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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

O discurso que deveria ter sido e não foi: subsídios do Itamaraty para o discurso na AGNU, expurgados na PR - Matheus Leitão (Veja)

 O discurso que o Itamaraty vazou e Bolsonaro não fez

Circula entre empresários brasileiros a versão moderada do discurso que o presidente faria. Para que tentar melhorar a imagem? Chanceler fez “arminha” 
Por Matheus Leitão | 23 set 2021, 10h54

Após o discurso pária do presidente Jair Bolsonaro nas Organizações das Nações Unidas, o Itamaraty resolveu tentar melhorar a sua imagem, como numa contenção de danos, vazando trechos do que seria a ideia original do discurso do chefe da nação brasileira na ONU.

Segundo a coluna apurou, o Ministério das Relações Exteriores fez circular esses trechos até entre empresários. Essa versão do discurso não lido, pode ser uma espécie de Porcina, porque ele também foi sem nunca ter sido.

Geralmente é assim. Em um evento como o da ONU, a Presidência recebe do Ministério das Relações Exteriores propostas iniciais e normalmente a assessoria direta do presidente altera certas palavras, acrescenta algum ponto. Às vezes muda para pior. Neste caso específico, não só piorou muito como adicionou mentiras, como quando disse que no último 7 de setembro os brasileiros fizeram a maior manifestação da história do país.

Um ponto que o ministro Carlos França queria passar era o ambiental e climático, já que haverá a reunião do Clima em Glasgow em dezembro. Mas o trecho foi muito distorcido.

Esta coluna escreveu sobre isso em reportagem com o título “Na batalha da ONU, Bolsonaro massacrou o Itamaraty”, mostrando até trechos que seriam do Ministério das Relações Exteriores e os que seriam de Bolsonaro.

A ideia agora de vazar “o discurso que não foi” faz parte de uma tentativa de mostrar que o Itamaraty seria uma força moderadora no governo Bolsonaro.

O único problema é que esse movimento da pasta é em vão, já que o atual ministro das Relações Exteriores, Carlos França, conseguiu destruí-lo em um só gesto, ao fazer o sinal de arminha a manifestantes brasileiros contrários ao governo em Nova York.

Qualquer outro ministro poderia fazer o gesto ridículo, tão repetido pelo presidente Jair Bolsonaro há anos, já que a democracia brasileira escolheu eleger um governo armamentista. Mas, Carlos França não.

Desde cedo aprende-se no Itamaraty que os diplomatas defendem os interesses do Estado e não de um específico governo. Isso tem que ser a máxima de qualquer diplomata. É o primeiro ensinamento da diplomacia.

Quando ele faz a arma, França aderiu ao bolsonarismo. Defendeu o bolsonarismo. E não os interesses do estado brasileiro.

Na verdade, a tentativa de melhorar a imagem do Ministério das Relações Exteriores, vazando o discurso porcina, não resolve o problema, senhor chanceler.

Recolha as armas, ou as arminhas, porque o senhor fez um gesto que demonstra o que escolheu: representar um grupo político e não país como um todo.

https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/o-discurso-que-o-itamaraty-vazou-e-bolsonaro-nao-fez/

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Itamaraty, Brasil: projeto de país "pária" de EA continua - Matheus Leitão, Paulo Roberto de Almeida

 Projeto ‘país pária’ do Ernesto Araújo continua em marcha

Declarações de Bolsonaro e do chanceler, apoiando a invasão ao Capitólio, só contribuem para o isolamento internacional do Brasil

Matheus Leitão

Veja | 13/1/2021, 19h39

A violenta invasão ao Capitólio, e os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, serviram para consolidar o isolamento internacional do Brasil, dando mais um passo em direção ao “país pária”. Ao flertarem perigosamente com o apoio aos manifestantes de extrema-direita, o presidente e o chefe da diplomacia dão outro sinal de hostilidade ao governo americano que está começando.

Na visão do embaixador Paulo Roberto de Almeida, o Brasil está cada vez mais isolado, reflexo de uma política externa fracassada. “Neste momento, Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo estão sozinhos no mundo. Não têm mais diálogo com ninguém. Como o presidente insiste na sua loucura de confrontar a todos, o Ernesto Araújo segue atrás para se mostrar fiel. Creio que é uma coisa doentia, e profundamente psicológica. O Olavo [de Carvalho] continua xingando Joe Biden”.

O efeito dessa escolha pode ser muito perigoso para o país porque, neste momento, qualquer diplomacia consequente estaria tentando abrir alguma ponte com a nova administração, mas eles se agarram a Donald Trump, que está afundando. Trump está a 7 dias de deixar o cargo de presidente dos Estados Unidos e termina o mandato enfrentando um processo de impeachment. Nesta quinta-feira, 14, a Câmara começa a julgar o impedimento, que passou a contar com o apoio de congressistas republicanos. O processo deve prosseguir mesmo com o término de sua gestão.

Trump corre o risco de perder seus direitos políticos para sempre, conforme previsto na 14ª Emenda da Constituição americana. Citada no processo de impeachment, a legislação proíbe de ter cargo público qualquer pessoa que participou de insurreições ou rebeliões contra a Constituição. A desabilitação política  também será votada na Câmara e no Senado e, para ser aprovada, precisa apenas de maioria simples.

Enquanto isso, o Brasil mais uma vez se posiciona erroneamente, ao tomar partido de Trump, e não tentar uma aproximação junto ao presidente eleito Joe Biden. Ao justificar a invasão do Capitólio, Bolsonaro disse que foi por falta de confiança nos votos. Ainda subiu o tom e afirmou que algo pior pode acontecer no Brasil se o voto permanecer eletrônico em 2022.

Já o chanceler tentou colocar panos quentes, dizendo que é preciso distinguir o processo eleitoral da democracia. “Duvidar da idoneidade de um processo eleitoral não significa rejeitar a democracia. Ao contrário, uma democracia saudável requer, como condição essencial, a confiança da população na idoneidade do processo eleitoral”.

“Sozinhos no mundo”

Diante de todo o cenário, Paulo Roberto de Almeida analisa que o discurso de Ernesto Araújo durante a posse de novos diplomatas do Instituto Rio Branco, no fim do ano passado, no qual afirmou que era melhor ser um país pária do que se render ao “banquete no cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos”, foi uma forma de o chanceler justificar seu fracasso.

“Ernesto Araújo não tem um projeto. Aquele discurso na formatura foi uma espécie de faux pas, que revela o tremendo desconforto e pressão psicológica com todos os fracassos e crescente isolamento do Brasil. Nem europeus, nem chineses, os vizinhos regionais e os próprios americanos não querem saber de Bolsonaro e Ernesto. Ele está sozinho, no Itamaraty, no Brasil, na região e no mundo. Aquilo foi uma espécie de autojustificação para um fracasso”, destacou.

Infelizmente, a política externa equivocada de Ernesto Araújo já tem tido consequências. Na Europa, por exemplo, o presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu trabalhar contra a importação de soja brasileira para ajudar a reduzir o desmatamento na Amazônia. A chegada do governo Biden poderia ser uma oportunidade de reformulação dessa forma de fazer política, mas não é o que deve acontecer.

https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/projeto-pais-paria-do-ernesto-araujo-continua-em-marcha/