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quinta-feira, 7 de maio de 2020

The Lancet: So what Brazil? - Um presidente DEBILOIDE

Repito: um presidente DEBILOIDE.
Essa é a imagem que o dirigente do infeliz Brasil transmite ao mundo, segundo uma das melhores revistas científicas, da área médica, do mundo...
Repito mais uma vez, um presidente DEBILOIDE.
Chega a ser CONSTRANGEDOR, para nós, pessoais normais, ter de assistir ao espetáculo de uma das mais importantes revistas da área médica do mundo, fazer um EDITORIAL contra o presidente de um país. Constrangedor porque temos de aparecer ao mundo como tendo eleito além de um presidente DEBILOIDE, repito DEBILOIDE, também alguém que é JUMENTO, pois só um JUMENTO pode fazer coisas contra os seus próprios interesses. 

Imagino que se os ministrinhos do Supreminho tivessem esse poder, já o teriam CASSADO no ato, ao penetrar sem convite no STF. 
Paulo Roberto de Almeida

EDITORIAL| VOLUME 395, ISSUE 10235P1461, MAY 09, 2020

COVID-19 in Brazil: “So what?”




The coronavirus disease 2019 (COVID-19) pandemic reached Latin America later than other continents. The first case recorded in Brazil was on Feb 25, 2020. 
But now, Brazil has the most cases and deaths in Latin America (105 222 cases and 7288 deaths as of May 4), and these are probably substantial underestimates. Even more worryingly, the doubling of the rate of deaths is estimated at only 5 days and a recent study by Imperial College (London, UK), which analysed the active transmission rate of COVID-19 in 48 countries, showed that Brazil is the country with the highest rate of transmission (R0 of 2·81). 
Large cities such as São Paulo and Rio de Janeiro are the main hotspots now but there are concerns and early signs that infections are moving inland into smaller cities with inadequate provisions of intensive care beds and ventilators. Yet, perhaps the biggest threat to Brazil's COVID-19 response is its president, Jair Bolsonaro.
When asked by journalists last week about the rapidly increasing numbers of COVID-19 cases, he responded: “So what? What do you want me to do?” He not only continues to sow confusion by openly flouting and discouraging the sensible measures of physical distancing and lockdown brought in by state governors and city mayors but has also lost two important and influential ministers in the past 3 weeks. 
First, on April 16, Luiz Henrique Mandetta, the respected and well liked Health Minister, was sacked after a television interview, in which he strongly criticised Bolsonaro's actions and called for unity, or else risk leaving the 210 million Brazilians utterly confused. 
Then on April 24, following the removal of the head of Brazil's federal police by Bolsonaro, Justice Minister Sérgio Moro, one of the most powerful figures of the right-wing government and appointed by Bolsonaro to combat corruption, announced his resignation. 
Such disarray at the heart of the administration is a deadly distraction in the middle of a public health emergency and is also a stark sign that Brazil's leadership has lost its moral compass, if it ever had one.


Even without the vacuum of political actions at federal level, Brazil would have a difficult time to combat COVID-19. About 13 million Brazilians live in favelas, often with more than three people per room and little access to clean water. 
Physical distancing and hygiene recommendations are near impossible to follow in these environments—many favelas have organised themselves to implement measures as best as possible. Brazil has a large informal employment sector with many sources of income no longer an option. 
The Indigenous population has been under severe threat even before the COVID-19 outbreak because the government has been ignoring or even encouraging illegal mining and logging in the Amazon rainforest. These loggers and miners now risk bringing COVID-19 to remote populations. 
An open letter on May 3 by a global coalition of artists, celebrities, scientists, and intellectuals, organised by the Brazilian photojournalist Sebastião Salgado, warns of an impending genocide.
What are the health and science community and civil society doing in a country known for its activism and outspoken opposition to injustice and inequity and with health as a constitutional right? 
Many scientific organisations, such as the Brazilian Academy of Sciences and ABRASCO, have long-opposed Bolsonaro because of severe cuts in the science budget and a more general demolition of social security and public services. In the context of COVID-19, many organisations have launched manifestos aimed at the public—such as Pact for Life and Brazil—and written statements and pleas to government officials calling for unity and joined up solutions. 
Pot-banging from balconies as protest during presidential announcements happens frequently. There is much research going on, from basic science to epidemiology, and there is rapid production of personal protective equipment, respirators, and testing kits.
These are hopeful actions. Yet, leadership at the highest level of government is crucial in quickly averting the worst outcome of this pandemic, as is evident from other countries. 
In our 2009 Brazil Series, the authors concluded: “The challenge is ultimately political, requiring continuous engagement by Brazilian society as a whole to secure the right to health for all Brazilian people.” Brazil as a country must come together to give a clear answer to the “So what?” by its President. He needs to drastically change course or must be the next to go.

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Supplementary Material



sábado, 21 de março de 2020

A irresponsabilidade demencial do Bolsovirus - Ricardo Bergamini

Um ignorante irresponsável
Ricardo Bergamini
Se Jair Bolsonaro tiver ou não coriza assim que deixar a Presidência da República, isso é problema dele. Mas Bolsonaro não é dono de seu nariz enquanto ocupar o mais alto cargo do Poder Executivo do País. No domingo 15, contrariando ordens da OMS para que se evitem aglomerações, ele combinou ignorância e irresponsabilidade ao participar de manifestação em Brasília contra o Congresso Nacional e o STF, protesto que, ao juntar gente, inevitavelmente facilitou a disseminação do coronavírus (é inacreditável mas o presidente interino da Anvisa, Antonio Barra Torres, fez dupla com o capitão). Vinte e quatro horas depois, Bolsonaro demonstrou que a sua atitude pode ter origem em causas bem mais graves, a julgar pelas declarações ilógicas que ele fez circular, exibindo um comportamento alheio à realidade. O “mito” parece dar sinais de alienação e deixa transparecer que pode estar sofrendo, eventualmente, de incapacidade e perturbações psicológicas.

BRASÍLIA, DOMINGO 15/03: 
O “mito”, ainda sem saber se estava contaminado ou não, foi à manifestação contra o Congresso e o STF: eventual crime contra a saúde pública

PANDEMIA 2020
Antonio Carlos Prado/
ISTOÉ, 20/03/2020

A ignorância é perdoável em muita gente que não tem condições de se esclarecer sobre determinado assunto, hipótese que está distante do mandatário. Quanto à irresponsabilidade, essa é dolosa, sobretudo porque colocou em risco a saúde pública. Bolsonaro infringiu os artigos 267 e 268 do Código Penal Brasileiro, que tratam da propagação de epidemias e doenças contagiosas, uma vez que, no domingo, ainda era dúvida se ele se infectara na viagem aos EUA. Na noite da terça-feira 17, o presidente anunciou que o segundo teste deu negativo. Não importa. Isso não o exime do absurdo de, quando permanecia sob suspeição, ter ido à manifestação. Quanto a eventuais transtornos psíquicos, talvez decorrentes do atordoamento diante de seu fracasso como governante e também fruto do narcisismo frustrado, eles têm de ser clinicamente avaliados. Então se saberá se o presidente pode seguir na função ou terá de ser dela afastado. Uma saudável sugestão veio do jurista Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça na gestão FHC e um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Reale deseja que o Ministério Público submeta Bolsonaro a uma junta médica que dirá se ele tem ou não sanidade mental para o exercício da Presidência da República. Segundo Reale, o capitão deve ser “considerado inimputável” por ter participado da manifestação. Ou seja: estaria mesmo comprometido mentalmente, tornou-se incapacitado e já não sabe o que faz. 

“A orientação sobre aglomerações é ‘não’ para todos”. Essa foi a crítica do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ao fato de Bolsonaro ter ido à manifestação. O presidente cobra dele discurso político. Deveria ter lido o clássico de Max Weber “Ciência e Política: duas vocações”

Assim que retornou dos EUA e após um vaivém de informações desencontradas, foi anunciado que o presidente testara negativo para coronavírus, mas que uma contraprova seria necessária. Bolsonaro foi então colocado em isolamento, por ordem médica, para sua própria proteção e proteção da saúde pública, até que se completasse a chamada “janela imunológica” para a realização de novo exame. Mas ele classificou o isolamento, que hoje ocorre em todo o mundo como prevenção ou tratamento do coronavírus, como um “golpe” político, em total desconexão com a realidade. Pensando dessa forma, misturou-se aos manifestantes. O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, condenou: “a orientação sobre aglomeração é ‘não’ para todos”. Vale citar um número apurado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”: Bolsonaro teve “contato físico com duzentas e setenta e duas pessoas (…)”.
“O Ministério Público pode requerer um exame de sanidade mental de Bolsonaro. Além disso, assumir o risco de expor os outros a contágio é crime” Miguel Reale Júnior, jurista 

“O Ministério Público pode requerer um exame de sanidade mental para o exercício da profissão”, diz Reale júnior. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, a deputada Janaina Paschoal, que também participou da elaboração do pedido de afastamento de Dilma, foi definitiva: “esse senhor tem de sair da Presidência da República, deixem assumir o vice-presidente, Hamilton Mourão, que entende de defesa. Nosso País está entrando em uma guerra contra um inimigo invisível”. A descompensação (termo técnico que significa incapacidade psíquica de gerar uma resposta adequada) chegou ao auge quando Bolsonaro declarou que “se o povo aparecer aqui, vou lá para frente de novo. Se me contaminei, a responsabilidade é minha”. Sem retirar os olhos do próprio umbigo, ele dizia “se me contaminei”, portanto é bom avisá-lo que é igual a “responsabilidade” caso tivesse contaminado outras pessoas. Junte-se a isso as informações que têm vazado de inadequação: o presidente teria chegado a comentar com “acepipes” que o coronavírus é um plano estratégico do governo chinês para recuperar economicamente o país. Nada a estranhar, se lembrarmos que ele já deixou claro que o vírus é uma “fantasia” da mídia brasileira. Na terça-feira, o descompasso aumentou: Bolsonaro anunciou que, nesse sábado 21, “darei uma festa tradicional para comemorar o meu aniversário de 65 anos de idade”. Ou seja, mais gente respirando, uma em direção a outra, a menos de dois metros de distância.
“Esse senhor tem de sair da Presidência da República, deixem assumir o vice-presidente, Hamilton Mourão. Ele entende de defesa e o Brasil está entrando em uma guerra contra um inimigo invisível” Janaina Paschoal, deputada estadual em São Paulo 

O capitão, convenhanos, ainda é novo para tantas ideias fora do lugar, mas mesmo nelas descobre-se método (esse foi o mergulho na alma humana que William Shakespeare fez em “Hamlet”). E, convenhamos também, método é o que não falta na perseguição de Bolsonaro a Mandetta, o melhor quadro do governo. O problema é o ego: como pode Mandetta cobrir-se de glórias e ele, o “mito”, viver em vão a esmola-las? Como Mandetta atua em parceria com o governador de São Paulo, João Doria, na construção de um plano de contingência? Narcisista que é, Bolsonaro diz que sentiu-se “traído”. Claro que não dá para demitir Mandetta, então o presidente passou a roer-lhe por dentro, e uma dessas doidas doídas roídas foi desrespeitar as recomendações de isolamento. A hipótese de que algo sombrio pode estar obnubilando a mente do mandatário ficou pairando na coletiva que ele convocou: “nosso time está ganhando de goleada. Então vamos elogiar o seu técnico, e o técnico se chama Jair Bolsonaro”. Para o encontro virtual, que envolveu os presidentes da Argentina, Chile, Uruguai, Equador, Peru, Paraguai, Bolívia e Colômbia, ele foi convidado mas se fez representar pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e, inacreditável, por… Mandetta. Tudo contraditório. E ofencivo: ao reconhecer que há o vírus no Brasil, absurdamente o comparou com “gravidez”: “isso passa, um dia a criança nasce”. Pelo amor de Deus, presidente, gravidez não é doença. Na mente do paraquedista Bolsonaro, talvez sempre tenha existido um equilibrista imaginário andando em um arame, sem rede embaixo. Agora, o presidente descobriu que o arame arrebentou. Descobriu também que o equilibrista está em queda livre. E que o equilibrista é ele.

O presidente Bolsonaro reuniu ministros em coletiva sobre a pandemia: imobilismo mascarado.

Ricardo Bergamini