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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Integracao Regional: novo livro - Paulo R. Almeida

Acabo de receber o meu livro: um pouquinho magro, para o meu gosto, mas foi o que me solicitaram fazer: curtinho, simples, acessível, essas coisas... 
Parece que os alunos de hoje não gostam de muita leitura, e querem coisas mais elementares.
Não sei se me conformei ao padrão...




Paulo Roberto de Almeida
Integração Regional: uma introdução
São Paulo: Saraiva, 2013, 192 p.;
Coleção: Temas Essenciais em R.I., vol. 3
Coordenadores: Antonio Carlos Lessa, Henrique A. de Oliveira
ISBN: 978-85-02-19963-7



Índice



Prefácio                       xi

Sumário                       xv

Capítulo 1. Introdução: Regionalismo,
um fenômeno complexo da economia mundial    1
     1.1 O regionalismo e a economia mundial  3
     1.2 Acordos regionais preferenciais           6
     1.3 Como surgiram, como funcionam e quais são os tipos?           10
            Questões para discussão         10
            Para saber mais            11

Capítulo 2. O conceito de regionalismo e os processos de integração   13
     2.1 Parceiros voluntários    15
     2.2 O novo regionalismo    16
     2.3 O papel dos mercados nos processos de integração    18
            Questões para discussão         21
            Para saber mais            22

Capítulo 3. Por que acordos regionais? Para quê integração econômica?        23
     3.1 Os motivos da integração econômica   25
     3.2 Os efeitos negativos da adesão a um bloco comercial  26
     3.3 Benefícios da integração           27
     3.4 A globalização              31
     3.5 A “imitação” dos modelos bem sucedidos       35
     3.6 Esquemas de integração, um processo dinâmico          37
            Questões para discussão         38
            Para saber mais            39

Capítulo 4. Como são os acordos regionais?
Que tipos de integração econômica existem?       41
     4.1 Os processos de integração econômica            42
     4.2 Cooperação intergovernamental e cooperação supranacional –
           exemplos históricos      43
     4.3 Tipos de integração econômica            45
         4.3.1 Acordos de integração superficial 46
                  4.3.1.1 Área de preferencia tarifária (APT)          46
                  4.3.1.2 Zona de Livre Comércio (ZLC)    46
         4.3.2 Acordos de integração profunda   47
                  4.3.2.1 União Aduaneira (UA)     47
                  4.3.2.2 Mercado Comum (MC)   48
                  4.3.2.3 União Econômica e Monetária (UEM)    49
     4.4 Perspectivas da regionalização e da globalização         50
            Questões para discussão         52
            Para saber mais            52

Capítulo 5. Por que não integrar: razões antigas e modernas, boas e más       53
     5.1 Examinando os efeitos adversos dos esquemas de integração  55
     5.2 A influência das teorias econômicas nas políticas de comércio internacional 57
     5.3 O pensamento latino-americano           60
     5.4 A integração na América Latina           61
     5.5 Uma avaliação complexa          63
            Questões para discussão         64
            Para saber mais            65

Capítulo 6. Como se processa a integração no plano internacional?    67
     6.1 O itinerário contemporâneo dos blocos econômicos    69
     6.2 O mercado comum       72
     6.3 Globalização com regionalização          74
            Questões para discussão         82
            Para saber mais            83

Capítulo 7. O futuro do regionalismo comercial: mais do mesmo?      85
     7.1 Diferentes visões do livre comércio     87
     7.2 As alternativas parciais de liberalização           88
     7.3 Os infratores do sistema          90
     7.4 O protecionismo, fator prejudicial à saúde do sistema            91
     7.5 Os pontos positivos das tendências atuais      92
     7.6  A marcha da insensatez           94
            Questões para discussão         96
            Para saber mais            96

Conclusão: Do Zero ao Infinito?     97
     As bondades do livre comércio, em perspectiva teórica e prática  99
     As maldades da discriminação contra terceiros: uma ameaça sempre presente      101
     O grande salto para a frente do regionalismo comercial     103

Cronologia da integração no contexto internacional      107
     Experimentos de integração no sentido lato anteriores ao GATT 108
     O sistema multilateral de comércio: integração em marcha lenta    111
     A integração na América Latina: muitas declarações, pouca integração     118
     Fim do socialismo, impulsos na globalização e na regionalização  123
     Desenvolvimentos da integração nas Américas      127
     Multiplicação, expansão e dispersão dos experimentos integracionistas   130

Glossário                   143

Bibliografia comentada       169 

Disponível no site da Editora: www.saraivauni.com.br
link: http://www.saraivauni.com.br/Obra.aspx?isbn=9788502199637

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Lancamento da colecao Temas Essenciais em Relações Internacionais: Brasilia, 19/04/2013, 16hs (UnB)


A Editora Saraiva e o Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília convidam para a mesa redonda de lançamento da Coleção Temas Essenciais em Relações Internacionais, seguida de sessão de autógrafos.

A proposta desta coleção é a publicação de livros com foco no ensino e pesquisa de Relações Internacionais, englobando todas as disciplinas relevantes na formação básica oferecida pelos cursos de graduação da área de RI, e com aplicações em outras áreas, como Ciências Sociais, História, Economia, Direito e Geografia. A Coleção Temas Essenciais em RI é desenvolvida por professores vinculados ao Curso de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.

Os primeiros títulos da Coleção são:

    Introdução ao Estudo das Relações Internacionais, de Virgílio Caixeta Arraes & Thiago Gehre Galvão
      Teoria das Relações Internacionais, de Daniel Jatobá
      Integração Regional: uma introdução, de Paulo Roberto de Almeida

O evento terá lugar no Auditório do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (situado ao lado do Pavilhão João Calmon do Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília - DF), no dia 19 de abril, a partir das 16h.

(com perdão do negrito discriminatório)
Paulo Roberto de Almeida 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Meu proximo livro: Integracao Regional - Paulo Roberto de Almeida

Meu próximo livro:

Eis o Índice...

1. O regionalismo: um fenômeno complexo da economia mundial
2. O conceito de regionalismo e os processos de integração
3. Por que acordos regionais? Para quê integração econômica? 
4. Como são os acordos regionais? Que tipos de integração econômica existem?
5. Por que não integrar: razões antigas e modernas, boas e más 
6. Como se processa a integração no plano internacional?
7. O futuro do regionalismo comercial: mais do mesmo?
8. Conclusões
--> Cronologia da integração no contexto internacional
Glossário
Fontes e referências 

e o Prefácio...

Este livro, ainda que modesto em suas dimensões, e deliberadamente sintético em seus argumentos substantivos – como, aliás, requerido pela coleção –, consolida um itinerário bastante longo de estudos, pesquisas dirigidas, atividades práticas e de escritos publicados sobre os processos de integração regional, em suas diferentes variantes institucionais e em suas múltiplas manifestações geográficas e políticas. Trata-se, como o subtítulo indica, de uma introdução, daí ter o autor resumido muitos outros trabalhos – seus ou de pesquisadores mais reputados, inclusive estrangeiros – em um texto que se atém ao essencial do que constitui um dos mais importantes processos dinâmicos da globalização contemporânea e do sistema multilateral de comércio, administrado, desde 1995, pela Organização Mundial do Comércio.
O fenômeno da regionalização, em si, é obviamente bem mais antigo do que isso, sendo propriamente secular, ainda que sob outros formatos e roupagens; assim como são mais antigas – mesmo se de apenas duas ou três décadas – as preocupações deste autor com suas manifestações concretas, aliás despertadas desde o nascimento do Mercosul, que constituiu, justamente, o tema de seu primeiro livro: O Mercosul no contexto regional e internacional (São Paulo: Aduaneiras, 1993), obra hoje esgotada. Seguiu-se outro livro, mais sistemático, sobre esse importante bloco de comércio do hemisfério meridional – Mercosul: fundamentos e perspectivas (São Paulo: LTr, 1998) – e, dois anos depois, uma sua versão atualizada, em perspectiva comparada com a União Europeia, publicada na França: Le Mercosud: un marché commun pour l’Amérique du Sud (Paris: L’Harmattan, 2000). Entre os dois, uma obra didática, fazia uma análise, de amplo escopo histórico, das experiências existentes nessa modalidade de liberalização comercial no âmbito do sistema multilateral de comércio: O Brasil e o multilateralismo econômico (Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999).
Seguiram-se artigos, conferências e palestras sobre a integração regional, em especial sobre o Mercosul e a Alca, inclusive vários capítulos preparados para integrar livros coletivos. Todos esses escritos tinham a preocupação primordial de situar historicamente esse fenômeno e de contextualizá-lo no quadro dos experimentos em curso na América Latina; exibiam, também, o cuidado com o lado didático, traço sempre presente neste autor, constantemente dividido entre a atividade profissional na diplomacia brasileira e o empenho voluntário na docência universitária.
Muitas dessas reflexões, inclusive sobre o chamado “minilateralismo”, foram mais recentemente objeto de uma grande síntese multidisciplinar, em livro que reuniu diferentes estudos meus sobre a integração, no contexto mais vasto da ordem mundial contemporânea: Relações Internacionais e Política Externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: LTC, 2012). Essas análises abrangentes, elaboradas no momento mesmo da implementação desses processos – ou no próprio ato de sua criação, como, por exemplo, no caso do Mercosul – estavam marcadas, em todos os escritos referidos, por uma tripla combinação metodológica: a de uma abordagem propriamente histórica, inserida numa explanação basicamente econômica desses fenômenos, mas com a visão política indispensável que costuma guiar um analista acadêmico doublé de negociador prático, como este que escreve.
Com efeito, os trabalhos publicados sobre a integração e o Mercosul – cuja lista completa pode ser conferida no site pessoal deste autor: www.pralmeida.org – se beneficiaram, certamente, da pesquisa bibliográfica e da reflexão de tipo acadêmico, mas foram, sobretudo, o fruto do envolvimento do autor com processos concretos de negociações comerciais regionais e multilaterais ao longo de uma carreira diplomática basicamente articulada em torno das relações econômicas internacionais do Brasil: primeiro, no contexto da Rodada Uruguai do Gatt, em Genebra; depois, no foro negociador da Aladi, em Montevidéu; em seguida, na própria unidade encarregada dessas áreas na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, no Itamaraty, em Brasília; na sequência, em muitas reuniões de trabalho do processo negociador da Alca, em Miami; ocorreu, também, uma abordagem paralela, não necessariamente única ou exclusiva, desses fenômenos durante minhas estadas em Paris – inclusive acompanhando os trabalhos da OCDE nessa área – e em Washington, sede dos mais importantes organismos multilaterais econômicos – entre eles o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a OEA, que promovem e estimulam importantes estudos sobre a integração regional nas Américas – e de alguns think tanks e fundações que também estudam intensamente essas modalidades de liberalização comercial, com destaque, nessa capital, para o Nafta e, então, para o frustrado processo negociador da Alca.
Estas referências pessoais – aparentemente exageradas – visam unicamente demonstrar que este pequeno livro não é apenas o reflexo, ou o resultado, de mera pesquisa conduzida em livros ou mediante uma rápida síntese de leituras variadas; ele é, essencialmente, o resultado de um longo envolvimento prático com negociações concretas de experimentos de integração regional, bem como de um conhecimento direto do funcionamento interno do Mercosul, da Aladi e, ainda que de modo indireto, da União Europeia e do Nafta (para não mencionar a natimorta Alca). Foi a constante convivência com todos esses mecanismos, instituições e negociações, bem como com seus eventuais percalços ou retrocessos, que permitiu ao autor discorrer, linearmente, em sucessivos capítulos desta obra, sobre os mais diferentes exemplos de integração regional, praticamente sem recorrer a extensas pesquisas preliminares, dispensando até os livros de história, uma vez que ele assistiu, foi protagonista, ou contemporâneo, de muitos dos processos que vão aqui descritos em seus traços essenciais.
Sem qualquer falsa modéstia, o livro consolida, por assim dizer, a trajetória pessoal, tanto intelectual quanto diplomática deste autor, motivo pelo qual possui, legitimamente, uma credibilidade que poucas obras puramente acadêmicas podem exibir. Ele certamente não está isento de limitações e de insuficiências – várias motivadas pelo formato voluntariamente sintético e didático que assumiu por opção – em função das quais deve, como ocorre em todos os casos, submeter-se às críticas dos especialistas, sejam eles economistas acadêmicos ou negociadores profissionais.
Em qualquer hipótese, uma característica provavelmente distingue o autor dos escritores de gabinete e, certamente, de muitos dos diplomatas da área: ele elaborou esta obra com pleno conhecimento de causa e com toda a honestidade intelectual de que é capaz um autor que, ainda que pertencendo a uma carreira de Estado, estabelece como sendo as principais tarefas do analista, sua missão primordial, a fidelidade aos fatos e o indispensável rigor analítico. Aos leitores, agora, a missão de avaliar se este esforço atende às suas expectativas.

Paulo Roberto de Almeida 

sábado, 8 de dezembro de 2012

Acordo Trans-Atlantico de Livre Comercio (2) - Paulo Roberto de Almeida


Um acordo UE-EUA de livre comércio?
Paulo Roberto de Almeida
(trechos do capítulo conclusivo de um próximo livro meu, sobre a integração regional) 

Voltam a frequentar as páginas dos jornais do mundo norte-atlântico notícias sobre uma aspiração antiga, de certa forma recorrente e, até o momento, “inconclusiva”: a retomada, e eventual finalização, de negociações para a assinatura de um acordo de livre comércio entre as duas maiores economias do planeta, a União Europeia, de um lado, e os Estados Unidos, de outro (com o potencial, inclusive, de “arrastar” o Canadá e o México, já sócios deste último no Nafta, e, possivelmente, outros países associados, por diferentes tipos de acordos, à UE ou aos próprios Estados Unidos).
Se realmente levada a termo, essa antiga ideia de promotores da liberalização comercial dos dois lados do Atlântico tem o potencial de produzir uma pequena revolução na economia mundial. Sua importância, na verdade, é bem maior do que a própria dimensão dos fluxos comerciais que seriam criados a partir desse acordo, reconhecidamente limitada, uma vez que as duas grandes economias já desfrutam de amplo grau de abertura e de imbricação recíprocas, independentemente da conclusão bem sucedida – isto é, sem muitas exceções setoriais – de um acordo desse tipo. Afinal de contas, ambas economias regionais já estão vinculadas entre si por laços históricos de comércio, investimentos, licenciamentos tecnológicos, joint-ventures industriais, seja no âmbito bilateral, seja no contexto da OCDE, além da intensa troca de capital humano que se estabelece continuamente nas mais diferentes esferas da cooperação científica e educacional, para não falar, obviamente, das barreiras notoriamente limitadas que existem para os mais diversos intercâmbios que existem, desde mais de três séculos entre as duas regiões, tanto sob a forma de poucos obstáculos substantivos às trocas privadas e oficiais, como na modalidade tarifaria, com alíquotas bastante reduzidas praticadas na maior parte dos casos. Ou seja, existem poucos entraves ao intenso fluxo de bens, serviços, capitais, tecnologia, pessoas entre essas duas grandes regiões econômicas do mundo, a da UE e a da América do Norte, inclusive porque a segunda foi construída, historicamente, pela primeira, até que o dinamismo da segunda, expressa em suas maiores taxas de crescimento da produtividade, veio a colocar em segundo plano o peso da primeira, a fonte original da ordem econômica global, tal como a conhecemos nos últimos cinco séculos.
Mas, se o impacto econômico efetivo desse tipo de acordo é pequeno, por que destacar com tanta ênfase, o que não parece deixar de ser, até aqui, uma mera possibilidade teórica, tantas vezes anunciada e tantas vezes frustrada em sua implementação prática? Existem muitas razões, e elas têm a ver com diferentes aspectos que foram discutidos ao longo do livro, e que podemos agora retomar seletivamente para algumas lições que podem ser extraídas dos capítulos precedentes e como guias para o possível mundo do futuro de médio ou de longo prazo.
 A importância de um acordo entre dois gigantes do comércio internacional – os quais, justamente, estão no centro do fenômeno da regionalização, um pelo lado do livre comércio, o outro pela integração profunda – situa-se precisamente no fato concreto de que ambos mobilizarão proporção relevante, atualmente determinante, do PIB global e do comércio internacional, mesmo se o acordo, em si, não agregará muito aos fluxos que já vem sendo efetivados “naturalmente” entre os dois lados do Atlântico. Se e quando efetivado tal acordo – e as apostas contrárias também são poderosas –, ele terá um impacto profundo em termos institucionais (ou seja, sobre o sistema internacional de comércio e suas rodadas de negociação) e em relação a terceiros mercados, para dentro e para fora dos dois blocos eventualmente unidos pelo livre comércio. Mais ainda, um acordo desse tipo parece sintetizar todos os bons efeitos e todos os defeitos, todos os méritos e muitos vícios do minilateralismo comercial.
Cabe destacar, em primeiro lugar, que o que se discute entre a União Europeia e os Estados Unidos não é nenhuma forma mais elaborada de integração, e sim um acordo de livre comércio, pura e simplesmente, embora bem mais abrangente e complexo do que aqueles usualmente registrados na OMC, provavelmente concebido, aos olhos americanos, no estilo e no formato do Nafta. A retomada dessas negociações, depois de muitos anos de torpor burocrático, apresenta evidências de novos elementos, de caráter político, que não estavam presentes quando se cogitou, originalmente, de um tipo qualquer de desarme tarifário entre os mesmos personagens (a UE contando, então, com um número bem mais reduzido de membros). A resposta está, provavelmente, no fator China, mas convém, antes de qualquer outra consideração, ressaltar o impacto positivo de um real arranjo liberalizador que se faça entre a UE e os Estados Unidos.
De fato, a primeira consequência mais geral de um acordo desse tipo é, essencialmente, um efeito demonstração, ou seja, o exemplo positivo dado pelo engajamento de dois grandes parceiros, na verdade os maiores, do sistema multilateral de comércio, no sentido de confirmar a vocação liberalizadora que esteve presente no momento de criação do Gatt e que se manteve mais ou menos constante nas primeiras cinco ou seis rodadas de negociações comerciais multilaterais. Infelizmente, esse impulso começou a se perder a partir dos anos 1970, quando, tanto em função do menor peso das tarifas nos processos liberalizadores – já que elas tinham sido consideravelmente reduzidas desde o final dos anos 1940, adquirindo maior importância, então, os temas sistêmicos, ou de caráter regulatório – quanto em virtude da perda de competitividade de velhas indústrias labor-intensive dos países desenvolvidos em face dos chamados “novos países industrializados”, alguns periféricos da Ásia e da América Latina (Coreia do Sul, Taiwan, Hong-Kong, Brasil, México, etc.) que passaram a competir agressivamente em grandes nichos de mercados nos quais possuíam vantagens comparativas (calçados, têxteis, manufaturas leves, etc.). Acresce a isto a crise fiscal e de “estagflação” dos países avançados, mais ou menos coincidente com a primeira e a segunda crise das dívidas externas dos países em desenvolvimento, que redundou no renascimento de instintos protecionistas no seio mesmo do sistema, entre aqueles que tinham garantido, até então, o sucesso das rodadas de liberalização de comércio.
O mundo atravessou, desde essa época, fases de maior ou menor fechamento comercial, ao mesmo tempo em que ensaiava a revitalização dos velhos princípios multilateralistas que haviam guiado os negociadores em Bretton Woods, e que tinham resultado na criação de uma primeira organização mundial de comércio, inscrita na Carta de Havana (março de 1948), mas que infelizmente não foi implementada na prática. Em todo caso, o processo foi retomado na segunda fase da rodada Uruguai (entre 1991 e 1992), quando se decidiu relançar a ideia de uma organização de pleno direito – uma vez que o Gatt era um simples acordo entre partes contratantes, dotado de um secretariado mínimo, esquema que tinha permanecido “provisoriamente” em vigor durante meio século – o que foi concretizado em Marraqueche (1993), com a assinatura da Ata Final da rodada, da qual emergiu a OMC (1995).
Mas a institucionalização da OMC também foi contemporânea da maior expansão já vista dos acordos regionais preferenciais, um pouco em todos os continentes, como já constatado nos capítulos precedentes. O minilateralismo parecia querer ganhar preeminência sobre o multilateralismo e, de fato, nas estratégias comerciais das grandes, como nas das pequenas e médias potências da economia mundial, ganhava força a ideia de que a solução para os problemas de acesso a mercados e de compatibilização de regras não tarifárias não estava mais no âmbito do Gatt, ou da OMC (dependendo do tipo de acordo), mas na constituição de blocos restritos, ditos de regionalismo aberto, mas potencialmente discriminatórios.
O anúncio, portanto, de que Estados Unidos e UE vão voltar a discutir a criação de uma vasta zona de livre comércio recíproco – a maior do mundo, talvez só superável quando os países membros da Asean e seus parceiros da bacia da Ásia Pacífico fizerem a sua, em algum momento da próxima década – é auspiciosa, no sentido em que essa iniciativa pode representar um novo impulso à (conclusão da?) Rodada Doha de negociações comerciais multilaterais, cuja partida foi dada em 2001. Supõe-se que, uma vez concretizada a nova superaliança comercial, seus dispositivos liberalizadores representem inclusive um avanço sobre o estado atual das negociações comerciais, em termos de desmantelamento de barreiras e do estabelecimento de regras uniformes para o mútuo reconhecimento de padrões industriais e de diversas outras normas que podem atuar (deliberadamente, segundo os casos) como medidas protecionistas disfarçadas.
As respectivas barreiras tarifárias, em si, são pouco relevantes, representando uma média de 3% para os produtos manufaturados, mas como o comércio inter, intraindustrial e também intrafirmas, entre os dois lados, é especialmente intenso, mesmo uma pequena diminuição dos custos pode significar, no plano microeconômico, um incremento significativo para as empresas engajadas no intercâmbio, estimulando inclusive novos investimentos diretos estrangeiros, das duas regiões e de terceiras partes. Subsistem zonas de protecionismo setorial, sobretudo na agricultura – e aqui é provável que ambos lados conservem não apenas entraves protecionistas, como subsídios por vezes abusivos –, bem como políticas de sustentação de setores ditos estratégicos (como aviação civil, por exemplo) que poderiam ser objeto de mais alguma unificação de critérios nas medidas de apoio doméstico ou comunitário.
Haveria, do lado americano, bem menos resistências políticas e sociais, no Congresso ou dos sindicatos, a um acordo com os europeus, uma vez que não estariam presentes as mesmas preocupações com um suposto “dumping social” mexicano que quase comprometeram a aprovação do Nafta, exigindo a negociação de acordos paralelos para lograr a superação de paranoias setoriais e a aprovação congressual. Em resumo, tanto no plano teórico – como a efetivação de economias de escala e os estímulos ao crescimento econômico, do emprego e da renda – quanto no plano prático – tendo em vista a uniformidade relativa de padrões produtivos e financeiros, já obtida no âmbito da OCDE –, diferentes elementos concorrem para reforçar os traços positivos que esse tipo de integração comercial entre as duas maiores economias planetárias pode representar não apenas para as partes no acordo, mas para outros parceiros externos e, sobretudo, para o sistema multilateral de comércio.
 (...)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A economia politica da integração na AL - P.R. Almeida

Minha publicação mais recente: 


1705. “A economia política da integração regional latino-americana: uma visão ultrarrealista do estado da arte institucional
Revista do Instituto do Direito Brasileiro - RIDB (Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; ano 1, n. 8º, 2012, p. 4489-4523; ISSN: 2182-7567; 
Relação de Originais n. 2402.

Paulo Roberto de Almeida