O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador imperador chinês. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador imperador chinês. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 15 de novembro de 2022

As relações entre os dois gigantes da economia e da geopolítica mundial, divididos não só por Taiwan (O Globo)

 Os dois gigantes, EUA e China, estão nas antípodas da política: uma grande democracia (um pouco atribulada, é verdade) e uma tradicional ditadura. Possuem sistemas econômicos diferentes, mas ambos enquadrados pelos mercados, o que era diferente na oposição geopolítica anterior, pois a URSS não era uma economia de mercado. A China É uma economia de mercado, ainda com planejamento estatal, mas não predominante: a China é um capitalismo com características chinesas e o slogan “socialista” serve apenas para legitimar a ditadura de um partido leninista, muito parecido ao antigo regime imperial com seu exército de mandarins obedientes (muitos corruptos): os mandarins são os funcionários do PCC, recrutados segundo um rigoroso sistema de mérito pessoal.

Mas considero que o sistema de sucessão política criado por Deng Xiaoping era o ideal para transitar a China de um regime imperial para um quase normal de alternância no poder. O novo imperador acaba de romper com esse sistema e isso não é bom para a China e o seu povo. Xi, agora, é um imperador eterno, e como tal se julga indispensável. Até o começo de 2022 estava indo bem. Acaba de tropeçar na questão da alternância no poder e poderá tropeçar mais um pouco na questão de Taiwan, o que seria catastrófico para a economia e a política mundial, ademais dessa absurda “aliança sem limites” com uma tirania cleptocrática como essa criada por Putin na Rússia. 

Sobre Taiwan, Xi pode derrapar. A ilha JAMAIS esteve sob a soberania da RPC: era parte do Império do Meio até o final  do século XIX, quando o império japonês, militarista e expansionista, a conquistou, como fez depois com a Coreia e a Manchuria. A República da China tampouco teve controle sobre ela, a não ser por um fugaz período pós-1945, e depois da conquista do poder por Mao em 1949 passou a ser sede da RC, dominada durante décadas pela ditadura de Chiang Kaishek. Tornou-se uma democracia ao longo dos anos, na cobertura geopolítica do império americano.

Se Xi Jinping ousar conquistar uma ilha que era do Império do Meio, mas que nunca foi da RPC, poderá precipitar uma crise, talvez uma guerra, que será catastrófica para a própria RPC, uma espécie de Malvinas chinesas, por enquanto sem uma Dama de Ferro que garanta a “reconquista” das Falklands. Os EUA interviriam? Não acredito, mas a ilha poderia ser destruida. Xi deve pensar três vezes.

Paulo Roberto de Almeida 


Na primeira cúpula presencial, Biden e Xi anunciam medidas de distensão

Líderes concordam em retomar mecanismos de consulta bilateral e coincidem em se opor ao uso de armas nucleares na Ucrânia; Taiwan permanece como ponto de tensão

Por O Globo e agências internacionais — Bali, Indonésia
14/11/2022 09h16

Em sua primeira cúpula presencial, os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, anunciaram nesta segunda-feira uma série de medidas de redução das tensões entre as duas maiores economias do mundo, que chegaram ao seu ponto mais grave em décadas, ainda que tenham continuado a fazer advertências mútuas em relação a Taiwan, a ilha autogovernada que Pequim considera uma "província rebelde".

Na reunião de mais de três horas em Bali, na Indonésia, antes do início na terça-feira da cúpula do G20, eles anunciaram a retomada de mecanismos de consulta bilateral que estavam suspensos desde a visita a Taiwan da presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, em agosto, além da primeira visita do chefe da diplomacia de Biden, Antony Blinken, a Pequim, e coincidiram em se opor ao uso de armas nucleares na Ucrânia, em resposta à ameaça que vinha sendo feita por autoridades russas.

— Tivemos uma conversa aberta e sincera sobre nossas intenções e nossas prioridades. Vamos competir vigorosamente, mas não estou procurando conflito, estou buscando gerenciar essa competição de forma responsável — disse Biden uma em entrevista coletiva depois do encontro. — Acredito firmemente que não precisa haver uma nova Guerra Fria.

Segundo a definição de Biden, Xi "não foi nem mais conciliador nem mais duro" na cúpula, mas "direto e reto como sempre foi". Já um comunicado de Pequim chamou as conversas de “completas, francas e construtivas” .

— Estou ansioso para trabalhar com você, sr. presidente, para trazer as relações entre a China e os EUA de volta ao caminho saudável e do desenvolvimento estável para o benefício de nossos dois países e do mundo como um todo — disse Xi a Biden no início do encontro, acrescentando que os dois lados “precisam encontrar a direção certa” e “elevar o relacionamento”.

Segundo frisou o presidente chinês, "o mundo é grande o suficiente" para que haja espaço para as duas potências prosperarem.

Biden também enfatizou a importância do encontro presencial depois de cinco conversas por telefone ou por videoconferência desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2021, e se comprometeu a "manter as linhas de comunicação abertas".

Tensões e distensão
A reunião desta segunda-feira ocorreu três meses depois que Pequim fez manobras militares inéditas em torno de Taiwan, em represália à visita de Pelosi, e um mês depois que os EUA impuseram suas mais duras restrições comerciais destinadas a prejudicar a capacidade chinesa de produzir semicondutores mais modernos, no que analistas viram como uma "declaração de guerra" tecnológica. Para agravar as tensões, existe ainda a parceria de Pequim e Moscou, que permaneceu firme mesmo após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Recém-lançada por Biden, a mais nova estratégia de segurança nacional americana tem como foco conter a ascensão da China e impedir que a potência asiática ultrapasse os Estados Unidos. Xi, por sua vez, acaba de conquistar um terceiro mandato à frente do Partido Comunista da China e deve confirmar no início de 2023 o terceiro mandato na Presidência. Desde sua ascensão à liderança, em 2012, ele adotou uma política externa mais assertiva do que a de seus antecessores, investindo nas capacidades militares chinesas e dando prioridade ao avanço em tecnologias de ponta.

Segundo o comunicado divulgado pela Casa Branca após o encontro, serão retomadas as conversas entre altos funcionários dos dois países sobre questões como mudança climática, estabilidade econômica, alívio da dívida dos países mais pobres, saúde e segurança alimentar. A visita de Blinken, disse a nota, deve ocorrer no início do próximo ano.

Biden e Xi, disse o comunicado, também concordaram que “uma guerra nuclear nunca deve ser travada” e que se opõem “ao uso ou ameaça de uso de armas nucleares na Ucrânia” — uma concordância importante dada a "parceria ilimitada" anunciada por Xi e o presidente russo Vladimir Putin pouco antes da invasão da Ucrânia. De acordo com o comunicado de Pequim, o presidente chinês se disse "muito preocupado" com a situação atual na Ucrânia e alertou que "as guerras não produzem vencedores".

'Linha vermelha'
Apesar da evidente intenção de ambos de reduzir a tensão, ficou claro que persistem divergências sobre Taiwan, que Pequim tem como meta reunificar ao continente, se necessário à força, enquanto Washington aumenta seu apoio político e militar às autoridades locais.

De acordo com a Casa Branca, Biden explicou “em detalhes” que os EUA continuam comprometidos com a política de “uma só China” — que considera Pequim a legítima representante dos chineses — mas se opõem a quaisquer “mudanças unilaterais” no status quo de Taiwan. O americano também levantou objeções ao que chamou de “ações coercitivas e cada vez mais agressivas da China" em relação à ilha.

— Não acho que haja qualquer tentativa iminente por parte da China de invadir Taiwan — disse Biden na entrevista. — A política de "uma só China" não mudou. Nossa posição não mudou em nada. Tenho certeza que ele [Xi] entendeu o que eu disse. Não houve mal-entendido.

Já Xi advertiu que a questão de Taiwan é uma linha vermelha que Washington não deve cruzar.

— A questão de Taiwan é o coração dos interesses centrais da China, o cimento da fundação política das relações China-EUA e a primeira linha vermelha que não deve ser cruzada — disse ele, segundo a imprensa estatal chinesa.

Altos funcionários da Casa Branca disseram na manhã desta segunda-feira que a reunião foi marcada após um mês de “diplomacia silenciosa” e planejamento intenso. Os delicados ajustes finais continuaram até a noite de domingo, depois que Biden chegou a Bali para a cúpula do G20, prevendo um encontro altamente roteirizado.

Daniel Russel, um ex-diplomata americano que acompanhou Biden em reuniões com Xi quando Biden era vice-presidente, disse que ambos os lados estão buscando "abaixar a temperatura em um relacionamento superaquecido".

Os dois se encontraram no hotel da delegação chinesa, e o lado chinês exigiu extensas precauções contra a Covid-19, incluindo testes de PCR e máscaras N-95 para jornalistas norte-americanos que acompanham Biden. (Com Bloomberg, AFP e New York Times)

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/11/no-inicio-da-primeira-cupula-presencial-biden-e-xi-pedem-reducao-da-tensao-entre-potencias.ghtml