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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 26 de julho de 2022

A história da diplomacia brasileira nos arquivos do Itamaraty: Miguel Gustavo de Paiva Torres

Meu colega diplomata pernambucano Miguel Gustavo de Paiva Torres, quem sugeriu mudança no título de meu livro "O Itamaraty sob Ataque", para "O Itamaraty Sequestrado", fez uma brilhante pesquisa sobre o verdadeiro fundador da diplomacia brasileira, Paulino José Soares de Souza, Visconde do Uruguai, com base nos arquivos do AHD do Itamaraty-RJ. A obra "O Visconde do Uruguai e sua atuação diplomática para a consolidação da política externa do Império" – apresentada no Curso de Altos Estudos do IRBr, no qual fui parte da banca – está disponível na Biblioteca Digital da Funag.

Paulo Roberto de Almeida

 

A história da diplomacia brasileira nos arquivos do Itamaraty 

Miguel Gustavo de Paiva Torres

https://contextoalagoas.com.br/?p=2428

Muito pouco sabia sobre a vida e a obra do grande brasileiro Paulino José Soares de Souza, o Visconde do Uruguai. Uma conspiração de fiéis e leais colegas e amigos da minha longa caminhada na carreira diplomática me levou a tentar uma empreitada difícil, no início, prazerosa e emocionante no decorrer das minhas pesquisas efetuadas, principalmente, nos Arquivos Históricos do Itamaraty, em sua antiga sede no Rio de Janeiro.

Em 2009, lotado no IPRI, como conselheiro e coordenador daquele Instituto de Relações Internacionais, parte da Fundação Alexandre de Gusmão, meu chefe, colega de turma, e Diretor do IPRI, embaixador Carlos Henrique Cardim, que havia escrito importante monografia sobre Rui Barbosa, convidou-me para um almoço a dois. Disse-me, então, que águas passadas eram águas passadas e que eu deveria escrever nova monografia para apresentação no Curso de Altos Estudos, condição legal para promoção na carreira diplomática.

Já havia apresentado dois projetos: um sobre a inserção econômica, comercial e cultural do Nordeste do Brasil no âmbito da estratégia brasileira de uma futura União Sul-Americana, a partir do MERCOSUL, então praticamente enclausurado no Sul e Sudeste do país, rejeitado sem possibilidade de apelação por se tratar de um “absurdo” retalhar o país em regiões. O segundo versava sobre “A Questão Indígena na América Latina”, com base na minha participação como representante brasileiro na Comissão Indigenista Latino-Americana, sediada no México, onde servi em nossa embaixada. Rejeitada por uma cartinha de três linhas dizendo que no Brasil não existia qualquer “Questão Indígena” e, portanto, não era do interesse da nossa politica externa: dois anos depois Evo Morales foi eleito presidente da Bolívia.

A terceira vez, que na verdade foi a primeira, foi a rejeição a posteriori de monografia já aprovada sobre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com a mudança do governo Itamar Franco para as mãos de Fernando Henrique Cardoso: projeto também absurdo de formação de um clube de pobres e africanos.

Por isso a insistência dos colegas e amigos em resistir e continuar. Cardim disse que havia participado de fórum de intelectuais e historiadores promovido pela FUNAG com a participação de José Murilo de Carvalho, ícone de nossa historiografia moderna. José Murilohavia feito uma exortação aos diplomatas brasileiros para pagarem uma dívida da Casa com Paulino José Soares de Souza, fundamental na organização e consolidação da diplomacia e dos pilares fundamentais da política externa brasileira. Essa missão necessitava, a prioridivulgação do seu trabalho entre nossos colegas, quase que exclusivamente focado na diplomacia republicana e no seu patrono, o Barão do Rio Branco.

A ideia foi germinando e crescendo na minha cabeça. Fui a biblioteca em busca de livros sobre o Visconde do Uruguai. Só existiam dois livros: um único e antigo exemplar, quase danificado, publicado em 1944, capa dura azul, com mais de 500 páginas, A Vida do Visconde do Uruguai, escrito por seu sobrinho neto, José Antônio Soares, herdeiro dos arquivos pessoais do seu tio avô, mais tarde doados ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O outro era de autoria do próprio José Murilo de Carvalho, organizador e autor de esclarecedora e ampla introdução do livro O Visconde do Uruguai, publicado em 2002 pela Editora 34, em São Paulo.

O livro antigo e danificado de José Antônio Soares foi o gatilho do meu encantamento e paixão pela vida e obra do artífice de nossa diplomacia e política externa no Segundo Império. Esse grupo de colegas e amigos que me incentivavam sugeriram que fosse ao Rio de Janeiro fazer pesquisas no Arquivo Histórico do Itamaraty, o que implicava custos e deslocamentos de Brasília para o Rio de Janeiro.

Fui uma primeira vez, por desencargo de consciência, e passei dois anos da minha vida mergulhado e deslumbrado com as correspondências diplomáticas do chanceler de Pedro IIcom os principais gigantes do nosso corpo informal de diplomatas do império, entre os quais os Viscondes do Rio Branco, o Visconde de Sinimbu, o Barão de Penedo, estes dois últimos meus conterrâneos de Alagoas.

Já não se tratava mais de escrever uma monografia para ser aprovado em busca de promoçãoe continuação na carreira. Tratava-se de um desejo profundo de reviver aquela época de esplendor da nossa diplomacia e da nossa política externa. Uma obsessão que me levou a imaginar e a ver como real o Brasil e sua inserção no mundo nos anos de 1849 a 1853.

Uma saga, uma epopeia sobre a formação e a construção do Brasil pelas mãos de uma dúzia de brilhantes diplomatas do Império do Brasil. Eu tinha a obrigação de contar aos colegas da Casa, e aos brasileiros, parte da vida e das ações desses homens que repousavam em silêncio nos Arquivos Históricos do nosso querido Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro, patrimônio histórico de nossa alma brasileira.


segunda-feira, 2 de maio de 2022

Debate-lançamento do livro de Paulo Fernando Pinheiro Machado sobre o Visconde do Uruguai, o fundador da diplomacia brasileira: Paulino José Soares de Souza: 2/05/2022, 17hs

 Participarei, nesta tarde, deste lançamento, cuja via de acesso é este link: 

https://lnkd.in/dGtjhG5k


Tive o prazer de prefaciar o livro, como registrei nesta postagem: 

A construção da diplomacia brasileira por um de seus pais fundadores”, Prefácio ao livro de Paulo Fernando Pinheiro Machado: Ideias e diplomacia: O Visconde do Uruguai e o nascimento da política externa brasileira– 1849-1853 (Lisboa: Lisbon International, 2022, p. 15-29); apresentado parcialmente no blog Diplomatizzando (23/12/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/12/ideias-e-diplomacia-o-visconde-do.html).

Também preparei algumas notas para o debate desta tarde: 

Paulino, Visconde do Uruguai: apresentação de livro

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Apresentação-debate sobre o livro de Paulo Fernando Pinheiro Machado: Ideias e diplomacia: O Visconde do Uruguai e o nascimento da política externa brasileira– 1849-1853 (Lisboa: Lisbon International, 2022); dia 2/05/2022, na TV-IAB (https://www.youtube.com/tviab). 

 

Uma carreira impressionante na burocracia e na política do Império, desde as Regências e sobretudo na construção do Partido Conservador, a partir do Regresso:

1) Juiz de comarca, 1835

2) Deputado fluminense na primeira Assembleia Provincial, 1835

3) Presidente da província do Rio de Janeiro, de 1836 a 1840

4) Deputado na Assembleia Geral, a partir de 1837

5) Ministro da Justiça, duas vezes: 1840 e 1841

6) Ministro dos Negócios Estrangeiros, três vezes: 1843, 1849 e 1852

7) Senador do Império, 1849

8) Membro do Conselho de Estado, 1849

9) Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário, 1854 na França, Grã-Bretanha e Santa Sé.

10) Autor do Ensaio de Direito Administrativo, 1862, dois tomos, iniciado em 1858, depois que o Marquês de Olinda, presidente do Conselho de Ministros solicita sua colaboração para o que ele chama de “alguns quesitos da nossa organização administrativa” (p. 6)

11) Autor dos Estudos Práticos sobre a Administração das províncias do Brasil, 1865, dois tomos.

 

Diálogo com Tavares Bastos sobre as questões da centralização e descentralização no Império, objeto da dissertação de mestrado e livro de Gabriela Nunes Ferreira (1999); à parte a questão de um dos mais importantes debates, válido e atual até hoje, apreciei muitíssimo a comparação das leituras que fizeram Tavares Bastos e Paulino sobre a grande obra de Tocqueville, cada um escolhendo os trechos que melhor convinham às suas posições respectivas.

 

Livro de Paulo Fernando destaca, na vertente diplomática de Uruguai, o fato de que ele não deixou memórias ou um testemunho direto sobre a imensa obra que ele conduziu nas três vezes em que esteve no MNE, tanto na organização diplomática e no recrutamento de pessoal qualificado, quanto no âmbito da própria política externa, daí merecendo o epíteto legítimo de “pai fundador” da PExtBr.


As razões são expostas por ele mesmo, no preâmbulo do Ensaio:

 

     “Comecei a reunir e a pôr em ordem numerosos documentos, e correspondência mesmo particular que possuo (dá muita luz sobre os fatos) com o fim de escrever umas memórias sobre a nossa política exterior, especialmente dos tempos em que tive a honra de dirigir a Repartição dos Negócios Estrangeiros.

     “Encontrei, porém, dificuldades que me foram inclinando a adiar esse projeto. A história de tais acontecimentos, escrita por quem foi neles, há pouco tempo, também ator, e teve nas mãos o fio dos segredos da época, pode fazer algum mal, quando os fatos não manifestaram ainda todas as consequências que os pejam. Repugnava-me, além disso, entrar em certas apreciações, as quais poderiam, talvez, molestar pessoas, às quais consagrei e consagro respeito e afeição, e que mui bons serviços têm prestado ao país.


(p. 6 da edição de 1997 do Ensaio, feita pelo Ministério da Justiça)

 

(...)


Depois o Marquês de Olinda o convidou para se ocupar de quesitos de direito administrativo, e assim ele adiou o seu projeto de escrever sobre a diplomacia.

 

            Há todo um debate, no capítulo III, sobre as diferenças entre o direito constitucional, ou político, e o direito administrativo, que Paulino se esforça por separar em seu Ensaio, o que envolve também a questão da centralização. Ele critica os países da América do Sul:

            “Quando o país não tem essas instituições [as do direito administrativo] ou as tem mas concebidas, mal assentadas, mal desenvolvidas, cada mudança política traz completa mudança administrativa, e o arbítrio revolucionário não encontra empecilho algum.

“Tais são as Repúblicas Hispano-Americanas. Têm organização política constantemente mutável. Quase não têm organização administrativa. Tudo é precário e depende do arbítrio das revoluções. (p. 27) 

Ele trata dessas necessárias distinções pouco adiante, no mesmo capítulo: 

“A distinção da qual se trata, não se dará por certo em um país onde a falta de conveniente desenvolvimento da parte administrativa, deixa a administração completamente confundida com a política, como acontece entre nós, por quanto entre nós a mesma administração é apenas mero instrumento nos cálculos de parcialidades políticas pessoais, e reduz-se à máquina de eleições, o que é um grande mal.” (p. 30). 

Entra aqui, uma grande nota, número 16, que está consignada ao final do volume, entre as páginas 449 e 450:

“Não há talvez país em que a administração esteja mais confundida com a política do que o Brasil, e onde menos tenha feito a legislação para distingui-las e separá-las. Tudo é política, principalmente pessoal; tudo ressumbra política, e é considerado pelo lado político. A imprensa somente se ocupa de política; todas as discussões nas Câmaras e fora delas são políticas, ou têm relação com a política. As grandes questões econômicas, e administrativas, que tanto importam ao futuro do Império [Brasil], são postas de lado, exceto quando acidental e ocasionalmente se manifesta a urgência da solução de algum caso especial.

“Em um país cuja administração está, para assim dizer, no caos e na infância, passam sessões e sessões legislativas sem que seja adotada medida administrativa de alguma importância, excetuadas as que são de expediente, e tendem a satisfazer vagamente em uma espécie, alguma necessidade indeclinável que urge, alguma pretensão que aperta, pondo a faca na garganta.

“A administração é por muitos considerada como um simples e cego instrumento da política para montar e desmontar partidos e influências eleitorais. (...)

“Não há, sobretudo agora, verdadeiro espírito público. As antigas bandeiras quase que desapareceram. Preponderam as paixões e os interesses na maior parte dos lugares. Não se luta por princípios claros e definidos. Luta-se por pessoas, por posições, influência e para granjear patronos que obtenham favores. (p. 449-50). (...)

“Acresce para aumentar essa desmoralização [a nomeação política de funcionários, inclusive juízes] o emprego do dinheiro nas eleições, e Paulino retomava aqui trechos de uma carta do presidente americano Buchanan: ‘Se essa prática tem de continuar crescendo, até o ponto de infectar os eleitores e seus representantes nas legislaturas dos estados e na nacional, achar-se-á infestada a fonte do governo livre, e iremos dar, como a história o prova, no despotismo militar.” (p. 450) (...)

Paulino retoma: 

“Os partidos entre nós vivem acusando-se reciprocamente dos mesmos atos, e encobrindo-os e justificando-os quando são seus, o que destrói as noções do justo e honesto.

“Cada um pretende que o funcionário administrativo lhe preste aquele auxílio contra o qual levantará celeuma, se for dado ao adversário. A intervenção do Governo em nosso favor é justa; é um crime se a bem do nosso contrário [adversário]” (p. 450)

E Paulino conclui sua longa nota 16, capítulo III, por estas palavras: 

“Na minha humilde opinião, a justiça e a estabilidade na administração, a sua separação, quanta seja possível, da política, são meios poderosos que muito poderão contribuir para pôr um paradeiro ao dano que o modo pelo qual se tem feito nestes últimos tempos as eleições entre nós, tem causado e está causando ao país.” (p. 450)

  

            Seguir o debate em torno dos grandes temas da agenda internacional do Brasil, sobretudo no Prata, foco central da política externa durante todo o decorrer do Império.


O restante fica para o debate...


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de maio de 2022


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

IDÉIAS E DIPLOMACIA - Paulo Fernando Pinheiro Machado, livro disponível

 


IDÉIAS E DIPLOMACIA - Paulo Fernando Pinheiro Machado

Autor: Paulo Fernando Pinheiro Machado
ISBN: 978-989-37-2189-6
páginas: 224
idioma: Português

Por que o Brasil independente manteve a sua integridade territorial ao passo que a América espanhola se fragmentou em uma série de repúblicas? Essa é uma pergunta que vem intrigando os historiadores e cientistas políticos há dois séculos. A maioria das análises apontam para uma decisão política consciente das elites imperais, em especial do Partido Conservador, de manter a unidade territorial do Brasil pela construção de um estado centralizado, após a pacificação das Revoltas do Período Regencial (1831-1835). Paulo Fernando Pinheiro Machado procura, nesta obra, analisar a face externa desse processo de construção do estado-nação brasileiro, pelas ideias, crenças e motivações de uma personagem central nesse processo: Paulino José Soares de Souza, o Visconde do Uruguai. Paulino foi quem por primeiro conferiu ao Brasil independente uma política externa coerente e estruturada, legando ao novo país uma tradição diplomática que serviu de régua mestra para os seus sucessores desde então. No ano do bicentenário da Independência, a presente obra convida a uma reavaliação crítica das ideias e dos valores fundamentais do Partido Conservador no plano externo, os quais legaram uma diplomacia de alto nível para o país e acabaram também por desembocar na tragédia da Guerra do Paraguai.

• Prazo para postagem: 15 dias úteis
• Código do produto: 8E612E

 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Livro sobre o Visconde do Uruguai: Ideias e Diplomacia, de Paulo Fernando Pinheiro Machado; prefácio de Paulo Roberto de Almeida

Um livro de um colega diplomata, que me fez a honra de pedir o prefácio: 


Paulo Fernando Pinheiro Machado: 
Ideias e diplomacia: O Visconde do Uruguai e o nascimento da política externa brasileira – 1849-1853 
(Lisboa: Lisbon International, 2022; ISBN: 978-989-37-2189-6).

SUMÁRIO

 

PREFÁCIO, Paulo Roberto de Almeida


INTRODUÇÃO

1. O PAPEL DAS IDEIAS NA POLÍTICA

    1.1 CATEGORIAS DE IDEIAS

    1.2 O IMPACTO DAS IDEIAS NA POLÍTICA


2. O CONTEXTO: O MUNDO RESTAURADO PÓS‑GUERRAS NAPOLEÔNICAS

    2.1 PAX BRITANNICA

    2.2 AS POTÊNCIAS DO CONCERTO EUROPEU

    2.3 A AMÉRICA ESPANHOLA E O RIO DA PRATA

    2.4 A POSIÇÃO DO BRASIL


3. ORIGENS E GESTAÇÃO DO PENSAMENTO DIPLOMÁTICO DO VISCONDE DO URUGUAI 

    3.1 ORIGENS FAMILIARES

    3.2 EDUCAÇÃO FORMAL

    3.3 RELAÇÕES SOCIAIS

    3.4 EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL


4. O PENSAMENTO POLÍTICO E DIPLOMÁTICO DO VISCONDE DO URUGUAI 

    4.1 O PENSAMENTO CONSERVADOR

    4.2 O PENSAMENTO POLÍTICO DO VISCONDE DO URUGUAI

    4.3 URUGUAI E O IMPÉRIO


5. A DIPLOMACIA COMERCIAL

    5.1 OS TRATADOS DESIGUAIS

    5.2 A REAÇÃO AO SISTEMA DE TRATADOS

    5.3 A DIPLOMACIA FINANCEIRA


6. A SITUAÇÃO FINANCEIRA NO PRATA EM MEADOS DA DÉCADA DE 1840

    6.1 A DIPLOMACIA FINANCEIRA DO VISCONDE DO URUGUAI

    6.2 LIMITES: A GRANDE POLÍTICA AMERICANISTA


7. A SITUAÇÃO NO MOMENTO DA INDEPENDÊNCIA

    7.1 A IDÉIA DE NACIONALIDADE NO BRASIL

    7.2 A POLÍTICA DE LIMITES ANTES DA GESTÃO DO VISCONDE DO URUGUAI

    7.3 A POSIÇÃO DO VISCONDE DO URUGUAI

    7.4 A POSIÇÃO DOS SUCESSORES DO VISCONDE

    7.5 AS RELAÇÕES COM A INGLATERRA: DO CONFLITO À PACIFICAÇÃO


8. UMA RELAÇÃO CONFLITUOSA: AS MÁGOAS DA INDEPENDÊNCIA

    8.1 A POSIÇÃO DO VISCONDE DO URUGUAI

    8.2 PRECURSORES E SEGUIDORES DA POLÍTICA DO VISCONDE

    8.3 O PRATA: DA NEUTRALIDADE À INTERVENÇÃO


9. O CONTEXTO GEOPOLÍTICO DA REGIÃO

    9.1 O CONTEXTO GEOPOLÍTICO DA REGIÃO

  9.2 A POLÍTICA DO IMPÉRIO PARA O PRATA ATÉ 1849: ABAETÉ E A DOUTRINA DA NEUTRALIDADE

   9.3 A POLÍTICA DO VISCONDE DO URUGUAI: A DOUTRINA DA INTERVENÇÃO

   9.4 A POLÍTICA PARA O PRATA DEPOIS DO VISCONDE


CONCLUSÕES

REFERÊNCIAS


Trechos do meu Prefácio:

A construção da diplomacia brasileira por um de seus pais fundadores

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor 

 

Paulino José Soares de Souza não figura entre os founding fathers da nação, inclusive porque, nascido em Paris, em 1807, só tinha 15 anos quando da declaração da autonomia, em 1822. Mas, ele foi, indiscutivelmente, um dos pais construtores do Estado brasileiro e um dos fundadores de sua diplomacia, tal como ela conseguiu se libertar de duas pesadas amarras da herança internacional portuguesa e passou a cuidar, verdadeiramente, dos interesses nacionais. Este livro, do eminente colega diplomata e distinto intelectual Paulo Fernando Pinheiro Machado, consolida toda a informação disponível sobre a atuação de Paulino como chanceler (duas vezes), tanto no plano conceitual, quanto no terreno da prática, tendo ele “encerrado” dois episódios que tinham ficado em aberto desde a independência, e dado a partida a uma política externa que será continuada por seus sucessores, com destaque para os dois Rio Branco, o visconde e o barão, cuja tradição de qualidade tornou-se um patrimônio da diplomacia republicana, prolongada até praticamente o período recente.

O Brasil nascente iniciou-se na vida internacional tendo de resolver três problemas herdados da política externa de Portugal, dos quais o primeiro foi contornado logo após a Restauração dos Bourbons na França pós-napoleônica e dois outros prolongados justamente até a atuação de Paulino, no começo dos anos 1850. Caiena, a futura Guiana francesa, que tinha sido ocupada por forças enviadas pelo príncipe regente D. João logo após a chegada da Corte portuguesa no Rio de Janeiro – uma forma de vingança contra Napoleão, que tinha mandado invadir Portugal em 1807 –, foi devolvida à França pelo tratado de Utrecht de 1817. Mas o problema do tráfico escravo, nas relações com a principal potência da época, a Grã-Bretanha, e a questão da Cisplatina – o futuro Uruguai, também invadido por forças portuguesas durante a presença da Corte no Brasil –, incorporada ao território do Império, e foco do nosso primeiro conflito com as Províncias “Desunidas” do Prata, permaneceram como dois focos imediatos de tensão nas relações exteriores da nova nação independente, ao lado e além do próprio reconhecimento diplomático do novo Estado pelas demais potências e vizinhos regionais, finalmente resolvido a partir de 1825. Essas duas questões só foram resolvidas, pelo menos nos seus aspectos mais cruciais, graças à atuação de Paulino na sua segunda encarnação como ministro dos Negócios Estrangeiros, antes mesmo que ele recebesse o título de Visconde do Uruguai, que só chegou em 1854, depois que ambos já tinha encontrado soluções satisfatórias, graças ao segundo melhor chanceler do novo Império do Brasil, depois do primeiro, José Bonifácio, um dos pais fundadores, também conhecido como o “patriarca da Independência”.

Este livro tem um título apropriado, “Ideias e diplomacia”, pois estes são os dois grandes conceitos em torno dos quais Paulo Fernando Pinheiro Machado organiza os seus argumentos substantivos, mas também traz, em seu subtítulo, uma afirmação mais do que apropriada: o “nascimento da política externa brasileira”. Com efeito, até o começo das Regências, a política externa do Brasil tinha sido quase “portuguesa”, e não só pelos problemas do Prata e do tráfico, mas também em função das tribulações de D. Pedro I com os assuntos da antiga metrópole: entre estas se incluem as desventuras de D. João VI de volta ao trono de Portugal, a ambição de D. Miguel, irmão de D. Pedro, este o herdeiro legítimo da coroa na morte (altamente suspeita) do pai em 1826, sua luta deste para fazer de sua filha, Maria da Glória, a legítima sucessora como futura D. Maria II, em benefício de quem abdicou da coroa portuguesa, o que só se efetivourealmente depois da verdadeira guerra civil que teve de travar contra o absolutista D. Miguel, já após sua própria abdicação como imperador do Brasil e volta definitiva a Portugal, em 1831. 

(...)


Senador do Império, ministro de Estado por duas vezes na Justiça e por três vezes na pasta dos Negócios Estrangeiros, embaixador em missão especial na França, para tratar do caso da Guiana – que só seria resolvido na República, pelo barão do Rio Branco –, Paulino José Soares de Souza não deixou um registro circunstanciado de seu imenso trabalho de gestor, de político, de chefe fundador de uma diplomacia verdadeiramente brasileira, mas ofereceu sua contribuição de estadista como autor de duas obras de direito administrativo. Seu neto, José Antonio Soares de Souza, deixou sobre ele um relato encomiástico, mas honesto, na obra A vida do visconde do Uruguai (1944), com ampla informação sobre cada uma de suas múltiplas atividades nos diversos cargos em que se desempenhou sempre de forma brilhante. Outros estudiosos importantes, como José Murilo de Carvalho, que organizou a reedição de suas principais obras (2002), ou Ilmar Mattos (1999), examinaram o seu trabalho como construtor do Estado imperial. Esta obra, de meu colega Paulo Fernando Pinheiro Machado, completa agora, pelo estudo de suas ideias e pelo acompanhamento de sua ação na diplomacia, o panorama virtualmente completo desse grande formador do Brasil na primeira fase de sua existência como nação independente. 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, dezembro de 2021