O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador economia esquizofrênica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador economia esquizofrênica. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Política econômica esquizofrenica na area dos combustiveis (nao surpreende...)

A situação poderia ser risível, se não fosse trágica, não necessariamente para a Petrobras -- que vai continuar a perder dinheiro e se prejudicar como companhia --, mas para o país como um todo.
Aliás, esse "reajuste de preços para a Petrobras" é absolutamente ridículo, se não fosse o ridículo ainda maior da política econômica do governo.
A rigor, não existe controle de preços oficial, tabelamento, congelamento em vigor no Brasil. A Petrobras, e qualquer outra companhia, estaria totalmente livre para fixar os preços dos seus derivados segundo seus custos e a margem de lucros, ou segundo a lei da oferta e da procura, simplesmente, num mercado aberto e concorrencial.
Justamente, sequer caberia essa dominância da Petrobras sobre o mercado de importação de matéria prima (petróleo) e sobre a venda de combustíveis, uma vez que o monopólio já foi extinto.
Que a Petrobras seja monopolista de fato, mas não de direito, e que o governo imponha preços a uma companhia com ações no mercado, já testemunham a situação anômala, surrealista da economia brasileira, e da total esquizofrenia do governo na condução desses assuntos.
O Brasil, decididamente, não é um país normal, e o governo é o mais anormal nesse cenário.
Paulo Roberto de Almeida

Ameaça à Petrobrás e ao País
Editorial O Estado de S.Paulo, 14/08/2013

O governo insiste num jogo perigoso ao conter politicamente os preços dos combustíveis para frear o índice de inflação - apenas o índice, porque em algum momento será preciso soltar os preços reprimidos ou pagar muito caro por distorções geradas por essa política. O diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, pediu na segunda-feira um ajuste de preços para financiar os enormes investimentos da empresa e frear sua crescente dependência de recursos de terceiros. O governo examina o assunto, disse no dia seguinte o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, com duas ressalvas: não é bom elevar os preços nem há garantia de autorização do aumento pelo governo. A estatal só pode cobrar mais se a mudança for decidida por seu Conselho de Administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Manter a tabela desatualizada é uma forma fácil, mas custosa, de atenuar as pressões de custos sobre a produção e sobre o bolso dos consumidores.
O governo tem abusado desse recurso, com perdas importantes para a Petrobrás e, durante vários anos, para as empresas produtoras de etanol, porque as proporções entre os preços dos combustíveis foram desfiguradas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionou com insistência o governo dos Estados Unidos para abrir o mercado americano ao etanol estrangeiro. Quando isso ocorreu, os produtores brasileiros estavam despreparados para vender, porque os investimentos no setor haviam encolhido.
Sob nova direção, a Petrobrás conseguiu algum aumento de preço durante o governo da presidente Dilma Rousseff, mas sem eliminar os desajustes acumulados num longo período. Os desajustes aumentaram, recentemente, com a alta do dólar e o encarecimento dos combustíveis importados.
O próprio aumento da importação foi uma consequência dos desarranjos causados à empresa pela intervenção política em sua administração. A demanda tem crescido, há alguns anos, bem mais velozmente que a produção interna, prejudicada por erros de planejamento, mau uso do dinheiro e contenção política de preços.
A defasagem entre preços internos e externos da gasolina está entre 22% e 23,5%, segundo especialistas. A diferença, no caso do diesel, chega a 24%. Esse desajuste afeta a geração de caixa e torna a empresa mais dependente de financiamentos.
A dependência já superou ou está quase superando os limites adotados pela empresa, segundo vários indicadores calculados pelos analistas. A companhia poderá ser rebaixada pelas agências de classificação de risco se a sua saúde financeira continuar em deterioração, segundo se especula no mercado financeiro. Hoje a estatal detém grau de investimento.
Apesar de suas dificuldades, a Petrobrás tem sido responsável por cerca de 90% dos investimentos realizados pelas estatais. Mesmo sem as possibilidades abertas pela descoberta do pré-sal, sua importância estratégica seria enorme. O governo parece desprezar esse dado, ao insistir numa política danosa para as finanças da empresa.
Câmbio e preços dos combustíveis agravam de fato as pressões inflacionárias, mas só reprimir os preços dos combustíveis de nenhum modo resolverá o problema. A inflação, ainda elevada, resulta de combinação muito mais ampla de fatores, mas a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda têm preferido agir como se vivessem noutro mundo.
Fariam bem se levassem a sério as observações feitas na segunda-feira pelo diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo. Segundo ele, a inflação baixa de julho (0,03%) resultou de fatores excepcionais e de nenhum modo indica uma tendência.
A evolução dos dados mensais de 2013 deve ter a forma de um V, com quedas até julho e altas a partir daí. O acumulado no ano poderá ficar abaixo dos 5,84% de 2012, mas ainda será elevado. A tendência expansionista das contas públicas continua sendo um dos fatores da alta de preços. Não se combaterá a inflação com mais perdas para a Petrobrás. Isso apenas agravará os problemas do País.

domingo, 11 de agosto de 2013

Politica economica para ETs e outros seres bizarros - Rolf Kuntz

Os seres bizarros, na verdade, são os próprios formuladores (???) e executores (!!!) dessa coisa que pretende se passar por política econômica.
Começa pelo fato de se apropriarem de fenômenos naturais como se fosse de sua feitura. Por exemplo: como a inflação do mês foi só 0,03%, o pessoal bizarro começa festejar e a dançar, proclamando gloriosamente: "Viram, viram?" Como aqueles índios que fazem dança da chuva, acreditando realmente ter tal poder.
Quanto ao ufódromo, mencionado ao final da matéria, ele na verdade já existe, sob a forma de um museu para o ET de Varginha no qual o governo federal já colocou 1 milhão e hoje está abandonado inacabado, como aliás já postado aqui.
Paulo Roberto de Almeida

Falta saber se o ET de Varginha crê no governo

Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo,10/08/2013

É quase uma crueldade pedir à presidente Dilma Rousseff a substituição do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Sem ser almas irmãs, são pelo menos espíritos complementares. Ambos atribuem a alta da inflação nos primeiros meses deste ano à quebra da safra americana. Nenhuma relação com a demanda, disse recentemente o ministro. A presidente reafirmou a tese da seca nos Estados Unidos na quarta-feira, ao comentar triunfalmente o resultado de julho, uma alta de apenas 0,03% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Onde encontrar um parceiro tão adequado para esse dueto?
Talvez no Ministério da Educação, mas essa hipótese tem sido negada no Palácio do Planalto. Outra possibilidade seria chamar o ET de Varginha, merecedor do "maior respeito", segundo a presidente. Mas seria preciso saber, em primeiro lugar, se ele acredita na existência do governo instalado em Brasília ou se o considera mais uma alucinação coletiva ou produto da crendice popular. Mas todos esses detalhes, neste momento, são pouco importantes. Quarta-feira, esta é a grande notícia, foi um dia glorioso para a presidente e para Mantega.
A inflação, disseram os dois, está e sempre esteve sob controle, sem prejudicar a economia. O ministro, no entanto, foi mais cauteloso e admitiu aumentos de preços mais acelerados nos próximos meses - "como em todos os anos", segundo ele. Com a mesma prudência, evitou previsões mais detalhadas. Quando lhe perguntaram se a taxa acumulada no fim do ano será menor que a do ano passado, quase tirou o time de campo. "Não sei, provavelmente sim", foi a resposta registrada pela Agência Estado.
Sem a seca americana e com boa oferta de alimentos no Brasil, fica difícil entender essa hesitação. Talvez ele tenha lido, num momento de folga, as projeções de mercado mantidas no site do Banco Central (BC). Na sexta-feira de manhã o BC ainda registrava a estimativa para o mês de julho: 0,01%, um número pouco melhor que o divulgado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números projetados para os meses seguintes crescem de forma quase contínua: 0,26% em agosto, 0,43% em setembro, 0,55% em outubro, 0,55% em novembro e 0,67% em dezembro.
Para o ano a série indica uma alta acumulada de 5,72%, bem pouco inferior à do ano passado, 5,84%. Talvez se possa falar em convergência para a meta, de 4,5%, mas o avanço é lento e, nesse ritmo, o percurso dificilmente será concluído nos 12 meses seguintes.
Mas o governo parece continuar satisfeito com acumulados anuais abaixo de 6,5%. Sua meta efetiva é qualquer ponto na faixa de 4,5% a 6,5%, um detalhe traído mais de uma vez pelo próprio ministro em suas declarações. Politicamente é este o ponto mais importante: a inflação estará "bastante sob controle", segundo a linguagem presidencial, enquanto as taxas de 12 meses ficarem nessa área. O "compromisso com a estabilidade", mencionado mais uma vez pela presidente na quarta-feira, tem como referência esse limite.
É um compromisso frouxo, próprio de quem pouco se incomoda com a alta persistente dos preços. Em dez anos, uma inflação anual média de 4,5% resulta numa taxa acumulada de 55,3%. Uma inflação de 2,5%, mais próxima das metas adotadas nos países desenvolvidos e em vários emergentes, produziria uma alta de preços de 28% no mesmo período. Uma das consequências seria um considerável desajuste cambial no País com taxa mais elevada.
O ministro Mantega falou muitas vezes em guerra cambial, nos últimos cinco anos. A presidente Dilma Rousseff acusou os governos dos países desenvolvidos de criarem um tsunami monetário e com isso afetarem o câmbio e o poder de competição dos emergentes. Ambos seriam muito mais realistas, e mais eficientes na política econômica, se dessem mais atenção à diferença entre as taxas de inflação no Brasil e em outros países.
Mas isso parece muito improvável. As pressões inflacionárias, segundo o governo, vêm de fora, juntamente com a crise causadora, também segundo a versão do Planalto, da estagnação brasileira. Além disso, a meta de 4,5% foi estendida até 2015, com a margem de tolerância de 2 pontos para mais ou para menos (na prática, para mais). Um resultado anual de 6,4% continuará sendo alardeado como prova do compromisso com a estabilidade.
Tudo isso combina perfeitamente com o desleixo fiscal. Como os truques de maquiagem estão cada vez mais evidentes, o governo tem desistido, com jeito de criança flagrada em molecagem, de alguns expedientes escandalosos, como a antecipação de recebíveis da Itaipu Binacional. É cada vez mais difícil encontrar meios para entregar no fim do ano um superávit primário de 2,3% do produto interno bruto, já bem menor que a meta inicial de 3,1%. Enquanto isso, continua a política fiscal expansionista apontada mais de uma vez pelo pessoal do BC nas avaliações dos fatores inflacionários.
Sem melhora na gestão das finanças públicas - nem corte de gastos, nem aumento da eficiência no uso do dinheiro -, mantém-se uma das causas principais do desarranjo dos preços. As possíveis pressões derivadas do aumento do dólar apenas complicarão um quadro já bastante ruim.
A tarefa de frear a inflação continuará entregue aos formuladores da política monetária. Nenhum diretor do BC entenderá a taxa de 0,03% de julho, explicável basicamente pela redução política das tarifas de transportes e pelo recuo temporário dos preços dos alimentos, como um sinal de vitória. Muito mais fácil será declarar respeito ao ET de Varginha e abrir licitação para um ufódromo. Uma nova estatal poderá cuidar do assunto. Em cinco anos as obras estarão incompletas, talvez nem começadas, mas o orçamento terá aumentado barbaramente.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Brasil: adivinhe quem produz volatilidade?; o proprio Governo - Celso Ming

Conhece aquela história dos capitais especulativos, de motel (como gostava de dizer um dos gênios econômicos deste governo) e que produziriam volatilidade na economia?
Pois bem: esqueça.
O principal responsável pelo caráter errático da economia brasileira é o próprio governo, com suas políticas econômicas esquizofrênicas, desencontradas, contraditórias...
Só não vê quem não quer...
Paulo Roberto de Almeida

Montanha-russa

CELSO MING - O Estado de S.Paulo, 02 de agosto de 2013
O desempenho da produção industrial medido pelo IBGE se transformou em montanha-russa. Junho apontou para um crescimento aparentemente forte, de 1,9% sobre o mês anterior que, no entanto, mostrara recuo de 1,8%. Os dados de julho não estão disponíveis, mas as indicações são de novo tombo (veja o gráfico).
Essa volatilidade sugere que se comparem estatísticas de prazo mais longo. E, no entanto, também elas não autorizam comemorações. Em todo o primeiro semestre, a produção industrial cresceu apenas 1,9% e, em 12 meses, 0,2%.
Difícil de discordar do pessimismo do diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Paulo Francini: "Não conseguimos enxergar sinais de recuperação", disse quarta-feira.
O único atenuante para o quadro pouco animador é o surpreendente desempenho da indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos) que avançou 6,3% no semestre e 18% em 12 meses. Indica que os investimentos não pararam, o que se confirma com as estatísticas de importação (veja o Confira).
Os problemas de fundo são conhecidos e quase nada mudaram. Concentram-se na baixa competitividade do setor produtivo que, por sua vez, tem a ver com os custos altos demais, sobretudo dos impostos e dos juros; com a infraestrutura precária e cara; e com falta de abertura de novos mercados externos.
Em tese, a desvalorização cambial, de 15% nos últimos três meses, deveria devolver competitividade ao setor. Mas isso não está acontecendo, aparentemente pela forte dependência da indústria de fornecimentos externos: matérias-primas, componentes, máquinas e capital de giro (empréstimos externos).
Foi a razão pela qual ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou medida que reduz a alíquota do Imposto de Importação (tarifa alfandegária) de cerca de cem produtos. O objetivo declarado é compensar com menos imposto o aumento dos preços provocado pela alta do dólar no câmbio interno.
Em princípio, esta não é uma prática adequada. O Imposto de Importação tem funções regulatórias. Serve para calibrar o comércio exterior. Quando usado ou para arrecadar ou para fazer política de preços tende a provocar distorções. Se as tarifas estavam no tamanho adequado, uma redução leva a desequilíbrios no fluxo de mercadorias ou imediatos ou de médio prazo. Se não estavam, então teria sido necessário contemplar mais produtos. Além disso, como não podem alcançar todo o universo da pauta de importações, cortes pontuais causam desalinhamento de preços relativos. O barateamento de matérias-primas importadas para plásticos, por exemplo, pode prejudicar outros tipos de embalagem, como as de vidro ou de cerâmica.
No entanto, pouca coisa trava mais o desempenho da indústria do que a falta de confiança na economia. Quando pairam dúvidas, como hoje, sobre a solidez dos fundamentos; quando se vê que o governo não consegue levar adiante o que começa, como o processo de desoneração tributária; e quando o governo reage aos problemas com soluções improvisadas (puxadinhos) a recuperação fica mais difícil.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Mais esquizofrenias da politica economica - Alexandre Schwartsman

Chico e Francisco
Alexandre Schwartsman
Folha de S.Paulo, 30/07/2013
Não tem nada a ver, juro, com a visita do Papa, mas lendo a entrevista dominical da presidente da República à Folha de S. Paulo me lembrei do ditado favorito da minha amiga, e economista de respeito, Tatiana Pinheiro (que, às vezes, também produz pérolas inesquecíveis, como a “menina dos ovos de ouro”): “pau que bate em Chico, também bate em Francisco”. A frase é geralmente citada quando surge uma assimetria grave na análise, isto é, quando determinado argumento é formulado sem muita noção de suas consequências lógicas caso a premissa seja alterada.

Lendo o parágrafo anterior noto que a última frase não é um primor de clareza, mas acredito que o ponto pode ser facilmente ilustrado pelos inúmeros casos que pululam na fala presidencial.

Questionada, por exemplo, sobre o baixo crescimento, a presidente saiu-se com: “O mundo cresce pouco. Não somos uma ilha”.

Trata-se de resposta aparentemente sensata, mas que não passa no teste de simetria, pois, quando o Brasil viveu um período de crescimento mais acelerado, em momento algum se ouviu a presidente dizer que nosso desempenho resultava do bom momento mundial. Pelo contrário, o mérito era do governo, embora o PIB brasileiro tenha se expandido a uma taxa pouco inferior à média global. Da mesma forma, quando o país se encontrou entre aqueles que saíram de forma mais vigorosa da crise dizia-se que era uma ilha de prosperidade. Somos e deixamos de sê-lo ao sabor das conveniências do governo.

Igualmente, a presidente enche a boca para falar da inflação baixa de julho, resultado pontual, fortemente influenciado pela redução das tarifas de transporte urbano, mas não veio a público para externar sua preocupação com a inflação alta no primeiro quadrimestre do ano. A inflação alta é “sazonal”, ou “resultado de um choque agrícola”, mas a inflação baixa (em um único mês!) é mérito governamental. E, posso apostar, quando a inflação voltar a se acelerar mais para o final do ano, a presidente não assumirá a responsabilidade, mas voltará a invocar razões sazonais e pontuais, que, na visão do governo, só são importantes para explicar a inflação alta; jamais a inflação baixa.

Segundo a presidente, tudo também vai bem no campo do gasto público (“O déficit da Previdência é 1% do PIB. As despesas com pessoal, de 4,2%, as menores em dez anos.”), apesar do dispêndio, medido como proporção do PIB, se encontrar no nível mais alto da história (18,3% do PIB). Já o investimento federal, mesmo vitaminado desde o ano passado com a contabilização dos recursos do programa “Minha Casa, Minha Vida”, cresce como rabo de cavalo e responde por modestos 1,3% do PIB nos últimos 12 meses, insuficiente para atender os requisitos de expansão da infraestrutura.

Na verdade, na primeira metade deste ano os gastos correntes aumentaram (descontada a inflação) cerca de R$ 26 bilhões; o investimento caiu R$ 1,8 bilhão. Assim, mesmo o aumento das receitas, pouco superior a R$ 5 bilhões, não foi capaz de impedir a visível redução do superávit primário federal (oficial), de R$ 52 bilhões no primeiro semestre de 2012 para R$ 35 bilhões no mesmo período de 2013. 

Este aumento do gasto, porém, é ainda “vendido” como uma atuação anticíclica, convenientemente deixando de lado que, mesmo nos anos bons, em momento algum houve sequer tentativa de redução da despesa pública, em particular a despesa corrente, que, a valer o que dizia a Ministra Chefe da Casa Civil do governo Lula, “é vida”. Só a visão persistentemente assimétrica pode explicar a tentativa de negar o caráter expansionista da política fiscal.

Ao final, a entrevista da presidente é reveladora: se alguém ainda imaginava ser possível uma correção de rota no rumo da política econômica, seu conteúdo deve ter convencido mesmo os otimistas mais renitentes a removerem o proverbial cavalinho da chuva. Vai sobrar para Chico e também para Francisco.


Total falta de confianca na politica economica esquizofrenica - CelsoMing

Confiança abalada
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 31/07/2013

Em dois dias, três índices diferentes, medidos por institutos diferentes, apontaram para uma forte redução da confiança no governo por parte do consumidor, da indústria e do comércio.
Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff, criticou os propagadores do pessimismo que azedam tudo e criam um ambiente ruim para recuperação da atividade econômica. E culpou os analistas da economia, sem precisar melhor o seu alvo.
O governo é incapaz de reconhecer seus erros na condução da economia, divulga só o que lhe interessa, maquia resultados e distorce fatos.
Nenhum estrago à credibilidade do governo foi maior do que as práticas argentinas do secretário do Tesouro, Arno Augustin, de submeter as contas públicas de 2012 a artifícios contábeis. Até agora, ninguém entendeu como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pode garantir um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida), em 2013, de 2,3% do PIB.
As contas públicas são opacas. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, admitiu em entrevista ao Estadão (21/7) que "a política fiscal não é clara". E, antes dele, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto declarou ao Estadão (8/6) que a percepção do mercado é de que "a situação fiscal do Brasil é uma esculhambação". E, ainda ontem, o próprio Delfim advertiu que essa contabilidade criativa distorce as estatísticas da dívida pública líquida.
Também ontem, o economista-chefe do Grupo Credit Suisse, Nilson Teixeira, advertiu que, para a recuperação da confiança é necessário que o governo aponte o resultado real das contas públicas, "sem manobras contábeis".
O governo não apenas gasta demais, mas, sobretudo, gasta mal; investe pouco e administra pior ainda seus projetos de investimento. Em praticamente todos eles, temos a síndrome das obras de transposição do Rio São Francisco, que não terminam nunca e custam cada vez mais, para benefício sabe-se lá de quem.
Por que, por exemplo, a presidente Dilma insiste em afirmar que a inflação fechará este ano "na meta", quando se sabe que a meta de inflação é de 4,5% e não os 6,5% (que incluem a margem extra de tolerância) a que ela se refere? Todas as projeções apontam para uma inflação acima dos 5,5% em 2013. Por que não admitir que esse estouro é gol contra e não uma vitória sobre a alta de preços, especialmente quando se leva em conta a deterioração do poder aquisitivo do assalariado.
Não há comentário da área econômica do governo que não atribua os números ruins da atividade econômica aos graves problemas externos - que os analistas, é claro, acabam piorando com seu pessimismo. Apesar disso, também o governo garante que a virada vem vindo aí e que tudo vai melhorar, inclusive as avaliações da população em relação ao desempenho da presidente Dilma. Ora, se estamos mal porque o mundo vai mal, então como é que se pode esperar pela melhora, se os prognósticos são de uma piora do comportamento da economia mundial?
A maneira como o governo administra a economia e as contas públicas é parte essencial do problema da falta de confiança. E as críticas que lança a esmo contribuem para a prostração.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Incompetencia do governo explica a baixa eficiencia economica - JoseAlexandre Scheinkman


Entrevista - José Alexandre Scheinkman
Folha de S. Paulo - 29/07/2013

Incompetência e ideologia do governo travam a economia

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO



Para economista, políticas equivocadas, como controle de preços, e aversão a reformas explicam baixa eficiência

José Alexandre Scheinkman, um dos mais respeitados economistas brasileiros, concorda com o diagnóstico de um amigo seu: a incompetência explica tanto parte das ações equivocadas quanto a falta de atitudes importantes por parte do governo.

Esse problema, somado à ideologia das administrações recentes contrária a reformas que poderiam aumentar a baixa eficiência da economia, ajuda a compreender as causas da desaceleração da atividade no país, segundo ele.

Scheinkman, que vive nos EUA e virá ao Brasil nesta semana para participar de seminário do Insper sobre produtividade, falou à Folha na sexta-feira por telefone.

O economista, dono de vasta produção acadêmica, deixará em setembro a Universidade de Princeton, onde se tornará professor emérito, rumo à Universidade Columbia.

Folha - Que fatores têm se mostrado mais importantes para aumentar a produtividade do trabalho?

José Alexandre Scheinkman - Todos os fatores têm importância, mas a evidência mostra um papel muito importante da educação. Para cada ano a mais de educação, a produtividade do trabalhador aumenta muito.

Obviamente, um trabalhador com mais capital à sua disposição também vai produzir mais. Mas há menos variação de capital por trabalhador entre os países do que de quantidade de educação.

Também sabemos que a qualidade da educação importa, mas temos dificuldade de medir essa qualidade.

A saúde também é muito importante. Nos países que têm melhores indicadores de saúde, os trabalhadores são mais produtivos.

Há outro aspecto da produtividade que não conseguimos explicar pela quantidade de fatores.

Se você pega duas firmas da mesma indústria, usando trabalhadores com o mesmo nível de educação e o mesmo tipo de capital, essas empresas produzem quantidades diferentes.

Isso é explicado pela eficiência no uso dos fatores, a chamada produtividade total dos fatores?

Exatamente. Há hoje muita atenção nos EUA para tentar entender quais são os fatores que tornam as empresas mais produtivas.

Como a eficiência da economia brasileira tem evoluído?
A produtividade total dos fatores, que pode ser traduzida como grau de eficiência, está estagnada ao menos desde 1989 para a economia como um todo. Mas há setores da economia brasileira que tiveram grandes ganhos de eficiência. Um é a agricultura.

Obviamente há fatores que influenciam todos os setores e toda a economia. Mas, para entender a eficiência, é importante olhar o que está acontecendo com cada setor e com as firmas de cada setor.

Um fenômeno interessante brasileiro é a existência de empresas pequenas que muitas vezes são informais, muito ineficientes e só sobrevivem por não pagar impostos. Elas trazem a produtividade média do setor em que atuam para baixo.

Mas a informalidade entre as empresas menores diminuiu.
Sim, e essas empresas melhoram ao se tornar formais. Mas, como há um tamanho máximo de faturamento para ficar dentro das faixas de tributação no Brasil, há um desestímulo na busca por crescimento por parte dessas empresas e isso prejudica a eficiência da economia.

O ideal seria diminuir os impostos para as firmas maiores e trazê-las mais perto das outras.

Quais são as outras causas da baixa eficiência da economia brasileira?

Há os casos de proteção setorial. As pessoas esquecem que a política setorial dificulta a vida das indústrias que usam o insumo do setor protegido. Elas acabam não podendo se tornar tão eficientes quanto as de países que têm acesso ao mesmo insumo a preço relativamente menor.

A outra questão importante é o investimento em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil tem uma estrutura científica bastante razoável se olharmos os números de doutorandos, as publicações em revistas científicas. Ainda não conseguimos criar uma estrutura de produção de pesquisa e desenvolvimento.

Esse assunto já foi muito bem estudado pelos economistas. A taxa de retorno, ou seja, o aumento de produtividade gerado pelo investimento nessa área, é enorme. E isso ocorre porque quem investe em pesquisa e desenvolvimento e recebe o retorno não é a única pessoa a lucrar.

Boa parte dos ganhos vai para outras empresas, concorrentes, outros setores que começam a se beneficiar da tecnologia desenvolvida.

Até a absorção da tecnologia vinda de fora em um país onde você já tem toda uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento é maior. E os governos têm papel fundamental no investimento em pesquisa e desenvolvimento.

Se há tanta evidência desses benefícios, por que não se investe mais em pesquisa e desenvolvimento no Brasil?
Um amigo meu diz -- e eu concordo -- que um dos grandes problemas do governo brasileiro é a incompetência. Eu não consigo explicar isso por malevolência, por um pensamento de que o governo quer um país atrasado.

Às vezes as políticas são extremamente prejudiciais ao país por incompetência --por exemplo, quando o governo controla o preço da gasolina. Isso levou ao aumento do congestionamento e da poluição e prejudicou uma das poucas tecnologias importantes criadas no Brasil, a da indústria do etanol.

Não imagino que o governo decidiu gerar essas consequências. Mas alguém teve a brilhante ideia de, entre aspas, controlar a inflação mantendo o preço da gasolina estável e não pensou nas consequências.

Há uma estagnação no processo de reformas importantes para o desenvolvimento econômico no Brasil?
As reformas começam no início do governo Collor com a abertura comercial. Depois houve um período de paralisia. E voltaram a acontecer com Itamar, o Plano Real. Em seguida, outras reformas importantes foram feitas. Esse processo foi freado a partir do segundo governo Lula.

Há seis, sete anos poucas coisas importantes estão sendo feitas. O governo tem se concentrado muito mais em políticas industriais, em intervir nos preços, em diminuir impostos setoriais e menos em resolver as grandes questões que poderiam melhorar a eficiência no Brasil, como as que eu já mencionei, e outras, como o investimento em infraestrutura.

Essa letargia tem a ver com a questão da competência que o sr. mencionou?
Há uma questão também de ideologia. Há reformas que precisavam ser feitas, mas que não atendiam à ideologia do governo. Acho que agora o governo entendeu que precisa trazer mais investimento privado para áreas como ferrovias, portos etc.

Outro problema importante é a baixa taxa de poupança. Então, o governo cobra muito imposto, mas tem gastos enormes e pouca capacidade financeira para investir, além da falta de capacidade que eu já mencionei de competência do setor público.

Esses fatores explicam a desaceleração econômica dos últimos anos?

Acho que há várias causas. Em 2008 e em 2009 a resposta à crise com política fiscal mais solta fazia sentido. O que não fez sentido foi achar que isso poderia ser permanente mesmo depois de a economia ter começado a se recuperar.

A outra é o excesso de intervenção, como o controle do preço da gasolina. Cada uma dessas intervenções, de forma isolada, pode passar a impressão de que seus efeitos não são tão graves, mas, se você junta todas, começa a ter efeito na economia. E isso é parte do que estamos vendo agora.

Além disso, também estamos sentindo o efeito da desaceleração da China, que, no entanto, não deve ser exagerado.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A percepcao geral e' a de que a política fiscal do governo Dilma e' uma bagunca - Celso Ming

Essa é a consequência da ideologia aplicada à política econômica: excesso de "furtadismo" -- o economista que achava que um pouco de inflação não fazia mal, e que era melhor isso do que desemprego -- e de keynesianismo de botequim (por vezes de hospício) redundaram nisso que estamos vendo: baixo crescimento, alta inflação, queda do equilíbrio fiscal e de transações correntes, enfim, ameaça de descontrole econômico grave, gerando aceleração da inflação, fuga de capitais, mais inflação, e depois crise generalizada.
Não que estejamos prevendo tudo isso, mas já vimos esse filme antes, e ele não termina bem.
Tudo isso em função da incompetência do governo -- e dos seus dirigentes máximos em matéria de economia -- em lidar com a dinâmica do jogo econômico, que eles não percebem e não sabem administrar.
Primeiro, não sabem nem fazer um diagnóstico correto da situação.
Segundo, aplicam o remédio errado para o diagnóstico errado.
Parece que estão colocando mais gasolina no fogo.
Gente brilhante...
Paulo Roberto de Almeida

Hora de mudar

CELSO MING

O Estado de S.Paulo, 20 de junho de 2013

Se foi mesmo sincera quando, ao elogiar as manifestações e suas reivindicações por mudanças, garantiu que fará essas mudanças, a presidente Dilma tem de começar a mudar o diagnóstico e o tratamento que vinha dando à inflação.
Embora não se saiba onde e como vão desembocar, os protestos começaram com a revolta com o reajuste de R$ 0,20 nas tarifas da condução cobradas em São Paulo.
Ora, o problema não é o reajuste, ontem revogado. É a inflação, que exigiu o reajuste. Ela vem corroendo o poder aquisitivo e em algum lugar do bolso do consumidor teve mesmo de começar a pressionar.
Um eventual recuo dos administradores na cobrança desse reajuste, como já aconteceu em São Paulo e em outras sete capitais, não resolve o problema central. Vai continuar faltando salário antes de chegar o fim do mês.
Até agora, o governo Dilma fez uma avaliação arrogante da inflação. Ignorou sua importância e seus estragos. Atribuiu o problema a causas externas (choques de oferta produzidos pelas secas nos Estados Unidos em 2012) ou a fenômenos temporários internos. A partir desse diagnóstico, não havia o que fazer. Era esperar pelo refluxo espontâneo da inflação. Durante meses, o Banco Central fez o mesmo jogo. Mas, desde abril, passou a admitir que a inflação tem causas internas relevantes. Entre elas, os gastos excessivos do setor público (política fiscal expansionista), consumo acima da capacidade de oferta da economia e mercado de trabalho excessivamente aquecido, que vinha proporcionando pagamento de salários acima da expansão da produtividade do trabalho.
Traído no compromisso quebrado pelo governo de manter uma política orçamentária responsável, a partir de abril o Banco Central se sentiu liberado para acionar sua política monetária (alta dos juros) até então teimosamente mantida a serviço do arranjo voluntarista de política econômica que vem produzindo as conhecidas distorções. Já se vê que uma política de juros mais restritiva desacompanhada de uma política fiscal responsável pode pouco contra a inflação.
Depois de muita vacilação e uma tentativa de sacramentar a adoção de uma política fiscal que denominou de anticíclica (que implica mais despesas agora), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que entregará ao final deste ano um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) correspondente a 2,3% do PIB. Mas ninguém sabe, provavelmente nem ele, como conseguirá esse resultado nem se será suficiente.
A percepção geral é a de que a política fiscal do governo Dilma é uma bagunça. E este é um fator adicional que tira a credibilidade da política econômica e trabalha contra a virada.
A inflação sofre agora os ataques de outro fator: o da disparada das cotações do dólar no câmbio interno. É o que vai encarecer ainda mais os produtos importados e as dívidas em moeda estrangeira, numa proporção incerta, mas que provavelmente não será inferior a 0,5 ponto porcentual de inflação ao ano para cada alta de 10% na cotação do dólar.
Enfim, falta saber o que mudará na condução da política econômica do governo Dilma. E se de fato mudará.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Esquizofrenia fiscal no Brasil (acho que e' pior do que isso...) - Mansueto Almeida

Esquizofrenia, ao que parece é uma doença tratável, seja com remédios, seja isolando o paciente, amarrando, eventualmente, para que ele não possa fazer nenhuma loucura.
Acho que isso não se aplica no Brasil.
Logo...
Paulo Roberto de Almeida
Não há mais o que discutir. O Brasil passa por um momento delicado caracterizado por um mercado de trabalho aquecido, baixa taxa de investimento, inflação elevada, gasto público em expansão e desvalorização do real que complica ainda mais o cenário da inflação.
Diante desse (des)equilíbrio macroeconômico, resta ao BACEN elevar a taxa de juros básica da economia, a Selic. Mas essa medida que diminui o consumo e investimento (é para isso que se aumenta a taxa de juros) para combater a inflação, leva a dois problemas que anulam, em parte, sua eficácia.
Primeiro, o governo reage ao aumento da taxa de juros do BACEN com a expansão do crédito subsidiado para incentivar o aumento do investimento, o que significa que o ajuste de corte de demanda deve recair preponderantemente na queda do consumo, que ao mesmo tempo é estimulado por politicas de desonerações setoriais e com novos programas de subsídios como o Minha Casa Melhor (clique aqui), que aumentam o risco fiscal (desoneração e novos subsídios diminuem o resultado primário).
Segundo, o aumento da taxa de juros (Selic) pelo BACEN para controlar a inflação aumenta o custo das políticas de subsídios do governo federal por meio dos bancos públicos, afetando tanto a despesa primária (pois o custo dos programas de equalização de taxa de juros é uma despesa primária) quanto o custo financeiro da Dívida Liquida do Setor Público (DLSP) e o custo da Dívida Bruta. O governo pode até tentar esconder o custo orçamentário dessas medidas (em outro post falo sobre isso) mas não há como evitar o custo financeiro que se reflete na taxa de juros implícita da DLSP.
Assim, a política monetário restritiva do BACEN é combatida pelo próprio governo por meio da política de expansão do crédito via bancos públicos que ,além de “lutar contra o BACEN” , aumenta a despesa fiscal primária e o custo da dívida pública.
E se o governo controlasse a sua despesa primária? Seria bom, mas, no curto-prazo, teria que sacrificar o investimento público.
Além de tudo isso, há um problema adicional. É impossível ajuste fiscal no curto prazo, no Brasil, sem cortar o investimento público. No ano passado, o investimento público do governo federal (incluindo o Minha Casa Minha Vida) foi de 1,35% do PIB e sem o MCMV foi de 1,1% do PIB. Desde 1999, quando começamos a ter meta de resultado primário, anos de crescimento do superávit primário (1999 e 2003) foram anos de forte corte no investimento público (ver gráfico abaixo).
Investimento Público do Governo Federal – 1999-2012 (exclui estatais e minha casa minha vida) – % do PIB
Investimento
Em 1999, o investimento do governo federal foi de 0,5% do PIB e, em 2003, foi de apenas 0,4% do PIB, não por acaso os menores valores da série de 1999 a 2012. Por que não fazer o mesmo agora? porque já estamos no meio de uma campanha eleitoral. Nesses dois episódios de ajuste fiscal estávamos no início de mandato e agora estamos no final de mandato.
Essa estratégia teria um custo alto demais para o governo de plantão e o benefício (crescimento econômico) seria colhido apenas pelo próximo governante. Adicionalmente, como o governo federal cortaria o investimento público em um momento no qual o próprio governo incentiva o crescimento do investimento para puxar o crescimento do PIB?
Esse tipo de ajuste em campanha eleitoral é improvável até porque fidelidade partidária, no Brasil, ocorre via execução de emendas parlamentares que são emendas de investimento, concentradas nos ministérios dos esportes, turismo, integração nacional, cidades, saúde e educação. Cortar investimento público e execução de emendas parlamentares em ano de eleição é correr o risco de ver a sua base se rebelar rapidamente para oposição.
Vamos segurar o custeio? Oba!! Vamos! Mas como?
É claro que todo economista do bem quando fala em cortar gastos fala em despesas de custeio. Mas não é possível cortar esse tipo de despesa no curto prazo. Quando se fala que o governo deve controlar sua despesa é justamente controlar o crescimento da despesa de custeio ao longo do tempo, não de um ano para outro, o que é impossível. Explico.
Do total da despesa primária do governo federal (sem juros), basicamente 90% são despesas obrigatórias que são despesas de custeio e de pessoal. Dos 10% restante algo como 8% é investimento público e, assim, a despesa de custeio passível de corte seria algo como 2% do orçamento, mas mesmo isso seria difícil ainda mais em um governo que quase duplicou o número de ministérios. Como fala o senador Aécio Neves, ainda estamos atrás do Sri Lanka, mas nos esforçando para passar deles.
O grosso da despesa de custeio no Brasil está ligado as funções sociais. Por exemplo, o custeio do governo federal de janeiro a maio deste ano (GND-3 excluindo repartição de receitas), inclusive gasto de previdência do INSS, foi de R$ 253,4 bilhões (ver planilha anexa). Desse total, R$ 224,8 bilhões, 89% do custeio, veio de apenas cinco funções: assistência social (bolsa-família e LOAS), previdência social, saúde, trabalho (seguro desemprego e abono salarial) e educação.
Alguém acredita em cortes nesse tipo de custeio ligado à funções tipicamente sociais em um ano eleitoral? Eu não acredito é por isso que ajuste na despesa de custeio não é possível no curto prazo.
Meu Deus!! O que fazer?
Economistas sejam de esquerda ou de direita, gordo ou magro, alto ou baixo, cabeludo ou careca, novo ou velho, etc. estão pedindo maior controle da expansão do gasto fiscal. Infelizmente, acho até que seria possível se estivéssemos em um final de segundo mandato, o que não é o caso. Forte ajuste fiscal no curto prazo pela análise que fiz acima é impossível.
Assim, só restam duas alternativas. Uma alternativa é tentar fazer o ajuste fiscal na “conversa”, essa estratégia pode até acalmar o mercado, mas não acalma os índices de inflação. A segunda alternativa foi levantada por um ex-ministro da fazenda em debate recente que tivemos na última sexta-feira em seminário de conjuntura da PUC-RJ: o governo aprova mudanças institucionais que sinalizam maior responsabilidade fiscal para próximos anos, independente de quem seja o próximo presidente. Seria uma espécie de Lei de Responsabilidade Fiscal versão II ou a proposta do déficit nominal “zero”.
A dúvida que tenho é se o governo teria gás e vontade política para promover mudanças institucionais nessa área ate porque mudanças institucionais também exigem algumas “maldades” como, por exemplo, rediscutir a regra de reajuste do salario mínimo e mudanças no seguro-desemprego e abono salarial (alguém poderia me explicar qual a lógica do abono salarial?).
Em resumo, não espero ajuste fiscal no curto-prazo nem uma sinalização positiva como sugerida por esse meu colega ex-ministro da fazenda neste e no próximo ano. Tudo isso seria possível se estivéssemos em primeiro ano de mandato ou em um governo no qual o governante não está concorrendo a reeleição. Como nenhum dos casos se aplica, acredito que passaremos por um período de esquizofrenia fiscal – um discurso de austeridade cada vez mais distante da execução orçamentária.
Não precisaríamos estar discutindo agora uma terapia de choque se lá atrás, em 2005, tivéssemos aceito a proposta do professor Delfim Netto e do economista Fábio Giambiagi do déficit nominal “zero” – que seria um plano de ajuste fiscal gradual para dez anos. E o mais interessante ainda é que a ministra que na época criticou o plano por ser rudimentar é presidente de república e namora com a ideia que ela própria taxou como rudimentar como a tábua de salvação de sua política econômica.
Terapia de choque
Foto: http://media.kompasiana.com

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Duas na ferradura, e uma terceira na ferradura, tambem - Celso Ming

O governo consegue persistir no que mais faz na economia: errar no diagnóstico e nas prescrições também...

Sinais contraditórios

12 de junho de 2013 | 20h00
Celso Ming
Nesta quarta-feira circularam informações de que o governo Dilma está disposto a corrigir sua rota em direção a mais responsabilidade fiscal para ajudar a derrubar a inflação. Se for na linha do que foi anunciado nesta quarta, ou seja, de financiamentos de R$ 18,7 bilhões em recursos públicos a juros subsidiados para a compra de sofás e de máquinas de lavar, então essas boas intenções não devem ser levadas a sério. É mais despesa para mais consumo e menos investimento.
O estouro do teto da meta de inflação em meados de 2013 era fato anunciado há meses. Não pode ter sido inesperado para o governo, como as autoridades têm sugerido. Surpresa foi a reação da sociedade, de grande apreensão e cobradora de ação.

Dilma. Mais austeridade? (FOTO: André Dusek/Estadão)
Entre as prioridades da atual administração, nunca esteve entregar a inflação na meta. A ideia era de que, derrubados os juros, estimulado o crédito, garantidos o emprego, o aumento de renda e o consumo, o brasileiro toleraria eventual lambança da inflação.
As coisas não funcionaram assim e, agora, a disparada dos preços se encarrega de corroer a renda do consumidor. Como as adversidades não chegam sozinhas, a inflação sobrevém num momento em que o PIB segue em marcha excessivamente lenta, as contas públicas estão em franca deterioração, o balanço de pagamentos acusa graves avarias preocupantes e o mercado externo de capitais está em maré vazante.
Se nos níveis de 6,5% em 12 meses a inflação já provoca estragos políticos, imagine-se o que pode acontecer nos próximos meses, quando o índice se aproximará perigosamente dos 7%.
É só fazer as contas. Se em junho se confirmar uma evolução do IPCA de 0,32%, como esperada pelo mercado, conforme a Pesquisa Focus do Banco Central, o avanço dos preços em 12 meses atingirá 6,76%. Dificilmente em julho ficará abaixo dos 6,60%. E, se a esticada das cotações do dólar no câmbio interno continuar puxando para cima os preços em reais dos produtos importados, é possível que em agosto a dose se repita.
Além de culparem a crise internacional pelas mazelas da economia, as autoridades da Fazenda até agora vinham repetindo que o refluxo da inflação era questão de tempo e que aconteceria espontaneamente, sem empenho da administração. Repetiam, também, que a alta dos alimentos seria revertida quando as boas safras agrícolas chegassem ao varejo e com a relativa estabilidade das cotações das commodities no mercado internacional. No mais, o governo trataria de acelerar novas concessões, sempre adiadas, de portos, aeroportos, ferrovias, rodovias e petróleo, providência que puxaria os investimentos e daria a sensação de que o governo não estaria parado.
Foram até aqui a aposta e a receita que acabaram desmoralizadas pelos fatos. A única maneira de virar esse jogo é providenciar um choque fiscal. Seria um pacote de decisões de credibilidade que se encarregassem de reequilibrar as contas públicas, hoje a caminho da desordem.
Os sinais emitidos ontem são em sentido contrário, como dito acima. O risco é de que as novas juras de austeridade não passem de recurso para comprar tempo até as eleições. Se a deterioração dos fundamentos da economia não for atacada com credibilidade, os mercados não esperarão, se anteciparão aos fatos. São reações que tendem a desencadear forças ainda mais desestabilizadoras.
CONFIRA:
“Apagão de mão de obra”. O ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, defendeu ontem a criação de incentivos à imigração de profissionais qualificados para suprir o que ele chamou de “apagão de mão de obra”. Seria um jeito de dar oportunidade a tanta gente no exterior que hoje está desempregada.
Deu certo no passado. O Brasil tem uma longa história de sucesso por ter sabido acolher imigrantes da Europa e da Ásia a partir de meados do século 19. Para isso, não basta desburocratizar alguns trâmites. Uma decisão dessas pressupõe a definição de políticas. Até agora, não foi uma questão que o governo Dilma tenha levado a sério.
E os truques? Sem o fim dos truques contábeis usados no final de 2012 pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, para fingir respeito à Lei de Diretrizes Orçamentárias, não há austeridade confiável. Sem isso também não se garante nem o equilíbrio das contas públicas nem o controle da inflação.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Venezuela aumenta o salario minimo: ja vimos esse filme antes e conhecemos o final...

Os venezuelanos talvez não tenham ainda conhecido uma experiência de hiperinflação controlada, que faz parte de nossa história (mais de uma vez aliás), com esse mesmo cenário: o governo aumenta o salário mínimo, os preços nem esperam o reflexo no bolso dos trabalhadores e já começam a subir a ladeira...
Enfim, eles vão descobrir que aumentos de 20% ou mais, produzem o triplo de inflação...
Paulo Roberto de Almeida

Salario mínimo venezolano aumenta a $390

Ayer miércoles 1 de mayo entró en vigencia el aumento de 20 % del salario mínimo mensual para los trabajadores venezolanos, con lo que la remuneración básica se ubica en 2.457,02 bolívares (390 dólares).

De este modo, la jornada diurna se sitúa en 81,90 bolívares (13 dólares), según lo establece el decreto número 30 publicado en la Gaceta Oficial ordinaria número 40.157 del pasado martes 30 de abril.

A partir del próximo 1 de septiembre se producirá un nuevo incremento, de 10%, que llevará el salario mínimo a 2.702,73 bolívares mensuales (429 dólares), y el 1º de noviembre habrá otro ajuste, de entre 5% y 10%, "tomando como referencia el comportamiento del Índice Nacional de Precios al Consumidor (INPC) durante 2013". 

En el primer trimestre del año la inflación varió 7,9 %.

Asimismo, el decreto precisa el mismo porcentaje de aumento para los sueldos de los adolescentes aprendices, de modo que quedan en 1.826,91 bolívares (289,9 dólares) desde ayer y en 2009,60 bolívares (318,9 dólares) desde septiembre.

El nuevo monto del salario mínimo significa también que se incrementan las pensiones y jubilaciones de la Administración Pública y del Instituto Venezolano de los Seguros Sociales (IVSS). 

Maduro anunció el ajuste el pasado 9 de abril, cuando era candidato a la Presidencia. Ayer, Día Internacional del Trabajador, firmó el decreto para la entrada en vigencia del aumento salarial, en medio de una masiva movilización de la clase obrera en el centro de Caracas.
Agencia Venezolana de Noticias (AVN) (Jueves 02/05/2013) 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Back to the Past! To the Past??? Yes... - Rodrigo Constantino

E olha que, não tendo um Bob Zemeckis no comando da economia, temos mesmo de escorregar na manteiga.
Eu também acho que, em matéria de protecionismo comercial, por exemplo, já voltamos aos anos 1970, na esteira da Argentina. Não sei quando a seguiremos em direção aos anos 1930, onde ela já está, em matéria de controle de capitais e de manipulações cambiais...
Back to the past, quick...
Paulo Roberto de Almeida 

ECONOMIA
De volta ao passado
Rodrigo Constantito
O Globo, 19/03/2013

Acelerei a minha máquina do tempo DeLorean e regressei aos anos 80. Às vezes, precisamos mergulhar no passado para prever o futuro.

Um senhor bigodudo era o presidente. Vi na televisão o anúncio de um novo plano econômico, chamado “Cruzado”. Entre as principais medidas, estava o congelamento de preços e da taxa de câmbio. Maria da Conceição Tavares, assessora do Ministério do Planejamento, chorou de emoção diante das câmeras da TV Globo. Literalmente.

A euforia era contagiante. Muitos pensavam que um novo Brasil estava sendo construído, mais justo e mais próspero. Mas a realidade...

Essa ingrata não permite que as leis econômicas se submetam aos caprichos políticos. O congelamento de preços levou à escassez, e nas prateleiras começaram a faltar produtos. O que fazer?

Claro que a culpa só podia ser da ganância dos empresários, esses insensíveis que só querem lucrar. Mas o homem do bigode tinha a solução: caçar bois no pasto! Afinal de contas, não podemos deixar faltar carne no açougue. Há estabelecimentos desrespeitando o preço tabelado? Simples: fiscais do governo para controlar esses perversos!

Alguns economistas coçavam a cabeça, perplexos. Eles sabiam que nada daquilo funcionaria. Não se ignora as leis econômicas impunemente.

Não eram os “desenvolvimentistas” da Unicamp, os mercantilistas ou os adeptos da “teoria da dependência”. Esses tinham receitas parecidas, pensando que o governo é uma espécie de sábio clarividente que pode simplesmente decretar o progresso da nação.

Mas o importante é constatar que havia lucidez em meio a tanta euforia irracional. Infelizmente, tal como Cassandra, seus alertas eram ignorados. A turma estava empolgada demais com o futuro prometido, com a sensação de esperança. Apontar que o rei está nu é estragar a festa de muita gente míope e embriagada.

Após essa experiência nostálgica, retornei ao presente. Liguei a TV e vi que o bigodudo ainda estava lá, com tanto ou mais poder concentrado nele. Vi também que aquela mesma economista com sotaque de Portugal era extremamente respeitada e vista como uma mentora pela própria presidente. “Memória curta dessa gente”, pensei.

Depois notei que nossa taxa de câmbio praticamente não oscila mais, e que a inflação fica acima da meta o tempo todo, mesmo com crescimento pífio da economia. Mas o Banco Central nada faz, preferindo manter a taxa de juros reduzida, claramente por razões eleitoreiras.

Em seguida, vi o ministro Guido Mantega avisando que iria fiscalizar se as desonerações fiscais eram mesmo repassadas para o preço final. Déjà Vu! Tive calafrios na espinha.

Quer dizer que o próprio governo faz de tudo para despertar o dragão inflacionário, estimulando o crédito público, criando barreiras protecionistas, aumentando gastos, reduzindo artificialmente os juros, e depois pensa que vai segurar a inflação com fiscalização?

Qual será o próximo passo? Recriar a Sunab? Fazer uma campanha difamatória contra os empresários? Criar os “fiscais da Dilma”, usando senhoras com tabelas nos mercados? Manipular os índices oficiais de inflação?

É uma visão assustadora, um flashback de um filme de quinta categoria que já conhecemos e sabemos como termina.

Quem não tem idade suficiente ou não tem boa memória, basta olhar para o lado e ver o presente da Argentina. O novo Papa pode ser argentino, mas sem dúvida Deus não o é, caso contrário não permitira que o casal K ficasse tanto tempo no poder causando esse estrago todo.

Mas, pelo andar da carruagem, não poderemos zombar dos “hermanos” por muito mais tempo. O governo petista tem feito de tudo para alcançar as trapalhadas deles. E não adianta culpar fatores exógenos, pois dessa vez não vai colar. O Peru, a Colômbia e o Chile, com modelos diferentes e mais liberais, crescem muito mais com bem menos inflação. Nossos males são “made in Brazil”, fruto da incompetência da equipe econômica e da própria presidente.

Finalmente, liguei o rádio e ouvi um ex-ministro tucano endossando a ideia de que era, sim, preciso fiscalizar os donos dos estabelecimentos, para não permitir aumentos de preços. Depois vi que o PSDB fazia uma campanha não pela privatização, mas pela “reestatização” da Petrobras, quase destruída pelo PT.

Quando lembrei que essa é a nossa “oposição” a este modelo terrível que está aí, peguei minha DeLorean e ajustei a data para 2030, na esperança de que lá teremos opções realmente liberais contra essa hegemonia de esquerda predominante no Brasil atual.

Rodrigo Constantino é economista.