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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 2 de setembro de 2018

Meu diagnostico e propostas de ação para o governo em 2003 - Paulo Roberto de Almeida

Como eu via a situação no Brasil, recém desembarcado no Brasil do PT, depois de 4 anos em Washington? 
Ainda antes de partir para Brasília, fazendo trânsito por Porto Alegre, eu redigi, e enviei ao futuro chefe, uma nota bastante crítica quanto ao momento vivido no Brasil, nos planos econômico, político e moral, sendo progressivamente pessimista em cada um deles. Esse trabalho, exageradamente intitulado de “breve diagnóstico” e de “propostas para ação”, recebeu o n. 1137, e permaneceu inédito durante todo o tempo, sendo apenas agora divulgado sem cortes.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 2/09/2018

Breve diagnóstico e propostas de ação
Nota sobre a conjuntura em outubro de 2003

Paulo Roberto de Almeida
Reservado; não copiar, não distribuir.
Porto Alegre, 26 de outubro de 2003


Concentrarei minha breve análise do momento atual, e farei minhas sugestões de atuação no futuro imediato, em torno de três dimensões, apenas, da ação governativa: a econômica, a políticae a moral (ou ética). 
Do ponto de vista da economia, ao contrário do que vêm dizendo os críticos mais renitentes (que por acaso são os antigos e/ou velhos aliados da causa), a postura assumida pelo governo parece ser, a despeito dos riscos inerentes ao baixo crescimento e o escasso potencial de criação de empregos, a única possívelnuma conjuntura de dificuldades persistentes nos planos interno e externo. 
Independentemente do fato de que a estratégia de administração econômica tem agradado os banqueiros e os economistas ortodoxos e descontentado, como é notório, os economistas “alternativos” — como aqueles que se reuniram em Brasília, entre os dias 10 e 13 de setembro de 2003, no XV Congresso Brasileiro de Economistas, e aprovaram a “Carta de Brasília”, com uma forte posição crítica sobre os rumos atuais da política econômica — ou mesmo a comunidade mais ampla de “trabalhadores acadêmicos” — como os reunidos na ANPOCS, em Caxambu, de 21 a 24 de outubro de 2003 —, a única constatação que pode ser feita nesse capítulo é a de que os propositores de uma estratégia desenvolvimentista-distributivista falharam redondamente, até aqui, em propor alguma estratégia factível de gestão econômica alternativa, que logre assegurar estabilidade e que promova o crescimento, dentro das limitações empíricas existentes (que são totalmente ignoradas por esses críticos). 
Meu diagnóstico, portanto, é o de que a estratégia econômica deve ser não apenas mantidacomo preservadade críticas internas, com a sugestãode que o governo promova nova reunião interna com a base parlamentar (e eventualmente do PR com os ministros) com o objetivo de aprofundar os esclarecimentospertinentes e lograr coesão adicional em torno dessa estratégia de ação. Poderei fornecer, em documento à parte, “respostas” às críticas formuladas pelos economistas “alternativos”.
Do ponto de vista da política, por outro lado, não há como deixar de concordar com muitos analistas políticos e jornalistas sérios, de que uma metade do governo, pelo menos, tem deixado fortemente a desejar em sua ação (ou falta de), trazendo ônus reais para o PR, assim como para a gestão política global do governo. Em parte isso deriva do “custo natural” de um processo de transição inédito para os padrões da política brasileira, mas também pode ser explicado pela inexperiência administrativada nova equipe e pela composição heterogênea do primeiro escalão, fruto de uma composição partidária necessária no momento de assunção do governo.
Meu diagnóstico é o de que o governo tem funcionado com excesso de retórica e pouca ação coordenada ou, para resumir, mais com base em Antonio Gramsci (conceitos abstratos) do que com base em Peter Drucker (gestão pragmática e focada em resultados). As sugestões não são simples, mas talvez elas passem por um enxugamento mais ou menos radical da máquina e pela definição de um conjunto de ações governativas centradas no atendimento das questões mais cruciais de interesse direto da população. Essas questões me parecem ser basicamente duas: emprego (ou renda) e segurança.
O governo não está em condições de, nem poderá, garantir o primeiro elemento, pois isso incumbe à iniciativa privada, bastando que a macroeconomia não atrapalhe indevidamente a microeconomia (o que é problemático, uma vez que o Estado continua a ser o principal despoupador líquido da economia, afetando o sistema produtivo). Mas ele tem e precisa garantir o segundo elemento da equação, segurança, junto com o provimento de serviços básicos, que são essencialmente saúde educação (este o principal garantidor de que o coeficiente de Gini poderá mover-se um pouco mais para baixo até 2006). Minha sugestão concreta seria a de que o novo governo se concentrasse nessas ações básicas nos próximos três anos. 
A questão moral, finalmente, tem a ver com a credibilidade do governo, e esta me parece estar seriamente no limite de um diagnóstico negativo por parte da população, com base em alguns eventos ou episódios bastante conhecidos no período recente (nem todos, é verdade, situados na esfera do executivo, mas a população não tem a sutileza das necessárias distinções, atribuindo-os todos ao “governo”). A experiência indica que uma vez operada a caracterização da “indiferença” ou da “conivência” do governo, torna-se difícil reverter o grau de confiança antes disponível, isso no seio de uma grande massa que pode ter votado como o fez em outubro de 2002 não com base em considerações de natureza econômica ou política, mas essencialmente em função de preceitos éticos. Minha sugestão é a de que o governo atue pronta e radicalmente nessa frente, à margem e independentemente de qualquer processo futuro ou em curso de reforma ministerial.
A governabilidade exige que a economia funcione bem (ou que pelo menos ela não provoque desgastes adicionais), que a política seja eficiente (ou que pelo menos ela aparente ser) e que os padrões éticos do governo sejam inatacáveis (aqui sem qualquer compromisso). Estes critérios devem ser escolhas do estadista. Todo o resto é secundário.

Paulo Roberto de Almeida
Porto Alegre, 26 de outubro de 2003

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Copom: enxugando gelo e enganando os incautos - Comunicado do BC

Desde 2011 que o presidente do Banco Central promete alinhar a inflação com o centro da meta para o ano seguinte, e nunca cumpriu.
Em qualquer país sério, o Congresso já teria exigido sua substituição por alguém capaz de manter suas promessas, e de tomar as medidas necessárias para que isso se faça. Aliás, um presidente que se respeita jamais teria aceito abaixar os juros por decreto, apenas por ordem da presidente, uma inepta em economia. Teria dito simplesmente: "isso é o Copom quem decide e os diretores não querem sugestões externas, eles sabem errar sozinhos, sem precisar de erros externos."
Mas parece que vamos continuar nas promessas vazias.
Alguém aí é capaz de acreditar que a inflação estará no centro da meta em 2017?
O Brasil tem por dez anos mais para ter taxas de juros normais, graças aos crimes econômicos cometidos pelo bando de keynesianos de botequim que nos destruiram nos últimos anos.
Paulo Roberto de Almeida

BRASIL - Copom: navegando as incertezas atuais
Itaú Macroeconômica, 26/11/2015

O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) manteve a taxa Selic em 14,25% a.a.. Embora a decisão tenha sido em linha com o esperado - tanto pelos analistas como pela curva de juros - houve um dissenso dentro do Comitê. Dois (de oito) membros da diretoria votaram para uma elevação de 0,50 p.p. na taxa Selic, para 14,75%.

O comunicado que acompanhou a decisão foi lacônico e não traz maiores detalhes além da votação dividida. Abaixo o comunicado completo:

“Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 p.p.. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 14,25% a.a. os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Luiz Edson Feltrim e Otávio Ribeiro Damaso. Votaram pela elevação da taxa Selic para 14,75% a.a. os seguintes membros do Comitê: Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon.”

Nas últimas semanas, o Copom vinha sinalizando que adotará as medidas necessárias para trazer a inflação ao centro da meta (4,5%) ao final de 2017.   

Apesar da recente apreciação cambial (o real se valorizou em cerca de 5% frente ao dólar desde a última reunião do Copom), as incertezas políticas/fiscais seguem pressionando as expectativas de inflação e trazendo riscos para a política monetária. Desde a reunião do Copom de 21 de outubro, a mediana das projeções dos analistas para o IPCA de 2016 subiu de 6,12% para 6,64% (marcando a 16ª alta semanal consecutiva). As projeções para 2017 tambem começaram a mostrar pequena elevação, saindo de 5,00% para 5,10% na última semana. As estimativas de inflação implícita nos títulos públicos também se encontram em patamar elevado - as taxas a termo se situam entre 8-9% para intervalos de 1 a 2 anos, e entre 7,0-7,5% para prazos de 3 a 5 anos  - embora estes cálculos reflitam a existência de prêmio de risco nos ativos brasileiros. Esse aumento nas expectativas de inflação piora o balanço de riscos para a inflação, o que  poderia levar o Copom a retomar o ciclo de alta de juros. Estes fatores devem ser as razões para os votos a favor de um aumento de juros.

No entanto, a atividade permanece bastante fraca, o que ajuda a conter os efeitos secundários da depreciação cambial e dos ajustes de preços administrados. Além disto, a piora em curso nas condições do mercado de trabalho tem potenciais efeitos desinflacionários em setores mais intensivos em mão de obra (serviços). A incerteza política/fiscal atual também recomenda cautela na definição da política monetária, de forma a contribuir para a redução da volatilidade nos mercados. Estes fatores contribuem para mitigar as possibilidades de um aperto monetário no curto prazo, e provavelmente foram preponderantes na decisão do restante do colegiado (seis membros do Copom) que optaram pela manutanção da taxa Selic.

Diante de fatores relevantes para a dinâmica inflacionária atuando em direções opostas, e tendo em mente as elevadas incertezas no cenário (especialmente na parte política/fiscal), entendemos que o alongamento do prazo para convergência inflacionária ofereceu maior tranquilidade ao Copom para ajustar a politica monetária apenas no caso de a inflação se mostrar pressionada em prazos mais longos. Desta forma, acreditamos que o Copom não mudará a postura da política monetária, a menos que ocorram alterações relevantes na projeção do Copom para a inflação de 2017.

Assim, mantemos nosso cenário de Selic estável em 14,25% até o fim de 2016.