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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Republica Mafiosa do Brasil (11): quando a mentira parece ter pernas muito longas

O Brasil é mesmo um país que gosta de avacalhar qualquer coisa, segundo a expressão clássica, já consagrada por alta personagem dessa república surrealista. Por exemplo, aquele ditado que diz que a mentira tem pernas curtas não se aplica ao Brasil, ou pelo menos não se aplica mais, não desde nunca, o que já seria um absurdo, mas pelo menos desde pouco tempo para cá, não mais que sete ou oito anos, por exemplo.
É o que se pode deduzir da leitura desta crônica de costumes bizarros. Devo dizer que discordo do título de sua autora: a mentira tem pernas muito longas, inclusive porque aqui ninguém está disposto a acreditar na verdade, ainda que sejam indícios de verdade...
Eu acredito, por exemplo, que tem muita gente que pretende fazer a todos nós de idiotas. E não é que eles conseguem, com a cooperação da chamada "mídia"?
Não existe país nenhum como o Brasil, como diz um antigo hino que ninguém mais sabe cantar... Em nenhum país senão o nosso, pessoas importantes conseguem mentir durante tanto tempo impunemente, e ficar tudo por isso mesmo.
Somos mesmo idiotas...
Paulo Roberto de Almeida

Pernas curtas
Dora Kramer
O Estado de S.Paulo, 03 de setembro de 2010

Se a Receita Federal é confiável como diz o presidente Luiz Inácio da Silva, por mais razão é urgente que as pessoas responsáveis pela instituição - do mais alto ao mais baixo escalão - comecem a falar a verdade e parem de tratar o cidadão brasileiro feito idiota.

A candidata Dilma Rousseff, que se apresenta como parceira de Lula em todas as ações de governo e gerente de toda a máquina pública, também precisa parar de fazer de conta que não está entendendo o que se passa.

Na impossibilidade de contar a verdade, que pelo menos arrume uma versão verossímil para corroborar a tese de que uma coisa é a violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato da oposição, outra coisa são os interesses político-eleitorais do PT.

Sob pena de carregar o passivo pelo restante dos dias até a eleição.

As teorias em circulação são frágeis e obviamente falsas.

A que passou a ser defendida - com pouquíssima sutileza, diga-se - pelo presidente Lula se assemelha àquela do caixa 2 inventada à época do mensalão para tentar reduzir o estrago jurídico e político das denúncias de fraude, corrupção e peculato.

Na época, a ideia era fugir dos crimes mais graves para assumir o crime eleitoral e socializar o prejuízo na base do "todo mundo faz".

Agora o presidente Lula indignou-se com o falsificador do documento apresentado como sendo uma procuração da filha de José Serra, Verônica, para a retirada de suas declarações na Receita. Disse que, "se ficar provado", foi cometido "um crime grave no Brasil": falsidade ideológica.

Ora, ora. O que se desenha é muito mais do que isso. É a quebra de sigilo para coleta de informações de adversários. Só não está claro se os autores se aproveitaram de esquema pré-existente no ABC ou criaram um disfarce especial para atingir seus alvos dando a impressão de que se tratava de um sistema geral de quebra de sigilo e venda dos dados.

Quando o presidente fazia o discurso da falsidade ideológica, o governo já sabia havia pelo menos dez dias que Verônica Serra tivera a declaração de renda violada e que havia suspeita de fraude e, ainda assim, sustentava a versão de que ela havia assinado uma procuração.

É uma mentira atrás da outra.

Indicativas de que as acusações da oposição têm fundamento. Se não, por que assessores do presidente reclamariam da inabilidade da Receita por ter enviado os documentos relativos a Verônica para o Ministério Público?

Achavam que a Receita poderia ter sido mais companheira e omitido essa parte já que havia a "procuração" como "prova" de licitude.

Ademais, se não sabe o que aconteceu, se é verdade que as investigações ainda estão em curso e por isso não se chegou ao culpado (ou culpados), de onde sai a certeza que não houve uso político, conforme declarou Lula?

A outra mentira da qual poderíamos todos ser poupados é a que aponta falta de interesse do PT em quebrar sigilo "agora" pois está muito à frente nas pesquisas e que a campanha de Dilma não pode ser responsabilizada, pois em 2009, quando ocorreram as violações, a candidatura dela não existia.

Existia tanto quanto a certeza do PT de que em algum momento poderia ser necessário implodir o adversário, então na dianteira nas pesquisas.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Republica Mafiosa do Brasil (9): agora tambem uma Republica da Mentira

Existe uma frase do poeta Fernando Pessoa, vocês sabem, sobre as mentiras dos poetas.
Infelizmente não é o caso aqui, o que seria bem mais agradável de ler, convenhamos.
Não, aqui estamos mesmo no submundo do crime, organizado, mafioso, comme il faut...
E estamos no império da mentira, sistemática, desavergonhada, nojenta, se ouso dizer...

A mentira como método e como arma política tão imoral quanto eficaz
Reinaldo Azevedo, 2/09/2010

A farsa montada pelo governo para tentar culpar Verônica Serra pela violação do próprio sigilo fiscal tinha um tempo de duração. E então muitos leitores me perguntam, cheios de justo espanto:
“Reinaldo, por acaso eles não sabiam que a verdade acabaria aparecendo, que seria possível provar a falsidade da assinatura e até a do reconhecimento de firma?”
Respondo: Claro que eles sabiam!

É que estamos diante da aplicação de uma das teorias da comunicação, usada com desenvoltura por canalhas:
- espalhe a mentira:
- insista nela;
- faça com que ela pareça ter o mesmo peso da verdade;
- transforme tudo numa mera guerra de versões

Resultado: uma parte da opinião pública desiste do caso no meio do caminho e se conforma com a mentira. Para essa gente, não levar a mentira ao ar seria pior: todos ficariam expostos só à verdade. E a verdade não lhes interessa.

Há estudos a respeito da eficácia desse procedimento — estudos críticos, claro! Os que têm compromisso com a verdade usam esse saber para tentar desvendar as farsas oficiais. Os que não têm o fazem para construir farsas oficiais. Ademais, não lhes digo nenhuma novidade. A máxima atribuída a Goebbels, o ministro da propaganda do nazismo, fala por si: uma mentira repetida muitas vezes vira verdade.

Então não tem sido assim?
Pensem bem: então não tem sido mesmo assim? Não tem sido essa a lógica de comunicação do governo Lula nesses quase oito anos? O expediente empregado para tentar destruir os adversários, convertidos em inimigos, é o mesmo que serve à glorificação de seus feitos. Mente-se de forma organizada, determinada, obsessiva, sobre o passado. Mente-se de modo não menos organizado, determinado e obsessivo sobre o presente. Mentiras já começam a ser construídas, diga-se, com vistas ao futuro.

Todos vimos o desempenho da presidenciável Dilma Rousseff no Jornal da Globo:
- inventou que Lula colaborou para libertar presos políticos cubanos — falso: o Babalorixá colaborou para que ficassem presos, comparando-os a bandidos;
- inventou que o governo e o PT sempre consideraram as Farc ligadas ao crime — falso: o PT manteve relações com as Farc; ela mesma empregou a mulher de um narcoterrorista;
- inventou que o Brasil ficou 25 anos sem investir, antes do governo Lula — falso: FHC investiu uma porcentagem maior sobre o PIB do que Lula.

É tal o descompromisso com a verdade que se pode mentir até sobe temas aparentemente irrelevantes. Dilma montou uma loja de porcariada importada em fevereiro de 1995 e fechou as portas em setembro do ano seguinte: incompetência como comerciante. Só isso. Segundo ela, quebrou por causa da desvalorização cambial. Que desvalorização? Durante um bom tempo, o real esteva mais forte do que o dólar, um paraíso para importadores. Quando ela fechou seu empreendimento de vender cacarecos do Panamá, a proporção era 1 por 1—- um dólar igual a um real —, e não três por um, como ela disse. Nese caso, acho que a ingorância colaborou com a mentira.

Foi mentindo de modo compulsivo que o governo Lula conseguiu criar uma herança maldita que nunca existiu — incluindo o “descontrole da inflação”, estupidez que buscava expropriar FHC e o governo anterior de seu principal ativo, aquilo que realmente alterou a estrutura da economia brasileira e a tirou da rota da estagflação — estagnação com inflação: o Plano Real. Lula bateu a carteira dos programas sociais do governo FHC, reuniu-os num só e lhes deu novo nome. E proclamou: nunca antes nestepaiz…

Lula foi beneficiado pela quase triplicação do preço de commodities brasileiras, origem das reservas que se acumularam — e transformou esse evento num fantástico aumento de exportações, que também não aconteceu. Lula anunciou uma revolução nas universidades federais, que nunca houve. E usou a máquina oficial, de modo sistemático, durante oito anos — com o apoio de sindicatos e dos movimentos sociais —, para destruir o legado alheio. Um império da mentira! É claro que contou com a ajuda de setores da imprensa. Elio Gaspari, por exemplo, foi um dos que ajudaram a fazer a sua fama entre setores pensantes — ou que pensam que pensam. Este gigante foi o primeiro a proclamar, por exemplo, a superioridade do “modelo Dilma” de concessão de estradas: é aquele que mata cobrando pedágio barato. Mas isso fica para texto específico — sobre Gaspari, não sobre estradas.

Então é tudo mentira? Ou: método!
Então é tudo mentira no governo Lula, e a população é imbecil e endossa um governo ruim? É claro que não! Quem deve pensar isso a respeito da população de São Paulo são os petistas. Eu, por exemplo, nunca escrevi algo assim. O que não aceito é que se recorra à mentira para destruir feitos alheios e inflar os próprios. Não acredito nesse tipo de política. Não acredito no “quanto pior, melhor”, opção que o PT ainda faz em São Paulo, por exemplo, onde nega — e combate — conquistas óbvias na educação, na saúde, na segurança, na infra-estrutura. Em entrevista ao Estadão, Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo do Estado, afirmou que São Paulo cresce menos do que o Brasil. É mentira! Cresce mais desde 2004.

O que estou lhes dizendo é que a mentira é usada como método, o que caracteriza um descarado cinismo. E a prática, o que é espantoso, passou a ser encarada como coisa corriqueira, normal, própria da política, por amplos setores da imprensa. Volto ao caso Verônica Serra. Vejam a hora em que foram publicados textos no chamado jornalismo Online. Só no fim da tarde se admitiu o óbvio: tudo não passava de uma trapaça. Durante horas, a mentira espalhada pela Receita ficou no ar, exposta a milhares de leitores — muitos deles se deram por satisfeitos com ela. E governo, Receita e petistas colheram, então, os frutos da mentira.

O que leva um órgão oficial a tornar público um documento que já se sabia falso (ver post sobre reportagem do Estadão)? O que leva o líder do governo no Senado, como fez Romero Jucá (PMDB-RR), a anunciar que seria apresentada a “prova” de que a própria Verônica havia pedido a quebra do sigilo? Convicção de que falavam a verdade? Ah, não! Jucá pode não ser, assim, um bom guia de educação moral e cívica, mas besta ele não é, muito pelo contrário. Ou não teria chegado tão longe — e ele sempre chega longe demais pouco importa quem esteja no governo. A seu modo, é um homem esperto.

Não! Este não é apenas um governo viciado na mentira, que a exerce de modo compulsivo. Também é. Este é um governo que faz da mentira um método: mente-se sobre o passado, mente-se sobre o presente, mente-se sobre o futuro, mente-se sobre a biografia de seus heróis, mente-se até para contar a história da falência de uma lojinha de cacarecos de Dilma Rousseff, candidata a governar os cacarecos morais do Brasil.

sábado, 28 de agosto de 2010

Uma mentira é uma mentira, e como mentira deve ser denunciada...

Eu não tenho carreira política, nem pretendo ter. Jamais me filiei, jamais me filiarei a qualquer partido político, e nunca pretendi atuar politicamente através de qualquer instituição partidária. Sou eu e minha consciência, apenas isso.
Mas, isso precisa ficar claro, gostaria de morar num país no qual a verdade predominasse, apenas isto.
Como um cidadão consciente, quando vejo uma mentira vir a público, considero ser meu dever de cidadão denunciá-la.
Como pretendo viver num país em que a verdade predomina, quando vejo uma mentira muito grande, creio que os homens de bem têm o dever de denunciá-la.
Grandes mentirosos pretendem fazer-nos de idiotas, pensando enganar-nos com suas mentiras. A mim não me enganam, e acho que se deve sempre repetir:
uma mentira é uma mentira, uma mentira, uma mentira...
Apenas isto.
Paulo Roberto de Almeida

Violação não teve objetivo político, afirma Receita
LEONARDO SOUZA, MÁRIO SÉRGIO LIMA DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 28/08/2010

Em tentativa de despolitizar o caso, cúpula diz que havia "balcão de negócios"
Investigação sobre o vazamento de dados sigilosos de pessoas ligadas a Serra não deve acabar antes do 1º turno

O secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, e o corregedor-geral do órgão, Antônio Carlos D'Ávila, tentaram ontem despolitizar a quebra dos dados fiscais de quatro pessoas ligadas ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
De acordo com os dirigentes do fisco, a violação do sigilo dos tucanos ocorreu a partir de um esquema criminoso mais amplo de compra e venda de informações que funcionava dentro da agência da Receita em Mauá (SP).
"Realmente esse fato preocupa [a quebra dos dados das pessoas ligadas a Serra]. Mas, se nós analisarmos todos os acessos feitos na agência, verificamos que foram indistintamente realizados. Não acredito que tenha havido fins específicos de natureza político-partidária", disse Cartaxo, em entrevista para explicar o caso.
Conforme a Folha revelou, os dados do vice-presidente tucano, Eduardo Jorge, estavam em um dossiê feito pela chamada "equipe de inteligência" da campanha de Dilma Rousseff (PT). Os outros alvos da quebra tiveram seus nomes citados em outro dossiê do mesmo grupo.
Segundo o corregedor do órgão, foram levantados indícios de que um intermediário de fora da Receita encomendava dados sigilosos de contribuintes diversos a duas servidoras de Mauá, mediante "pagamento de propina".
D'Ávila não informou quem seria o intermediário. "Nas investigações, que poderão ser ratificadas pela Polícia Federal, há indícios de um balcão de compra e venda de dados sigilosos", disse.
Já Cartaxo afirmou que o episódio "não só nos deixa extremamente constrangidos como instituição mas também traumatizados".
Em outubro do ano passado, foram acessados e impressos irregularmente declarações do Imposto de Renda de Eduardo Jorge, do ex-ministro de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros, do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio e de Gregorio Marin Preciado, casado com uma prima de Serra.
Além desses casos, a corregedoria listou outros 320 acessos a informações de contribuintes realizados na agência de Mauá entre agosto e dezembro do ano passado, incluindo dados da apresentadora de TV Ana Maria Braga e de empresários. Não se sabe quantos desses acessos foram irregulares.

"PURA ENROLAÇÃO"
"Essa investigação da Receita é pura enrolação. Eu tenho cópia de todo o procedimento da corregedoria. Não há nem uma menção sequer à venda de dados. Por que o secretário Cartaxo vem a público agora falar sobre essa hipótese? Ele está protegendo o PT", afirmou EJ.
O corregedor disse que na segunda-feira a comissão de inquérito encarregada do caso vai entregar ao Ministério Público Federal representação criminal recomendando o indiciamento da analista fiscal Antonia Aparecida Neves Silva e da funcionária do Serpro cedida ao fisco Adeildda Ferreira dos Santos.
Todos os acessos irregulares ocorreram no computador de Adeildda, mas a partir da senha de Antonia. As representações são por violação do sigilo funcional.
O corregedor do fisco ressaltou que as representações encerram apenas a primeira parte da investigação. Segundo ele, não será possível concluir a apuração num prazo inferior a 60 dias, ou seja, antes do primeiro turno.
"Não estamos preocupados com o calendário eleitoral", disse Cartaxo.

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Addendum:
Transcrevo aqui dois despachos do mesmo jornal, cada um com declarações dos dois principais candidatos, em torno dos quais tudo gira, inclusive esta história escabrosa.
Leia as declarações de cada um, e escolha em quem você pretende acreditar.
Um deles está tentando nos chamar de idiotas, adivinhe quem é...
Paulo Roberto de Almeida

Apuração do fisco é "história de carochinha", afirma Serra
HUDSON CORRÊA DO RIO
MATHEUS MAGENTA DE SALVADOR
Folha de S.Paulo, 28.08.2010

Para Dilma, tudo indica que vazamento de dados sigilosos não foi político
Tucano volta a atacar o PT e diz que tentaram fazer armadilha contra ele; petista afirma que o que houve foi corrupção

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem que a apuração da Receita Federal sobre o vazamento de dados fiscais de pessoas ligadas ao partido "é uma história de carochinha, uma maluquice total".
Na agência da Receita em Mauá (SP) foram quebrados ilegalmente os sigilos de pessoas ligadas ao presidenciável e a seu partido. Parte dos dados serviram para a montagem de um dossiê e estavam em poder da equipe ligada à então pré-campanha de Dilma Rousseff (PT).
Para Serra, houve "a utilização do poder do governo contra indivíduos". "Foi uma armadilha que tentaram armar contra mim. Só que eles têm sempre um problema: eu sou ficha limpa", afirmou, e voltou a responsabilizar o PT pelas quebras de sigilo.
"Em todas as eleições, o PT costuma fazer a mesma coisa. Antes [2006] teve o dossiê dos aloprados. Agora tem a quebra de sigilo, todo aquele dossiê que estavam fazendo, comandados pelo candidato a senador em Minas Gerais, Fernando Pimentel [PT]."
No Rio, Serra fez uma palestra para cerca de cem pessoas no Clube de Aeronáutica e criticou uma suposta estratégia do PT de espalhar boatos contra ele.
Logo depois, em entrevista, o tucano atacou diretamente Dilma: "O PT tem sempre duas caras e a sua candidata não escapa disso".

DILMA
A candidata do PT, por sua vez, disse ontem que "tudo indica" que o vazamento dos dados fiscais faz parte de um "grande esquema de corrupção", sem caráter político.
As investigações feitas pela Corregedoria-Geral da Receita encontraram indícios de que os vazamentos foram encomendados por intermediários de fora do órgão.
"Pelo que eu li [na imprensa], tudo indica que é um grande esquema de corrupção, que envolve, parece, que vocês listam 140 nomes, visivelmente sem caráter político", afirmou Dilma durante entrevista em Salvador.
Ela voltou a criticar a oposição, que a responsabiliza pelo vazamento dos dados. "Eu acho que é uma tentativa um pouco desesperada da oposição tentar usar isso."
À noite, Dilma participaria de um comício ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Pernambuco.
Ela negou que diminuirá o número de aparições públicas até o final da campanha por liderar as pesquisas.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A mistificacao como obra deliberada (2): os ataques as "zelites"

Basta transcrever:

Por alguns minutos, Lula transformou o diretor de Redação da Folha no seu FHC. Ou: a mentira como método e a imprensa como alvo
Reinaldo Azevedo, 26/08/2010

Eu mesmo já escrevi aqui, como vocês sabem, que parte da responsabilidade por essa quase unanimidade burra e injustificada de que goza Lula cabe às oposições, em particular ao PSDB, que fez de tudo para evitar o confronto. Há, eu sei, quem ache que faltou foi aderir mais. Cada um na sua. Amplos setores da imprensa podem oferecer o seu ombro para dividir o que tem tudo para se transformar num fardo. Também colaboraram para isso. Que o presidente fosse aprovado pela maioria, vá lá. A economia, como é sabido, pode explicar — e nem cabe aqui entrar no mérito do que se pode ou não atribuir a Lula. Que a aprovação atinja os níveis que estão sendo apontados pelas pesquisas — com a conseqüente transferência de voto para a candidata que ele inventou —, bem, aí a explicação requer um pouco mais do que aquele clichê chatinho: “É a economia, idiota!”.

Todas as mentiras que Lula contou e conta sobre o seu governo passaram quase sem contestação. Não raro, quando confrontadas, buscava-se encontrar um fundo que fosse de verdade no que ele dizia para evidenciar sabe-se lá a que tribunal que não havia preconceito nenhum contra ele. O lulo-petismo conseguiu seqüestrar a independência de jornalismo, que passou a se preocupar mais em não parecer antipetista — ainda que a verdade pudesse ser a primeira vítima desse procedimento — do que em se ater aos fatos. Escrevi anteontem um texto com dados sobre as universidades federais — dados que estão no Ministério da Educação e no IBGE. Eles provam a falácia da suposta revolução que ele fez na área. Até leitores habituais deste blog se surpreenderam. E daí? Lula falou o que bem quis nestes oito anos. A oposição não conseguiu se organizar de maneira eficiente para contestá-lo com fatos que estavam à sua disposição. Boa parte do jornalismo fez o mesmo.

E Lula se mostra, por isso, menos agressivo, virulento, com a imprensa — que o PT chama “mídia” — por isso? De jeito nenhum! O partido já tem pronto um estoque de maldades legais, que pretende apresentar na forma de projetos de lei, para tolher a liberdade de imprensa e intimidar as empresas de comunicação. Há exemplos no continente elogiados pelos petistas e considerados virtuosos por eles: a Venezuela e a Argentina.

Se alguém acredita que o partido está conformado com a liberdade de imprensa, pode tirar o cavalo da chuva. Na última reunião do Foro de São Paulo, realizada em Buenos Aires sob o comando do PT, o grupo tirou uma moção de apoio a Cristina Kirchner, que tenta liquidar o grupo Clarín.

Um episódio ocorrido ontem dá o que pensar. Reproduzo trecho de uma reportagem da Folha de hoje. Leiam com atenção:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou anteontem a imprensa em comício em Campo Grande (MS) ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.
Lula disse que foi vítima de preconceito da mídia que, segundo o presidente, não acreditava que ele seria capaz de governar por não ter curso universitário e por não saber falar inglês.
“Uma vez eu estava almoçando na Folha de S.Paulo e o diretor da Folha de S.Paulo perguntou para mim: “Escuta aqui, candidato, o senhor fala inglês?” Eu disse não. “Como é que você quer governar o Brasil se não fala inglês?” Eu falei: “Mas eu vou arrumar um tradutor”. “Mas assim não é possível. O Brasil precisa ter um presidente que fala inglês”. E eu perguntei para ele: “Alguém já perguntou se o Bill Clinton fala português?”, afirmou.
“Eles achavam que Bill Clinton não tinha obrigação de falar português. Era eu, o subalterno, o país colonizado, que tinha que falar inglês. Teve uma hora que eu me senti chateado e levantei da mesa. E falei: “Não vim aqui para dar entrevista, vim para almoçar. Se é entrevista eu vou embora”. E levantei, larguei o almoço, peguei o elevador e fui embora.”
Lula afirmou ainda que vai terminar o mandato “sem precisar ter almoçado em nenhum jornal, em nenhuma televisão”. “Também nunca faltei com respeito com nenhum deles, já faltaram com respeito comigo. (…) Se dependesse de determinados meios de comunicação, eu teria zero na pesquisa e não 80% de bom e ótimo como nós temos neste país.”

Método
Em 2002, num almoço na Folha de S. Paulo, irritado com perguntas que lhe foram feitas por Otavio Frias Filho, diretor de Redação do jornal, Lula, de fato, levantou-se e foi embora. To do o resto que ele conta é mentira, não aconteceu. Otavio jamais fez aquelas perguntas. Aquele diálogo nunca aconteceu. O colunista Clóvis Rossi escreve a respeito hoje. Conheço várias pessoas que estavam presentes e que me relataram o episódio à época. O próprio jornal publicou reportagem.

Otavio perguntou, aí sim, por que ele optara por não estudar, tomando o cuidado de lembrar que Lincoln, o presidente americano, também não tinha formação superior e fizera um bom governo — notem que a ressalva era favorável ao então candidato. Ele não respondeu e acusou desrespeito. Pouco depois, o jornalista quis saber se a união com o PL não caracterizava uma adesão a práticas fisiológicas — o mensalão revelaria mais tarde como se deu esse casamento. Lula levantou e foi embora. Esse é o fato. Essa é a verdade.

Agora voltem ao trecho em vermelho e leiam a versão que ele levou ao palanque. Ontem, por alguns minutos, Otavio se transformou no FHC de Lula. O petista resolveu contar a história como bem quis. Não na Folha certamente, mas em outros veículos por aí, é provável que prospere a versão lulo-petista do episódio — afinal, jornalismo afora, não prosperou a versão fantasiosa de que as privatizações não passaram de “privataria”? Trata-se de uma lulice. Sim, haverá os porta-vozes da mistificação que se encarregarão de espalhar a mentira. Para muita gente, o diretor de Redação da Folha será aquele que perguntou a Lula como ele se atrevia a ser presidente sem falar inglês.

Notem mais: a mentira que conta nada tem de primitiva ou impensada. Ao contrário: ao se colocar como aquele que foi discriminado por um diretor de redação de jornal por não falar inglês — e por ter origem operária; é o subtexto —, convoca a solidariedade dos ouvintes, que, nesses dois particulares, estão mais próximos dele próprio do que de Otavio e do jornal. Investe, assim, na clivagem vigarista e falsa entre “o povo”, que ele representaria, e as elites, para as quais falaria a Folha — e, por extensão, todos os jornais, revistas, TVs, sites e blogs que não estão alinhados com a causa petista.

Os oito anos de gestão Lula têm, é claro, qualidades. Seria estúpido supor — e aqui nunca se disse isso — que ele é aprovado pela maioria da população apenas porque mente com o desassombro que se vê acima, sem hesitar, tremer o lábio, nada, emprestando às suas fantasias muito bem-articuladas aquele ar de verdade de que só um grande ator — eis o grande talento de Lula! — é capaz. Não! A aprovação tem explicações bastante objetivas. Mas os contornos de mito em que ele tem investido com fúria, especialmente no segundo mandato, esses foram desenhados com a falsificação sistemática do passado, do presente e, se querem saber, até do futuro. E, para tanto, ele contou com muita ajuda.

Não é gratuito
O ataque, nos termos em que ele o faz, não é gratuito. Deve ser visto, entendo, como um sinal de alerta pela imprensa brasileira, que tem de olhar com atenção o que se passa ao redor. Lula é hoje o principal aliado de todos os governos latino-americanos que abriram uma verdadeira guerra contra a imprensa que não se conforma em ser mera extensão do Poder Executivo.

Há quatro dias, Franklin Martins — aquele que nunca teve a menor dúvida de que o embaixador seria morto se as exigências dos terroristas não fossem cumpridas, ´s gargalhadas — deixou claro, como é mesmo?, o propósito de “acabar com o poder dos aquários”. Não se trata de “política do medo”, como dizem alguns cretinos e áulicos, mas de realismo: se eleita, a criatura de Lula tentará fazer o trabalho que não se fez nos dois mandatos do chefe. Eles partirão para o enfrentamento com a imprensa independente: em uma das mãos, trarão as ameaças legais; na outra, o “incentivo” às empresas amigas que estão sendo criadas ou robustecidas para disputar leitores, telespectadores e internautas. Quais empresas? Aquelas que não têm compromisso nenhum com a liberdade de imprensa e entendem que todos são livres para aderir ao governo.

Encerro: a economia pode ter feito o governo popular; mas foram as omissões que fizeram o mito. E o mito está assanhado.

A mistificacao como obra deliberada (1): o Bolsa-Familia

Não é preciso comentar, basta reproduzir.

O discurso em que Lula afirma que Bolsa Família deixa o sujeito vagabundo, sem vontade de plantar macaxeira!!! E a prova documental de quem foi o criador do programa
Reinaldo Azevedo, 26/08/2010

Como é mesmo? Segundo um novo Datafolha, a diferença entre Dilma e Serra oscilou para 20 pontos? Os petralhas não descansam nem de madrugada — creiam (devem ganhar bem!) — e anunciam que eu já perdi a eleição? Então eu vou lhes mostrar como me comporto em meio àqueles que já disputam o seu lugar à grama. E por que vou fazer o que segue? Por apreço à verdade. E porque, como escrevi naquele texto quanto estava em Dois Córregos, Corisco só se entrega na morte de parabelo na mão, hehe.

Ontem, na impressionante coleção de invencionices a que se entregou em cima do palanque, Lula afirmou que setores “elitistas” o criticaram por causa do Bolsa Família. Também é mentira. O único “elitista” contrário ao programa era… Lula!!! E dá para provar. Quando o Babalorixá chegou ao poder, inventou que o Brasil padecia de uma fome africana — que já havia sido superado havia duas décadas ao menos. E criou o natimorto programa Fome Zero, lembram-se? O que era mero golpe publicitário de Duda Mendonça virou estandarte do governo. Havia quatro programas de renda do governo FHC: Auxílio-Gás, Bolsa Alimentação, Bolsa Escola e Bolsa Renda. Lula os juntou depois e os chamou de Bolsa Família. Isso é história. Mas, antes de fazê-lo, falou muita bobagem. E depois também.

No dia 9 de abril de 2003, com o Fome Zero empacado, Lula fez um discurso no semi-árido nordestino, na presença de Ciro Gomes, em que disse com todas as letras que acreditava que os programas que geraram o Bolsa Família levavam os assistidos à vagabundagem. Querem ler? Pois não!

Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.

Notaram a verdade de suas palavras? A convicção profunda? Então…

No dia 27 de fevereiro de 2003, Lula já tinha mudando o nome do programa Bolsa Renda, que dava R$ 60 ao assistido, para “Cartão Alimentação”. Vocês devem se lembrar da confusão que o assunto gerou: o cartão serviria só para comprar alimentos?; seria permitido ou não comprar cachaça com ele?; o beneficiado teria de retirar tudo em espécie ou poderia pegar o dinheiro e fazer o que bem entendesse?

A questão se arrastou por meses. O tal programa Fome Zero, coitado!, não saía do papel. Capa de uma edição da revista Primeira Leitura da época: “O Fome Zero não existe”. A imprensa petista chiou pra chuchu.

No dia 20 de outubro, aquele mesmo Lula que acreditava que os programas de renda do governo FHC geravam vagabundos, que não queriam mais plantar macaxeira, fez o quê? Editou uma Medida Provisória e criou o Bolsa Família? E o que era o Bolsa Família? A reunião de todos os programas que ele atacara em um só. Assaltava o cofre dos programas alheios, afirmando ter descoberto a pólvora. O texto da MP não deixa a menor dúvida:

(…) programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação - “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de ir de abril de 1001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação - PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde - “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de julho de 2001.

Compreenderam? Bastaram sete meses para que o programa que impedia o trabalhador de fazer a sua rocinha virasse a salvação da lavoura de Lula. E os assistidos passariam a receber dinheiro vivo. Contrapartidas: que as crianças freqüentassem a escola, como já exigia o Bolsa Escola, e que fossem vacinadas, como já exigia o Bolsa Alimentação, que cobrava também que as gestantes fizessem o pré-natal! Esse programa era do Ministério da Saúde e foi implementado por Serra.

E qual passou a ser, então, o discurso de Lula?
Ora, Lula passou a atacar aqueles que diziam que programas de renda acomodavam os plantadores de macaxeira, tornando-os vagabundos, como se aquele não fosse rigorosamente o seu próprio discurso.

No dia 23 de março de 2005, em Cuiabá, atirava contra as pessoas supostamente contrárias ao Bolsa Família. Leiam e confrontem com o que ele próprio dizia em 2003:

Eu sei que tem gente que fala: “Não, mas esse presidente está com essa política do programa Fome Zero, do Bolsa Família, isso é proselitismo, isso é esmola.” Eu sei que tem gente que fala assim. Lógico, o cidadão que toma café de manhã, almoça e janta todo santo dia, para ele Bolsa Família não significa nada, ele não precisa. E ainda mais se ele puder fazer uma crítica a mim tomando uma Coca-Cola em um bar, um uísque ou uma cerveja. Agora, tem pessoas que, se a gente não der essa ajuda, não conseguem comer as calorias e as proteínas necessárias à vida humana. E se for uma criança de antes de seis anos de idade, nós sabemos que essa criança poderá ter o seu cérebro atrofiado e nunca mais se recuperar.

Quando eu vou parar de evidenciar as mistificações de Lula? Nunca! Quanto mais “popular” ele fica, mais considero este trabalho uma obrigação moral.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Pequeno retrato do pais, tal como ele é...

...ou melhor: um grande retrato da política no país, tal como ela é:

Segunda ameaça
Miriam Leitão
O Globo, 18 de agosto de 2010

O Brasil perderá esta eleição, independentemente de quem vença, se ficarem consagrados comportamentos desviantes assustadoramente presentes na política brasileira. Uso de um fundo de pensão para construir falsas acusações contra adversários, funcionários da Receita acessando dados protegidos por sigilo, centrais de dossiês montados por pessoas próximas ao presidente.

A cada eleição, fatos estarrecedores têm sido aceitos como normais na paisagem política, e eles não são aceitáveis. Quando a Polícia Federal entrou no Hotel Ibis, em São Paulo, em 2006, e encontrou um grupo com a extravagante quantia de R$1,7 milhão em dinheiro vivo tentando comprar um dossiê falso, havia duas notícias. Uma boa: a PF continuava trabalhando de forma independente. A ruim: pessoas da copa, cozinha, churrasqueira e campanha do presidente da República e do candidato a governador pelo PT em São Paulo estavam com dinheiro sem origem comprovada e se preparando para um ato condenável. A pior notícia veio depois: eles ficaram impunes.

Nesta eleição, depoimentos e fatos mostram que estão virando parte da prática política, principalmente do PT, a construção de falsas acusações contra adversários, o trabalho de espionagem a partir da máquina pública, o uso político de locais que não pertencem aos partidos.

As notícias têm se repetido com assustadora frequência. O verdadeiro perigo é que se consagre esse tipo de método da luta política. A democracia não é ameaçada apenas quando militares saem dos quartéis e editam atos institucionais. Ela corre o risco de "avacalhação", para usar palavra recente do presidente Lula, quando pediu respeito às leis criminosas do Irã.

Sobre o desrespeito às leis democráticas brasileiras, Lula não teme processo de "avacalhação", pelo visto. A Receita Federal não presta as informações que tem o dever de prestar sobre os motivos que levaram seus funcionários a acessarem, sem qualquer justificativa funcional, os dados da declaração de imposto de renda do secretário-geral do PSDB, Eduardo Jorge. Nem mesmo explica como os dados foram vazados de lá. Se a Receita não divulgar o que foi que aconteceu, com transparência, ela faz dois desserviços: sonega ao país informações que têm o dever de prestar antes das eleições; mina a confiança que o país tem na instituição, porque sua direção está adiando, por cumplicidade eleitoral, a explicação sobre o que houve naquela repartição.

Nas últimas duas semanas, a "Veja" trouxe entrevistas de pessoas diretamente ligadas ao governo e que trabalham em múltiplos porões de campanha. O que eles demonstram é que aquele grupo de aloprados do Ibis não foi um fato isolado. Virou prática, hábito, rotina no Partido dos Trabalhadores. Geraldo Xavier Santiago, ex-diretor da Previ, contou à revista que o fundo de pensão, uma instituição de poupança de direito privado cuja função é garantir a aposentadoria dos funcionários do Banco do Brasil, era usada para interesses partidários. Com objetivos e métodos escusos. Virou uma central de espionagem de adversários políticos. Agora, é o sindicalista Wagner Cinchetto que fala de uma central de produção de espionagem e disparos contra adversários; não apenas tucanos, mas qualquer um que subisse nas pesquisas.

Esse submundo é um caso de polícia, mas há outros comportamentos de autoridades que passaram a ser considerados normais nas atuais eleições. E são distorções. Não é normal que todos os órgãos passem a funcionar como ecos do debate eleitoral, usando funcionários pagos com os salários de todos nós, estruturas mantidas pelos contribuintes. Todos os ministérios se mobilizam para consolidar as versões fantasiosas da candidata do governo ou atacar adversários, agindo como extensões do comitê de campanha. Isso é totalmente irregular. Na semana passada, até o Ministério da Fazenda fez isso. Um relatório que é divulgado de forma rotineira, virou palanque e peça de propaganda, com o ministro indo pessoalmente bater bumbo sobre gráficos manipulados para ampliar os feitos do atual governo e deprimir os do anterior. O que deveria ser técnico virou politiqueiro; o que deveria ser prestação de contas e análise de conjuntura virou peça de propaganda.

Um governo não pode usar dessa forma a máquina pública para se perpetuar; órgãos públicos não são subsedes de comitês de campanha; fundos de pensão não são central de fabricação de acusações falsas; o governo não pode usar os acessos que tem a dados dos cidadãos para espionar. Isso mina, desqualifica e põe em perigo a democracia. Ela pressupõe a neutralidade da máquina mesmo em momentos de paixão política. Nenhuma democracia consolidada aceitaria o que acontece aqui. A Inglaterra acabou de passar por uma eleição cheia de paixões em que o governo trabalhista perdeu por pouco, mas não se viu lá nada do que aqui está sendo apresentado aos brasileiros com naturalidade, como parte da disputa política. Crime é crime. Luta política é um embate de propostas, estilos e visões. O perigoso é essa mistura. Como a História já cansou de demonstrar, democracia não significa apenas eleições periódicas. A manipulação da vontade do eleitor, o uso de meios ilícitos, o abuso do governante ameaçam a liberdade, tanto quanto um ato institucional.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A mentira da semana (talvez de toda a campanha eleitoral)

Não se impressionem demais ou rapidamente. Outras mentiras virão certa, seguramente, sem hesitação: que está acostumado a mentir, faz disso uma segunda natureza...

A mentira histórica contada por Dilma no debate Folha/UOL
Reinaldo Azevedo, 18.08.2010

Aprovamos o Plano Real e, mais do que isso, levamos à frente e o utilizamos de forma adequada”.

De quem é a frase? Da petista Dilma Rousseff no debate da Folha/UOL. Caso Serra dissesse uma flagrante mentira, dessas escandalosas, contra todas as evidências dos fatos, contra a história, contra o modo como se organizou a política de 1994 a esta data, o jornalismo online estaria noticiando a mentira em letras garrafais. Amanhã, os colunistas isentos fariam a festa no jornalismo impresso.

A mentira grotesca contada por Dilma ficará por isso mesmo. O Plano Real não se resumiu a uma ou duas medidas. Tratou-se de um conjunto. O PT se opôs a todas, a rigorosamente todas, em especial ao plano de estímulo à reestruturação dos bancos, o Proer, que garantiu a saúde do sistema financeiro brasileiro e foi fundamental para assegurar a estabilidade da moeda. Só para lembrar: a reestruturação custou o fim do Banco Nacional, de que netos de FHC eram herdeiros. É isto: FHC chegou ao poder com netos herdeiros de bancos (sua então nora era da família Magalhães Pinto, que controlava a instituição); quando saiu, aqueles mesmos netos eram, como a maioria de nós, do MSB, o Movimento dos Sem-Banco.

Nota à margem: a família Lula da Silva deu mais sorte. O patriarca chegou ao poder, e um de seus filhos era monitor de jardim zoológico. Hoje, o mesmo filho, Lulinha, é o dono da Gamecorp, aquela empresa que recebeu uma generosa injeção de dinheiro da então Telemar, hoje Oi, de que o BNDES era e é sócio. A história do “movimento operário” nestepaiz é realmente muito linda!!!

Adiante. O PT afirmava que o Proer não passava de mamata para banqueiros — e com o endosso de setores do jornalismo; aqueles mesmos que se calarão, agora, diante da mentira contada por Dilma.

O partido se opôs ao Plano Real, sim, tanto que fez a campanha eleitoral de 1994 tentando demonstrar os malefícios todos que ele causaria ao Brasil. E passou os oito anos seguintes tentando sabotar a estabilidade.

No máximo, a petista poderia dizer que seu partido “aprovou” o Real depois que estava no poder, sem jamais reconhecê-lo. Ao contrário. Teve lugar o discurso no qual ela navega até hoje: “Nunca antes na história destepaiz”.

É impressionante que a mentira seja dita de modo tão explícito, tão escancarado, e que a reação seja praticamente nenhuma. Mas vá Serra lançar no ar um dado impreciso que seja… Vira manchete. De novo: isso nada tem a ver com as minhas afinidades com esse ou com aquele. Contentem-me demonstrando quem é que está dando destaque à mentira histórica.

Ora, se o PT tivesse aprovado o Plano Real, a clivagem que hoje existe na política brasileira não teria como seus principais protagonistas o PT e o PSDB. Sem essa! Depois de ter tentado apagar da memória do país as conquistas dos adversários, os petistas agora tentam roubá-las.

sábado, 14 de agosto de 2010

Balanço do governo Lula: a mentira oficial

Ministérios relutam em ''corrigir'' Dilma
Eugênia Lopes
O Estado de S.Paulo, 14 de agosto de 2010

Governo contesta prontamente informações de candidato tucano, mas não faz reparos a dados incorretos divulgados pela petista

BRASÍLIA - Ágil em contestar informações do candidato de oposição, o tucano José Serra, o governo não trabalha com a mesma rapidez para corrigir dados incorretos apresentados pela candidata governista à Presidência, Dilma Rousseff.

Passados oito dias do debate promovido pela TV Bandeirantes entre os presidenciáveis e quatro dias depois da entrevista concedida pela petista ao Jornal Nacional, da TV Globo, os Ministérios do Trabalho, das Cidades e da Educação não haviam divulgado até ontem nenhuma correção a informações erradas dadas pela candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tratamento bem diferente foi dispensado na quinta-feira pelo governo federal a Serra. Mal terminou o Jornal Nacional, os Ministérios da Saúde e dos Transportes vieram a público contestar dados por ele apresentados. O argumento da Saúde foi que era "dever corrigir informações erradas" e o ministério "tem a responsabilidade de zelar pela correta informação à população".

Na semana passada, durante o debate da Bandeirantes, a ex-ministra da Casa Civil afirmou que o salário mínimo teve um aumento real de 74%, nos oito anos do governo Lula. O número correto era 53,6%. O Ministério do Trabalho informou que, por enquanto, não pretende fazer nenhuma correção às informações da petista.

Números imprecisos também foram apresentados por Dilma na entrevista ao Jornal Nacional, na segunda feira. Ela disse que o governo federal investiu R$ 270 milhões em saneamento na Favela da Rocinha, no Rio. Dois dias depois, recuou e explicou que o valor se referia não só a saneamento, mas também à urbanização da favela.

"Na Rocinha, estamos investindo R$ 276 milhões em saneamento integrado e urbanização. Isso significa dar condições não só em termos de estruturação. É dar condições de vida para a população. Quando investiram no complexo do Alemão? Quando investiram na Rocinha? Nunca", argumentou Dilma, momentos antes de participar de seminário sobre ferrovias, em Brasília.

Explicações. Sob a tutela de Márcio Fortes, o Ministério das Cidades confirmou ontem os dados apresentados por Dilma e acrescentou que as cifras se referiam "à construção de redes de abastecimento de água, de coleta de esgoto sanitário e drenagem". Na nota à imprensa, o ministério informou que "no Complexo da Rocinha, há dois contratos do PAC. O primeiro no valor total de R$ 114 milhões, com contrapartida do Estado no valor de R$ 55,5 milhões. O segundo contrato no valor total de R$ 151,3 milhões, com contrapartida de R$ 54,8 milhões. Esses contratos totalizam R$ 265,3 milhões que beneficiarão aproximadamente 30 mil famílias".

Assim como fez em relação ao saneamento na Rocinha, Dilma também explicou os dados apresentados na Band, sobre o aumento dos recursos aplicados na educação. Na ocasião, disse que se chegara "a algo em torno de 5% a 6% do PIB". Pela última estimativa oficial, União, Estados e municípios investiram 4,7% do PIB, em 2008. Procurado, o Ministério da Educação informou que nada dirá sobre o assunto.

Sem polêmica. Em Salvador, o tucano José Serra disse ontem que ministérios não deveriam engajar-se em campanhas - mas evitou entrar em polêmicas sobre a força-tarefa dos ministérios em defesa de Dilma Rousseff. "Não vou debater com o ministério do (presidente) Lula", afirmou. "Minha disputa eleitoral não é com o ministério do Lula, eu debato com os candidatos. Mesmo que eles estejam engajados na campanha - e não deveria ser assim - meu foco são os candidatos."

Serra aproveitou para acusar outros candidatos de cópia de programas de governo de sua campanha. "Não acho errado copiar, até porque governar é mais tirar do papel do que ter a ideia. Mas é bom que se dê o crédito."

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Mobilização geral por Dilma
Editorial O Estado de S.Paulo, 14.08.2010

O País seria outro em muitos aspectos se o presidente Lula tivesse convocado a administração federal a fazer o que dela a sociedade cobra com a mesma determinação empregada para fazê-la trabalhar cada vez mais pela candidatura Dilma Rousseff. E a máquina pública faria jus aos volumosos impostos recolhidos da população se os devolvesse sob a forma de serviços de boa qualidade no ritmo requerido, com o mesmo empenho e assiduidade com que se engajou na campanha sucessória, a fim de suprir as notórias deficiências da ex-ministra no embate eleitoral.

Fiel à sua proclamada prioridade “como presidente” este ano, não bastou a Lula carregar a sua afilhada pelo Brasil afora em eventos ditos administrativos, pelo que já recebeu uma penca de multas aplicadas pela Justiça Eleitoral. Tampouco deve ter considerado suficiente sincronizar o anúncio de medidas na área de políticas públicas com as promessas da candidata na montagem de uma assim chamada “agenda positiva”. Foi só ela defender a intensificação do combate ao crack, por exemplo, e eis que, num primário jogo de cartas marcadas, o Planalto apresentou o que seria um programa nacional nesse sentido.

Com igual despudor, apostando na falta de informação e senso crítico da parcela do eleitorado com que conta para eleger a ex-ministra, Lula resolveu colocar o Ministério em regime de prontidão para fazer por Dilma o que ela não conseguiria por conta própria. Na terça-feira, ele reuniu o Gabinete para exigir de seus integrantes dedicação plena à campanha eleitoral. “O povo brasileiro”, avisou na véspera, “merece que nós possamos concluir o trabalho que começamos.” Naturalmente, nenhum dos mobilizados há de ter tido dúvidas sobre a natureza desse trabalho.

Coincidência ou não, no mesmo dia do comando de ordem unida dado por Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, divulgou pessoalmente um boletim estatístico eivado de falsidades. A julgar pelos números manipulados, o governo Lula é ainda melhor do que o seu titular diz ser e o governo Fernando Henrique ainda pior do que o lulismo apregoa. Dados referentes ao primeiro ano da gestão FHC, por exemplo, foram omitidos para aumentar a diferença da variação da renda nacional per capita nos dois governos.

As verdades distorcidas foram parar sem demora no site da candidatura Dilma e ela mesma se valeu de uma delas (sobre a evolução do salário mínimo) na sua vez de ser sabatinada pelo Jornal Nacional. A operação casada prosseguiu nos dias seguintes, quando os Ministérios da Saúde e dos Transportes contestaram fatos e números apresentados pelo candidato oposicionista José Serra no mesmo programa. Menos de 2 horas depois, com incomum agilidade, a Saúde divulgou nota oficial respondendo à crítica do tucano à extinção dos mutirões criados quando chefiou a Pasta. “Os mutirões foram incluídos na Política Nacional de Cirurgias Eletivas, criada em 2004″, diz a nota.

Com isso, segundo o governo, o número desses procedimentos programados subiu de 1,5 milhão para 2 milhões. O texto parece ignorar relatório oficial de março passado atestando o contrário. Em 2002, último ano da gestão Serra, foram 484 mil cirurgias de 17 modalidades. Em 2009, esse total caiu para 457 mil. O governo se vangloria das 319 mil operações de catarata no ano passado, ante 309 mil há 8 anos. Mas finge desconhecer a fila de mais de 170 mil candidatos a cirurgias nas 7 maiores cidades do País, conforme revelou O Globo. Nada disso, evidentemente, impediu o PT de anunciar no seu site que a Saúde rebatera as “mentiras de Serra”.

Já o Ministério dos Transportes negou a informação do candidato de que, a contar de 2003, foram aplicados em estradas apenas R$ 25 bilhões dos R$ 65 bilhões arrecadados com o imposto para obras de infraestrutura (Cide), entre outras. A Pasta desmentiu também que a Rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, estivesse “fechada”, como afirmou Serra. O ponto não é o direito (ou o dever) dos governos de contestar com fatos objetivos as acusações que lhe são dirigidas. Mas o governo Lula, a pretexto de se defender, se mobiliza para fazer propaganda enganosa com fins eleitorais.

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Minha Casa, Minha Vida tem problemas em Estados
Folha de S.Paulo, 14.08.2010

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, minimizou o fato de apenas 1,2% das unidades contratadas pelo Minha Casa, Minha Vida para quem ganha até três salários mínimos - faixa que concentra 90% do deficit habitacional do país- terem sido concluídas até agora. Para Dilma, o foco não deveria ser na conclusão dos imóveis, mas nos índices de contratação. “Estamos dando um show porque tem mais de 500 mil [unidades] contratadas, quando se dizia que não conseguiríamos 200 mil”, afirmou a petista.

A avaliação de Dilma, porém, contrasta com a de especialistas. Paulo Simão, presidente da CBIC [Câmara Brasileira da Indústria da Construção], parceira da Caixa na execução do programa, disse que os índices de contratação em alguns Estados são “um desastre”. “O Ceará, por exemplo, só perde para o Amapá. Mandamos o nosso pessoal para lá hoje, para saber por que os índices estão tão ruins.” Na faixa de renda de zero a três salários mínimos, em dez Estados o índice de contratações está em menos de 40% da meta.

No Amapá, a meta é de 4.589 imóveis, mas apenas 15 haviam sido contratados, o equivalente a 0,3%.
Ontem a Folha mostrou que Caixa Econômica Federal omitiu dados referentes à conclusão dos imóveis, segundo a faixa de renda a que se destinam. Os números obtidos pelo jornal constavam de balanço referente ao dia 30 de junho, divulgado apenas a parceiros do programa. Questionada sobre a omissão dos dados pela Caixa, Dilma respondeu: “Aí você pergunta para a Caixa. Não tenho a menor condição de responder. Se não mostrou, está errado porque a Caixa tem um dos melhores desempenhos dos últimos anos em matéria de habitação”, disse.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mentiras politicas: ate quando os jornalistas aceitam as fraudes eleitorais?

Não digo pela jornalista econômica abaixo transcrito, mas por todos esses repórteres e entrevistadores, que ouvem mentiras e não retrucam na hora.
Tenho horror à mentira e apenas por este motivo transcrevo esta matéria, não por achar que ela é especialmente meritória.
Mas quando num país todos os políticos mentem, alguém precisa restabelecer a verdade dos fatos.
Paulo Roberto de Almeida

Em nome dos fatos
Miriam Leitão
O Globo, 11.08.2010

Inflação fora de controle quem enfrentou foi o Plano Real. O acumulado em 12 meses estava em 5.000% em julho de 1994. Quando a inflação subiu em 2002, no último ano do governo Fernando Henrique, pela incerteza eleitoral criada pelo velho discurso radical do PT, ficou em 12%.

Ela foi reduzida pelo instrumental que o PT havia renegado. Isso é a História. O resto é propaganda e manipulação.

O PT e o governo Lula têm dito que receberam o país com descontrole inflacionário e a candidata Dilma Rousseff repetiu isso na entrevista do Jornal Nacional. O interesse é mexer com o imaginário popular que lembra do tormento da inflação.

A grande vitória contra a inflação foi conquistada no governo Itamar Franco, no plano elaborado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, como todos sabem. Nos primeiros anos do governo FHC houve várias crises decorrentes, em parte, do sucesso no combate à inflação, como a crise bancária.

Foi necessário enfrentar todas essas ondas para garantir a estabilização. Nada daquela luta foi fácil. A inflação havia derrotado outros cinco planos, e feito o país perder duas décadas.

Todos sabem disso. Se por acaso a candidata Dilma Rousseff andava distraída nesta época, o seu principal assessor Antonio Palocci sabe muito bem o que foi que houve. Ele ajudou a convencer os integrantes do partido a ter uma atitude mais madura e séria no combate à inflação.

O PT votou contra o Plano Real e fez oposição a cada medida necessária para consolidar a nova ordem. As ideias que o partido tinha sobre como derrotar a alta dos preços eram rudimentares.

Em 2002, a inflação subiu principalmente nos dois últimos meses, após a eleição. A taxa, que havia ficado abaixo de 6% em 2000, subiu um pouco em 2001 e ficou quase todo o ano de 2002 em torno de 7%. Em outubro daquele ano, o acumulado em 12 meses foi para 8,5%. Em novembro, com Lula eleito, subiu para 10,9% e em dezembro fechou em
12,5%.

É tão falso culpar o governo Fernando Henrique por aquela alta da inflação — de 12,5% repita-se, e não os 5.000% que ele enfrentou — quanto culpar o governo Lula pela queda do PIB do ano passado, que foi provocada pela crise internacional.

Recentemente, conversei com um integrante do governo Lula que, longe dos holofotes e da campanha, admitiu que essa aceleração final foi decorrente do fato de que a maioria dos empresários não acreditava que o governo Lula fosse pagar o preço de manter a estabilização.

Esse foi o mérito do PT. Foi ter contrariado seu próprio discurso, abandonado suas próprias propostas, por ter percebido o valor da estabilização.

Esse esforço foi liderado por Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A inflação entraria numa rota de descontrole que poderia até ter destruído o esforço feito durante os oito anos anteriores se o governo Lula tivesse persistido nas suas propostas.

A História foi essa e não a que a candidata Dilma Rousseff apresentou.