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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Da serie: frases absolutamente questionaveis...

Questionaveis, e corrigíveis, absolutamente:


“Pelo décimo ano consecutivo, a inflação vai fechar na meta”.

Tem gente que não sabe diferenciar meta de banda. Banda é banda, até de música, mas pode ser também um espaço que varia de 2 centímetros ou 2%, por exemplo, até uma banda de largura amazônica, com vários quilômetros, como a faixa de Gaza, por exemplo.

Meta é meta, ou seja, atirar no centro, no alvo, num ponto focal, fazer gol, atingir um resultado pré-determinado.

Se alguém confunde banda com meta, é porque deve ter algum neurônio avariado, ou vários...

Se o Brasil consegue fechar na meta, eu não sei, faz dez anos que ele não consegue: só estica para a banda, e gozado que é só a de cima, nunca a de baixo.
Quem paga a conta?
Você, caro leitor.
Todo o ano o governo encomenda uma inflação bonitinha, que tunga pelo menos 6% do seu poder de compra, e provavelmente é bem mais, tendo em conta que classe média consome mais serviços do que produtos, e os serviços são "non tradables", como se diz, ou seja, não podem ser importados e portanto tem menos concorrência, e acabam aumentando mais (escolas, transporte, advogado, dentista, médico, restaurantes, etc.).
Se não fosse assim, o governo encomendaria uma meta mais baixa, certo?
Os 4,5% de inflação, com uma banda larga como a de cinturão de lutador de sumô, representam uma variação enorme em termos mundiais, raramente encontráveis em outros regimes de metas de inflação. Geralmente os governos procuram ficar entre 1,5 e 2,5%, apenas, o que é suportável, digamos, pois os ganhos de produtividade também se distribuem por essa faixa, anualmente.
Quem encomenda inflação maior, é porque gosta de inflação, segundo a velha receita furtadiana -- e antipobre -- que diz que é melhor mais inflação e mais crescimento, do que menos inflação e recessão e desemprego. Se trata, obviamente, de uma falácia, só aceitáveis para keynesianos de botequim, como os nossos, que ainda confundem economia com receita de bolo.

Bem, acho que alguém precisa ensinar a certas pessoas a diferença entre meta e banda...
Paulo Roberto de Almeida 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Brasil, primeiro em Banda Larga: campeão...

...ops, enganei-me no título: ele é, na verdade, campeão em custos, em preços escorchantes, em roubalheira oficializada, em carteis organizados, em extorsão dos consumidores indefesos, em conivência de um governo inepto com a não competitividade das empresas brasileiras, enfim (enfins, como diria uma professorinha freireana da UnB), totalmente devotado apenas a esfolar os contribuintes...
Paulo Roberto de Almeida 
Custo da banda larga barra inovação no País
Valor Econômico, 20/10/2011

Divulgada pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), a nova edição do Relatório da Economia da Informação aponta que o Brasil tem a oferta de banda larga móvel mais cara do mundo.
A adoção de tecnologias da informação e comunicação (TIC) é uma realidade para grande parte das companhias brasileiras. A aplicação desses recursos no desenvolvimento de inovações para os negócios, no entanto, ainda é modesta, especialmente entre as pequenas e médias empresas (PMEs). Os fatores que explicam esse contexto são claros: o custo e a qualidade da infraestrutura tecnológica no País.

Divulgada ontem (19) pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), a nova edição do Relatório da Economia da Informação aponta que o Brasil tem a oferta de banda larga móvel mais cara do mundo. Abrangendo mais de 60 países, o estudo avalia o uso das TICs no setor privado em mercados desenvolvidos e economias emergentes.

De acordo com a pesquisa, o pacote de banda larga móvel no Brasil tem um custo de US$ 51,27. A tarifa é bem superior mesmo quando comparada com países menos desenvolvidos. No Sri Lanka e no Vietnã, por exemplo, as cifras são de US$ 4,34 e US$ 6,34, respectivamente.

"Desde 2009, houve uma redução de 17% nos preços de pacotes de dados de telefonia celular no Brasil. Ainda assim, estamos longe de um valor acessível, especialmente para os pequenos empresários", diz Carlos Afonso, membro do Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI), entidade responsável pela elaboração e divulgação do estudo no País.

Ao mesmo tempo, o custo elevado não se traduz na oferta de serviços mais qualificados. Enquanto no Brasil a média de velocidade disponível é de 1 Mbps, esse índice é de 7,2 Mbps em países como Quênia, Sri Lanka e Turquia. "As operadoras vivem batendo na tecla de que é preciso cortar impostos relativos ao setor no Brasil, mas mesmo sem essas taxas, o preço continuaria absurdo", diz Afonso. "Hoje, só 5% dos usuários adotam planos de internet móvel. O serviço é só para os ricos", completa Juliano Cappi, também do CGI.

Como reflexo, Alexandre Barbosa, membro do CGI, destaca que o uso da TIC pelas empresas brasileiras ainda se restringe em grande parte a aplicações básicas, como enviar e receber e-mails. "Por conta dessa infraestrutura precária e cara, fica muito claro que as companhias brecam investimentos em aplicações mais inovadoras na internet, como a realização de transações eletrônicas e a oferta de serviços on-line aos seus consumidores", explica.

O relatório da Unctad ressaltou os efeitos do uso da TIC no desempenho das empresas de países em desenvolvimento. Os ganhos em termos de vendas foram 3,4% maiores entre as companhias que investem em tecnologia. Em outra frente, essas empresas registraram uma rentabilidade 5,1% superior à de companhias que não apostam nessa direção.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Voce compraria acoes de uma empresa estatal pouco transparente?

Talvez sim, pelo menos por certo tempo.
Afinal de contas, o governo já fez as ações dessa companhia se valorizarem mais de 3 mil por cento, por manobras de certos "espertos" (ou bandidos) interessados justamente nisso.
Mas, você confiaria na palavra desse presidente de companhia que disse que vai apresentar lucros em apenas dois anos de funcionamento, subsidiando conexões baratas para o povinho miudo?
Talvez, pois o governo, mais uma vez, está colocando mais de 3 bilhões de reais na companhia, ou seja, o seu, o meu, o nosso dinheiro. Fica fácil, assim, fazer caridade com o dinheiro alheio, como sempre acontece.
Em todo caso, acredito que o governo poderia tratar do que é verdadeiramente estratégico: colocar crianças em escolas de boa qualidade o dia inteiro.
Oferecer conexões de internet, isso o setor privado pode fazer e o setor privado não vai fazer escolas primárias de boa qualidade, funcionando o dia inteiro...
Acho que falta foco, e faltam prioridades a esse governo.
Não esperem a educação melhorar de qualidade pelo futuro previsível: os analfabetos vão poder continuar escrevendo errado em alta velocidade...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 7 de maio de 2010)

Sem subsídios, estatal vai ter lucro a partir de 2013, prevê novo presidente
Valor Econômico, São Paulo, 7 de Maio de 2010

De Brasília, 06/05/2010 -- O maior entusiasta da restauração da Telebrás ao longo das discussões do Plano Nacional de Banda Larga, Rogério Santanna, será seu novo presidente. Segundo ele, nos moldes do plano apresentado ontem, a partir de 2013 a Telebrás começará a apresentar lucro e, daqui a dez anos, apresentará um Ebitda (receita operacional líquida) de 51%. "Não será uma empresa subsidiada, que vai onerar os cofres públicos", diz Santanna. "Será uma empresa eficiente, que focará mais em inteligência do que na operação de serviços."

O fato relevante divulgado na terça-feira pela Telebrás indicava que a empresa poderá oferecer serviços de acesso onde a oferta não for considerada adequada, o que significa baixa atratividade econômica para empresas privadas. Para Santanna, porém, no resultado final, haverá bom lucro.
Foto Destaque

Ontem, a ação PN da empresa subiu 19,5% com a notícia da sua retomada como protagonista do PNBL. Nas contas do assessor especial da Presidência, César Alvarez, a Telebrás terá receita de R$ 5,7 bilhões daqui a dez anos.

Para ter fôlego para esta missão, a estatal - que perdeu qualquer atividade operacional com a privatização do setor em 1998 -, será capitalizada em R$ 3,22 bilhões. Santanna destaca, porém, que essa operação não precisa ocorrer no curto prazo, porque, para atingir as metas definidas para 2010, os cerca de R$ 280 milhões que a empresa tem em caixa seriam suficientes.

"O investimento (capitalização) será do Tesouro Nacional, mas os acionistas minoritários poderão acompanhar", diz Santanna. Para ele, está descartada a possibilidade de a Telebrás fechar o capital. "Isso nos obriga a ter bons critérios de governança corporativa e transparência." Além de operar a rede de 30,5 mil km de fibras ópticas que o governo quer ter até 2014, a Telebrás terá garantia de fornecimento de serviços a órgãos públicos federais, como a Receita Federal e a Previdência Social, sem necessidade de licitação.

Santanna é atualmente secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento. Ele substituirá Jorge da Motta e Silva, que foi indicado à presidência da Telebrás pelo ex-ministro das Comunicações Eunício Oliveira, hoje deputado federal do PMDB do Ceará.

Para Santanna, em cerca de dois meses a empresa poderá ser reativada. Hoje, a Telebrás tem 226 funcionários, dos quais mais da metade está alocada na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em 2020, o governo prevê que a empresa chegará a ter 400 funcionários. (DF)

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Addendum:
O governo é um especulador (como eu sempre desconfiei). (PRA)

O especulador
Miriam Leitão
O Globo - 06/05/2010

Durante mais de dois anos o governo soltou balões de ensaio, fez declarações, desmentidos, informações contraditórias sobre Telebrás, apesar de ser uma empresa com ações em bolsa. O resultado foi o que se viu: as especulações produziram uma violenta volatilidade, uma alta espetacular das ações. Altas e quedas produziram ganhos aos mais espertos.

A notícia que saiu aos pedaços foi confirmada: a Telebrás será a gestora do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). A forma correta de fazer isso era o governo decidir primeiro e anunciar depois. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deveria ter visto isso.

Manipular o mercado dessa forma é crime.

O governo Lula nada fez em matéria de telecomunicação.

Tudo o que aconteceu foi decorrente da privatização.

A telefonia estatal tinha 20 milhões de clientes dos serviços de telecomunicações. Agora, 12 anos depois, são 235 milhões. O número é maior do que a população porque alguns são consumidores de diversos produtos.

As empresas, como disseram ontem em nota, investiram R$ 180 bilhões nestes 12 anos. Nada disso seria possível se o setor permanecesse estatal.

O governo Lula não conseguiu sequer usar o fundo criado na venda das empresas, o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, que tem hoje R$ 10 bilhões depositado lá pelas empresas do setor. Esse fundo era exatamente para ampliar serviços como a banda larga.

Depois de sete anos sem fazer coisa alguma, o governo Lula, a sete meses do seu fim, lança um plano para investir R$ 13 bilhões em cinco anos e reintroduzir o Estado no setor. E o faz com óbvias fanfarras eleitoreiras.

Não há dúvida que o serviço de banda larga tem que ser ampliado, mas para isso o governo tem recursos dos fundos setoriais (Fust e Funtel) e muito a fazer. Há oito anos, a Anatel não oferece uma licença de TV a cabo. A última oferta de novas frequências (espectro radioelétrico) para utilização de serviços sem fio foi feita no final de 2008. Os serviços de telecomunicações pagam mais impostos que perfumes, bebidas e armas. Só para usar um exemplo: no modem de internet móvel há 75% de impostos.

O ex-ministro das comunicações Juarez Quadros não tem dúvidas que é preciso ampliar os serviços de banda larga no Brasil, mas acha que o governo reativar uma empresa em processo de liquidação é o caminho errado.

— Uma estatal depende de procedimentos burocráticos, como restabelecimento de um quadro de pessoal, aprovação da proposta do Executivo pelo Legislativo.

Tem amarras para investir — diz ele.

A Telebrás quando funcionava era uma holding de prestadores de serviço, ela em si não prestava serviço ao público. A própria lei que criou a estatal tem que ser mudada. Isso sem falar na Lei Geral de Telecomunicações, que definiu os participantes do mercado.

O economista William Alves, da XP Investimentos, explica que a Telebrás era uma massa falida, com patrimônio líquido negativo de R$ 400 milhões. Ou seja, possuía dívidas maiores do que o valor da própria empresa.

Se ela fosse vendida, ainda assim não haveria dinheiro para pagar tudo. Os prejuízos trimestrais eram constantes, com pagamentos de passivos trabalhistas, pensões e aposentadorias.

Como mostra o gráfico abaixo, até o final de 2007 as ações da Telebrás negociadas em bolsas não tinham valorização, ficavam encostadas com preço baixo. Mas após as primeiras declarações do então ministro Helio Costa e do presidente Lula, de que queria usar a empresa no PNBL, teve início a especulação: — Quem comprou esse papel não foi o investidor, mas o especulador. Esse é um papel totalmente especulativo porque não é possível projetar nada sobre a empresa, até porque ela não oferece mais nenhum tipo de serviço, é apenas uma massa falida.

Não gera receita, apenas despesa. Tudo essa alta aconteceu em função das declarações do governo — explicou William.

Somente este ano, as ações subiram mais de 160%. Ontem, após o anúncio oficial do Plano, as ações chegaram a subir mais de 40%, e o pregão teve que ser interrompido por conta da forte volatilidade.

Se quisesse ampliar e aumentar o acesso, o governo poderia retirar barreiras, regular, ampliar licenças e frequências, fazer desonerações para os serviços que considera prioritário ou faixas de renda, e usar os fundos para subsidiar a baixa renda. Poderia ter atuado na oferta e na demanda ao longo dos últimos sete anos, mas escolheu o caminho de injetar gás numa estatal falida e quebrando todas as regras de respeito ao mercado de capitais.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A caminho da Bandabras, ou Largobras, whatever...

Confirmando as piores expectativas daquela parte da cidadania que ainda pensa com a cabeça no lugar, o governo pretende criar, recriar, reativar (whatever) mais uma estatal, ele que já criou mais de 40 (talvez mais) nos últimos anos.
Supostamente, a nova companhia vai oferecer conexões a "preços módicos", ou seja, uma forma de fazer demagogia (sempre com o nosso dinheiro, claro).

Abaixo a matéria que confirma essas piores intenções, com este meu único comentário: vai custar caro, e vai pesar no seu bolso, caro contribuinte, mesmo que você não perceba e não se dê conta de nada, pois nesta terra de Vera Cruz (que era o seu nome, até ser descoberta pelo Nosso Guia) todos os impostos estão escondidos...

Telebrás confirma participação no Plano Nacional de Banda Larga
Do Portal G1, 5.05.2010:

A Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás) informou em comunicado nesta terça-feira (4) que “integrará o Programa Nacional de Banda Larga - PNBL”, de acordo com “decisão governamental, informada pelo Ministério das Comunicações”. Na prática, o anúncio significa a decisão do governo de reativar a estatal.
Ainda segundo o comunicado, a Telebrás ficará responsável por “implementar a rede privativa de comunicação da Administração Pública Federal; prestar apoio e suporte a políticas públicas de conexão à internet em banda larga para universidades, centros de pesquisa, escolas, hospitais, postos de atendimento, telecentros comunitários e outros pontos de interesse público; prover infraestrutura e redes de suporte a serviços de telecomunicações prestados por empresas privadas, Estados, Distrito Federal, Municípios e entidades sem fins lucrativos; e prestar serviço de conexão à internet em banda larga para usuários finais, apenas e tão somente em localidades onde inexista oferta adequada daqueles serviços”.

A ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, havia marcado para as 18 horas desta terça-feira uma reunião com outros ministros para discutir o PNBL. A expectativa é de que o plano seja oficialmente anunciado na quarta-feira (5) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Plano Nacional de Banda Larga está sendo discutido no governo desde meados do ano passado. No final de 2009, o presidente Lula solicitou estudos mais detalhados para avaliar quanto custaria ao governo montar uma estatal para atender também ao consumidor final, com o objetivo de baixar o preço da banda larga.

Estimativas da Casa Civil apontam para um custo total do projeto de até R$ 15 bilhões, entre recursos próprios de prestadoras e de financiamentos públicos. Mas o formato do programa ainda não foi definido.

Em novembro do ano passado, o Ministério das Comunicações apresentou um programa para ser executado pelas teles, com financiamento privado e público, através de desoneração tributária e uso de recursos de fundos setoriais retidos nos cofres do Tesouro.

A meta do PNBL é chegar a 2014 com 90 milhões de acessos à internet em alta velocidade.

No início de abril, a Oi apresentou ao governo um plano de expansão da banda larga no país em que a empresa ofereceria serviços de internet rápida a preços que podem variar de R$ 15 a R$ 35 - mesmos valores sugeridos pelo governo federal.

Dias depois, a Casa Civil se manifestou, dizendo que a Telebrás deveria ser a “espinha dorsal” do PNBL, enquanto empresas privadas de telefonia deveriam atuar de forma complementar.

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Quem quiser apostar comigo quanto ao cumprimento das metas do governo -- "A meta do PNBL é chegar a 2014 com 90 milhões de acessos à internet em alta velocidade" -- eu continuo colocando em jogo a minha coleção completa das obras do Lênin, uma oferta imperdível...

domingo, 2 de maio de 2010

Um exemplo, entre outros, de má concepcao de politicas setoriais do Governo

O governo Lula sempre teve pretensões de fazer grandes politicas setoriais: já deve estar na segunda, ou na terceira política setorial para a indústria, e o resultado até agora, a crer em vários economistas, tem sido... desindustrialização.
Curiosa vocação para políticas fracassadas tem esse governo.
Aliás, fracassadas apenas em parte, ou na parte essencial, que é entregar o que promete, supostamente mais bens e serviços a toda a população a preços módicos.
As polítics setoriais tem sido, na verdade, extremamente bem sucedidas em entregar aquilo que sempre se fez no Brasil: mais dinheiro a quem já é rico.
De fato, os capitalistas selecionados, a Avenida Paulista como diriam certos petistas, estão contentíssimos com as políticas setoriais do governo: juros subsidiados, crédito farto do BNDES, tarifas altas, proteção extensiva, facilidades fiscais, enfim, tudo aquilo que os industriais sempre reivindicam e recebem generosamente, desde que tenham amigos no Cerrado central, desses que concebem aplicam políticas setoriais para isso mesmo: transferir dinheiro do governo (ops, corrijo: o seu, o meu, o nosso dinheiro) a quem já é rico...
Por isso recomendo a leitura do artigo abaixo, apenas para mais uma demonstração de uma política setorial como sempre incompetente do governo: ele pretende entregar banda larga aos brasileiros a custo baixo, e para isso começa recriando uma estatal, a Telebrás. Já vimos esse filme antes, e ele termina mal.
Ele é o mesmo filme do computador a 100 dólares, que não existe e não vai custar cem dólares. Deve custar 300, isso se o governo der facilidades como as acima descritas aos industriais patriotas selecionadas para fornecer essa maravilha, alimentada com impostos de todos os brasileiros, mesmo os mais pobres, aqueles que nunca verão um computador na vida, nem a 100, nem a 200, nem a 300 dólares.
O governo é uma fraude, em suas políticas setoriais, e em várias outras.
Gostaria que me provassem o contrário, mas não encontro argumentos a favor.
O IPEA que já foi um instituto sério, de vez em quando produz um estudo razoável, como o abaixo indicado.
Mas o estudo poderia indicar claramente apenas três coisas. Para se ter banda larga barata no Brasil é preciso ter:
1) Impostos baixos sobre toda a cadeia, toda, equipamentos, serviços, etc.;
2) Concorrência, a mais brutal, desenfreada, selvagem, com competição livre de todos;
3) Desregulação total, com concessões abertas a todos que pretendessem explorar esses serviços, com fortalecimento da agência regulatória -- com verdadeira independência -- para exigir cobertura completa do território nos leilões de concessões, visando, como diz o estudo do IPEA, baixos preços, não arrecadação máxima.
Dito isto, volto a dizer: o governo é incompetente para políticas setoriais e só dá dinheiro a quem já é rico (ou amigo do governo)...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 3 de maio de 2010)

Lula precisa ler o documento do IPEA
Ethevaldo Siqueira
O Estado de S.Paulo, 30 de abril de 2010

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já confessou diversas vezes que não lê jornais, nem revistas, nem, muito menos, livros. Às vezes, assina, sem ler, decretos e mensagens ao Congresso. Mesmo assim, com pouquíssima esperança de ser atendido, gostaria de fazer-lhe um pedido público, na simples condição de cidadão brasileiro: “Presidente, faça um esforço extremo, abra uma exceção em sua vida e leia um texto de menos de 25 páginas, com gráficos e tabelas: o comunicado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que pode ser baixado no site www.ipea.gov.br e tem o título geral de Análise e Recomendações para as Políticas Públicas de Massificação de Acesso à Internet em Banda Larga”.

Vale a pena lembrar que o IPEA não é nenhum órgão de oposição, mas um instituto de prestígio, de grande competência técnica e independente, vinculado à Secretaria de Estudos Estratégicos (SAE), da Presidência da República. Nada mais lógico e natural, portanto, que o presidente da República lhe dê atenção especial, lendo esse texto excepcional divulgado na semana passada.

Se vier a ler o estudo, o presidente Lula talvez reaja com sua tradicional sutileza, dê um murro na mesa e mude totalmente os rumos, até aqui quase secretos, da elaboração do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e mande dois funcionários de segundo escalão (seu assessor especial, Cesar Alvarez, e o secretário de Logística do Ministério do Planejamento, Rogerio Santanna) fecharem o bico e pararem de soltar balões de ensaio políticos e ideológicos sobre a banda larga.

Por seu tratamento técnico, objetivo e independente, o estudo do IPEA mostra, sem distorções ideológicas e com objetividade, o problema da banda larga. E focaliza tudo que os porta-vozes petistas insistem em esconder ou negar.

Diagnóstico perfeito
O documento do IPEA é, de longe, o melhor diagnóstico da situação da banda larga no Brasil já feito pelo governo, nos últimos sete anos. Logo no início do texto, mostra o desequilíbrio e a baixa concentração da banda larga em diversos Estados brasileiros, lembrando que banda larga está presente em apenas 2.583 dos 5.565 municípios. Isso significa 46,6% do número total de municípios brasileiros, embora neles se concentrem mais 80% da população do País.

É claro que o estudo poderia ter aprofundado um pouco mais quatro questões básicas:

1) Por que a banda larga é escassa e mal distribuída no País?
2) Por que ela se concentra apenas nas regiões mais ricas e mais populosas?
3) Por que ela é tão cara?
4) A quem caberia há muito mais tempo o dever e a responsabilidade de formular uma política nacional de banda larga?

A primeira resposta, a rigor, está nas entrelinhas do estudo, ao sugerir que o País nunca teve uma política pública de massificação e universalização da banda larga, por omissão do próprio governo federal, ao qual caberia a elaboração dessas diretrizes. Por outras palavras, o PNBL, hoje em elaboração secreta, é a primeira política pública sobre banda larga a ser formulada no País. É claro que, há 8 ou 10 anos, no governo FHC, o Brasil ainda não tinha ideia clara sobre a importância da banda larga.

O documento reconhece que o Brasil precisa de uma nova legislação de Comunicações, pois a atual está, em sua maior parte, obsoleta. Mesmo a Lei Geral de Telecomunicações (LGT), de 1997, já está desatualizada em muitos aspectos. Na verdade, o governo Lula praticamente ignorou todos os grandes problemas das Comunicações, de 2003 até 2009. Só descobriu este ano, por razões eleitorais.

Segunda resposta: a banda larga se concentra principalmente nas grandes cidades e regiões mais ricas porque as concessionárias e operadoras autorizadas não têm qualquer obrigação legal de levá-la a todo o País, como no caso da telefonia fixa, já que seus contratos de concessão não impõem essa universalização. Assim se comporta qualquer empresa privada no mundo: só atende às áreas mais rentáveis. Aliás, como fazia a Telebrás, até 1998, mesmo sendo estatal.

A terceira resposta está explícita no documento, embora sem aprofundar a análise das causas do encarecimento da banda larga, ao relacionar os “três os fatores que contribuem para o alto preço do serviço: baixo nível de competição, elevada carga tributária e baixa renda da população”.

Sobre o tema, o documento ainda observa que, embora o governo federal tenha diversos projetos de inclusão digital, “a alta carga tributária incidente sobre os serviços de telecomunicações tem sido uma fonte de receita para o Tesouro, o que vai contra a política de massificação”. E complementa: “Um exemplo são os leilões de freqüência, que sempre privilegiaram a arrecadação”. No entanto, lembra que, em vários países bem sucedidos na inclusão digital, “a busca de preços mais baixos ao consumidor foi uma alternativa bem sucedida – diferente da mera busca de receita orçamentária – que norteou leilões.”

Fúria arrecadatória
Embora o IPEA não analise o comportamento do governo diante do setor de telecomunicações, é bom lembrar que, desde o governo FHC já vigorava uma espécie de fúria arrecadatória, que se tornou ainda mais voraz no governo Lula, tanto da União quanto dos Estados.

Com o crescimento da rede telefônica, passando de 24,5 milhões de telefones (fixos e móveis) em 1998 para os 224 milhões atuais, o volume total de impostos arrecadados sobre serviços de telecomunicações passou de pouco menos de R$ 10 bilhões/ano para R$ 43 bilhões em 2009.

E o governo federal ainda confisca os recursos dos fundos setoriais. O Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) já acumulou cerca de R$ 10 bilhões de recursos recolhidos ao Tesouro Nacional desde sua criação no ano 2000 até hoje, sem aplicar nada na finalidade essencial para a qual foi criado (universalização das telecomunicações). O excesso de arrecadação do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL) tem sido sistematicamente absorvido pelo Tesouro, pois de um total de R$ 3 bilhões este ano, apenas R$ 450 milhões serão destinados ao orçamento da Anatel. O resto é pura e simplesmente confiscado.

Depois de apropriar-se de mais de R$ 30 bilhões de recursos dos fundos setoriais, ao longo de sete anos, o governo Lula vai trombetear e festejar a destinação recentemente anunciada de R$ 6 bilhões para a banda larga no País, para o período 2010-2013.

Exemplo mundial
O estudo faz excelente análise das políticas públicas e estratégias de banda larga de diversos países, mostrando, por exemplo, que “políticas de livre acesso (open access), em particular a desagregação de redes (unbundling)”, facilitam enormemente a entrada de competidores, o que aumenta o investimento, melhora as velocidades, induz o progresso tecnológico, reduz preços ou propicia inovações de serviços.

O documento ressalta ainda que é muito importante fortalecer a agência setorial, visto que “um regulador comprometido em aplicar políticas de livre acesso é mais importante do que a adoção formal da política”.

Sugestões
O estudo, então, sugere que a banda larga seja designada como serviço a ser prestado no regime público e, portanto, sujeito a metas de universalização compulsórias. Essa designação é outra omissão do governo Lula, que só veio a tomar a iniciativa neste oitavo ano de administração, por razões eleitorais.

E, por fim, a sugestão óbvia de se utilizar na banda larga “os vultosos recursos do Fundo Nacional de Universalização das Telecomunicações (FUST)” – que tem sido, até aqui, pura e simplesmente surrupiado, como fonte de superávit primário.

Quem lê e reflete sobre o conteúdo do documento do IPEA percebe de forma bem clara a diferença entre um trabalho feito por profissionais, especialistas, equilibrados e independentes, em contraposição à forma demagógica e antidemocrática com que um grupo encastelado no poder está conduzindo a elaboração do Plano Nacional de Banda Larga – tema da maior importância para o futuro do País.

Por que não partir para um grande debate nacional, com a sociedade, com os maiores especialistas, com o Congresso e com a mídia?

Volto ao apelo do início deste artigo: Presidente Lula, leia o estudo do IPEA e compare o estilo do documento, sua objetividade e profissionalismo, com o açodamento daqueles que tentam a qualquer custo acelerar o aparelhamento do Estado, a pretexto de ampliar a inclusão digital no Brasil.

Só não vê quem não quer.

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Termino o comentário que havia começado inicialmente (PRA):

Lula não vai ler nada, porque nunca lê nada. Ele vai aprovar o plano dos companheiros que prevê recriação da estatal para anunciar que vai fornecer, demagogicamente (em ano eleitoral), banda larga para os "pobres", não vai oferecer nada, e a burocracia e os amigos do poder vão comer mais um pouco do dinheiro público, que aliás é nosso.
Quem quer apostar comigo que é isso que vai ocorrer?
Paulo Roberto de Almeida