Recebi, no formulário de consulta do meu site, a seguinte mensagem de um jovem candidato à carreira diplomática:
On Nov 5, 2014, at 14:51, Rxxxxx Lxxxx Axxxx
<rxxxxxxxxx@hotmail.com> wrote:
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.
Nome:
Cidade:
Estado: São Paulo
Email: xxxxxxxx@hotmail.com
Assunto: Sugestao
Mensagem: Caro diplomata,
Assim como o senhor, tenho imensurável interesse em empreender a
profissão diplomática. Portanto, já com meus 18 anos, quero iniciar com
antecedência meu preparo intelectual para a rigorosa prova do Instituto Rio
Branco. E, para tanto, seria-me muito útil ser aconselhado por um tão bem
sucedido, cognitiva e eticamente, diplomata sobre a bibliografia básica de
estudo.
Além disso, gostaria de perguntar sobre a criteria de correção:
as respostas deverão estar associadas a algum tipo de ideologia ou linha de
pensamento? Acompanho fervorosamente seus artigos sobre a globalização e o
\"neoliberalismo\" e compactuo com alguns postulados, digamos, de
\"direita\". Deveria eu abandonar minhas posições enquanto faço a
prova?
Em conclusão, desde já agradeço profundamente a nobre atenção do
Senhor.
Atenciosamente,
Xxxxxxx
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Respondi o que segue:
Xxxxxx, meu caro
Saudo seu desejo de se tornar diplomata e
de comecar a preparar-se desde ja, mas permita-me corrigir algumas coisas.
Eu nunca tive a intenção de tornar-me
diplomata, até os 27 anos, depois de um longo exilio na Europa durante a
ditadura militar, e entrei mais para testar a minha ficha do SNI -- veja o que
foi isso na Wikipedia -- do que propriamente para entrar no Estado burguês.
Sim, nessa época eu ainda era marxista, e pretendia fazer o Brasil caminhar
para o socialismo, ainda que numa versao light e reformista, e não mais no
formato bolchevique ou castrista dos anos pré-universitários.
Não me considero liberal, e muito menos
de direita, mas não dou muita importancia para rotulos e slogans. Sou apenas um ser
racional, certamente bem mais liberal em economia do que fui no passado, mas
que busca solucoes de bom senso para os problemas brasileiros, e não mais em função
de qualquer ideologia ou de projetos de engenharia social que possam existir no
supermercado de ideias.
Mas, isso não responde a sua pergunta,
que é sobre leituras do concurso.
A prevalecerem os companheiros no poder, as respostas a determinadas questoes devem ser conforme a verdade
do momento, nao exatamente a verdade verdadeira. Eles moldaram tudo,
inclusive os exames de ingresso na diplomacia, mas isto vc vai aprender ao
estudar. Meus textos justamente nao servem para essa versao deformada da
historia, e portanto deixe isso de lado e se concentre na bibliografia classica
que está disponivel em alguns cursinhos preparatorios e em listas e grupos de
estudos de preparaçao ao exame da carreira diplomatica. Tem muitos.
Sim, leia todos os discursos da
diplomacia brasileira atual, impregne-se do espírito companheiro (se eles continuarem
no poder quando vc fizer concurso), e responda na linha do comitê central: os
argentinos são otimos hermanos, os bolivarianos são bons companheiros, e por aí
vai. Por enquanto é isso.
O abraço do
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Paulo
Roberto de Almeida