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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O FMI como bode expiatorio de politicas equivocadas - Paulo Roberto de Almeida (2002)

O FMI como bode expiatório de políticas equivocadas

Paulo Roberto de Almeida (2002)

A proposito do comentário do prof. Walter Antonio Bazzo ao artigo semanal do secretario geral da Unctad (Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento), Rubens Ricupero, eu teria a corrigir um equívoco comum em muitos observadores brasileiros, que tendem a considerar o problema argentino como decorrente de politicas “impostas pelo FMI”.
O prof. Bazzo fala igualmente das “algemas impostas pelo FMI”, quando o que causou o problema argentino foram algemas auto-impostas pelos próprios argentinos, como foi o regime de conversibilidade e de paridade fixa, adotado em 1991.
Como ele não deveria desconhecer, o sistema de cambio estável, criado em Bretton Woods, veio a termo entre 1971 e 1973, quando o FMI sancionou o regime de flutuação. Desde então o regime “normal” de câmbio é a flutuação, sendo este o sistema adotado por provavelmente 95 por cento dos 190 membros do FMI. 
Vários países membros adotam, é verdade, um sistema de flutuação suja, isto é, com intervenções pontuais das autoridades monetárias em caso de desajustes cambiais percebidos como erráticos, mas não resta duvida que a flutuação cambial é percebida como o regime “normal” pelo FMI. 
O professor não deveria desconhecer, tampouco, que uma das primeiras recomendações do FMI, quando se negocia um programa de ajuste e um acordo stand-by, é justamente a desvalorização cambial, supostamente necessária para corrigir desequilíbrios externos e adequar a economia do país em questão a novos patamares de competitividade. 
Noventa e nove por cento dos economistas recomendam a mesma solução, como não deixaram de reclamar dezenas de economistas durante a fase de desvalorização do real.
A Argentina adotou o câmbio fixo por sua própria conta e risco, e não sob recomendação ou imposição do FMI, e teimou em manter esse regime a despeito de pressões do FMI pela desvalorização, algo que também ocorreu na negociação do pacote brasileiro de 1998.
Como então acusar o FMI de impor uma tal política? Só pode ser a necessidade de um bode expiatório, pois é mais fácil acusar alguma entidade externa por nossas próprias mazelas (sobretudo em se tratando do FMI), do que reconhecer as deficiências de política econômica das autoridades nacionais.

Publicada na edição de 11 de janeiro de 2002, do Jornal da Ciência, JC E-Mail, nº 1951, “17. Diplomata brasileiro comenta observações de leitor sobre o artigo de Rubens Ricupero” 

“Mensagem de Paulo Roberto de Almeida, diplomata e professor, ministro-conselheiro da Embaixada do Brasil em Washington, EUA (site: www.pralmeida.org)”

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Indice Big Mac: Real continua valorizado em relaçao ao dolar - The Economist

The Big Mac index
A basket of sliders
Our flame-grilled guide to currencies suggests the dollar is getting dearer
The Economist, Jul 26th 2014 | From the print edition/The Economist 
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COUNTRIES with McDonald’s fast-food restaurants may only rarely become embroiled in military conflict (Russia and Ukraine are obvious exceptions at the moment), but currency wars are another matter. In recent years central banks in many rich economies fired up big bond-buying schemes to put some sizzle into economies that had only recently emerged from a deep freeze. Emerging-market governments complained that the capital that flowed their way as a result was hard to digest. Meanwhile Americans griped that China was serving up an undercooked yuan. Burgernomics provides one way to keep track of the food fight.
Our Big Mac index is based on the theory of purchasing-power parity. It says that in the long run exchange rates ought to adjust so that a basket of goods and services costs the same across countries. Our basket contains just one item, a Big Mac (except in India, where we substitute the Maharaja Mac, a chicken sandwich). Since a Big Mac costs 48 kroner ($7.76) in Norway and only $4.80 in America, the kroner is overvalued by 62% according to this lighthearted, protein-rich analysis, making it the most puffed-up currency in the index. The same burger costs just $1.63 in Ukraine, by contrast, making the hryvnia the feeblest currency of the bunch.
The latest dispatch from the world of burgernomics suggests that despite the Federal Reserve’s best efforts, the dollar has been fattening up. The average valuation of the currencies in our index (weighted by GDP) has moved from roughly neutral in 2009 to about 15% undervalued against the dollar this year. Crises of various sorts are partly to blame. Political turmoil is depressing the hryvnia. And quite a lot of the dollar’s relative appreciation can be linked to the woes of the euro area.
Flailing French firms may fret about the “crazy euro” but there is little to justify their beef; the euro is near fair value now, down from overvaluation of as much as 50% in 2008. Nordic currencies that looked wildly overvalued by our greasy metric fell closer to fair value during the worst years of the euro crisis—to the relief of Swedish and Danish exporters. Despite its recent rise sterling also remains below its hearty level of six years ago, and is now close to fair value.
Some central banks have helped their currencies slim down. The Swiss franc’s decline is thanks in part to the Swiss National Bank. It put a styrofoam lid on the franc’s value when capital began flowing in from panicked European investors, lest the rising cost of Swiss exports abroad drive Switzerland into recession. The Bank of Japan has also taken a bite out of the yen’s value. Its generous portion of quantitative easing has helped push the currency down from close to fair value to 24% below it.
The Chinese yuan, once the most undercooked currency in the index, is now only the 12th-most-undervalued, thanks to slow but steady appreciation in recent years. Yet because China’s economy has grown so quickly, it has piled on weight in the index, helping to push the average undervaluation even lower.
It is not on the whole surprising that currencies globally are looking a bit less supersized. A healthier American economy and reduced asset purchases by the Federal Reserve are a recipe for a stronger dollar. But American firms need to maintain their competitiveness. History suggests that even when Fed tightening is well done, it is rare that global credit conditions shift without a little scorching.

sábado, 1 de junho de 2013

O Brasil a caminho de uma crise cambial - Celso Ming

Flutua, mas nem tanto

Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 01 de junho de 2013

Quem tomou ao pé da letra as últimas declarações do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central de que o câmbio voltou a ser flutuante deve estar decepcionado.
Ontem pela manhã, quando a cotação atingira R$ 2,147, o Banco Central interveio. Anunciou um leilão de venda no mercado futuro (swap cambial). E foi o que ainda limitou o fechamento à alta de apenas 1,75%. (Ao lado, os rastros das cotações do dólar no câmbio interno.)
Aí há dois pontos de análise: as causas da disparada e o resultado prático.
Tudo começou dia 22, quando Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) preparou os espíritos para uma virada de sua política monetária.
Hoje, o Fed despeja US$ 85 bilhões na compra de títulos no mercado financeiro. A operação conhecida como afrouxamento quantitativo (quantitative easing) objetiva criar condições para a retomada da atividade econômica dos Estados Unidos, prostrada pela crise. Desacelerar ou suspender (ainda não está claro) a operação implica emissão de menos dólares do que o esperado e, portanto, valorização em relação às outras moedas. Foi a principal razão pela qual o dólar ganhou força nos mercados e, com ele, reduziram-se as cotações das mercadorias negociadas na moeda, sobretudo commodities e ouro (veja o Confira).
O movimento coincidiu com a percepção mais forte de deterioração da economia brasileira: mais inflação, crescimento decepcionante do PIB no primeiro trimestre e, fator relativamente novo, aumento do rombo das contas externas. Esse último está caracterizado pelo avanço do déficit em Conta Corrente, onde são contabilizadas entradas e saídas de moeda estrangeira no comércio de mercadorias e serviços e nas transferências ao/do exterior. É o melhor indicador para avaliar necessidades futuras de moeda estrangeira. Em quatro meses, o rombo saiu de 2,4% para 3,0% do PIB.
Isso não é tudo. A ênfase do ministro Guido Mantega e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de que não interviriam mais no câmbio havia sido entendida como aviso de que o governo tem especial interesse na desvalorização do real, com o objetivo aparente de melhorar a competitividade do setor produtivo, principalmente da indústria.
A atitude de Mantega e de Tombini não foi dizer que "câmbio é assunto sobre o qual as autoridades não falam". Nem foi reafirmar que, no Brasil, continua em vigor o regime de "flutuação suja". Foi garantir que não haveria intervenção, a não ser para evitar excessiva volatilidade dos fluxos (entrada e saída de dólares), o que não aconteceu.
Independentemente do que dizem as autoridades, o leilão de ontem mostra que há limites para a desvalorização do real. Elas não olham só para a premência de garantir competitividade à indústria. Temem que uma disparada cambial turbine a inflação e ponha muito a perder.
Qual é o limite? Provavelmente, nem elas sabem. Mas já dá para avaliar que, se persistir, apenas a alta de maio pode ser suficiente par a puxar em 0,4 ponto porcentual a inflação dos próximos meses.
O governo parece desnorteado com a piora dos fundamentos da economia.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Politica economica no Brasil: o desmantelamento do tripe estabelecido em 1999

O Brasil tem uma longa trajetória de luta pela estabilização de sua economia, uma história pouco exemplar que passa por seis moedas, REPITO: SEIS MOEDAS, no último meio século ou pouco mais.
Poucos países tiveram ritmos de inflação que se medem em números astronômicos, ou geológicos: bilhões, no caso do Brasil mais exatamente quatrilhões, ou zilhões de % de aumento de custo de vida, e corte de não sei quantos zeros desde a substituição do mil-réis pelo cruzeiro.
Chegamos, finalmente, com o Plano Real a uma estabilização ainda precária, pois que o presidente de então não quis assumir o ônus de um forte ajuste fiscal, e assim tivemos que basear o plano numa ancoragem cambial (sempre precária e perigosa), num forte aumento de juros e num ainda mais vigoroso aumento de impostos.
Pois bem, isso veio a termo nos desequilíbrios acumulados ao longo da segunda metade dos anos 1990, considerando-se ainda a forte contração financeira externa com as crises financeiras iniciando-se pelo México, prolongando-se nas turbulências asiáticas e culminando na moratória russa. 
A solução foi adotar um novo modelo de estabilização, não mais baseado na ancoragem cambial, mas na flutuação cambial (1999), nas metas de inflação (1999) e na responsabilidade fiscal (LRF, de 2000), com a continuidade do ajuste iniciado em 1998 com a cooperação do FMI e a realização de superavits fiscais compatíveis com o controle do endividamento público.


Tudo isso ameaça desmoronar agora, com a continuidade da gastança pública, absolutamente irresponsável, e os ataques ao regime cambial em vigor e o total desprezo pelo controle inflacionário. Os responsáveis econômicos não se sentem constrangidos em jogar o ônus nas costas do povo brasileiro, e parece que vão perseverar nesse caminho.
Recebo o seguinte comentário a propósito de minha postagem sobre a redução da taxa de juros pelo Copom-BC (mais abaixo): 


Bom dia Paulo! O BACEN já descartou o sistema de metas de inflação. A cada dia fica mais óbvio que tal sistema inexiste no país. Ainda nesta semana, o BACEN atuou fortemente no mercado cambial. A atuação do BACEN deixou evidente seu propósito: desvalorizar o real. Isto é, o BACEN também está tentando bicar para escanteio a taxa de câmbio flutuante. Isto é, dos três pilares macroeconômicos que sustentaram a economia brasileira nos últimos 10 anos (taxa de câmbio flutuante, sistema de metas de inflação, e responsabilidade fiscal), o BACEN está prestes a destruir dois deles. Do lado fiscal, o governo tem feito sua parte para desequilibrar ainda mais a situação das contas públicas. Em resumo: em menos de 1 ano e meio o governo Dilma já descartou a fórmula que garantiu a precária estabilidade brasileira nos últimos anos. A taxa Selic alta atrai investidores, diminuindo este fluxo, como o governo vai financiar o pagamento (só de juros 250 bi $) da divida publica? Ou empréstimo ou em Brasil chega aos juros "normais" do capitalismo: demorou...


Pois é, parece que tudo vai para o brejo.
Depois não poderão dizer que não foram avisados...
Paulo Roberto de Almeida