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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 28 de outubro de 2017

Mini-reflexao sobre o atual quadro politico e as perspectivas eleitorais - Paulo Roberto de Almeida


Mini-reflexão sobre o atual quadro político e as perspectivas eleitorais

Paulo Roberto de Almeida
 [Visão do atual ambiente político; preparação para 2018]

No que estou pensando atualmente? Simples, e complicado, ao mesmo tempo.
Em quão medíocre, patético e deprimente é o quadro atual de nossas instituições supostamente republicanas, e nisso eu coloco não apenas as instituições formais do Estado, os três poderes, mas também os atores sociais que deveriam guiar a nação, em primeiro lugar as ditas elites do poder (do dinheiro e da representação).
Creio que, como parte dessa fração à qual eu chamo de “cidadania consciente e ativa” (pelo menos no Facebook), o único sentimento atual que nos é habilitado é, de certa forma, o sentimento de impotência, ante tanta corrupção, desfaçatez, mentiras e falcatruas que nos são exibidas todos os dias pelos meios de comunicação, e à quais não sabemos responder adequadamente. Já passou a fase das grandes manifestações contra o poder inepto, corrupto, criminoso dos que estavam no poder – tanto o partido neobolchevique, cujo chefão mafioso ainda está solto, quanto o líder de um dos poderes atualmente na cadeia – e agora estamos aguardando um pouco passivamente e quase sem esperanças as próximas eleições. Já não confiamos em que esse Congresso que está aí, o atual Executivo, e mesmo a corte dita suprema, que não merece esse nome, possam ser capazes de nos oferecer um ambiente saudável para as eleições de 2018.
Por isso, mesmo sendo injusto com os poucos líderes políticos honestos atualmente no Congresso, creio que nossa palavra de ordem deve ser: RENOVAR TUDO, COMPLETAMENTE. Não deveríamos reeleger NENHUM dos atuais incumbentes, mandatários ou representantes, pois coniventes ou não com o atual quadro lamentável de degradação do ambiente político, todos são responsáveis pela NÃO REFORMA, e pior do que isso, pela tentativa de asfixiar a luta contra a corrupção e pelas manobras de perpetuação, continuidade, manutenção do quadro pavoroso que se nos apresenta na frente política.
Por isso, renovo meu slogan: TODOS PARA FORA! NÃO REELEJAM NINGUÉM!
De minha parte pretendo seguir atentamente o processo político em curso, mas sem qualquer ilusão de que em 2019 possamos estar muito melhores do que atualmente.
Começo a seguir a dinâmica política, e para isso faço o retrospecto do que já produzi até aqui em matéria de seguimento das principais eleições desde a redemocratização, neste trabalho da plataforma Academia.edu, na seção “Papers”, link: http://www.academia.edu/34983679/Preparando_o_acompanhamento_da_campanha_presidencial_de_2018.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de outubro de 2017

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Uma parenteses explicativo sobre o excesso de politicagens no blog

Faço uma interrupção nos posts apenas para prestar contas sobre algo que a mim também incomoda.
O excesso de posts, de informações ou análises, de matérias de opinião sobre temas políticos, mais exatamente eleitorais.
Confesso não gostar disso, ou melhor, pelo menos não aqui, neste blog, que deveria estar voltado essencialmente, embora não exclusivamente, para temas de relações internacionais e de política externa do Brasil.
Os seguidores que se inscreveram para ler os posts, os leitores eventuais ou habituais podem estar incomodados com essa excessiva concentração de posts em temas meramente conjunturais, no mais das vezes sequer edificantes, e talvez mesmo vergonhosos.

Ao desculpar-me pelo fato, arrisco uma explicação.
Gosto de ocupar-me de assuntos de inteligência, como dá para perceber: livros, informações, análises, reflexões sobre meus temas preferidos, que são os de economia, desenvolvimento, cultura, politica internacional, história, diplomacia, enfim, aquilo que os franceses chamariam de haute culture.
Nisso não vai nenhum elitismo, e se houver, não me incomoda o mínimo: considero altamente desejável, e admirável, as pessoas buscarem a maior cultura possível, a maior compreensão alcançável sobre as coisas do mundo e da mente. Como se diz em latim, numa expressão que termina por um palavrão em português: nada do que é humano me é estranho.
Assim, me interesso por tudo, e leio um pouco de tudo, geralmente livros de estudo, um pouco menos de romances -- o que lamento, sinceramente -- por absoluta falta de tempo e concentração naquelas áreas mencionadas.
Este blog, obviamente, procura apresentar uma pequena seleção de meus temas preferidos -- e tenho outros para outras matérias, livros, eleições, etc -- com ênfase nas relações internacionais e na política externa do Brasil, por gosto e por deformação de ofício, digamos assim.

Mas também tenho os meus dislikes.
Por exemplo, tenho alergia à burrice.
Atenção: não confundir com ignorância. "Respeito", humildemente (se é o caso de dizer), a "incultura" dos menos afortunados, daqueles que não tiveram chance na vida de se educar corretamente e que permanecem ignorantes, por falta de condições objetivas, ainda que eu acredite que qualquer ser humano pode fazer um esforço próprio para se instruir, se tiver consciência, claro, do valor do conhecimento para sua elevação material (e até espiritual). Mas não é desses indivíduos que estou falando.
Eu me refiro àqueles que, tendo condições e possibilidade de se instruir, ou de pelo menos de se informar por meios próprios, de buscar dados sobre as coisas que o cercam, de pelos menos abrir um jornal ou de ver um programa noticioso na TV ou ouvir informações no rádio, enfim, pessoas que escolhem voluntariamente permanecer ignorantes, por preguiça, por desinteresse, por simples insistência na desinformação (que salta virtualmente na face de qualquer um hoje em dia), por recusa de melhorar sua capacidade cognitiva, ou por simples acomodação na incultura. Esses eu encontro por vezes, aqui e ali, e me surpreendo como certas pessoas até bem vestidas, dotadas (aparentemente) de uma educação formal que pode ter ido até o terceiro nível, podem ser tão desinformadas e voluntariamente alheias às realidades do Brasil e do mundo. Esse eu reputo burros, e reputo que se trata de uma estupidez voluntariamente assumida. Tenho alergia, portanto, desse tipo de burrice ou de incultura (porque escolhida).

Também tenho horror à mentira, à fraude deliberada, à desonestidade intelectual, que são todos reflexo e resultado de um mesmo traço fundamental em certos indivíduos: a falta de caráter.

Infelizmente, todos esses traços são facilmente encontráveis no Brasil atualmente, e até em esferas onde não esperávamos encontrar esse tipo de "defeito", digamos assim.

Creio que estou chocado por encontrar tudo isso em doses altamente concentradas nos últimos tempos.
Essa é a razão de por que tenho me desviado de meus assuntos habituais para me ocupar, tapando o nariz, desses aspectos menos felizes da conjuntura brasileira atual.
Isso passa...

Paulo Roberto de Almeida
(23.09.2010)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Gramsci de opereta (ou o fascismo redivivo)

Não tenho tempo para tudo, nem vivo de jornalismo. Tenho mais o que fazer e não posso ficar escrevendo sobre tudo o que me interessa. E eu me interesso por muita coisa: pelo futuro do Brasil, por exemplo, pela democracia, pelos direitos humanos, por certos valores que talvez estejam em baixa, mas que para mim ainda são fundamentais: como a honestidade intelectual, por exemplo, ou o simples fato de chamar um pau um pau, ou um cara de pau um cara de pau (por vezes também se trata de um mau caráter; aí já me contenho, pois certas pessoas talvez queiram me processar por difamação, sei lá).
Posso não ter tempo para escrever sobre tudo o que gostaria, mas arrumo tempo para ler (quase) tudo o que me interessa, mesmo que para isso precise sacrificar horas de sono, e até algum lazer bobo (como ficar vendo esses filmes americanos de boa qualidade, por exemplo).
Bem, tudo isso para dizer que, embora não concorde com tudo isso (ou talvez com o estilo do jornalista em questão), acho que ele toca nas questões reais, aliás as únicas que interessam nesse nosso Brasil de fraudadores políticos e de meliantes eleitorais.
Apenas por isso, ou talvez mais do que isso, transcrevo o que segue...
Paulo Roberto de Almeida

Esmagados pelo esquerdismo oficial. Ou: ecos do totalitarismo
Reinaldo Azevedo, 4.08.2010

Vamos a um daqueles textos longos? Então vamos!

A decisão do TSE, que, parece, pretende interditar o binômio “PT-Farc” no debate político , deve ser entendida, penso eu, num âmbito maior do que excesso ou falta de rigor jurídico. Especialmente porque, em seu direito de resposta no site do PSDB, os próprios petistas não se ocuparam de repudiar os narcoterroristas colombianos. Limitaram-se a anunciar os seus bons propósitos. E, como sabemos, bons propósitos todos temos. Com alguma ironia, devo lembrar que o Capeta seria apenas um diabo sincero e malsucedido se revelasse o que realmente pretende. Ele só é o Capeta das tentações porque mente, cheio de ardil, não porque é mau… Sigamos.

Não sei se notam: parece que uma espécie de superestrutura, digamos, “moral” está a policiar o confronto de idéias. E é sobre isso que quero falar. É nesse contexto que enxergo a decisão do TSE. Não quero ficar fazendo proselitismo contra esta ou aquela decisão do tribunal. Ocupo-me de entender a questão política e cultural que ela revela. Vamos ter de voltar um pouco no tempo.

Ninguém, como o teórico comunista italiano Antonio Gramsci, conseguiu sintetizar tão bem o horror totalitário. Com uma particularidade: à diferença de um George Orwell, por exemplo, Gramsci era um partidário do totalitarismo. Quando ele imagina o “Partido” como o “Moderno Príncipe”, estabelece o que, para ele, é um horizonte a ser alcançado. Vale lembrar, mais uma vez, o que escreveu. Leiam com atenção:
“O moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que o seu desenvolvimento significa, de fato, que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio Moderno Príncipe e serve ou para aumentar o poder ou para opor-se a ele. O Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume”.

É o sonho do totalitarismo perfeito. Notem que o “partido” se transforma na única referência dos indivíduos, cujos atos serão avaliados segundo o que é o que é não é útil àquele ente, que toma o lugar da divindade. No mundo sonhado por Gramsci, não há pensamento possível fora do “Moderno Príncipe” — mesmo que seja para… opor-se a ele! O fascismo, segundo a fórmula de Giovanni Gentile, pregava: “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”. A fórmula de Gramsci substituía o Estado pelo Partido. E tudo, fascismo ou socialismo, era uma porcaria anti-humanista.

Do fascismo, felizmente, há não mais do que resquícios quase folclóricos aqui e ali. Nem mesmo se pode dizer que foi assumindo nova conformação, guardando a sua essência. Acabou! No Brasil, por exemplo, a coisa mais parecida com um partido fascista é mesmo o PT, mas isso se deve à semelhança — de fato, é a mesma matriz — do fascismo com o socialismo. Este, sim, ainda está muito presente na cultura política moderna, o que não deixa de ser espantoso, prova do quão hábeis têm sido os esquerdistas em manipular a história. Ninguém quer “socializar” mais nada, claro! Reportagem da VEJA desta semana — falo depois a respeito — demonstra que o “socialismo” pode movimentar bilhões entre continentes. O que restou das velhas teorias do bolchevismo, aí sim, foi o desapreço pela democracia e a tentação, ainda presente, de substituir a sociedade pelo partido.

Não há mais a menor chance — e Gramsci vislumbrou isso precocemente — de se fazer uma revolução de caráter soviético ou, se quiserem modernizar a conversa, cubano. Já era! A “guerra socialista”, que é hoje apenas guerra contra a democracia, se dá na esfera dos valores. Como é que Gramsci imaginava que o partido deveria “subverter as relações intelectuais e morais”? Pondo seus quadros para ocupar funções de Estado — naquele Estado dito burguês com o qual o partido queria acabar. Em suma, tratava-se de fazer uma GUERRA DE VALORES. E as modernas esquerdas continuam a fazê-la.

Águas hostis ao confronto democrático podem ter batido na praia do TSE? Por que não? O tribunal não é uma bolha imune à metafísica influente. Caso se aceite como fato, e parece ter sido o caso, que o PT mantém, sim, vínculos, intelectuais que sejam (estou sendo generoso), com as Farc, mas se repudie por imprópria a inferência de que isso significa, por desdobramento lógico, aquiescência com o narcotráfico, creio que duas operações mentais, já no território do que os marxistas chamariam superestrutura, estão operando:
1 - tenta-se reconhecer o grupo narcoterrorista como algo mais do que, afinal, narcoterrorismo;
2 - tenta-se preservar o PT de si mesmo, lavando as manchas de sua história.

Relembro: em seu direito de resposta, os petistas não repudiaram aquele movimento. Talvez tribunal e partido considerem que sobrevive nos narcoterroristas aquela estranha legitimidade que as esquerdas costumam reivindicar, que lhes daria licença para matar em nome da construção de um novo homem. Certamente não ocorreria ao TSE punir partido ou veículo de comunicação que afirmassem que a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, empregou no governo federal a mulher de Olivério Medina, com requerimento assinado e tudo. Talvez os ministros aceitem que se informe, conforme provam os e-mail do laptop de Raúl Reyes, que Medina segue sendo um líder terrorista e que as Farc se ocupam do narcotráfico. Mas não se pode afirmar que o requerimento sugere uma ligação entre o PT e um movimento de narcotraficantes. Aí não pode. A política, submetida à escolástica esquerdista, é um território onde A é igual a B, B é igual a C, mas A não é igual a C porque isso já seria ilação demais… Para alguns, a boa política repudia até a matemática.

Vamos ver. Quantas foram as vezes, ao longo desses sete anos e meio — e mesmo agora, durante a campanha — em que Lula contou a história como bem quis, acusando o governo FHC, entre outras falácias, de ter “quebrado o Brasil três vezes”, o que é uma mentira boçal? Quantas foram as vezes em que Lula chamou para si os benefícios da estabilidade — e o PT o fará de novo na campanha eleitoral —, quando é fato que se opôs ao Plano Real? Apontar os reiterados contados do PT com as Farc rende punição, mas mentir a respeito de fatos históricos comprovados está protegido pelo direito à liberdade de expressão? Chegamos ao duplipensar orwelliano pela via petista-gramsciana? Ignorância, agora, é força?

Mas quê… Um “valor” já se insinuou nas trincas legais da democracia e tenta fazer a sua morada num tribunal superior — na imprensa, ele já é dominante: apontar a vinculação do PT, ainda que nem ele o negue, com as Farc constitui dano moral e política do medo. Imaginem a assinatura de Serra num requerimento contratando a mulher de um terrorista de extrema direita… Sua candidatura já teria sido liquidada. Não haveria a menor chance de isso acontecer, claro. Levo o argumento ao limite para que fique bem clara a natureza da questão. Vocês já perceberam que nenhum repórter — NENHUM!!! — teve a “coragem” de perguntar para Dilma por que ela requisitou os serviços da mulher de Medina? Vocês já repararam que nenhum repórter teve a coragem de perguntar para Dilma por que ela solicitou os préstimo da mulher de um terrorista? Por que não? Vai ver que isso soaria “reacionário” demais, o que, desde logo, torna as Farc, então, “progressistas”…

É claro que são tempos difíceis estes. O critério da conveniência antecede o da mentira e o da verdade, de sorte que uma falácia conveniente, mas assente em valores hegemônicos do “Partido”, é só exercício da política; já uma verdade inconveniente, que contesta a verdade oficial, é tratada como crime a merecer reparação. Nessa marcha, segundo a predição de Gramsci, teremos de nos filiar ao PT se quisermos fazer críticas ao… PT. A ser assim, o partido não precisa nem mesmo cuidar de proteger a sua reputação. Um tribunal se encarregará de fazê-lo.