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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Desgraca pouca e' bobagem: alem dos manifestantes, o deficit externo (preparem-se...)

Bem, o dólar vai subir, ao que parece, e alguns vão faturar, enquanto outros vão amargar...
Depois não digam que ninguém avisou; eu, e o velho do Restelo, já falamos disso há muito tempo...
Paulo Roberto de Almeida

Pioram as contas externas

Editorial O Estado de S.Paulo, 23/06/2013
O buraco nas contas externas cresceu em maio, será bem maior neste ano que em 2012 e o investimento estrangeiro direto será insuficiente para cobri-lo, segundo o Banco Central (BC). Com essa coleção de más notícias, o relatório mensal do banco sobre o balanço de pagamentos fechou uma semana penosa para o governo, marcada por marchas de protesto, vandalismo e violência nas ruas e forte instabilidade cambial.
O déficit em conta corrente ficou em US$ 6,42 bilhões no mês passado, US$ 54,23 bilhões no ano e US$ 72,97 bilhões em 12 meses. Em cinco meses o déficit correspondeu a 4,18% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 12 meses, equivaleu a 3,2%. Nesse período, o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 64,22 bilhões (2,82% do PIB). A diferença foi coberta com recursos de outros tipos - empréstimos e investimentos no mercado de capitais. O financiamento das contas externas ficou mais dependente, portanto, de recursos mais especulativos e mais instáveis.
Um déficit pouco acima de 3% do PIB é em geral financiável sem muita dificuldade, mesmo quando é insuficiente o investimento de qualidade mais alta, aquele dirigido à compra de empresas, à criação de negócios e ao fortalecimento do setor produtivo.
Não existe uma fronteira clara entre a zona segura e a de perigo, quando se trata de conta corrente deficitária. Muitos países têm conseguido conviver com déficits próximos de 4% do PIB, mas a segurança depende de vários fatores, como a situação fiscal, a inflação, o ritmo de crescimento econômico e, naturalmente, o cenário internacional.
Os três primeiros fatores compõem a imagem do país e afetam a disposição dos investidores e emprestadores estrangeiros. Um quadro externo favorável pode ser insuficiente para garantir os financiamentos necessários, quando é baixa a confiança no país.
No caso do Brasil, todas as condições importantes evoluem na direção menos favorável. Para começar, as contas externas estão em clara deterioração. O BC acaba de reduzir de US$ 15 bilhões para US$ 7 bilhões o superávit comercial previsto para o ano.
A projeção das exportações diminuiu de US$ 264 bilhões para US$ 248 bilhões. A das importações caiu bem menos, de US$ 249 bilhões para US$ 241 bilhões.
O déficit previsto para serviços encolheu ligeiramente, para US$ 42,7 bilhões, e o estimado para rendas (como juros e dividendos) aumentou um pouco, para US$ 42,4 bilhões.
Para as transferências correntes (como remessas de trabalhadores no exterior) a nova projeção continua positiva, em US$ 3,1 bilhões.
Somadas essas contas - de mercadorias, de serviços e rendas e de transferências unilaterais - se chega a um déficit de U$ 75 bilhões em transações correntes.
Na estimativa anterior, o rombo era de US$ 67 bilhões. Pela nova projeção, o déficit será de 3,22% do PIB. O investimento estrangeiro direto chegará a 2,79% e o resto será, portanto, coberto com recursos menos seguros.
O primeiro dado preocupante é a tendência de aumento do déficit em conta corrente. Esse dado é conhecido tanto no mercado interno quanto no externo. A deterioração resulta principalmente da piora da conta de comércio, atribuível, sem muita discussão, ao baixo poder de competição da indústria - resultante de uma porção de fatores também conhecidos.
Não há perspectiva de grande mudança nesse quadro nos próximos 12 meses. Outros indicadores também são ruins e tendem a piorar - especialmente no caso das contas públicas.
Outro fator de preocupação é o quadro financeiro internacional. O Federal Reserve, o banco central americano, deverá até o fim do ano reduzir a emissão de dólares para irrigar o mercado.
Não haverá enxugamento imediato, mas diminuição do ritmo de emissões. Bastou o anúncio do plano para o mercado se agitar. Se a tendência se confirmar, os financiamentos serão mais caros e os países com imagem comprometida serão os mais prejudicados.
Será o governo capaz de esquecer as eleições por um momento para cuidar da economia?

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Transacoes correntes deterioradas: Brasil caminha para uma crise?

Brazil Macro Flash: Current Account Continues to Deteriorate in May
    Citigroup, 21/06/2013

  • In May, the current account amounted -US$6.4 billion, in line with consensus and close to our expectations. The monthly results continue to show significant deficits in profits and dividends and international travel spending. Overall, thecurrent account deficit widened further to US$73 billion in the last 12 months, representing 3.2% of GDP. Looking forward, the likely deceleration in economic growth (due to interest rate hikes) together with the more depreciated level of BRL point to some accommodation in current account deficit widening in coming months. Finally, FDI inflows amounted US$3.9 billion in May (US$64.2 billion in the last 12 months), financing a great part of the current account deficit in the same period.
  • In May, the trade balance amounted US$0.8 billion, services and income balance posted a deficit of US$7.3 billion, while current transfers reached US$0.2 billion.
  • Focusing on services and income accounts, the profits and dividends balance reached -US$2.4 billion, while international travel deficit amounted to US$1.7 billion, with net interest payments posting -US$0.6 billion.
  • FDI inflows came in at US$3.9 billion in May, slightly better than our and market expectations. In the last 12 months, FDI inflows amounted to US$64.2 billion, therefore lower than the current account deficit in the same period.
  • It’s worth noting the significant downward revision in CB’s current account deficit estimate to US$75 billion (3.2% of GDP) this year from US$67 billion previously, with FDI amounting US$65 billion in the same period. Considering our call that economic growth will likely decelerate in 2H13 and thereafter, together with the recent BRL depreciation we see fundamentals pointing to some stabilization in current account deficit widening. All in all, we expect current account deficit to reach US$73.3 billion (3.1% of GDP) this year.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Brasil: deterioracao das contas externas - Editorial Estadao

Os países podem conviver, durante longo tempo, com déficits externos administráveis, ou seja, perto de 3% do PIB ou menos. Acima disso, só potências econômicas como os EUA, que emitem moeda de reserva mundial, podem suportar índices de 6, 7 ou mesmo 8% do PIB: ou eles são financiados pelo resto do mundo, ou jogam a conta para o mundo, justamente, emitindo moeda, e com isso até tornando suas exportações mais competitivas.
Países como Brasil, México ou Argentina podem se financiar em limites muito estreitos. Quando passa de 4% (como está o Brasil hoje), a deterioração se acelera muito rápidamente, e aí vem o desastre: fuga de capitais e desvalorização inevitável, o que torna todos mais pobres, e joga o país para trás na escala dos maiores PIBs.
Esse é o destino do Brasil, graças às políticas dos companheiros.
Se não corrigirem rapidamente, a queda também vai ser rápida.
E não foi por falta de aviso: faz 50 ou 60 anos que é assim...
Paulo Roberto de Almeida

Contas externas com tendência de piora em 2013

26 de março de 2013 | 2h 10
Editorial Econômico O Estado de S.Paulo
 
O déficit de US$ 6,6 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos, em fevereiro, mostrou a dificuldade de conciliar objetivos diversos - menos inflação, câmbio na dependência dos humores oficiais e retomada econômica. O desequilíbrio foi maior que o esperado e encostou nos US$ 18 bilhões no primeiro bimestre. O déficit passou de 2,5% do PIB para 4,8% do PIB e obrigou o Banco Central (BC) a rever, para pior, as expectativas para 2013.
O ponto mais fraco das contas externas é a balança comercial, deficitária em US$ 5,3 bilhões no primeiro bimestre, sem maior reação até a quarta semana de março. Entre as causas, a transferência, para este ano, da contabilização de importações de derivados de petróleo em 2012, da ordem de US$ 4,5 bilhões. Mas esse não foi o único fator negativo: no primeiro bimestre, as exportações foram quase US$ 2,5 bilhões inferiores às do mesmo período do ano passado.
É um indicador da baixa competitividade dos produtos brasileiros no exterior e das oscilações negativas das cotações de commodities. O BC baixou a previsão de superávit comercial de US$ 17 bilhões para US$ 15 bilhões e elevou a do déficit corrente de US$ 65 bilhões para US$ 67 bilhões.
Na verdade, fatores que são muito positivos para a atividade econômica, como o alto nível de ocupação da mão de obra e a elevação da massa salarial, pressionam os gastos com turismo, por exemplo - houve um déficit de US$ 1,236 bilhão no item viagens, em fevereiro, o maior da história. A crise global também contribui para elevar o déficit externo: as remessas de lucros e dividendos atingiram US$ 4,2 bilhões, no bimestre, dos quais US$ 2,1 bilhões apenas em fevereiro, superando em 181% as do primeiro bimestre de 2012.
Frise-se que os pontos fracos do balanço de pagamentos não significam, por ora, um risco crescente de desequilíbrio cambial grave. As reservas cambiais são elevadas e, nos últimos anos, o déficit em conta corrente - a medida mais importante de avaliação, que inclui balança comercial, serviços e rendas - tem sido financiado pelos ingressos de capital, notadamente os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs). Isso não ocorreu no primeiro bimestre, quando o IED se limitou a US$ 6,4 bilhões, mas os ingressos financeiros asseguraram um superávit do balanço de pagamentos de US$ 3,2 bilhões.
Mas as contas cambiais terão de melhorar, nos próximos meses, para reduzir a apreensão quanto ao futuro. O aumento da volatilidade do mercado cambial, registrado na semana passada, não foi um sinal alentador.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Prenuncio de uma crise cambial? - Editorial Estadao

Pouco provável. Essas coisas demoram a acontecer, inclusive porque o déficit de transações correntes não evolui tão rapidamente assim, no curso normal das coisas. As autoridades dispõem de amplo tempo para remediar, seja atraindo mais investimento estrangeiro, seja emitindo mais bônus externos, seja ainda desestimulando viagens internacionais (tornando o câmbio mais caro, por exemplo).
Mas a reversão pode ser repentina, se por acaso houver uma deterioração externa, quebra de confiança, diminuição da cotação do país pelas agências de classificação de riscos, ou algum aumento mais intenso da inflação interna que induza os nacionais a buscar refúgio em outras moedas, provocando então alguma fuga de capitais mais evidente.
Pode demorar 3ou 4 anos para o déficit de transações correntes passar de 3 para 5% do PIB, mas uma vez chegado nesse patamar, pode passar muito rapidamente a 7 ou 8% do PIB, e aí entra o pânico, que gera mais corrida e mais desastre.
O resultado sabemos qual é: uma maxidesvalorização, que deixa todos mais pobres, mas que restabelece a competitividade dos produtos nacionais (ainda que por razões espúrias, e não por maior produtividade) e equilibra a balança novamente.
Em todo caso, o ideal seria ter uma economia sadia, e equilibrada pelas forças do mercado, não a golpes e patadas governamentais.
Paulo Roberto de Almeida

As contas cambiais pioram um pouco mais

23 de fevereiro de 2013 | 2h 09
Editorial econômico O Estado de S.Paulo
 
As contas cambiais apresentaram nova piora em janeiro, decorrente do déficit crescente do comércio exterior, das remessas de dividendos das empresas instaladas no País e do déficit de serviços, liderados pelo turismo. O resultado foi um déficit mensal nas contas correntes de US$ 11,4 bilhões e de US$ 58,6 bilhões nos últimos 12 meses - equivalente a 2,58% do PIB, ante 2,26% e 2,2%, respectivamente, nos 12 meses terminados em janeiro de 2011 e 2012. É cerca de US$ 2 bilhões mais elevado do que esperavam os analistas e indício de maiores dificuldades neste ano.
A entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) foi de US$ 3,7 bilhões, no mês passado, muito inferior à de janeiro de 2012 (US$ 5,4 bilhões) e à média mensal do ano passado, de quase US$ 5,7 bilhões.
Em resumo, o Brasil está importando cada vez mais - e, assim, reduzindo o superávit da balança comercial, que vinha sendo um dos pontos fortes do balanço de pagamentos nos últimos anos. Entre 2011 e 2012, o peso dos importados no consumo doméstico de produtos industriais aumentou de 23,1% para 23,5% e chegou ao maior nível histórico, segundo estudo distribuído ontem pela Fiesp.
No curto prazo, há pouco a fazer para alterar a trajetória das contas cambiais. De fato, os analistas continuam esperando que elas melhorem nos próximos meses. Mas ainda falta contabilizar, provavelmente até o mês que vem, US$ 2,7 bilhões em importações de derivados de petróleo feitas no ano passado. E as projeções do mercado para este ano são de um déficit de US$ 70 bilhões nas contas correntes, quase 30% superior ao de 2012 (US$ 54,2 bilhões) e acima dos US$ 65 bilhões estimados pelo Banco Central para 2013, mostrou relatório distribuído ontem pela instituição.
O mais provável é que o déficit projetado para este ano seja, mais uma vez, financiado pelo investimento estrangeiro - o que depende de que outros países não se mostrem mais atraentes do que o Brasil.
As contas teriam sido piores, em janeiro, sem o retorno de US$ 4,3 bilhões de recursos brasileiros no exterior e sem o ingresso de US$ 3,3 bilhões para aplicações em bolsa.
Graças à acumulação de reservas de US$ 376 bilhões e aos bons resultados do balanço de pagamentos nos últimos 11 anos, o País dispõe de uma situação cambial que permite enfrentar dificuldades. Mas nem por isso o governo deve dar-se ao luxo de adicionar riscos à economia com uma política errática para o câmbio, capaz de afastar investidores e de elevar gastos, como as remessas de renda.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Deficit em transacoes correntes: mais cabelos brancos em quem nao tem cabelo...

Certas pessoas não tem por que se preocupar já que não tem cabelos, mas elas ficariam de cabelos brancos, se fosse o caso:


Déficit em transações correntes aumenta e preocupa governo

Pela primeira vez em 11 anos o déficit nas transações correntes do Brasil não deve ser coberto pela entrada de investimento estrangeiro direto (IED). Mais que isso: se cumpridas as estimativas feitas pelo Banco Central (BC) para este ano, o déficit nas transações correntes será US$ 15 bilhões superior à entrada dos investimentos estrangeiros - na última vez que houve esse descompasso, em 2001, a diferença foi pequena, de apenas US$ 700 milhões.
Os resultados podem ser ainda piores caso as estimativas mais recentes da equipe econômica para ingresso de investimentos estrangeiros neste ano se realizem, enquanto o mercado trabalha com um déficit na conta corrente ainda maior que o previsto pelo BC.
Oficialmente, o governo Dilma Rousseff trabalha com um déficit de US$ 65 bilhões nas transações correntes neste ano (22,6% superior ao esperado para 2011), e com a entrada de US$ 50 bilhões na forma de investimento estrangeiro direto. Mas os economistas do governo já vêm uma entrada menor de investimentos, na casa de US$ 45 bilhões.