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domingo, 11 de maio de 2014

Politica Economica: metas de inflacao dividem economistas (Valor)

Debate sobre centro da meta de inflação divide economistas
Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo
Valor Econômico, 02/05/2014

O aumento da inflação e a discussão em torno da importância ou não do cumprimento do centro da meta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ocorrem a poucos dias de o regime de metas de inflação completar 15 anos no Brasil. Em meio ao debate sobre o avanço dos preços e da leniência ou não do governo no combate à sua aceleração, economistas passaram a levantar a necessidade de alterações no regime implantado em junho de 1999. 

Alguns acreditam que o regime de metas deveria se tornar mais "rígido" no país, de forma que a política econômica passasse a mirar e a atingir o centro da meta (4,5%), sem flexibilizações em torno do teto, de 6,5%. Isso mostraria a não negligência do governo em relação ao avanço da inflação. Outros economistas têm defendido que seria melhor ter uma meta mais alta e de médio prazo que se cumpra do que uma de curto prazo (1 ano), como a atual, e que poderá não ser cumprida, como indicam expectativas para este ano, segundo a mais recente pesquisa Focus. E há ainda neste debate os economistas mais críticos que acreditam que é preciso buscar alternativas ao regime, que não trouxe respostas de crescimento como o esperado. 
"É melhor ter meta maior e que você sabe que vai cumprir do que ter uma meta só para inglês ver. Do jeito que está hoje, é só para inglês ver", diz o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),. Ele tem sugerido a adoção de uma meta de três anos, de 5% ao ano, com uma banda que caia ao longo do tempo, de dois pontos percentuais (como é hoje) para um ponto. Isso mudaria o sistema atual, cuja meta é definida para ser cumprida no ano-calendário (em 12 meses). "Ao adotar uma meta de médio prazo, o governo voltaria a ter credibilidade sem perder flexibilidade", diz. "Ficaria numa situação melhor com o mercado financeiro, porque está dizendo que vai reduzir a inflação e em qual prazo vai fazer isso. Do jeito que o sistema está, todo mundo sabe que convergir a inflação para o centro da meta em um ano é impossível". 

Entre economistas de linha ortodoxa, além da defesa de que o governo mire o centro da meta, há argumentos para que esse valor, inclusive, caia. "Defendo em algum momento futuro a redução da meta central de 4,5% para 4% e o recuo do intervalo de variação da banda para 1 ponto percentual", propõe, entre outras mudanças, Eduardo Velho, economista da Invx Global Partners, e que estava na equipe do governo quando o regime foi implantado. 
O economista da FGV/Ibre, Renato Fragelli, também sustenta que o governo passe a cumprir o centro da meta, de 4,5%. Mas somente após isso ser conseguido de fato é que defende que a meta seja reduzida. "Vejo economistas sugerirem uma redução de 4,5% para 2,5% ou 3%. Tenho a opinião de que antes de pensarmos em reduzir a meta temos que passar três anos a cumprindo. Seria precipitado diminuir rapidamente. Isso iria desmoralizar mais ainda. Não podemos ser mais realistas do que o rei", destacou. "Também é irrealista tentar inflação muito baixa sem antes resolver problemas fiscais que países que têm inflação realmente baixa enfrentaram". 
O Brasil adotou esse regime após observar outras experiências consideradas bem-sucedidas por alguns economistas, como a da Nova Zelândia. Muitos economistas defendiam à época que, após contemplar a meta de 4,5%, o país deveria na verdade conseguir trazer a inflação para 3%, em nível parecido a de outros países, considerados por esses economistas em melhor patamar de desenvolvimento econômico. Por trás dessa ideia estaria a interpretação de que a meta de 4,5% seria alta demais para se tornar permanente porque, na corrente ortodoxa, quanto mais baixa inflação, melhor para o crescimento econômico do país. 
A meta de 4,5% está em vigor desde 2006. Em 15 anos de regime, em apenas cinco anos o país cumpriu ou o centro da meta ou conseguiu deixar a inflação abaixo disso (anos 2000, 2004, 2006, 2007 e 2009). Em duas ocasiões (2003 e 2004), houve uma "Carta Aberta", em que o governo decidia por uma revisão da meta para cima, por indicações de que a taxa prevista não seria alcançada. 
Além das diferenças sobre onde deveria ser colocada a meta, e se há problemas ou não em se atingir o centro ou apenas ficar dentro da banda, e se o país deveria ter meta mais de longo prazo, há economistas que levantam a preocupação sobre o momento em que ela deveria ser revista. 
Velho traz essa dúvida. Na sua avaliação, não é esse o momento. Ele diz que essas mudanças, caso feitas hoje, trariam um impacto negativo e iriam sancionar um novo "piso" informal da inflação, mais elevado, pois ao ampliar o horizonte de cumprimento da meta de 1 ano para 2 anos, por exemplo, sinalizaria ao mercado desconfiança com a meta de 4,5% e portanto, a nova meta ajustada de curto prazo pelo mercado seria mais próxima de 6%, com repercussões negativas no mercado acionário, com elevação da curva futura de juros. 
Também não há entre os economistas consenso sobre os ganhos até agora contabilizados pelo país em 15 anos do regime de metas. 
"Apesar de ser um crítico do regime de metas, nesses 15 anos ele apresentou mais ganhos do que problemas", afirma Fernando Ferrari Filho, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 
Ferrari cita entre os ganhos a inflação ter ficado, na sua opinião, "controlada", entre 1999 e 2013, a uma média de 6,7% ao ano. E isso também significa, diz ele, que "o atual descontrole da inflação, como [alguns] costumam dizer, não ocorre porque o patamar está próximo à média da inflação dos últimos 15 anos, de 6,7% ao ano". Em termos de problemas, ele destacou que as autoridades econômicas ainda não conseguiram desindexar totalmente a economia e o fato de o regime também não ter conseguido responder, eficientemente, a choques de custos. 
Na avaliação de Ferrari, um problema central do regime estaria no fato de entender que a inflação não tenha outra natureza a não ser de demanda. Isso difere da sua visão, de que a inflação seria predominantemente de conflitos distributivos, choques de oferta e custos de produção. Ao definir a inflação como de demanda, o regime pressupõe poder atacá-la com a alta de juros, remédio que na prática, segundo ele, não estaria tendo grandes efeitos pela aceleração de preços ter outras características. 
Em termos de eficácia, o regime teria um desempenho, no mínimo, questionável, na opinião do economista Luiz Fernando de Paula, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Isso porque se esperaria que com estabilidade na inflação o país tivesse um crescimento relativamente elevado, mas isso não ocorreu desde que o regime foi implantado. 
De Paula destaca que não há, inclusive, consenso na literatura internacional de que países que adotaram o regime de metas tiveram (ou têm) nos últimos anos um desempenho melhor em termos de inflação e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do que os países que não o adotam. De Paula destaca que, além disso, é preciso atentar para outros fatos que interferiram na redução da inflação em alguns períodos vão além do choque de juros altos para controlá-la. Ele entende que a redução da inflação após 2003 no Brasil ocorreu por condições muitas vezes desconsideradas nas análises sobre eficácia do regime, como um contexto mundial deflacionista e uma taxa de câmbio valorizada, "em ambiente internacional benigno". 
Após 15 anos de sua adoção, De Paula diz que é preciso repensar o regime, buscando uma alternativa de substituição. 
"A experiência internacional mostra que há outros regimes de política macroeconômica que têm sido eficazes", disse, exemplificando com a experiência asiática, que mostrou que se pode controlar a taxa de câmbio, como faz a China, além de citar a experiência de países nórdicos europeus, com adoção de políticas de rendas. 
Ferrari, da UFRGS, se mostra menos incisivo num possível abandono e diz que poderiam ser mantidas as metas para inflação, mas ao mesmo tempo deveria haver metas também para o crescimento, como já fazem outros bancos centrais no mundo. 
Há ainda quem defenda a permanência do regime pelas impossibilidades políticas de com ele romper, como é o caso de Oreiro, da UFRJ. "Acho que a gente não pode brincar com inflação e que simplesmente jogar o sistema de metas pela janela seria partir para um confronto aberto com o sistema financeiro. Acho que a gente não tem nada a ganhar com isso. Não é que eu esteja defendendo interesse de banqueiro. Mas acho que estratégia dos governos Lula e Dilma foi de não confronto, o que nos diferencia da Argentina e da Venezuela. Se é uma estratégia de não confronto, vamos tentar solução de compromisso entre a flexibilidade da política monetária e a credibilidade necessária para ter uma política minimamente eficaz. Por isso, neste contexto, não defendo abandonar o regime", diz Oreiro. 
André Biancarelli, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também entende que "não há clima para alterações mais profundas na forma como se pratica a política de combate à inflação no Brasil hoje". Mas diz que isso é justamente "produto da pressão do raciocínio político-eleitoral, ou de agentes do mercado financeiro, que não perdoarão tão cedo a tentativa de baixar as taxas gerais de rentabilidade da economia brasileira", destacou. 

domingo, 30 de março de 2014

Inflacao: sinto desmentir quem fala errado

Acabo de ler uma matéria, que tem este trecho:

"Ela destacou que o governo tem mantido da (sic) inflação dentro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e que isso será mantido em 2014. O IPCA fechou 2013 em 5,91% e está acumulado em 5,68% em 12 meses. O teto da meta é de 6,5%, embora o discurso do Banco Central seja de que a política monetária trabalha para fazer os índices de preços convergirem para o centro da meta, de 4,5%.
— Nos últimos 10 anos, a taxa de inflação se manteve rigorosamente dentro do limites estabelecidos pelo CMN. Posso garantir que assim será também em 2014 — disse ela
."

Rigorosamente errado, equivocado, falso e mentiroso. Tudo isso junto?
O(A) jornalista não sabe o significado das palavras. 
Ou as pessoas não sabem o significado das palavras ou pensam que somos todos idiotas. Devolvemos a suposição. 
Meta, se algum curioso procurar no Dicionário, é um objetivo pré-determinado, um número, um percentual, um alvo específico, quantitativo (e portanto mensurável), ou qualitativo, e portanto objeto de definição e descrição.
Sob esses critérios, a inflação brasileira NUNCA esteve dentro e JAMAIS logrou alcancar a META.
Ela SEMPRE ESTEVE FORA DA META. 
Ela apenas não ultrapassou a BANDA de variação, que por sinal é muito alta, quase 50% da META, o que representa muita tolerância com o intolerável. 
Ou as pessoas não sabem a diferença entre META e BANDA, ou elas pretendem nos enganar. 
Como eu não gosto de ser chamado de idiota, prefiro acusar o equívoco, ou a empulhação, e restabelecer a verdade. 
Da minha parte posso garantir a todos vocês que, como em todas as vezes anteriores, a inflação em 2014 NÃO estará dentro da meta: o governo pretende, como sempre, nos tungar em pelo menos 6% do nosso poder de compra, na realidade bem mais. 
Ah, sim, a arrecadação vai bater novos recordes. Querem apostar?
Se os jornalistas quiserem, posso desenhar um alvo, daqueles bem grandes, vários circulos bem pretos, em diferentes escalas, um dentro do outro, num grande papel branco, com uma bola bem preta no meio. Essa é a META, o ALVO, o objetivo. Posso até marcar 4,5% no meio, e 6,5% no círculo extremo exterior. Precisa, ou assim já está claro?
Aposto que vão atirar para fora...
Paulo Roberto de Almeida 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Da serie: frases absolutamente questionaveis...

Questionaveis, e corrigíveis, absolutamente:


“Pelo décimo ano consecutivo, a inflação vai fechar na meta”.

Tem gente que não sabe diferenciar meta de banda. Banda é banda, até de música, mas pode ser também um espaço que varia de 2 centímetros ou 2%, por exemplo, até uma banda de largura amazônica, com vários quilômetros, como a faixa de Gaza, por exemplo.

Meta é meta, ou seja, atirar no centro, no alvo, num ponto focal, fazer gol, atingir um resultado pré-determinado.

Se alguém confunde banda com meta, é porque deve ter algum neurônio avariado, ou vários...

Se o Brasil consegue fechar na meta, eu não sei, faz dez anos que ele não consegue: só estica para a banda, e gozado que é só a de cima, nunca a de baixo.
Quem paga a conta?
Você, caro leitor.
Todo o ano o governo encomenda uma inflação bonitinha, que tunga pelo menos 6% do seu poder de compra, e provavelmente é bem mais, tendo em conta que classe média consome mais serviços do que produtos, e os serviços são "non tradables", como se diz, ou seja, não podem ser importados e portanto tem menos concorrência, e acabam aumentando mais (escolas, transporte, advogado, dentista, médico, restaurantes, etc.).
Se não fosse assim, o governo encomendaria uma meta mais baixa, certo?
Os 4,5% de inflação, com uma banda larga como a de cinturão de lutador de sumô, representam uma variação enorme em termos mundiais, raramente encontráveis em outros regimes de metas de inflação. Geralmente os governos procuram ficar entre 1,5 e 2,5%, apenas, o que é suportável, digamos, pois os ganhos de produtividade também se distribuem por essa faixa, anualmente.
Quem encomenda inflação maior, é porque gosta de inflação, segundo a velha receita furtadiana -- e antipobre -- que diz que é melhor mais inflação e mais crescimento, do que menos inflação e recessão e desemprego. Se trata, obviamente, de uma falácia, só aceitáveis para keynesianos de botequim, como os nossos, que ainda confundem economia com receita de bolo.

Bem, acho que alguém precisa ensinar a certas pessoas a diferença entre meta e banda...
Paulo Roberto de Almeida 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Inflacao "dentro da meta"? O que dizem os dados? Refrescando a memória...

Leio o seguinte, na imprensa diária"

SÃO BERNARDO DO CAMPO - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira, 19, em entrevista à rádios do ABC paulista, que a "Inflação está sob controle e fechará na meta este ano...".

Mas ao que eu saiba, ao que sabem todos, e também os integrantes do Copom e do Conselho Monetário Nacional, a meta é de 4,5%, cravados (aliás, desde 2006). 
A banda é que pode se estender 2% acima, ou abaixo, do centro da meta, ou seja, a inflação anual pode ir de 2,5% a 6,5% ao ano.
Será que o teto já virou meta?
Parece que sim.

Recebi, ao mesmo tempo, a seguinte informação sobre dados da inflação brasileira, de um banco de investimento:


  • August’s first half CPI inflation stood at 0.16% MoM, very close to market consensus and our forecast. The monthly inflation rate is increasing gradually as the temporary downward pressures in food and transportation prices fade. For the same reason, core inflation and the diffusion index rose slightly at the margin. On the other hand, annual inflation fell to 6.15% (from 6.4% in July), basically reflecting the more favorable behavior of food (11.0% from 11.9%) and monitored prices inflation (1.3% from 1.5%).
  • Looking ahead, we expect the monthly inflation to increase further by the end of the month, staying slightly below 0.3% MoM. The exchange rate pass-through to consumer prices is still modest. Given the lags of the pass-through, we expect tradable prices to accelerate further in the coming months, resulting in higher monthly inflation rates. Moreover, we must note that the recent BRL depreciation and the rising likelihood of a fuel prices increase pose upward risks to our year-end forecast, currently set at 5.9% YoY.
  • In the monthly result, food prices fell 0.09% (from -0.2% in the previous month). Meanwhile, transportation prices decreased 0.3% (from -0.6%), reflecting the lower effect from the revoke of bus, subway and train fares hikes. Moreover, we also highlight the lower decline in apparel prices (-0.1% from -0.4% in the end of July) and the increase in education costs (0.7% from 0.1%), both related to seasonality. Regarding the exchange rate pass-through, we underscore the acceleration in tradable prices increases at the margin (0.3% from 0.1%), reflecting increases in durables prices.
  • The average of core inflation measures rose to 0.34% m/m (from 0.32% in the previous month and 0.27% in the end of July), representing 4.2% in annualized terms (from 3.9% and 3.4%, respectively). The diffusion index increased to 60.7% (from 55.8% in the previous month and 55.0% in the end of July). Finally, services price inflation remained high over the last 12 months at 8.6% (from 8.6% in July).

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Embromando no combate 'a inflacao - Celso Ming

A politização da inflação
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 03 de maio de 2013

A inflação deixou as páginas de Economia dos jornais. Passou para a seção de Política. Isso diz muita coisa.

Há algumas semanas, deixou de ser tema quase exclusivo de especialistas e dos perdigueiros do mercado financeiro. Passou a frequentar a boca do povo, como motivo de apreensão e como chacota. A inflação do tomate, por exemplo, deu bem mais o que falar do que a escalada das commodities agrícolas no ano passado.

Nos showmícios do Dia do Trabalho, insistentes acusações de leniência do governo Dilma em relação à inflação e ao esfolamento do poder aquisitivo do trabalhador, provocado pela alta de preços, foram os principais temas dos discursos. O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, se sentiu na obrigação de defender o governo Dilma. Tentou passar o recado de que, ao contrário do que agora defendem as lideranças sindicais, a presidente "é uma leoa" no combate à inflação. Mas todos sabem que não é bem assim. A presidente tem diante do tema atitude dúbia e, como ocorre em toda dubiedade, confusa.

Seu governo, até aqui, enfrenta dupla frustração. Não consegue entregar crescimento econômico minimamente aceitável segundo seus próprios critérios. E não tem sido capaz de manter a inflação na meta definida pelo seu governo (veja o gráfico).

Inúmeras vezes, a presidente deu a entender que não pode atacar os dois problemas ao mesmo tempo. Os incentivos ao avanço econômico provocam inflação e os remédios à inflação contêm a atividade produtiva. Nessas condições, sempre preferiu gastar mais recursos públicos para puxar pelo "pibão", que teima em não chegar - sua frustração maior.

Além de deixar correr solta a gastança e de estimular o consumo acima da capacidade de oferta da economia, o governo Dilma pouco fez para combater a inflação. Tratou com pouco-caso o cumprimento da meta de 4,5% ao ano, deixou que os salários saltassem mais alto do que a produtividade da economia e empurrou o Banco Central para políticas que derrubaram sua capacidade de conduzir expectativas.

Ao final de março, em entrevista paralela à reunião de cúpula do Brics, na África do Sul, Dilma cometeu ato falho seguido de um ataque de nervos. Primeiro, condenou "políticas de combate à inflação que reduzem o crescimento econômico". Mas, após o mercado financeiro mostrar apreensão com o que entendeu como ameaça de derretimento da política de estabilização dos preços, proclamou que "o combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente do meu governo".

Enfim, na ocasião, já se apresentava como a leoa que nunca foi e que provavelmente nunca tentou ser. No seu pronunciamento de 1.º de maio, viu-se obrigada a dizer que a luta contra a inflação "é constante, imutável, permanente". Alguém aponta alguma consistência prática nessa fileira de palavras?

A politização da inflação é processo sujeito a dinâmica própria. Diante dele, ou o governo Dilma leva mais a sério o combate à alta de preços ou corre o risco de ser arrastado pela correnteza.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Meta de inflacao para o governo deve ser alta... - Alexandre Schwartsman

Alexandre Schwartsman
Blog, 24/04/2013



A matéria sobre “inflação basal” usou pouco da entrevista. Assim resolvi publicá-la completa aqui no blog (é para isso que serve, não?).

1 - Tem fundamento a afirmação de que o Brasil tem uma inflação de base e que ela gira em torno de 5% e 6%?

Não. Isto é uma tentativa de ressurreição de uma tese antiga, a “inflação estrutural”, lá dos anos 50 e 60, à época desmentida pela tese de doutorado do Pastore.

No caso atual, não é necessário mais do que olhar a trajetória da inflação para observar que não apenas ela alcançou valores inferiores aos 5-6% mencionados, como também o fez com crescimento mais forte do que temos hoje. No período 2005-2009, uma vez superados os efeitos da transição política, o desvio da inflação relativamente à meta foi quase 0%. Mesmo se incorporarmos 2010 à amostra, já com o BC enfraquecido (por exemplo, parando inexplicavelmente o processo de alta de juros em setembro de 2010),  a inflação superou a meta em média 0,3% ao ano. Não por acaso, as expectativas de inflação 12 meses à frente entre o final de 2005 e o final de 2010 se mantiveram sempre em torno de 4,5% (na verdade 4,4%), revelando que o BC tinha conseguido ancorar as expectativas.

Obviamente, mesmo se o BC consiga ancorar as expectativas, como a meta é alta e o governo nunca perdeu a oportunidade de perder a oportunidade de reduzir a meta, a inflação não se descolaria muito de 4,5%. Caso tivesse reduzido a meta para níveis similares aos de outros países latino-americanos adeptos do regime de metas, poderíamos – com um BC disposto – ter registrado inflação em torno de 3% ao ano.

2 - Se sim, a que se deve essa resistência? E como eliminá-la? Se não, por que, desde 2000, o Brasil só teve inflação abaixo de 5% em três anos (2006, 2007 e 2009)?

Sim, mas a meta de inflação foi superior a 5% de 1999 a 2005 (em 2001, 2002,  2003, 2004 e 2005 a meta oficial era inferior a 5%, mas, na prática as metas ajustada eram superiores a este patamar). Desde a adoção da meta de 4,5% (em 2006) o BC manteve a inflação em média próxima à meta até perder a autonomia informal de que dispunha. No caso, a resistência da inflação se deve, em primeiro lugar, à insistência de manter a meta em 4,5%, mesmo quando expectativas rodavam abaixo disso. Mais recentemente se deve à subordinação do BC aos objetivos políticos do governo. Basta ver que só pode elevar a Selic agora depois de uma comissão (externa ao governo, diga-se) convencer a presidente.

3 - Como avalia a afirmação de que dois pontos a mais de inflação (além do centro da meta) não faz diferença na vida do brasileiro, uma vez que os salários seguem em alta?

Acho de uma miopia atroz. Embora seja verdade que os aumentos salariais tenham superado a inflação, à medida que a inflação acelera – refletindo, entre outras coisas – o próprio impacto do aumento dos salários sobre os preços, a manutenção dos salários reais requer novas rodadas de elevações salariais. Expectativas de inflação mais elevada são incorporadas aos salários e temos uma clássica espiral salário-preços, na linha da observada, por exemplo, nos EUA e no Reino Unido nos anos 70.

Este processo é instável e, quando finalmente o Fed (e o Banco da Inglaterra) foram tratar o problema, ambas economias tiveram que passar por uma recessão extraordinária.

Hoje o desvio é de 2 pontos percentuais. Se não for tratado agora, será mais bem mais alto em poucos anos e o custo de reduzir a inflação será muito maior do que hoje, assim como hoje já é bem maior do que seria se tivesse sido tratado em 2010-2011.

4 - Em junho, o CMN definirá meta de inflação para 2015. Belluzzo, por exemplo, já defendeu elevar a meta. Com a crise na Europa e EUA, economistas mundo afora têm defendido flexibilidade no objetivo, diante de dificuldades em produzir crescimento. Seria o caso de flexibilizar a meta aqui também?

No ranking das ideias cretinas elevar a meta fica numa posição privilegiada. Faz sentido para países que enfrentam ameaça de deflação (ou deflação propriamente dita). Já no Brasil, cujo problema é o oposto, caso se eleve a meta, as expectativas também irão se elevar, ainda mais com o um BC percebido como submisso. As demandas salariais e preços passam a refletir uma inflação esperada mais alta e a inflação se acelera sem qualquer ganho de produto. Não é por acaso que o Palmeiras foi parar na Segundona.

Oh, ceus! O que fizeram da minha inflacaozinha?: tribulacoes de umapolitica economica esquizofrenica...

Parece aquele velho jogo do cabo de guerra entre crianças: cada bando puxa para o seu lado, até que algum esperto solta a corda e todo mundo cai do outro lado...
Loucura? Certamente! Mas arrogância e autossuficiência também...
Paulo Roberto de Almeida

Aumentam as distorções
O Estado de S.Paulo, 1 de maio de 2013
Celso Ming

Até agora, as distorções da economia brasileira eram percebidas dentro do governo mais como consequência das mudanças estruturais do que da deterioração dos seus fundamentos. Essa convicção está sendo abalada.

A atual combinação de políticas não vem conseguindo assegurar o crescimento esperado do PIB do Brasil, de 3,5% a 4,0% ao ano, e, ao mesmo tempo, produz inflação que, em 12 meses, ameaça saltar para acima dos 6,0%. Afora isso, o investimento ainda se mantém fraco demais. Esses são os principais sintomas de desequilíbrio.

Enquanto prevaleceu dentro do governo o ponto de vista de que esses desarranjos são momentâneos e que não passam de desdobramentos inevitáveis da derrubada dos juros e do avanço da política distributiva (transferências para o setor privado), a atitude dos administradores da economia do Brasil era esperar pela virada, dada como certa. Mas essa virada não veio. E o governo se aflige agora com a incapacidade de entregar o prometido.

Neste clima, o miolo do governo Dilma passou a divergir tanto no diagnóstico quanto na ação. Para as autoridades do Ministério da Fazenda, falta consumo – conclusão inexplicável diante da expansão das vendas ao varejo, superior a 7% em 12 meses, e da situação inédita de pleno emprego.

O Banco Central, por sua vez, entende que o problema é a incapacidade de oferta do setor produtivo. Mas não é claro na análise dos fatores que concorrem para isso, provavelmente por lhe faltar autonomia e não querer polemizar com as demais áreas do governo.

O fato é que a indústria nacional está desencorajada. Já não vinha conseguindo superar sua falta de competitividade e, neste momento, tem de enfrentar a alta progressiva dos custos da força de trabalho.

Mas o que pesa mais na prostração do setor é a ausência de confiança. O empresário brasileiro sente que os resultados de sua atividade são baixos em relação às suas expectativas e começa a suspeitar de que há alguma coisa errada na política econômica: a inflação derruba o câmbio real e o mercado do seu produto; e deteriora-se a já baixa capacidade de competição de sua empresa. Essa é a principal razão pela qual não se anima a investir.

Por enquanto, a principal resposta tática do governo para esse déficit de resultados é o acirramento da gastança, tratado eufemística e enganosamente como política fiscal anticíclica – já inserida no novo contexto eleitoreiro que toma corpo no Brasil.

É provável que as notórias contradições entre o que pensam e o que fazem o Ministério da Fazenda e o Banco Central tendam agora a se acirrar, ainda mais caso não haja reação satisfatória do sistema produtivo e se a inflação não recuar, o que aparenta ser mais provável.

A piora das condições da economia brasileira tem tudo para transformar-se em prato principal do debate político, sobretudo agora que começam a aparecer rachaduras na base de apoio do governo. A pré-candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e os discursos pronunciados nesta quarta-feira, nos festejos do Dia do Trabalho, são indicação disso.

CONFIRA
Inflaçãozinha a mais… Ainda subsiste dentro do governo Dilma – e mesmo entre economistas independentes – o ponto de vista de que a importância dada a inflação está sendo exagerada. No entanto, o crescimento das reivindicações pela instituição de gatilhos e pela reindexação dos salários deveria ser bom motivo para convencer aqueles que seguem pensando que uma inflaçãozinha a mais não tem importância.

Conflito distributivo. A redução das vendas da Ambev (cervejas) e da BRF (carnes) mostra como a inflação está atacando o poder aquisitivo do consumidor. Compõe com a nova rodada de reivindicações salariais uma situação de acirramento do conflito distributivo, que, num ambiente eleitoral, tende a abrir a guarda do governo.

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O mundo de sombras da meta de inflação
O Estado de S.Paulo, 30 de abril de 2013
Rolf Kuntz

Qual a meta de inflação? No Brasil é um mistério. Pode ser 4,5% ou qualquer ponto até 6,5%. A confusão é mantida e adubada, no dia a dia, pelo discurso oficial. Ora se fala dos 4,5% como a própria meta, ora como centro da meta. Isso faz enorme diferença para quem deseja saber para onde estão apontadas, de fato, as armas da política monetária. Uma das pretensões de todo banco central, incluído o brasileiro, é administrar as expectativas do mercado. Isso inclui tanto o pessoal do mercado financeiro quanto os empresários e, na condição mais desejável, também os trabalhadores e consumidores. Mas como administrar ou coordenar essas expectativas, se o objetivo da política é obscuro? Já houve quem apontasse a taxa de 5% como o alvo real da autoridade monetária. Mas até essa opinião, de aparência tão razoável, pode ser muito otimista.

A confusão foi nutrida mais uma vez, na quarta-feira, pelo Ministério da Fazenda. Segundo a nova edição do boletim Economia Brasileira em Perspectiva, as metas de inflação vêm sendo cumpridas desde 2004. A isso se acrescenta um pretenso esclarecimento: “Ou seja, por nove anos consecutivos a inflação ao consumidor medida pelo IPCA tem ficado dentro do intervalo dos porcentuais estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional”. Em seguida aparece uma referência aos “desvios do centro da meta”.

Embora esse discurso alimente o mistério geral sobre o assunto, deixa claro pelo menos um ponto: para o pessoal da Fazenda, a taxa de 4,5% é apenas o centro e a meta oficial é todo o espaço entre 2,5% e 6,5%. Qualquer pessoa poderia acrescentar: na prática, o alvo real é qualquer ponto até o limite superior, porque em Brasília ninguém deve estar interessado num resultado abaixo do centro. Ao contrário. O mais provável, num governo petista, seria um empenho para evitar uma ação anti-inflacionária mais forte. Isso faria mal ao crescimento, um efeito parecido com a mistura de manga com leite. Esse ponto de vista foi reafirmado há poucas semanas pela presidente Dilma Rousseff, portadora de um diploma de Economia.

Mesmo sem essas teorias pitorescas, desmentidas pela experiência tanto internacional quanto nacional, segundo a turma do Banco Central (BC), a bagunça conceitual já seria suficiente para prejudicar a administração de expectativas. O portal do BC registra numa tabela o Histórico de Metas para a Inflação no Brasil desde 1999, quando foi adotado o sistema.

A primeira coluna indica as várias resoluções sobre o assunto. Na segunda aparecem as datas iniciais de vigência. O título da terceira é tão simples quanto claro: Meta (%). O da quarta é igualmente límpido: Banda (p.p.). As outras duas apontam os limites inferior e superior de cada banda e a inflação efetiva em cada período. Nada parece duvidoso. Meta é uma coisa, banda é outra. Não se menciona “centro da meta”, porque a meta é um ponto. A palavra banda aparece na tabela sem qualificação. Mas é difícil, quando se quer examinar o assunto seriamente, imaginar algum sentido diferente de “margem de erro” ou “margem de tolerância”.

Essa margem é necessária, obviamente, por mero realismo. O alvo pode ser muito bem definido, mas a eficácia da política monetária pode ser afetada por circunstâncias imprevistas ou incontroláveis. Secas, inundações, crises políticas no Oriente Médio, turbulências financeiras no mercado internacional podem afetar fortemente o câmbio e outros preços. A margem de tolerância deve servir, portanto, para acomodar desvios e evitar complicações para os dirigentes do BC.

Mas a clara diferença entre banda e meta é indispensável como segurança para todo o sistema econômico. Sem essa distinção, quem pode dizer se as autoridades se contentarão facilmente com resultados como os dos últimos três anos – 5,9% em 2010, 6,5% em 2011 e 5,8% em 2012 – sem se esforçar mais duramente para atingir o “centro da meta”, ou, sem embromação, a meta oficial sem mais qualificações? Só num desses anos, 2010, a economia brasileira exibiu alguma vitalidade, com crescimento de 7,5% na saída da recessão. Nos outros dois o produto interno bruto (PIB) aumentou 2,7% e 0,9%, num ambiente de baixa produtividade e severas restrições de oferta. Sem dispor sequer de um desempenho econômico decente para contrabalançar a gandaia dos preços, o governo decidiu atribuir a inflação destrambelhada a choques de preços internacionais. Outros governos de países em desenvolvimento, com resultados muito melhores para apresentar, ficaram dispensados de inventar desculpas desse tipo.

O governo dificilmente poderia evitar, nessas condições, a fama de tolerante com a inflação. Ele mesmo reforçou essa fama ao insistir na confusão entre meta e banda, como se um resultado de 6,5% fosse uma prova de empenho contra a alta de preços. A imagem de leniente foi sustentada pela fácil aceitação, nos anos seguintes, de taxas próximas de 6%, enquanto metas mais ambiciosas eram anunciadas na América Latina.

A acusação de leniência foi estendida ao BC, com a reputação já afetada pela aderência à política de juros defendida pela presidente Dilma Rousseff. A noção da autonomia operacional do Comitê de Política Monetária (Copom) foi pelo ralo. Para efeito de administração de expectativas, tornou-se irrelevante saber se essa opinião era justa ou infundada. O presidente do banco, Alexandre Tombini, e seus companheiros parecem ter iniciado uma reviravolta para impedir um desastre maior. Isso deve explicar, entre outras novidades, o anúncio, pelo diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, de um possível endurecimento da política de juros. Pode ser a reafirmação do compromisso com um sistema sem confusão entre meta e banda. Mas esta, por enquanto, é só uma hipótese otimista. A maior parte do governo continua em outra direção. Quem já avacalhou as metas fiscais só pode ter interesses de outro tipo – eleitoreiros, por exemplo.

sábado, 20 de abril de 2013

Vesguice mental dos decisores politicos em economia - Editorial Estadao


Timidez contra a inflação

19 de abril de 2013 | 2h 09 
Editorial O Estado de S.Paulo
A inflação disparada parece haver preocupado, afinal, a presidente Dilma Rousseff e os dirigentes do Banco Central (BC). Não havia mais como olhar para outro lado. Em março a taxa acumulada em 12 meses chegou a 6,59% e estourou o limite de tolerância, de 6,5%. O assunto ganhou destaque nas primeiras páginas dos jornais, nas capas de revistas semanais e nos programas de rádio e TV. A demorada resposta foi dada na quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom), de maneira quase envergonhada, elevou de 7,25% para 7,5% a taxa básica de juros da economia. O tímido aumento foi acompanhado de uma promessa de "cautela" nos próximos passos.
A timidez transparece também no comunicado emitido pelo Copom. A nota menciona a inflação elevada, a disseminação dos aumentos e a resistência da inflação, fatos bem conhecidos e apontados muitas vezes, desde o ano passado, por analistas do mercado financeiro e de instituições independentes. O documento sugere a possibilidade de novas altas de juros, mas com uma ressalva: "Incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação" e recomendam cautela na política monetária.
A ressalva, um tanto cabalística, é menos misteriosa e mais preocupante do que pode parecer à primeira vista. O pessoal do BC continua argumentando como se os grandes problemas internos, como a persistente alta de preços e o fiasco do crescimento, fossem determinados principalmente, ou em grande parte, pelas condições externas. Essa alegação foi usada em agosto de 2011, quando o Copom iniciou a redução dos juros. A recessão internacional, segundo se explicou na época, derrubaria as cotações dos alimentos e de outros produtos básicos e isso ajudaria a frear a inflação no Brasil.
A previsão foi errada, como se verificou em 2012, e o erro decorreu principalmente de um diagnóstico falho. Ao contrário da tese oficial, a inflação brasileira, claramente vinculada a fatores como o gasto público excessivo e a rápida expansão do crédito, é um produto essencialmente nacional, assim como a estagnação do PIB. Basta olhar a evolução de outros países emergentes e em desenvolvimento para ver como é falso o discurso repetido em Brasília. Pode-se crescer muito mais, com inflação bem menor, apesar do ambiente externo desfavorável. Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai e Peru comprovam essa possibilidade.
O erro maior e mais sério, no entanto, resulta de uma espécie de vesguice mental. A presidente Dilma Rousseff insiste em proclamar a redução dos juros como grande realização de seu governo. Se novos aumentos forem necessários, diz a presidente, a taxa ainda será menor do que a vigente em outros tempos.
Há dois equívocos nesse palavrório. De fato, os instrumentos de política monetária tornaram-se mais eficazes, mas isso é consequência da integração financeira. Há dez anos o crédito correspondia a 25% do PIB. Essa relação dobrou. Qualquer medida - alta dos juros ou aperto do crédito, por exemplo - pode produzir mais efeitos do que há alguns anos. É uma tolice atribuir essa mudança ao voluntarismo da presidente da República. Mas instrumentos mais eficazes só funcionam se forem usados, e o BC, obediente à Presidência, demorou muito a agir.
Além disso, a presidente Dilma Rousseff, aplaudida por uma parte do empresariado, agiu sempre como se o grande problema do Brasil, no setor monetário, fosse a persistência de juros mais altos que os de outros países. Essa tese desvia a atenção do problema central. Juros altos podem ser ruins, mas a questão realmente grave é a persistência de uma inflação endêmica e bem maior que a de quase todos os participantes do comércio global. Em outros países, surtos inflacionários são combatidos com rapidez e determinação. No Brasil, a própria meta de inflação, de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais, já revela uma perniciosa tolerância inflacionária. Como o governo gasta demais e ainda transforma em farsa o compromisso com a meta fiscal, sobra a política monetária como arma contra a alta de preços. E mesmo essa arma o BC, submisso à desorientação do Palácio do Planalto, deixou de usar por quase dois anos

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Juros e Inflacao: qualquer decisao do BC sera' ruim, pois ja' tem sua credibilidade abalada..

TAXA DE JUROS
BACEN. COPOM. (17/04/2013) – PREVISÕES DO MERCADO

DE OLHO NA INFLAÇÃO E NO PIB, COPOM PODE SUBIR JURO PELA 1ª VEZ DESDE 2011. MERCADO AVALIA QUE JUROS PODEM SUBIR PARA CONTER ALTA DE PREÇOS NO PAÍS. AUMENTO DA SELIC PODE, PORÉM, COMPROMETER CRESCIMENTO ECONÔMICO. Em meio ao risco de aumento da inflação e à necessidade de manter a economia aquecida para combater os efeitos da crise internacional, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reune em 16-17/04/2013 para deliberar sobre o patamar para fixação da taxa básica de juros do país, a chamada Selic, atualmente fixada em 7,25% ao ano. A mais recente pesquisa feita com agentes do mercado financeiro, divulgada pelo BACEN no relatório Focus, aponta para a expectativa de que o Copom promova nesta quarta a primeira elevação na Selic desde 2011, quando a autoridade monetária deu início ao processo de redução que levou a taxa de juros ao seu menor patamar histórico. O aumento seria uma tentativa do Banco Central de conter a inflação no país – a alta dos juros acaba por deixar o crédito mais caro e desestimula as pessoas a consumirem, o que pode gerar queda de preços. Em 10/04/2013 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA acumula alta de 6,59% em 12 meses até março, acima do teto da meta de inflação estabelecida pelo BC. A última vez em que o índice superou a meta foi em dezembro de 2011, quando atingiu 6,64%. A PR afirmou afirmou que o governo não terá o menor problema em atacar a inflação sistematicamente. Apontou, porém, que se houver necessidade de elevar os juros para combatê-la, isso seria feito em patamar bem menor que o realizado em anos anteriores, sinalizando que não há possibilidade de grandes mexidas na Selic para frear a alta dos preços. Já havia afirmado que a inflação no Brasil está sob controle e avaliou que a tendência é que diminua ao longo deste ano, assim como ocorreu em março, que teve inflação de 0,47%, ante de 0,60% registrado em fevereiro.
DÚVIDAS SOBRE O PIB. Por um lado se preocupa com a inflação, do outro o governo está pressionado a manter medidas para que a economia reaja e cresça em um ambiente de crise. Por conta disso, o mais provável é que o Copom mantenha a taxa de juros inalterada em 7,25% na reunião desta quarta, justamente para não prejudicar o crescimento da economia brasileira, que já caminha a passos lentos – o aumento do PIB em 2012 foi de 0,9%. Caso o BACEN eleve a taxa de juros, seria para reduzir consumo. Em um momento em que se está morrendo de medo de a economia não crescer neste ano, essa alta pode ser o tiro final. No entanto, há setores do mercado que acreditam que, nesse momento, o Copom não vai mexer na taxa de juros. Vão ponderar essa questão do crescimento e optar por olhar mais um pouco, ver como a economia se comporta e se haverá uma reação.
CONSENSO ESPERA ALTA NA SELIC, MAS HÁ DIVERGÊNCIA DE QUANTO SERÁ ESSE AUMENTO. DAS 83 PROJEÇÕES COMPILADAS PELA AE BROADCAST, 53 INDICAM AUMENTO DA TAXA BÁSICA DE JUROS; DOS QUE APOSTAM NA ALTA, 20 ESPERAM UM AUMENTO DE 0,5 P.P. Apesar do crescimento da economia continuar fraco, a expectativa do mercado por um aumento da Selic está crescendo continuamente, em meio às preocupações com a inflação. Com isso, as análises estão cada vez mais preponderantes de que haverá um aumento da taxa de juros em pelo menos 0,25 ponto percentual. Desta forma, o que a algumas semanas atrás era quase um consenso, a possibilidade de manutenção da Selic foi revista por diversas casas de análise, principalmente após a divulgação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) de março e com os pronunciamentos do MF e do BACEN: (i) o governo pode tomar medidas não populares; (ii) não haveria tolerância com a inflação; respectivamente. Até a semana passada, das 76 casas de análise com projeções divulgadas, 14 acreditavam em alta da taxa de juros já na próxima quarta-feira. Entretanto, este número subiu e, das 83 projeções divulgadas, agora 53 projetam um aumento da taxa de juros e 30 esperam manutenção. Destes 53, 33 acreditam que a alta será de 0,25 p.p., para 7,5% ao ano e 20 acreditam que o juro subirá 0,5 p.p., para 7,75% ao ano, de acordo com informações do AE Broadcast.
POR QUE MANTER A SELIC? Para o coordenador do curso de ciências contábeis da Faculdade Santa Marcelina, Reginaldo Gonçalves, a taxa Selic deve ser mantida em 7,25% a.a., pois qualquer que seja o aumento, ele pode inviabilizar o projeto do governo, que está em busca da redução do endividamento interno e a possibilidade de novos investimentos. Segundo ele, caso haja o estouro da meta de inflação, o Copom deve manter a taxa nos patamares atuais e fazer uma nova avaliação no próximo mês. Gonçalves destaca que o governo está em um telhado de vidro, que pode romper a qualquer momento, com a situação econômica ainda preocupante - o próprio governo revisou para baixo os números do crescimento do PIB em 2013, para 3% frente aos 3,5% iniciais. A preocupação com o crescimento econômico deve ser uma constante para o Copom, sobretudo após a divulgação do IBC-Br (Índice de atividade econômica do Banco Central), avalia a equipe do Santander. Considerado uma prévia do PIB brasileiro, o indicador ficou bem abaixo do esperado ao apontar alta de 0,4% em fevereiro. Embora esperam uma manutenção na Selic, eles esperam com expectativa o comunicado pós-reunião para entender melhor os próximos passos da política monetária em 2013. A agência de classificação de risco Austin Ratings, que revisou para baixo as suas perspectivas para a economia após a divulgação do dado, acredita que a Selic deve voltar a subir só a partir de julho.
POR QUE ELEVAR A SELIC? Por outro lado, conforme aponta a LCA Consultores, está se tornando cada vez mais preponderante a indicação pelo mercado de que a taxa básica de juro suba já neste reunião. A alteração de cenário está ligada, principalmente, devido à mudança no tom das declarações anti-inflacionárias da diretoria do BC. Tombini destaca que está monitorando atentamente a evolução dos indicadores para sinalizar a iminência de alterações da política monetária. Além disso, o presidente do BC destacou que o monitoramento será utilizado para a definição ''não da estratégia, mas da tática [da política monetária] no período vindouro'', aponta a LCA. ''Isso parece indicar que a estratégia de apertar as condições monetárias já está definida, restando estabelecer o timing e a intensidade da elevação da Selic'', avaliam os consultores. O alinhamento retórico de outros integrantes do governo com relação a essa possibilidade - como no caso de Guido Mantega - também reforçam essa percepção. Neste quadro, apontam, as chances da Selic ser elevada já nesta reunião do Copom aumentam preponderantemente, após a inflação ter atingido 6,6% em março no acumulado de doze meses, apontando para uma justificativa técnica para a elevação dos juros. O quadro de elevação de juros também deve elevar os juros, aponta a Rosenberg Consultores Associados. Segundo apontam os economistas, as notícias dramáticas não se limitaram à inflação acima do teto, mas também o índice de difusão alto ao mostrar que três quartos de todos os itens tiveram elevação nos preços. ''A política fiscal poderia ser mobilizado para combater a inflação, mas o seu impacto é muito lento e, além disso, não mostra nenhum sinal de reversão de sua trajetória expansionista'', afirmam os economistas, o que dá ''luz verde'' para uma volta do ciclo monetário mais apertado.
AJUSTE  DEVE SER MODERADO. Entretanto, aponta a LCA, a perspectiva é de que a intensidade do ajuste será moderada, suficiente apenas para trazer a política monetária para níveis mais próximos da neutralidade. ''Nas nossas contas, tal objetivo demandaria uma elevação da taxa básica de juros de 150 pontos-base'', afirma a LCA - uma vez que a inflação está mais ligada aos efeitos de choque na oferta do que na demanda. A expectativa dos economistas é também por uma maior desaceleração da inflação, com menor pressão dos grupos de alimentação. Com isso, o BC não deve adotar um ciclo de alta da Selic de modo a contrair a atividade e sim para levar a política monetária para perto das condições de neutralidade.
DISCURSO PR SOBRE JUROS CAUSA MAL-ESTAR NO BC. Os comentários da PR sobre juros e inflação, feitos no primeiro dia de reunião do Copom, causaram certo mal-estar no Banco Central, mas a avaliação é que as declarações pelo menos não chegaram a ser ruins nem "engessam" a decisão a ser tomada hoje sobre a taxa Selic. A equipe do BC considera que o "ideal" seria que ninguém do governo, inclusive a presidente, fizesse avaliações sobre taxa de juros durante os dois dias de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) por causa de riscos de interpretações erradas pelo mercado. Principalmente num momento em que o próprio governo admite que o Banco Central tem sua credibilidade questionada pelo mercado e precisa reafirmá-la para recuperar seu poder de coordenador das expectativas sobre os rumos da inflação. O tom das declarações da PR, contudo, gerou uma leitura "até favorável" pela equipe do BC. Foi destacada a frase em que ela diz que irá atacar "sistematicamente" a inflação. Além disso, no discurso técnicos consideram que a PR sinalizou não descartar um aumento de juros agora ao dizer que qualquer necessidade de combate à inflação será possível fazer num patamar menor, numa referência ao tamanho de uma eventual alta dos juros. A PR fez questão de dizer a interlocutores que o BC terá autonomia para decidir o que fazer com a taxa Selic. O Planalto, apesar de preferir que os juros não subam, trabalha com essa possibilidade e torce para que a alta, se for decidida, seja de 0,25 ponto percentual e não ultrapasse um ponto percentual ao longo do ano, o que levaria a taxa dos atuais 7,25% para 8,25%.
APOSTAS. No mercado, analistas apostam que o BC pode optar por um aumento mais elevado, de 0,50 ponto percentual, exatamente em razão do clima de interferência política nas decisões do banco. Dentro do BC, há um desconforto entre os técnicos diante das declarações públicas sobre juros vindas de autoridades do governo, como as da presidente na África do Sul, quando ela disse ser contra medidas de combate à inflação que afetem o crescimento. Esse tipo de comentário, segundo a equipe do BC, prejudica o trabalho que o banco vem fazendo desde o início do ano de endurecer seu discurso para tentar reverter as expectativas sobre os rumos da inflação

terça-feira, 16 de abril de 2013

Inflacao alta: barbeiragem do BaCen, diz Alexandre Schwartsman

Está tudo dito...o que é possível de se dizer.
O que não é possível eu digo: o BC, ou o Copom, renunciou a ter postura própria; tornou-se um serviçal do Palácio do Planalto, e acredito que vários dos membros do Copom já estão pensando em pedir demissão. Se não pedem, é porque têm mais afeição a cargos que à honestidade intelectual.
Paulo Roberto de Almeida

Inflação elevada é barbeiragem do BC, diz Schwartsman
Beatriz Olivon
Revista Exame, 14/04/2013

Segundo o economista Alexandre Schwartsman, a autoridade monetária está “com pé trocado” e usa instrumentos errados para controlar a subida de preços
Para Schwartsman, se a Selic não subir amanhã, significa que o BC adiou para maio - e se não subir em maio significa que o BC não tem autorização para subir juros
anterior

São Paulo – Desde 2010 a inflação não encerra o ano no centro da meta (4,5%) ,  ou sequer próxima dele. Crítico do comando atual do Banco Central, o economista Alexandre Schwartsman, que já foi diretor de assuntos internacionais do BC em (2003-2006), e hoje é sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, não vê independência nas decisões da instituição.

“O Banco Central abandonou o centro da meta de inflação há muito tempo e hoje se contenta em ter inflação abaixo de 6,5%”, disparou o economista, que vê “truques” ao invés de política monetária nas medidas adotadas recentemente pelo governo.

Confira os melhores trechos da entrevista concedida por Schwartsman à EXAME.com:

EXAME.com - O Banco Central está demorando para atuar sobre a inflação?
Alexandre Schwartsman - O Banco Central está com o pé trocado desde 2011. Não estamos com a inflação varando o teto da meta por acaso, isso foi barbeiragem de política monetária, e o BC segue na barbeiragem.

EXAME.com - O comportamento recente do BC é um indício de falta de independência?
Schwartsman - Não é indício, é documento assinado embaixo.

EXAME.com - Na semana passada, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou que as medidas que forem necessárias para combater a inflação elevada seriam tomadas pelo governo, mesmo a elevação da taxa de juros quando necessário...
Schwartsman - Eu me espanto como isso passa batido, o Mantega diz que vai subir juros, mas não precisa de tiro de canhão, mas depois diz que não se manifesta sobre juros sendo que acabou de falar. Ele está se manifestando e a presidente da república a mesma coisa.  A Dilma faz uma reunião com três economistas de fora do governo, sendo que dois deles vendem serviço de consultoria, e os três abençoam alta modesta de juros. O BC é independente?

EXAME.com - Se, no final do ano, a inflação ficar acima do teto da meta, o que pode acontecer além da Carta Aberta? (quando ocorre o descumprimento da meta de inflação, o presidente do BC precisa enviar uma carta aberta para o ministro da Fazenda, com os motivos do descumprimento e as providências e prazo para o retorno)
Schwartsman - Talvez uns tapinhas nas costas. Como o governo poderia culpar o presidente do Banco Central por isso?  No máximo pode dizer que ele foi subserviente demais e que deveria ter sido mais altivo. Em outros tempos de BC o presidente do BC decidia e então havia o direito de cobrá-lo. Mas no máximo é uma cartinha.

EXAME.com - As medidas de manutenção do IPI, desoneração de cesta básica e outras do tipo, têm algum efeito sobre o crescimento?
Schwartsman - Maior crescimento não vai ter, o problema não é esse. Esse tipo de medida não é para crescer, é para impedir que a inflação ultrapasse o teto da meta. Se o corte nos preços de energia não tivesse sido feito, estaríamos contemplando a possibilidade de chegar ao teto da meta. Com o corte, ganhamos fôlego. A mesma coisa ocorre ao adiar aumento de IPI, segurar combustível, desonerar cesta básica, você consegue um fôlego extra para chegar abaixo de 6,5%. O objetivo é esse, mesmo dizendo que isso é para crescer mais e dividir renda.

EXAME.com - Há outros países que adotam esse tipo de medida para tentar diminuir a inflação?
Schwartsman  - Vemos em outros lugares (o uso desse tipo de medida para tentar diminuir a inflação) mas também é errado, se você pensar do ponto de vista do controle de inflação. Não erramos sozinhos, tem lugares que fazem coisas piores que isso, como a Argentina. Isso não quer dizer que têm sucesso em controlar a inflação. Se fosse possível controlar inflação controlando preços não haveria inflação em lugar nenhum do mundo. O que você consegue são efeitos temporários sobre o efeito de preços, mas não muda a trajetória de inflação, você só não deixa o termômetro marcar o montante preciso, se o objetivo é esse, não deixar o termômetro passar de 6,5%, você pode dizer que é um sucesso, se o objetivo é levar para a meta, foi um fracasso.

EXAME.com - Qual sua projeção para a Selic que será definida na reunião do Copom dessa semana?
Schwartsman - Todas as indicações mais recentes são de que o Comitê vai antecipar o começo do ciclo de aperto. Em algum momento parecia que ia começar em maio, agora parece mais provável que comece amanhã mesmo. O movimento agora é pequeno, de aumento de 0,25 ponto percentual (atualmente  a Selic está em 7,25% ao ano) e eu não vejo um ciclo total muito carregado, no máximo na casa de 1,50 ponto percentual, terminando o ciclo em 8,75%.

EXAME.com - Essa elevação de 0,25 ponto percentual faria efeito?
Schwartsman - Obviamente não. A questão não é subir 0,25 p.p. , o mais importante é o comportamento de taxas mais longas, que incorporam as expectativas de mercado sobre o tamanho do ciclo total. Não é o 0,25 que faz diferença se não fizer mais nada. É um ciclo, provavelmente o BC vai subir a taxa, mas não sei, a regra desapareceu, a gente não sabe exatamente o que o BC quer. As melhores estimativas hoje sugerem algo como dois trimestres ou mais para a taxa de juros afetar produto e mais um ou dois pra ela afetar a inflação, ou seja, uma defasagem de três a quatro trimestres. Mesmo que o mercado antecipe todo o (possível) aumento de juros hoje (150 pontos), se fala de perspectiva de efeitos sobre inflação provavelmente no começo de 2014 ou no segundo trimestre de 2014.

EXAME.com – Qual sua expectativa para a inflação nesse ano?
Schwartsman - Eu não espero que no final do ano a inflação esteja acima do limite da meta, espero que esteja por volta de 6,5%. Não vejo taxa de inflação convergindo em 4,5%, eu espero uma inflação inferior a 6,5% no final do ano, namorando o teto da banda em 2013 e namorando com mais compromisso em 2014.

EXAME.com – O que poderá ser feito com relação a inflação em 2014?
Schwartsman - Terão que tirar truques da cartola em 2014, inventar uma desoneração qualquer... Claro que o corte nas tarifas de energia foi decisivo para a inflação não varar 6,5% em 2013. Se o objetivo é não deixar passar de 6,5%, tira PIS/Cofins de gasolina, de alguma outra coisa, tanto faz. Isso é truque, não é politica econômica. O ponto principal é abandonar o centro da meta. O governo está lutando para não passar de 6,5% e com os instrumentos errados.

EXAME.com - E se a taxa básica de juros não subir nessa semana, o que isso indica sobre o Banco Central?
Schwartsman - Se não subir quer dizer que adiaram para maio. Se não subir em maio quer dizer que o BC não tem autorização para subir juros, porque todo seu discurso foi nesse sentido, então significaria que o BC foi desautorizado. Seria um salve-se quem puder.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Brasil: inflacao anual ja' ultrapassou o teto da meta

Como alguém disse que não iria sacrificar o crescimento brasileiro no combate à inflação, os intermediários e outros formadores de preços se sentiram autorizados a seguir adiante, com reajustes e demandas não previstas nos cálculos do Copom. Assim, a inflação sobe alegremente, tungando os brasileiros em mais de 6% da capacidade de compra.
Sacrificar crescimento? Boa preocupação. Como ele anda em torno de 1% (o que já crescimento negativo da renda per capita, ou seja, diminuição, de fato), poderíamos talvez numa zona de empobrecimento relativo.
Esta é a maravilha da política econômica que nos servem...
Apenas mais um alerta: redução seletiva e parcial de alguns impostos não vai diminuir o ímpeto da inflação, que já parece ter voltado a entranhar os nossos hábitos.
Bravo aos companheiros: conseguiram fazer o Brasil recuar duas décadas. Em matéria de protecionismo se trata de um recuo de três décadas ou mais. Mais um pouco estaremos nos anos 1930...
Paulo Roberto de Almeida

Brazil Macro Flash: March's CPI Shows Slight Improvement in Core Inflation
Citi group, April 10, 2013

March’s CPI inflation stood at 0.47% m/m, slightly below market consensus and our forecast. Despite that, annual inflation surpassed the upper limit of the target, by reaching 6.59% (from 6.3% in February). As expected, the main upward pressures came from food price increases, reflecting the supply shock in perishable food prices. Therefore, the favorable surprise came from non food prices, more specifically in apparel and transportation prices. In addition to that, the average of core inflation and the diffusion index fell slightly in the monthly result, although still pointing to widespread upward pressures in the economy. Overall, these results reinforce our call that the Copom will start hiking the Selic rate in May by 50bp.

In the monthly result, food prices increased 1.14% (from 1.45%), in line with our expectations. This was the fourth consecutive month that food inflation surpasses 1% m/m. Over the last 12 months, food inflation reached 13.5% (from 12.5% in February), representing one of the main upward pressures in CPI inflation for this period.

The average of core inflation measures fell to 0.43% m/m, representing 5.2% in annualized terms (from 5.6% in February), above mid point target of 4.5% but inside the target band. The diffusion index fell to 69.1% (from 72.4% in February). Excluding food prices, the diffusion index fell to 65.4% (from 74.3%). Moreover, services inflation retreated to 8.4% over the last 12 months (from 8.7% in February). Overall, the measures of trend inflation have improved slightly in March, but still point to widespread upward pressures throughout the economy.

Looking ahead, we do not expect services inflation to decline markedly in the near future, given the tight labor market. Regarding food inflation, the usually fast recovery of the perishable food supply and the downward trend in international food prices point to a slowdown in the coming months. For April, our forecast is currently set at 0.5% m/m, due to temporary upward pressures in monitored prices. For 2013, we see upward risks to our forecast of 5.6% at year-end, related to the unfavorable surprise in food inflation this year.

domingo, 20 de janeiro de 2013

O Banco Central rouba o seu dinheiro, caro leitor...

Só posso chegar a esta conclusão: o Copom, que estatutariamente deveria lutar pela inflação a mais baixa possível, está promovendo a inflação, e retirando o seu poder de compra, meu caro leitor.
Em qualquer país civilizado, um presidente de Banco Central que garantisse, como garantiu o atual presidente do BC, em setembro de 2011, entregar uma taxa de inflação dentro da meta, e que não o fizesse, seria demitido sumariamente pelo parlamento. Mas o nosso Congresso, na verdade, é cúmplice da inflação alta, pois os congressistas também acreditam que é melhor um pouco de inflação para se ter maior crescimento e menos desemprego. Pois acabam colhendo maior inflação e menor crescimento, sem que isso beneficie a população, quer empregada quer a desempregada.
Infelizmente, estamos entregues a um bando de amadores economistas que se acreditam desenvolvimentistas, e que só conseguem ser estagnacionistas...
Paulo Roberto de Almeida 
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O novo Copom opta pelo desenvolvimentismo

18 de janeiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
Se ainda existissem dúvidas a respeito de uma mudança de 180° nas opções do Comitê de Política Monetária (Copom), desaparecem com a leitura do comunicado da reunião que, anteontem, manteve a taxa Selic em 7,25%.
O texto merece ser reproduzido em parte: "Considerando o balanço de riscos para a inflação que apresenta piora no curto prazo, a recuperação da atividade doméstica menos intensa do que o esperado e a complexidade que ainda envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta". No passado, diante de uma piora do risco de inflação, o Copom anterior não recearia em elevar a taxa de juros básica. Hoje, em nome do desenvolvimento, opta por manter essa taxa para permitir um clima favorável à retomada do crescimento econômico.
Não faltarão economistas para ir buscar o exemplo dos EUA, ou da União Europeia, para justificar essa mudança da política monetária. Ocorre que, nessas duas regiões, é preciso aumentar a demanda doméstica para dar impulso à indústria, que está com capacidade de produção não utilizada. No Brasil, a situação é muito diferente: a demanda doméstica é "robusta", como gosta de assinalar o Banco Central, enquanto nossa indústria, sem a competitividade necessária, prefere importar os componentes dos produtos que oferece. Esse descasamento entre a demanda e a oferta foi sempre considerado, até agora, um foco de inflação, que exige conter o crescimento da demanda doméstica para, num primeiro tempo, modernizar a indústria e elevar sua competitividade, que lhe permitirá conquistar fatias do consumo doméstico em outros países.
O Copom atual comunga com uma visão totalmente diversa, menosprezando o fato de que a inflação sempre traz embutido um mecanismo que a autoalimenta e que é necessário contê-la o mais cedo possível, para evitar que sua disseminação comece a contagiar todos os preços da economia.
Na economia brasileira atual, só um fator pode realmente contribuir para reduzir os preços: os investimentos na infraestrutura. Eles adicionam valor à produção nacional, na medida em que o País disponha de um sistema de estradas rodoviárias capaz de reduzir o custo do transporte - custo que se torna ainda menor quando é possível utilizar ferrovias e vias fluviais que cheguem a portos marítimos bem equipados.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Metas de inflacao: RIP (descansem em paz...) - Alexandre Schwartsman

A bola torta



Na semana passada o Banco Central, seguindo os rituais associados ao nosso finado regime de metas para a inflação, divulgou seu Relatório de Inflação, publicação trimestral que, em outros tempos, foi o principal canal de comunicação da autoridade monetária com o público. Naquela época analistas vasculhavam cuidadosamente o Relatório, em particular as previsões do Copom sobre a evolução esperada dos preços, variável crucial para as decisões de política monetária.
Nos dias de hoje as previsões do BC atraem bem menos atenção. Em parte, talvez a principal parte, porque é mais do que claro que elas deixaram de guiar as taxas de juros determinadas pelo Copom. Em mais de uma instância, mesmo prevendo inflação acima da meta e crescente, o BC simplesmente ignorou suas próprias projeções e persistiu na trajetória de redução da taxa de juros. Por este lado não deveria haver qualquer surpresa quanto ao fato do IPCA-15, uma medida antecipada do número oficial (o IPCA), ter atingido a bagatela de 5,8% em 2012, muito distante da meta de 4,5%.
(A propósito, bem me recordo da descrença acerca da minha previsão sobre a inflação atingir entre 5% e 5,5%, mais perto de 5,5% do que de 5%. Ironias da vida: quem diria que me revelei, na verdade, um otimista inveterado, apenas pouco melhor que o otimista invertebrado?).
Pode ser, porém, que a menor atenção devotada às previsões do BC reflita também ceticismo sobre a qualidade deste número, que tipicamente tem se mostrado muito mais otimista do que a Poliana que escreve estas mal traçadas.
De fato, em dezembro de 2009 o BC previu que a inflação em 2010 atingiria 4,6%; o número final foi 5,9%. Em 2010 a previsão oficial para 2011 indicava 5%, mas a inflação bateu 6,5%, o teto exato do intervalo de tolerância. Apesar disso em dezembro daquele ano o BC redobrou a aposta e prometeu a convergência para a meta, cravando 4,7% para a inflação de 2012, que, tudo indica, deverá ficar mesmo na casa de 5,8%, como adiantado pelo IPCA-15.
Em três anos consecutivos, pois, o BC errou por mais de um ponto percentual de diferença (o erro médio é de 1,3 ponto percentual). Diga-se, porém, que errar a previsão não é, a princípio, nenhuma grande vergonha, nem o principal tema da discussão.
Caso o BC tivesse por vezes superestimado a inflação e em outras oportunidades a subestimado diríamos que há problemas com a precisão das estimativas, mas não um viés. Afinal de contas, como se diz por aí (e eu, como economista, subscrevo entusiasticamente), fazer previsões é um negócio complicado, ainda mais sobre o futuro.
Na prática, porém, o que se observa são erros para um lado só: a subestimação sistemática da inflação. No primeiro caso diríamos que a bola de cristal do BC está embaçada, como de resto a de todos nós economistas; já no segundo, eu diria que a bola de cristal do BC não está prevendo, mas torcendo, o que é muito diferente.
Não é por acaso, portanto que, quando o BC projeta que a inflação será 4,8% em 2013 (ou mesmo quando promete apenas que será inferior à observada em 2012) tanto economistas como pessoas normais (a distinção é intencional) encarem a promessa com visível incredulidade, expressa, por exemplo, na previsão consensual de mercado para a inflação na casa de 5,5% para o ano que vem (embora eu acredite que será ainda mais alta).
A triste verdade é que o BC perdeu o controle do processo inflacionário ao perder as rédeas sobre as expectativas. Caso ache que vai segurá-las por meio de previsões excessivamente otimistas acerca da trajetória da inflação está em vias de sofrer um desapontamento amargo. Se quiser recuperar a mão o passo inicial é reconhecer a extensão do problema, postura muito diferente da que encontramos no Relatório de Inflação e na comunicação do BC em geral.
Apesar disso, feliz 2013!

"Para 2014, a projeção encontra-se em torno do valor central da meta em ambos os cenários"
(Publicado 26/Dez/2012)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Piadas economicas e as metas de inflacao - Editorial do Estado

Antes de transcrever o editorial do Estadão, permito-me repetir um post de 2011, no qual o presidente do BC prometia que em 2012 a inflação iria convergir para o centro da meta:


QUARTA-FEIRA, 28 DE SETEMBRO DE 2011

A frase da semana, do mês, do ano (e de 2012, tambem...)

A inflação está sob controle e irá convergir para o centro da meta em 2012.

Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em depoimento na Comissão Econômica do Senado Federal (28/09/2011)

Rendez-vous em 2012, para conferir...

Pois é, e agora, como é que fica?
Previsões não realizadas merecem multa pecuniária a quem as fez?
Metas são metas, e quem não alcança tem de ser cobrado.
Paulo Roberto de Almeida 


O humor negro do BC

Editorial O Estado de S.Paulo, 28 de setembro de 2012
A economia vai mal, a recuperação será lenta e os juros poderão continuar sem aumento até o fim do próximo ano, segundo as novas previsões e indicações do Banco Central (BC) em seu relatório trimestral de inflação. O crescimento econômico estimado para este ano caiu de 2,5% para 1,6%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou como piada a previsão de 1,5% divulgada em julho pelo banco Crédit Suisse. Se ele estiver certo, os economistas do BC parecem ter ingressado com grande entusiasmo na carreira de humoristas. Em junho do próximo ano a expansão acumulada em 12 meses ainda estará em 3,3%, segundo as projeções divulgadas nesta quinta-feira. Se forem confirmados cenários tão ruins para o Brasil e também para o exterior, dificilmente haverá novo aumento de juros até o fim de 2o13. Embora implícita, essa promessa parece bastante clara no documento e essa foi, também, a interpretação de economistas consultados pela imprensa. Se não surgir nenhuma surpresa, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, responsável pela política de juros, atenderá ao desejo manifestado pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro Mantega.
Mas o tom do relatório tende para o humor negro, talvez involuntariamente. A inflação, segundo o pessoal do BC, continuará convergindo para o centro da meta - 4,5% -, mas com desvios. A taxa anual, no cenário de referência, estará em 4,6% no terceiro trimestre de 2013 e voltará a 5,1% no segundo trimestre do ano seguinte. De toda forma, continuará dentro da margem de tolerância (o teto é 6,5%).
Essa previsão está condicionada ao recuo dos preços internacionais das commodities e a um crescimento econômico moderado no Brasil. Se o Brasil e alguns outros países colherem o suficiente para compensar a quebra da safra americana, as cotações agrícolas poderão recuar, mas isso também dependerá, provavelmente, do esfriamento da economia chinesa. Preços agrícolas menores podem ser bons para conter a inflação, mas são sempre ruins para as contas externas. Quanto ao crescimento brasileiro, a ideia é óbvia: um resultado muito melhor que o esperado pressionará a inflação, admitiu o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo.
A previsão de inflação abaixo do teto é o único detalhe mais ou menos róseo. A projeção de crescimento industrial é menor que a divulgada na quinta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a Confederação, a produção geral da indústria deve ficar estagnada em 2012. A indústria de transformação deve produzir 1,9% menos que em 2011. Nas contas do BC, o produto da indústria geral encolherá 0,1% e o do setor de transformação diminuirá 2,2%.
Pelas projeções do BC, o consumo continuará crescendo, neste ano e no próximo, mais rapidamente que a produção das fábricas. O investimento industrial tem sido insuficiente, segundo o relatório. A diferença entre o consumo, turbinado pela renda e pelo crédito, e a capacidade de resposta do setor produtivo resultará, naturalmente, em erosão da conta de comércio. Essa tendência tem sido clara há mais de um ano e deve continuar, segundo as projeções do BC. As novas estimativas indicam para 2012 uma receita de exportações 3,1% menor que a do ano passado e uma despesa com importações 1,7% maior. O complemento perfeito para esses números está no Informe Conjuntural da CNI: há limites para o modelo de crescimento pela expansão do consumo e por medidas anticíclicas. É preciso reforçar o investimento e aumentar a produtividade. Medidas na direção certa apenas começaram e seus primeiros resultados só deverão aparecer a partir do próximo ano.
Pelas estimativas do BC, o investimento em máquinas, equipamentos e construções continuará baixo em 2013. Para este ano, a estimativa é de uma redução de 2,2%. Para os 12 meses até o segundo trimestre do próximo ano, a expectativa é de um aumento de apenas 1,4%, insuficiente para compensar a queda.
Quanto às finanças públicas, são expansionistas, segundo o relatório, mas o BC ainda aposta no cumprimento da meta fiscal, embora sem mencionar o valor do superávit primário. Se os gastos desandarem, como ficará a política de redução de juros?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Politica economica no Brasil: o desmantelamento do tripe estabelecido em 1999

O Brasil tem uma longa trajetória de luta pela estabilização de sua economia, uma história pouco exemplar que passa por seis moedas, REPITO: SEIS MOEDAS, no último meio século ou pouco mais.
Poucos países tiveram ritmos de inflação que se medem em números astronômicos, ou geológicos: bilhões, no caso do Brasil mais exatamente quatrilhões, ou zilhões de % de aumento de custo de vida, e corte de não sei quantos zeros desde a substituição do mil-réis pelo cruzeiro.
Chegamos, finalmente, com o Plano Real a uma estabilização ainda precária, pois que o presidente de então não quis assumir o ônus de um forte ajuste fiscal, e assim tivemos que basear o plano numa ancoragem cambial (sempre precária e perigosa), num forte aumento de juros e num ainda mais vigoroso aumento de impostos.
Pois bem, isso veio a termo nos desequilíbrios acumulados ao longo da segunda metade dos anos 1990, considerando-se ainda a forte contração financeira externa com as crises financeiras iniciando-se pelo México, prolongando-se nas turbulências asiáticas e culminando na moratória russa. 
A solução foi adotar um novo modelo de estabilização, não mais baseado na ancoragem cambial, mas na flutuação cambial (1999), nas metas de inflação (1999) e na responsabilidade fiscal (LRF, de 2000), com a continuidade do ajuste iniciado em 1998 com a cooperação do FMI e a realização de superavits fiscais compatíveis com o controle do endividamento público.


Tudo isso ameaça desmoronar agora, com a continuidade da gastança pública, absolutamente irresponsável, e os ataques ao regime cambial em vigor e o total desprezo pelo controle inflacionário. Os responsáveis econômicos não se sentem constrangidos em jogar o ônus nas costas do povo brasileiro, e parece que vão perseverar nesse caminho.
Recebo o seguinte comentário a propósito de minha postagem sobre a redução da taxa de juros pelo Copom-BC (mais abaixo): 


Bom dia Paulo! O BACEN já descartou o sistema de metas de inflação. A cada dia fica mais óbvio que tal sistema inexiste no país. Ainda nesta semana, o BACEN atuou fortemente no mercado cambial. A atuação do BACEN deixou evidente seu propósito: desvalorizar o real. Isto é, o BACEN também está tentando bicar para escanteio a taxa de câmbio flutuante. Isto é, dos três pilares macroeconômicos que sustentaram a economia brasileira nos últimos 10 anos (taxa de câmbio flutuante, sistema de metas de inflação, e responsabilidade fiscal), o BACEN está prestes a destruir dois deles. Do lado fiscal, o governo tem feito sua parte para desequilibrar ainda mais a situação das contas públicas. Em resumo: em menos de 1 ano e meio o governo Dilma já descartou a fórmula que garantiu a precária estabilidade brasileira nos últimos anos. A taxa Selic alta atrai investidores, diminuindo este fluxo, como o governo vai financiar o pagamento (só de juros 250 bi $) da divida publica? Ou empréstimo ou em Brasil chega aos juros "normais" do capitalismo: demorou...


Pois é, parece que tudo vai para o brejo.
Depois não poderão dizer que não foram avisados...
Paulo Roberto de Almeida 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Governo encomenda inflacao - Carlos Alberto Sardenberg

Elevando a inflação
Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S.Paulo, 01 de agosto de 2011

Junte as histórias: a presidente Dilma Rousseff afirma que o combate à inflação não pode matar o crescimento econômico. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirma que, se a inflação do ano ficar abaixo de 6,5%, a meta terá sido cumprida. O Banco Central (BC) deixa de dizer que seu objetivo é levar a inflação para o centro da meta (4,5%) em 2012.

Conclusão: os 4,5% ficaram para 2013.

Ninguém do governo disse isso com todos os números e muitos analistas acham que o compromisso com a meta em 2012 está de pé. Mas o jeitão da coisa parece ter mudado: o governo se encaminha para aceitar uma inflação mais alta por um tempo maior.

Não faz muito tempo que a Fazenda esperava para este ano uma inflação (sempre medida pelo IPCA, índice do IBGE) em torno dos 5%. Aos poucos, foi admitindo algo maior - tudo por culpa dos preços internacionais de alimentos - e, mais recentemente, Mantega disse que até 6,5% estaria tudo bem.

É uma análise tão criativa quanto a contabilidade que turbinou as contas públicas no ano passado. A meta de inflação no Brasil é de 4,5%, com tolerância de dois pontos para baixo (que ninguém conta) ou para cima. Logo, pode ir até 6,5%, mas em circunstâncias excepcionais. Essa margem é colocada justamente para acomodar pressões inesperadas, que estejam em parte ou totalmente fora do controle das autoridades locais.

É justamente o caso da alta internacional de preço de alimentos, causada por aumento de consumo, mas também por quebra de safra e problemas climáticos em diversos países. Essas cotações pressionam os preços locais e a inflação de alimentos contamina o índice ao consumidor. E aí? Uma forte alta de juros, aqui, não altera o clima na Rússia.

Assim, é preciso acomodar essas elevações e combater seus efeitos secundários, utilizando-se, por algum período, da margem de tolerância. Ou seja, não se pode dizer, aqui, que qualquer inflação abaixo de 6,51% ao ano cumpre a meta.

Não cumpre. É um desvio. Transformar esse desvio em regra equivale, simplesmente, a elevar a meta de inflação - e parece ser exatamente essa a intenção do governo.

Nas projeções do Banco Central, divulgadas na última Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), a inflação só volta para a meta em meados de 2013, daqui a dois anos, portanto, um tempo muito largo.

Quando os cenários mostram isso, o Banco Central, pela atual política monetária, deve elevar os juros hoje para trazer a inflação para a meta num prazo menor, digamos 12 meses, que era a conversa inicial das autoridades monetárias.

Ficaria assim: em 2010 e 2011, a inflação rodaria na casa dos 6%, mas caindo forte no segundo semestre deste ano para chegar nos 4,5% em 2012.

Mas a Ata disse umas coisas e deixou de dizer outras, levando analistas a entender que o Banco Central está preparando o ambiente para suspender o ciclo de alta de juros nos atuais 12,5%. Sendo isso mesmo, o conjunto só fecha com a aceitação de inflação maior ao longo de todo o próximo ano e início de 2013.

Ficamos assim: em 2010, o BC parou de elevar juros para não atrapalhar a eleição de Dilma Rousseff e, assim, comprometeu os resultados daquele ano e de parte deste. Agora, o pretexto é não elevar juros para manter o crescimento perto dos 5%. O risco é indexar a inflação num nível perigoso e obter menos crescimento econômico.

Agora, no segundo semestre, ocorrem negociações salariais de categorias importantes e numerosas. O Banco Central alerta: aumentos acima da produtividade são inflacionários.

De fato, são, mas a medida da produtividade não é trivial. E como dizer aos trabalhadores que a inflação está elevada por um bom tempo, a economia veio bem, setores estão com lucros bons, mas os salários têm de ser regulados pela expectativa de inflação menor? Sobretudo quando se sabe que o salário mínimo vai subir 14% em janeiro.

Dinheiro do povo. A coluna da semana passada (Com o dinheiro do povo), sobre o uso de dinheiro público na Copa do Mundo e seus estádios, provocou respostas que me deixaram entre surpreendido e preocupado.

Alguns leitores aderiram totalmente à tese do "locupletemo-nos todos". Se tem roubalheira por toda parte, escreveram, se os políticos se aproveitam dos cargos, se o governo ajuda tantas empresas e bancos, por que não dar dinheiro para os estádios da Copa?

Leitores corintianos - alguns, é claro - foram ainda mais longe. Acham que seu time tem o direito de receber dinheiro público para a construção do estádio, por uma série de motivos: é um time popular, ou seja, representa parte do povo; sua torcida movimenta negócios; outros times ganharam presentes equivalentes; e, afinal, todo mundo mete a mão.

No que se refere ao debate proposto sobre a prioridade dos gastos públicos - vale a pena gastar em estádios, em vez de aplicar em hospitais e escolas? O estádio do Corinthians seria a melhor maneira de estimular o desenvolvimento da região de Itaquera? -, algumas respostas foram ainda mais desanimadoras. Alguns leitores simplesmente entenderam que, sendo o colunista um torcedor do São Paulo, estava simplesmente tentando torpedear o estádio do "rival".

Outros ainda disseram que havia uma conspiração carioca para levar o jogo de abertura para o Maracanã.

Digamos, com boa vontade, que há, aí, apenas o efeito negativo de paixões regionais e/ou por clubes. Mas é preocupante a frequência com que se repete o argumento pela "democratização" da roubalheira.

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