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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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segunda-feira, 26 de junho de 2023

Como será o dia em que Putin desligar todos os cabos submarinos? - Moisés Naim (OESP)

Como será o dia em que Putin desligar todos os cabos submarinos?

Moisés Naim

O Estado de S. Paulo, 25/06/2023

 É fácil imaginar a internet como um fenômeno etéreo, imaterial. Nestes tempos é normal, por exemplo, conectar-se à rede sem necessidade de cabos, guardar dados na “nuvem” e supor que a informação flui sem “sujar-se” no mundo tátil.

Pena que essas suposições sejam errôneas. A rede da qual dependemos é alarmantemente física e eminentemente vulnerável. Segundo o marechal Edward Stringer, ex-diretor de operações do Ministério de Defesa britânico, 95% do tráfego internacional de dados passa por um pequeno número de cabos submarinos. Estamos falando de meros 200 cabos, cada um da grossura aproximada à de uma mangueira de jardim e capaz de transferir cerca de 200 terabytes por segundo.

Por essa rede física trafegam US$ 10 trilhões em transações financeiras a cada dia. Como explica Stringer, nos últimos 20 anos, a Rússia investiu fortemente em sistemas capazes de atacar essa rede de cabos submarinos. O Kremlin conta hoje com uma frota de sofisticados submergíveis não tripulados projetados especificamente para esses fins. E a China também.

De fato, não se trata de uma ameaça teórica. Em outubro de 2022, o cabo submarino que conecta as Ilhas Shetland com o restante do mundo foi cortado em dois pontos. Poucos dias antes, havia sido detectada presença nessa região de um barco russo de “investigação científica”.

Não é possível vincular a presença do barco com o corte do cabo. De fato, na maioria das vezes os cortes se devem a acidentes com embarcações pesqueiras ou a eventos sísmicos no leito marinho. Mesmo assim, essa coincidência preocupou muito as agências de segurança das potências ocidentais, que perceberam o incidente como uma advertência enviada pelo Kremlin.

Outro evento relevante nesse sentido foi a decisão tomada em fevereiro de 2023 pelas duas maiores empresas de telecomunicações chinesas, que decidiram se retirar do consórcio internacional encarregado de desenvolver uma rede de 19,2 mil quilômetros de cabos submarinos que conectam o sudoeste da Ásia e a Europa Ocidental.

Os impactos de um ataque coordenado contra os principais cabos submarinos em nível global seriam incalculáveis. Um ataque simultâneo paralisaria o comércio global, os mercados financeiros, o trabalho remoto e as indústrias de tecnologia e comunicação, provocando uma recessão mundial.

Mas o problema não seria meramente financeiro: as cadeias de fornecimento do século 21 dependem da transferência constante de dados para coordenar a entrega de bens e produtos. A interrupção deste fluxo poderia causar um efeito dominó de atrasos e cancelamentos que restringiria a integração econômica, política e até cultural de diferentes zonas geográficas.

Ainda mais, a crise financeira e econômica que um ataque desse tipo precipitaria nem sequer seria o maior dos problemas. “Desconectar” os cabos de potências rivais desembocaria numa crise inadministrável, especialmente se for possível atribuir a responsabilidade a algum ator estatal específico, o que poderia provocar conflitos e reconfigurar alianças. Os países que dependem em grande medida da infraestrutura digital seriam os mais afetados, e aqueles com capacidades autônomas de comunicação e tecnologia poderiam obter vantagens estratégicas.

Desafortunadamente, tais cenários não podem ser ignorados, porque no alto-mar reina a anarquia. Os tratados internacionais existentes sobre direito de navegação não cobrem satisfatoriamente o caso dos cabos submarinos. Trata-se de um exemplo emblemático de uma realidade global que, apesar de ser de grande interesse público, não está adequadamente protegida nem física nem legalmente.

Até agora, as potências marítimas se abstiveram de atacar em grande escala as infraestruturas submarinas. Obviamente, atacar os cabos e conexões submarinas do rival provocaria custosas retaliações. Mas o equilíbrio atual é instável e inerentemente suscetível a perturbações que podem desestabilizar o sistema mundial da noite para o dia.

Quando imaginamos que eventos seriam capazes de suscitar uma escalada entre o Ocidente e seus rivais, nós tendemos a nos esquecer dessa realidade. As sociedades contemporâneas não podem funcionar sem a transmissão de dados facilitada pela internet que, por sua vez, não pode funcionar sem infraestruturas muito difíceis de defender.

A sensação de invulnerabilidade do Ocidente é ilusória, e seus rivais entenderam bem que certas infraestruturas — começando pelos cabos submarinos — são seu calcanhar de Aquiles. Essa realidade sublinha a necessidade de manter relações minimamente funcionais na arena internacional.

A interdependência entre os países não é apenas um conceito usado por diplomatas. É uma realidade que define o mundo de hoje. Este é um mundo no qual os problemas, riscos e ameaças se fazem cada vez mais internacionais, enquanto as respostas dos governos seguem sendo predominantemente nacionais. Há problemas que nenhum país consegue resolver atuando sozinho. A necessidade de coordenar respostas e responder coletivamente com eficácia às ameaças é um objetivo para o qual o mundo não está preparado. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

https://www.estadao.com.br/internacional/como-sera-o-dia-em-que-putin-desligar-os-cabos-da-internet-mundial-leia-a-coluna-de-moises-naim/

sábado, 11 de outubro de 2014

Pos-eleicao: o caos petralha para desestablizar o novo governo - Jorge Oliveira

Um texto do início deste ano, que mantém sua total atualidade, e que será ainda mais atual e concreto quando isso começar a ocorrer.
Aliás, eu nem desconfio que os petistas vão sabotar o próximo governo, eu tenho certeza. E isso nem vai aguardar o mês de janeiro de 2015, vai começar no próprio dia 27 de outubro, pela sabotagem de várias coisas no governo e em todas as instâncias em que os apparatchiks estão instalados: vão apagar registros de seus crimes e falcatruas, vão deletar arquivos, vão danificar materiais, vão roubar como nunca, pois sabem que não terão mais oportunidade de fazê-lo depois, em suma, vão desmantelar o que ainda sobrou de institutições administrativas e estuturas de governança no Brasil.
Por isso, no seu discurso de vitória, o candidato oposicionista deve exigir a imediata aplicação da lei promulgada por FHC em meados de 2002 para justamente facilitar a transição para o governo Lula de uma maneira civilizada, o que obviamente o governo atual não fará por gosto próprio, nem os petralhas tomarão a iniciativa de implementar.
Vigilância portanto, mas o mais importante seria fazer um pronunciamento preventivo ameaçando punir exemplarmente quem incorrer em atos de sabotagem contra o Estado brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida

O Plano B de Lula para a derrota do seu poste
Jorge Oliveira
14 de janeiro de 2014

Rio – O brasileiro precisa está atento para o que vai acontecer a partir de janeiro de 2015 caso o PT seja derrotado nas eleições deste ano. Com o estado aparelhado, os petistas em represália vão tentar desestabilizar o país porque ainda são o partido mais organizado. Comanda as centrais de trabalhadores e milhares de sindicatos, portanto, têm como liderar greves e incentivar à massa a ir às ruas contra o novo governo. Os petistas não vão dar trégua porque, ressentidos com a derrota, tentarão de todas as formas inviabilizar o sucessor. Além disso, resistirão a abandonar os cargos para não perder os salários milionários sem antes boicotar o serviço público e  paralisar as atividades afins do estado.
 É assim que opera o PT. E foi assim que a cúpula do partido agiu nos primeiros anos do governo Collor, quando estimulou a paralisação da máquina estatal,  criou CPIs, quebrou o sigilo fiscal de autoridades do governo, fabricou escândalos e levou às ruas milhares de jovens (os caras pintadas) para derrubar  o primeiro presidente eleito pelo voto direto depois da ditadura.  O PT  não se contentou com a derrota do Lula e organizou suas bases (sindicatos e centrais) para confrontar o novo governo. Criou núcleos de espionagem dentro dos órgãos federais infestados de seus militantes e simpatizantes e em pouco tempo derrubou o Collor, que já estava na corda bamba pelo governo medíocre que fazia com denúncias de corrupção pipocando por todos os lados.

Na oposição a partir de janeiro, caso a Dilma não se reeleja, os petistas vão infernizar a vida de quem assumir o governo. Quatorze anos administrando a máquina pública, eles aparelharam o estado e agora conhecem como funciona a estrutura por dentro. Para desalojá-los do poder, o presidente eleito certamente gastará boa parte do mandato na assepsia das estatais onde os petistas estão infiltrados independente da qualificação profissional.

Lula está acompanhando com lupa a campanha da Dilma. Anunciou inclusive que estará na linha de frente dos trabalhos da reeleição da sua presidente. Acontece, porém, que ele hoje já tem dúvidas quanto ao êxito do sucesso dela e analisa prognósticos desfavoráveis a sua candidata. Por isso começou a trabalhar com outro cenário político: aumentar as bancadas petistas na Câmara e no Senado Federal.

A estratégia consiste em dominar o Congresso Nacional no caso do PT não conseguir reeleger a Dilma. Perde-se, portanto, o governo, mas em compensação ganha-se o  parlamento submetendo o novo presidente às ordens petistas, leia-se lulista. Nos estados onde o PT não desponta como favorito ao governo, Lula tem estimulado uma aliança independente de ideologia para aumentar o número de parlamentares, o que permitiria o partido ter maioria no Senado e na Câmara e indicar os presidentes.

É assim que o ex-presidente quer permanecer soberano na política. Lula sabe que a Dilma estaria definitivamente fora da política se perder a reeleição porque não teria condição de se eleger nem a síndico de prédio.  A dificuldade dela de se manter na política deve-se a sua falta de base eleitoral em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul os dois estados que abraçou para viver. Lula sabe também por experiência própria que num regime presidencialista como o nosso, manter a presidência das duas Casas é dominar o destino político do país como fazem alguns partidos, a exemplo do PMDB de Sarney, de  Renan e Michel que mantêm o Executivo sob seu jugo.

Não à toa, Lula não demonstra nenhum apetite para ocupar o lugar da Dilma. Conhece como  ninguém a incompetência da sua presidente para administrar o país e do fracasso que ronda o setor econômico em 2014. Assim, previne-se ao entregar os anéis para preservar os dedos: quer a Câmara e o Senado  para transformar o Executivo refém do seu partido, no caso de uma reeleição frustrada da Dilma.