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domingo, 21 de janeiro de 2024

Guerra na Ucrânia: análises e perspectivas, livro de Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Pereira Cabral, Pedro Silva Drummond (Editor)

 Guerra na Ucrânia: Análises e Perspectivas. O Conflito Militar que Está Mudando a Geopolítica Mundial 

Iniciada muito antes do dia 24 de fevereiro de 2022, a guerra na Ucrânia está a mudar o mundo e nossas vidas - se para melhor ou para pior somente o tempo dirá, mas conhecê-la em toda sua complexidade é fundamental para entender e assimilar essas inevitáveis transformações. Essa tarefa não é fácil, pois diante dos enormes interesses econômicos e geopoliticos envolvidos no conflito, tornou-se muito difícil encontrar informações desenviesadas nos grandes meios de comunicação. Com denso conhecimento do assunto não apenas no campo militar mas também no tocante aos meandros da complicada e violenta reviravolta política ucraniana que se inicia na revolução de 2013, ambos os autores desvendam a guerra com uma clareza, rigor factual e simplicidade que tornam muito agradável (e apaixonante) a leitura deste livro. Poucas pessoas conseguiriam explicar esse cenário caótico com tanta maestria e altivez. Trata-se, portanto de um trabalho sério, técnico e, sobretudo, elaborado com dois atributos raros nos dias de hoje: dignidade e respeito aos acontecimentos, sem paixões ou polarizações. Que o leitor extraia lições para os sérios e negligenciados perigos que o mundo atual expõe para a sobrevivência da humanidade.

Do prefácio de Robinson Farinazzo

  • Editora ‏ : ‎ Editora D'Plácido; 1ª edição (28 agosto 2023)
  • Idioma ‏ : ‎ Português
  • Capa comum ‏ : ‎ 494 páginas
  • ISBN-10 ‏ : ‎ 6555898186
  • ISBN-13 ‏ : ‎ 978-6555898187
Adquiri este livro e fiquei muito bem impressionado pelo conteúdo, pois os autores são especialistas em conflitos militares, segurança e estratégias militares. Animam o site História Militar em Debate: https://historiamilitaremdebate.com.br/

Sumário 
Prefácio por Robinson Farinazzo 13 
Introdução 17 
1. As causas históricas da Guerra Russo-Ucraniana 21
     Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
2. O Conflito no Leste Europeu: Um balanço de um mês de operações militares 33 
    Ricardo Pereira Cabral 
3. O Realinhamento Estratégico-Operacional Militar da Rússia diante do Fracasso da Operação de Demonstração de Força 43 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
4. A Marcha da Insensatez 55 
    Ricardo Pereira Cabral 
5. O Grupo Wagner 59 
    Ricardo Pereira Cabral 
6. 45 dias de conflito no Leste Europeu 63
7. As transformações geopolíticas na Europa e o conflito no Leste Europeu 71 
    Ricardo Pereira Cabral 
8. 63º dia da Guerra da Ucrânia 77 
    Ricardo Cabral 
9. Uma abordagem geopolítica sobre Rússia e a Finlândia 81 
    Ricardo Pereira Cabral 
10. O 80º Dia de Operações Russas na Ucrânia 85 
    Ricardo Pereira Cabral 
11. Uma abordagem geopolítica sobre Rússia e a Suécia 93 
    Ricardo Pereira Cabral 
12. As Batalhas em Cidades-Fortificações em Donbass 101 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
13. 90º Dia do Conflito no Leste Europeu 107 
    Ricardo Pereira Cabral 
14. 100º Dias de Conflito no Leste Europeu 113 
    Ricardo Pereira Cabral 
15. 124 Dias de Guerra no Leste Europeu: Contexto Atual e Perspectivas Próximas 121 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
16. A importância estratégica da Batalha da Ilha da Serpente no Conflito do Leste Europeu 135 
    Rodolfo Queiroz Laterza
17. Análise Tático-Operacional dos Fronts de Kharkiv, Kherson e Vuhledar 143 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
18. 160 Dias de Conflito Militar na Ucrânia 151 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Pereira Cabral 
19. O futuro da Ucrânia, segundo Dmitry Medvedev 161 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
20. “Grupo Brave” e o Batalhão “Somália” na Guerra do Leste Europeu 167 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
21. A situação pré-guerra e as perspectivas da Força de Blindados da Ucrânia 171 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
22. Operações de Sabotagem do Serviço de Segurança Ucraniano na Guerra do Leste Europeu 181
    Rodolfo Queiroz Laterza 
23. Algumas considerações estratégicas sobre a ofensiva ucraniana em Kharkhi-Izium 197 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
24. Uma análise sobre o baixo efetivo das unidades de combate russas na Guerra da Ucrânia 205 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
25. 7 meses da Guerra no Leste Europeu 215 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
26. A Ofensiva Ucraniana em Kherson 223 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
27. A VKS e a Defesa Aérea Ucraniana 229 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
28. As operações ucranianas em Kherson 241 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
29. O emprego de UAV pelas Forças Armadas Ucranianas 247 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
30. Os principais drones russos empregados na Guerra da Ucrânia 255 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral
31. As variáveis tático-operacionais na Guerra da Ucrânia e seus desdobramentos políticos e estratégicos 265 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
32. A importância dos sistemas C4ISR na Guerra da Ucrânia 271 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
33. Um balanço das últimas semanas da Guerra na Ucrânia (Dezembro 2022) 283 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
34. As modificações táticas e na estratégia militar russa introduzidas pelo General Segei Surovikin no Teatro de Operações da Ucrânia 289 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
35. Breve análise sobre os ataques de mísseis de cruzeiro e drones kamikaze ao sistema energético ucraniano 295 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
36. As diversas perspectivas das ofensivas da Ucrânia 303 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
37. A Batalha de Soledar 311 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
38. Unidades DRG na Guerra da Ucrânia: Como são usados e o que são? 321 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
39. O que são Companhias Militares Privadas? 329 
    Ricardo Cabral 
40. A PMC Wagner Group: O que realmente são, Características, Perfil, Operacional 333 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
41. Breves considerações sobre a Modernização do MBT T-62M para a Guerra da Ucrânia 345 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
42. Sobre a formação de novas tropas nas Forças Armadas da Ucrânia 353 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
43. Estudo sobre a Batalha de Vuhledar no curso da Guerra da Ucrânia 359 
    Rodolfo Queiroz Laterza 44. Um ano de Guerra na Ucrânia 367 
    Ricardo Cabral e Rodolfo Queiroz Laterza 
45. A Guerra de Drones da Ucrânia contra a Rússia 383 
    Ricardo Pereira Cabral 46. Possíveis Cenários sobre a Ofensiva de Primavera Ucraniana 389 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
47. O Desenvolvimento da Batalha de Avdeevka 397 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
48. Uma análise crítica dos Grupos Táticos de Batalhão do Exército Russo 403 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
49. A Eficácia dos Drones Kamikaze Lancet-3 na Guerra da Ucrânia 415 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
50. A primavera europeia: a ofensiva russa e o contra-ataque ucraniano 421 
    Ricardo Cabral 
51. Análise das Fortificações Russas no Perímetro Operacional da Guerra na Ucrânia 429 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
52. Breve Análise do Ataque de Mísseis à Base de Khmelnytsky e suas possíveis consequências para a Ofensiva Ucraniana 437 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
53. Um primeiro balanço das lições apreendidas da Guerra da Ucrânia 441 
    Ricardo Pereira Cabral 
54. A Batalha de Bakhmut 449 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
55. Análise da Ofensiva de Verão Ucraniana em 2023 465 
    Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral 
56. Cenários sobre o fim do conflito militar na Ucrânia 479 
    Rodolfo Queiroz Laterza 
Agradecimentos e apresentação dos autores e organizador da obra 491

terça-feira, 23 de junho de 2020

Nova edição da Revista Interação - UFSM, Editor José Renato Ferraz da Silveira

A nova edição da Revista Interação já está disponível.




Prof. Dr. José  Renato Ferraz da Silveira

Apresentação 

Vol. 10, nº 02, ISSN 2357-7975 
Julho/Dezembro 2019 

A revista Interação chega ao v.10, n° 02 (2019)

O periódico teve, nessa edição, como Dossiê "União Europeia e Mercosul: interações possíveis". 
A entrevistada dessa edição foi a historiadora e economista, professora Dra. Carmen Lícia Palazzo. Palazzo é pesquisadora de História Cultural, com ênfase em estudos sobre: alteridade; relatos de viajantes; imaginário ocidental sobre o Oriente, em especial, sobre a China e o mundo islâmico. A revista Interação envereda, a partir dessa edição, a tratar – de forma mais ampla e específica - sobre temas culturais e sobre o Oriente, no entanto, sem perder a análise das relações internacionais, nos âmbitos econômicos, sociais, políticos e jurídicos. O erudismo de Palazzo é revelado em três questões fundamentais sobre a relação entre o Ocidente e Oriente. É uma entrevista convidativa à reflexão, crítica e a busca de saber. 
O destacado artigo do nosso Dossiê é Mercosul Social e Participativo: uma revisão das normativas e instâncias criadas de Natanael Gomide Junior. O presente artigo reforça e reitera as constantes contribuições jurídicas ao campo das Relações Internacionais em nosso periódico. O artigo realiza uma revisão sobre as principais normativas e instâncias criadas pelo Mercosul, com enfoque especial para a questão participativa. 
Na seção de Artigos, tivemos 3 contribuições singulares para o momento especial que vivemos no Brasil e no Mundo. 
O primeiro artigo intitulado Interpretação Constitucional: a garantia da supremacia da Constituição de Emerson de Lima Pinto e Mariana Kovara Jung trata de um tema frequente no debate jurídico: a su-premacia da Constituição. Embora haja inúmeros textos e discussões acerca da temática, o presente artigo aborda – de modo retórico – os elementos pertinentes que garantem a supremacia do texto constitucional frente às demais normatizações pertencentes ao ordenamento jurídico. 
O segundo artigo intitulado O caráter transnacional de proteção ambiental de Matheus de Araújo Alves e Luiza Cardoso Boaventura Vinhal demonstra a pertinência do tema ambiental na revista Interação, no Direito Internacional e nas Relações Internacionais. Como diz o texto: “As questões relacionadas ao Direito Ambiental no âmbito internacional estão em constante construção e com cada vez mais importância”. 
O terceiro artigo intitulado Acesso à justiça no Projeto “Escrevendo e Reescrevendo a Nossa História (Pernoh)” de Sandoval Alves da Silva e João Renato Rodrigues Silveira é uma excelente contribuição – principalmente pelo método e metodologia adotada - à revista Interação. O artigo aborda em uma perspectiva expansionista o acesso à justiça, que ultrapassa a ideia de acesso à jurisdição, relatando-se experiências extensionistas obtidas na realização do projeto “Escrevendo e Reescrevendo a Nossa História” (Pernoh), localizado no bairro do Una em Belém (PA). 
Por fim, temos o ensaio Treaties with indigenous people in Canada – a not so serious essay de Felipe Kern Moreira. É um ensaio instigante e provocativo. Como diz Moreira: “No Canadá, existem vários Tratados diferentes com os povos indígenas em relação a diferentes tipos de direitos. O caso dos Tratados com as "First Nations" do Canadá é uma questão de busca de justiça. Na transição da América do Norte colonial para o Canadá moderno, o significado pleno dos Tratados com as nações indígenas foi pelo menos subvertido. Esta afirmação não é um julgamento moral; é uma questão "ipso facto" legal e política”. 
Boa leitura! 
Revista InterAção



terça-feira, 10 de setembro de 2013

Por que gostamos de Historia? Jaime Pinsky

Jaime Pinsky - Por Que Gostamos de História
Julio Daio Borges

Digestivo Cultural, 5/09/2013




Jaime Pinsky é historiador com muito orgulho. Mas é, igualmente, o principal nome por trás da editora Contexto. Jaime Pinsky é, portanto, editor e empresário. Como passou de um extremo ao outro, sem deixar o historiador de lado, e conciliando, ainda, família e trabalho é assunto desta Entrevista. Desde o comércio de seus pais em Sorocaba, e sua ligação ancestral com os livros, passando pela História, e até pela fundação da editora da Unicamp, Jaime Pinsky nos fala de uma vida de realizações, até a Contexto, até seu mais novo livro: Por que Gostamos de História? Como se não bastasse, e sem esquecer seu lado articulista de jornal, nos brinda com impressões sobre as recorrentes "manifestações de junho"... ― JDB

Em Por que Gostamos de História, você conta um pouco da venda de seus pais, em Sorocaba. Como foi nascer um historiador filho de comerciantes? Como você chegou na História?

Mesmo que eu não fosse historiador profissional precisaria recorrer muito à História. Nasci e cresci em um bairro operário de Sorocaba, ao lado de várias indústrias. Os fregueses do meu pai eram, quase todos, trabalhadores têxteis ou das oficinas da então Estrada de Ferro Sorocabana. Apitos das fábricas regulavam meus dias, dias de pagamento dos operários determinavam o fluxo de caixa da loja do meu pai, feriados cristãos e festas judaicas, mais do que o registro dos meses, marcavam o ano para mim.

Compreender o que acontecera com a grande família dos meus pais na Europa (mais de 100 parentes foram trucidados pelos nazistas), entender as greves e os movimentos operários dos amigos do meu pai em Sorocaba, situar-me como ser histórico no meio disso tudo era fundamental. Seria estranho eu não ter me tornado historiador.

Depois, mais para frente, você monta e dirige a editora da Unicamp. Agora, gostaria de saber como o historiador foi se encaminhando para o trabalho editorial?

Quando, muito jovem, e defendi meu doutorado na USP, a Faculdade de Filosofia de Assis, onde eu trabalhava, decidiu publicar, entre outras teses, a minha. Uma gráfica de São Paulo foi encarregada de editar a obra. Foi quando me aproximei do trabalho editorial pela primeira vez (estou falando de livros; já havia colaborado em jornais de Sorocaba, escrito no jornal escolar e fundado um outro chamado A luta estudantil).

Depois disso colaborei com várias editoras como coordenador de coleções, selecionador de obras, conselheiro etc. Quando o reitor da Unicamp decidiu criar a editora da universidade e nomeou um conselho, fui escolhido pelos colegas para ser o diretor-executivo, cargo que exerci por quase 5 anos.

Mais adiante, você funda a sua própria editora, a Contexto. Então, desta vez, pergunto: como o historiador passou a editor e, finalmente, empresário do mercado editorial?

Com a mudança de reitor na Unicamp coloquei o cargo à disposição, permaneci (a pedido dele) mais alguns meses, mas já inoculado pelo vírus da atividade editorial, com um projeto claro na cabeça (aproximar os produtores do saber, principalmente na Universidade, do leitor; promover a circulação do saber) decidi colocar minhas economias no projeto de uma editora própria.

A ideia inicial era formar uma sociedade com colegas da Unicamp e da USP, mas estes preferiram não investir dinheiro ― trabalhando apenas como coordenadores de áreas.

Desta forma instalei a Contexto em minha própria casa, colocando uma máquina de composição em plena sala (em cujos cantos ficavam pilhas de livros recém-chegados da gráfica). Em nenhum momento tive medo, tinha certeza de que o projeto daria certo.

Hoje, como você se divide? Qual Jaime Pinsky prevalece? Sei que equilibrar trabalho intelectual com administração de uma empresa não é para qualquer um. Logo, qual é o seu segredo?

O mundo de hoje permite uma multiplicidade de identidades, desde que elas não sejam contraditórias.

Livre de atividades administrativas na universidade, sem obrigações de aulas, aos poucos deixei de participar de bancas de doutorado e parei de dar pareceres em projetos apresentados aos órgãos financiadores de pesquisa (isso toma muito tempo de quem leva essas tarefas a sério).

Durante alguns anos administrei sozinho a Contexto, mas, com seu crescimento, comecei a procurar um sócio. Depois de cogitar de alguns nomes, decidi convidar, para fazer parte da empresa, meu filho Daniel, que tinha estudado administração de empresas. Ele cuida das áreas comercial e administrativa.

Com isso posso me dedicar mais à área editorial e de produção. Dividimos, é claro, as grandes decisões em todas as áreas.

Ora, a área editorial consiste, primordialmente, em selecionar textos, ler e escolher, sugerir alterações. A editora tem quase 1000 autores, grande parte da nata dos produtores de conhecimento (os que produzem, não os que ficam fazendo fofoca nos corredores das faculdades). É um privilégio trocar ideias com essa gente.

Ainda sou muito convidado para palestras (aceito poucas, sou um pouco preguiçoso), mas com a leitura que faço dos originais, de textos apresentados para tradução, com as conversas que tenho com os autores, acho que sou hoje melhor historiador do que quando estava na ativa dando aulas.

Uma coisa que eu, particularmente, admiro na Contexto é o espírito familiar. Como se fosse uma continuação daquele espírito dos seus pais, que te fizeram participar da loja deles. Gostaria de saber como os Pinsky hoje se distribuem na editora e como preservam a harmonia familiar?

Quando escolhi a carreira acadêmica sabia que se tratava de um trabalho pessoal, não o de um negócio de família. Não imaginava ter familiares ligados à minha atividade profissional. Circunstâncias fizeram com que familiares entrassem na editora.

Mirna, mãe dos meu filhos, participou do projeto inicial da editora, coordenando a área de literatura juvenil, que acabou sendo desativada por conta do nosso divórcio. Daniel, como já disse, me deixa tranquilo com sua capacidade de administrar e sua criatividade na área comercial. Luciana, minha caçula, depois de trabalhar em revistas e jornais relevantes, também optou por trabalhar comigo e agora faz parte da sociedade. Ela é a editora, coordena todo o trabalho operacional. Sua formação de jornalista e historiadora (pela USP) e sua preocupação com a língua, garantem a qualidade final dos textos publicados. E Carla, minha mulher há vinte anos, é uma editora muito eficiente, além de fazer parte do Conselho Editorial interno, que se reúne semanalmente.

A harmonia é resultado de uma postura de respeito mútuo. Sou pai, sou marido, sou avô, mas nas relações de trabalho respeito a opinião de todos, o que é fácil de dizer, mas difícil de fazer. É preciso ter a modéstia de não se achar o único dono da verdade. É muito frequente encontrar pais que se afastam de seus filhos quando estes ficam adultos por não conseguirem lidar com espíritos independentes. Eles perdem muito. Acho que uma das minhas qualidades femininas é ser agregador...

Muitos dos textos de Por que Gostamos de História enfocam atualidades, pois foram originalmente escritos para jornal. Assim, tenho a curiosidade de saber a opinião do historiador Jaime Pinsky sobre a recente onda de protestos que eclodiu no Brasil.

Após mais de quinhentos anos, dos quais apenas alguns em ambiente democrático, ainda presenciamos um divórcio total entre a Nação e o Estado, entre as "autoridades" e a sociedade. Esta deseja que Executivo, Legislativo e Judiciário de fato representem a Nação, o que não ocorre atualmente.

Convulsões como essa poderão ser mais frequentes e mais intensas se aqueles que ocupam o poder não se derem conta de que devem abrir mão de parte de suas vantagens materiais ou simbólicas.

Isto significa democratizar o poder. Isto significa também dialogar de verdade. Isto significa acabar com práticas inconcebíveis em uma democracia, desde o assalto explícito aos cofres públicos até a emissão de passaportes diplomáticos para familiares de políticos ― assim como administração mais transparente e fim de atribuição de cidadania de segunda e até terceira classe para os que não possuem amigos no poder.

A internet tem essa vocação de "biblioteca" ― apesar de, muitas vezes, se aproximar mais da "Biblioteca de Babel", de Borges. Enfim, lindando com a internet todos os dias, você acha que o interesse dos jovens pela História tende a aumentar?

O Ocidente não está mais considerando as religiões como explicadoras do mundo. Enquanto Adão e Eva resolviam o assunto, a História não era tão importante. Agora é necessário recorrer a ela para nos entendermos como seres reais: pessoas que falam determinada língua, têm certo padrão de comportamento, possuem um universo de valores e não outro, e por aí afora.

A internet para mim não significa nada em si. É como se me perguntassem: "E o papel?". Creio que, aos poucos (não sei quanto tempo isso vai levar), vai haver uma depuração e as pessoas não vão mais dizer, idiotamente, que acharam "na internet", mas qual a fonte. Pela rapidez ― e pela frequente leviandade ― com que as coisas são colocadas na internet, fica muito mais difícil selecionar notícias relevantes (e fidedignas) das irrelevantes (e não fidedignas). De resto, notícia não é fato histórico. Temos, portanto, um longo caminho pela frente.

Alguém uma vez disse que a política é a História no dia a dia. Continuando o assunto mais quente do momento, você tem esperança de que as novas ferramentas de comunicação e organização social possam renovar ou mesmo refundar nossa democracia participativa?

A agilidade das ferramentas de comunicação atuais facilita a comunicação, o encontro das pessoas, o questionamento das relações poder/sociedade, o desmascaramento de atitudes populistas de governantes, sem dúvida. Mas a reorganização da Nação tem que ser estruturada a partir de novas formas de diálogo organizado, além da democracia representativa que temos.

Não há como transformar o Brasil em uma imensa ágora, como se estivéssemos vivendo em Atenas, há 25 séculos, em uma sociedade com escravos, cujo trabalho permitia que os cidadãos (só os homens) ficassem vários dias deliberando em praça pública. Mas é possível reforçar e valorizar Conselhos Municipais, organizações de bairro, redefinir o papel do Judiciário e do Legislativo, transformar essa democracia formal que temos em uma democracia real.

Por fim, gostaria que você endereçasse algumas palavras àqueles que nos lêem e que, muito provavelmente, se sentiram inspirados pela sua trajetória. O que dizer ao jovem historiador brasileiro? E ao jovem editor? E ao jovem empresário?

Todos gostam de História, como diz o título do meu livro ― só não gostam os que não tiveram bons professores.

Lembro-me de uma senhora, esposa de um médico famoso, que foi me procurar no intervalo de um concerto no antigo Teatro Cultura Artística. Ela dizia que seu filho desejava fazer faculdade de História e, "ser um Jaime Pinsky". "Queria lhe pedir", disse ela, "que o dissuadisse dessa intenção, pois isso não dá dinheiro", ela acrescentou. Eu indiquei a ela a plateia, cheia de empresários, economistas, administradores, todos profissionais bem sucedidos e lhe disse: "Peça isso a qualquer um, qualquer pessoa da plateia, menos a mim. Eu nunca dissuadiria ninguém de querer ser historiador."

Há dois meses um jornalista de importante órgão de imprensa me entrevistou. No final da entrevista disse estar fazendo doutorado em História. Era, por incrível coincidência (ou não) o filho daquela senhora...

Vivemos o fim da era de Gutemberg. Novas mídias solicitam novos editores. Mas não adianta muito ser um técnico. Conhecer, de modo organizado e coerente, parte do patrimônio cultural da humanidade é fundamental para um editor, cuja função é estruturar e passar adiante esse patrimônio. Saber selecionar, fazer escolhas, adequar é quase um trabalho de professor, estabelecer conexão entre o que a humanidade já produziu e o que o aluno (ou o leitor) conhece.

Quem ficar apenas com a tecnologia poderá ganhar dinheiro, mas não terá nenhuma importância como editor. E editor desimportante é editor dispensável.

Para ir além
Por que Gostamos de História

Julio Daio Borges
São Paulo, 5/8/2013