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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 2 de agosto de 2014

Como pensam os soi-disant progressistas: observacoes pontuais - Paulo Roberto de Almeida

Recebo, de um desses sites progressistas que edita uma revista idem, uma mensagem sobre mudança de locais, de uma casa velha, para outra casa velha, presumivelmente gratuitamente, pois sempre se encontram almas generosas para sustentar a chama da mudança radical e renovadora.
Enfim, uma simples mudança do tipo o mundo gira e a Lusitana roda (como dizia a velha publicidade de uma companhia de mudanças que não deve existir mais).
Mas, aproveitando a deixa da sinceridade e transparência, aproveito algumas expressões típicas dos companheiros, para mais uma vez constatar como pensa essa gente.

1) "Enfrenta, como toda a cidade, a especulação imobiliária – mas há resistência, da qual agora faremos parte, nós e o casarão."
PRA: Esse pessoal tem uma frase pronta, quando imóveis são derrubados, ou vendidos, para dar lugar a novos empreendimentos, geralmente comerciais, com preços de mercado bem acima daqueles anteriormente praticados no local: "especulação imobiliária".
Dito assim parece que chegam aqueles capitalistas perversos, fazendo pressão sobre os moradores, ou proprietários, e forçando-os a sair do local, para expulsar a gente pobre dali, e só deixar espaço para a elite branca, e rica.
Não lhes vem à cabeça que os "pobres", ou simples moradores ou proprietários, podem ter interesse em vender o terreno ou a casa, pelo seu valor de mercado, que é baixo, mas certamente será mais alto quando se trata de um empreendimento capitalista, para poder comprar algo melhor em outro lugar, mais moderno, etc. Inevitavelmente o que surgir ali será diferente, com uso comercial, e portanto com um valor de mercado mais alto. Pode dar certo, como pode não dar, dependendo do ambiente, da clientela, etc. Ou seja, envolve risco, e isso é especulação, dos dois lados.
Por que não deixar que essas transações se façam pelo mercado, com total liberdade entre as partes?
Por que o Estado, ou alguém, precisaria interferir numa operação especulativa para os dois lados?
Enfim, os companheiros acima vão resistir, e talvez até descubram, maravilhados, que outros prédios à volta serão transformados em empreendimentos comerciais, que o ambiente vai melhorar, que o seu próprio casarão vai se valorizar, enfim, que a vida segue adiante, e sempre fica melhor, pois assim é a natureza humana. Só pessoas muito cegas, e imobilistas (conservadoras, portanto), querem que tudo fique sempre tudo igual, sem especulação, sem risco, sem transformação, sem nada, parado...

2)"... numa época muito contraditória,..." 
 PRA: Nunca encontrei chavão tão perfeito, e tão contraditório. Tudo é contraditório, a vida é contraditória. O mundo sempre está em crise, ó céus, ó vida, rien n'est simple, como diria o Sempé...

3) :...em que se combinam o declínio da velha democracia,..."
 PRA: Esta é a frase mais calhorda que eu encontro nesses textos dos bolivarianos, neobolcheviques, totalitários e outros dessa laia. A velha democracia é essa que temos: representativa, via partidos, parlamento, leis, Constituição, etc. Eles querem uma outra: com movimentos populares, conselhos, participação poupular nas agências públicas, sovietes, enfim, essas coisas que eles podem controlar, gramscianamente, no começo, de maneira stalinista depois. Acho melhor ficar na velha democracia, sem adjetivos, nem popular, nem burguesa, só democracia. Tá bom assim?

4) "... o risco de retrocessos civilizatórios muito graves..." 
PRA: Claro: como o socialismo fez chabu, o capitalismo se expande, mesmo na China companheira e na África tão explorada, a coisa está grave. O capitalismo, como todos sabem, é um retrocesso civilizatório enorme, com esses iPhones, iPads, Facebooks, enfim, essas coisas que os companheiros usam mas no maior desprezo pelas multinacionais ou pelos simples empreendimentos de estudantes que os criaram. Bom mesmo era o socialismo, com os seus coturnos, os seus gulags, aquele repolho todo, as bandeiras vermelhas, os discursos de quatro horas ao sol, um único jornal para limpar o rabo, enfim, essas maravilhas avançadas do socialismo...


5) "... e a esperança do pós-capitalismo,..." 
 PRA: Nunca morre: os companheiros sempre vão esperar a próxima crise do capitalismo para ver se daquela vez, finalmente, o pessoalzinho miúdo se convence de que o capitalismo não dá mesmo. Quando será que os historiadores gramscianos vão descobrir que já vivemos em pós-capitalismo? Aliás, onde estão aqueles velhos capitalistas donos de fábricas? Agora só aparecerem esses garotos que ameaçam mudar nossas vidas com suas invenções absolutamente sem esperança, sem esperança que tudo fique igual ao que sempre foi, sempre nos obrigando a grudar na mais recente novidade, como os companheiros, por exemplo, que já aderiam aos blogs, aos twitters, ao FB, enfim, essas coisas que só o socialismo, ou o pós-capitalismo são capazes de inventar...

6) "...é uma aventura que envolve risco..."
PRA: Eu desejo muita sorte aos companheiros, para que eles não corram muitos riscos no novo casarão, e sejam felizes. Ah, não esqueçam de se conectar online para nos avisar quando vão estar funcionando sem riscos na nova morada..

Sejam felizes...
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Conluio Antidistributivo: coisa de sociologo gramsciano de ma-fe

Um leitor deste blog confessa que não gosta de minhas opiniões, embora ache o blog bom, e me pede uma opinião sobre a entrevista de um sociólogo (essa tribo de masturbadores sociais, como diria o Sérgio Mota) a propósito da próxima campanha eleitoral.
Aqui o comentário:


Cássio Moreira

15 minutos atrás  -  Compartilhada publicamente
Olá Paulo Roberto. Muito bom o teu site. Embora discordo de alguns pontos desse artigo gostaria de saber tua opiniao sobre essa entrevistahttp://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/06/1466547-conluio-antidistributivo-puniu-dilma-e-campanha-sera-mais-radicalizada-diz-sociologo.shtml

 E se de certa forma acha que essas duas analises sao complementares?
Leia mais
O sociólogo em questão acha que as elites de sempre, que ele identifica nos partidos de oposição ao atual partido no poder, estão mancomunadas num projeto perverso, que seria o de impedir que o partido hegemônico fizesse mais bondades em favor do povinho miúdo, que depende dos favores do Estado para ter maior igualdade distributiva.
Não vou dar minha opinião sobre o que ele disse pois isso seria promover comentários desonestos, feitos de má-fé, por um espírito partidário, à condição de argumentos de observador isento da política, o que obviamente não é o caso.
O cidadão partidário, gramsciano como vários de seus colegas, não entende de economia, e acha que os empresários foram contra a presidente apenas porque ela reduziu os juros e desvalorizou o real.
Com essa demonstração de ignorância elementar, não é preciso mais nada, a não ser confirmar que se trata de alguém de má-fé e politicamente motivado.
Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 12 de março de 2013

Miseria do debate no Brasil atual: O. Tambosi, O. Carvalho

Abaixo, dois artigos, de um dos intelectuais mais atacados no Brasil, Olavo de Carvalho, um atual, outro de quase 15 anos atrás, tratando do mesmo problema fundamental no Brasil que se pretende inteligente (mas que alimenta dúvidas sobre a solidez desse estatuto): neles uma mesma reclamação de Olavo de Carvalho em função da falta de um debate verdadeiro entre correntes filosóficas e políticas opostas, dada a "hegemonia" -- uma palavra que os gramscianos usam no sentido pejorativo, quando se referem ao capital, mas que adoram, quando se trata de sua dominação cultural -- sobre os chamados "aparelhos ideológicos do Estado", como diriam os pobres althusserianos. Eles reclamam que tudo está dominado pelo capital monopolista, pela grande mídia (sempre perversa, sempre golpista, sempre capitalista, claro), quando na verdade são eles que dominam as universidades e os principais veículos de comunicação, impedindo qualquer debate realista e racional: funcionam à base de slogans, invectivas, condenações, mas raramente com base em argumentos ponderados.
Agradeço a meu colega e amigo de lutas pela inteligência Orlando Tambosi  por me chamar a atenção para esses textos e por introduzir o artigo atual, com palavras tão certeiras.
Faça minhas as palavras de ambos, quando à miséria dos "intelequituais" gramscianos, incapazes de sair de sua camisa de força mental para debater abertamente.
Paulo Roberto de Almeida 


Orlando Tambosi, 12/03/2013

Agradeço ao filósofo e jornalista Olavo de Carvalho ter lembrado de meu livro sobre a decadência do marxismo, lançado em 1999, e corroboro o que ele diz: ideias que contrariam o marxismo, no Brasil, são sistematicamente ignoradas, dentro ou fora da academia. Nas universidades, em geral, pensar contra a corrente (como dizia Berlin) vale a condenação ao ostracismo, não isento de manifestações de hostilidade. Danke, caro Olavo, ainda que eu não mereça a ilustre companhia de Gilberto Freyre, Paulo Mercadante, José Guilherme Merquior e todo o elenco que você cita. 

Surrupio na íntegra o artigo "O plano e o fato", publicado ontem [11/03/2013] no Diário do Comércio, de São Paulo. E, atenção, detratores, podem me chamar de direitista, reacionário, positivista, liberal etc. A defesa das liberdades, no Brasil lulista, constitui um verdadeiro atrator de adjetivos por parte dos esquerdistas, que supõem ter chegado ao fim da história com o falastrão de Garanhuns. Chegaram, na verdade, ao pensamento único, que  imputavam ao tal de "neoliberalismo". Resumindo: mataram o pensamento e a crítica. [OT]

O plano e o fato
Olavo de Carvalho 
Diário do Comércio, 11/03/2013

O caso do Dicionário Crítico, que lembrei no artigo "Devotos de um vigarista", é somente  a figura mais extrema, caricatural e grotesca que o fenômeno assume no Terceiro Mundo, mas ignorar o pensamento do adversário e tampar os ouvidos às objeções são hábitos gerais e infalíveis da intelectualidade esquerdista em toda parte.

Em Thinkers of the New Left (1985), onde examina os principais expoentes de uma escola de pensamento que ainda é a mais influente na esquerda hoje em dia, Roger Scruton observa que nenhum deles jamais deu o menor sinal de querer responder às críticas feitas à teoria marxista por Max Weber, Werner Sombart, F. W. Maitland, Raymond Aron, W. H. Mattlock, Böhm-Bawerk, Popper, Hayek ou von Mises.

Poderia acrescentar Eric Voegelin, Cornelio Fabro, Rosenstock-Huessy, Norman Cohn, Dietrich von Hildebrand, Alain Besançon e uma infinidade de outros autores merecidamente tidos também como clássicos.

No Brasil você não verá nenhum marxista discutindo as objeções de Gilberto Freyre, Mário Ferreira dos Santos, J. O. de Meira Penna, Paulo Mercadante, Antonio Paim, Orlando Tambosi, Ricardo Velez Rodriguez, Gustavo Corção, João Camilo de Oliveira Torres, José Guilherme Merquior. 

O marxismo universitário vive e prospera de ignorar a cultura universal das ideéias e sonegá-la aos estudantes. Ao mesmo tempo, infunde neles a impressão sedutora e enganosa de que, por terem lido os autores aprovados pelo Partido, são muito cultos.
Trata-se da forma mais extrema e radical da incultura organizada, da ignorância obrigatória, da burrice prepotente e intolerante.

Enquanto os anticomunistas de todos os matizes não cessam de analisar e refutar o marxismo, escrevendo milhares de livros a respeito, os marxistas fogem sistematicamente ao debate. 

Quando não se contentam em baixar sobre os  adversários a mais pesada cortina de silêncio, dedicam-se a difamá-los pelas costas, inventando a respeito as histórias mais escabrosas, tratando-os como criminosos, colocando-os em “listas de inimigos” e cumprindo à risca a regra de Lênin: não discutir com o contestador, mas destrui-lo politicamente, socialmente e, se possível, fisicamente.

Que maior prova se poderia exigir de que essas pessoas, que se atribuem o monopólio de todas as virtudes, são as mais perversas, malignas e desprezíveis que já infestaram a profissão intelectual?

A ascensão da escória marxista ao primeiro plano da vida nacional foi e é a causa principal ou única da destruição da cultura superior e do sistema educacional no Brasil.

Com ares de escândalo e indignação, a Folha noticia a descoberta de um plano do governo militar, concebido pelo ministro Alfredo Buzaid nos anos 70, para refrear a infiltração comunista nas universidades e órgãos de mídia. O plano não foi levado a efeito, tanto que a era dos militares foi o período de maior prosperidade da indústria do livro esquerdista no Brasil e a época da conquista da mídia pelos comunistas. Mas o jornal do sr. Frias não perdoa nem a simples ideia. Que horror, que coisa mais tirânica, mais nazista, pensar em impedir o acesso dos comunistas a todas as cátedras, a todas as páginas de jornais, a todos os megafones!

O que o sr. Frias e seus empregados fingem ignorar é que aquilo que a ditadura quis fazer e não fez é exatamente o que os comunistas já fizeram e que já está em plena vigência neste País, com uma amplitude e uma rigidez que ultrapassa tudo o que os militares pudessem ter sonhado em matéria de controle hegemônico dos canais de comunicação e ensino. As gerações mais novas,  que não conheceram o Brasil dos anos 50-60, já nasceram dentro dessa atmosfera, que lhes parece normal, e não notam a diferença. 

Mas um simples detalhe basta para mostrar o que aconteceu: o ponto de vista cristão-conservador, que era oficialmente o do Estadão, do Globo e parcialmente da própria Folha naquela época, está totalmente excluído, proibido e criminalizado em toda a mídia.

Os editoriais escritos pelos srs. Roberto Marinho e Júlio de Mesquita Filho jamais poderiam ser publicados, hoje, nos próprios jornais que esses homens fundaram, onde o máximo que se permite, num espacinho minoritário, é um pouco de liberalismo chocho e inofensivo, quando não a pura crítica de esquerda a algum desmando ou patifaria mais vistosa do governo petista. Se até essa oposição mole e parcial é hoje abertamente condenada como “extremismo de direita”, é notório que a medida geral de aferição mudou, e quem a mudou foi a própria mídia. E se jornais e canais de TV dão alguma cobertura à Sra. Yoani Sanchez, é precisamente porque esta é anticastrista sem ser anticomunista e suas críticas ao governo cubano são brandas e autocensuradas em comparação com as de outros dissidentes, que contam a história inteira. Estes jamais aparecerão no Globo ou na Folha. E alguém é capaz de imaginar, hoje em dia, uma novela da Globo defendendo os valores cristãos que eram tão caros ao sr. Roberto Marinho?

Por que uma simples intenção não realizada do governo militar deveria ser considerada mais repugnante e assustadora do que o fato consumado, a mesmíssima intenção realizada em muito maior escala pela esquerda triunfante e dominadora, senhora absoluta das páginas da própria Folha? A simples redação dessa mesma notícia já não revela a inversão de critérios, imposta como norma universal e inquestionável que só loucos e extremistas ousariam contestar? O sr. Frias não sabe ler o seu próprio jornal? Não enxerga que ele mesmo foi, em pessoa, um dos artífices do plano do ministro Buzaid realizado com signo oposto?

P. S.: Olavo já fizera referência ao meu livro (hoje esgotado na editora) ainda em 1999, em artigo publicado no Jornal da Tarde.


Abaixo, o artigo citado:


Olavo de Carvalho
Jornal da Tarde, 9 de dezembro de 1999

O motivo pelo qual não há nem pode haver debate filosófico neste país já se tornou claro: um grupo de ativistas sem escrúpulos apropriou-se dos meios de difusão cultural para fazer deles o trampolim de suas ambições políticas, fechando os canais por onde pudessem fazer-se ouvir as vozes adversárias e impondo a todo o País a farsa gramsciana da “hegemonia”.
A palavra mesma, que tanto veneram fingindo ser termo claro e unívoco, já traz a letal ambigüidade das grandes mentiras. Designa, no sentido intelectual, a amplidão do horizonte de uma visão do mundo que abarca as concorrentes sem ser por elas abarcada. Hegel, por exemplo, é hegemônico sobre todos os marxismos, que quanto mais buscam superá-lo mais se enredam, como viu Lucio Coletti, nos compromissos metafísicos do hegelianismo, e jurando pô-lo de cabeça para baixo só conseguem é plantar bananeira eles próprios (v. o excelente estudo de Orlando Tambosi, O Declínio do Marxismo e a Herança Hegeliana , Florianópolis, UFSC, 1999).
A máfia gramsciana, quando chama Gramsci de hegemônico, deseja induzir-nos a crer que ele o é nesse sentido. Mas ela sabe que não é, pois um breve exame das filosofias do século 20 mostra que nelas há mundos e mundos inabarcáveis e invisíveis aos olhos desse pobre sapo filosófico, espírito escravo que, fingindo-se de livre e universal, tudo comprime e reduz às dimensões mesquinhas do seu poço escuro e proclama que o céu é apenas um buraquinho no teto. Gramsci nunca foi um filósofo, foi apenas um sistematizador de truques sórdidos para falsificar o saber e torná-lo instrumento de poder nas mãos do Partido.
Se o gramscismo fosse hegemônico no sentido intelectual, ele se imporia pela força das suas demonstrações, como se impuseram por exemplo as filosofias de Aristóteles e de Leibniz. Mas estes nunca precisaram ter a seu serviço um exército de “ocupadores de espaço”, semeadores do silêncio forçado onde germine a falsa glória do monólogo restante. Quando, na Idade Média, um aristotélico desejava vencer um adversário, não pensava em tomar-lhe o emprego, em encobrir seu discurso sob a gritaria uníssona de uma ralé de militantes pagos. Chamava-o para o debate em campo aberto, mesmo quando isso importasse, como importou para Santo Alberto, em atrair a ira dos poderosos. Para derrotar os empiristas, Leibniz não tratou de boicotá-los na distribuição das verbas de pesquisa, de omitir seu nome das publicações culturais, de monopolizar contra eles o apoio milionário dos senhores da mídia. Simplesmente escreveu um livro fulminante em forma de debate com o príncipe deles, John Locke, ainda que ao preço de ver-se exposto à chalaça grosseira de filósofos de salão.
Os escolásticos e Leibniz desconheciam a hegemonia no sentido gramsciano, e se a conhecessem não veriam nela senão a criação doentia de uma mentalidade torpe.
Para ilustrar do que se trata, nada mais elucidativo do que a conduta recente de uma tal dona Marilena, que, denunciada por mim como praticante do característico estilo elíptico-mistificatório de raciocínio gramsciano, ficou caladinha ante o público da cidade onde mora, mas foi dizer lá longe, lá em Goiás, que não me conhece nem leu, mas que, segundo informação confiabilíssima obtida de fonte anônima, sou indiscutivelmente “um pulha”. O jornalista José Maria e Silva, do jornal Opção de Goiânia, já deu a essa criatura a resposta devida, e cito o caso apenas como amostra dos métodos gramscianos de conquista da hegemonia: jogo de poder, manobra soturna para frustrar o debate, boicotar o adversário e vencer por uma impressão postiça de unanimidade espontânea.
Quando essa gente trombeteia que uma edição completa de Gramsci vai “renovar o pensamento nacional”, o que anuncia é nada menos que a “renovação por estrangulamento”. Pois que estrangulem o quanto queiram. Eu, da minha parte, lhes digo o que vou fazer: vou furar o bloqueio, por meio do JT e de quantos outros respiradouros ainda restem na imprensa nacional. A cada novo volume de escritos do anãozinho maluco que vocês publicarem, vou responder com argumentos que demonstrarão a sua total vacuidade filosófica e a índole brutal de sua doutrina fingidamente humanóide. Vocês, como sempre, vão ficar rosnando pelos cantos e tramando maldades. E vão falar mal de mim bem longe de Goiás, pois já viram que goiano não é idiota.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Carlos Nelson Coutinho: um marxista ignorante ou de ma'-fe'?

Não creio que se possa dizer que o Brasil se despede desse autodenominado filósofo. O país não é marxista, nem gramsciano. Apenas uma minoria minorantíssima, se ouso dizer, adere a essas crenças anacrônicas. Já houve um tempo em que essas ideologias representavam algo parecido com algum tipo de pensamento -- até meados da segunda metade do século passado, no máximo -- mas elas deixaram de ser algo válido, tão pronto o socialismo real revelou, plenamente, toda a sua miséria material e, sobretudo, a sua miséria moral. Aliás, poucos marxistas latino-americanos conheceram, de fato, o socialismo real, em toda a sua crueza do marxismo dos energúmenos.
Essa decadência moral ocorreu, mais ou menos, em 1968, quando a URSS invadiu a República Tchecoslovaca, então tentando construir oo que foi chamado de "socialismo a face humana" (e eu não estou considerando os traumas de 1953, na RDA, e o horror da invasão soviética na Hungria, em 1956, que já tinham determinado a saída de vários "marxistas" dos PCs em vários países).
Ou seja, foi só depois de muitos anos, após tudo isso, que esse "filósofo" foi descobrir que a democracia é um "valor universal", só em 1979???!!!
Demorou tanto para "descobrir" isso? Lento esse "filósofo", não é?
De todo modo ele não era um "filósofo"; no máximo, poderia ser considerado um professor de filosofia, e talvez apenas de marxismo, e ainda assim com tremendas falhas, como vim a descobrir. 
Chamá-lo, por outro lado, de "intelectual marxista"  é uma contradição nos termos. Se ele era intelectual, não podia ser marxista; e se era marxista, não podia ser intelectual. Concordam?
As contradições são insanáveis, como ainda revelado numa entrevista recente, na qual ele ainda reclamava que a China estava aumentando a desigualdade, sem considerar os tremendos progressos sociais havidos naquela última ditadura imperial que o marxismo jamais produziu.
Até 1992, ou 1993, eu ainda pensava que era possível "dialogar" com esses "intelectuais marxistas", num debate de ideias e de confrontação dessas ideias à realidade.
Pois foi justamente o C.N. Coutinho que me provou que não.
Estávamos, portanto, em 1992 ou 1993, e eu fui assistir uma palestra do próprio na UnB. Fui não tanto pelas ideias marxistas ou gramscianas, pois as conhecia todas, mas pelo que ele poderia dizer de prático, ou de ligado ao mundo real.
Com efeito, logo depois da primeira derrota de Lula e do PT na campanha presidencial de 1989, o PT, sob direção e mão firme dos cubanos, havia organizado o Foro de São Paulo, e logo em seguida um "governo paralelo", para vigiar o governo Collor e propor políticas alternativas.
Pois o C.N. Coutinho era o "ministro paralelo" das relações exteriores, ou seja, o chanceler do governo paralelo do PT, e como tal talvez tivesse algo de inteligente a dizer sobre as relações internacionais.
Fiquei totalmente boquiaberto, surpreendido, estupefato quando ele -- na maior demonstração de ignorância que eu já tinha visto, ou então de má-fé absoluta -- disse que a situação deplorável na qual vivia então a Somália -- que saía de mais de 25 anos de uma ditadura marxista-leninista -- se devia à dominação capitalista e imperialista sobre a África exercida pelas potências imperiais. Arregalei os olhos e prestei atenção: seria possível que esse chanceler paralelo não soubesse disso? Justamente o mais marxista-leninista dos governos da África -- junto com o Congo Brazaville e algumas outras ditaduras menores -- tinha sua situação deplorável atribuída ao imperialismo???!!!
A partir desse momento, passei a não ter nenhum respeito por esse "filósofo marxista", inclusive por várias outras barbaridades que disse na mesma palestra.
Achei que não era mais possível manter qualquer tipo de diálogo com quem deformava, mentia, mistificava, de forma tão canhestra e tão desonesta a realidade dos países, numa demonstração de anti-imperialismo primário, infantil, aliás totalmente surrealista, nesse caso da Somália.
Passe a considerar que esse tipo de gente é capaz de qualquer coisa.
Acho que, pelo que veio depois, essa gente é mesmo capaz de qualquer coisa, de mentir descaradamente, o de revelar toda a sua ignorância senil.
Paulo Roberto de Almeida 


O país se despede do filósofo Carlos Nelson Coutinho

20/9/2012 14:56,  Por Redação - do Rio de Janeiro
Morreu nesta quinta-feira o filósofo marxista e professor da Universidade Federal do Rio de JaneiroCarlos Nelson Coutinho. Uma das principais referências em Gramsci no Brasil, Carlos Nelson impactou o conjunto da esquerda em seu célebre artigo publicado em 1979 na Revista Civilização Brasileira: A democracia como valor universal. O escritor era filiado ao PSOL desde sua fundação. Segundo comunicado da direção da Escola de Serviço Social da UFRJ, o velório foi realizado no Atrium do Fórum de Ciência e Cultura.
Entre as muitas mensagens de despedida do pensador marxista, a Editora Boitempo fez publicar, em sua página, a mensagem: “Morreu o grande intelectual marxista Carlos Nelson Coutinho, depois de meses combatendo um câncer dos mais violentos. Carlito, como era chamado pelos amigos, descobriu a doença em fevereiro deste ano, quando nos comentou por e-mail: “Ainda estou perplexo, mas disposto a brigar. Também sobre isso, tenho tentado me valer do mote de Gramsci: pessimismo da inteligência, otimismo da vontade. Torçam por mim”. Foi o que fizemos esses meses todos.
No próximo sábado, 22 de setembro de 2012, a Boitempo prestará uma homenagem a ele no encerramento do III Curso Livre Marx-Engels, após a aula proferida por Michael Löwy (entrada liberada para quem não acompanhou o Curso até agora,  a aula e a homenagem serão transmitidas ao vivo pelo Ustream). Até um mês atrás, Carlito, com a coragem dos grandes, ainda cogitava estar presente para receber a homenagem. Fará uma falta enorme. Presente!
A direção da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, também em sua página eletrônica, deixou nota de pesar pelo falecimento do Professor EméritoCarlos Nelson Coutinho:
- É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento na manhã de hoje do nosso querido professor emérito Carlos Nelson Coutinho, reconhecido dentro e fora do país como um dos mais influentes pensadores brasileiros do final do século XX e princípio do XXI. Sua atitude de vanguarda, ao introduzir, na cultura brasileira, o pensamento de dois clássicos do debate teórico filosófico europeu do século XX, G. Lukács e A. Gramsci, e a elaboração de uma obra, que tem o selo claro de uma intervenção política na defesa do socialismo e na renovação do marxismo, o revelam como um dos melhores produtos do que ele mesmo denominou a “década longa dos anos 60”, conjuntura que, aberta em 1956, no XX Congresso do PC da URSS e terminada em meado dos anos 70, favoreceu  em meio às agitações de estudantes e trabalhadores em 1968, o terceiro-mundismo, o eurocomunismo, a Primavera de Praga  os melhores anos de florescimento do marxismo.
- Docentes, técnico-administrativos e alunos da ESS da UFRJ tiveram a honra e a sorte de conviver com o brilhantismo, a generosidade e o bom humor de Carlos Nelson. Em nossa Unidade de Ensino, desde o ano de 1986, nosso querido Carlito se constituiu como uma das principais lideranças teórico-acadêmicas no processo de renovação do nosso Programa de Pós-Graduação em Serviço Social a refundação do Projeto de Mestrado em fins da década de 1980 e a criação do Curso de Doutorado em 1994 o que sagrou a ESS da UFRJ, na esteira da renovação da profissão no Brasil, um dos pilares dos avanços profissionais e acadêmicos da área no país.
- Em reconhecimento à contribuição desse grande intelectual e amigo que possibilitou a nossa Escola alçar-se a condição de agência nacional e internacional de formação de docentes e pesquisadores da área, o Conselho Diretor da ESS da UFRJ decreta a partir de hoje três dias de luto. Estarão, portanto, suspensas todas as atividades acadêmicas entre 20 e 23 de setembro do corrente, permanecendo a Unidade fechada neste período.
Conselho Diretor da ESS da UFRJ, em 20/09/12″
Carlos Nelson Coutinho, um dos intelectuais marxistas mais respeitados do Brasil, recebeu nasceu na Bahia, em uma cidade do interior chamada Itabuna, mas foi para Salvador ainda pequeno, “com uns 3 ou 4 anos”, lembrou o intelectual, em uma entrevista ao jornalista Hamilton Octávio de Souza, editor da revista Caros Amigos. Coutinho se formou em Salvador, “e as opções que eu fiz, fiz em Salvador”, assinala.
– Eu nasci em 1943, glorioso ano da batalha de Stalingrado. Me formei em filosofia na Universidade Federal da Bahia, um péssimo curso, e com meus 18 ou 19 anos sabia mais do que a maioria dos professores. Meus pais eram baianos também. Meu pai era advogado e foi deputado estadual durante três legislaturas da UDN. Publicamente ele não era de esquerda, mas dentro de casa ele tinha uma posição mais aberta. Eu me tomei comunista lendo o Manifesto Comunista que o meu pai tinha na biblioteca. Ele era um homem culto, tinha livros de poesia. Minha irmã, que é mais velha, disse que eu precisava ler o Manifesto Comunista. Foi um deslumbramento. Eu devia ter uns 13 ou 14 anos. Aí fiz faculdade de Direito por dois anos porque era a faculdade onde se fazia política, e eu estava interessado em fazer política. Me dei conta que uma maneira boa de fazer política era me tomando intelectual. Aos 17 anos entrei no Partido Comunista Brasileiro, que naquela época tinha presença. O primeiro ano da faculdade foi até interessante porque tinha teoria geral do Estado, economia política, mas quando entrou o negócio de direito penal, direito civil, ai eu vi que não era a minha e fui fazer filosofia – concluiu o professor.