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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 5 de agosto de 2012

Grevismo disseminado e indiscriminado: quem e' responsável?

Sindicatos de trabalhadores são, obviamente, constituídos e funcionam para defender os direitos dos trabalhadores daquela categoria.Que eles também atuem, no seu conjunto, para produzir desemprego e desigualdades de renda são fatos não muito bem aceitos por todos, mas assim é o mundo.
Agora, quem é o responsável pelo grevismo exacerbado a que estamos assistindo no Brasil?
Em primeiro lugar, o governo claro, que produz uma inflação anual garantida de pelo menos 5 a 6%, e não se convence de que ela precisa ser menor. Todo ano o governo encomenda, prepara, espera e contribui para que o Brasil tenha uma taxa de inflação inaceitável do ponto de vista do poder de compra de todos os cidadãos.
Em segundo lugar, os próprios sindicados, mas aqui também ajudados pelo governo, que garante que essas greves de funcionários públicos -- que afetam TODOS os brasileiros -- sejam, de fato, férias remuneradas, sem qualquer consequência para os próprios grevistas, a não ser a chantagem que eles impõem ao resto da sociedade.
Pessoalmente, eu seria pelo fim da estabilidade dos funcionários públicos e pela proibição da greve em setores essenciais. Secundariamente eu seria pela desregulação de uma série de atividades e a desestatização de uma série de outros serviços públicos que podem ser oferecidos em regime de concorrência de mercado.
Paulo Roberto de Almeida 


Funcionários da Fiocruz anunciam greve

4/8/2012 14:43,  Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro
Fiocruz
Para o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, as reivindicações dos trabalhadores são legítimas e a conduta do sindicato tem sido madura
Funcionários da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vão paralisar suas atividades a partir de segunda-feira. A decisão foi tomada em assembleia na quarta-feira. Desde junho, os trabalhadores da instituição vinham fazendo paralisações de 24 horas.
Na manhã de sábado, representantes do Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc) reuniram-se com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro, durante um evento público, e entregaram um documento com as reivindicação do grupo.
O presidente do sindicato, Paulo Garrido, argumentou que há três anos vem negociando com o Ministério do Planejamento e que desde então o salário dos funcionários sofreu desvalorização de 20%.
- Temos um acordo de março do ano passado com o governo determinando que até março de 2012 seria apresentada para os trabalhadores da Fiocruz uma proposta concreta na mesa. Na última reunião [semana passada], a Secretaria de Relações do Trabalho apresentou um diagnóstico um esboço, não uma proposta concreta.
A greve permanecerá pelo menos até o dia 13, dia sinalizado pelo Ministério do Planejamento para a apresentação de uma proposta referente à pauta da categoria. Nesse mesmo dia, uma nova assembleia está marcada para decidir os rumos da greve.
O ministro da Saúde disse que vai conversar com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. “Os trabalhadores têm seus mecanismos para lutar por aquilo que são seus direitos, pelas suas reivindicações e tenho plena convicção de que esse movimento não vai paralisar as atividades essenciais de assistência e de produção da Fiocruz”.
Além do aumento de salários, os grevistas querem a reestruturação do planos de carreiras, criação de uma data-base e a recomposição dos valores dos adicionais de insalubridade.
Os sindicalistas garantiram que as atividades de emergências dos hospitais e a produção de vacinas e medicamentos nas linhas já iniciadas não serão afetados pela greve.
Para o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, as reivindicações dos trabalhadores são legítimas e a conduta do sindicato tem sido madura. “A carreira na Fiocruz teve ganhos muito significativos há cerca de três anos, mas ao mesmo tempo desde esse período não tivemos recuperação de perdas e ajustes, que são importantes”. Gadelha ponderou, no entanto, que a conjuntura adversa internacional e nacional leva o governo a ter cautela na negociação.
Vinculada ao Ministério da Saúde, a Fiocruz está instalada em 10 estados e possui um escritório em Maputo, capital de Moçambique, na África. Ao todo, são 16 unidades técnico-científicas, voltadas para ensino, pesquisa, inovação, assistência, desenvolvimento tecnológico e extensão no âmbito da saúde. Além da geração de conhecimento, a fundação produz vacinas, medicamentos à base de plantas, métodos de diagnóstico e monitoramento da saúde do trabalhador, e atua no aumento do número de patentes brasileiras e aprimoramento do sistema de saúde nacional.

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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Politica economica no Brasil: o desmantelamento do tripe estabelecido em 1999

O Brasil tem uma longa trajetória de luta pela estabilização de sua economia, uma história pouco exemplar que passa por seis moedas, REPITO: SEIS MOEDAS, no último meio século ou pouco mais.
Poucos países tiveram ritmos de inflação que se medem em números astronômicos, ou geológicos: bilhões, no caso do Brasil mais exatamente quatrilhões, ou zilhões de % de aumento de custo de vida, e corte de não sei quantos zeros desde a substituição do mil-réis pelo cruzeiro.
Chegamos, finalmente, com o Plano Real a uma estabilização ainda precária, pois que o presidente de então não quis assumir o ônus de um forte ajuste fiscal, e assim tivemos que basear o plano numa ancoragem cambial (sempre precária e perigosa), num forte aumento de juros e num ainda mais vigoroso aumento de impostos.
Pois bem, isso veio a termo nos desequilíbrios acumulados ao longo da segunda metade dos anos 1990, considerando-se ainda a forte contração financeira externa com as crises financeiras iniciando-se pelo México, prolongando-se nas turbulências asiáticas e culminando na moratória russa. 
A solução foi adotar um novo modelo de estabilização, não mais baseado na ancoragem cambial, mas na flutuação cambial (1999), nas metas de inflação (1999) e na responsabilidade fiscal (LRF, de 2000), com a continuidade do ajuste iniciado em 1998 com a cooperação do FMI e a realização de superavits fiscais compatíveis com o controle do endividamento público.


Tudo isso ameaça desmoronar agora, com a continuidade da gastança pública, absolutamente irresponsável, e os ataques ao regime cambial em vigor e o total desprezo pelo controle inflacionário. Os responsáveis econômicos não se sentem constrangidos em jogar o ônus nas costas do povo brasileiro, e parece que vão perseverar nesse caminho.
Recebo o seguinte comentário a propósito de minha postagem sobre a redução da taxa de juros pelo Copom-BC (mais abaixo): 


Bom dia Paulo! O BACEN já descartou o sistema de metas de inflação. A cada dia fica mais óbvio que tal sistema inexiste no país. Ainda nesta semana, o BACEN atuou fortemente no mercado cambial. A atuação do BACEN deixou evidente seu propósito: desvalorizar o real. Isto é, o BACEN também está tentando bicar para escanteio a taxa de câmbio flutuante. Isto é, dos três pilares macroeconômicos que sustentaram a economia brasileira nos últimos 10 anos (taxa de câmbio flutuante, sistema de metas de inflação, e responsabilidade fiscal), o BACEN está prestes a destruir dois deles. Do lado fiscal, o governo tem feito sua parte para desequilibrar ainda mais a situação das contas públicas. Em resumo: em menos de 1 ano e meio o governo Dilma já descartou a fórmula que garantiu a precária estabilidade brasileira nos últimos anos. A taxa Selic alta atrai investidores, diminuindo este fluxo, como o governo vai financiar o pagamento (só de juros 250 bi $) da divida publica? Ou empréstimo ou em Brasil chega aos juros "normais" do capitalismo: demorou...


Pois é, parece que tudo vai para o brejo.
Depois não poderão dizer que não foram avisados...
Paulo Roberto de Almeida 

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Estabilidade dos mestres: uma praga, ao que parece...

...mas não só aqui.
De fato, não estou falando da terrível -- sou contra -- estabilidade dos professores universitários. Aliás, sou contra estabilidade para qualquer funcionário público, mesmo para membros do Judiciário, sendo apenas favorável à estabilidade de juizes no exercício de suas funções por um período limitado de tempo, sujeito a confirmação por um conselho da magistratura, encarregado de verificar a produtividade do dito cujo, mais cujo do que dito...
Enfim, mas eu queria falar do engodo que é a estabilidade do professor, um convite à preguiça, se ouso dizer.
Mas, não se preocupem, não vou falar. Deixo vocês com uma leitura mais amena.
Paulo Roberto de Almeida

Essay
The End of Tenure?
By CHRISTOPHER SHEA
The New York Times, Sunday Book Review, September 5, 2010

Education Life: Essay Adapted From ‘Higher Education?’ (July 25, 2010)

Books of The Times: ‘Higher Education?’ by Andrew Hacker and Claudia Dreifus (August 19, 2010)

In tough economic times, it’s easy to gin up anger against elites. The bashing of bankers is already so robust that the economist William Easterly has compared it, with perhaps a touch of hyperbole, to genocidal racism. But in recent months, a more unlikely privileged group has found itself in the cross hairs: tenured ­professors.

At a time when nearly one in 10 American workers is unemployed, here’s a crew (the complaint goes) who are guaranteed jobs for life, teach only a few hours a week, routinely get entire years off, dump grading duties onto graduate students and produce “research” on subjects like “Rednecks, Queers and Country Music” or “The Whatness of Books.” Or maybe they stop doing research altogether (who’s going to stop them?), dropping their workweek to a manageable dozen hours or so, all while making $100,000 or more a year. Ready to grab that pitchfork yet?

That sketch — relayed on numerous blogs and op-ed pages — is exaggerated, but no one who has observed the academic world could call it entirely false. And it’s a vision that has caught on with an American public worried about how to foot the bill for it all. The cost of a college education has risen, in real dollars, by 250 to 300 percent over the past three decades, far above the rate of inflation. Elite private colleges can cost more than $200,000 over four years. Total student-loan debt, at nearly $830 billion, recently surpassed total national credit card debt. Meanwhile, university presidents, who can make upward of $1 million annually, gravely intone that the $50,000 price tag doesn’t even cover the full cost of a year’s education. (Consider the balance a gift!) Then your daughter reports that her history prof is a part-time adjunct, who might be making $1,500 for a semester’s work. There’s something wrong with this picture.

The debate over American higher education has been reignited recently, thanks to two feisty new books. ­Higher Education? How Colleges Are Wasting Our Money and Failing Our Kids — And What We Can Do About It (Times Books, $26), by Andrew Hacker, a professor emeritus of political science at Queens College, and Claudia C. Dreifus, a journalist (and contributor to the science section of The New York Times), is if anything even harsher and broader than the cartoonish sketch above. It is full of sarcastic asides like “Say goodbye to Mr. Chips with his tattered tweed jacket; today’s senior professors can afford Marc Jacobs.” But its arguments have been praised in The Wall Street Journal and given a respectful airing on The Atlantic’s Web site. They are also echoed in Mark C. Taylor’s Crisis on Campus: A Bold Plan for Reforming Our Colleges and Universities (Knopf, $24), which is more measured in tone but no less devastating in its assessment of our unsustainable “education bubble.”

The higher-ed jeremiads of the last generation came mainly from the right. But this time, it’s the tenured radicals — or at least the tenured liberals — who are leading the charge. Hacker is a longtime contributor to The New York Review of Books and the author of the acclaimed study “Two Nations: Black and White, Separate, Hostile, Unequal,” while Taylor, a religion scholar who recently moved to Columbia from Williams College, has taught courses that Allan Bloom would have gagged on (“Imagologies: Media Philosophy”). And these two books arrive at a time, unlike the early 1990s, when universities are, like many students, backed into a fiscal corner. Taylor writes of walking into a meeting one day and learning that Columbia’s endowment had dropped by “at least” 30 percent. Simply brushing off calls for reform, however strident and scattershot, may no longer be an option.

The labor system, for one thing, is clearly unjust. Tenured and tenure-track professors earn most of the money and benefits, but they’re a minority at the top of a pyramid. Nearly two-thirds of all college teachers are non-tenure-track adjuncts like Matt Williams, who told Hacker and Dreifus he had taught a dozen courses at two colleges in the Akron area the previous year, earning the equivalent of about $8.50 an hour by his reckoning. It is foolish that graduate programs are pumping new Ph.D.’s into a world without decent jobs for them. If some programs were phased out, teaching loads might be raised for some on the tenure track, to the benefit of undergraduate education.

And if colleges are ever going to bend the cost curve, to borrow jargon from the health care debate, it might well be time to think about vetoing Olympic-quality athletic ­facilities and trimming the ranks of administrators. At Williams, a small liberal arts college renowned for teaching, 70 percent of employees do something other than teach.

But Hacker and Dreifus go much further, all but calling for an end to the role of universities in the production of knowledge. Spin off the med schools and research institutes, they say. University presidents “should be musing about education, not angling for another center on antiterrorist technologies.” As for the humanities, let professors do research after-hours, on top of much heavier teaching schedules. “In other occupations, when people feel there is something they want to write, they do it on their own time and at their own expense,” the authors declare. But it seems doubtful that, say, “Battle Cry of Freedom,” the acclaimed Civil War history by Princeton’s James McPherson, could have been written on the weekends, or without the advance spadework of countless obscure monographs. If it is false that research invariably leads to better teaching, it is equally false to say that it never does.

Hacker and Dreifus’s ideal bears more than a faint resemblance to Hacker’s home institution, the public Queens College, which has a spartan budget, commuter students and a three-or-four-course teaching load per semester. Taylor, by contrast, has spent his career on the elite end of higher education, but he is no less disillusioned. He shares Hacker and Dreifus’s concerns about overspecialized research and the unintended effects of tenure, which he believes blocks the way to fresh ideas. Taylor has backed away from some of the most incendiary proposals he made last year in a New York Times Op-Ed article, cheekily headlined “End the University as We Know It” — an article, he reports, that drew near-universal condemnation from academics and near-universal praise from everyone else. Back then, he called for the flat-out abolition of traditional departments, to be replaced by temporary, “problem-centered” programs focusing on issues like Mind, Space, Time, Life and Water. Now, he more realistically suggests the creation of cross-­disciplinary “Emerging Zones.” He thinks professors need to get over their fear of corporate partnerships and embrace efficiency-enhancing technologies.

Taylor’s eyes also seem to have been opened to the world beyond Williams and Columbia. After his Op-Ed article appeared, a colleague from a cash-short California State University campus wrote to say that the “mind-pulping” teaching load left no room for research of any kind, even if it fell short of the five-courses-a-semester load at some community colleges. “This is an extremely unfortunate situation,” Taylor writes, “because the escalating cost of higher education is driving more students to these institutions.”

Here we have the frightening subtext of all the recent hand-wringing about higher education: the widening inequality among institutions of various types and the prospects of the students who attend them. While the financial crisis has demoted Ivy League institutions from super-rich to merely rich, public universities are being gutted. It is not news that America is a land of haves and have-nots. It is news that colleges are themselves dividing into haves and have-nots; they are becoming engines of inequality. And that — not whether some professors can afford to wear Marc Jacobs — is the real scandal.

Christopher Shea writes the Brainiac blog for the Ideas section of The Boston Globe.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A frase do dia: como podemos progredir com professores estáveis?

Bem, não foi bem uma pergunta, mas uma afirmação, e ela está no Wall Street Journal de hoje, num artigo do professor Timothy Knowles, que escreveu o artigo:

The Trouble With Teacher Tenure
(ou seja, o problema com a estabilidade dos professores) e sua frase é exatamente esta:

We can't make progress if bad teachers have jobs for life.

Ele se refere a uma lei estadual (escolas e universidades são um assunto puramente local, provincial ou no máximo estadual nos EUA, e o governo federal só intervem em programas de formação e de pesquisa específicos) do Colorado, onde o governador assinou uma lei revisando completamente o sistema de avaliação de professores do estado, prevendo inclusive demissão por performance insuficiente. De fato, não existe progresso com maus professores se mantendo nos mesmos cargos durante anos e anos.

No que se refere ao Brasil, e no que concerne minha posição, se eu tivesse esse poder, terminaria com toda e qualquer estabilidade em qualquer nível, em qualquer função, para qualquer tipo de funcionário público a qualquer momento (OK, manteria para juízes no exercício exclusivo de funções de magistrado durante períodos de 4 anos, renováveis apenas mediante avaliação de desempenho).
Professor universitário do sistema público, voltado para a pesquisa, poderia adquirir a chamada tenure, depois de 12 anos de exercício contínuo da profissão (aulas combinadas com pesquisas) e avaliação por banca externa.
Não existe outra maneira de buscar a excelência senão por meio da avaliação contínua, e sem que se constituam esses quistos de funcionários interessados apenas em suas próprias carreiras e não no serviço público.
O sistema de mandarinato, outrora um excelente mecanismo de recrutamento dos melhores para servir ao Estado, converteu-se, pouco a pouco, num sistema corrupto e sobredimensionado, contribuindo para a decadência da China.
Acredito que com a sanha irresponsável dos nossos mandarins, com as gangues sindicais de professores do sistema público, o Brasil caminha rapidamente para a decadência.
Na educação isso é uma tragédia...
Paulo Roberto de Almeida