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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Existe algo de novo na politica brasileira? Sim! O NOVO - Confira algumas materias de imprensa

Creio que se trata do único partido, por enquanto, a exibir valores, princípios, propostas compatíveis, adequadas, necessárias para superar a atual fase de crise no Brasil.
Transcrevo, da página do Partido NOVO a relação das matérias de imprensa a propósito do partido.
Neste link: http://novo.org.br/novo-na-midia.php
Confiram você também.
Paulo Roberto de Almeida

Novo na mídia

2015

Veja Online

O que tem de novo o Partido Novo
Data: 09/11/2015
Entrevista de Joice Hasselmann com João Dionísio Amoêdo, em duas partes.
Parte 1 Parte 2

Revista Época

Novo, o intruso liberal na política brasileira.
Data: 03/11/2015
Reportagem conta um pouco da história do NOVO, suas principais bandeiras e desafios.
Confira aqui!

O Estado de São Paulo

Líder do Partido Novo quer ‘um Estado menor', que pare de atrapalhar as pessoas.
Data: 26/10/2015
João Dionísio Amoêdo dá entrevista a Sonia Racy, fala sobre a história do NOVO e suas principais bandeiras.
Confira aqui!

Record News Online

João Dionísio Amoêdo apresenta propostas do Partido Novo.
Data: 15/10/2015
Em entrevista a Heródoto Barbeiro, João Dionísio Amoêdo responde a perguntas sobre política brasileira e os diferenciais do NOVO.
Confira aqui!

Globo News

Diálogos: João Dionisio Amoêdo, presidente do Partido Novo, analisa a crise política.
Data: 08/10/2015
Entrevista de João Dionísio Amoêdo com Mário Sérgio Conti.
Confira aqui!

Exame.com

Partido Novo quer privatizar o Brasil
Data: 27/09/2015
Entrevista de João Dionísio Amoêdo para a Exame.com, em que fala sobre a proposta do NOVO de reduzir a atuação do Estado e estratégia política.
Confira aqui!

O Globo

Partido Novo é contra Fundo Partidário e planeja se financiar só com doações de pessoas físicas.
Data: 21/09/2015
Entrevista com João Amoedo, presidente nacional do NOVO, sobre as propostas do partido.
Confira aqui!

Gazeta do Povo

Partido Novo está filiando na internet.
Data: 19/09/2015
Entrevista com Ubiratan Guimarães, coordenador do núcleo de Curitiba, e artigo de Joel Pinheiro, do diretório nacional.
Confira aqui!

Folha de S. Paulo - Caderno Poder

Desilusão com a política pode ajudar Novo a crescer, diz presidente da sigla
Data: 17/09/2015
Entrevista com João Dionísio Amoedo, presidente nacional do NOVO, sobre a situação política e social do Brasil e a chegada do NOVO.
Confira aqui!

Brasil Post

TSE aprova registro do Partido NOVO
Data: 16/09/2015
Luiz Guilherme Medeiros, diretor do Instituto Liberal do Centro-Oeste, comenta o registro do NOVO e explica um pouco das visões do partido.
Confira aqui!

VEJA Online - Coluna do Rodrigo Constantino

Há algo NOVO no ar…
Data:
Rodrigo Constantino celebra o registro do NOVO
Confira aqui!

VEJA Online - Coluna do Felipe Moura Brasil

TSE aprova registro do Partido Novo por 6 votos a 1 e habilita legenda liberal para as eleições de 2016
Data: 16/09/2015
Felipe Moura Brasil descreve o Partido NOVO e comenta o voto dos ministros do TSE
Confira aqui!


Terra

TSE aprova registro do Partido Novo
Data: 16/09/2015
Breve descrição do Partido NOVO
Confira aqui!

G1 - Política

Partido Novo recebe registro do TSE e se torna 33ª legenda do país
Data: 15/09/2015
Descrição do Partido NOVO e do julgamento do registro no TSE
Confira aqui!

Isto é Dinheiro

"O Brasil virou uma empresa sem credibilidade”, diz fundador do partido NOVO
Data: 31/03/2015
Reportagem sobre o NOVO.
Confira aqui!

O Tempo

Fenômeno na web, partido Novo defende menos poder do Estado
Data: 30/03/2015
Reportagem sobre os valores do NOVO.
Confira aqui!

Folha Política

Brasil deve ter mais seis partidos políticos em 2015
Data: Fevereiro de 2015
Reportagem sobre as novas perspectivas para a política brasileira.
Confira aqui!

The Economist

Niche no longer
Data: 28/02/2015
Reportagem sobre novas forças políticas em ascensão no Brasil, entre elas o NOVO.
Confira aqui!

El País

A campanha presidencial de 2030 já começou para o liberal partido Novo
Data: 18/02/2015
Reportagem sobre o NOVO.
Confira aqui!

2014

Veja

João Dionisio Amoêdo: “Ao Povo o que é do Povo”
Data: 19/11/2014
Entrevista com João Dionisio Amoêdo nas páginas amarelas da Veja.
Confira aqui!

Época

João Dionisio Amoêdo: "A gente quer acabar com os privilégios"
Data: 26/09/2014
Entrevista com João Amoêdo, presidente nacional do NOVO.
Confira aqui!

Spotniks

Conversamos com João Amoêdo, fundador do Partido Novo
Data: 26/09/2014
Joel Pinheiro entrevista João Amoêdo, presidente nacional do NOVO.
Confira aqui!

O Estado de S. Paulo

Partido Novo, de viés liberal, pode ser a 33ª legenda do País
Data: 30/07/2014
Reportagem sobre o pedido de registro do NOVO
Confira aqui!

Valor Econômico

‘Partido Novo’ pede registro no TSE e terá diretórios em nove Estados
Data: 27/07/2014
Reportagem sobre o pedido de registro do NOVO.
Confira aqui!

O Globo

Partido Novo entra com pedido de registro no TSE
Data: 24/07/2014
Reportagem sobre o pedido de registro do NOVO.
Confira aqui!

The Economist

The loneliness of the right-wing legislator
Data: 03/04/2014
Reportagem sobre novas forças políticas em ascensão no Brasil, entre elas o NOVO.
Confira aqui!

2013

Veja Rio

O Oposto do Black Block
Data: 27 /11/ 2013
Reportagem sobre o NOVO.
Confira aqui!

Revista Buzz

Uma empresa chamada Estado S.A.
Data: Outubro de 2013
Entrevista com João Amôedo.
Confira aqui!

Podcast Rio Bravo

“O cidadão ganha quando o estado encolhe”
Data: 05/10/2013
Entrevista com João Amoêdo.
Confira aqui!

VideoDebate

Entrevista com Marcos Alcântara Machado
Data: 26/09/2013
Ton Martins entrevista Marcos Alcântara Machado, do Diretório Nacional do NOVO.
Confira aqui!

Diegoreporter

Data: 23/09/2013
Diego Casagrande entrevista João Amoêdo.
Confira aqui!

Folha de S. Paulo

Engenheiro tenta criar partido pró-privatização
Data: 03/09/2013
Reportagem sobre o NOVO.
Confira aqui!

O Estado de S. Paulo

Liberais projetam ‘a direita do PSDB’
Data: 02/09/2013
Reportagem sobre o NOVO.
Confira aqui!

Veja - Coluna do Rodrigo Constantino

Palestra sobre política
Data: 09/08/2013
Palestra de João Amoêdo, presidente nacional do NOVO, e Rodrigo Constantino.
Confira aqui!

Instituto Liberal

Entrevista exclusiva com João Amoêdo para o Instituto Liberal
Data: 05/08/2013
Entrevista com o presidente nacional do NOVO.
Confira aqui!

Coluna do Rodrigo Constantino

Por que dou meu apoio ao Partido Novo
Data: 01/07/2013
Palestra de Constantino sobre o NOVO e por que essa iniciativa conta com seu apoio.
Confira aqui!

Panorama Mercantil

“Nada recebido do Governo é gratuito”
Data: 07/03/2013
Entrevista de João Dionisio Amoêdo - Presidente do partido NOVO.
Confira aqui!

domingo, 18 de agosto de 2013

A imprensa ocidental se engana a respeito do Egito - Abdallah Schleifer (Al-Arabia.net)

Western Media Misunderstands Egypt

August 16, 2013
This article, by FPRI Senior Fellow Abdallah Schleifer, originally appeared on AlArabia.net on August 13, 2013. Writing from Cairo, Schleifer is Professor Emeritus of Journalism at the American University in Cairo.
I have been shocked by the shallow way the Western media has covered the political situation in Cairo since the coup against former President Mursi.
One would never know from reading The New York Times editorials and a good deal of its coverage – along with that of other leading news organizations – that the Egyptian armed forces had moved against a political movement attempting to impose an authoritarian regime on the country.
One would never know that, aside from coached demonstrators, the exultation stirring the crowd at Cairo’s Rabaa al-Adawiya protest camp was for martyrdom and not really for democracy.
One would never know, until pollsters finally released data on the subject, that the overwhelming majority of Egyptians were opposed to Muslim Brotherhood (MB) sit-ins and marches. These disrupted both the traffic and a more general recovery in tourism, investment, job creation, law and order – leading to calls for the sit-ins to end, one way or another.
One would never know, given the absence of any real political parties with grassroots support aside from the Muslim Brotherhood, that the Egyptian army – with its massive number of conscripts and status as a symbol of Egyptian independence – is the most significant popular institution in this country, along with al-Azhar, Egypt’s top Islamic institution.
One would never know any of this, because it was a military intervention which deposed Mursi – and not a bloody civil war between a couple of million MB and allied Salafi supporters, and the many, many more opposed to the drift to an Islamist dictatorship. And that – a civil war – is something media can focus on.
From much of the Western coverage, few would recall how press freedom was undermined during Mursi’s one-year rule. This was overshadowed in reports of how the army closed down MB media outlets after Mursi’s ouster. However, tomorrow that period will be surveyed, along with the present situation, in a Committee to Protect Journalists (CPJ) report called “On the divide: Press Freedom at Risk in Egypt”.

Uncomfortable with the Military

The skewed media coverage of Egypt is partly due to something intrinsic in journalism, which makes so many of its practitioners uncomfortable or hostile to a professional army. Some Western journalists –Americans in particular – make psychological associations between military forces and the U.S. Army’s role in Vietnam, Afghanistan and Iraq.
Many aspects of the media and military are at polar opposites. Skepticism is a necessary journalistic virtue, versus honor and respect for one’s superior officers in the military. ‘Nothing is sacred’ is a plausible perspective for journalists, in the impromptu atmosphere of the newsroom. Compare this with the sacred duty, or ritual-like ceremonies of the military: the raising and lowering of the flag, and the solemn honor guards escorting army parades.
Journalists react with great speed to an event: the need to scoop the competition is a journalistic virtue. But armies need cautious deliberation in actions that can mean death and destruction.
Military principles seem distant to the media in America and Europe, where conscription ended years ago and nearly all journalists are too young to identify with the critical role played by U.S. armed forces in defeating the Nazis during World War II.
So in coverage of Egypt, the journalists face something unknowable and incongruous to them – the military.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O Itamaraty e a opiniao publica - Oliver Stuenkel

O Itamaraty pode engajar a sociedade civil?

2013 MAY 9
by Oliver Stuenkel
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ITAMARATY
No final de 2011, durante uma reunião em Nova Déli na qual participaram Shashi Tharoor, ex-Ministro de Estado das Relações Exteriores da Índia, e vários outros diplomatas indianos, um dos palestrantes agradeceu a Tharoor por ter ajudado o Ministério das Relações Exteriores da Índia a “começar a entender como se pode usar as mídias sociais para engajar a sociedade civil”. Ele admitiu que o número de seguidores da conta do Ministério no Twitterainda era baixo; atualmente está em 79.800. A conta pessoal da Shashi Tharoor, por sua vez, tinha 22 vezes mais seguidores, e está, no momento, em 1.75 milhões, o que faz dele um dos políticos mais populares de nossos tempos. O que parecia certo para os diplomatas ali presentes é que o establishment da política externa indiana precisava fazer mais para engajar a sociedade civil, através de uma estratégia astuta dirigida às mídias sociais, de uma estrutura organizacional transparente, e de uma equipe profissional de funcionários de relações públicas. Se não fosse assim, como poderia o governo indiano angariar apoio público para suas estratégias complexas de política externa, como, por exemplo, para a construção de sua presença militar no Oceano Índico, para o fortalecimento dos laços com a ex-inimiga China, e para criar apoio global para a reforma do Conselho de Segurança da ONU?

Um debate semelhante acontece no Brasil, outra potência emergente que busca desempenhar um papel maior no cenário internacional. Da mesma forma de que na Índia, os formuladores de política externa do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, lutam para convencer a sociedade civil de que o Brasil deve se tornar um ator global com uma forte atuação em diversas áreas ao redor do mundo. Porém, a política externa desempenha apenas um papel marginal no acalorado debate público brasileiro. Os maiores projetos do Itamaraty são frequentemente recebidos com uma mistura de desinteresse e de rejeição, tanto por parte da mídia quanto pela opinião pública. 

Em 2010, quando o Presidente Lula viajou para o Irã para negociar um acordo nuclear com o Presidente Ahmadinejad, a maioria dos formuladores de opinião pública fez duras críticas à decisão, e vários amigos e colegas desaprovaram meu artigo em defesa da viagem. A estratégia brasileira de fortalecer os laços com a África e com o Sul Global é equivocadamente caracterizada, muitas vezes, como uma empreitada puramente ideológica, embora seja lentamente aceita pelo mainstream político. Como escrevi recentemente, a maior parte da sociedade civil, da mídia e da área acadêmica do Brasil permanece cética quanto ao conceito dos BRICS, que é uma das estratégias mais inovadoras do governo para diversificar suas parceiras e pressionar pela reforma da governança global. Por fim, um dos projetos mais ambiciosos do Brasil para o longo prazo, a reforma do Conselho de Segurança da ONU (e a inclusão do país como membro permanente), costuma ser visto pelos cidadãos brasileiros como um projeto de elite quixotesco e amorfo. 

Até certo ponto, isso é natural. O Brasil não tem tradição de desempenhar um grande papel na arena internacional. Há apenas algumas décadas, o número de embaixadas brasileiras ao redor do mundo era relativamente pequeno comparado com as 139 embaixadas atualmente mantidas pelo país. A ideia de que o Brasil pudesse ter um papel importante a desempenhar no Oriente Médio teria soado esquisita na década de 90, quando o Brasil apenas começava a se consolidar econômica e politicamente. Estudantes universitários brasileiros e jovens profissionais são a primeira geração que se sente à vontade com um Brasil internacionalmente ativo, profundamente envolvido em regiões distantes que não parecem ter virtualmente nenhum impacto discernível sobre a vida do dia a dia no país.

Portanto, parece ser apenas uma questão de tempo até que a opinião pública no Brasil se acostume a estratégias de política externa cada vez mais ambiciosas. Nas universidades, isso já está acontecendo. Existem mais de 100 cursos de graduação em relações internacionais. Mas o Ministério das Relações Exteriores do Brasil pode, certamente, fazer mais de que ficar parado e esperar que a nova geração tome o controle. Isso é o que argumenta Matias Spektor em um editorialperspicaz publicado pela Folha de São Paulo. Ele coloca parte da culpa pela superficialidade e pela relativa ausência da política externa no debate público brasileiro sobre a falta de vontade do Itamaraty de engajar e tentar ativamente moldar a opinião pública. Segundo Spektor, ao invés de interagir com a imprensa, os embaixadores brasileiros são instruídos a manter um perfil discreto, o que facilita a circulação de falsos rumores e más interpretações por parte de jornalistas frequentemente desinformados. Ele nota, com razão, que escritores muitas vezes se referem à mídia internacional ao invés de contatar o Ministério das Relações Exteriores. No passado, isso causou problemas. Quando o Brasil negociou com o Irã, o Itamaraty não forneceu informações suficientes à mídia nacional, o que permitiu que uma narrativa com influência americana se estabelecesse, segundo a qual o Brasil estava se comportando de maneira perigosa. 

Sob o Ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota, o Itamaraty tem feito tentativas sem precedentes para engajar a sociedade civil, com diversos convites estendidos a representantes de ONGs e acadêmicos para que participem em seminários. Patriota, que passa 40% de seu tempo viajando pelo exterior, frequentemente dá palestras em universidades e participa em discussões sobre política em think tanks, tais como aquela realizada na FGV do Rio de Janeiro no ano passado sobre a “Responsabilidade ao Proteger”. 

Contudo, Spektor também enfatiza que o Itamaraty precisa empregar o Twitter e o YouTube de maneira mais engajadora. É interessante notar que a conta no Twitter do Itamaraty tem quase o mesmo número de seguidores de que a do Ministério das Relações Exteriores da Índia, uma realização bastante impressionante quando se considera que a população do Brasil é cinco vezes menor do que a da Índia. 

Mesmo assim, a sociedade civil indiana parece dar maior apoio às aspirações globais da Índia do que a sociedade brasileira dá a seu próprio governo. Há fatores estruturais que podem explicar isso, como a complexidade da vizinhança, as guerras relativamente recentes com o Paquistão e a China, e uma elite anglófona que estabelece laços e redes ao redor do mundo com maior facilidade. A Índia também se beneficia de uma cultura de think tanks que produz uma avalanche anual de artigos e livros contendo pareceres sobre política externa, o que fortalece o debate público. E os formuladores de política externa da Índia também fazem sua parte. O próprio Shashi Tharoor simboliza o crescente engajamento global indiano. Com seu mais recente livro, “Pax Indica”, ele conseguiu engajar leitores que pouco se importavam, antes, com política externa. A palestra do TED de Tharoor sobre a ascensão de seu país foi vista mais de 600.000 vezes no mundo todo e fortaleceu o debate doméstico sobre o papel da Índia em assuntos globais; acredita-se, inclusive, que tenha inspirado muitos jovens indianos a tentarem entrar para o serviço diplomático do país. O Itamaraty certamente tem um número suficiente de diplomatas talentosos para seguir o exemplo de Tharoor.

Leia também: 

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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Imprensa no Brasil: deterioracao dos padroes - Reporteres sem Fronteira

Coincide, por acaso, com o reino dos companheiros. Pode ser que eles não tenham nada a ver com essa realidade, mas que eles adoram uma imprensa estatal, veículos subordinados e um exército de sabujos pagos para serem subservientes e totalmente submissos às ordens do bureau político do comitê central, isso é tão certo quanto dois e dois são quatro...
Paulo Roberto de Almeida
Repórteres Sem Fronteiras

Brasil cai nove posições em ranking de liberdade de imprensa

'Cenário da imprensa está gravemente distorcido' no Brasil, diz organização Repórteres Sem Fronteiras



Um ranking divulgado nesta quarta-feira, 30, pela organização Repórteres Sem Fronteiras revelou que o Brasil caiu nove posições no ranking de liberdade de imprensa no ano passado em relação a 2011.
De acordo com o levantamento, o Brasil ocupa o 108º lugar de um total de 179 países avaliados. Atualmente, o Brasil está atrás, por exemplo, de Libéria, Uganda, Paraguai e Guine Bissau.
A organização Repórteres Sem Fronteiras apontou que “o cenário da imprensa está gravemente distorcido [no Brasil], ressaltando ainda que, “altamente dependente das autoridades políticas em nível estadual, a imprensa regional está exposta a ataques, violência física contra seus funcionários e ordens judiciais de censura, que também atingem os blogs”.

Eleições 2012

A instituição também afirmou que a violência contra jornalistas no Brasil foi agravada na campanha para as eleições de 2012. Em 2011, o Brasil já havia caído 41 posições no ranking.
O primeiro lugar no ranking de liberdade de imprensa é ocupado pela Finlândia, seguida por Holanda e Luxemburgo. Os EUA estão na 32ª posição. Coreia do Norte, Eritreia e Síria estão entre os países com piores desempenhos.

domingo, 29 de abril de 2012

Imprensa: a brasileira e a internacional - Reinaldo Azevedo

Eu leio muito a imprensa internacional, cela va de soi. Enfim, a imprensa internacional que conta, não as teleguiadas por governos corruptos, venais, populistas e demagógicos, não as vendidas aos mesmos governos e a outros interesses escusos.
Ainda que os companheiros sempre condenem a "grande imprensa", a dos grandes meios de comunicação, eu os desafios a me mostrar sites, e veículos, onde se pode ler uma variedade de matérias -- políticas, econômicas, culturais -- de qualidade, sempre distinguindo o que deve ser distinguido:
1) News, ou seja, simples reportagem de fatos, objetivos, reportagens;
2) News analysis: mais do que a simples matéria, artigos de análise dos fatos por jornalistas de redação, não repórteres de terreno;
3) Editorial: todo grande jornal tem sua opinião, não necessariamente a do dono do jornal, mas a do seu Board editorial, do do seu Comitê de jornalistas, como é o caso de certos jornais "democráticos" (Le Monde);
4) Opinion: ou seja, artigos assinados por qualquer um que tenha coluna ou seja convidado ocasional, seja ou não jornalista, seja ou não empregado do jornal, ou simples recebedor de honorários.
Isso é o básico, mas existem muitas outras seções em jornais de prestígio, que eu também leio.
Se eu fosse fazer uma relação de todos os jornais, boletins, edições digitais e alertas de internet que recebo, todos os dias, para destrinchar e ler, creio que a lista seria muito longa. Mas deixem-me resumir o principal do que leio regularmente, ou diariamente:
The Economist (alertas da revista e consulta ao site); The New York Times (boletim diário e alertas direcionados, para Brasil, por exemplo); The Washington Post (boletins e alertas); Financial Times (boletins); Le Monde (três boletins, um semanal); Der Spiegel (seleção diária em inglês); The Wall Street Journal (boletim diário); Foreign Policy (diário); Foreign Affairs (semanal); e mais alguns outros que posso estar esquecendo (ocasionalmente acesso El País, Clarín, etc.).
Da imprensa brasileira, além dos inúmeros boletins que recebo ou acesso, diariamente (tipo MRE, Mundorama, etc.), acesso diariamente ou regularmente o Estadão, Globo, eventualmente a Folha e o Valor (mas suas matérias principais, analíticas, acabam chegando nos muitos boletins de interesse focado, em economia e relações internacionais, por exemplo).
Deixo de fora todos os think tanks de importância que me enviam com regularidade variável seus boletins e matérias (Daily Mises, Carnegie, Brookings, Institute for International Economics) e edições eletrônicas de veículos especializados (tipo The New York Review of Books, Magazine Littéraire e outros).
Aliás, recomendaria aos candidatos à carreira diplomática que procurassem receber (E LER, of course) alguns desses jornais e boletins, pois sempre teriam muito o que aprender em suas páginas (se não puderem todos, pelo menos alguns, tipo Economist, Financial Times, NYT e, um pouco menos, o Le Monde).
Deixo de fora todas as demais porcarias que também recebo, e até coisas de interesse, pois ligados a ONGs, think tanks especializados e até, vejam vocês, coisas dos companheiros, com interesse variável de minha parte.
Por que escrevo tudo isto? Bem, apenas para discorrer introdutoriamente sobre a matéria abaixo, que me parece ainda muito leniente com a imprensa brasileira, independentemente do fato das posições políticas do seu autor, um jornalista conhecido.
Mesmo sem tocar na vida pessoal ou pública dos políticos brasileiros, a imprensa brasileira é de baixa qualidade, pois distingue mal as categorias que enfatizei acima, e mesmo o colunismo é mais de opinião do que de análise das matérias de interesse. Isso para não falar do despreparo técnico de repórteres (minha opinião sobre eles é a pior possível, já que saindo de faculdades medíocres, criadas pela reserva de mercado profissional), e também do pouco profissionalismo de jornalistas consagrados.
Enfim, eu sou exigente, todos sabemos, mas tenho direito de ser exigente com a informação, base incontornável de análises e reflexões. Como sou um usuário compulsivo de todo tipo de fonte, para meu trabalho de analista e "historiador improvisado", sei que a qualidade dessa imprensa brasileira deixa muito a desejar.
Dito isto, deixo vocês com a matéria abaixo, que toca em apenas uma parte da "ruindade" da nossa imprensa.
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 29/04/2012

Agora que o inquérito sobre Demóstenes Torres foi tornado público — e vou aqui insistir para que se acabe com o falso sigilo de coisas assim: há sempre vazamentos selecionados por escroques — e que resta evidente que a “grande munição” contra a imprensa, com a qual Lula prometia o fim do mundo, era só pó de traque, cumpre fazer algumas considerações sobre a imprensa brasileira.
Desde que o PT chegou ao poder, a imprensa está sob ataque. Tudo ficou muito pior depois que veio à luz o escândalo do mensalão e que acadêmicos do PT, liderados por Marilena Chaui, inventaram a falsa tese da tentativa de golpe de estado. A maior contribuição desta estudiosa de Espinoza foi abrigar o pensamento de Delúbio Soares. O partido resolveu mobilizar contra a imprensa seus esbirros na Internet e montou um verdadeiro aparelho para intervir em portais, sites, blogs, redes sociais etc. Anúncios da administração direta e de estatais financiam a intervenção, o que é um acinte à democracia. É por isso que não publico aqui aqueles que chamo, desde sempre, “petralhas”. Não são indivíduos se manifestando, mas funcionários de uma organização. Alguns são remunerados. Outros não!
A campanha de difamação é intensa, embora os propósitos da canalha não tenham se realizado. Quem liderava antes continua a liderar — e com a mesma folga. O que há de novo na era petista é essa pistolagem que tenta contrastar a verdade dos fatos com uma “verdade alternativa” — que é um outro nome para a mentira.
Aqui e ali, de modo despropositado, falso mesmo!, diz-se que a imprensa brasileira não sabe distinguir o joio do trigo, que escolhe o caminho do sensacionalismo, que é injusta com o poder e com os poderosos. Isso é falso de várias maneiras combinadas. Se algum mal há no setor, é seu alinhamento meio burro, automático, com teses de esquerda — mas deixarei este aspecto de lado agora. A verdade é que a imprensa brasileira está entre as mais bem-comportadas do mundo democrático; talvez seja a mais compreensiva de todas.
Explico-me. A grande imprensa brasileira faz uma distinção radical, sem zonas cinzentas, entre o que é privado é o que é de interesse público. No texto em que trata dos princípios da VEJA, Eurípedes Alcântara, diretor de Redação, esmiúça o comportamento da revista — e, na verdade, de toda a grande imprensa — quanto a esse particular. Assim, se um jornalista recebe um arquivo com informações escabrosas sobre a vida sexual de um político por exemplo — refiro-me mesmo a evidências, provas —, isso não é publicado se o dito comportamento não estiver relacionado a algo que diga respeito ao interesse da coletividade ou que fira esses interesses.
Todo mundo sabe disso. Lula sabe disso. José Dirceu sabe disso.
Por que é assim? Porque se considera, no que eu chamaria de “cultura da imprensa brasileira”, que tal fato não é “político”. Se a grande imprensa brasileira quisesse ser sensacionalista, seria a maior — e melhor — imprensa sensacionalista do mundo. Por um bom tempo ao menos, até que houvesse uma mudança de hábitos. Olhem aqui: quem já se hospedou em alguns hotéis de Brasília — e não estou me referindo a puteiros, não! —, sabe que a capital federal rende quilômetros de textos sobre, como posso chamar?, desregramentos dos costumes de casados, solteiros, anfíbios… O mesmo vale para alguns restaurantes. E, no entanto, há uma espécie de compromisso tácito entre os políticos e  funcionários graduados e o jornalismo de que nada daquilo será notícia. Peçam a um congressista american que deixe um restaurante embrigado para vocês verem o que acontece. Em Brasília, isso é rotina. Tudo questão pessoal!
A grande imprensa brasileira tende a considerar que isso tudo é o joio. Para ser trigo, tem de envolver o interesse público. O jornalismo só se ocupou do filho que Renan Calheiros tinha fora do casamento quando se descobriu que era uma empreiteira que pagava a pensão à mãe da criança. Como ele era presidente do Senado, restava evidente que havia uma dimensão coletiva no que parecia ser apenas uma questão pessoal. Então se publicou.
Lula ficou furioso quando os negócios de Lulinha, o seu “Ronaldinho”, vieram a público. Disse que estavam mexendo com a sua família. Errado! Era a sua família — no caso, um de seus filhos — que estava mexendo com o estado ao receber alguns milhões da Telemar, uma concessionária de serviço público, de que o BNDES era sócio. Não fosse isso, ninguém se importaria se aquele ex-monitor de jardim zoológico tinha ou não se tornado um milionário.
José Dirceu, o consultor de empresas privadas que se esgueira em quartos de hotel, ficou bravo com as imagens que VEJA publicou na revista. Ora, estivesse ele recebendo, naquele ambiente, pessoas sem quaisquer vínculos com assuntos da República, ninguém teria dado um pio. Mas não! Com a sua folha corrida, mantinha encontros com o presidente da Petrobras, com o ministro do Desenvolvimento Industrial, com o líder do governo na Câmara… O Zé sabe muito bem que nem VEJA nem outro veículo qualquer teria publicado uma linha a respeito caso ele estivesse por ali para, sei lá, estripulias sexuais. No Brasil é assim. Mas não é assim no mundo, não!
No mundo
Lembram-se do “bunga bunga” de Berlusconi? Antes que surgissem as suspeitas sobre a idade e a procedência de algumas meninas — o que toca em questões de estado —, a vida dissoluta do então primeiro-ministro, estivesse ou não o interesse público envolvido, era alvo de constantes reportagens, com fotos, artigos, especulações etc. Algumas fotos tiveram que sair com aquele quadriculado ali na região entre o umbigo e as coxas…
Na Inglaterra, então, nem se fale. O escândalo que envolveu o ”The News of the World” não mudou a rotina dos tabloides, não. Aquele jornal cometeu crimes para fabricar notícia, coisa muito diferente de noticiar o que se sabe da vida pública ou privada de personalidades da política, da realeza e do mundo do espetáculo. Um arquivo que chegasse a uma redação com folguedos sexuais de um político seria simplesmente notícia. Ponto! Nem se discute se um político ou funcionário graduado flagrado em intimidades num hotel ou num restaurante com namorada (o) ou amante é ou não notícia. É.
Boa parte do establishment político brasileiro não sobreviveria  à imprensa americana, bem mais comedida do que a inglesa ou italiana, mas muito distante da nossa no que concerne a essa separação rígida entre o público e o privado. Os bacanas que reclamam do nosso jornalismo não sabem, na verdade, o paraíso em que vivem. Na maioria das democracias, compreende-se que o homem público praticamente não tem direito a algumas prerrogativas dos cidadãos privados. Um exemplo: se o “Indivíduo A” tem uma amante, isso só interessa a ele, a ela e à mulher traída. Se, no entanto, ele for um político, isso passa a ser, sim, do interesse coletivo porque se considera que ele representa uma coletividade. Como tal, não pode reivindicar o direito à privacidade. Nos EUA, sabemos, a categoria que mais fulmina pré-candidatos à Presidência são as amantes.
Fico cá me perguntando se, por exemplo, os americanos não acertam mais do que nós. Fico cá pensando se Brasília — refiro-me à Brasília como capital administrativa, não aos brasilienses — não seria um lugar de mais trabalho, de mais seriedade, de mais moralidade se os homens públicos soubessem que os jornalistas contarão tudo o que sabem e pronto! Sempre há a alternativa, é óbvio, de o sujeito de vida complicada decidir se manter na esfera privada, hipótese em que se ninguém tem de se meter com seus assunto.
Talvez isso, mais do que o Ficha Limpa — que tem muitas portas abertas para o drible e até para a chantagem (trato disso outra hora) —, contribuísse para melhorar a política. O candidato a homem (e mulher, claro) público teria muito claro: “Se a minha história não for reta e se eu não viver conforme digo que vivo, sei que vou quebrar a cara”. Sim, sempre haverá, na democracia, a possibilidade de alguém se apresentar ao eleitorado justamente como aquele que enfia o pé no jaca. Mas, nesse caso, o eleitor será previamente avisado. Se votar, votou. Notem que não há lei proibindo que um sujeito com amante ou que tenha feito uma suruba se candidate nos EUA. Pode se candidatar. Provavelmente, não será eleito. Uma certeza ele tem: se teve amante ou fez suruba e se a imprensa ficar sabendo, isso será notícia. No Brasil, nunca!
Generosa
A imprensa brasileira, a verdade é esta, está entre as menos sensacionalistas do mundo. Na verdade, ela acaba sendo tolerante em excesso com certos comportamentos que, embora privados na aparência, mesmo não estando relacionados a dinheiro público ou a princípios da administração pública, revelam, no entanto, o político de duas caras, o anfíbio, aquele que diz uma coisa e que faz outra. Há certos comportamentos individuas que são sintomas de mau-caratismo. No homem privado, problema dele e de quem com ele se relacionar; no homem público, pode ser indício de baixa qualidade da representação e de degradação da política.
“Mas me diga, Reinaldo, não pode haver um santarrão, com comportamento ilibado no terreno moral, que é, no entanto, um contumaz ladrão do dinheiro público?” Ora, gente, claro que sim! Assim como é possível existir um fauno, com uma penca de amantes, vivendo uma vida dissoluta, que não toca em um centavo do que é alheio. Mas acho que essa é tal curva do sino, entendem? Existe a minoria nos dois extremos. Mas me estendi demais nas eventuais virtudes de termos uma imprensa que conta tudo o que sabe sobre o homem público. Quero voltar ao ponto.
A grande imprensa brasileira é generosa, tolerante e paciente. Permite que o fauno se passe por santarrão se considerar que isso é só um problema privado. Uma coisa é certa: a classe política brasileira seria quase dizimada se tivesse de enfrentar uma imprensa americana ou inglesa. E ouso dizer que, num primeiro momento, nem seria por causa do trabalho disso que se convencionou chamar “jornalismo investigativo”, que tenta desvendar as artimanhas dos ladrões de dinheiro público. Bastariam uma câmera fotográfica e alguns arquivos que chegam às redações e que são descartados.
E eu lamento constatar que a nossa democracia não é melhor do que a democracia americana ou britânica. Só por causa disso? É claro que não! Mas também por causa disso. Se, amanhã, os grandes veículos anunciarem: “Vamos contar tudo”, aí vocês conhecerão o que é pânico.  E eu posso garantir que não farão mal nenhum aos brasileiros se forem pra casa.

domingo, 10 de julho de 2011

Wikileaks: a imprensa brasileira na visao da diplomacia americana

SEMANA WIKILEAKS: A embaixada e a mídia – PARTE I
Por Anselmo Massad, especial para a Pública

A pedido da Pública, repórter avaliou como a diplomacia americana usa nossa mídia – e os nossos jornalistas – como fontes para levantar informações que são enviadas a Washington

Boa parte dos 3 mil telegramas da estrutura diplomática dos Estados Unidos no mundo que dizem respeito ao Brasil vazados pelo Wikileaks consiste em resenhas do que foi publicado em jornais e revistas nacionais, chamados no jargão dos diplomatas como “reação da mídia” (“media reaction”).

Há ainda relatos de reuniões com jornalistas, entrevistas concedidas “off the record” (nas quais o repórter compromete-se a não revelar a fonte das informações), conversas casuais que mostram um e bom relacionamento com a mídia. Termos associados à imprensa e menções a grandes veículos noticiosos ocorrem em 1.305 telegramas, 40,8% do total¹.

Entre os jornais, o mais citado como fonte nos telegramas é a Folha de S.Paulo, com 541 menções em 384 mensagens. Comumente qualificado como o “diário de maior tiragem do país”, em algumas ocorrências, o impresso dirigido por Octávio Frias Filho é descrito como o “maior diário esquerdista” ou como “progressista” (“liberal”)no jargão dos telegramas diplomáticos.

O segundo campeão de leitura e atenção por parte dos funcionários da diplomacia é O Estado de S.Paulo, qualificado por diversas vezes como “conservador” e mais frequentemente “de centro-direita”.

Nas buscas pelo nome do jornal, são 480 citações em 317 telegramas.

O Globo (em 89 mensagens), Valor Econômico (em 84), Jornal do Brasil (em 23) e Correio Braziliense (em 11) são citados a respeito de reportagens e artigos pontuais. Outros diários aparecem com bem menos frequência. O Jornal da Tarde, também do Grupo Estado, surge em 2003 como “jornal regional de esquerda”.

Entre as revistas, Veja é a preferida nas leituras dos diplomatas. São 85 referências em 51 telegramas, sem qualquer qualificação além de “semanal”. Em um único episódio, ela é comparada à norte-americana Time. Em outros, como “líder de circulação”. Época é mencionada em nove mensagens (em uma, é classificada como “revista financeira”, em outras como “semanal noticiosa”) e CartaCapital aparece em duas ocasiões, sendo em uma delas, em dezembro de 2004, descrita como “nacionalista de esquerda”.

IstoÉ e IstoÉ Dinheiro são citadas em 16 oportunidades. Em um único episódio, referente à Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia, a cobertura da publicação da Editora Três é vista como “geralmente precisa e justa”, embora suas reportagens sejam “mais desequilibradas do que a líder em circulação Veja”.

Colunistas
Poucos colunistas têm prestígio entre os diplomatas como fontes de informação citadas nos telegramas.

O editorialista da Folha Clovis Rossi lidera com 40 menções, restritas a excertos de sua coluna diária. Demétrio Magnoli, “geógrafo” e “sociólogo”, aparece em resenhas de mídia por oito vezes. Miriam Leitão, analista de economia do grupo Globo, é mencionada cinco vezes, como “respeitada”, “altamente influente” e “aclamada”. Dora Kramer aparece por duas vezes, adjetivada como “influente”.

Há também duas menções ao recém-eleito imortal da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, e uma singela citação a Diogo Mainardi. O primeiro é taxado ora como “proeminente”, ora como “realista” e “menos otimista” do que o restante dos analistas de plantão. O segundo, como “popular colunista”, à época em que escrevia para a Veja.

O âncora Boris Casoy, em 2004 na Rede Record, também recebe o adjetivo de “popular” quando é citado condenando o projeto de Conselho Nacional de Jornalistas, proposto pela Federação Nacional da categoria. Um documento assinado pelo embaixador Danilovich reproduz sua fala na TV quando ele taxou a iniciativa de “abominável” e uma “óbvia tentativa de controlar jornalistas e a imprensa”.

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SEMANA WIKILEAKS: A EMBAIXADA E A MÍDIA – PARTE II
Por Anselmo Massad, especial para a Pública

Documentos mostram encontros de membros do corpo diplomático com diversos jornalistas de peso e representantes de grandes grupos midiáticos

A estrutura diplomática dos Estados Unidos mantém-se permanentemente alerta para o comportamento da imprensa. Um dos centros das atenções, segundo mostram documentos vazados pelo WikiLeaks, é a repercussão de questões relacionadas à política interna norte-americana, além de questões de relações bilaterais e temas relacionados a Israel.

Em meio a diversas análises do que sai na imprensa brasileira, há divagações curiosas. Em 23 de outubro de 2009, em meio à discussão de como a mídia se comporta, um telegrama (UNCLAS SECTION 01 OF 08 BRASILIA 001254) assinado pela conselheira diplomática Lisa Kubiske, tudo começa por elogios: “Os jornalistas brasileiros, falando genericamente, são profissionais, equilibrados e buscam objetividade”.

A seguir, ela sustenta que muitos são “imparciais” no tratamento concedido aos Estados Unidos, ainda que não concordem pessoalmente com as políticas norte-americanas. “Alguns articulistas da mídia dominante demonstram viés contra as políticas dos EUA, embora a tendência tenha começado a mudar com a eleição do presidente (Barack) Obama”, avalia.

A análise se aprofunda: “Um pequeno segmento do público brasileiro aceita a noção de que os Estados Unidos tem uma campanha para subjugar o Brasil economicamente, miná-lo culturalmente e ocupar com tropas pelo menos uma parte de seus territórios. Esse tipo de atitude e de crenças influenciam repórteres e comentaristas em questões como o retabelecimento da Quarta Frota da Marinha dos EUA (caracterizada como uma ameaça para o Brasil), supostamente por nefastas intenções em direção à Amazônia e à ‘Amazônia Azul’ (mares onde novas reservas de petróleo foram encontradas) e mais recentemente o anúncio do acesso dos EUA a bases militares colombianas”.

Há alguns telegramas que relatam encontros de membros da imprensa com embaixadores, cônsules e funcionários da diplomacia.

RBS amiga
Em um telegrama de 2005, o então cônsul de São Paulo, Patrick Dennis Duddy, narra uma visita do então embaixador John Danilovich a Porto Alegre. A capital gaúcha contava com um consulado próprio, até 1997, quando passou a ter apenas uma agência consular.

O embaixador teve três dias agitados, recheados de encontros com empresários e políticos.

Um dos pontos mais curiosos do relato diz respeito a uma entrevista concedida por Danilovich aos veículos da RBS. “O embaixador teve um almoço ‘off the record’ com a direção editorial do grupo RBS, o maior grupo regional de comunicação da América Latina”.

Os números da empresa são apresentados no relato, com detalhamentos sobre operações no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, incluindo a afiliação à Rede Globo, as 120 estações de rádio em dez estados e o jornal Zero Hora.

“O embaixador subsequentemente concedeu uma entrevista ‘on the record’ para o Zero Hora e para a rede de rádios.”

O documento ainda frisa, em sequência, as relações política entremeadas ao grupo de comunicação. “Pedro Parente, que era chefe da Casa Civil do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), é vice-presidente executivo da RBS”, aponta Duddy. Imediatamente a seguir, uma “nota” complementa a informação: “Nós temos tradicionamente tido acesso e relações excelentes com o grupo”.

Estadão amigo
Um telegrama de março de 2005, vazado em fevereiro de 2011, relata um encontro entre o embaixador John Danilovich e líderes da comunidade judaica da capital paulista. A audiência — dois meses antes da Cúpula América do Sul-Países Árabes daquele ano, em Brasília — teve a presença de Abraham Goldstein, presidente da B’nai Brith do Brasil, e Henry Sobel, rabino chefe da maior sinagoga paulistana.

O relato da conversa transcorre no sentido de aprofundar laços com comunidade judaica, mas guarda notas sobre a mídia que passaram despercebidas na ocasião do vazamento, em dezembro do ano passado (o documento já foi publicado pelo WikiLeaks).

Goldstein teria dito a Danilovich que possivelmente haveria uma campanha de imprensa para garantir os pontos de vista favoráveis a Israel e à comunidade de judeus no país.

“Goldstein disse que enquanto o editor de O Estado de S.Paulo prometeu cobertura “positiva”, outros jornais de grande circulação são vistos como tendo inclinação pró-Palestina e não parecem ser de grande ajuda”, redige o embaixador. Na “campanha” estudada, havia menção a buscar não judeus que pudessem criticar o governo brasileiro no que eles consideravam uma tendência anti sionista, centrada na figura do secretário-geral do Itamaraty Samuel Pinheiro Guimarães.

Encontros com jornalistas
Nos telegramas, além de muita leitura e fichamento de jornais, há relatos de reuniões esporádicas com profissionais de mídia.

Carlos Eduardo Lins da Silva, ex-ombudsman da Folha de S.Paulo, participou de quatro encontros com diplomatas descritos nos telegramas. O primeiro, em abril de 2006, foi um encontro com Anthony Wayne, assistente do Departamento de Estado para assuntos econômicos que participava do Fórum Econômico Mundial América Latina. Durante o evento, sediado na capital paulista, Lins da Silva é apresentado como “ex-jornalista” e “consultor político”. No encontro, ele teria afirmado acreditar na viabilidade de Geraldo Alckmin (PSDB) como candidato da oposição.

O segundo encontro ocorreu em 2008, quando Lins da Silva havia sido reconduzido ao posto de ombudsman da Folha.

O então senador do Nebraska, o republicano Chuck Hagel, teve um almoço em São Paulo com a participação de Celso Lafer, ministro de Relações Exteriores (1995-2002) da gestão Fernando Henrique Cardoso, Rubens Barbosa, embaixador brasileiro em Washington (1999 a 2004), Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e ex-embaixador nos EUA e na OMC, e Sérgio Amaral, ex-ministro da Indústria (2001-2002). Mas o único participante sem elos com ministérios nem com o Itamaraty não tem nenhuma declaração citada.

Em novembro de 2008, ainda em seu segundo mandato como ouvidor da Folha, Lins da Silva é qualificado como “ex-editor sênior” do Valor Econômico. A reunião, no caso, foi com o cônsul-geral Thomas White a respeito dos planos de exploração dos campos de petróleo do Pré-Sal. O jornalista avaliava que a crise financeira atrasaria os prazos de extração dos poços do campo de Tupi.

Quando Arturo Valenzuela, secretário assistente para assuntos do hemisfério ocidental, passou pelo Cone Sul em 2010, Lins da Silva aparece novamente em um telegrama diplomático. No mesmo encontro estavam o sociólogo Bolivar Lamounier, Lafer, Barbosa e José Goldemberg, ex-ministro de Ciência e Tecnologia e da Educação na década de 1990.

O ombudsman “destacou o vigor financeiro sem precedentes do PT para executar uma campanha, após oito anos no governo” que, em caso de derrota, produziria uma oposição “muito problemática”.

Lamounier aparece em episódio anterior, ainda em 2007. Ele teria almoçado em 28 de setembro ao lado de Jose Augusto Guilhon de Albuquerque com funcionários da embaixada em São Paulo. Ambos são apresentados como acadêmicos “associados” ao PSDB. O blogueiro do site da revista Exame, da editora Abril, apostava que Lula não tentaria terceiro mandato e que a candidatura apoiada por ele levaria a melhor. Acertou.

E disse ainda que o presidente seguinte teria de buscar apoio do PMDB, em função de seu tamanho e peso. “O PMDB, avisou Lamounier, é sempre o problema, nunca a solução, porque não tem nenhuma identidade política nem ideológica e existe com o único propósito de avançar em interesses pessoais para seus membros.

Waack
Quem também participou de almoços e encontros com funcionários do governo dos Estados Unidos foi o apresentador do Jornal da Globo, William Waack. O primeiro entre os citados foi em 28 de abril de 2008. Uma visita de jornalistas ao almirante Philip Cullom, que passava pelo Brasil para uma série de exercícios conjuntos entre as marinhas dos Estados Undidos, Brasil e Argentina.

De acordo com o relato do então embaixador Clifford Sobel, a visita de “membros da imprensa brasileira” resultou numa “cobertura positiva”. Entre todos os jornalistas, apenas o apresentador do Jornal da Globo é nomeado, por ter “apresentado em duas reportagens para O Globo sobre a visita que reflete a importância da parceria dos EUA com o Brasil”.

Outro encontro deu-se em setembro de 2009, com a presença Sérgio Fausto, à época diretor do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC). Nele, Waack trouxe a informação, que posteriormente se revelaria falsa, de que os então governadores de São Paulo, José Serra, e Minas Gerais, Aécio Neves, teriam acertado uma chapa-puro-sangue do PSDB para rivalizar com Dilma Rousseff.

O terceiro encontro foi com o atual embaixador, Thomas Shannon, em fevereiro de 2010. Waak teria dito que em um fórum com empresários, Aécio Neves teria se mostado “o mais carismático”, Ciro Gomes “o mais forte”, Serra “claramente competente” e Dilma “a menos coerente”.

Em agosto de 2005, há menção a um encontro com oito jornalistas e comentaristas de jornais, revistas, TV e internet. Nenhum é mencionado, mas muitas teorias são listadas sobre o que se sucederia às denúncias de corrupção consagradas como o escândalo do “Mensalão”.

Fernando Rodrigues, repórter especial de política da Folha e autor do blog UolPolítica, teve pelo menos duas conversas com o assessor político da embaixada dos Estados Unidos, segundo os documentos. Em ambos, foi procurado para dar a contextualização de questões relativas ao país: o funcionamento do Tribunal de Contas da União e o futuro de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) caso perdesse a eleição para presidente da Câmara dos Deputados em 2007.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

República Mafiosa do Brasil (18): a colaboracao da imprensa (ainda que involuntaria)

Muitos podem achar que, ao postar todo o material que vem sendo aqui transcrito sob a rubrica geral de "republica mafiososa do brasil" (tudo em minúsculas, comme il faut), eu apenas tenho implicância, ou horror, a certo partido que está aí, ou seus representantes no poder.
Longe disso: acredito que vitórias eleitorais, desde que legítimas -- ou seja, não manchadas por manipulações e fraudes, como se vê ainda muito perto do Brasil -- devem ser amplamente respeitadas. Ainda que eu possa não concordar com determinadas políticas -- e todos sabem que eu expresso claramente minhas opiniões quando não concordo com algo, até em tom veemente -- eu acredito que elas tenham legitimidade.
Por exemplo: esse horror todo que estão fazendo com a educação brasileira -- aulas obrigatórias de estudos afrobrasileiros e de espanhol, no fundamental, e disciplinas obrigatórias de sociologia e filosofia no médio --, esse racismo oficial que estão criando com as cotas do novo Apartheid, tudo isso eu acho um estupro indecente do ponto de vista da qualidade do ensino e de um Brasil democrático, mas não deixo de reconhecer que existe demanda, vinda de certos setores sociais, para esse tipo de besteirol. Os representantes políticos dos novos racistas, dos sindicalistas "professorais" e as pedagogas freireanas se apressam em satisfazer essas demandas, para atender sua clientela. Isso é legítimo, e compreendo. No dia em que eu for responsável por alguma área desse tipo, vou tentar desmantelar esse tipo de empreendimento que considero nefasto para o futuro do Brasil.
Mas, estamos assistindo, desde algum tempo no Brasil, a uma exacerbação de atos ilegais, eu até diria criminosos, que deixam qualquer um que tenha brios democráticos com os cabelos em pé.
Nunca antes neste país se assistiu a tamanha desfaçatez nos crimes políticos como agora, alguns até crimes comuns.
Essa é a única razão pela qual decidi registrar -- é a minha única forma de participação cidadã -- o que me parece relevante no cenário político-eleitoral do Brasil.
Como a nossa imprensa é muito ruim, mas muito ruim mesmo -- com raríssimas exceções entre os grandes jornais -- e como os jornalistas -- novamente com raríssima exceções -- são piores ainda, eu sou obrigado a me apoiar nos poucos exemplos que ainda possuem uma perspectiva crítica, como o conhecido jornalista que vai reproduzido abaixo.
Apenas para dar um exemplo de como eu considero a imprensa ruim.
Eu frequentemente me deparo com manchetes, de primeira página, ou nas páginas de política nacional, que levam mais ou menos um título similar a este:
"PRESIDENTE DISSE QUE FEZ ISSO E MAIS AQUILO"
"PRESIDENTE ACUSOU FULANO DISSO E MAIS AQUILO"
Isso e mais aquilo é obviamente algo que chamou a atenção e que vai além da conta de fatos normais, do contrário não receberia o destaque que se dá. Muitas vezes as afirmações não correspondem à verdade, ou são amplamente exageradas, quando não distorcidas, obviamente sempre em favor de quem as fez.
Pois bem, agora pergunto: o que impediria a uma imprensa correta, aquela que quer educar o cidadão, ou apenas que pretende informar corretamente, de agregar, imediatamente após, no mesmo padrão, algo do gênero?:
"AFIRMAÇÕES DO PRESIDENTE NÃO CONFEREM COM OS DADOS"
"FULANO NEGA DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE"
O que impede uma imprensa de conferir imediatamente determinadas afirmações para verificar se elas correspondem à verdade, para logo em seguida confirmar ou desmentir quem as fez, independente de quem seja?
Deve ser estilo de trabalho, talvez, ou então sentido ético.
Esta é a única razão de porque eu transcrevo esse jornalista aqui.
Como sou amigo da verdade, procuro sempre uma explicação para as coisas. Raramente eu a encontro na "imprensa normal".
Paulo Roberto de Almeida

Chegou a hora de botar os pingos nos “is”. A máquina criminosa remonta à década de 80!
Reinaldo Azevedo, 6.09.2010

Não há um só jornalista trabalhando no Brasil — e isto que vou escrever e especialmente válido para os que têm a minha idade ou mais — que ignore que o PT sempre foi uma máquina de vazar dados sigilosos sobre a vida dos adversários. E isso faz muito, muito tempo! É raro, e os coleguinhas sabem que falo a verdade, haver um jornalista “investigativo” em Brasília que não tenha passado no gabinete de algum deputado petista para pegar dados protegidos por sigilo — e pouco importa a sua natureza: bancário, fiscal, de justiça, de investigação da PF… Escolham!

E, infelizmente, a imprensa tem feito uso da ilegalidade também. E não! Não estou defendendo que ela seja submetida, por isso, a censura de qualquer natureza. Mas não dá para ignorar que pau que bate em Chico também bate em Francisco, como se diz por aí. E, agora, cumpre caracterizar dois tempos: a da ingenuidade romântica e a do realismo cínico.

O PT passa dados sigilosos de adversários a jornalistas desde que existe como partido e desde que seus representantes começaram a ocupar a máquina do estado. Ah, houve um tempo em que as boas almas da “catchiguria” acreditavam mesmo no valor patriótico dessa gente. José Dirceu, por exemplo, era uma “fonte preciosa” desde quando era deputado estadual em São Paulo. Fez um milhão de amigos na imprensa. Outros tantos foram se sucedendo no trabalho sistemático de tentar destruir a reputação dos “inimigos”.

Alguns larápios se deram mal? Claro que sim! Mas muita gente boa — E INOCENTE — comeu o pão que o diabo amassou simplesmente porque “estava do lado de lá”. Eduardo Jorge Caldas Pereira, que teve agora o sigilo de novo invadido, é um caso emblemático da máquina de moer biografias. Ele se recuperou porque é uma pessoa determinada. Mas o PT, em associação com certos setores do Ministério Público, tentaram destruí-lo.

Na fase ingênuo-romântica, muitos acreditavam — e alguns bocós acreditam ainda hoje — que os crimes cometidos pelo partido ao vazar dados sigilosos para a imprensa eram compensados pelo bem que faziam: tirar de circulação algumas figuras detestáveis da política. Nem parecia que o PT o fazia como uma estratégia de poder. Não! Eram os patriotas, as pessoas que estavam do lado benigno da força. No arquivo, vocês encontram textos sobre o alinhamento imprensa-Ministério Público.

Acontece que…
Acontece que aquele “partidinho” de supostos guerreiros do bem se tornou essa máquina que aí está. E a prática criminosa de usar o acesso ao Estado para atingir adversários segue inalterada. Só que o PT é que é o partido da ordem, do continuísmo, do poder. E alguns só se dão conta agora — ao menos espero — de que não é a nossa avaliação do padrão moral de uma vítima que faz o crime. A invasão de dados protegidos pelo estado e seu vazamento são ações criminosas. Ponto.

Notem uma coisa curiosa. Até chegar ao poder, os petistas tinham no que agora chamam “mídia” uma aliada — era um partido “amigo” dos jornalistas e fazia uma crítica ou outra aos “patrões da comunicação”. Lula nunca foi besta. Sabia que a admiração que lhe devotava (e devota ainda, o que é fabuloso!) boa parte da “catchiguria” era importante para a sua causa. A animosidade com a imprensa começa com a chegada de Lula ao poder e atinge o ponto extremo na crise do mensalão.

Por quê? Porque uma parte do jornalismo considerou que os petistas passavam da condição de “investigadores” à de “investigados” — afinal, eram o novo poder. E isso lhes soou como coisa inaceitável. Com acesso pleno à máquina do Estado, queriam continuar na posição de atiradores, jamais de alvos. Começam, então, a chamar a imprensa — ao menos a que rejeita o servilismo — de “golpista”.

Quando o partido tentou, por exemplo, COM AMPLA COBERTURA DA IMPRENSA — BASTA PESQUISAR —, emplacar uma CPI com 45 (olhem que sutil!) denúncias de corrupção contra o governo FHC, tratava-se apenas de patriotismo e senso de justiça. Quando se tentou investigar o mensalão, aí já era golpe…

Volto ao ponto
Mas me desviei um pouco para explicar por que o partido mudou a sua relação com a “mídia”. Retomo o fio. Essa máquina de produzir dossiês e de escarafunchar ilegalmente a vida alheia remonta à década de 80 e vive seu apogeu na década de 90, especialmente durante a gestão FHC. Infelizmente, sucessivas ilegalidades tiveram como parceira a imprensa, sim, senhores! Se parecia moralizante — e até divertido — que o aguerrido partido de oposição denunciasse as “falcatruas” alheias (muitas não era; trava-se apenas de política), o expediente criminoso se mostra agora uma temeridade.

Quem, ilegalmente, quebra o sigilo bancário, fiscal ou de justiça par pegar A, B, ou C pode fazê-lo, se quiser, com o alfabeto inteiro. Vejamos o caso de Verônica Serra. Não é que ela devesse ter proteção especial, não! Não deve. O seu direito ao sigilo tem de ser tão assegurado como o de qualquer um de nós. Mas é evidente que, se até o dela, filha do candidato de oposição à Presidência, está na praça, quem está seguro?

Pois é… Alguns poderiam se sentir confortáveis pensando algo mais ou menos assim: “Já sei! Vou achar correta apenas a invasão do sigilo de algumas pessoas que considero suspeitas”. Bem, desnecessário dizer que isso é impossível. Quem atua ao arrepio da lei pratica bandidagem. E ela será sempre deletéria para as pessoas de bem.

Está posta a questão: “É possível condescender com o crime para ‘fazer o bem’? Sem hesitação, a minha resposta é esta: NÃO! Aqueles que antes se colocavam como os monopolistas da virtude contra os adversários da hora se colocam agora como donos das leis. E preparam uma investida contra a imprensa que ajudou a lhes dar o poder que têm. Antes, diziam proteger o bem público. Hoje, só pensam em se proteger, ainda que isso custe direitos fundamentais assegurados pela Constituição.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A mistificacao como obra deliberada (2): os ataques as "zelites"

Basta transcrever:

Por alguns minutos, Lula transformou o diretor de Redação da Folha no seu FHC. Ou: a mentira como método e a imprensa como alvo
Reinaldo Azevedo, 26/08/2010

Eu mesmo já escrevi aqui, como vocês sabem, que parte da responsabilidade por essa quase unanimidade burra e injustificada de que goza Lula cabe às oposições, em particular ao PSDB, que fez de tudo para evitar o confronto. Há, eu sei, quem ache que faltou foi aderir mais. Cada um na sua. Amplos setores da imprensa podem oferecer o seu ombro para dividir o que tem tudo para se transformar num fardo. Também colaboraram para isso. Que o presidente fosse aprovado pela maioria, vá lá. A economia, como é sabido, pode explicar — e nem cabe aqui entrar no mérito do que se pode ou não atribuir a Lula. Que a aprovação atinja os níveis que estão sendo apontados pelas pesquisas — com a conseqüente transferência de voto para a candidata que ele inventou —, bem, aí a explicação requer um pouco mais do que aquele clichê chatinho: “É a economia, idiota!”.

Todas as mentiras que Lula contou e conta sobre o seu governo passaram quase sem contestação. Não raro, quando confrontadas, buscava-se encontrar um fundo que fosse de verdade no que ele dizia para evidenciar sabe-se lá a que tribunal que não havia preconceito nenhum contra ele. O lulo-petismo conseguiu seqüestrar a independência de jornalismo, que passou a se preocupar mais em não parecer antipetista — ainda que a verdade pudesse ser a primeira vítima desse procedimento — do que em se ater aos fatos. Escrevi anteontem um texto com dados sobre as universidades federais — dados que estão no Ministério da Educação e no IBGE. Eles provam a falácia da suposta revolução que ele fez na área. Até leitores habituais deste blog se surpreenderam. E daí? Lula falou o que bem quis nestes oito anos. A oposição não conseguiu se organizar de maneira eficiente para contestá-lo com fatos que estavam à sua disposição. Boa parte do jornalismo fez o mesmo.

E Lula se mostra, por isso, menos agressivo, virulento, com a imprensa — que o PT chama “mídia” — por isso? De jeito nenhum! O partido já tem pronto um estoque de maldades legais, que pretende apresentar na forma de projetos de lei, para tolher a liberdade de imprensa e intimidar as empresas de comunicação. Há exemplos no continente elogiados pelos petistas e considerados virtuosos por eles: a Venezuela e a Argentina.

Se alguém acredita que o partido está conformado com a liberdade de imprensa, pode tirar o cavalo da chuva. Na última reunião do Foro de São Paulo, realizada em Buenos Aires sob o comando do PT, o grupo tirou uma moção de apoio a Cristina Kirchner, que tenta liquidar o grupo Clarín.

Um episódio ocorrido ontem dá o que pensar. Reproduzo trecho de uma reportagem da Folha de hoje. Leiam com atenção:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou anteontem a imprensa em comício em Campo Grande (MS) ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.
Lula disse que foi vítima de preconceito da mídia que, segundo o presidente, não acreditava que ele seria capaz de governar por não ter curso universitário e por não saber falar inglês.
“Uma vez eu estava almoçando na Folha de S.Paulo e o diretor da Folha de S.Paulo perguntou para mim: “Escuta aqui, candidato, o senhor fala inglês?” Eu disse não. “Como é que você quer governar o Brasil se não fala inglês?” Eu falei: “Mas eu vou arrumar um tradutor”. “Mas assim não é possível. O Brasil precisa ter um presidente que fala inglês”. E eu perguntei para ele: “Alguém já perguntou se o Bill Clinton fala português?”, afirmou.
“Eles achavam que Bill Clinton não tinha obrigação de falar português. Era eu, o subalterno, o país colonizado, que tinha que falar inglês. Teve uma hora que eu me senti chateado e levantei da mesa. E falei: “Não vim aqui para dar entrevista, vim para almoçar. Se é entrevista eu vou embora”. E levantei, larguei o almoço, peguei o elevador e fui embora.”
Lula afirmou ainda que vai terminar o mandato “sem precisar ter almoçado em nenhum jornal, em nenhuma televisão”. “Também nunca faltei com respeito com nenhum deles, já faltaram com respeito comigo. (…) Se dependesse de determinados meios de comunicação, eu teria zero na pesquisa e não 80% de bom e ótimo como nós temos neste país.”

Método
Em 2002, num almoço na Folha de S. Paulo, irritado com perguntas que lhe foram feitas por Otavio Frias Filho, diretor de Redação do jornal, Lula, de fato, levantou-se e foi embora. To do o resto que ele conta é mentira, não aconteceu. Otavio jamais fez aquelas perguntas. Aquele diálogo nunca aconteceu. O colunista Clóvis Rossi escreve a respeito hoje. Conheço várias pessoas que estavam presentes e que me relataram o episódio à época. O próprio jornal publicou reportagem.

Otavio perguntou, aí sim, por que ele optara por não estudar, tomando o cuidado de lembrar que Lincoln, o presidente americano, também não tinha formação superior e fizera um bom governo — notem que a ressalva era favorável ao então candidato. Ele não respondeu e acusou desrespeito. Pouco depois, o jornalista quis saber se a união com o PL não caracterizava uma adesão a práticas fisiológicas — o mensalão revelaria mais tarde como se deu esse casamento. Lula levantou e foi embora. Esse é o fato. Essa é a verdade.

Agora voltem ao trecho em vermelho e leiam a versão que ele levou ao palanque. Ontem, por alguns minutos, Otavio se transformou no FHC de Lula. O petista resolveu contar a história como bem quis. Não na Folha certamente, mas em outros veículos por aí, é provável que prospere a versão lulo-petista do episódio — afinal, jornalismo afora, não prosperou a versão fantasiosa de que as privatizações não passaram de “privataria”? Trata-se de uma lulice. Sim, haverá os porta-vozes da mistificação que se encarregarão de espalhar a mentira. Para muita gente, o diretor de Redação da Folha será aquele que perguntou a Lula como ele se atrevia a ser presidente sem falar inglês.

Notem mais: a mentira que conta nada tem de primitiva ou impensada. Ao contrário: ao se colocar como aquele que foi discriminado por um diretor de redação de jornal por não falar inglês — e por ter origem operária; é o subtexto —, convoca a solidariedade dos ouvintes, que, nesses dois particulares, estão mais próximos dele próprio do que de Otavio e do jornal. Investe, assim, na clivagem vigarista e falsa entre “o povo”, que ele representaria, e as elites, para as quais falaria a Folha — e, por extensão, todos os jornais, revistas, TVs, sites e blogs que não estão alinhados com a causa petista.

Os oito anos de gestão Lula têm, é claro, qualidades. Seria estúpido supor — e aqui nunca se disse isso — que ele é aprovado pela maioria da população apenas porque mente com o desassombro que se vê acima, sem hesitar, tremer o lábio, nada, emprestando às suas fantasias muito bem-articuladas aquele ar de verdade de que só um grande ator — eis o grande talento de Lula! — é capaz. Não! A aprovação tem explicações bastante objetivas. Mas os contornos de mito em que ele tem investido com fúria, especialmente no segundo mandato, esses foram desenhados com a falsificação sistemática do passado, do presente e, se querem saber, até do futuro. E, para tanto, ele contou com muita ajuda.

Não é gratuito
O ataque, nos termos em que ele o faz, não é gratuito. Deve ser visto, entendo, como um sinal de alerta pela imprensa brasileira, que tem de olhar com atenção o que se passa ao redor. Lula é hoje o principal aliado de todos os governos latino-americanos que abriram uma verdadeira guerra contra a imprensa que não se conforma em ser mera extensão do Poder Executivo.

Há quatro dias, Franklin Martins — aquele que nunca teve a menor dúvida de que o embaixador seria morto se as exigências dos terroristas não fossem cumpridas, ´s gargalhadas — deixou claro, como é mesmo?, o propósito de “acabar com o poder dos aquários”. Não se trata de “política do medo”, como dizem alguns cretinos e áulicos, mas de realismo: se eleita, a criatura de Lula tentará fazer o trabalho que não se fez nos dois mandatos do chefe. Eles partirão para o enfrentamento com a imprensa independente: em uma das mãos, trarão as ameaças legais; na outra, o “incentivo” às empresas amigas que estão sendo criadas ou robustecidas para disputar leitores, telespectadores e internautas. Quais empresas? Aquelas que não têm compromisso nenhum com a liberdade de imprensa e entendem que todos são livres para aderir ao governo.

Encerro: a economia pode ter feito o governo popular; mas foram as omissões que fizeram o mito. E o mito está assanhado.