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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Astrologia Diplomatica: minhas previsoes de dez anos atras para dez anos 'a frente...

Todo ano eu faço as minhas "previsões imprevidentes", a exemplo dos melhores videntes, astrólogos, adivinhadores, chutadores, voyeurs (ops) da atualidade, desses que andam pelos jornais, ou nos programas populares anunciando catástrofes (eventualmente benesses também), mortes de artistas e de políticos, alguma melhora aqui, outra piora acolá, para a satisfação de alguns, o desespero de outros, e o divertimento democrático de todos os que se deixam levar pelo besteirol anual.

À diferença, porém, das previsões "normais" -- quero dizer, essas que costumam dar certo -- as minhas são feitas justamente para não acertar, pois elas apostam na natural capacidade dos seres humanos de sempre desmentir aquilo que de melhor podemos esperar deles, ou seja, sensatez, equilíbrio, sentido da medida, desejo de fazer o bem, não mentir, não gastar demais o dinheiro dos outros, enfim, essas coisas que acontecem invariavelmente, a despeito do otimismo dos astrólogos, dos videntes, dos adivinhadores, etc.

As minhas previsões não: elas têm isso de certo que só funcionam se derem errado, ou seja, se eu não acertar uma só, no que eu terei sucesso total.

Fazem dez anos que eu persigo os desacertos, mas devo dizer que nisso sou ajudado enormemente pelo governo dos companheiros: eles sempre se esforçam para desmentir as nossas previsões mais prosaicas, as mais sensatas, as medidas mais adequadas para consertar este país no plano econômico, no campo político, e sobretudo no plano ético. Eles nunca falham os companheiros: sempre erram, e com isso me ajudam a acertar as minhas previsões ao contrário.
Como já se passaram dez anos de desacertos corretos, vou revisar as previsões de cada um dos dez anos passados, fazer o balanço de meus desacertos (espero sucesso total, triunfo pleno nos enganos) e, para persistir nesse hábito malsão, preparar novas para 2015, com a ajuda dos companheiros, obviamente. Conto com eles para me ajudar a não acertar nenhuma das novas previsões, ou seja, para errar completamente, no que eu terei sucesso pleno nas minhas novas previsões imprevidentes.
Antes de começar, porém, um novo exercício, vou postar aqui a primeira da série, que ainda não tinha todo o arcabouço epistemológico e a profundidade conceitual das "previsões imprevidentes", que começaram um pouco mais adiante, como vocês terão a oportunidade de conhecer, se ainda não o fizeram.
Esta que vai abaixo não passa de uma mera astrologia diplomática, isto é, uma mal concebida trapaça internacionalista, que não deveria dar certo em qualquer hipótese. E não é que eu acertei todas? Os mesmos problemas se eternizam no plano internacional, o que prova que se o mundo gira, os problemas sempre ficam onde estão, se é que eles não ficam piores.
Esta astrologia foi feita no início de 2004, e deveria valer para os doze meses seguintes apenas.
Mas, como vocês que trabalham nas relações internacionais já perceberam, certas coisas se eternizam e se mantêm intocáveis. Por isso acho que o meu exercício de astrologia serve igualmente para agora e para os dez anos seguintes.
A conferir.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 22 de dezembro de 2014


Astrologia diplomática
Especulações sobre a política internacional em 2004 (e além)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília: 11 de janeiro de 2004

Todo final ou todo começo de ano é a mesma história: os jornais e revistas trazem aquelas previsões dos astrólogos para o começo do próximo ano, e tome promessa de catástrofes, mortes, assassinatos, traições, acidentes terríveis e outras pragas anunciadas previamente. O problema, atualmente, é que esses “astrólogos de carteirinha” já não se contentam mais com o menu habitual dos ricos e famosos, dos artistas de Hollywood (ou de novela) e um ou outro político. Não: eles já deixaram a seara das catástrofes naturais, dos acidentes de avião e das mortes das vedetes, para enveredar pelos arcanos da alta política e da política econômica oficial. Eles se profissionalizaram e se especializaram, como convém a toda economia moderna funcionando a plena carga da divisão social do trabalho (Durkheim que me perdoe, mas os astrólogos contribuem para reduzir o grau de “anomia” social).
Deve ter gente que coleciona as previsões mais picantes para conferir até o final do ano, mas confesso que eu sempre perco os recortes no meio do caminho. Quando a pilha geológica dos meus materiais “para ler depois” deixa o pré-cambriano de janeiro para o jurássico de maio a memória enfraquece; quando chega então no pleistoceno de novembro, já não há jeito de encontrar mais nada: tudo está soterrado e será descartado na próxima mudança.
Por isso, desta vez resolvi fazer diferente: vou criar minhas próprias previsões, num terreno que é o meu, obviamente, pois que eu não tenho permissão do sindicato dos astrólogos para invadir sua reserva de mercado e fazer previsões estapafúrdias sobre os temas que lhes são caros. Vou ficar na minha própria selva, que é muito mais complicada do que o mundo de Hollywood e dos cenários de novelas, e vou fazer mais: vou deixar minha lista postada na minha página (www.pralmeida.org) o ano inteiro, mas sem qualquer garantia de satisfação ou seu dinheiro de volta. Fica valendo apenas como exercício de imaginação criadora, num mundo que se repete a cada ano.
Aqui está, portanto, minha astrologia diplomática para o ano de 2004 (e além), com a ressalva de que eu não consultei as entranhas de nenhum animal, não tracei mapas astrais de nenhum líder da política mundial, não segui o curso zodiacal de países ou organizações. Tudo é resultado da mais pura e anárquica especulação, sem compromisso de cumprimento. Como se trata da primeira tentativa, a margem de erro supera 60%, mas prometo melhorar o grau de acerto antes do Brasil ingressar no Conselho de Segurança, o que deve me dar uns vinte anos de aperfeiçoamento. Sem mais delongas, eis minha lista:

ONU:
Enfrentará uma nova crise financeira em 2004 e não terá recursos para mais de duas missões e meia de paz e é só. Convocará uma conferência de chefes de Estado para discutir o problema da fome e das epidemias que atingem os países mais pobres: todos prometerão ajudar e o mundo continuará igual ao que sempre foi. Haverá discussões (intermináveis) sobre a reforma da Carta e a ampliação do Conselho de Segurança, sem conclusões firmes, porém. Aprovará um sem número de resoluções para resolver os mais variados problemas da humanidade: metade delas terá os Estados Unidos como único opositor (por vezes acompanhados de Israel e do Reino Unido). O Brasil abrirá o debate anual na Assembleia Geral, com um discurso no qual defenderá o multilateralismo.

Império:
Aprofundará o seu comportamento imperial, mas com algumas sutilezas, em um ano eleitoral. Continuará a não ligar para o mundo, mas fará de conta que está realmente interessado na paz e na cooperação internacionais. Continuará caçando terroristas durante o ano e alternando os alarmes amarelo e laranja. Vai legalizar imigrantes ilegais, mas um número ainda maior de candidatos passará a demandar fronteiras muito mais vigiadas. Algumas centenas de brasileiros serão deportados, gentilmente, e outros milhares continuarão tentando entrar, de forma pouco gentil. O presidente republicano será reeleito, ou então tomará seu lugar um candidato democrata. O Congresso confirmará que deseja a Alca mas que não pretende fazer nenhum esforço para abrir suas fronteiras agrícolas ou desmantelar os protecionismos setoriais. Aumentará a exportação de enlatados de Hollywood e a importação de cérebros do resto do mundo.

Europa:
Continuará tendo problemas de formação de maiorias para decidir a introdução do décimo-quinto tratado de reforço de uma união cada vez mais estreita entre seus povos, desta vez em número de 45 (contando as minorias), o que deve dar algo como 82 traduções cruzadas na Comissão, inclusive do grego para o finlandês e do sueco para o esloveno. Suas famílias continuarão não fazendo filhos, e por isso recorrerão aos imigrantes para manter a oferta de mão-de-obra barata. Continuarão enchendo a paciência do resto do mundo para que este reconheça exclusividade de apelações de origem (em queijos, bebidas e outras especialidades) que eles mesmos exportaram para o resto do mundo, com os seus emigrantes, cem anos atrás. Continuarão a manter vacas com contas em banco, porcos com talão de cheques e agricultores com cartões de crédito da própria Comissão, esperando que agricultores do Terceiro Mundo se contentem com algumas migalhas que vão jogar pela janela. Ainda assim, será um ótimo lugar para se fazer turismo cultural e gastronômico.

África:
Terá cessado duas guerras, mas começado outras três, com combatentes cada vez mais jovens (alguns empunharão a AK-47 com uma mão e a mamadeira com a outra). A entrada de recursos públicos para combater a Aids será compensada pela exportação de capitais privatizados para aumentar contas nos bancos off shore. Continuará fornecendo candidatos à imigração nos países europeus. Trapaceiros nigerianos continuarão enviando milhões de mensagens eletrônicas para confirmar que o tio ex-presidente ou o ministro da construção desejam lhe transferir 25% do seu patrimônio desde que você consinta em lhes passar o número de sua conta em banco: será a contribuição africana para resolver em parte o problema da má distribuição de renda no mundo.

Brasil:
Apesar da reforma ministerial, a imprensa continuará especulando sobre a entrada de novos ministros na equipe de assessores do presidente. Também se discutirá muito o crescimento da economia, o aumento da oferta de empregos, a reforma trabalhista, a política e a crise das universidades, a redução dos impostos e o aumento das prestações sociais, bem como dos investimentos do governo em obras de infraestrutura. Haverá troca-troca partidário logo depois das eleições municipais e nova mudança de regras para as eleições de 2006. A próxima novela do horário nobre se espelhará na vida política do País, o que fará, pela primeira vez na história, decrescer o nível de audiência desse tipo de programa. Os discursos ainda serão superiores ao número de medidas-provisórias, com previsão de equilíbrio em 2005. Continuará em seu esforço para ingressar no Conselho de Segurança e para liderar a América do Sul, com progressos sensíveis nas duas frentes.

Mercosul:
A união aduaneira se reforçará, mas antes haverá um curto estágio de cinco anos por um espaço de preferências tarifárias e mais três numa zona de livre comércio. Sua expansão recomendará reuniões de cúpula de dois dias, para dar tempo a todos os discursos, mas a Secretária Administrativa comprará um avião próprio para seguir todas as reuniões de todos os subgrupos técnicos do mercado comum (em preparação). O grupo de educação começará a redação de um manual de portunhol e a própria Secretária Administrativa de um Mercosur for beginners ou de um Idiot’s Guide to Mercosur.

Antiglobalizadores:
Continuarão com suas ruidosas reuniões, mas cada vez mais globalizadas e mais capitalizadas. Com isso conseguirão prolongar a vida útil do Fórum de Davos, que já vinha cansando empresários e acadêmicos. Também estimularão o turismo alternativo, as edições alternativas e os discursos alternativos, criando uma pujante economia de iniciativas antiglobalização que conseguirá, finalmente, salvar o capitalismo de sua atual fase de estagnação econômica e de baixo crescimento. Serão lançados derivativos financeiros do Fórum Social Mundial, para os que desejam aplicações alternativas, com dinheiro não contaminado pelo desejo de lucro e pelo vício da exploração do homem pelo homem. Serão os únicos fluxos financeiros a recolher a Tobin Tax, num esquema administrado pela ONU, que vai reverter em benefício de organizações alternativas do Terceiro Mundo, isto é, para eles mesmos.

Comércio internacional:
Continuará sendo uma guerra por outros meios, ou continuará tendo mais a ver com a política do que com a economia. As vantagens comparativas ricardianas terão uma nova interpretação, patrocinada pela Comissão Europeia e pelo Congresso americano, que tentarão modificar simultaneamente todos os livros textos de economia. Seus autores se refugiarão numa ilha deserta, reproduzindo a simulação do Robinson Crusoé que figura nesses livros textos, como exemplo de economia fechada e sem trocas. A despeito disso, as trocas se farão cada vez mais entre multinacionais, que serão em sua maioria ocidentais intercambiando produtos chineses. Indianos também vão começar a exportar uma parte de sua mão-de-obra para a Rússia, que padece de demografia declinante. Haverá dumping de ministros socialdemocratas, numa primeira antecipação da aplicação da cláusula social em escala universal.

Meio Ambiente:
Cada vez mais protegido, por discursos, de dirigentes políticos, e na prática, por barcos e aviões armados de radares e mísseis das organizações não-governamentais mais agressivas. Povos indígenas, por sua vez, contarão com dirigíveis não-poluentes para supervisionar suas explorações minerais e agrícolas (sustentáveis). Técnicas de clonagem ressuscitarão espécies desaparecidas, mas as ONGs ecológicas alertarão para os desequilíbrios para o meio ambiente do século 21, não acostumado com predadores do passado. Desaparecerá a agricultura tradicional e os supermercados serão divididos em seções de transgênicos e de orgânicos, com filas separadas nos caixas para evitar contaminação recíproca.

Direitos Humanos:
Serão inclusivos, com os aspectos psicológicos contemplados em nova convenção da ONU. Animais clonados também serão incluídos na categoria. O direito à democracia derrubará o último ditador asiático, mas uma ilha do Caribe continuará resistindo aos ditames do Império. Todos os habitantes do planeta terão direito a uma renda mínima, cujo programa será universalizado graças aos esforços de um senador brasileiro, e a ONU supervisionará sua aplicação até o ano de 2075, quando se espera que o último pobre poderá adquirir uma bicicleta chinesa movida a hidrogênio.

Astrólogos diplomáticos:
Serão uma categoria reconhecida e cada vez mais disseminada, antes mesmo da formalização da profissão de “internacionalista”. Terão seu próprio sindicato e sua colônia de férias e farão congressos anuais para trocar previsões sobre os países em que vivem. O mundo será muito mais divertido e feliz com eles, pois eles poderão abolir completamente as guerras e as epidemias de suas previsões, aproveitando para abater o preço dos manufaturados e para elevar os das commodities. Ou não?

A conferir no começo de 2005.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília: 1177, 11 de janeiro de 2004

sábado, 12 de abril de 2014

Brasil 2015: uma previsao imprevisivel (sob minha responsabilidade)

Todo final de ano eu costumo fazer minhas previsões imprevisíveis, que para mim são aquelas que justamente não têm nenhuma chance de acontecer.
Alguns exemplos?
O governo dos companheiros ganhar eficiência, a corrupção diminuir, a educação melhorar, enfim, essas coisas simples.
Pois bem, este ano é diferente, por causa das eleições, justamente.
Por isso já faço a minha previsão imprevidente oito meses antes, por minha própria conta e risco.
Quem quer esteja no poder a partir de 1ro de janeiro de 2015, vai enfrentar uma situação muito difícil para ser administrada no modo normal de governança, mas bem mais complicado se for a oposição a ganhar. Neste caso, o país vai ficar ingovernável, aliás desde o dia 26 de outubro.
Não vou detalhar agora o que estou pensando, mas já tenho os cenários mais ou menos desenhados.
Deixo apenas o aperitivo... catastrófico...
Paulo Roberto de Almeida


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Confiram: minhas previsoes imprevidentes para 2014. Acertei, Errei?, vcs decidem....


Revisando as previsões imprevisíveis para 2013, e preparando as de 2014
Todo final de ano, como muitos já sabem, eu, atrevendo-me a competir com os astrólogos, videntes e outros seres preparados para o que der e vier, costumo fazer as minhas previsões imprevidentes.
Elas têm essa peculiaridade, e bizarrice, de serem concebidas para justamente não se realizar. Fico totalmente realizado quando todas elas falham, pois isso significa que eu acertei pelo contrário, ou al revés, como diria o finado presidente Hugo Chávez, que também praticava, à sua maneira, a economia política ao contrário, de que é mostra o brilhante estado da economia venezuelana.
Mas, o mundo, o Brasil em especial, sempre nos prega surpresas, e algumas previsões imprevidentes acabam se realizando, contra qualquer racionalidade.
Que seja, nem todo astrólogo acerta e este "previsor" por vezes acerta sem querer, ou seja, algumas coisas boas acabam acontecendo sem que as intenções iniciais fossem essas.
Mas, como todo cidadão honesto, também tenho de prestar contas do que acertei, e do que errei.
Nada melhor, neste sentido, do que colocar aqui as previsões feitas no final de 2012, válidas para 2013, para que todos e cada um possam verificar como eu me desempenhei e qual seria, exatamente, minha "taxa de sucesso".
Pelo que ouso chutar, acho que acertei (no caso, desacertei) 70% das previsões, o que me parece uma taxa razoável de desacertos, maior, em todo caso, do que a maioria dos videntes e astrólogos.
Quero, neste momento, agradecer ao governo dos companheiros e todos os seus aliados aloprados, que muito fizeram para aumentar a minha taxa de desacertos, sobretudo nos terrenos da corrupção, da economia, das políticas setoriais improvisadas, que continuam tão confusas quanto sempre foram.
Só faltou acertar que o pequeno Uruguai seria o país do ano, por tentar legalizar a maconha de todos os dias. Vai dar certo em 2014, ou seja, o programa vai ser um fracasso monumental. Acrescento, portanto, o experimento da maconha estatal, na lista das previsões imprevidentes de 2014.
Boa sorte, podem conferir o que escrevi no ano passado, e aguardem mais previsões imprevidentes que elas estão sempre se manifestando espontaneamente, com a ajuda do governo companheiro.
Paulo Roberto de Almeida

Minhas Previsões Imprevisíveis para 2013
(não custa continuar tentando, para ver se em algum ano dá certo...)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de dezembro de 2012.

Como faço a cada ano (salvo nos bissextos), vou continuar meu tresloucado exercício de fazer previsões ao contrário, isto é, minhas expectativas para o que não tem nenhuma chance de acontecer no ano que pronto se iniciará. É claro que, dada a múltipla natureza bizarra, sempre inovadora, criadora, simpática e decepcionante, e até mesmo surpreendente deste país surrealista que se chama Brasil, corremos o sério risco de sermos desmentidos, e sairmos humilhados, pela absolutamente inacreditável realização de algumas dessas previsões malucas. As surpresas podem ocorrer, especialmente as vindas de certas esferas da alta política, previsíveis na sua imprevisibilidade, e que costumam confirmar aquela máxima do Barão de Itararé: de onde menos se espera é que não sai nada mesmo. Mas isso fica pela conta do seguro contra acidentes não previstos, que renovo a cada ano nessa época, para evitar, justamente, ser processado por algum leitor, e aí cair naquela previsão ainda mais imprevisível de ter o caso julgado por um “auto” tribunal em menos de 20 anos, o que atrapalharia sobremaneira minha aposentadoria.
Sem mais delongas e tergiversações, vamos pois à lista atualizada das previsões imprevisíveis para 2013. Se algumas delas se realizar, os leitores podem me cobrar a conta, mas apenas em 2014, quando terei um estoque inteiramente novo de ofertas do impossível.
Começo pelo mais comum, frequente e corriqueiro: corrupção. Se não sobreviver o fim do mundo antes, vamos ficar inteiramente livres de qualquer novo caso de “malfeitos” em 2013. Tendo aprendido com sua própria experiência, na carne, por assim dizer, os companheiros vão inaugurar uma tecnologia inteiramente nova de combate à corrupção, pela simples razão de que – como a nova nota fiscal que já declara os impostos – a corrupção já virá integrada a todos os negócios públicos. O Partido dos Companheiros está criando uma Secretaria Especial de Negócios Não-Contabilizados, aqui se antecipando ao financiamento público das campanhas eleitorais, o que vai facilitar tremendamente as coisas. Transpondo a tecnologia para o nível estatal, vai ser possível nos livrarmos inteiramente da corrupção, em virtude do expediente já referido de sua integração oficial, formal e carimbada, em todas as transações que envolvem instituições e agentes públicos. Vai ser assim uma espécie de CPMF destinada inteiramente ao caixa 2, mas de forma explícita. Resolvido o problema, não é mesmo?
Fim do Mundo: parece que não deu certo desta vez, mas não custa apostar mais um pouco, inclusive porque esta catástrofe natural – ou dos deuses? – vai resolver todos os outros problemas, inclusive a obrigação deste escriba ficar perdendo tempo neste tipo de besteirol. As apostas ficaram um pouco mais caras, dada a frustração com as últimas cinco previsões e meia. Também: os maias têm aquela escrita complicada, impossível de ler, e números que não são em base decimal. Mais passons...
 Economia: depois do insucesso dos quinze últimos pacotes de estímulo à economia, o governo promete que não vai mais fazer pacotinhos de estímulo à economia; pode ser um pacotão, de tempos em tempos, mas essa coisa de a presidente e o ministro da Fazenda anunciarem, a cada semana, que “estão tomando medidas para estimular a economia” vai finalmente sair de moda. E não tem mais essa coisa de improvisações setoriais; doravante só terão direito a pacotes de estímulos, pacotões, na verdade, os setores minoritários, que já gozam de várias cotas de favor. Isso muda! Os afrodescendentes, por exemplo: com base na auto-declaração, eles já são mais de 55% da população brasileira. Todos os pacotes de favor serão agora para setores minoritários e prejudicados nas políticas dos últimos anos, como os loiros de olhos azuis, coitados.
 Política: o Congresso proclama sua independência, enfim! Só vai trabalhar para o governo nas quartas-feiras, quando o expediente é total. Nas terças e quintas, e só em regime de meio expediente, trabalhará para ele mesmo, que ninguém é de ferro. Estão abolindo o 14o. e o 15o. salários, mas vão criar a semana de expediente ainda mais reduzido. E já avisaram; só vão cassar companheiros legisladores em anos bissextos. O Stalin Sem Gulag, aliás, aproveita para mandar dizer que a luta continua, agora dentro da cadeia, com o apoio do PCC, que é um partido quase alinhado com suas teses.
Justiça: o Supremo diz vai parar de se meter na vida dos demais poderes; mas já avisou que não quer nenhum parlamentar se metendo na fixação dos seus próprios salários, que devem ser proporcionais aos quatro milhões de casos “a julgar”, parados há mais de oito anos nos escaninhos dessas varas que já viraram palácios de papel. Também vão modernizar o figurino: aquelas togas incomodas ficam sempre caindo e atrapalhando o movimento dos braços; vão adotar um simples avental, com os dizeres mais do que atuais: A justiça é cega...
Esporte: a Seleção de futebol da França se exila por completo na Bélgica, por razões fiscais. Os integrantes da seleção da Bélgica, por sua vez, fazem greve para não ter de pagar imposto de renda e ameaçam se exilar no vizinho Luxemburgo. A seleção brasileira adota um uniforme mais largo e mais comprido, daqueles antigos, para acomodar todas as mensagens publicitárias que a CBF negociou com importantes empresas multinacionais e várias estatais tupiniquins. Alguns jogadores vão negociar tatuagens publicitárias na barriga e no bum-bum (este mais caro). Mas, na copa das confederações, a seleção brasileira perde da seleção do Burundi por 1 a 0. Pano...
Economia mundial: a gangorra continua. Depois que o Brasil perdeu a condição de sexta economia mundial, para se converter na oitava economia, o governo reagiu e, via flutuação cambial do Banco Central, conseguiu trazê-la de volta para a sétima posição; os mercados reagem, fazem dois ataques especulativos e levam o Brasil à nona posição, mas o governo faz novo pacote e consegue trazer a economia para a oitava posição outra vez; os mercados, só de birra, provocam fuga de capitais e arrastam o Brasil para a décima-segunda posição; governo, emburrado e amuado desiste de brincar de gangorra cambial. Enquanto isso, a China e os Estados Unidos criam um programa conjunto de manipulações cambiais: pronto, era o que faltava para o governo brasileiro se enfurecer de vez; mas o seu tsunami financeiro não passa de uma marolinha...
Economia doméstica: o Ministério do Planejamento cria o PAC-III, com taxa de realização pré-programada em 35,7% dos recursos empenhados (incluídos restos a pagar...); o TCU também criou um software novo, de embargo preventivo das obras suspeitas de irregularidades: ele também vem pré-programado para embargar metade das obras, inclusive retroativamente, do PAC-I e do PAC-II, mas aí se descobre que as obras paradas são mais do que 75% do total dos volumes empenhados;
Economia sentimental: o governo cria o plano Brasil Amoroso, para distribuir beijos e abraços a quem vive sem companhia; Senadores mais sentimentais que outros, como Suplicy e Buarque, pensam instituir uma Bolsa Carinho, de meio salário de senador, para os contemplados no programa; executivo reage e cria o vale-beijo.
Cultura: as editoras brasileiras pedem proteção contra a Amazon, e querem taxa especial sobre o livro eletrônico, para compensar os custos que tem de estocar um monte de papel impresso que não vende; a Amazon resolve diversificar suas operações nacionais e começa a vender tapioca express-delivery. Deputado Aldo Rebelo reage, e diz que só pode se estiver escrito em língua nacional.
Política Externa: Cuba decide ingressar no Mercosul, antes do Paraguai voltar, e diz que tem direito a receber metade das verbas do Fundo de Recuperação e Apoio à Correção das Assimetrias Sociais Socialistas (FRACASSO), criado na cúpula do meio do ano. Guiana e Suriname reagem e dizem que também querem entrar no Mercosul para se beneficiar do maná brasileiro, à razão de 70% do total. Ministros decidem então criar uma Casa da Moeda do Mercosul (CMM), o mais novo órgão do vasto empreendimento integracionista, que não cessa de se ampliar no continente e surpreender o mundo pela sua criatividade e versatilidade. Obama diz que EUA consideram se tornar membro associado do Mercosul. É a apoteose...
Fim do Mundo, outra vez: guru de Cabrobó da Serra diz que ele descobriu um erro de cálculo no calendário maia, e atrasa do fim do mundo para meados de 2014, o que permite passar o fim de ano sem maiores preocupações com seguro de vida.
Bom ano a todos...

Brasília, 20 de dezembro de 2012.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Verdades não convencionais - artigo P. R. Almeida no Estadao de 8/01/2014

Verdades não convencionais

08 de janeiro de 2014 | 2h 07

Paulo Roberto de Almeida* - O Estado de S.Paulo
Costumo iniciar o ano elaborando "previsões imprevidentes", feitas a contrario sensu dos astrólogos e videntes tradicionais: elas são destinadas a não se realizarem. De vez em quando, governos ineptos me fazem "acertar", e perder minhas apostas. Em 2012, apostando que o novo presidente francês seria teimoso a ponto de implementar uma tresloucada promessa eleitoral, previ que a gloriosa seleção tricolor se exilaria na Bélgica caso ele decidisse concretizar a intenção de taxar em 75% ganhos anuais de mais de 1 milhão. Passou 2013 e imaginei que ele havia abandonado tão insensato projeto. E não é que ele segue adiante? Agora só falta a seleção - ou alguns de seus expoentes - trocar de camisa e de país. A da Bélgica, para não ficar atrás, e para não incitar seus políticos a imitar os vizinhos, se exilaria no Luxemburgo. Vamos ver...
O exercício que proponho agora é diferente: não se trata mais de acertar errando (pois sempre existe o perigo de dirigentes descerem aos extremos; vide a Venezuela), mas de afirmar algumas verdades que considero comprovadas na prática, embora alguns sempre possam exigir as provas empíricas do que pretendo afirmar. Algumas dessas verdades são tão evidentes que eu nem arriscaria nenhuma das minhas previsões imprevidentes na sua comprovação. Vejamos algumas delas.
Programas para eliminar a pobreza terminam, de fato, consolidando-a. Almas generosas, espíritos socialistas, vocações distributivistas estão sempre querendo corrigir as desigualdades sociais por meio de algum programa de transferência de renda em grande escala. Não existem, na história econômica mundial, exemplos de eliminação da pobreza via transferências governamentais. Existem, sim, trajetórias bem-sucedidas de redução da pobreza e para menores níveis de desigualdade via qualificação da mão de obra mediante educação de qualidade. Empregos e renda por meio dos mercados ainda são a melhor forma inventada pela civilização para a criação da prosperidade, o que não quer dizer supressão da riqueza de alguns, como pretendem adeptos do imposto sobre as grandes fortunas. O Brasil deve ser o único país no mundo que mantém um quarto da sua população oficialmente na assistência pública. Isso é normal?
A Justiça do Trabalho não é justiça e não resolve conflitos trabalhistas, ela os atiça; deveria ser simplesmente extirpada. Toda a Justiça do Trabalho é uma gigantesca contradição nos termos: ela alimenta conflitos, cria enxames imensos de advogados trabalhistas que incitam justamente ao conflito, com imensas perdas para os empresários, os empregadores, e para o País como um todo. As relações trabalhistas deveriam estar baseadas no contratualismo direto e nos mecanismos arbitrais de solução de conflitos, com algumas poucas varas trabalhistas para os casos mais complexos. A sociedade economizaria provavelmente vários pontos porcentuais do PIB eliminando esse gigantesco aparato alimentador de conflitos que é a Justiça do Trabalho.
Os sindicatos converteram-se em aparatos mafiosos para extrair dinheiro dos trabalhadores. Na verdade, eles são mais do que isso: são máquinas de provocar desemprego e atraso tecnológico. No terreno simplesmente institucional, parece claro, hoje em dia, que os sindicatos se converteram em mecanismos de extração de recursos de todos os trabalhadores via imposto sindical, aliás, com a colaboração ativa do governo dos trabalhadores, que ainda distribuiu parte do maná a centrais de fachada, que não precisam prestar contas do que recebem. Abrir um sindicato é um meio abusado de ganhar dinheiro, quase tão fácil quanto abrir as igrejas da "teologia da prosperidade", que também vivem do dinheiro dos ingênuos e dos incautos.
Salário mínimo nacional e compulsório é um alimentador da inflação, do desemprego e do déficit público. As pessoas estão convencidas de que ele "protege" os trabalhadores, quando, na verdade, destrói a empregabilidade de milhões de pessoas, inferniza a vida dos empresários, compromete o equilíbrio das contas públicas e cria um indutor inflacionário automático. Países que construíram sua prosperidade o fizeram sem esse constrangimento microeconômico e essa camisa de força macroeconômica. Todos os ativos estariam empregados se não fosse pelo salário mínimo; ele é antipobre.
A esquerda é de elite e defensora de privilégios, para si.Bem pensantes que são, pretendem ser contra as elites, quando a integram desde sempre. Não me refiro aos militantes de base, que não detêm poder decisório, mas aos apparatchiks do partido do pensamento único - aliás, agora todos no governo -, aos gramscianos da academia, aos formuladores das políticas que julgam redistributivas, quando, na verdade, estão dirigidas a consolidar o poder da nova classe, a Nomenklatura que pretende manter o monopólio sobre as verdades orwellianas destes tempos. Eles ganharam, temporariamente, a batalha das ideias, mas apenas por causa da ignorância da maioria da população, não de sua educação política. Todavia as mentiras se desvanecerão aos poucos.
Todo governo é inepto, salvo prova em contrário. Mecanismos de coalizão reduzem tudo ao mínimo denominador, isto é, à partilha dos despojos do Estado, nacos da riqueza social apropriados por dirigentes políticos assistidos por mandarins extratores. Resultados: ineficiência estatal, fragmentação do orçamento e ausência de prioridades. Partidos, como entidades de direito privado, não podem viver de recursos estatais; um sistema de financiamento aberto e transparente pela sociedade talvez começasse a corrigir a inépcia de governos produzida por essa deformação da democracia que é a partidocracia.
Bem, a despeito de tudo, desejo um bom ano a todos.
*Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor (http://diplomatizzando.blogspot.com).

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Addendum, ou PS, a partir de uma conversa, entreouvida por alguém, e que se refere ao pequeno restaurante (também conhecido por "bichonete"), entre a "senzala" e o "bolo de noiva", do Itamaraty, uma Casa Grande que ainda tem um alto capital intelectual, mas que, na substância, já teve mais prestigio no passado:

...burburinho geral....lotação completa....uma mesa ao fundo....um cardeal da Casa Grande e três coronéis chefes de divisão na senzala....
...0 cardeal pergunta...vcs leram hoje ‘verdades não convencionais’ no Estadão do Paulo Roberto?......pois leiam,... muito bom.....podem não concordar com muito do que ele pensa...mas o ‘bicho’  é competente......

.....cortinas fechadas......

sábado, 4 de janeiro de 2014

Resolucoes de Ano Novo presidenciais, que nao serao cumpridas: ainda aguardando, desde 2003

No finalzinho de 2003, como é meu hábito todo final de ano, eu elaborei minhas "previsões imprevidentes" para 2004, neste caso adaptadas como resoluções presidenciais para o ano que se iniciava.
Como de hábito, também, eu não acreditava que elas fossem cumpridas e achava que a maioria permaneceria totalmente intocada.
Com exceção da questão dos transgênicos -- terreno no qual o agronegócio conseguiu reverter a posição absurda dos conselheiros ecochatos da presidência -- creio que todas as demais recomendações permanecem válidas, por serem pertinentes e por estarem ainda totalmente intocadas. No que se refere ao imposto único, a despeito de seus efeitos deletérios sobre a economia -- pelos efeitos cumulativos, em cascata -- ele poderia ser uma solução de transição, desde que fosse substituir todos os impostos federais e vários estaduais, como o absurdo do ICMS, mas creio que no computo global não seria uma solução. Proponho agora uma redução linear, escalonada e gradual, de TODOS os impostos, como preparação a uma discussão sobre a reforma fiscal. Tampouco creio que vai vir.
Não custa lembrar: o Brasil perdeu mais de dez anos nas NÃO reformas.
Quem sabe algum estadista resolve assumir as tarefas?
Neste início de 2014, dez anos depois de minhas recomendações, continuo NÃO acreditando que elas venham a ser cumpridas, sequer tocadas, any time soon...
Paulo Roberto de Almeida

Resoluções de Ano Novo
Sete tarefas presidenciais que não serão feitas
19 de dezembro de 2003

            Fim de ano: revisamos nossos erros e adotamos resoluções para o novo ano, com a ajuda do anjo da guarda. Presidentes também têm anjo da guarda, aliás vários: cortesãos, mordomos, seguranças e até mesmo algum conselheiro bem intencionado.
            O nosso presidente também deve estar pensando em sua lista de obras a cumprir neste ano do espetáculo do crescimento. Para ajudá-lo, resolvi imaginar sete resoluções que ele poderia cumprir nos próximos doze meses, com um único senão: tenho absoluta certeza de que nenhuma delas será cumprida e várias sequer tocadas.

1) Fazer um ministério manejável
            Esqueça: o que vai sair será um arremedo de reforma ministerial, com promoção dos incompetentes a algum outro cargo e uma abertura para o partido “saco de gatos”. O ideal seria uma super reforma, com redução à metade do número de ministérios, cartão vermelho para os titulares incapazes e incorporação de alguns técnicos competentes que hoje estão no banco de reservas.

2) Reforma tributária que diminua a carga fiscal
            Seria pedir muito? Afinal a reforma começou com grandes promessas de fim da guerra fiscal, desoneração do setor produtivo e racionalização do caos impositivo. Virou tragédia no final de 2003 e promete ser a comédia de 2004. Já que não há entendimento sobre uma estrutura ideal, porque não pensar naquele imposto único sobre transações?

3) Aprofundar a reforma previdenciária
            Podem reclamar os servidores públicos, mas ainda não se terminou de cortar privilégios. Uma nova reforma previdenciária é absolutamente indispensável para fazer o Brasil crescer em bases sustentáveis. O setor continua produzindo deficits que serão pagos por nossos filhos e netos. É essa a herança que o presidente pretende deixar?

4) Reforma laboral de flexibilização
            Quase a metade da força-de-trabalho está na informalidade, à margem de qualquer proteção ou regime previdenciário. Pequenas e médias empresas que poderiam contratar muito mais não o fazem por causa de uma legislação trabalhista decrépita e com alto viés de proteção formal e nenhuma garantia de empregabilidade. Presidente: enfrente os sindicatos e promova uma limpeza geral na legislação e deixe patrões e trabalhadores resolverem suas relações em bases contratuais. Estou sonhando mais uma vez?

5) Autonomia do Banco Central com Conselho Monetário ampliado
            Esses conselheiros que dizem que a independência do BC será o fim da soberania monetária devem entender tanto de câmbio e juros quanto eu de física nuclear. Promova a autonomia e pare de ouvir reclamações do vice-presidente, dos empresários da FIESP e dos economistas de oposição. Aí poderá dizer: “o assunto não é mais comigo, juros são resolvidos por um Conselho Monetário de dez membros, escolhidos de comum acordo com o Congresso dentre economistas acadêmicos e burocratas do governo, com mandato fixo mas revogável pelo Senado”.

6) Lei de biossegurança não esquizofrênica
            Sinceramente, que papelão esse projeto do governo sobre transgênicos. Paralisou todo o sistema de pesquisa em biotecnologia e pode fazer metade da agricultura deslizar para a ilegalidade. Liberte-se desse bando de ecochatos e coloque-se do lado da ciência e da tecnologia, como convém a um presidente moderno e esclarecido.

7) Aprofundar o superávit primário para rebaixar os juros
            O superávit de 4,25% está estrangulando os gastos sociais? Essa economia, na verdade, representa apenas uma parte do déficit real, que continua sendo criado, pelo fato de o governo gastar mais do que deveria ou porque acumulou dívidas que cabe remunerar ou amortizar. Um superávit menor significa que o governo renuncia a controlar os seus gastos, continuará sendo irresponsável e vai deixar um grande buraco para a sociedade. O correto seria aumentar o superávit (o governo precisa começar a produzir superávits nominais, para diminuir a pressão da dívida), única garantia de que os juros baixarão para níveis civilizados. Os que negam é porque vivem de juros ou recomendam um calote nos banqueiros. Crie coragem e diga ao Palocci para aumentar o superávit para perto de 5%. Pense que o Estado tem de deixar de ser um peso para empresários produtivos e uma mãe para os banqueiros e especuladores.


            Aí estão: sete pequenas resoluções que representam sete grandes revoluções na forma de fazer política e de praticar economia no novo Brasil inaugurado em 2003 (mas que ainda não deu a partida de verdade, segundo o presidente). Sei que é duro ter de descontentar políticos, banqueiros, funcionários públicos, juízes, políticos, ecologistas e economistas utópicos da universidade. Por isso mesmo já disse ao início que as sete tarefas não serão cumpridas, por mais que elas sejam benéficas para o povo e podem fazer a felicidade geral da nação. Em todo caso, não custa nada fazer nossa própria resolução de ano novo e esperar que o presidente a cumpra. A minha lista está aí. A conferir no final de 2004.

Brasília, 19 de dezembro de 2003
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Continuamos esperando...
PRA