O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Taiwan. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Taiwan. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 15 de novembro de 2022

As relações entre os dois gigantes da economia e da geopolítica mundial, divididos não só por Taiwan (O Globo)

 Os dois gigantes, EUA e China, estão nas antípodas da política: uma grande democracia (um pouco atribulada, é verdade) e uma tradicional ditadura. Possuem sistemas econômicos diferentes, mas ambos enquadrados pelos mercados, o que era diferente na oposição geopolítica anterior, pois a URSS não era uma economia de mercado. A China É uma economia de mercado, ainda com planejamento estatal, mas não predominante: a China é um capitalismo com características chinesas e o slogan “socialista” serve apenas para legitimar a ditadura de um partido leninista, muito parecido ao antigo regime imperial com seu exército de mandarins obedientes (muitos corruptos): os mandarins são os funcionários do PCC, recrutados segundo um rigoroso sistema de mérito pessoal.

Mas considero que o sistema de sucessão política criado por Deng Xiaoping era o ideal para transitar a China de um regime imperial para um quase normal de alternância no poder. O novo imperador acaba de romper com esse sistema e isso não é bom para a China e o seu povo. Xi, agora, é um imperador eterno, e como tal se julga indispensável. Até o começo de 2022 estava indo bem. Acaba de tropeçar na questão da alternância no poder e poderá tropeçar mais um pouco na questão de Taiwan, o que seria catastrófico para a economia e a política mundial, ademais dessa absurda “aliança sem limites” com uma tirania cleptocrática como essa criada por Putin na Rússia. 

Sobre Taiwan, Xi pode derrapar. A ilha JAMAIS esteve sob a soberania da RPC: era parte do Império do Meio até o final  do século XIX, quando o império japonês, militarista e expansionista, a conquistou, como fez depois com a Coreia e a Manchuria. A República da China tampouco teve controle sobre ela, a não ser por um fugaz período pós-1945, e depois da conquista do poder por Mao em 1949 passou a ser sede da RC, dominada durante décadas pela ditadura de Chiang Kaishek. Tornou-se uma democracia ao longo dos anos, na cobertura geopolítica do império americano.

Se Xi Jinping ousar conquistar uma ilha que era do Império do Meio, mas que nunca foi da RPC, poderá precipitar uma crise, talvez uma guerra, que será catastrófica para a própria RPC, uma espécie de Malvinas chinesas, por enquanto sem uma Dama de Ferro que garanta a “reconquista” das Falklands. Os EUA interviriam? Não acredito, mas a ilha poderia ser destruida. Xi deve pensar três vezes.

Paulo Roberto de Almeida 


Na primeira cúpula presencial, Biden e Xi anunciam medidas de distensão

Líderes concordam em retomar mecanismos de consulta bilateral e coincidem em se opor ao uso de armas nucleares na Ucrânia; Taiwan permanece como ponto de tensão

Por O Globo e agências internacionais — Bali, Indonésia
14/11/2022 09h16

Em sua primeira cúpula presencial, os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, anunciaram nesta segunda-feira uma série de medidas de redução das tensões entre as duas maiores economias do mundo, que chegaram ao seu ponto mais grave em décadas, ainda que tenham continuado a fazer advertências mútuas em relação a Taiwan, a ilha autogovernada que Pequim considera uma "província rebelde".

Na reunião de mais de três horas em Bali, na Indonésia, antes do início na terça-feira da cúpula do G20, eles anunciaram a retomada de mecanismos de consulta bilateral que estavam suspensos desde a visita a Taiwan da presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, em agosto, além da primeira visita do chefe da diplomacia de Biden, Antony Blinken, a Pequim, e coincidiram em se opor ao uso de armas nucleares na Ucrânia, em resposta à ameaça que vinha sendo feita por autoridades russas.

— Tivemos uma conversa aberta e sincera sobre nossas intenções e nossas prioridades. Vamos competir vigorosamente, mas não estou procurando conflito, estou buscando gerenciar essa competição de forma responsável — disse Biden uma em entrevista coletiva depois do encontro. — Acredito firmemente que não precisa haver uma nova Guerra Fria.

Segundo a definição de Biden, Xi "não foi nem mais conciliador nem mais duro" na cúpula, mas "direto e reto como sempre foi". Já um comunicado de Pequim chamou as conversas de “completas, francas e construtivas” .

— Estou ansioso para trabalhar com você, sr. presidente, para trazer as relações entre a China e os EUA de volta ao caminho saudável e do desenvolvimento estável para o benefício de nossos dois países e do mundo como um todo — disse Xi a Biden no início do encontro, acrescentando que os dois lados “precisam encontrar a direção certa” e “elevar o relacionamento”.

Segundo frisou o presidente chinês, "o mundo é grande o suficiente" para que haja espaço para as duas potências prosperarem.

Biden também enfatizou a importância do encontro presencial depois de cinco conversas por telefone ou por videoconferência desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2021, e se comprometeu a "manter as linhas de comunicação abertas".

Tensões e distensão
A reunião desta segunda-feira ocorreu três meses depois que Pequim fez manobras militares inéditas em torno de Taiwan, em represália à visita de Pelosi, e um mês depois que os EUA impuseram suas mais duras restrições comerciais destinadas a prejudicar a capacidade chinesa de produzir semicondutores mais modernos, no que analistas viram como uma "declaração de guerra" tecnológica. Para agravar as tensões, existe ainda a parceria de Pequim e Moscou, que permaneceu firme mesmo após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Recém-lançada por Biden, a mais nova estratégia de segurança nacional americana tem como foco conter a ascensão da China e impedir que a potência asiática ultrapasse os Estados Unidos. Xi, por sua vez, acaba de conquistar um terceiro mandato à frente do Partido Comunista da China e deve confirmar no início de 2023 o terceiro mandato na Presidência. Desde sua ascensão à liderança, em 2012, ele adotou uma política externa mais assertiva do que a de seus antecessores, investindo nas capacidades militares chinesas e dando prioridade ao avanço em tecnologias de ponta.

Segundo o comunicado divulgado pela Casa Branca após o encontro, serão retomadas as conversas entre altos funcionários dos dois países sobre questões como mudança climática, estabilidade econômica, alívio da dívida dos países mais pobres, saúde e segurança alimentar. A visita de Blinken, disse a nota, deve ocorrer no início do próximo ano.

Biden e Xi, disse o comunicado, também concordaram que “uma guerra nuclear nunca deve ser travada” e que se opõem “ao uso ou ameaça de uso de armas nucleares na Ucrânia” — uma concordância importante dada a "parceria ilimitada" anunciada por Xi e o presidente russo Vladimir Putin pouco antes da invasão da Ucrânia. De acordo com o comunicado de Pequim, o presidente chinês se disse "muito preocupado" com a situação atual na Ucrânia e alertou que "as guerras não produzem vencedores".

'Linha vermelha'
Apesar da evidente intenção de ambos de reduzir a tensão, ficou claro que persistem divergências sobre Taiwan, que Pequim tem como meta reunificar ao continente, se necessário à força, enquanto Washington aumenta seu apoio político e militar às autoridades locais.

De acordo com a Casa Branca, Biden explicou “em detalhes” que os EUA continuam comprometidos com a política de “uma só China” — que considera Pequim a legítima representante dos chineses — mas se opõem a quaisquer “mudanças unilaterais” no status quo de Taiwan. O americano também levantou objeções ao que chamou de “ações coercitivas e cada vez mais agressivas da China" em relação à ilha.

— Não acho que haja qualquer tentativa iminente por parte da China de invadir Taiwan — disse Biden na entrevista. — A política de "uma só China" não mudou. Nossa posição não mudou em nada. Tenho certeza que ele [Xi] entendeu o que eu disse. Não houve mal-entendido.

Já Xi advertiu que a questão de Taiwan é uma linha vermelha que Washington não deve cruzar.

— A questão de Taiwan é o coração dos interesses centrais da China, o cimento da fundação política das relações China-EUA e a primeira linha vermelha que não deve ser cruzada — disse ele, segundo a imprensa estatal chinesa.

Altos funcionários da Casa Branca disseram na manhã desta segunda-feira que a reunião foi marcada após um mês de “diplomacia silenciosa” e planejamento intenso. Os delicados ajustes finais continuaram até a noite de domingo, depois que Biden chegou a Bali para a cúpula do G20, prevendo um encontro altamente roteirizado.

Daniel Russel, um ex-diplomata americano que acompanhou Biden em reuniões com Xi quando Biden era vice-presidente, disse que ambos os lados estão buscando "abaixar a temperatura em um relacionamento superaquecido".

Os dois se encontraram no hotel da delegação chinesa, e o lado chinês exigiu extensas precauções contra a Covid-19, incluindo testes de PCR e máscaras N-95 para jornalistas norte-americanos que acompanham Biden. (Com Bloomberg, AFP e New York Times)

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2022/11/no-inicio-da-primeira-cupula-presencial-biden-e-xi-pedem-reducao-da-tensao-entre-potencias.ghtml

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

O novo imperador, de um Império quase inteiro, expõe os seus planos (Deutsche Welle)

O ambicioso plano de Xi Jinping no Congresso do PCC

William Yang
CGTN, 17/10/2022
há 2 horas

Presidente chinês resumiu em discurso as conquistas do governo nos últimos cinco anos. Taiwan, seguranças nacionais, autossuficiência foram tema no evento em que Xi prepara o caminho para um terceiro mandato.

Deutsche Welle, 17/10/2022

Em tom triunfante, o presidente chinês, Xi Jinping, destacou as conquistas de sua sigla durante a abertura do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC) neste domingo (16/10). E prometeu uma série de reformas e mudanças visando promover o rejuvenescimento da nação chinesa.

Ao discursar para cerca de 2.300 membros do partido único, Xi defendeu a estratégia de zero covid, dizendo que as medidas de controle da pandemia "protegeram a vida e a saúde”, e que as decisões para impor o "governo dos patriotas” em Hong Kong ajudaram a mudar a situação da região "de caos para governança”.

Além disso, embora Pequim insista em lutar pela reunificação pacífica com Taiwan, nunca renunciaria à opção de usar a força para alcançar esse objetivo: "As rodas da história estão girando em direção à reunificação da China e ao rejuvenescimento da nação chinesa. A reunificação completa da pátria pode e deve ser alcançada."

Discurso sem muitos conflitos

Wen-Ti Sung, professor de Estudos Taiwaneses da Universidade Nacional Australiana, atualmente residente em Taipei, considerou discurso de Xi muito menos agressivo do que esperavam certos analistas: "Ele diz que a ‘reunificação completa da nação deveria e precisaria acontecer', mas é muito vago sobre como pretende fazer isso."

"Enquanto alguns analistas taiwaneses temiam que o presidente chinês apresentasse novas estratégias para resolver a questão com Taiwan, seu discurso sinaliza um desejo maior de preservar a continuidade, em vez de mudança. Ele mencionou determinação firme e capacidades fortes para se opor à independência de Taiwan, mas não especificou um plano ou cronograma. A intenção é aumentar ainda mais a ambiguidade quanto ao cronograma e à urgência da unificação com Taiwan."

Além de enfatizar o sucesso do Partido Comunista Chinês na superação de desafios, Xi também destacou "mudanças rápidas na situação internacional”, elogiando os esforços da legenda para "manter a equidade e a justiça internacionais, defender a prática do multilateralismo genuíno e se opor claramente a todos os tipos de hegemonia e políticas de poder”.

À medida que aumenta a tensão geopolítica entre a China e os países ocidentais liderados pelos Estados Unidos, Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Singapura, afirma que a ênfase no multilateralismo significa que a China continuará desafiando e competindo com Washington. "Quando se fala de multilateralismo, muitas vezes significa que Pequim trabalhará por meio de instituições internacionais, principalmente as Nações Unidas e as agências da ONU, para combater o que considera influência dos EUA."

Ênfase em ideologia e autoconfiança

Embora o discurso seja amplamente visto como uma continuação das políticas do governo de Xi Jinping na última década, o cientista político Ian Chong considerou notável a ênfase do líder chinês em valores não tangíveis: "Uma das maneiras de Xi Jinping lidar com os desafios, inclusive com a desaceleração da economia e a rivalidade da China com os EUA, é enfatizar a disciplina e a ideologia partidária."

Durante o discurso, Xi descreveu o marxismo como a ideologia orientadora do PCC, e que é "responsabilidade histórica solene” dos membros do partido continuarem "abrindo novos capítulos na adaptação do marxismo ao contexto chinês”.

Ao apresentar a visão para os próximos cinco anos, em meio aos crescentes desafios econômicos, Xi disse que Pequim continuará a promover a prosperidade comum, melhorar a distribuição de riqueza e acelerar o desenvolvimento de um sistema habitacional. Ele também destacou a necessidade de crescimento por meio de uma economia de mercado socialista e estratégias de dupla circulação doméstica-internacional.

Buscando educação de classe mundial

Dexter Roberts, membro do Conselho do Atlântico, criticou o discurso de Xi por não explicar muito sobre o conceito de "prosperidade comum”: "Foi uma declaração sem muita informação, e não há muitos detalhes sobre como eles realmente vão fazer isso."

"Também acho que a prosperidade comum tem,  na liderança e na cabeça de Xi, um elemento de punição aos ricos. Muitas das repressões contra empreendedores e grandes empresas de tecnologia na China estão relacionadas à segurança econômica e de dados."

No entanto, Iris Pang, economista-chefe do ING para a China, acredita que Pequim está tentando colocar a prosperidade comum sob um novo signo, destacando a necessidade chinesa de construir uma educação de classe mundial, "e isso dará à geração mais jovem a oportunidades de subir na pirâmide da riqueza – e eles têm um canal para fazer isso adequadamente".

E com os EUA aumentando seus esforços para impedir o acesso da China a tecnologias de semicondutores, Xi prometeu se concentrar no "desenvolvimento de alta qualidade" que priorizaria educação, ciência e tecnologia: a China "acelerará a realização de um alto nível de autossuficiência científica e tecnológica e autoaperfeiçoamento".

Para Dexter Roberts, a ênfase de Xi na "autossuficiência" indica que Pequim quer provar que pode "seguir sozinho", embora possa ser um desafio. "Não acho que Xi entenda quão difícil seria para eles a nacionalização de alta tecnologia em sua cadeia de suprimentos."

Modernização militar e fortalecimento de "seguranças"

Ao lado da autossuficiência, Xi também enfatizou a importância de continuar os esforços de modernização militar, prometendo acelerar a "modernização da doutrina militar, a organização do Exército, dos militares, e de armas e equipamentos".

Xi destacou a importância de fortalecer uma ampla gama de "seguranças" no país, mencionando a palavra cerca de 50 vezes ao longo do discurso. Ele instou a China a fortalecer sua base de segurança nacional melhorando o sistema de alerta precoce e garantindo o fornecimento de alimentos e energia.

David Bandurski, codiretor do China Media Project,considera o conceito de segurança nacional um dos sinais mais claros do discurso. "É uma continuação completa do que vimos sob o governo de Xi. Podemos deduzir com relativa certeza que eles estão falando dos Estados Unidos, e parte disso se refere a preocupações internas de segurança do desenvolvimento ou do trabalho."

No geral, alguns especialistas acham que, com o discurso do domingo, Xi está ampliando a visão e a direção traçadas na última década. Para Holly Snape, especialista em política chinesa da Universidade de Glasgow, em vez de estabelecer novas metas, o discurso de Xi reforça uma visão estreita de "modernização definida pelo partido”.

Moldando a história para traçar o futuro

Snape acreditar ser "importante que Xi tenha liderado a elaboração do discurso, pois isso permitiu que ele aprofundasse e consolidasse o pensamento que começou a definir, principalmente em 2017”.

Bandurski, do China Media Project, acrescenta que o relatório político entregue por Xi no domingo serve, principalmente, para sinalizar o poder do presidente chinês e posicioná-lo na história do Partido Comunista. "A história está sempre bem na mira do Partido Comunista, e interpretar e expandir a história é realmente a chave para Xi sinalizar seu poder. Tudo gira em torno de contar a história básica de que os últimos cinco anos foram um grande sucesso e mostrar por quê.”

O Congresso do Partido Comunista é realizado a cada cinco anos, e até o fim do presidente chinês deverá garantir um terceiro mandato Na ocasião, o Partido Comunista Chinês também divulgará a formação de sua nova liderança.


domingo, 16 de outubro de 2022

Xi Jinping diz que China não descarta usar força em Taiwan (Deutsche Welle)

 Alguma surpresa?

Xi Jinping diz que China não descarta usar força em Taiwan

Deutsche Welle, 16/10/2022

Líder chinês abre Congresso do Partido Comunista a caminho de um terceiro mandato. Em discurso, ele afirma que Pequim tem controle total de Hong Kong e tomará "todas as medidas necessárias" para fazer o mesmo com Taiwan.

https://www.dw.com/pt-br/xi-jinping-diz-que-china-n%C3%A3o-descarta-usar-for%C3%A7a-em-taiwan/a-63456460?maca=bra-GK_RSS_Chatbot_Mundo-31505-xml-media

O presidente da China, Xi Jinping, abriu neste domingo (16/10) o 20º Congresso do Partido Comunista com um discurso duro em relação a Taiwan, afirmando que não descarta o uso da força para garantir o controle total da ilha autogovernada, que Pequim considera território chinês.

"Insistimos em lutar pela perspectiva de uma reunificação pacífica com a maior sinceridade e com os maiores esforços", disse o líder chinês. "No entanto, não estamos comprometidos em abandonar o uso da força e nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias."

Em recado à comunidade internacional, Xi acrescentou que "resolver a questão de Taiwan é assunto do próprio povo chinês, e cabe ao povo chinês decidir".

"As rodas históricas da reunificação nacional e do rejuvenescimento nacional estão avançando, a reunificação definitivamente deve ser alcançada e a reunificação definitivamente será alcançada", afirmou, arrancando aplausos de seus companheiros de partido.

Em resposta às declarações de Xi, Taipei declarou que não cederia sua soberania nem comprometeria a liberdade e a democracia. O gabinete presidencial de Taiwan enfatizou que ambos os lados compartilham a responsabilidade de preservar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e na região, e que entrar em combate não é uma opção.

Taiwan é uma ilha autogovernada desde 1949, com regime democrático e politicamente próxima de países do Ocidente. A China, no entanto, a considera parte de seu território e exige que os países escolham se vão manter relações diplomáticas com Pequim ou com Taipei.

A ilha esteve recentemente no centro de uma tensão geopolítica, depois que a presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, fez uma visita a Taiwan, provocando a fúria de Pequim. Em resposta, o governo chinês realizou exercícios militares ao redor da ilha.

Os EUA não têm laços diplomáticos formais com Taiwan e reconhecem a República Popular da China, com sede em Pequim, como "único governo legal". No entanto, Washington não reconhece explicitamente a soberania chinesa sobre Taiwan e continua fornecendo armas à ilha.

Xi mencionou ainda outro território sensível de sua gestão, Hong Kong, sobre o qual a China já alcançou um "controle total", segundo o líder chinês. Pequim reprimiu duramente os movimentos dissidentes na região após amplas manifestações pró-democracia em 2019.

O presidente afirmou que as medidas tomadas em Hong Kong restauraram a ordem e garantiram que a região semiautônoma seja governada por patriotas. Segundo ele, Hong Kong "entrou num novo estágio, no qual restaurou a ordem e está pronto para prosperar".

O Congresso do Partido Comunista Chinês ocorre a cada cinco anos e elege o líder do país. Na China, não há eleições diretas para presidente. No fim da reunião de uma semana, que reúne quase 2.300 membros do partido único, Xi deve ser confirmado para um inédito terceiro mandato à frente do país, tornando-se o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-Tung.

Congresso do Partido Comunista Chinês
O Congresso do Partido Comunista ocorre a cada cinco anos e reúne seus mais de 2 mil membrosFoto: Mark Schiefelbein/AP Photo/picture alliance 

Reforço das Forças Armadas

Em seu discurso de abertura de uma hora e 45 minutos, o presidente defendeu ainda um crescimento militar e tecnológico mais rápido, a fim de promover o "rejuvenescimento da nação chinesa".

Objetivo da gestão de Xi, esse conceito inclui reavivar o papel do partido como líder econômico e social, retornando ao que o presidente chinês considera como era dourada depois que a legenda assumiu o controle total do país, em 1949.

Ele acrescentou que o Exército de Libertação Popular, braço militar do partido, deve "salvaguardar a dignidade e os interesses básicos da China", aludindo a uma lista de disputas territoriais e outras questões diante das quais o governo em Pequim afirma estar pronto para ir à guerra.

A China está atualmente em desacordo com os governos do Japão, da Índia e de nações do Sudeste Asiático em relação às suas reivindicações territoriais.

Pequim, com o segundo maior orçamento militar do mundo depois dos Estados Unidos, está tentando estender seu alcance por meio do desenvolvimento de mísseis balísticos, porta-aviões e postos militares avançados no exterior.

"Trabalharemos mais rápido para modernizar a teoria militar, o pessoal e as armas", declarou Xi. "Reforçaremos as capacidades estratégicas dos militares."

Elogios ao regime

Xi Jinping também não poupou elogios ao Partido Comunista, que disse estar assegurando a estabilidade social, preservando a segurança nacional e defendendo vidas.

Segundo ele, a legenda única da China "ganhou a maior batalha contra a pobreza na história da humanidade" com as políticas domésticas de Pequim de priorizar o avanço da prosperidade compartilhada. O governo pretende acelerar a criação de um sistema habitacional e aprimorar o sistema de distribuição de riqueza, afirmou o político.

Após ser alvo de críticas por meses devido à restrita política de covid zero da China e seu impacto econômico, Xi elogiou a medida afirmando que ela ajudou a proteger "a segurança da vida e a saúde física dos cidadãos ao máximo".

Ele acrescentou que o país "obteve grandes resultados positivos na prevenção e controle geral da epidemia", mas se absteve de afirmar se a política rigorosa chegaria ao fim em breve.

O presidente também prometeu resolver a questão do declínio da taxa de natalidade na China. "Estabeleceremos um sistema de políticas para aumentar as taxas de natalidade e buscar uma estratégia nacional proativa em resposta ao envelhecimento da população", disse.

Especialistas afirmam que a segunda maior economia do mundo pode sofrer danos como resultado de um declínio populacional iminente.

O líder de 69 anos também destacou o progresso chinês na defesa do meio ambiente. Ele prometeu a continuação de uma "revolução energética" e a promoção do uso limpo do carvão, ao mesmo tempo em que aborda a poluição do solo, do ar e da água.

ek (AP, Reuters, Lusa, AFP)


terça-feira, 30 de novembro de 2021

A questão de Taiwan e o interesse para o Brasil - Paulo Antônio Pereira Pinto

 Meu amigo e colega, Paulo Antônio Pereira Pinto, envia seu mais recente artigo publicado em Mundorama, da UNB, sobre a Questão de Taiwan e o interesse para o Brasil:


A questão de Taiwan e o interesse para o Brasil

Editoria Mundorama
Nov 30 · 10 min read

Paulo Antônio Pereira Pinto


Sobre o autor

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

A RPC, a Lituânia e o problema de Taiwan - opinião da CGTN

 O nacionalismo chinês — aqui expresso pela CGTN — se opõe à “ideologia ocidental” que pretende separar Taiwan da integridade de sua jurisdição soberana, como pretende fazer a “política externa baseada em valores” da Lituânia. O problema de Taiwan é, provavelmente, o mais grave na agenda de política externa da RPC.

Paulo Roberto de Almeida 

Lithuania courting danger with 'values-based foreign policy'
First Voice

Editor's note: CGTN's First Voice provides instant commentary on breaking stories. The daily column clarifies emerging issues and better defines the news agenda, offering a Chinese perspective on the latest global events. 

Lithuania's provocative move to allow the opening of a "representative office" under the name of "Taiwan" threatens a permanent rift in the relationship between Lithuania and China. It also shows the insidious threat of so-called values-based diplomacy to international peace and stability.

After a shift in government in October 2020, Lithuania adopted an outspoken, hostile attitude toward China. There are several reasons behind this abrupt change in policy, driven by domestic political imperatives.

The most obvious is that the new center-right coalition is driven by Western ideology. The main coalition partner, the Homeland Union, was a key backer of the discredited austerity measures put in place after the global financial crisis. It seeks closer economic ties with Washington and a stronger EU.

The Homeland Union was formed to challenge the Communist Party of Lithuania after the breakup of the Soviet Union and has defined itself by strongly supporting nationalism. Today's Homeland Union leaders have drawn a historically inaccurate but emotionally powerful parallel between Lithuania's decision to claim independence and separatist movements in Taiwan.

Although this false comparison falls apart when looking at the concrete specifics of the historical situations, it has emotionally resonated with the public and been a savvy political maneuver. For this reason, defending Taiwan separatism makes for good domestic politics.

But most importantly, the provocative move is designed to curry favor with the Biden administration, which Lithuania relies on for its security.

The Lithuanian coalition government has pledged to follow a "values-based foreign policy," the same language used by U.S. President Joe Biden as he attempts to form an anti-China coalition, cajoling countries into choosing between Washington and Beijing.

U.S. President Joe Biden walks to the Oval Office of the White House after arriving on Marine One in Washington, D.C., U.S., Aug. 10, 2021. /Getty

It may have a principled ring to it. But, in practice, the term "values-based foreign policy" means rejecting any political, judicial or economic system that doesn't mimic one of those in the Western countries. It comes from the assumption that there are universally applicable standards for all political, economic and social development when, in fact, every country has its own tradition and development path.

Any effort to impose an alien system of government at gunpoint is doomed to fail, as have been seen with the U.S.' futile attempts. It is arrogant and unrealistic.

Politics has made it advantageous for Lithuania's ruling coalition to lash out at China. But the decision to play domestic politics by encouraging Taiwan separatism is destabilizing and irresponsible.

For Lithuania and the rest of the "values-based" coalition against China President Biden is attempting to form, Taiwan may just be a piece in a giant chess game to contain China's rise. But this is not how China views the matter. The bedrock of China's ties with any country and the United Nations is the one-China policy, which acknowledges that Taiwan is part of China. It is the cornerstone of China's international relationships and the basis for mutual trust. Any efforts to undermine China's sovereignty on this issue are extremely dangerous. 

Supporting Taiwan separatism to obtain a domestic political advantage or pressure China will not only fail but could trigger a chain of events that could lead to wholly unnecessary conflicts.

For reasons that may have to do with nostalgic colonial arrogance or a racist tendency to consistently underestimate the Chinese people's ability and resolve, the West seems unable to process the fact China will not accept meddling in its domestic affairs and challenges to its territorial integrity. Moves such as Lithuania's are simply encouraging a downward spiral that leads to a dead end.

And the U.S.' open support of Lithuania on the Taiwan matter just shows the world how far-reaching and dangerous this "value-based foreign policy" is turning out to be.

(If you want to contribute and have specific expertise, please contact us at opinions@cgtn.com.)