelo totalitário; o Plano Reagan, por exemplo, foi uma epitome dessa fé e desse liberalismo: ele não teve problema em chamar o comunismo de “mal”; o papa João Paulo II também lutou contra essa tendência niilista. Caráter conexo das duas dimensões da crença de João Paulo II.
Depois de 1989, da vitória do Ocidente, linha da fé cristã venceu; mas logo se afirmou: “ninguém mais precisa de Deus” e resolveram expulsar Deus das democracias liberais. O comunismo já vinha se preparando para ocupar por dentro as democracias liberais, com o marxismo cultural, o gramscismo, eles foram ocupando o coração das sociedades liberais; e isso é o globalismo. É a ocupação das sociedades liberais; de 1889 a 1989 foi o baluarte da Niedergang, descida no sentido nietzscheano. A sociedade liberal achou que a disputa tinha sido exclusivamente econômica, e quase perderam a luta contra o niilismo, por terem perdido a ideia de Deus.
Palestrantes vão falar de alguns dos mecanismos do fisiologismo do globalismo, o desconstrucionismo linguístico, o nominalismo, a ideologia de gênero, o racialismo e o ecologismo, que é a ecologia transformada em ideologia. Áreas de pensamento que deixam de ter contato com a realidade e se impõem como absolutas. Todos esses instrumentos pressupõem a ausência de Deus, e criam uma nova moral, de opressão psicológica. Nietzsche previa isso: uma moral sem a base de uma ordem estruturada.
No ápice desses movimentos que vivemos, estamos vivendo um caráter opressivo, um moralismo pesado; o globalismo tenta formular de maneira canhestra, uma nova espécie de religião; ideologias que são o oposto dos valores antigos, da ideia de Deus. Existe um problema na concepção de uma falsa religião globalista, o globalismo abre a porta para um tipo de retorno de Deus, se cria um estranho humanismo, que desmerece o homem; a Inteligência Artificial significa a máquina aprendendo a pensar como o ser humano, isso é um programa globalista, pode ser o contrário: o homem sendo subjugado pela concepção mecanicista. O globalismo é o niilismo, o triunfo daquela concepção ateia proposta por Nietzsche.
Estamos num momento de recomposição; o fisiologismo é a estrutura filosófica dessa dominação; o liberalismo dispensou Deus. Estamos tentando reintroduzir Deus na sociedade liberal no seio da sociedade liberal politicamente correta; o Brasil está engajando nesse combate. Em Davos, o presidente Jair Bolsonaro reintroduziu a ideia de Deus em seu discurso, deve ter sido a primeira vez na história de Davos que um chefe de Estado introduziu Deus em Davos; isso significa uma mudança nos últimos 100 e tantos anos.
“Então é isso, Deus em Davos”. Muito obrigado.
=========

Todo o resto, minha introdução e palestra do assessor presidencial, pode ser visto no link já indicado: http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/06/seminario-sobre-globalismo-no-itamaraty.html

terça-feira, 11 de junho de 2019

Seminário sobre globalismo no Itamaraty: relato de Eliane Oliveira (O Globo)


Esta matéria da jornalista do Globo dá uma aparência de discurso racional ao que constituiu apenas uma aglomeração de frases desconexas do chanceler, pretendendo juntar “elementos historicamente verificáveis”, como as democracias liberais do Ocidente, com noções altamente questionáveis no plano das políticas nacionais, como podem ser o papel de Deus e o espaço dos sentimentos religiosos na vida das nações. Tratou-se, provavelmente, da primeira vez em que as nações ocidentais, ao preservarem suas instituições estáveis, no curso da formidável implosão do socialismo no mundo, foram acusadas de se terem rendido ao comunismo, que no mesmo momento estava sendo jogado na lata de lixo da História. Uma interpretação sem dúvida original, ainda que canhestra, das relações internacionais contemporâneas, aparentemente dominadas por esse monstro metafísico do globalismo. O assessor internacional aterrorizou os presentes ao seminário com os imensos perigos que um punhado de burocratas não eleitos, pontificando a partir das organizações multilaterais, fazem correr aos Estados nacionais, castrados em sua soberania. O mundo está perdido...
O chanceler já pode ser admitido na Academia Tabajara de Filosofia e o assessor internacional, dotado de poucos estudos, deveria completar suas leituras de relações internacionais em alguma Faculdade Tabajara de Ciência Política.
Ambos devem ter combinado a divisão do besteirol que a audiência teve de suportar no seminário do Itamaraty, uma instituição que já abrigou coisas bem melhores...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de junho de 2019

'Estamos tentando recuperar o coração da sociedade liberal', diz chanceler de Bolsonaro

Ao abrir seminário sobre 'globalismo' no Itamaraty, Ernesto Araújo afirma querer recompor alma conservadora

POR ELIANE OLIVEIRA
| Atualizado: 

BRASÍLIA — O ministro das Relações ExterioresErnesto Araújo, disse que o Brasil tem um papel fundamental no combate ao "globalismo" — expressão usada pelos movimentos de direita para se referir a instituições internacionais que acusam de interferir na soberania dos países e tentar apagar as tradições nacionais. Em um seminário que promoveu ontem sobre o tema no Itamaraty, Araújo disse que o presidente Jair Bolsonaro fez algo inédito quando mencionou Deus em seu discurso no Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro deste ano.
— O Brasil tem um papel fundamental. Estamos entrando para tentar recuperar o coração da sociedade liberal e recompor a alma conservadora. É a preservação de um conceito profundo de dignidade humana. Alguém que se relaciona com Deus. Deus em Davos — disse o chanceler a um auditório lotado, na Fundação Alexandre de Gusmão, ligada ao Ministério das Relações Exteriores.
No governo Bolsonaro, os seguidores do guru da direita Olavo de Carvalho reivindicam fazer parte do movimento antiglobalista, cujo expoente internacional é Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump. Para eles, o "marxismo cultural" passou a dominar as instituições internacionais, como as das Nações Unidas, em uma espécie de nova versão do antigo internacionalismo socialista.
Ao abrir o seminário que reuniu representantes da direita nacional e internacional, Araújo afirmou que o globalismo ocorreu no momento em que o comunismo “tomou o coração dos liberais”. Para o ministro, tudo começou há cerca de cem anos, quando o filósofo Friedrich Nietzsche passou a propagar com ênfase o niilismo que, segundo o chanceler, nada mais é do que o fim da crença em Deus.
— O comunismo e o nazifascismo dependem da morte de Deus e do fim do antropoteísmo (representação da divindade sob forma e atributos humanos). Ambos instalaram o antropocentrismo radical, como se estivessem libertando o homem — afirmou Araújo.
Tanto o chanceler quanto o assessor internacional do Planalto, Filipe Martins, procuraram criticar tanto o comunismo quanto o nazifascismo. Correntes da direita ultranacionalista, que os dois costumam elogiar, têm sido associadas a características do fascismo por historiadores e analistas.
Araújo disse que economias liberais “ligadas à ordem divina” foram a espinha dorsal do Ocidente, o que segundo ele permitiu a vitória sobre o nazifascismo e o enfrentamento do comunismo a partir de 1945, graças à fusão do liberalismo e da fé cristã. Depois de 1989, porém, “alguém achou que não precisava mais do conservadorismo nas democracias liberais”, disse o chanceler:
— Expulsaram Deus do lado liberal. Mas no corpo das democracias liberais continuava a bater um coração conservador.
Já Filipe Martins deu a seguinte definição para globalismo: é a tentativa de instrumentalização política e ideológica da globalização, para empoderar um conjunto de burocratas não eleitos e os grupos de interesses que têm acesso a eles.
— Não há apenas um projeto globalista. É um método de domínio e exercício do poder. As finalidades apontadas pelos globalistas são a paz e a prosperidade. Se olharmos o comunismo e o nazifascismo, eles também prometiam isso — disse Martins.
O americano Cris Buskirk, editor da revista American Greatness (Grandeza Americana), disse que os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro são nacionalistas, patriotas e "respeitam seus povos". Segundo ele, os dois se recusam a abrir mão da soberania de seus países em favor de entidades supranacionais:
— Há algumas exceções, como a Cruz Vermelha, que faz um bom trabalho. Mas há organizações que têm outras metas e visam ao poder político para exercer influência.
Convidada a falar sobre "globalismo e a educação", a deputada Christine Nogueira (PSL-RJ) afirmou que os globalistas atuam prioritariamente na área educacional. Entre os seus objetivos, disse, está o de destruir a família.
— Se eu não quero que a família seja respeitada, eu preciso destruí-la. Estamos transformando as escolas em empresas em que os alunos não passam de consumidores e os professores, de fornecedores. Nossas escolas foram transformadas em redutos de militantes — disse a deputada.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Seminário sobre Globalismo no Itamaraty - resumo por Paulo Roberto de Almeida


Seminário sobre globalismo no Itamaraty

Notas de Paulo Roberto de Almeida
Seminário “Globalismo”, Palácio Itamaraty, Brasília, DF
Auditório Wladimir Murtinho 10 de junho de 2019
  
Introdução: Paulo Roberto de Almeida
Em meus quarenta anos de serviço diplomático, nem todos passados no Itamaraty, assisti ou participei de centenas de seminários, organizei pessoalmente várias dezenas, todos eles de interesse objetivo da diplomacia brasileira, ou da política externa do Brasil, num sentido amplo, ou seja, englobando temas de política econômica externa, uma vez que muitos seminários podem ter sido realizados fora do Itamaraty, com sua cooperação ou participação. Geralmente os seminários se dedicaram a discutir questões relevantes das relações exteriores ou internacionais do Brasil, de maneira quase sempre objetiva, ou seja, abordando, de maneira analítica, temas dessas relações internacionais e suas implicações concretas para o Brasil. Poucas vezes, tive a impressão de ter perdido tempo, embora muitas vezes aproveitei “buracos negros” nesses seminários para adiantar trabalhos pessoais em meu computador.
Esta é provavelmente a primeira vez em que participo de um empreendimento oficial de mistificação política, qual seja, a tentativa de enquadrar as “novas” relações internacionais do Brasil na paranoia de um monstro metafísico definido como “globalismo”, que pretenderia supostamente retirar soberania ao Brasil. Observando o currículo/apresentação dos palestrantes deste seminário, constato que NINGUÉM ali sequer trabalhou, alguma vez na vida, no mundo real, ou seja, o mundo da produção, o mundo da criação de riqueza; todos eles são acadêmicos, ou funcionários de Estado, ou seja, pessoas distanciadas do mundo real, aquele que os alimenta e financia com a criação de riqueza. Um debate puramente teórico, ou conceitual, revelado nas palestras. Eles pretendem afirmar a realidade do globalismo com base em suas próprias declarações não com base numa análise objetivamente fundamentada em dados empíricos e demonstrações cabais dessa “dominação” perniciosa do globalismo. Em outros termos, seus argumentos correspondem exatamente a falácias, as mesmas que os sofistas da antiga Grécia pretendiam que fossem aceitas como verdades cabais. 
A palestra do chanceler, que pode ser vista em vídeo gravado, foi absolutamente patética; ele perdeu quarenta minutos tentando nos provar que os cem anos que vão de 1889 a 1989 foram dominados pelo niilismo nietzscheano, e que o problema atual do globalismo deriva do fato que as democracias liberais se afastaram de Deus. Como ele mesmo afirmou: “O globalismo é o niilismo, o triunfo daquela concepção ateia proposta por Nietzsche”. Ou seja, uma palestra inútil sob qualquer ponto de vista, totalmente inepta no plano de uma exposição objetiva sobre o que seria o globalismo concreto, num terreno não teológico, desvinculado dessa concepção de que todos os problemas da modernidade se prendem ao afastamento de uma moral religiosa. Imagino que deva ter sido extremamente doloroso para os poucos diplomatas estrangeiros ali presentes ter tentado entender o que, exatamente, o ministro de Estado das Relações Exteriores do Brasil pretendia transmitir à audiência com a sua concepção peculiar do globalismo. Acredito também que o próprio Nietzsche se sentiria lisonjeado ao ouvir que suas tergiversações balbuciantes sobre a morte de Deus foram tão poderosas a ponto de ter dominado todo o pensamento ocidental ao longo de um século.
Quanto à palestra do assessor presidencial para assuntos internacionais, ela apenas revelou que ele foi um bom aluno do sofista da Virgínia, o homem que conseguiu convencer alguns verdadeiros crentes atualmente influentes no governo de que a sua teoria conspiratória sobre o globalismo apresenta-se efetivamente como um fenômenos verificável, algo terrível para a soberania e a individualidade dos brasileiros, mas que felizmente podemos contar com eles para nos livrar dessa conspiração perversa de burocratas internacionais que tentam nos retirar o poder sobre nossas próprias políticas nacionais.
O que posso dizer sobre essas duas palestras iniciais? Acredito que o condutor da política externa, e o assessor presidencial, para serem absolutamente coerentes com suas ideias, deveriam retirar o Brasil do Mercosul, da OMC, da ONU, desistir de foros como BRICS ou IBAS, e renunciar de vez a esse acordo já maduro, nunca concluído, entre o Mercosul e a União Europeia, o bastião mesmo do globalismo castrador das soberanias nacionais dos países europeus. Esse globalismo insidioso é o que de mais inútil pode existir para uma política externa soberanista.
Os aloprados da política externa bolsonarista, os fundamentalistas olavistas conseguiram degradar a diplomacia brasileira a um ponto irreconhecível de delírio ideológico e de puro besteirol pretensamente filosófico (na verdade, com sofismas e falácias deploráveis). Coisas nunca vistas no Itamaraty nos últimos 200 anos: o chanceler passou 40 minutos lamentando que as democracias liberais tivessem perdido o sentido de deus, e isso por causa de um personagem menor na filosofia do último século chamado Nietzsche. O assessor presidencial quer nos libertar do monstro metafísico do globalismo, que ele afirma existir sem jamais provar empiricamente sua existência. Ambos insistem em fazer uma política externa em nome do povo, com seus conceitos totalmente abstratos e etéreos, a anos-luz das preocupações do povo.
Ambos entram na categoria das olavices debiloides, a coisa mais nefasta a que assistimos hoje. Meu diagnóstico: a destruição da inteligência no Itamaraty, infelizmente!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de junho de 2019, 14:25hs.

Resumo das palestras por Paulo Roberto de Almeida
10:00-10:30 Abertura:
Embaixador Ernesto Araújo, Ministro de Estado das Relações Exteriores
(Nota PRA: se o texto aparece muito confuso, a culpa não é minha: a confusão mental, as hesitações, as idas e vindas são próprias do palestrante: o vídeo pode confirmar isso: https://m.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=PpNNLl4wZXw)

Addendum em 12/06/2019: 
Depois de postado o link acima, fui verificar e, surpresa!: 
Vídeo indisponível

Abre com leitura de Nietzsche: “vou contar a história dos próximos 200 anos”, ou seja, o niilismo, em Vontade de Poder. O pensamento de Nietzsche, famoso pela sua frase, “Deus está morto”, é uma descrição e uma superação do niilismo. Essa ideia de que Deus está morto se tornou o postulado central de todo o pensamento posterior; uma ruptura radical, que explica o marxismo-leninismo e o comunismo; trata-se da destruição da moral burguesa, anunciada por Marx, que é responsável pelo leninismo e pelo fascismo; isso já está na Ideologia Alemã, de Marx e Engels, e na Genealogia da Moral, de Nietzsche, são obras paralelas; o comunismo e o nazi-fascismo dependem da morte de Deus; ambos instalam um antropocentrismo radical. Mais interessante é uma frase do psicanalista Jacques Lacan, “se Deus não existe, nada é permitido”, eu [EA] me identifico com essa frase, pois ela transmite essa falsa liberdade trazida pelo niilismo moral.
Frase do Nietzsche: para um cristão isso não representa um problema. O próprio Nietzsche é um profeta herético, desse renascimento/ Existem cartas que ele escreveu no período de sua loucura, a partir de 3 de janeiro de 1889; ele assina como “crucificado”, diz “o mundo está esclarecido porque Deus está sobre a terra”; existem cartas para Cosima Wagner, que Nietzsche assina como Dionísio, o deus da morte e do renascimento na Grécia antiga; essa oposição entre apolíneo e dionisíaco é típica do pensamento de Nietzsche; de certa forma, Nietzsche se apresenta como o próprio crucificado, se entrega ao abismo da angústia intelectual, como uma figura para-cristã: Ecce Homo. Nietzsche anuncia o século XXI, que é tempo que nós estamos vivendo. Nos últimos dias antes da sua loucura, um dos textos diz: “eu trago a guerra, não a guerra entre povo e povo, entre classe e classe, mas entre a subida e a descida, entre a vontade da vida e a vingança contra a vida”. Nietzsche já nega a concepção da luta nacional, e nega também a luta de classes, concepção do comunismo. Podemos ler a história posterior entre a subida e a descida. Trata-se da história do espírito (aqui entramos em Hegel), é uma prosopopeia da história posterior; uma maneira de ver a história do século XX e XXI, de qual participamos.
Nesse texto, Nietzsche prega uma quebra da história total, como Lênin faria depois. Coloca o desdobramento da luta entre a subida e a descida, como os passos onde se desdobrarão esse movimento; trata-se da história do homem como pura fisiologia, como Lênin e o NSAPD (partido nazista) tentam implementar. O que existe ao longo do século XX é esse terrível mergulho sem Deus; é preciso saber se um dia conseguiremos emergir desse mergulho. Essas duas ideologias, comunismo e nazismo lutaram por sua preeminência durante o século XX. Mas quem lutou contra? Foram as democracias liberais, quando ainda existia um pouco da ordem antiga, quando não se tinha rompido com a ideia de Deus; onde havia liberdade e espaço para a ideia de Deus; no corpo das democracias liberais continuava a bater um coração conservador; essa foi a espinha dorsal do Ocidente que lhe permitiu vencer primeiro o nazi-fascismo, depois o comunismo. Ao longo da Guerra Fria, esse modelo acabou se impondo ao modelo totalitário; o Plano Reagan, por exemplo, foi uma epitome dessa fé e desse liberalismo: ele não teve problema em chamar o comunismo de “mal”; o papa João Paulo II também lutou contra essa tendência niilista. Caráter conexo das duas dimensões da crença de João Paulo II.
Depois de 1989, da vitória do Ocidente, linha da fé cristã venceu; mas logo se afirmou: “ninguém mais precisa de Deus” e resolveram expulsar Deus das democracias liberais. O comunismo já vinha se preparando para ocupar por dentro as democracias liberais, com o marxismo cultural, o gramscismo, eles foram ocupando o coração das sociedades liberais; e isso é o globalismo. É a ocupação das sociedades liberais; de 1889 a 1989 foi o baluarte da Niedergang, descida no sentido nietzscheano. A sociedade liberal achou que a disputa tinha sido exclusivamente econômica, e quase perderam a luta contra o niilismo, por terem perdido a ideia de Deus.
Palestrantes vão falar de alguns dos mecanismos do fisiologismo do globalismo, o desconstrucionismo linguístico, o nominalismo, a ideologia de gênero, o racialismo e o ecologismo, que é a ecologia transformada em ideologia. Áreas de pensamento que deixam de ter contato com a realidade e se impõem como absolutas. Todos esses instrumentos pressupõem a ausência de Deus, e criam uma nova moral, de opressão psicológica. Nietzsche previa isso: uma moral sem a base de uma ordem estruturada.
No ápice desses movimentos que vivemos, estamos vivendo um caráter opressivo, um moralismo pesado; o globalismo tenta formular de maneira canhestra, uma nova espécie de religião; ideologias que são o oposto dos valores antigos, da ideia de Deus. Existe um problema na concepção de uma falsa religião globalista, o globalismo abre a porta para um tipo de retorno de Deus, se cria um estranho humanismo, que desmerece o homem; a Inteligência Artificial significa a máquina aprendendo a pensar como o ser humano, isso é um programa globalista, pode ser o contrário: o homem sendo subjugado pela concepção mecanicista. O globalismo é o niilismo, o triunfo daquela concepção ateia proposta por Nietzsche.
Estamos num momento de recomposição; o fisiologismo é a estrutura filosófica dessa dominação; o liberalismo dispensou Deus. Estamos tentando reintroduzir Deus na sociedade liberal no seio da sociedade liberal politicamente correta; o Brasil está engajando nesse combate. Em Davos, o presidente Jair Bolsonaro reintroduziu a ideia de Deus em seu discurso, deve ter sido a primeira vez na história de Davos que um chefe de Estado introduziu Deus em Davos; isso significa uma mudança nos últimos 100 e tantos anos.
“Então é isso, Deus em Davos”. Muito obrigado.

10:30-11:00 “Globalismo: teoria da conspiração ou fenômeno político observável?”
Filipe G. Martins, Assessor Especial para Assuntos Internacionais do Presidente da República
Muito interesse, uma fila longa de assistentes.
Breve apresentação sobre o assunto: tese: ao longo do século XX, o confronto foi entre totalitarismos e ideologias liberais; no século XXI, entre democracias liberais, e o globalismo. Pessoas que sequer reconheciam o globalismo como existe; não há consenso sobre a existência ou não do globalismo; teorias da conspiração. Motivo que é um fenômeno político observável, dentro da teoria política. Teoria da conspiração: especulação sobre a coordenação secreta para determinados fins. São parte do nosso dia a dia, globalmente. Fenômenos políticos observáveis se manifestam de diferentes maneiras: certa corrente política tem ou não relevância para nossa vida. Estamos tratando aqui de um fen. Observ.
Onde se encaixa o globalismo? Definição do próprio globalismo: é a tentativa de instrumentalização política e ideológica das políticas nacionais por um grupo de tecnocratas não eleitos; é a transposição de poder político a serviço de diversas finalidades, é um método de exercício do poder, de domínio político; é tão velho quanto a humanidade. Grandes impérios na antiguidade, os grandes mitos, torre de babel, domínio global, no que foi o império romano, expandir a lei romana para todo o mundo conhecido. A queda do império romano deixou no imaginário um vácuo, e diferentes projetos de dominação global, como o comunismo e o nazi-fascismo; estes são próximos do que temos hoje. Tanto o comunismo como o nazi-fascismo são ideologias; o comunismo não foi introduzido na prática.
Então, temos as ideologias, que defendem certas ideias, ainda que na prática não se manifestem concretamente. Não existe um governo mundial, mas o que há é uma tentativa de instrumentalizar certas ideias que têm como efeito prático mudar o eixo de decisão dos estados nacionais para o domínio daqueles que têm certo saber técnico; “Why a World State is Inevitable?”, Alexander Wendt. Hans Morgenthau trata da viabilidade ou não de um governo global; só haveria paz nessa hipótese, mas não seria possível a curto ou médio prazo; ele defendia a transição gradual para um mecanismo global, diluindo os interesses nacionais, parecida com a dos liberais utópicos. Necessário construir uma consciência de uma comunidade global, via regionalismo, planificação e compartilhamento dos ideais cosmopolitas se poderia concretizar. David Mitrany: transitar de um domínio territorialista, para um princípio funcionalista. Essas ideias existem e estão ativas.
Vou trazer algumas biografias de pessoas que estão envolvidas com esses projetos. Criação da OMS: retirar da mente das pessoas individualidades próprias. É preciso retirar o patriotismo e os dogmas religiosos, colocar uma moral compartilhada. Nacionalismos foram responsáveis por duas guerras mundiais, mas é que as ideias eram globalistas; as imagens dos nacionalismos eram execráveis, Hitler, Mussolini; mas Ghandi e Ben Gurion eram nacionalistas. Comunismo e nazi-fascismo eram imperialistas, não nacionalistas, são o oposto do nacionalismo. Há uma difamação do nacionalismo. A maior parte das pessoas não sabem como defender os estados nacionais, pois existiriam outros mecanismos, globais.
Realidade: Brexit, 2016, campanha influenciada por essa ideia de que o país possa ser influenciado por uma “arquitetura do poder global”, que nega as leis nacionais; daí a reação de Nigel Farage, Boris Johnson, Thatcher, ideia do Churchill também, dar ao nosso parlamento o poder de decidir. Nos EUA, vitória do Trump: frase: “Não mais vamos render a nossa nação, o nosso povo para a falsa canção do globalismo”, América em primeiro.
Qual é o elemento que precisa ser introduzido? Soberania nacional: velha definição weberiana não é verdade, monopólio do uso da força. No centro está a decisão de quem decide: são burocratas anônimos, livres de qualquer mecanismo de controle, sem qualquer possibilidade de intervenção do povo? É uma questão de fato de confiar de que sejam as populações nacionais possam retomar o seu poder de decisão. No UK, 90% das leis eram vindas de fora; no Brasil, existem ideias que são colhidas de agências internacionais e não são de iniciativa dos parlamentares eleitos pela população. Uma das críticas que se fazem é que o esse novo nacionalismo está culminando numa nova internacional nacionalista. O nacionalismo hoje não está defendido porque é uma coisa grande demais, mas porque ele é pequeno; democracia liberal é o consentimento dos governados, e a restrição desse governo, aquilo que protege os indivíduos; em nome de certos direitos temos visto a coerção e a repressão de direitos individuais, direito à vida. Caso essa ideologia seja efetivamente implementada teremos a morte das sociedades, pelo cosmopolitismo, um instrumento de corrosão das tradições morais, da religiosidade tradicional. Temos hoje a politização total das vidas; Yuval Noah Harari, fala de um grande embate entre nacionalismo e globalismo, o que ele considera positivamente.
Não se pode ignorar, como se fosse teoria da conspiração, pois influencia cada vez nossas vidas, e então precisamos reagir. Uma bibliografia recomendada aos interessados nesse fenômeno: Alexander Wendt, “Why a World State is Inevitable” [link: http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.322.9672&rep=rep1&type=pdf]; Manfred Steger: The Rise of Global Imaginary; Todd Huizinga: The New Totalitarian Temptation: global governance and the crisis of European democracy; John Fonte: Sovereignty or submission: will Americans rule themselves or be ruled by others?; Yoram Hazony: The virtue of nationalism; Strobe Talbott: The Great Experiment: the story of ancient empires, modern states and the quest for a global nation; Mark Plattner, Journal of Democracy; Olavo de Carvalho: O Jardim das Aflições.
Pede contestação às suas ideias...

11:00-11:10 Intervalo

11:10-11:40 “Educação globalista e a proposta de secundarizar as instituições”
Christine Nogueira dos Reis Tonietto, Deputada Federal – PSL/RJ
PRA: Iniciou dizendo que não pretendia ser entendida no assunto, e começou se referindo ao “Prof. Olavo de Carvalho”, quando me retirei do auditório, pois já me bastava isso.

11:40-12:10 “O ativismo judicial a serviço do globalismo”
Ludmila Lins Grilo, Juíza de Direito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais
(Tampouco registei a palestra)
12:10-13:00: Debate (aparentemente não houve debate, por atraso de mais de 1 hora)
13:00-15:00: Almoço

15:00-15:45: “How globalism threatens national sovereignty, self-determination, and individual liberty” - Chris Buskirk, editor da revista American Greatness
Os dois países estão agora juntos, graças aos dois presidentes, patriotas, e uma atitude comum de rejeição das ONGs, das entidades globalistas. Outros lutadores contra o globalismo: vice-primeiro ministro italiano Mateo Salvini. Diferenças entre globalização e globalismo. Eliminação dos vistos brasileiros para visitantes americanos: confiança entre os dois países. Globalismo foi resumido por Trump em seu discurso na AGNU em setembro passado: uma ideologia. (O resto foi puro bla-bla-bla trumpista).

15:45-16:15 “A evolução do globalismo”
Alexandre Costa, autor dos livros Introdução à Nova Ordem Mundial e O Brasil e a Nova Ordem Mundial
(Não se tratava de um professor, apenas um “escritor”, que refez a trajetória das conspirações através dos tempos, sendo que o marxismo pertence a esse universo, conjuntamente com a maçonaria, os Illuminati, etc.)

16:15-16:30 Intervalo

16:30-17:00 “Democracia, povo e representatividade na era do globalismo”
Flávio Morgenstern, escritor, analista político e editor do site Senso incomum – pensando contra a corrente
Democracia se apresenta como perversão, pois os globalistas deformam os sentimentos democráticos da população...
17:00-18:00 Debate
            As perguntas eram ainda mais bizarras do que as exposições...