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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Distinguindo os problemas do Oriente Médio - Paulo Roberto de Almeida

Distinguindo os problemas do Oriente Médio

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre os problemas da região e o papel de Israel. 

 

O Oriente Médio tem muitos problemas, alguns enormes, e há muito tempo. 

Nenhum deles se chama Israel, que resultou de uma decisão votada na ONU, que prosperou, que introduziu muitas inovações tecnológicas e descobertas científicas, que domou o deserto e floresceu a agricultura em terras áridas, que se manteve democrático, a despeito dos seus integristas ortodoxos, que protesta contra o autoritarismo populista, e que não provocou deliberadamente nenhuma guerra, mas que foi atacado diversas vezes: 1948, no seu próprio nascimento, 1967, 1974, várias intifadas e ataques a partir do Líbano, da Síria, de milícias organizadas e armadas a partir de fora, como agora no caso do Hamas em Gaza. 

Os grandes problemas do Oriente Médio se chamam, desde sempre, antissemitismo, ditaduras familiares, corrupção, não educação, desigualdades persistentes, opressão das mulheres, e também, desde vários anos, ISIS, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Irã teocrático e anti-Israel, Arábia Saudita fundamentalista, terrorismo desenfreado, etc. 

Os problemas dos palestinos não surgiram a partir de Israel, que era muito pequeno e que praticamente não tinha nenhum Exército em 1947-48, mas dos Estados árabes circundantes, que nunca aceitaram o Estado de Israel e tampouco um Estado palestino, e que também mantiveram um povo (feito de muçulmanos, mas também de cristãos) à margem de suas respectivas sociedades.

É muito difícil reconhecer isso?

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4494, 19 outubro 2023, 1 p.


sexta-feira, 5 de agosto de 2022

A diplomacia lulopetista vai se diferenciar da bolsonarista na questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia?

Aparentemente não, pois Lula e Amorim são abertamente pró-Rússia e totalmente antiamericanos. Mas, tem o seguinte: Lula ficou carente de um prêmio Nobel da Paz nas questões do conflito israelo-palestino e do programa nuclear iraniano, e vai tentar ganhar um. Acha que vai merecer um, se por acaso fizer a paz, ou pelo menos um armistício, entre russos e ucranianos, e depois, no embalo, entre americanos e chineses. Sonhar grande sempre é possível.

Paulo Roberto de Almeida 


Sanções dos EUA à Rússia são um erro, diz Celso Amorim

Principal conselheiro de Lula sobre política externa diz que presidenciável pode assumir papel em negociações de paz se voltar ao Planalto

Por Simone Iglesias e Martha Beck, Bloomberg — São Paulo
05/08/2022 12h02  Atualizado há 3 horas

As sanções econômicas lideradas pelos Estados Unidos contra Moscou são um erro político que aumenta o risco de uma ameaça nuclear, afirmou o embaixador Celso Amorim, principal conselheiro de política externa de Luiz Inácio Lula da Silva.

Amorim, que liderou o Ministério das Relações Exteriores durante os dois mandatos de Lula, alertou para os perigos de isolar uma economia “tão grande e estratégica” quanto a da Rússia, explicando por que o ex-presidente não endossaria tais posições diplomáticas se eleito em outubro.

Pela primeira vez desde a crise do mísseis de Cuba entre EUA e a ex-União Soviética, nos anos 1960, Amorim diz estar preocupado com um risco nuclear real.

— Toda semana sai um artigo sobre o uso de arma nuclear. Acho uma irresponsabilidade não se buscar a paz de maneira mais efetiva.

Quase seis meses após a Rússia invadir a Ucrânia, o conflito na Europa Oriental continua longe de seu fim, com países membros da Otan mantendo o envio de armas a Kiev e impondo grandes sanções econômicas a Moscou.

Em maio, Lula causou polêmica ao dizer à revista Time que Volodymyr Zelenskiy, da Ucrânia, e Joe Biden, dos EUA, compartilham parte da culpa pela guerra, pois acredita que os dois líderes não conseguiram negociar mais com Moscou.

Amorim agora vê as armas nucleares como uma ameaça tão tangível quanto as do clima, da desigualdade social e econômica e da pandemia. As sanções também estão fortalecendo os laços entre Moscou e Pequim, acrescentou.

— Não tenho nada contra a China, pelo contrário, mas não consigo entender o interesse dos países ocidentais, especialmente dos Estados Unidos, em fortalecer a relação China e Rússia — disse o embaixador em entrevista à Bloomberg, em São Paulo, esta semana.

Segundo o ex-chanceler, o sentimento anti-Ocidente pode se materializar de uma forma ou de outra nas próximas décadas.

— Não tem condição de isolar a Rússia — disse. — Ou você vai transformá-lo num país cujo rancor com o Ocidente vai ser cada vez maior, ou concomitantemente, vai fazê-lo se aproximar cada vez mais da China.

Lula, se eleito, poderia assumir um papel de liderança nas negociações de paz globais, afirmou o mais longevo chanceler brasileiro, sinalizando que o país retomará sua política externa de neutralidade e resolução pacífica de conflitos.

Na América Latina, o petista reorganizaria o Mercosul, ao mesmo tempo em que restabeleceria relações diplomáticas normais com a Venezuela, assim como o presidente eleito Gustavo Petro está fazendo na Colômbia.

— Como é que vai fazer um programa para a Amazônia sem a Venezuela? — afirmou. — Ter relações diplomáticas não significa aprovar um governo.

Isso demarcaria o afastamento da política externa adotada pelo presidente Jair Bolsonaro, cujo governo se juntou aos EUA e uma dúzia de outros países ao não mais reconhecer Nicolás Maduro como presidente da Venezuela.

Um dos mais urgentes desafios de Lula, no entanto, seria reconstruir a imagem do Brasil no exterior depois de ter sido atingida pelas posições polêmicas de Bolsonaro sobre meio ambiente, pandemia, direitos humanos e racismo, disse Amorim.

Isso exigiria não apenas palavras, mas gestos concretos, como a nomeação de enviados especiais capazes de realizar discussões de alto nível sobre agenda climática e de direitos dos povos indígenas com outros ministros e chefes de Estado, disse ele.

— Talvez também uma carta do presidente Lula falando a líderes mundiais — citou.

Ao ser questionado se voltaria ao Ministério das Relações Exteriores, Amorim respondeu:

— Atravessaremos essa ponte quando chegarmos lá.

Ele disse que Lula saberá escolher a pessoa certa para o cargo.

— Eu jamais me recusarei ao que o presidente Lula achar que precisa, mas ninguém é indispensável — ele disse.

E brincou:

— Se o Lula for eleito e me der uma sala no fundo do Planalto e me chamar para tomar um cafezinho de vez em quando eu estou feliz.

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/08/sancoes-dos-eua-a-russia-sao-um-erro-diz-celso-amorim.ghtml

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Diplomacia: políticas internacionais pela paz e liberdade - Palestra Paulo R. Almeida


Dia 26/07/2020, 17hs

A diplomacia nasceu com a principal finalidade de conseguir solucionar conflitos de uma maneira pacífica. Através dela que guerras acabaram, sistemas autoritários ruíram, programas econômicos nasceram etc. A diplomacia ajudou a construir e a consolidar a democracia e agora passará por um dos momentos mais difíceis da sua história. É nesse contexto de política externa, diplomacia e democracia que debateremos as liberdades democráticas.

O painel "Diplomacia: políticas internacionais pela paz e liberdade" contará com a participação do:
• Prof. Paulo Roberto de Almeida, diplomata e Doutor em Ciências Sociais.

Inscrições na Bio do nosso Instagram ou no link: https://www.eventbrite.com.br/e/110217423280


sábado, 19 de dezembro de 2015

Mais comercio, menos guerras: elementar, correto? - Matthew Jackson (Universidade Stanford)

Cientistas apontam correlação entre mais comércio e menos guerras




Representação gráfica das maiores rotas comerciais marítimas globais
Representação gráfica das maiores rotas comerciais marítimas globais

Um grupo de pesquisadores liderados por Matthew Jackson, da Universidade Stanford, tentou entender por que a quantidade de guerras no mundo diminuiu tanto nas últimas décadas. A incidência de conflitos entre 1820 e 1949 foi dez vezes maior do que entre 1950 e 2000.
Eles tentaram isolar diversas variáveis. Uma se destacou: o comércio internacional.
A conclusões foram publicadas na revista científica americana "Proceedings of the National Academy of Sciences". Não é, claro, a primeira vez que se sugere que o comércio evita guerras, afirma Jackson, mas agora foi feita uma análise estatística dessa questão.
Em 1850, os países tinham em média cinco parceiros comerciais relevantes. Hoje, são mais de 30. Além disso, existiam antes poucas alianças comerciais, bilaterais ou multilaterais. Hoje, são dezenas destas e centenas daquelas.
Jackson cruzou os dados históricos e mostrou que a probabilidade de dois países entrarem em guerra decai conforme a sua relação comercial cresce. "Os números mostram forte correlação, embora seja mais complicado estabelecer ou explicar a causalidade", afirma.
Existe duas possíveis explicações para o fenômeno:
- O aumento do comércio cria grupos de pressão política interessados na preservação do outra nação, porque compram ou vendem para ela. Ou seja, o país passa a perder dinheiro se atacar.
Tal hipótese parte da ideia clássica de que os países optam pela guerra por motivos um tanto racionais: se os custos são baixos e o ganho potencial é grande, quase que inevitavelmente haverá uma agressão. O que se pode fazer para reduzir o conflito é torná-lo mais caro.
- A existência de alianças comerciais serve como estímulo para que um país pense duas vezes antes de atacar o outro. Ele pode, afinal, acabar cutucando os parceiros do atacado, que têm incentivos para entrar na briga.

MAIS COMÉRCIO

Exportação mundial de mercadorias como porcentagem do PIB

1870191319501973051015202530

Número de parceiros comerciais relevantes por país (%)

185019131950197319932012024681012141618202224
Fonte: “PNAS”
Os dados levam a crer, aponta Jackson, que foram bem-sucedidos os esforços americano para integrar o Japão à economia global no pós-guerra e dos países europeus em criar o bloco que veio a dar na União Europeia.
No Japão, é até surpreendente baixo grau de revanchismo de um país que foi atacado com bombas nucleares. No caso da Europa, Jackson aponta que hoje a principal parceira comercial da França é a Alemanha –e os dois países (se você considerar a Prússia) passaram o século 19 e a primeira metade do século 20 em guerra.
Por outro lado, o isolamento, físico e comercial, entre Israel e territórios palestinos tenderia a eternizar o conflito.
Os pesquisadores ressaltam que tais conclusões não se referem somente às grandes guerras. Eles analisaram todos os conflitos entre ao menos dois países com mais de mil mortes desde o século 19.
Ou seja, a conta inclui da guerra do Paraguai à do Pacífico (Bolívia contra Chile, no século 19), da guerra Greco-Turca de 1919 às Malvinas.
A explicação para a redução dos conflitos armados, portanto, não se limita à posse de armas nucleares. Isso pode ajudar a explicar por que grandes potências passaram a se combater menos, mas não esclarece outros casos.
"As armas nucleares, na mão de uns poucos, poderiam até estimular os mais fortes a atacar os pequenos mais indefesos", afirma Jackson.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Consequencias economicas da violencia e dos conflitos - Steve Killelea

Artigo

Um guia econômico para a Guerra e a Paz

Segundo Steve Killelea, os custos globais para conter a violência atingiram 9,5 trilhões de dólares — ou 11% do PIB mundial

Steve Killelea
Veja.com, 22/06/2014
Destruição em Londres após bombardeio alemão durante Segunda Guerra Mundial
Destruição em Londres após bombardeio alemão durante Segunda Guerra Mundial (Bert Hardy/Picture Post/Hulton Archive/Getty Images)
As notícias sobre conflitos enchem as manchetes dos jornais na atualidade: quer seja sobre a guerra civil na Síria, sobre os conflitos internos na Ucrânia, o terrorismo na Nigéria, ou a repressão policial no Brasil; o imediatismo espantoso da violência é realmente muito evidente. Mas, enquanto os comentaristas debatem sobre as questões geoestratégicas, a dissuasão, os conflitos étnicos, a situação desesperada dos cidadãos comuns capturados no meio desses conflitos, raramente o assunto de outro aspecto vital do conflito é abordado objetivamente - o seu custo econômico.
A violência também tem custos financeiros significativos. Os custos globais para conter a violência ou para o tratamento das suas consequências atingiram a incrível soma de 9,5 trilhões de dólares (11% do PIB mundial) em 2012. Este valor representa mais que o dobro do tamanho do setor agrícola a nível global e excede o total de gastos em ajuda externa.
Levando em conta esses montantes colossais, é crucial que os responsáveis políticos analisem devidamente onde e como esse dinheiro é gasto, e considerem maneiras de reduzir essa cifra. Infelizmente, tais questões são raramente analisadas com a devida seriedade. Esta situação deve-se, em grande medida, ao fato de as campanhas militares serem geralmente motivadas por preocupações de natureza geoestratégica e não de lógica financeira. Embora os opositores à guerra do Iraque possam acusar os Estados Unidos de cobiçar os campos de petróleo do país, a campanha foi, no mínimo, antieconômica. A Guerra do Vietnã e outros conflitos também foram verdadeiras catástrofes financeiras.
Existem perguntas semelhantes em termos de gastos em armas em tempo de paz. Poderíamos, por exemplo, questionar a lógica financeira da recente decisão tomada pela Austrália de gastar 24 bilhões de dólares na aquisição de problemáticos aviões de caça enquanto, simultaneamente, prepara o país para os mais rigorosos cortes orçamentários registados em décadas.
Os gastos desnecessários relacionados com a violência não são apenas uma questão de guerra ou dissuasão. Por exemplo, as campanhas de “ordem pública”, duras e dispendiosas, embora sejam atrativas para os eleitores, geralmente, têm pouco efeito sobre as taxas de criminalidade subjacentes. Quer seja uma situação de guerra mundial ou de policiamento local, os conflitos envolvem sempre um aumento acentuado nos gastos públicos. A questão é saber se essa despesa vale a pena.
É evidente que gastar dinheiro a fim de conter a violência nem sempre é uma coisa ruim. A presença da polícia, dos serviços militares, policiais ou segurança pessoal são, muitas vezes, uma presença muito bem-vinda e necessária. Se for devidamente aplicada, conduzirá, em longo prazo, à economia do dinheiro dos contribuintes. A questão pertinente é se o montante gasto em cada caso é adequado.
Certamente, poucos países alcançaram um bom equilíbrio ao abordar a questão da violência e o fizeram mediante custos relativamente baixos; isto prova que existem formas de reduzir as despesas desnecessárias. A utilização mais eficiente de fundos pode ser conseguida mediante um trabalho minucioso sobre a prevenção. Sabemos como se sustentam as sociedades pacíficas: a distribuição equitativa de renda, o respeito pelos direitos das minorias, padrões de elevada qualidade no ensino, baixos níveis de corrupção e um ambiente de negócios atrativos.
Além disso, quando os governos gastam demais para conter a violência, desperdiçam dinheiro que poderia ser investido em outras áreas mais produtivas, como a infraestrutura, o desenvolvimento de negócios, ou a educação. A maior produtividade resultará em consequência, por exemplo, com a criação de escolas em lugar de prisões,  melhoraria o bem-estar dos cidadãos e, consequentemente, diminuiria a necessidade de investir na prevenção da violência. A isso eu dou o nome de “ciclo virtuoso de paz”.
Comparemos, por exemplo, os quase 10 trilhões de dólares gastos em 2012 no mundo para conter a violência com os custos globais da recente crise financeira mundial. Mark Adelson, o ex-diretor de crédito do Standard & Poors, estima que a crise tenha originado perdas totais globais no valor de 15 trilhões de dólares no período entre 2007 e 2011, o que representa a metade do valor derivado para fins de contenção da violência durante o mesmo período. Se os responsáveis pelas diretrizes políticas gastam o mesmo tempo e dinheiro para prevenir e conter os  conflitos, o benefício, em termos de menos violência e de um crescimento econômico mais rápido, poderia ser enorme.
Os governos poderiam começar por reavaliar as suas despesas em matéria de auxílio. Em termos globais, o valor gasto em contenção da violência já é 75 vezes maior que em ajuda total combinada para o desenvolvimento. Além disso, não é coincidência que os países com maior despesa com violência (em relação ao PIB) figuram também entre os mais pobres do mundo - a Coreia do Norte, a Síria, a Libéria, o Afeganistão e a Líbia, para nomear alguns entre muitos outros. Poderia esse dinheiro ser melhor direcionado para investimentos destinados a reduzir ou a prevenir conflitos?
Além das razões humanitárias óbvias de que é preciso se investir na paz, especialmente no âmbito de estruturas de desenvolvimento internacionais estabelecidas, tal investimento tornar-se visível também uma das formas mais rentáveis de desenvolver a economia e equilibrar o orçamento. É por essa razão que vale a pena discutir este tema.
Steve Killelea é presidente do Instituto de Economia e Paz
(Tradução: Roseli Honório)
© Project Syndicate 2014

sábado, 21 de setembro de 2013

Guerra e paz na historia - Deepak Lal

The dove and the wolf

Deepak Lal
Business Standard (New Delhi), September 20. 2013

A recent meeting of the Mont Pelerin Society I organised in the Galapagos Islands on the theme of "evolution, the and liberty" brought together some of the world's leading neuroscientists, evolutionary psychologists, geneticists and social scientists to discuss what answer recent advances in these human sciences provide to the fundamental question, "what is ?".

One session was on the human animal as a warrior. Richard Wrangham provided an excellent summary of evidence on the evolutionary origins of human  following his path-breaking book (with Dale Peterson), Demonic Males. He argued persuasively that war is part of our evolutionary psychology (particularly in males). His Harvard colleague Steven Pinker accepts this but argues that because of a complex set of social and cultural factors war may now be defunct. This was the view I disputed in my own paper.

I read Professor Pinker's monumental door-stopper of a book, The Better Angels of Our Nature, in my study in New Delhi in May. I could not help thinking that I was about six minutes flying time away from  from Pakistan to my west, and that to my north the heavily armed People's Liberation Army had just made an illegal incursion 12 miles into Ladakh. This made it difficult to believe that Professor Pinker's "better angels" were about to take over the world.

My own view of human nature was heavily influenced by David Hume, who wrote: "There is some benevolence, however small ... some particle of the dove kneaded into our frame, along with the elements of the wolf and serpent." From Professor Pinker's comprehensive survey of the mounting neuroscientific and socio-biological evidence, it is clear that the genial Scot, sitting in his study contemplating his fellow creatures, had got it right.

Where Professor Pinker has gone wrong is in attributing what he terms the Long Peace to the various social processes he discusses at length; they have allowed the dove to tame the wolf and the serpent in at least the developed countries. In my own book on In Praise of Empires, I developed a framework that emphasised the importance of empires (or global hegemons) - the equivalent of Thomas Hobbes' Leviathan in international affairs - in maintaining global order and thereby peace in an otherwise anarchical society. I surveyed the rise and fall of empires since antiquity to show how they provided the order needed to pursue the elementary and universal goals that David Hume maintained any society must pursue for any social life to exist. These are: first, to secure life against violence that leads to death or bodily harm; second, that promises once made are kept; third, the stabilisation of possessions through rules of property. Through their Pax, these empires maintained peace and prosperity, and their decline and fall led to both domestic disorder and the disintegration of the enlarged economic spaces they had created.

True, these ancient empires did not seek to end various barbarous violent practices that were very much part of their "cosmological beliefs", and Professor Pinker is right in stating the importance of what he calls the "civilising and humanitarian processes", whose evolution I also traced in myUnintended Consequences. But nevertheless these have been insufficient to tame the instincts of the wolf in all civilisations, and the role of empires in maintaining peace and prosperity in their domains cannot be gainsaid.

Thus, despite its abhorrent cultural practices by the standard of contemporary norms, the Roman Empire had, through its Pax Romana, brought unprecedented peace and prosperity to the inhabitants of the Mediterranean littoral for nearly a millennium. When it collapsed, the ensuing disorder and the destruction of the imperial economic space led to a marked fall in the standards of living of the common people inhabiting the fallen empires.
In his history of war and peace, Professor Pinker completely neglects the rise and fall of empires. The graph depicts his Long Peace. It does not, as he claims, show that war is now defunct. For it depicts the long struggle for the mastery of Europe, to create another Roman empire (albeit Holy) after the fall of Rome, and the success first of the British in the 19th century and then the United States after the Second World War in creating global empires that mitigated international anarchy.

Thus, during the post-medieval period since 1500, with the consolidation of European nation-states, religious wars were fought to a stalemate. They only ended with the Peace of Westphalia in 1648. But after a brief lull of peace, they resumed their conflicts in wars for the mastery of Europe - till, with its victory in the Napoleonic Wars, Britain established its global imperium in 1820. But by 1870 Britain's long imperial decline had begun. Challenged by the emerging great powers, Germany and the US, and temporarily Russia, the British were willing but unable to maintain their hegemony.

The US, which became a partner rather than a competitor of Britain in the First World War, thereafter turned inwards and was unwilling to take over or share Britain's imperial responsibility for maintaining global order. This led to the global disorder of the interwar years. It lasted till after the Second World War, when a duopoly of empires (the US and the Soviet Union) succeeded in maintaining some global order - with the mutual assured destruction of nuclear weapons preventing a direct war between the two superpowers, and their continuing competition being limited to proxy wars. With the implosion of the Soviet Union, the US became the sole superpower, and the era of warfare depicted in Professor Pinker's graph came to an end.

Hence, the Long Peace is the result of the empires established by Britain in the 19th century and by the US in the late 20th century. With the West again turning inwards, and the current global order being threatened by the rising power of China, there is an emerging struggle for the mastery of Asia. India is at the centre of this coming maelstrom. It cannot afford to believe that the dove in our nature has now replaced the wolf in international relations.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A falencia da ajuda ao desenvolvimento - Paulo R Almeida

Uma versão sintética de um artigo publicado de maneira mais extensa neste link.

Cooperação internacional e desenvolvimento: isso muda o mundo?
por Paulo Roberto de Almeida
Ordem Livre - 17 de Maio de 2010

O conceito de cooperação, num entendimento puramente formal da palavra, implica uma ação voluntária de dois ou mais parceiros em prol de objetivos comuns, sendo subjacente ou implícita a idéia de que juntos eles conseguirão fazer algo que talvez não pudessem alcançar isoladamente. Nessa compreensão, a realidade da cooperação é relativamente recente na comunidade internacional, posto que até o advento dos primeiros organismos intergovernamentais, a partir de meados do século 19, e mais especificamente da ONU, um século depois, não havia espaços políticos ou instrumentos para o estabelecimento de uma cooperação genuína entre Estados soberanos. Até então, a realidade das relações entre Estados era feita, na melhor das hipóteses, de concorrência em bases autônomas, ou, na pior, de animosidade ou de hostilidade, que podiam resultar, inclusive, em conflitos militares, sendo muito comum a relação de dominação, de exploração e de subordinação entres os países.

Na acepção moderna do termo, a realidade da cooperação está intrinsecamente ligada aos objetivos da Carta da ONU e à atuação de suas agências especializadas, nos diversos campos estabelecidos desde 1945 e que vem sendo ampliados gradualmente desde então, sempre quando novos temas – energia nuclear, direito do mar, meio ambiente, direitos da criança e da mulher, habitação, e vários outros – recolhem certa unanimidade dos Estados no sentido de seu tratamento multilateral. Os dois objetivos prioritários da ONU são a cooperação entre os Estados para a preservação da paz e da segurança internacional e para promover o desenvolvimento dos povos dos países membros. Obviamente, como não se pode contornar a questão central do poder – ou seja, quem manda e quem obedece –, a ONU (como antes dela a Liga das Nações) não poderia dar um encaminhamento satisfatório ao primeiro conjunto de objetivos sem fixar mecanismos não igualitários de resolução de disputas, hoje consolidados no seu Conselho de Segurança (não muito diferente do sistema oligárquico da Liga); aí não se trata tanto de cooperação, mas de coerção, o que também é necessário.

Descontados, porém, os poucos episódios de coerção multilateral – ou seja, as operações de peace keeping (muitas) ou de peace making (pouquíssimas) da ONU – a maior parte da agenda onusiana (PNUD e a dúzia de agências especializadas atuantes) está prioritariamente voltada para a cooperação ao desenvolvimento, cenário que implica a mesma relação desigual já existente na questão do poder, ou seja, países que prestam cooperação, de um lado, e países que recebem cooperação, de outro. Esse tipo de relação assimétrica – que desde o início da ONU dividiu os países em desenvolvidos e em desenvolvimento, com a situação bizarra, mas temporária, dos chamados “socialistas” – tem sido preservado desde então, sem mudanças relevantes ou significativas no plano das capacitações nacionais.

Em outros termos, a interação entre cooperação e desenvolvimento não parece ter produzido os resultados esperados pelos seus promotores multilateralistas de 60 anos atrás. A questão, portanto, que deve ser colocada de forma clara é se esse tipo de ação cooperativa, nas formas que vêm sendo prestadas tradicionalmente, pode, de fato, produzir o que propõe, ou seja, desenvolvimento. O registro histórico do período transcorrido desde a aplicação sistemática e institucional da cooperação técnica ao desenvolvimento só pode ser avaliado em categorias inferiores, do tipo sucesso moderado até o fracasso evidente, numa gradação que possui vários casos de lento progresso, mas nenhum de rápida prosperidade em direção ao desenvolvimento.

A realidade do desenvolvimento mundial, nos últimos dois séculos e meio – grosso modo, desde o início da Revolução Industrial – não foi feita de grandes alterações na quase imóvel hierarquia econômica do desenvolvimento: a despeito do desaparecimento de alguns grandes impérios e a descolonização completa do chamado Terceiro Mundo, a grande divergência se manteve praticamente intacta durante a maior parte do período. Os que já eram desenvolvidos no século 19 continuaram desenvolvidos no decorrer do século 20, e as economias atrasadas e periféricas permaneceram, em grande medida, atrasadas e periféricas. Os únicos países a terem saltado a barreira do desenvolvimento durante esse período foram, de uma parte os nórdicos, de outra o Japão, todos por terem reunido condições culturais e institucionais que resultaram num processo autogerado de crescimento sustentável e transformador das antigas estruturas conservadoras e fixadas na economia primária.

A situação não conheceu mudanças notáveis durante a maior parte do século 20, sendo apenas alterada pela emergência de algumas nações asiáticas à plena capacitação industrial, logo sendo chamados de NICs, ou novos países industriais. Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura são provavelmente os únicos exemplos de países que alcançaram o desenvolvimento na segunda metade do século 20, tendo partido de patamares quase tão medíocres quanto os da maioria dos países da Ásia, da África e da América Latina, que, aliás, ainda patinam no subdesenvolvimento. Instrutivo constatar que nem o Japão ou os nórdicos, nem qualquer um dos países que se qualificaram posteriormente deveram a melhoria de suas situações respectivas à cooperação ao desenvolvimento. E resulta pelo menos estranho que dos países que mais receberam cooperação ao desenvolvimento desde os aos 1950 – como os africanos, em cifras equivalentes a muitas dezenas de bilhões de dólares – nenhum conseguiu escapar do não-desenvolvimento.

Isto não quer dizer que ela seja absolutamente ineficaz, podendo ser útil, ou até mesmo necessária, nos casos mais dramáticos de inexistência de estruturas físicas e institucionais de um Estado ‘normal’ e de grande atraso educacional. Mas ela não é decisiva, ou suficiente, a ponto de mudar os dados básicos de um pais que não consiga reunir ele mesmo as condições para um processo endógeno de desenvolvimento (que implica a manutenção de um processo contínuo e sustentável de crescimento econômico, com transformações estruturais via inovações tecnológicas e distribuição social dos resultados da prosperidade assim criada). Ao contrario, ‘excesso’ de ajuda pode até prejudicar o processo de desenvolvimento, ao tornar o país em questão dependente da assistência externa, quando ele deveria estar buscando suas próprias fontes de crescimento num ciclo autogerado de investimento produtivo, poupança e atividades empreendedoras.

Em resumo, a cooperação não tem a capacidade de mudar o destino dos países se os recebedores não souberem se organizar para inserir a economia nacional nos circuitos da economia mundial, pelo lado do comércio e dos investimentos, não pela vertente da assistência externa. Em retrospecto, a única ajuda a ser prestada por países ricos aos países pobres deveria ser aquela que simplesmente qualifica a população desses últimos no domínio do ensino universal de base e aquele técnico-profissional; todo o resto deveria ser deixado em segundo, ou terceiro, plano.

Paulo Roberto de Almeida é sociólogo, diplomata, e reúne seus escritos em um site pessoal.