Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Este blog sobreviveu ao fim do mundo, mas...
Não tenho medo de catástrofes, mesmo as mais terriveis, mas tenho alergia, horror, terror do besteirol, das estupidezes que vejo, ouço, contemplo um pouco em todos os lados para os quais olho.
Seja na TV, no rádio, nos jornais e revistas, na internet, enfim, por todos os veículos aos quais tenho acesso ou que literalmente "caem" sobre mim todos os dias, tudo o que tenho em volta me deixa preocupado, e me sinto cercado por um exército de bárbaros, seja de qual setor for, do governo, na imprensa, das escolas (inclusive superiores), na TV, tantas são as bobagens repetidas, velhas e novas, que brotam como champignons depois da chuva.
Estou cercado, num quilombo de resistência intelectual contra o besteirol costumeiro que circula no país.
Será que vou ter de pedir socorro, me asilar, virar um eremita?
Paulo Roberto de Almeida
sábado, 16 de junho de 2012
Universidades brasileiras: refens do sindicalismo exacerbado
O sindicalismo político, exacerbado, corporativo, em algumas unidades quase mafioso, pelas seitas políticas ultra-minoritárias e ultra-radicais que dominam os aparelhos sindicais dessas unidades, está contribuindo, isto é evidente, para a deterioração das condições de ensino no ciclo superior do Brasil
Mas esta é talvez apenas a superfície de um problema mais grave: a deterioração qualitativa do conteúdo mesmo do ensino.
Pelo que constato, por crescente número de propostas de artigos da minha área destinados a publicação, e que tenho de, como parecerista, rejeitar por falta absoluta de qualificação (seja simplesmente pelo Português deficiente, seja ainda pela falta de lógica elementar nos argumentos, seja, o que é mais grave, pelo desconhecimento total do objeto do artigo), só posso chegar à conclusão de que nosso ciclo superior está se aproximando dos padrões lamentáveis que sabemos existir nos ciclos precedentes das instituições públicas.
O grevismo inconsequente é apenas o reflexo de tudo isso.
O Brasil vai pagar muito caro pela republiqueta sindical que foi criada nos últimos dez anos...
Paulo Roberto de Almeida
Alunos em aula na UnB lamentam greve
Poucos estudantes que continuam indo às aulas apoiam professores que mantêm atividade e acham que serão prejudicados
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Um retrato da universidade brasileira: a tragedia educacional sempre mais elevada
Esse texto fornece um retrato preciso sobre como se apresentam, atualmente, as humanidades no Brasil.
As humanidades deveriam começar, supostamente, pela escrita da língua, e depois tratar com clareza do objeto escolhido.
Neste caso se trata de um trabalho sobre pobreza e desigualdades sociais no Brasil.
Por aí vocês podem ter uma ideia do que esperar, nos próximos anos, da universidade brasileira.
Paulo Roberto de Almeida
[TITULO]
[Autores, dois, ambos professores universitários, um doutor e um doutorando]
[Primeiros parágrafos, transcritos fielmente]:
A sociedade contemporânea brasileira com suas classes sociais, na perspectiva das desigualdades estruturais, atravessa mudanças significativas em seus indicadores socioeconômicos. Nesse contexto, o desenvolvimento se configura por meio de diagnósticos, propostas para modificar ou reforçar processos, instituições e organizações para alcançar metas pré-fixadas. A partir de objetivos criados por organismos nacionais ou internacionais, com intencionalidade ideológica neoliberal fundamentada no capitalismo.
Com os paradoxos existentes entre as teorias sobre pobreza e os indicadores que medem tal categoria, necessário discutir nesta comunicação os modernos conceitos de pobreza, bem como os vários indicadores de pobreza que mapeiam essa população. Em outros termos, esses indicadores apontam as intencionalidades dos organismos governamentais a respeito dos pobres. Uma vez que os conceitos de pobreza estão atrelados à esfera econômica, onde os aspectos monetários são determinantes na aquisição de bens de consumo e serviços para promoverem o bem-estar das pessoas, o que muitas vezes pode ser confundido como desenvolvimento humano. No entanto, os novos desafios que se colocam na concepção de instrumentos observacionais, analíticos e procedimentos de operacionalização, seja na construção de indicadores, seja na definição de tipologias de pobrezas ou utilização de sistemas classificações, os pobres são “objetos” de estudo comparativos para se explicar as desigualdades sociais.
A propósito disso, apresentamos os modernos conceitos de pobreza à luz das agendas governamentais, uma vez que estas tem se preocupado em entender fenômeno da pobreza, da mesma forma erradicar os empecilhos que atrapalham o desenvolvimento humano. Por desenvolvimento humano entendemos, com base no Relatório do Desenvolvimento Humano, documento da Organização das Nações Unida (PNDU, 2011, p. 1), “no alargamento das liberdades e capacidades das pessoas para viverem vidas que valorizam e que têm motivos para valorizar. Trata-se de alargar as escolhas”. À medida que o próprio crescimento econômico, com base no capitalismo, está atrelado ao discurso de progresso, modernidade e desenvolvimento.
Sob esta visão, Alvarez Leguizamón (2007, p. 83) observa que “a ideia de desenvolvimento iniciou-se em fins da década de 1940, juntamente com a criação do sistema das Nações Unidas, do Bando Mundial e da hegemonia crescente dos Estados Unidos na geopolítica mundial” (Itálico da autora). Os desdobramentos com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a década de 1950, no Brasil, exigia a tomada de consciência do atraso econômico ao evidenciar as desigualdades sociais. Emergiram neste contexto, a urgência de um processo de rápida transformação para equilibrar as distâncias e superação das desigualdades sociais.
(...)
Explicando melhor, as desigualdades assumem características multidimensionais, sob o prisma econômico, político e sociocultural. Além do mais, assegurar as desigualdades no discurso capitalista hoje, torna-se indispensável para o bom funcionamento do sistema, “pois elas são criadas e recriadas permanentemente como forma de assegurar a vitalidade e o dinamismo da economia de mercado” (CATTANI, 2009, p. 547). Em nome da economia do mercado, a verticalização das pessoas é demonstrada pelas desigualdades socioeconômicas.
(...)
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Creio que basta isto para ver como será o resto do trabalho.
Eu me pergunto o que vamos fazer da universidade brasileira, daqui para a frente (ou daqui para baixo)?
Paulo Roberto de Almeida
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Forum Surreal Mundial: Alemanha e Franca ajudam no besteirol
Alemanha e França anunciam que vão implementar um imposto sobre as transações financeiras, ou seja, um tributo recolhido por esses governos sobre diferentes tipos de transações efetuadas nos mercados financeiros.
Segundo Sarkozy -- que tem preocupações eleitoreiras evidentes -- "Se não dermos o exemplo, não acontecerá nada, aqueles que contribuíram para esta situação devem contribuir para invertê-la."
Não é certo que a Alemanha o faça, pois sua chanceler e parlamento são um pouco mais sensatos do que os franceses "voláteis", mas talvez o façam, não por estarem convencidos da justeza da medida, mas apenas por simples necessidade de um "extra", um dinheiro a mais no festival de gastanças que se preparam para fazer.
Mas, "pera lá", como diria alguém.
Antes de descambar para o besteirol costumeiro que costumamos encontrar nesses jamborees anuais do FSM, vamos fazer perguntas perfeitamente razoáveis:
1) Quem contribuiu para "esta situação"?
Foram os banqueiros, que agora vão ser tosquiados apenas nominalmente pelos governos? Ou foram os governos, que tomaram dinheiro do sistema financeiro além da conta? Os banqueiros obrigaram os governos a se endividar além da conta? Foram eles que produziram déficits orçamentários, contra a vontade dos governos? Foram eles que induziram os governos a aumentar tremendamente o endividamento interno, público?
2) "...aqueles que contribuíram para esta situação devem contribuir para invertê-la."???
Como assim? Vocês acham mesmo que os banqueiros vão mesmo tirar dinheiro do bolso -- ou seja, reduzir seus resultados operacionais, e diminuir os lucros e dividendos pagos aos acionistas -- para ajudar os governos? Ou vão simplesmente repassar aos "consumidores"-- tomadores de crédito -- toda e qualquer tributação adicional que os governos criarem? E os governos, vão pagar impostos sobre suas próprias operações de financiamento nos mercados comerciais, ou vão se isentar eles mesmos e passar a conta apenas para consumidores passivos e inermes?
3) Alguém são de espírito acredita realmente que um novo imposto sobre transações financeiras -- provavelmente de menos de 1% dos valores incorridos -- é capaz de diminuir a volatilidade financeira?
4) Alguém acredita que dinheiro arrecado por governos sirva a propósitos elevados de desenvolvimento econômico e social, de ajuda ao países pobres, a cooperação e assistência técnica? Alguém acredita nisso? Ou será que esse dinheiro não vai continuar servindo aos gastos correntes dos próprios governos?
5) Os antiglobalizadores -- e governos populistas -- acreditam mesmo que esse impostinho vagabundo vai contribuir para "colocar areia nas engrenagens da especulação financeira"? Eles são ingênuos a esse ponto, ou estão querendo enganar a si próprios?
6) Alguém acredita, por fim, que do piquenique anual do Forum Surreal Mundia vai resultar alguma medida, uma só, suscetível de resolver qualquer problema, um só, do mundo, por meios factíveis, positivos, racionais?
7) Alguém acredita que a imprensa vai discutir problemas reais durante o FSM, em lugar de fazer como sempre faz, refletindo apenas o besteirol predominante nesses encontros?
Sinto muito, mas eu tenho alergia a governo demagógicos, irresponsável, mas tenho mais alergia ainda à burrice predominante em certas esferas. Para ser completo eu diria que eu tenho horror à má-fé, e à desonestidade intelectual (acho que o adjetivo não se aplica), de certos gurus que se apresentam como salvadores do mundo...
Paulo Roberto de Almeida
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Addendum:
Le Canard enchaîné dans son édition de mercredi rappelle à ceux qui ont une mauvaise mémoire que la taxe Tobin a déjà été adoptée par le parlement. C’était en 2001. Toutefois, pour être applicable, les autres pays de l’Union doivent adopter le même genre de loi.
La taxe Tobin déjà votée au parlement, mais en 2001
LE MARDI 10 JANVIER 2012 À 21:31
L
e Canard enchaîné dans son édition de mercredi rappelle à ceux qui ont une mauvaise mémoire que la taxe Tobin a déjà été adoptée par le parlement. C’était en 2001. Toutefois, pour être applicable, les autres pays de l’Union doivent adopter le même genre de loi.
sábado, 29 de outubro de 2011
A piada da semana: capitalismo imaginativo...
E tem também esta aqui, que não é bem piada, e sim filme de terror; quem resiste um filme de 8 horas sobre "Das Kapital".
sábado, 1 de outubro de 2011
UnB homenageia o responsavel pelo atraso educacional brasileiro...
Trata-se de um caso extraordinário de homenagem prestada ao principal responsável pelo atraso educacional brasileiro.
Enfim, combina com a UnB atual: cultivar o atraso, a ideologia, o besteirol.
Tem tudo a ver com seus atuais dirigentes.
Enfins, como diria uma professorinha de Letras da UnB, está totalmente conforme ao que ela representa hoje, no panorama (des)educacional brasileiro: cultivar a mediocridade, para continuar caminhando para trás.
Estou sendo muito pessimista?
Paulo Roberto de Almeida
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
O mito (e a chatice) do tal de marco teorico: um aluno escreve...
Outro hábito (menos saudável para os true believers) é derrubar besteirol acadêmico.
Venho fazendo isso numa série apropriadamente intitulada (alguns alunos me escrevem "entitulada", mais passons) "Falácias Acadêmicas", que parece ter feito algum sucesso por aí pelas beiradas universitárias.
Ainda vou reuni-las num livro, mas a lista dos pendentes, dos próximos da fila é enorme, e não tenho encontrado tempo para me dedicar a esse esporte iconoclasta que é desmantelar bobagens acadêmicas que passam por verdades incontestáveis (eu contesto).
Fico com dó dos alunos, entregues à sanha alienada de professores idem...
Um dos que fizeram mais sucesso foi logo o terceiro da minha série, dedicado a desmantelar o tal de marco teórico. Atenção, devo dizer que não sou contra todos os marcos teóricos, só contra 95% deles.
Explico-me: 95% dos marcos teóricos são feitos apenas para cumprir exigência de algum professor carente de baboseiras teóricas, com síndrome de Foucault deslocado, algum ataque repentino de Bourdieu mal digerido, enfim, pura encheção de linguiça como gostam de dizer os alunos (e alguns professores).
Os professores têm o seu modelito prêt-a-porter de dissertação, tese, TCC ou seja lá o que for, e simplesmente dizem para os alunos: "Olha, você NÃO PODE fazer o trabalho sem um marco teórico, isso é impossível".
E o pobre do aluninho, desesperado, pergunta ao mestre: "Mas professor, o meu trabalho é sobre a estrutura estética dos anelídios marrons, não preciso de marco teórico, aliás nem sei onde vou encontrar um que se encaixe no espírito, no conteúdo e na forma do meu trabalho...".
O professor nem deixa o pobre do aluno terminar e já vai logo enfiando: "Ah não! Sem marco teórico não pode. Dá uma olhada no Foucault, no Bourdieu, no Habermas e tente encaixar alguma coisa...".
Outros, mais motivados, indicam o velho Marx, alguns mesmo o zumbi do Althusser...
Enfim, eu estou aí para isso mesmo, para chutar todo esse pessoal para a lata de lixo da salas universitárias, e libertar os alunos do terrorismo do marco teórico...
Vejam o que me escreveu um desses alunos aliviados com a minha metralhadora antibesteirol acadêmico:
Da série programada, com algumas criticas a filósofos famosos.
Espaço Acadêmico (n. 89, outubro 2008; arquivo em pdf); Originais: 1931