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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 4 de julho de 2024

Por que as pessoas acredtam em FakeNews? - Steven Pinker (Estadão)

 Por que as pessoas acredtam em FakeNews? 

 Steven Pinker

https://www.estadao.com.br/saude/por-que-as-pessoas-acreditam-em-fake-news-psicologo-steven-pinker-responde/

RIO DE JANEIRO* - O psicólogo e linguista canadense Steven Pinker decidiu que queria ensinar e escrever sobre racionalidade humana. A ideia era falar sobre ferramentas como lógica, probabilidade, estatística, teoria da escolha racional, teoria dos jogos, correlação e causalidade. No entanto, as pessoas estavam interessadas em outra coisa. “Elas queriam saber por que o mundo estava enlouquecendo”, conta ele, que é professor da Universidade Harvard, autor do best-seller Enlightenment Now: The Case for Reason, Science, Humanism, and Progress (O novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo, no título em português) e já foi considerado, mais de uma vez, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time.

“Por que as pessoas acreditam em teorias da conspiração? Notícias falsas? Em tratamentos médicos malucos, como a homeopatia, mas ao mesmo tempo negam as vacinas? Por que as pessoas acreditam em percepção extra-sensorial? Clarividência? Ver o futuro e vidas passadas? É nisso que as pessoas estão realmente interessadas, não tanto em por que somos ruins em probabilidade e estatísticas”, disse ele neste sábado, 29, durante participação no Congresso Brain 2024: Cérebro, Comportamento e Emoções, realizado no Rio de Janeiro entre os dias 26 e 29 de junho.

Ele segue aconselhando que as pessoas se dediquem às ferramentas básicas, no entanto, lançou-se ao desafio das questões com as quais foi confrontado. “São vários motivos, não apenas um”, fala.

Entre eles, algumas crenças ou “intuições” humanas, como dualismo (“acreditamos que cada humano tem um corpo e uma mente”), essencialismo (“pensamos que os seres vivos têm algum tipo de substância invisível ou química neles que os torna vivos, que lhes dá forma e poderes”) e teleologia (tudo o que fazemos tem uma razão/propósito), mas, para Pinker, o mais importante é o que ele chama de tribalismo político.

Poucas pessoas mudam de opinião por causa das notícias falsas. As notícias falsas reforçam os preconceitos políticos delas”, afirma. “As pessoas se dividem em setores, tribos ou coalizões, e as ideias que acreditam não são as ideias que são verdadeiras, mas as ideias que fazem a coalizão delas parecer mais inteligente, mais competente, mais moral e nobre do que as outras tribos.”

E é por isso que ele lança o seguinte desafio, que pode parecer óbvio, mas, segundo ele, contra intuitivo para a natureza humana: “você deve acreditar apenas em coisas para as quais há evidências, para as quais há uma boa razão para acreditar que são verdadeiras”.

“Cheguei à conclusão de que essa é a ideia mais radical na história humana”, afirma. “É uma boa lição moral para os jovens: a ideia de que você pode estar errado. Você deve deixar os fatos dizerem o que é certo e errado. Esta é uma ideia muito estranha, exótica, não natural, mas é uma ideia importante, e acho que temos que apoiar a ideia de que somos ignorantes sobre a maioria das coisas.”

(…)

sábado, 21 de setembro de 2013

Guerra e paz na historia - Deepak Lal

The dove and the wolf

Deepak Lal
Business Standard (New Delhi), September 20. 2013

A recent meeting of the Mont Pelerin Society I organised in the Galapagos Islands on the theme of "evolution, the and liberty" brought together some of the world's leading neuroscientists, evolutionary psychologists, geneticists and social scientists to discuss what answer recent advances in these human sciences provide to the fundamental question, "what is ?".

One session was on the human animal as a warrior. Richard Wrangham provided an excellent summary of evidence on the evolutionary origins of human  following his path-breaking book (with Dale Peterson), Demonic Males. He argued persuasively that war is part of our evolutionary psychology (particularly in males). His Harvard colleague Steven Pinker accepts this but argues that because of a complex set of social and cultural factors war may now be defunct. This was the view I disputed in my own paper.

I read Professor Pinker's monumental door-stopper of a book, The Better Angels of Our Nature, in my study in New Delhi in May. I could not help thinking that I was about six minutes flying time away from  from Pakistan to my west, and that to my north the heavily armed People's Liberation Army had just made an illegal incursion 12 miles into Ladakh. This made it difficult to believe that Professor Pinker's "better angels" were about to take over the world.

My own view of human nature was heavily influenced by David Hume, who wrote: "There is some benevolence, however small ... some particle of the dove kneaded into our frame, along with the elements of the wolf and serpent." From Professor Pinker's comprehensive survey of the mounting neuroscientific and socio-biological evidence, it is clear that the genial Scot, sitting in his study contemplating his fellow creatures, had got it right.

Where Professor Pinker has gone wrong is in attributing what he terms the Long Peace to the various social processes he discusses at length; they have allowed the dove to tame the wolf and the serpent in at least the developed countries. In my own book on In Praise of Empires, I developed a framework that emphasised the importance of empires (or global hegemons) - the equivalent of Thomas Hobbes' Leviathan in international affairs - in maintaining global order and thereby peace in an otherwise anarchical society. I surveyed the rise and fall of empires since antiquity to show how they provided the order needed to pursue the elementary and universal goals that David Hume maintained any society must pursue for any social life to exist. These are: first, to secure life against violence that leads to death or bodily harm; second, that promises once made are kept; third, the stabilisation of possessions through rules of property. Through their Pax, these empires maintained peace and prosperity, and their decline and fall led to both domestic disorder and the disintegration of the enlarged economic spaces they had created.

True, these ancient empires did not seek to end various barbarous violent practices that were very much part of their "cosmological beliefs", and Professor Pinker is right in stating the importance of what he calls the "civilising and humanitarian processes", whose evolution I also traced in myUnintended Consequences. But nevertheless these have been insufficient to tame the instincts of the wolf in all civilisations, and the role of empires in maintaining peace and prosperity in their domains cannot be gainsaid.

Thus, despite its abhorrent cultural practices by the standard of contemporary norms, the Roman Empire had, through its Pax Romana, brought unprecedented peace and prosperity to the inhabitants of the Mediterranean littoral for nearly a millennium. When it collapsed, the ensuing disorder and the destruction of the imperial economic space led to a marked fall in the standards of living of the common people inhabiting the fallen empires.
In his history of war and peace, Professor Pinker completely neglects the rise and fall of empires. The graph depicts his Long Peace. It does not, as he claims, show that war is now defunct. For it depicts the long struggle for the mastery of Europe, to create another Roman empire (albeit Holy) after the fall of Rome, and the success first of the British in the 19th century and then the United States after the Second World War in creating global empires that mitigated international anarchy.

Thus, during the post-medieval period since 1500, with the consolidation of European nation-states, religious wars were fought to a stalemate. They only ended with the Peace of Westphalia in 1648. But after a brief lull of peace, they resumed their conflicts in wars for the mastery of Europe - till, with its victory in the Napoleonic Wars, Britain established its global imperium in 1820. But by 1870 Britain's long imperial decline had begun. Challenged by the emerging great powers, Germany and the US, and temporarily Russia, the British were willing but unable to maintain their hegemony.

The US, which became a partner rather than a competitor of Britain in the First World War, thereafter turned inwards and was unwilling to take over or share Britain's imperial responsibility for maintaining global order. This led to the global disorder of the interwar years. It lasted till after the Second World War, when a duopoly of empires (the US and the Soviet Union) succeeded in maintaining some global order - with the mutual assured destruction of nuclear weapons preventing a direct war between the two superpowers, and their continuing competition being limited to proxy wars. With the implosion of the Soviet Union, the US became the sole superpower, and the era of warfare depicted in Professor Pinker's graph came to an end.

Hence, the Long Peace is the result of the empires established by Britain in the 19th century and by the US in the late 20th century. With the West again turning inwards, and the current global order being threatened by the rising power of China, there is an emerging struggle for the mastery of Asia. India is at the centre of this coming maelstrom. It cannot afford to believe that the dove in our nature has now replaced the wolf in international relations.

domingo, 7 de abril de 2013

O declinio da violencia no mundo - Steven Pinker (OESP)

Talvez menos na Venezuela e no próprio Brasil, mas ela virá em seu tempo.
PRA

Uma chance para a paz em meio ao caos
Antonio Gonçalves Filho
O Estado de S.Paulo, 06 de abril de 2013

Considerado uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela 'Time', o cientista Steven Pinker defende, em 'Os Anjos Bons da Nossa Natureza', que a violência está em declínio na sociedade
Pinker: As formas radicais do Islã estão interferindo na implementação dos direitos humanos

A simples ideia de que houve um declínio de violência no mundo parece um tanto excêntrica quando o que se vê é o crescimento da intolerância. Seja a guerra atômica com a qual o ditador da Coreia do Norte ameaça o resto do planeta ou a volta de bélicos discursos nacionalistas, a humanidade parece ter mais motivos para se preocupar com a violência do que celebrar uma vitória contra ela. No entanto, o cientista cognitivo canadense Steven Pinker, 55 anos, diz que é preciso, de fato, comemorar esse declínio, baseado em seu extenso estudo sobre a queda global da violência, Os Anjos Bons da Nossa Natureza, lançado esta semana pela Companhia das Letras.

Definido pelo inglês Ian McEwan, o autor de Desejo e Reparação, como "um desses cientistas extraordinários que sabem atrair a atenção dos leigos", Pinker foi considerado pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Não sem razão. Seus livros, sempre volumosos, com mais de 500 páginas - entre os quais se destacam Como a Mente Funciona e Do Que É Feito o Pensamento -, entraram invariavelmente nas listas de best-sellers, fazendo de Pinker um cientista tão popular como Carl Sagan ou Oliver Sacks. Em entrevista, por e-mail, ao Sabático, o professor da Universidade Harvard reafirma sua crença numa nova paz mundial, embora admita que não saiba - ninguém sabe - o que vai acontecer num futuro próximo. A despeito disso, ele prevê que a chance de um grave episódio de violência irromper na próxima década (um conflito com mais de 1 milhão de mortes) é de 9,7%.

Inspirado em Kant, que argumentava, em defesa das democracias, que elas não tendem a lutar umas contra as outras, Pinker define essa forma de governo como a ideal para evitar guerras, "pois os comandantes dos países democratas sempre pensarão duas vezes antes de gastar seu próprio dinheiro e sangue numa aventura tola no estrangeiro". Ainda que se possa evocar nomes como Nixon e Bush, é certo que os EUA tomaram outro rumo depois de Obama, o que justifica o otimismo de Pinker.

Embora ateu, Pinker usa anjos no título de seu livro argumentando que, para explicar o declínio da violência, é preciso entender os demônios que nos conduzem a atos sádicos e irracionais, conclamando a intercessão da parte boa de nossos cérebros para os conter. Ideologias, lembra Pinker, são outros mecanismos que nos incitam à violência. Elas, invariavelmente, perseguem uma utopia e tornam as pessoas obsessivas, levando-as a demonizar os opositores e eliminar os obstáculos à frente, sejam eles a classe dominante, os infiéis ou etnias que incomodam.

Um estudo publicado por duas cientistas sociais, Erica Chenoweth e Maria J. Stephan, Why Civil Resistance Works (Por que a Resistência Civil Funciona, 2008), lido por Pinker, certamente teve um peso significativo na elaboração de seu 13.º livro, pois Os Anjos Bons da Nossa Natureza defende tese semelhante: a de que as campanhas de não violência têm obtido melhores resultados que as campanhas políticas bélicas, pois as primeiras tendem a ganhar legitimidade com maior rapidez (especialmente na era da internet). As duas pesquisadoras estudaram dados históricos entre 1900 e 2006 para chegar a essa conclusão. Pinker usa igualmente dezenas de gráficos e estatísticas para provar que a taxa de sucesso de movimentos pacifistas é bem maior que a dos bélicos (75% ante 25%). Pode-se ou não dar razão ao cientista, mas é impossível ignorar esses dados.

Pinker não afirma, é claro, que a violência foi extinta do planeta. Diz, isto sim, que a evolução do comércio, da educação em massa e o respeito às leis fizeram do século 20 um tempo menos violento que a Idade Média, em que direitos individuais eram ignorados e reinava a linguagem do terror, usada pelo fundamentalismo religioso. Ele sabe que a violência talvez jamais seja erradicada, mas é preciso dar uma chance à paz, como pregou John Lennon.

Seu livro mostra uma correlação entre religião e violência, assim como entre a ideologia marxista e o crescimento da opressão no mundo. O senhor diria que a democracia é o único sistema político capaz de garantir a paz mundial?

Não é o único, mas certamente há uma correlação entre democracia e paz. Democracias quase nunca lutam umas contras as outras e parecem menos propensas a lutar fora de suas fronteiras (Pinker diz que o governo democrático "é concebido para resolver conflitos entre os cidadãos pelos ditames consensuais da lei", o que significa que as democracias "devem externar essa ética quando lidam com outros Estados"). Contudo, sob certas circunstâncias, países não democráticos podem igualmente recuar diante da guerra. Desde que a China se tornou capitalista, mas não democrática, ela não participou de nenhuma guerra. É um recorde melhor que o dos EUA.

O mundo já sofreu ameaças de aniquilamento no passado, considerando que enfrentamos o fantasma de uma guerra nuclear mais de uma vez. Ele não desapareceu, pois ainda estamos submetidos à loucura de ditadores como o da Coreia do Norte. O senhor considera possível um diálogo com gente como ele?

A Coreia do Norte parece um exemplo único no mundo em sua insularidade e irracionalidade. Não tenho a menor ideia de como começar esse diálogo com os coreanos do Norte. Provavelmente, a melhor escolha é esperar que a China faça isso (Pinker lembra, no livro, que há dez anos o mundo sabia que a Coreia do Norte iria adquirir capacidade nuclear, partilhando-a com terroristas, e iniciaria uma ofensiva contra a Coreia do Sul, mas observa que, apesar disso, o fim da década chegou e nada aconteceu).

Seu livro mostra um declínio da violência através dos tempos, mas como podemos estar certos disso quando o mundo ainda assiste à violência praticada pelo Estado, como a pena de morte, mesmo em países democráticos e desenvolvidos como os EUA, e testemunha o tráfico de pessoas, a crise econômica que leva ao conflito entre classes e a má-educação, que promove o irracionalismo?

A pergunta, eu diria, está fundamentada num erro matemático. Um declínio na violência significa que a taxa de violência numa época mais recente é apenas mais baixa que em tempos passados. Não significa que a taxa de violência mais recente seja zero.

A tecnologia tornou mais comum a existência solitária e, como consequência, trouxe uma espécie de alienação que pode se transformar em ódio contra o semelhante, o que se vê com certa frequência no bullying praticado via computador. Há, de fato, um risco real de que tecnologias com alto poder destrutivo venham a diminuir as chances de uma paz duradoura. O senhor recomendaria a imposição de limites para a tecnologia?

Não vejo como a tecnologia possa facilitar o bullying. Há 20 anos um molestador podia espancar e insultar uma criança. Agora, se está usando o computador, ele pode apenas insultar. Como é que piorou? Acho que restringir a tecnologia armamentista, como a nuclear, é lícito. Porém, é ilógico falar em estabelecer um limite para a tecnologia. Que vantagem poderia advir de uma restrição aos avanços da tecnologia médica? Ou da tecnologia de computadores? Ou da energia solar? Como poderia essa evolução ameaçar a paz?

No capítulo dedicado aos direitos humanos, o senhor menciona o caso do matemático Alan Turing, criador do moderno computador, vítima do Estado tanto como Oscar Wilde, ambos por serem gays. Muitos países, especificamente do mundo islâmico, ainda conservam leis rígidas contra a homossexualidade e os direitos da mulher. É lícito esperar que esses países venham a respeitar os direitos humanos quando seus cidadãos são submetidos a formas radicais de crença religiosa?

Certamente, as formas radicais do Islã estão interferindo na implementação dos direitos humanos nos países de maioria muçulmana. É impossível dizer quando o progresso vai chegar às nações islâmicas, mas não considero irrealista imaginar que haverá melhorias nas próximas três décadas, graças à globalização e à mídia eletrônica. Os países islâmicos foram os últimos a abolir a escravidão - a Arábia Saudita e o Iêmen em 1962, a Mauritânia em 1980 -, mas resistiram quanto puderam à ideia. A Primavera Árabe trouxe as primeiras democracias ao mundo árabe. As pesquisas de opinião revelam uma enorme demanda pelos direitos das mulheres, mesmo nos mais repressivos países islâmicos. Duvido que eles consigam continuar vivendo na Idade Média para sempre.

No capítulo final o senhor diz que o declínio da violência pode ser o acontecimento mais importante e menos apreciado na história humana e assume que o livro está conectado com seu lado mais otimista. O senhor definiria esse estado mental como resultado de uma mudança mística no mundo, que ainda não fomos capazes de perceber? Um cientista como o senhor não deveria ser cético?

Nas páginas finais do livro explico que o declínio da violência não é produto de nenhuma dialética mística ou de qualquer movimento utópico. É simplesmente o resultado de pessoas tentando melhorar como seres pertencentes a uma coletividade. Violência, de modo geral, é uma atividade inútil - o mal causado às vítimas recai fatalmente sobre o agressor. Quando agressores e vítimas trocam de lugar, todos se beneficiam a longo prazo, se a violência for contida. Gradualmente baixamos essas taxas de violência pelas mesmas razões pelas quais baixamos as taxas de fome e doenças. Usamos nossa experiência para tornar nossas vidas mais agradáveis e produtivas. Não há nada de místico nisso.

OS ANJOS BONS DA NOSSA NATUREZA - POR QUE A VIOLÊNCIA DIMINUIU
Autor: Steven Pinker
Tradução: Bernardo Joffily e Laura Teixeira Motta
Editora: Companhia das Letras (1.048 págs., R$ 74,50)

Trechos - Sobre Tortura
"A tortura na Idade Média não era escondida, negada ou mencionada com eufemismos. Não era apenas uma tática com a qual regimes brutais intimidavam seus inimigos políticos ou regimes moderados extraíam informações de suspeitos de terrorismo. Não irrompia em uma multidão furiosa insuflada de ódio contra um inimigo desumanizado. (...) A tortura integrava a tessitura da vida pública."

Uso de armas nucleares
"Zero é o número que se aplica a uma espantosa coleção de categorias de guerra durante os dois terços de século decorridos desde o fim da guerra mais letal de todos os tempos. (...) Zero é o número de vezes em que armas nucleares foram usadas em conflitos. Cinco grandes potências as possuem, e todas elas guerrearam. No entanto, nenhum dispositivo nuclear foi disparado em um acesso de cólera."

Uma reflexão final
"Sei que por trás dos gráficos há um jovem que sente uma punhalada de dor e assiste à vida que se esvai dele, sabendo que foi despojado de décadas de existência. Há uma mulher que soube que seu marido, seu pai e seus irmãos jazem mortos em uma vala, e que ela dentro em pouco ‘cairá nas mãos de quente e forçada violação’. (...) Com todas as tribulações (...), o declínio da violência é um resultado que podemos saborear."

sexta-feira, 22 de março de 2013

As origens da agressividade humana - Steven Pinker

 Agradeço a meu amigo e blogueiro Orlando Tambosi ter chamado a atenção em seu blog para este importante artigo de um especialista na questão.
Segue apenas o começo, o resto é preciso ler no link indicado.
Paulo Roberto de Almeida

Violência ancestral
As origens do comportamento agressivo do homem
por STEVEN PINKER
Revista Piauí, n. 78, março 2013

 Thomas Hobbes e Charles Darwin foram homens simpáticos cujos nomes se tornaram adjetivos detestáveis. Ninguém quer viver num mundo hobbesiano ou darwiniano (para não falar malthusiano, maquiavélico ou orwelliano). Os dois homens foram imortalizados no léxico por terem feito uma síntese cínica da vida em estado natural – Darwin, com a “sobrevivência do mais apto” (frase que ele usou, embora não a tenha cunhado), e Hobbes, com a “vida solitária, pobre, sórdida, brutal e curta do homem”. No entanto, ambos nos deram percepções da violência que são mais profundas, mais sutis e, no fim das contas, mais humanas do que fazem crer seus adjetivos epônimos. Hoje, qualquer tentativa de compreensão da violência humana tem de começar pelas análises que eles nos legaram.

Vou tratar aqui das origens da violência em dois sentidos: o lógico e o cronológico. Com a ajuda de Darwin e Hobbes, refletiremos sobre a lógica adaptativa da violência e o que ela permite predizer sobre os tipos de impulso violento que podem ter evoluído como parte da natureza humana. Abordaremos então a pré-história da violência, examinando quando ela apareceu em nossa linhagem evolutiva, em que medida era comum nos milênios anteriores à história escrita e que tipos de desenvolvimento histórico começaram a reduzi-la.

Darwin nos deu uma teoria para explicar por que os seres vivos têm as características que têm, não apenas fisicamente, mas também no plano das disposições mentais e motivações básicas que impelem seu comportamento. Um século e meio depois da publicação de A Origem das Espécies, a teoria da seleção natural está solidamente comprovada em laboratório e em campo e foi ampliada com ideias de novas áreas da ciência e da matemática, ensejando uma compreensão coerente do mundo vivo. Essas novas áreas incluem a genética, que explica os replicadores que possibilitam a seleção natural, e a teoria dos jogos, que lança luz sobre a sina de agentes que perseguem metas num mundo onde há outros agentes perseguidores de metas.

Por que razão evoluiriam organismos que visam fazer mal a outros organismos? A resposta não é tão direta quanto sugeriria a expressão “sobrevivência dos mais aptos”. Em seu livro O Gene Egoísta, no qual explica a síntese moderna da biologia evolutiva recorrendo à genética e à teoria dos jogos, Richard Dawkins tenta subtrair aos leitores a familiaridade irrefletida com o mundo vivo. Pede-lhes que imaginem os animais como “máquinas de sobrevivência” projetadas pelos genes (as únicas entidades que se propagam religiosamente ao longo de toda a evolução) e que então reflitam sobre como evoluiriam tais máquinas de sobrevivência:

Para uma máquina de sobrevivência, outra máquina de sobrevivência (que não seja seu filho ou parente próximo) é parte do ambiente, como uma rocha, um rio ou uma porção de alimento. É algo que estorva ou algo a ser explorado. Difere de uma rocha ou de um rio em um aspecto importante: ela tende a reagir. Pois também ela é uma máquina que administra seus genes imortais com vistas ao futuro e também ela fará de tudo para preservá-los. A seleção natural favorece os genes que controlam as máquinas de sobrevivência de modo que elas usem o ambiente da melhor forma possível. Isso inclui fazer o melhor uso possível de outras máquinas de sobrevivência, tanto da mesma espécie como de espécies diferentes.

Quem já viu um falcão dilacerar um estorninho, um enxame de insetos torturar um cavalo com suas ferroadas ou o vírus da Aids matar um homem lentamente tem conhecimento, em primeira mão, das maneiras com que as máquinas de sobrevivência exploram impiedosamente outras máquinas de sobrevivência. Em boa parte do mundo vivo, a violência é simplesmente a norma, algo que dispensa maiores explicações. Quando as vítimas pertencem a outra espécie, chamamos os agressores de predadores ou parasitas. Mas elas podem também ser membros da mesma espécie. Infanticídio, fratricídio, canibalismo, estupro e combate letal já foram documentados em muitos tipos de animais.

Continuar aqui:

http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-78/questoes-evolutivas/violencia-ancestral

Comentários que vale destacar aqui: 

... sobre a sua postagem "As origens da agressividade humana - Steven Pinker...":


Kelvin Paul Marchioro disse...
Esse Steven Pinker é o autor de um livro bem interessante. Ele alega, com bons fundamentos pelo que sei [não deu tempo de ler a obra ainda] que vivemos na era mais pacífica de toda a história humana:

The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined
http://www.amazon.com/dp/1455883115

Aqui tem uma palestra dele no TED:
http://www.ted.com/talks/steven_pinker_on_the_myth_of_violence.html

Realmente é uma tese que vale a pena ser conhecida com profundidade e com o tempo certo, porque o livro é um catatau hehehe

Anônimo disse...
Ja li o livro "Better Angels" e recomendo. O autor eh um liberal classico e usa dados estatisticos para mostrar como estamos na era mais pacifica da historia como mencionado acima. A razao da paz?

1. rule of law - Estado controla territorio de forma justa atraves de policia e tribunais extingindo a cultura de olho por olho violenta.

2. capitalismo e livre comercio - a ambicao eh canalizada para melhora de vida atraves do trabalho ao inves do crime e o comercio "civiliza" o homem o tornando mais cordial e emocionalmente controlado para poder fechar mais negocios e vender mais.

3. educacao - crescimento do nivel educacional permite a populacao ler e se informar sobre outros lugares e sobre diferentes pessoas de niveis diferentes da sociedade levando a um aumento de tolerancia e tambem a cultura de debate de ideias.

O autor detona a esquerda dizendo que ela eh anti liberal e utopica religiosa e que banir armas nao leva a diminuicao de crime se populacao nao tem tolerancia ou rule of law nao funciona enter outros mitos da violencia.