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quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Governo atrapalha a diplomacia e o Brasil, diz Roberto Abdenur

'Governo coloca amarras em nossa ação no campo internacional', diz ex-embaixador

Diplomata Roberto Abdenur afirma que a posição ideológica do governo limita o papel do Brasil na relação com outros países

O Estado de S. Paulo, 9/09/2019

Ao invés de ampliar a presença do Brasil no espaço internacional, a política externa do governo tem limitado o papel do País no mundo e abalado a relação com outros países. A avaliação é do diplomata Roberto Abdenur, que tem mais de 40 anos de carreira, e chefiou as embaixadas do Brasil em países como Estados Unidos, China, Alemanha, Equador e Áustria. 
"Essa política peca por basear-se em um conteúdo altamente ideológico de extrema-direita", afirmou ao Estado. "Está em curso a dilapidação de um patrimônio político-diplomático". Na conversa, falou ainda sobre a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington e criticou o alinhamento quase automático aos Estados Unidos. "Situa o Brasil em incômoda posição de subalternidade em relação àquele país, em detrimento dos interesses e objetivos próprios brasileiros". 
Abaixo, os principais trechos da entrevista. 

Qual a avaliação do senhor a respeito dos primeiros meses da política externa conduzida pelo ministro Ernesto Araújo e o presidente Jair Bolsonaro?

Estou muito preocupado com o que é uma brutal ruptura com décadas de atuação ativa, pragmática, lúcida, moderada e firme. Política externa se faz com coerência, objetividade, continuidade. Sem isso, o País perde credibilidade e respeitabilidade. 
Está em curso a dilapidação de um patrimônio político-diplomático. 
Essa política externa peca por basear-se em um conteúdo altamente ideológico de extrema-direita. O chanceler deixou isso claro em seu discurso de posse, com referências elogiosas a regimes de direita ou autocráticos, como EUA, Israel, Hungria e Polônia. Mas, embora pregue a importância da “liberdade”, foi incapaz de enaltecer grandes democracias europeias, como Alemanha e França. 
Em outro plano, tiveram forte impacto no Chile declarações agressivas contra a ex-presidente daquele país, que representaram desrespeito à memória do pai de Michelle Bachelet. As declarações evidenciam mais uma vez o caráter altamente ideológico do atual governo, que nutre visão simplista e maniqueísta do mundo exterior, considerando ser “de esquerda” qualquer setor político que não seja de extrema-direita. 
Essa atitude é prejudicial aos interesses do País. Seguramente, o próximo alvo de investidas será o Papa, por causa da realização de um Sínodo sobre a Amazônia, em outubro. O Brasil se colocará assim em posição de confronto com mais de um bilhão de católicos fiéis ao Papa. 

Como o senhor, que chefiou a Embaixada do Brasil em Washington entre 2004 e 2006, vê esse alinhamento quase automático com os Estados Unidos?

Preocupa-me o que possa ser um alinhamento excessivo com os EUA. O chanceler defende a ideia de que o Ocidente está em decadência e que o único país capaz de combater essa tendência são os EUA. Sempre fui contra o antiamericanismo, que se manifestou em alguns segmentos dos governos Lula e Dilma. Da mesma maneira, critico o pró-americanismo, que termina por situar o Brasil em incômoda posição de subalternidade, em detrimento dos interesses e objetivos próprios brasileiros. Isso debilita nosso relacionamento com outras nações. 

Que relações o senhor entende que podem ser prejudicadas a partir desse posicionamento?

Tenho muita preocupação com a falta de perspectivas positivas no relacionamento do Brasil com as democracias europeias, sobretudo Alemanha e França. Estava claro que essas relações seriam difíceis mesmo antes dos problemas com as queimadas na Amazônia. Agora, a situação chegou a um clímax com insultos pessoais entre Macron e o presidente. 
Macron cometeu dois erros sérios: chamar o presidente Bolsonaro de mentiroso e falar da internacionalização da Amazônia, ideia descabida e estapafúrdia. Mas, do outro lado, vimos o presidente reagindo de maneira violenta. Tudo isso me deixa pessimista com relação à viabilidade da ratificação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Em vários países europeus o Brasil está sendo bombardeado por políticos, ambientalistas, acadêmicos, jornalistas, cientistas. E isso sem falar dos poderosos lobbies agrícolas em tais países. 

Qual deveria ser o papel do Brasil no mundo?

A política externa está estreitando e encolhendo os espaços de nossa atuação no plano internacional. Num mundo em vertiginoso e complexo processo de mudanças, o Brasil deveria engajar-se na ampliação do escopo de nossa diplomacia, procurando estreitar nossas relações com todas as partes do mundo, sem preconceitos ideológicos. O que ocorre é justamente o contrário. 
Estão gravemente abaladas nossas relações com os principais membros da União Europeia. Estão prejudicadas nossas relações com palestinos e árabes. Não temos planos para aproximação com a Ásia, hoje a região mais dinâmica do mundo. E a África parece não existir na cabeça dos responsáveis pela política externa.
É incrível que o chanceler veja com maus olhos as próprias Nações Unidas, que considera ser fonte de riscos para nossa soberania. O governo está colocando em torno de si amarras que tolhem nossa capacidade de ação no campo internacional. 

Como avalia a possibilidade de o presidente Bolsonaro indicar o filho Eduardo para assumir a Embaixada em Washington? Um levantamento do 'Estado' mostrou que o Senado resiste à possibilidade. 

Creio tratar-se de nepotismo. Há quem diga que o cargo é político, mas as embaixadas são órgãos do Ministério das Relações Exteriores. Ou seja, fazem parte do Poder Executivo. São órgãos administrativos, o que configuraria nepotismo. O deputado vem se empenhando na conquista de apoios no Senado. Procura fazer valer seu acesso às autoridades norte-americanas como argumento a seu favor. A situação precisa, contudo, ser vista em contexto mais amplo. 
Eduardo é ainda muito jovem e inexperiente, nunca participou de alguma instância importante de negociação, e poderia ter dificuldades em dar conta de todo o amplíssimo leque de atividades que tem um embaixador nos EUA. É preciso saber conectar-se e dialogar com múltiplos setores do governo, do Congresso, dos meios empresariais e financeiros, das universidades e da imprensa.  

Como enxerga essa escolha em um ano que antecede as eleições nos EUA?

O deputado cometeu erro grave ao fazer-se fotografar com um boné intitulado “Trump 2020”. O presidente também já manifestou apoio à reeleição de Trump. Esses gestos naturalmente caem muito mal junto ao Partido Democrata, que não só é oposição, mas também parte do sistema de governo. Os democratas têm agora poder efetivo, na medida em que controlam a Câmara dos Deputados, de onde atacam duramente Trump e suas políticas. 
E estão desde engajados na disputa pela indicação de quem será o adversário de Trump nas eleições. A imagem do governo Bolsonaro não é boa entre os democratas, o que requer por parte do embaixador brasileiro especial esforço de contato e diálogo com essa força política. 
No momento, o principal componente da disputa entre os pré-candidatos nos EUA são as mudanças climáticas. O eleitorado democrata e muitos independentes estão obcecados com esse tema – o que redundará em posturas críticas ao Brasil. Fará falta um embaixador capaz de enfrentar esse desafio, apresentando com habilidade nossos pontos de vista.

Como vê o Brasil em meio à guerra comercial entre Estados Unidos e China, os dois maiores parceiros econômicos do país?

O Brasil está sob forte pressão americana para distanciar-se ou esfriar sua relação com a China. Faz parte disso a pressão para que o País boicote a empresa chinesa Huawei na instalação da tecnologia 5G. O que ocorre no momento, e certamente se estenderá ainda por muito tempo, é uma confrontação estratégica, pela qual os EUA querem conter o desenvolvimento e a projeção externa da China. 
Na campanha, o presidente Bolsonaro cometia um erro ao dizer que a China não estava comprando no Brasil, mas sim estava comprando o Brasil. Escolheu a China como bode expiatório. Fez em relação à China o que outrora faziam as esquerdas com a denúncia do “imperialismo ianque”. Felizmente o presidente parece ter recuado, aceitando convite para visita oficial a Pequim. Isso é positivo, assim como foi positivo que o vice-presidente, general Mourão, tenha dito firmemente que o Brasil não cederia a pressões contra a Huawei. 
Mas ficou no ar certa dúvida quando o chanceler afirmou que o assunto estava “sob consideração” do governo, insinuando a possibilidade de que o Brasil ceda às pressões norte-americanas. Esse duro embate entre Washington e Pequim ainda terá muitos desdobramentos, com consequências negativas para a comunidade internacional, e por extensão para o Brasil. É recomendável manter equidistância entre os dois.  
Faz todo sentido aproveitarmos o bom momento da relação com os EUA para novos progressos no diálogo, cooperação e intercâmbio. Mas isso não deve em nada prejudicar nosso relacionamento com a China.  

A reação internacional à situação na Amazônia é considerada por observadores como a maior crise diplomática recente do país, com o embate direto entre o presidente e o líder francês, Emmanuel Macron. Como reverter os danos?

É preciso uma estratégia clara de reação. Em primeiro lugar, a tomada de medidas concretas e efetivas para combater os incêndios. O Brasil enfrentará situação delicada no contexto da nova sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, que se inicia nos próximos dias. O próprio Secretário-Geral da ONU afirmou a importância da abordagem do assunto durante a reunião. Haverá por parte de diversos países numerosas e enfáticas expressões de interesse e preocupação com o assunto. 
Haverá também críticas às ações e posturas do governo brasileiro. É provável que se recomende a criação de algum esquema ou mecanismo para o acompanhamento de riscos para a sobrevivência da floresta. Talvez surjam ofertas de apoio político, material ou financeiro para medidas que nosso governo tome em defesa da Amazônia. 
O governo brasileiro deve ser muito firme na reafirmação de sua soberania, mas não convém colocar-se em postura de confrontação com boa parte da comunidade internacional. 
Precisamos ter jogo de cintura, e mostrar habilidade, serenidade e moderação em face dos desafios. Convém lembrar que nos anos 90 houve uma primeira iniciativa do G-7 de apoio aos esforços de preservação da floresta. 
Sob liderança da Alemanha, foi lançado o chamado PPG-7, programa voltado para a defesa da floresta amazônica e também da Mata Atlântica. O governo da época, em vez de rechaçar a iniciativa, resolveu acolhê-la. Em 17 anos foram gastos mais de 460 milhões de dólares, com resultados satisfatórios para todas as partes envolvidas. 

Como o senhor vê as últimas declarações do presidente a respeito das eleições argentinas?

Estou espantado com os insultos com os quais o presidente se referiu a Alberto Fernandez e às forças políticas que o apoiam, quando é evidente que será ele o próximo presidente do país vizinho. A Argentina é parceira inevitável e indispensável, o terceiro mercado para nossas exportações, nossa sócia no Mercosul. É de alta importância a preservação de atmosfera de diálogo e entendimento entre os dois países. 
Quando ocorre um entrevero entre dois chefes de governo, o papel natural de um chanceler é o de botar panos quentes, esfriar os ânimos, abrir canais de interlocução junto aos meios diplomáticos e também políticos do outro país. Mas o ministro Araújo resolveu juntar-se ao presidente. 
É impressionante que as duas maiores autoridades de nossa política externa ataquem dessa maneira o futuro governante da Argentina. O que será das relações bilaterais ao impacto de tais declarações? O Brasil chegou ao ponto de ameaçar sair do Mercosul caso Fernandez viesse a “fechar” a Argentina. Isso seria um tiro no pé, pois significaria nossa saída do recém-acertado acordo entre o Mercosul e a União Europeia. E representaria duro golpe no Mercosul. 

Quem foram os embaixadores do Brasil nos EUA desde a redemocratização

Caso seja nomeado para a embaixada em Washington, Eduardo Bolsonaro se tornará a primeira pessoa sem carreira na diplomacia a assumir o posto desde o fim da ditadura militar

A possível indicação de Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do presidente Jair Bolsonaro, como embaixador do Brasil nos Estados Unidos pode quebrar uma tradição dentro do Itamaraty, desde a redemocratização, de ter na embaixada em Washington, sempre um diplomata de carreira.  
Desde o governo de José Sarney, o primeiro após a ditadura militar, todos os ocupantes do cargo saíram do Instituto Rio Branco, o centro de formação de diplomatas do Itamaraty. 
Veja abaixo um breve perfil de cada um deles.  

Marcílio Marques Moreira

Período: 23/11/1986 a 24/08/1991
Presidente: José Sarney 
Primeiro embaixador brasileiro nos EUA após a ditadura militar, Moreira cursou Direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e fez pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Georgetown, em Washington. Em 1954, concluiu o curso de preparação à carreira de diplomata do Instituto Rio Branco. 
Foi secretário na embaixada do Brasil em Washington, vice-presidente do Unibanco, diretor financeiro do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre outras ocupações, antes de ser nomeado embaixador nos EUA, cargo que ocupou entre 1986 e 1991, quando deixou a função para ser ministro da Fazenda de Fernando Collor. 

Rubens Ricupero

Período: 25/08/1991 a 25/08/1993
Presidente: Fernando Collor de Mello 
Formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), Ricupero ingressou no Instituto Rio Branco em 1958. Foi um dos primeiros diplomatas a trabalhar em Brasília, onde foi atuar, em 1961, como oficial de gabinete do ministro das Relações Exteriores, Afonso Arinos. Com uma longa carreira diplomática, também deu aulas de Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB) e no próprio Instituto Rio Branco. 
Foi assessor internacional do deputado e presidente eleito Tancredo Neves e assessor especial do presidente José Sarney. Nomeado por Fernando Collor como embaixador em Washington em 1991, permaneceu no cargo até 1993, quando foi indicado pelo presidente Itamar Franco ao Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal. Também ocupou por cinco meses o Ministério da Fazenda de Itamar Franco. Ricupero falou ao Estado sobre a possível indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington, dizendo que seria algo "sem precedentes na tradição diplomática do País" 

Paulo Tarso Flecha de Lima 

Período: 12/11/1993 a 26/05/1999
Presidente: Itamar Franco 
O mineiro Paulo Tarso Flecha de Lima, após de formar em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Brasil - atual UFRJ -, no Rio de Janeiro, em 1955, ingressou na carreira diplomática por concurso direito. Realizou o curso de aperfeiçoamento do Instituto Rio Branco e integrou a equipe do presidente Juscelino Kubitschek como oficial do Gabinete Civil. 
Construiu uma longa carreira na diplomacia, servindo em países como Itália, Uruguai, Argentina, Iraque, Irã, entre outros. Foi nomeado embaixador em Londres, em 1990, e em Washington, em 1993. Em 1999, assumiu a embaixada brasileira em Roma, onde ficou até 2001. Com a tríade Londres-Washington-Roma, passou por quase todo o “Circuito Elizabeth Arden”, jargão na diplomacia que se refere ao conjunto das embaixadas mais prestigiadas no meio: Londres, Washington, Roma e Paris.  

Rubens Antonio Barbosa

Período: 11/06/1999 a 31/03/2004
Presidente: Fernando Henrique Cardoso 
Após se formar diplomata no Instituto Rio Branco em 1960, graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro. Em 1971, concluiu mestrado na London School of Economics and Political Science. Ao longo de sua carreira diplomática, fez parte da delegação brasileira em inúmeras edições da Assembleia Geral das Organização das Nações Unidas (ONU) e em missões internacionais, mediando principalmente a relação do Brasil com países socialistas europeus, como Romênia, Alemanha Oriental, Bulgária, Hungria e a antiga União Soviética. 
Em 1994, assumiu a embaixada brasileira em Londres, onde ficou até 1999, quando foi nomeado embaixador em Washington. Após deixar a embaixada, ocupou o cargo de presidente de conselhos como o de comércio exterior da FIESP e da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. 

Roberto Pinto Ferreira Abdenur

Período: 02/04/2004 a 29/01/2007
Presidente: Luiz Inácio Lula da Silva 
Formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e mestre em economia pela London School of Economics and Political Science, ingressou na carreira de diplomata em 1964. Foi cônsul-adjunto em Londres, integrou a delegação brasileira em diversas reuniões da Assembleia Geral da ONU e foi coordenador de assuntos econômicos e comerciais da Secretaria Geral das Relações Exteriores antes de atingir o posto de ministro de primeira classe, o mais alto da carreira diplomática. 
Foi embaixador no Equador (1985 a 1988), na China (1989 a 1993), na Alemanha (1995 a 2002) e na Áustria (2002 a 2004), até ser nomeado embaixador em Washington por Lula.         

Antonio de Aguiar Patriota

Período:21/02/2007 a 20/10/2009
Presidente: Luiz Inácio Lula da Silva 
Bacharel em filosofia pela Universidade de Genebra, ingressou no curso de preparação de diplomatas do Instituto Rio Branco em 1978. Diplomata de carreira, atuou na delegação brasileira permanente em Genebra, Pequim e Caracas e ocupou cargos no Itamaraty, como o de chefe de gabinete do então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. 
Foi o segundo embaixador em Washington nomeado por Lula, sucedendo Roberto Abdenur. Deixou o cargo em 2009 para assumir a secretaria-geral do Itamaraty. Em 2011, assumiu o posto de ministro das Relações Exteriores do governo Dilma. 

Mauro Luiz Iecker Vieira

Período: 11/01/2010 a 31/12/2014
Presidente: Luiz Inácio Lula da Silva 
Após se tornar bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense, ingressou no curso de preparação à carreira de diplomata do Instituto Rio Branco em 1973. Construiu carreira ocupando cargos nos ministérios das Relações Exteriores, de Ciência e Tecnologia e da Previdência e Assistência Social. Entre 1995 e 1999, foi ministro-conselheiro na embaixada brasileira em Paris. 
Após ser chefe de gabinete de Celso Amorim no Ministério de Relações Exteriores, foi nomeado, em 2004, embaixador em Buenos Aires, onde ficou até 2010, quando passou a ocupar o cargo de embaixador em Washington. Em 2015, saiu da embaixada nos EUA e assumiu o Itamaraty no governo de Dilma Rousseff. Ao assumir a presidência em 2016, Michel Temer nomeou Mauro Vieira para o cargo de representante permanente do Brasil na ONU. 

Luiz Alberto Figueiredo

Período: 07/05/2015 a 05/09/2016
Presidente: Dilma Rousseff 
Outro ministro das Relações Exteriores que foi embaixador nos EUA, Luiz Alberto Figueiredo graduou-se pelo Instituto Rio Branco em 1979. Chefiou diversas delegações brasileiras em conferências internacionais sobre temas ambientais, com forte atuação nas discussões sobre mudanças climáticas e sustentabilidade. Durante o governo de Dilma Rousseff, foi representante permanente do Brasil junto à ONU e ministro das Relações Exteriores. Serviu como embaixador nos Estados Unidos entre 2015 e 2016, antes de assumir a embaixada em Lisboa, onde está até hoje. 

Sergio Silva do Amaral

Período: 05/09/2016 a 03/06/2019
Presidente: Michel Temer 
O mais recente embaixador nos EUA, Sergio Amaral, é formado em Direito pela USP e tem pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Paris I. Antes de ser embaixador em Washington, ocupou as embaixadas de Londres e Paris, além de ter sido professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. 
Na administração pública, Amaral ocupou cargos como os de Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente, Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República e porta-voz do presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem também foi ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Reflexão no meio da madrugada: o desmantelamento do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Reflexão no meio da madrugada: o desmantelamento do Brasil


Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: registro de reflexões; finalidade: organização da resistência]


O Brasil chegou a um ponto crítico de sua desagregação institucional – estimulada, produzida, incrementada pela própria Presidência da República, ainda que involuntariamente, uma vez que o personagem principal é incapaz de conceber e implementar qualquer plano lógico ou racional – que se aproxima daquilo que se chama tipping, ou turning point. Ou seja, avançar para uma nova etapa, que só pode ser a da degradação completa do país, mais até do que ele já foi diminuído, politicamente, diplomaticamente, pelos dizeres e ações do personagem indizível.
Nem os partidos, ou congressistas, nem as FFAA ou os militares individualmente, ou determinadas corporações influentes na estrutura de poder – servidores públicos de alto coturno, corpos organizados da burocracia pública, OAB e seus outros equivalentes da vida civil – poderão inverter uma marcha inevitável para a desestruturação completa da vida política, e do funcionamento das instituições normais que poderiam representar, aos olhos dos estrangeiros, um país dotado de um governo responsável e aceitável para interações no plano diplomático. No momento atual, o Brasil virou um pária na comunidade internacional (e piorando...).
A próxima fronteira da degradação institucional se situa no STF, ironicamente o único corpo não eleito encarregado de dirimir conflitos em última instância, e que se tem revelado uma instância mais do que duvidosa de estabilidade política.
Desta vez, nem as FFAA, nem algum comandante militar poderá resolver a questão com um tweet, nem o Congresso parece capaz de superar o próximo turning point.
As forças corporativas, e as da sociedade civil, se são de verdade forças, o que duvido, parece não terem ainda percebido que o Brasil se aproxima de um ponto de não retorno em sua degradação institucional, não definitiva, claro, pois o país não vai acabar: apenas vai afundar na modorra e na deterioração lenta, até pelo menos 2022, se não terminar antes, num sentido ou noutro.
Espero, pessoalmente, contribuir com um esforço de reflexão e de diagnóstico do tempo presente, como forma de preparar prescrições para um novo tempo que virá, mais cedo ou mais tarde. O tempo é de resistência e de sobrevivência, até que novas forças se organizem para a recuperação necessária.
Estarei presente, atento e produtivo, na medida e no limite das minhas possibilidades, que se situam inteiramente no terreno intelectual.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3/09/2019

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Colapso do governo Bolsonaro? - José Augusto Guilhon de Albuquerque

A ROTA DO COLAPSO TEM RETORNO?

DUAS OU TRÊS COISAS SOBRE A INSTABILIDADE DO GOVERNO
Em meu último comentário, de 15 de agosto, tentei mostrar que a instabilidade do presidencialismo brasileiro, no atual período democrático, levou ao colapso metade dos oito presidentes em poucos anos de mandato. Um breve estudo das variáveis associadas ao exacerbamento da instabilidade intrínseca ao regime de governo mostrou que, todas as vezes em que a ocorrência de um lapso grave da presidência se somou à perda da maioria governativa, à formação de uma maioria de veto capaz de impor um processo de impeachment, ao encastelamento do Presidente e a uma comunicação dirigida exclusivamente ao seus crentes mais fiéis, o colapso foi inevitável.
Levando em conta apenas esses fatores, o prognóstico de um mandato sem acidentes de viagem seria muito pessimista, sobretudo considerando-se que o atual presidente abriu mão, em alguns meses, da credibilidade que os demais levaram alguns anos para perder. Daí o título “Colapso à vista?”, que deu a entender, a alguns leitores, que eu poderia estar prescrevendo um impeachment. Não! digamos que o título mais adequado deveria ter sido: “Colapso no horizonte?” 
Isto, até a semana passada, com a internacionalização da crise da tempestade de fuligem que, para muitos brasileiros alcançados por sua trajetória, evocou o fim do mundo. Teria invocado o fim de um mandato? 
No comentário anterior, não haveria espaço para acrescentar uma dimensão essencial do processo político: a ação presidencial, isto é, o modo como o Presidente – juntamente com seu inner sanctum – opera sua relação com as instituições e os diferentes setores da sociedade, em outras palavras, seu modus operandi.
Ora, o atual presidente vem mostrando, de modo sistemático, que não possui as habilidades necessárias para entender problemas políticos, diagnostica-los, avaliar alternativas para sua solução, adotar uma política a respeito, e implementa-la. Diante de um problema, de qualquer natureza, o atual presidente elege um culpado, individual ou genérico, e o ataca com insultos e acusações por mais remotamente ligadas que sejam ao problema.
O presidente age como se os problemas servissem para incitar sua base fundamentalista a manter uma polarização radical contra os infiéis. E, apenas nesse sentido, vem dando certo. 
Mas agora ele foi longe demais. Diante do problema criado por seu ministro do meio ambiente, que tratou com descaso os governos da Alemanha e da Noruega sobre a questão do Fundo Amazônia, o presidente entrou no modo de Cruzada e partiu para o ataque, recrudesceu quando os dados do Instituto de Pesquisas Nucleares não lhe agradaram e, diante da fuligem apocalítica que assustou os brasileiros e o mundo todo, atacou governos, instituições, supostos terroristas e incendiários.
Foi longe demais, porque levou o País a um isolamento político inimaginável, destruiu décadas de esforços para manter um perfil alto nas questão climáticas e ambientais e, no espaço de algumas horas, jogou no colo dos piores inimigos de nossa principal fonte de comércio exterior, a agropecuária, argumentos feitos de encomenda para fundamentar suas táticas protecionistas.
O panelaço na noite de seu pronunciamento em rede nacional, uma forma de manifestação geralmente restrita aos bairros de classe média alta, atesta que seu apoio no voto de direita e centro direita está-se desgastando. Aos olhos do agronegócio, o que parecia trunfo, é visto agora com receio, porque a recuperação de sua credibilidade externa sofreu um golpe quase letal. E cada vez que o presidente e seu ministro do meio ambiente abrem a boca, mais se repetem as doses de arrogância e hostilidade contra nossos parceiros comerciais e políticos, e mais inimigos se mobilizam contra o País.
Até quando as ruas e o legislativo assistirão em silêncio a essa tragédia?

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Inicia-se o boicote a produtos brasileiros: marcas de luxo suspendem compras

Como diria um filósofo, "as consequências sempre veem depois..."
Alguns jornalistas me perguntam se eu acho que o presidente tem alguma estratégia, por trás de suas tomadas de posição, sempre contudentes.
Eu digo que não, que por vários outros motivos, eu penso que o presidente não tem estratégia nenhuma, simplesmente porque o homem não pensa, ponto.
Ele é pura reação: possui instintos primitivos, e deixa esses instintos florescer impunemente (ou com prejuízos para terceiros, como estamos vendo agora).
Ou seja, não há NENHUMA ESTRATÉGIA, porque é impossível para um indivíduo de tão baixa reflexão, conhecimento ou ponderação pensar qualquer coisa de forma ordenada. É só confusão.
Ou seja, ele tem "estilo", se essa nobre palavra pode ser usada: uma atitude agressiva, confrontacionista, sempre atacando supostos inimigos, se contentando com sua família, seu clã, sua tribo, seus asseclas, e seus seguidores, a maior parte tão desmiolados quanto ele. Ao manter essa atitude de ataque, de desrespeito, de choque, ele acha que vai manter unida a sua base e continuar gozando da onda de apoio que teve para se eleger.
Como ele não pensa, não se deu conta que a sociedade já o rejeitou.
Ou ele é contido por generais mais inteligentes, ou por uma junta médica que o declare insano, ou do contrário ele vai continuar acirrando o cenário político no Brasil até ser expelido para fora de onde nunca deveria ter estado, ou entrado.
Infelizmente, para todos nós, ele será meio contido, e assim vamos nos arrastar penosamente em direção a 2022, com prejuízos para todo o Brasil e os brasileiros.
Enfim, nada que os argentino (e alguns outros povos) já não tenham conhecido.
Decadência não é só um conceito para elegantes digressões acadêmicas.
Se os brasileiros ainda não perceberam que o Brasil está decadente, num estado pré-falimentar, é melhor acordar agora. Sejam bem-vindos à realidade.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de agosto de 2019

Reação a Bolsonaro: mais de 18 marcas, como Timberland, Vans e Kipling, suspendem compra de couro brasileiro

Marcas internacionais como Timberland, Vans e Kipling suspenderam a compra de couro brasileiro. A decisão das marcas é uma reação à devastação da Amazônia promovida pelo agronegócio com incentivo de Jair Bolsonaro. Não se sabe ainda o prejuízo que a decisão acarretará nos negócios do setor, mas a repercussão da decisão de grifes globais representa mais um duro golpe no governo Bolsonaro em todo o mundo

(Foto: Retuters | Reprodução)
Marcas internacionais como Timberland, Vans e Kipling suspenderam a compra de couro brasileiro.  A decisão das marcas é uma reação à devastação da Amazônia promovida pelo agronegócio com incentivo de Jair Bolsonaro.
Não se sabe ainda o prejuízo que a decisão acarretará nos negócios do setor, mas a repercussão da decisão de grifes globais representa mais um duro golpe no governo Bolsonaro em todo o mundo.
"Recentemente, recebemos com muita preocupação o comunicado de suspensão de compras de couros a partir do Brasil de alguns dos principais importadores mundiais. Este cancelamento foi justificado em função de notícias relacionando queimadas na região amazônica ao agronegócio do país", disse o presidente da CICB, José Fernando Bello, no documento enviado pela entidade ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. 

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Os brasileiros elegeram um inepto - Editorial Estadão

Popularidade em queda

É improvável que o presidente Jair Bolsonaro receba o resultado da pesquisa CNT/MDA como um sinal de alerta sobre sua forma de governar

Editorial O Estado de S.Paulo, 27/08/2019
A nova pesquisa CNT/MDA, divulgada ontem, mostrou que mais da metade dos brasileiros – 54% – desaprova o desempenho pessoal de Jair Bolsonaro. É a primeira vez que esse patamar majoritariamente negativo em relação à atuação do presidente da República é atingido. 
A avaliação do governo tampouco é alvissareira. Dobrou o porcentual dos que o classificam como “ruim ou péssimo”, saltando de 19% em fevereiro para 39% em agosto. No início do ano, de acordo com a mesma pesquisa, 39% dos entrevistados consideravam o governo “ótimo ou bom”. O número de satisfeitos caiu para 29% em agosto. 
Esses resultados são particularmente preocupantes porque Jair Bolsonaro tem apenas oito meses de mandato e a curva histórica das pesquisas realizadas no período lhe é bastante desfavorável. Em outras palavras: à medida que o tempo passa e o presidente é instado a agir diante das mais variadas questões que lhe são postas, cada vez mais brasileiros parecem se dar conta de que à frente do governo está alguém inapto para apresentar as soluções para os graves problemas nacionais. 
Para qualquer governante minimamente sensato e cioso de seu papel numa República democrática, pesquisas de opinião deveriam servir de base para uma reflexão honesta sobre os rumos do governo. Eventuais percepções negativas da sociedade deveriam ser tomadas como sinais de alerta. No entanto, o presidente Jair Bolsonaro não tem se notabilizado por ser um arguto leitor dos vários sinais emitidos pela população. Ao que parece, optou por fechar-se em suas próprias convicções e preconceitos e fazer deles o critério único para seu processo de tomada de decisão. Não surpreende, portanto, que a opinião pública reaja negativamente. 
Se a pesquisa CNT/MDA diz muito sobre o desempenho do presidente Jair Bolsonaro, diz igualmente sobre a abissal distância que separa os fatos e a sua percepção pela sociedade. O levantamento mostrou que 31,3% dos respondentes avaliam que a melhor área de atuação do governo é o combate à corrupção. Ora, se há uma área hoje em que o presidente Jair Bolsonaro tem sido criticado com bastante ênfase é justamente o combate à corrupção. O presidente tem sido pessoalmente acusado de usar o poder do qual está revestido para interferir na administração da Polícia Federal, da Receita Federal e de órgãos de controle como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), agora vinculado ao Banco Central. 
Por trás de todas essas ações do governo – particularmente do presidente Jair Bolsonaro – estaria uma tentativa de dificultar a apuração de supostos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e outros ligados às atividades de milícias no Rio de Janeiro que teriam sido cometidos por membros de seu círculo mais próximo, incluindo membros de sua família. 
É curioso ainda que 8% dos respondentes avaliem como uma das melhores práticas do atual governo a política de privatizações, já que são escassas as estatais privatizadas na gestão de Jair Bolsonaro. Ao que parece, intenções ou meros comunicados são tomados como fatos consumados por uma parcela da população. Isso é um perigo porque quanto menor a capacidade da sociedade de discernir o que são fatos – e seus desdobramentos na vida prática da Nação – e o que são versões, mais sujeita à manipulação ela estará. 
É improvável que o presidente Jair Bolsonaro receba o resultado da pesquisa CNT/MDA como um sinal de alerta sobre sua forma de governar. Um sinal de que fora eleito não apenas pelo nicho de apoiadores mais aguerridos de sua agenda extremada, mas por uma parcela mais ampla de brasileiros há muito descontentes com os desmandos dos governos do PT e ávidos por um governo que resgatasse os valores republicanos perdidos em nossa história recente. É de esperar que Jair Bolsonaro continue a crer que sua eleição representou tamanha ruptura com a “velha ordem” que a ele é dado governar desconsiderando o conjunto de brasileiros, que nem sempre endossam suas ideias. Resta saber por quanto tempo durará a ilusão.

sábado, 24 de agosto de 2019

Minha exoneração nas páginas da imprensa francesa, em março - Les Echos

Não havia visto esta matéria, agora enviada por um amigo na Europa.
Em francês minha exoneração fica mais curta: limogé.
Excelente: eu teria ficado deprimido em servir uma administração esquizofrênica.
Paulo Roberto de Almeida

Climat de chasse aux sorcières au Brésil

ON EN PARLE À SAO PAULO. Le Brésil enregistre une forte montée de l'intolérance et de la censure, deux mois après l'arrivée au pouvoir de Jaïr Bolsonaro.

Les Échos,  le 06/03/2019


Un journaliste d'opinion censuré, un diplomate limogé, une spécialiste de la sécurité publique congédiée, une économiste menacée… Le climat d'intolérance s'alourdit au Brésil, et la bataille n'a pas connu de trêve pendant le Carnaval. Bien au contraire…
Première salve : des hackers piratent le blog d'un journaliste d'opinion, Reinaldo Azevedo. A l'origine de la polémique, la permission accordée à  Lula de sortir quelques heures de sa prison afin d'assister aux obsèques de son petit-fils, âgé de sept ans, victime d'une méningite. Un dispositif prévu par la loi brésilienne, mais qui a déclenché l'ire des militants d'extrême droite.
Avec sa verve habituelle, le député et fils de l'actuel président, Eduardo Bolsonaro, tire à boulets rouges sur Lula. « Des propos à vomir », s'insurge Reinaldo Azevedo, pourtant farouche adversaire de Lula dans le passé. Mais très vite, son blog est attaqué et censuré. « En près de quatorze ans du PT [Parti des travailleurs, de Lula] au pouvoir, on n'a jamais vu ça. Et nous ne sommes qu'au troisième mois du gouvernement Bolsonaro », s'indigne l'éditorialiste, notamment pour « Folha de S.Paulo », pourtant très marqué à droite.
Deuxième salve : Sérgio Moro, ministre de la Justice et de la Sécurité publique, retire une invitation qu'il avait adressée à une spécialiste des questions de sécurité, Ilona Szabó, pour intégrer un conseil de politique criminelle. Motif : la pression de l'extrême droite sur les réseaux sociaux, et leur influence sur le président Jair Bolsonaro lui-même. Sergio Moro ira jusqu'à présenter des excuses publiques à Ilona Szabó, qui déplorera, de son côté, « la victoire de la polarisation et la défaite du pluralisme ».

Un diplomate démis de ses fonctions

C'est un diplomate de carrière qui a fait les frais de la troisième salve. Sur fond de chasse aux sorcières, l'ambassadeur Paulo Roberto de Almeida a été démis de ses fonctions de directeur de l'Institut de recherche des relations internationales (IPRI). Son crime ? Avoir reproduit sur son blog des articles qui ont déplu au chef, le nouveau ministre des Affaires étrangères, Ernesto Araújo.
« La répression existe, et frappe ceux qui pensent autrement », affirme Monica de Bolle.  Cette économiste brésilienne, qui dirige le centre d'études latino-américaines à l'Institut John Hopkins de Washington, a elle-même été la cible de nombreuses menaces sur Twitter. Elle dit avoir identifié une partie de ses agresseurs, issus des milieux financiers de São Paulo. Et pour Monica de Bolle comme pour Reinaldo Azevedo, le plus inquiétant est le climat d'impunité qui règne au Brésil.

domingo, 18 de agosto de 2019

O herdeiro rebaixado: a indicação de um filho para embaixador em Washington - Paulo Roberto de Almeida


O herdeiro rebaixado: filho indicado para a embaixada em Washington


Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: entrevista sobre nomeação para embaixada; finalidade: Livres]


O texto abaixo deve ter sido composto com base em declarações minhas obtidas por meio de entrevista telefônica concedida no dia 12 de julho, em plena viagem de Brasília a Uberaba, a um encarregado de comunicações do Livres – agrupamento do qual sou membro do Conselho Acadêmico – sem que eu o tivesse registrado entre as minhas produções próprias, e sequer tomado o devido conhecimento em tempo hábil, uma vez que ele foi publicado no site do Livres no mesmo dia 12/07 (neste link: https://www.eusoulivres.org/artigos/o-herdeiro-rebaixado-por-paulo-roberto-de-almeida/). Existem imprecisões no teor do texto, uma vez que fui tomado de surpresa e respondi sem uma precisa verificação dos antecedentes.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18/08/2019


A escolha de Eduardo Bolsonaro para a embaixada nos Estados Unidos não é apenas indecorosa. Ela é também um desastre do ponto de vista político, porque Jair Bolsonaro perde seu único herdeiro, rebaixando-o à categoria de apaniguado.
Isso é focar no menos importante do ponto de vista das instituições. Essa indicação – por enquanto apenas uma intenção – não é apenas indecorosa por supostamente retirar o chanceler de fato da linha de sucessão. Ela é sobretudo inconstitucional – pelo filhotismo explícito e ilegal – e eivada de irregularidades diplomáticas no plano dos procedimentos e da substância.
Normalmente, qualquer nova intenção de um Estado de designar um representante de um chefe de Estado junto a outro chefe de Estado é precedida de uma nota secreta pedindo o chamado agrément, ou seja, a consulta sobre a aceitação eventual desse designado. O Estado recebedor – teoricamente o chefe de Estado, mas normalmente a chancelaria é que recomenda sim ou não – tem o direito de não aceitar o indicado, pois isto faz parte de suas prerrogativas soberanas. Se o Estado aceitar, só aí o governo que pretende enviar um seu representante, com o agrément concedido, dá início aos trâmites internos de designação.
No caso do Brasil, disposições constitucionais determinam que o designado, depois de dado o agrément, em segredo, seja objeto de uma mensagem ao Senado, informando sobre essa indicação, para que o indivíduo em questão seja sabatinado. A Comissão de Relações Exteriores do Senado, assim como o plenário, são soberanos para determinar se aceita ou não a indicação.
Temos precedentes de recusa: Shigeaki Ueki, designado para representar o Brasil junto à então CEE nunca foi chamado para ser sabatinado.
Mais recentemente, criou-se uma enorme confusão (que nunca deveria ter existido) em torno do indicado pelo governo israelense para representá-lo no Brasil. O Governo Dilma, totalmente desrespeitoso das normas não escritas do Direito Internacional, revelou quem era e disse que não aceitaria abertamente, por se tratar de “militante da ocupação ilegal israelense em território palestino” (Estado reconhecido pelo Brasil desde 2010, ainda sob o governo Lula). Foi nessa ocasião que o porta-voz da chancelaria israelense chamou o Brasil de “anão diplomático”.
Mas a confusão não deveria ter existindo, se tivéssemos mantido tudo em segredo, como recomenda a praxe internacional.
Qualquer governo sério, o que não é o caso da administração Trump (e tampouco da nossa), preservariam total discrição sobre esses assuntos, pois teoricamente o governo “aceitante” pode RECUSAR um nome que tenha sido previamente anunciado sem a sua manifestação de “satisfecit”. Ou seja, dois governos pouco sérios.
Neste caso, a administração Trump aceitaria facilmente quem diz que apoia totalmente a construção do muro e diz que os brasileiros ilegais nos EUA são “uma vergonha para o Brasil”.
Vergonha é ter um representante do povo (supostamente) ofendendo milhares de brasileiros que trabalham honestamente nos EUA e ainda remetem milhões de dólares para o Brasil.
Miséria da Diplomacia (aliás o título de meu próximo livro).

Paulo Roberto de Almeida
Brasília-Uberaba, 12/07/2019