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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 26 de novembro de 2019

Concurso da carreira diplomática: bagunça do governo se estende ao Itamaraty -

Transcrevo comunicado do clippingcacd.com.br sobre a trapalhada feita pelo instituto contratado SEM LICITAÇÃO pelo Itamaraty para fazer o concurso deste ano: 

Cancelamento das provas discursivas pelo Iades: entenda o que aconteceu

Para os candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) que aguardavam o resultado final do concurso, chegou a comunicação do Iades no sentido de que haverá:
 nova avaliação das referidas provas, por nova banca avaliadora.
De acordo com o comunicado do Iades, o número de inscrição dos candidatos figurou nas folhas de respostas das provas de Segunda Fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), em desconformidade com o item 14.5.1 do Edital que estabelece que:
14.5.1 Não serão identificadas, para efeito de correção, as provas do concurso.
Analisamos neste post o contexto em que ocorreu esse comunicado e, também, as consequências que pode ocorrer daqui para frente.
O post ficou dividido assim:
  • O que motivou o comunicado do Iades
  • O que foi dito até agora pelo IRBr e Iades
  • O (x) da questão
Vamos a análise bem pragmática desses pontos 🔎

1. O que motivou o comunicado do Iades?

O comunicado do Iades teria sido motivado não por um erro de procedimento identificado pela própria instituição, mas por uma manifestação da Procuradoria da República, que determinou, de ofício, que a banca organizadora e o próprio IRBr prestem esclarecimentos acerca de eventuais irregularidades narradas no âmbito de uma representação de Notícia de Fato. Pelo momento, o que se tem acesso é um trecho do ofício da Procuradoria que vem correndo grupos de whatsapp e as redes sociais:
De acordo com o representante, na folha de resposta da segunda fase do certame constava o número de inscrição de cada candidato e o respectivo local de prova. Essas informações, segundo ele, tornam possível a identificação dos candidatos por parte da banca examinadora, pois o mesmo número de inscrição estaria vinculado ao nome dos candidatos divulgados no Edital de Resultado Final da Primeira Fase e Convocação para a Segunda Fase. Diante disso, em caráter de urgência, determino a expedição: A) de ofício Diretora-Geral do Instituto Rio Branco Maria Stela Pompeu Frota, solicitando esclarecimentos acerca da representação; B) de ofício ao Instituto Americano de Desenvolvimento (Iades), para que preste esclarecimento acerca do conteúdo da representação.
O Iades foi escolhido como banca realizadora do CACD 2019 mediante dispensa de licitação. De 1996 a 2002 o CACD foi realizado pelo próprio IRBr. De 2003 até 2018, o Cespe foi a banca realizadora do certame. Em 2019, o Iades foi a instituição escolhida para substituir o Cespe. Não houve, até o momento da publicação deste artigo, manifestações públicas do Instituto Rio Branco ou do Ministério das Relações Exteriores sobre as motivações para essa troca de banca. No entanto, comparações do extrato de dispensa de licitação do CACD 2018 com a dispensa de licitação para o CACD 2019, permitem depreender que a decisão tenha sido motivada, sobretudo, por critérios orçamentários.

2. Isonomia nas (re)correções?

Parte da comunidade de candidatos, professores e cursinhos questionam sobre a manutenção da isonomia face a uma nova avaliação por uma nova banca avaliadora nesse momento, já que os espelhos circularam entre candidatos e professores que, normalmente  se apoiam no momento da confecção dos recursos anualmente.
Segundo levantado por matéria do Correio Web, o Itamaraty se manifestou no sentido de que procedimento similar já foi adotado pelo Iades em outros concursos, questionamentos semelhantes a esses já foram feitos anteriormente ao Ministério Público e, posteriormente, arquivados após prestados os esclarecimentos pertinentes. A matéria citada traz a seguinte manifestação:
“Consta das folhas de respostas distribuídas aos candidatos campo no qual estão registrados número sequencial indicando o local de prova e o número de inscrição no concurso. Ressalte-se que procedimento similar foi adotado pelo IADES em outros concursos públicos. Quando da realização de concurso para a Assembleia Legislativa de Goiás, concluído no ano em curso, houve questionamento, junto ao Ministério Público, por parte de candidato, que questionou a segurança da prova. Inquérito Civil Público subsequente foi arquivado após reunião no Ministério Público, que considerou terem sido prestados os esclarecimentos pertinentes”
A posição do Iades colhida pelo e veiculada pelo Correio Web é no sentido de que:
Cumpre salientar que, na folha de resposta do candidato, para a sua própria segurança, consta um código sequencial indicando o local de prova e o número de inscrição, não contendo qualquer identificação nominal. Ressalta-se que, após a avaliação de cada examinador, as notas são lançadas nos campos de cada quesito, com sequenciais alfanuméricos na planilha eletrônica, a qual é identifica com respectivo código da questão. A transcrição das notas que estão na planilha eletrônica para a folha de resposta do candidato é feita em momento posterior pela coordenação pedagógica e antes de disponibilizar a folha de resposta para os candidatos. Por fim, esclarecemos que, todo o corpo de Examinadores assina um termo de compromisso, parentesco e confidencialidade referente ao concurso, resguardando assim, os princípios da moralidade, ética e compromisso em avaliar de forma isonômica, técnica, ética e aderente ao Edital do certame. A composição de nota final na segunda fase de cada candidato não é realizada por somente um examinador, pois conforme acima mencionado, cada uma das questões foram avaliadas por mais de três examinadores, o que impossibilita o risco de qualquer prática antiética nociva ao certame.
A julgar pelos pronunciamentos do Iades e do Itamaraty publicados o Correio Web não está ainda claro como, quando e  mesmo se essas (re)correções seriam efetivamente feitas.

3. O (X) da questão

A julgar pelas informações a que se tem acesso até o momento da publicação desse post, a questão principal é entender assiste razão ao autor da representação feita à Procuradoria da República.
O número de inscrição seria o bastante para que ficasse caracterizado a identificação dos candidatos e, por consequência, a violação do item do Edital  14.5.1, que estabelece que “Não serão identificadas, para efeito de correção, as provas do concurso“?

Eis a questão!
Com base nas informações que temos, alguns cenários possíveis vem sendo debatidos pela comunicade de candidatos:
  • a) Walk on the wild side: Rolará uma (re)correção das provas discursivas, com potencial de impactar significativamente o resultado final;
  • b) False alarm: Ao comunicado oficial do Iades se sobreporá novos esclarecimentos do IRBr ou do próprio Iades e não haverá (re)correção.
  • c) Apocalipse zumbi: CACD fica embargado judicialmente e questionado ex tunc, desde a origem;
Independente do que acontecer daqui para frente, toda solidariedade aos CACDistas e professores. Sigamos, ansiosos, no aguardo de novas informações.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Tempo de macartismo no Itamaraty - revista IstoE

Não tenho certeza de já ter postado esta matéria da revista IstoÉ. Seja como for, é sempre bom lembrar das trapalhadas da atual equipe de inquisidores.
Paulo Roberto de Almeida

Ou segue a ideologia ou está fora

Em meio ao clima de caças às bruxas, diplomatas que não rezam na cartilha ideológica do governo preparam-se para deixar o Itamaraty. Competentes ou não, já receberam o recado: sairão por bem ou por mal

Crédito:  Pedro Ladeira/Folhapress
“DEUS VULT” Sob o comando de Ernesto Araújo, o Itamaraty virou palco de perseguições contra quem não concorda com a catilinária obscurantista do chanceler (Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress)
“DEUS VULT” Sob o comando de Ernesto Araújo, o Itamaraty virou palco de perseguições contra quem não concorda com a catilinária obscurantista do chanceler (Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress)
ELE CAIU ATIRANDO O experiente diplomata Mario Vilalva deixou a presidência da Apex, na última semana, sem poupar o chanceler Ernesto Araújo de pesadas críticas
A demissão de dois quadros de grande relevância na diplomacia brasileira retrata o tóxico ambiente que se instalou no Itamaraty desde a posse do novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Na última semana, o diplomata Mario Vilalva, assim como já acontecera com seu antecessor, foi defenestrado da presidência da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). E o embaixador Sérgio Amaral deixou a embaixada dos Estados Unidos, cumprindo o que já avisara o presidente Jair Bolsonaro antes da viagem aos Estados Unidos. É provável que, a partir dessas saídas compulsórias, haja uma debandada voluntária no corpo diplomático brasileiro nas próximas semanas. Não exatamente em solidariedade a eles. Mas pela condução extremamente ideológica de Ernesto Araújo no ministério, que tem tornado o clima na diplomacia brasileira insuportável. Há, segundo diplomatas ouvidos por ISTOÉ, uma verdadeira perseguição macarthista no ministério – uma referência à caçada contra pretensos comunistas que conduzia na década de 1950 nos Estados o senador Joseph Mcarthy. Uma perseguição radical e injusta que levou à expulsão do país mesmo de ícones populares, como o ator Charles Chaplin. Neste caso, quem não reza na cartilha ideológica do governo – que condena delírios como o “marxismo cultural” e luta contra o que chamam de “globalismo” – é posto para fora.
“Nunca pensei que um ministro (Ernesto Araújo) faria isso. Legislando sem transparência, modificando o estatuto da Apex e tentando me induzir ao erro”
“Comecei a receber pressão do próprio Ernesto Araújo e de Otávio Brandelli (secretário-geral do Itamaraty). Os dois me disseram para deixar os diretores fazerem o que quisessem. Desse tipo de esquema, eu não participo”
“À medida que eu neguei, tentaram me constranger”
ISTOÉ apurou que muitos diplomatas que consideram não se encaixar exatamente no perfil político desejado por Araújo estão tentando transferência para cargos em outros Poderes, especialmente o Legislativo. O maior incômodo são com as decisões administrativas de Ernesto. Uma delas seria a nova política de remoção, cujo critério para escolha das melhores representações nacionais mundo afora agora é a afinidade do interessado com a filosofia do novo governo, algo que nunca havia sido feito antes. “Estou vendo gente que ama o que faz querendo sair porque não aguenta esse ministro”, disse um diplomata, sob a condição de não ser identificado para não sofrer perseguições. De acordo com ele, há um clima de “caça às bruxas”.
O medo tem fundamento. Os dois recém-demitidos foram criticados por fazer “corpo mole” na defesa da política externa do novo governo. Tanto Vilalva como Sérgio Amaral, ex-porta-voz do presidente Fernando Henrique Cardoso, são embaixadores dotados de grande experiência. Serviram a vários governos. Vilalva, por exemplo, afirma que sua saída está diretamente ligada a pressões que sofria para dar liberdade plena a dois subordinados indicados por gente de fora do quadro da agência. A ordem de Ernesto Araújo com relação a eles, segundo Vilalva, é que estariam autorizados a fazer o que bem entendessem na agência. A primeira é Letícia Catelani, pivô de outra demissão na Apex em três meses: a de Alecxandro Carneiro. Ela é diretora indicada por Ernesto, a pedido de Eduardo Bolsonaro. O outro é Márcio Coimbra.
MAIS UM BODE EXPIATÓRIO O embaixador Sérgio Amaral deixou posto nos EUA acusado de não blindar Jair Bolsonaro de ataques fora do País (Crédito:Marlene Bergamo/Folhapress)
Marlene Bergamo/Folhapress
Vilalva recusava-se a dar aos dois a autonomia exigida por Araújo. A situação tornou-se irreversível quando foram instaladas portas eletrônicas com senha na entrada da ala de acesso às salas de Catalani e Coimbra. Sem o código de acesso, o presidente da Apex era simplesmente barrado dos gabinetes dos subordinados – algo impensável para qualquer repartição de esquina, quiçá num importante órgão de governo. Ao sair, Vilalva não poupou crítica ao ministro, a quem chamou de desleal. “Desse tipo de esquema, eu não participo”, afirmou. O embaixador Sergio Amaral deixou a chancelaria brasileira em Washington, nos Estados Unidos, um dia depois da queda de Vilalva. A interlocutores, Bolsonaro se queixou que a imagem dele não estava boa lá fora, pois era apresentado como ditador, racista e homofóbico “sem a devida defesa dos diplomatas brasileiros”, como se Amaral fosse o culpado pelas diatribes do mandatário do País.
Os dois episódios marcam o estilo de gestão de Ernesto Araújo no Itamaraty. Diplomatas que atuam em países fora do eixo principal de interesse dos Estados Unidos dizem ter sido orientados a não celebrar negócios e adiar compromissos até segunda ordem. Outros casos que provocam incômodo são as relações com a China e os países árabes. ISTOÉ apurou que, por conta dos riscos econômicos, já há setores dos Ministérios da Economia e da Agricultura trabalhando nos bastidores para que Ernesto Araújo deixe o governo. Por ora, ele segue prestigiadíssimo, sobretudo por professar o mesmo rosário do presidente da República. Enquanto isso, os tempos no Itamaraty seguem nada diplomáticos.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Diplomacia presidencial: desconhecimento e preconceito...

Declaração de Dilma sobre ação militar no Mali irrita governo francês
Por Murillo Camarotto | Valor, 
RECIFE - Não pegou bem em Paris a declaração da presidente Dilma Rousseff sobre a intervenção do exército francês no Mali. Após uma reunião com líderes europeus, há três semanas, Dilma afirmou que o combate ao terrorismo não deveria “reavivar antigas tentações coloniais”.
Ruy Baron/ValorEm reunião com líderes europeus, presidente Dilma criticou atuação da França no Mali
Fontes do governo francês informaram ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, que a observação de Dilma foi muito mal recebida em Paris. “Um comentário como esse revela, acima de tudo, desconhecimento”, disse uma pessoa com trânsito na diplomacia francesa.
De acordo com a fonte, a operação militar está amparada nos requisitos necessários, como pedido oficial de ajuda pelo governo do Mali e aval da Organização das Nações Unidas (ONU). “A intervenção também conta com apoio dos países vizinhos ao Mali, que temem a proliferação do terrorismo na região”, reforça a mesma fonte.
Colônia da França até 1960, o Mali passa por uma onda de violência após o envolvimento de grupos terroristas de origem muçulmana e ocidental em disputas políticas locais. As forças francesas entraram em ação no dia 11 de janeiro, no momento em que rebeldes ameaçavam derrubar o governo local.
No último dia 24, Dilma se reuniu em Brasília com os presidentes da União Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman van Rompuy. Na ocasião, a presidente cobrou solução para os conflitos no Mali, na Síria, em Israel e na Guiné-Bissau.
Dilma defendeu a submissão das ações militares às decisões do Conselho de Segurança da ONU e mencionou eventuais tentações coloniais. “O combate ao terrorismo também não pode ele mesmo violar os direitos humanos nem reavivar nenhuma das tentações, inclusive as antigas tentações coloniais", disse a presidente.
Na avaliação dos franceses, a declaração revela também o “desinteresse” do governo Dilma pela política externa. Os europeus reclamam de dificuldades em conseguir agendar reuniões e coletar informações junto aos ministérios e demais órgãos do governo. Os empecilhos, segundo os franceses, teriam aumentado após Dilma assumir a Presidência da República. 
Em um primeiro momento, os diplomatas franceses avaliaram a declaração como um arroubo presidencial e esperaram, em vão, por um esclarecimento do Ministério das Relações Exteriores. “Um país que tem a sexta economia do mundo e quer um assento no Conselho de Segurança da ONU não pode falar em colonialismo em pleno século 21”, arrematou a fonte no governo francês.
(Murillo Camarotto | Valor)

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sábado, 1 de setembro de 2012

Os Trapalhoes Radioativos (imperialistas, claro...)

Pode ser que o atual governo do Estado Plurinacional (e outros pluris) da Bolívia pense que os governos imperialistas do Brasil e dos EUA, mancomunados (nessa ordem ou em outra) estavam contrabandeando urânio radioativo (sic) para o Chile, e escolheram depositar nas imediações das duas embaixadas em La Paz (talvez para tomar um ar fresco, no meio do caminho), antes de entregar a seu muito suspeito vizinho (sim o mesmo que tomou territórios bolivianos um século atrás e que agora impede o acesso ao mar de sua gloriosa Marinha).
Bem, vamos esperar as investigações cuidadosas da polícia plurinacional....
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Grato ao leitor Mello por ter me enviado esta matéria; eu tinha lido algo a respeito anteriormente, envolvendo talvez uma exportação ao Irã, mas achei tão maluca a história que resolvi deixar para trás. Nunca se pode subestimar a capacidade de certos trapalhões de fazer história.

Duas toneladas de urânio são encontradas perto da embaixada do Brasil em La Paz

AFPEm La Paz
O governo da Bolívia informou ter encontrado nesta terça-feira (28) "cerca de duas toneladas de urânio" em um prédio no coração de La Paz, a poucos metros das embaixadas de Brasil e Estados Unidos, e ordenou uma investigação imediata.
Foto 65 de 66 - Policiais bolivianos guardam caminhão contendo urânio encontrado escondido dentro de um apartamento no centro de La Paz, capital da Bolívia. Segundo um porta-voz local, foram descobertas duas toneladas do minério estocadas de forma ilegal. As autoridades não divulgaram a origem ou o destino do urânio Reuters
"São cerca de duas toneladas de material que se usa para a construção de armamento nuclear", disse em entrevista coletiva o vice-ministro do Interior, Jorge Pérez, que dirigiu a operação policial para remover o material "radioativo".
"A informação preliminar aponta para um alto nível de radioatividade, o que vamos determinar com a perícia que se realizará imediatamente", disse Pérez, revelando que o suposto dono do material "foi detido".
O vice-ministro não detalhou como o material foi localizado e para onde a polícia o levou, e se a operação ocorreu com as devidas medidas de segurança radioativa. Também não informou se os vizinhos do local precisarão realizar exames médicos.
O material estava em uma garagem do primeiro andar de um prédio no coração de La Paz, a poucos metros das embaixadas de Brasil e Estados Unidos.
"Nos chama a atenção o manejo de um material deste tipo, prejudicial à saúde, em tal quantidade e no centro da cidade de La Paz", disse Pérez.
As duas toneladas de urânio estavam "em bolsas (plásticas) expostas ao tempo, um material radioativo manipulado de maneira direta e de forma irresponsável, arriscando a vida de pessoas", prosseguiu o funcionário.
Segundo Pérez, o urânio "pode proceder do Brasil ou de outro país vizinho, e provavelmente seguiria para o Chile"

domingo, 1 de julho de 2012

Aventuras diplomaticas mediterraneas: ali no Paraguai, mesmo...

Ah, a falta que faz um horizonte marítimo, para ver um pouco mais longe, pensar que as consequências sempre vêm depois, como diria um grande filósofo carioca (ou gaúcho, não sei, mas ambos com litoral marítimo), que falta faz pensar por si próprio, sem seguir os outros, já que quem pensa pelos outros acaba tendo de suportar os interesses dos outros...
Paulo Roberto de Almeida
http://www.istoe.com.br/reportagens/218248_BARBEIRAGEM+DIPLOMATICA


BRASIL
|  N° Edição:  2225 |  29.Jun.12 - 21:00 |  Atualizado em 01.Jul.12 - 04:03

Barbeiragem diplomática

Atuação desencontrada do Itamaraty no Paraguai coloca a cúpula da diplomacia brasileira em xeque. O chanceler Antonio Patriota e o assessor internacional da Presi dência, Marco Aurélio Garcia, se desgastam no governo

Claudio Dantas Sequeira e Michel Alecrim
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DESENCONTRO
Ação do chanceler Antonio Patriota durante a crise
paraguaia foi questionada por setores do governo
A crise deflagrada pela queda do presidente Fernando Lugo extrapolou as fronteiras do Paraguai, ganhou contornos de conflito regional e ameaça se transformar numa grande dor de cabeça para o governo Dilma Rousseff. Não bastassem todos os questionamentos sobre um impeach-ment com ares de golpe branco, a ação atrapalhada do Itamaraty pôs o Brasil numa situação delicada com um vizinho estratégico e desgastou a cúpula da diplomacia. Setores do governo pressionam a presidenta Dilma Rousseff pela demissão do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Os grupos contrários à permanência de Patriota espalharam nos últimos dias que Dilma até já teria cogitado nomear uma mulher para o lugar do chanceler: a embaixadora Maria Luiza Viotti, chefe da missão do Brasil na ONU, em Nova York. O primeiro a ser atingido pela crise diplomática foi o embaixador aposentado Samuel Pinheiro Guimarães, obrigado a renunciar ao cargo de alto representante do Mercosul – uma espécie de chanceler do bloco regional. Foi ele um dos responsáveis por influenciar de forma equivocada o Palácio do Planalto a apoiar medidas drásticas de retaliação ao novo governo paraguaio, como a suspensão do País do Mercosul até as eleições de 2013. Embora a sanção política tenha sido respaldada por Dilma, a presidenta impediu que as punições se estendessem às relações econômicas e comerciais. A ideia de Samuel Guimarães era isolar totalmente o parceiro comercial. Esse radicalismo fragilizou ainda mais a situação de Guimarães e tornou inviável sua permanência no cargo. Oficialmente, o diplomata deu diferentes versões para a saída, falou primeiro em “falta de apoio” e depois em “motivos pessoais”.
Conhecido por suas posições favoráveis aos governos chamados de bolivarianos, Guimarães havia sido indicado para o posto por sugestão do ex-chanceler Celso Amorim, hoje ministro da Defesa, de quem é amigo e cossogro – a filha de um é casada com o filho do outro. Ele também teve o apoio do assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, com quem Dilma não andaria muito satisfeita, segundo assessores do Planalto. Garcia foi outro que propagou a tese de interdição do Paraguai tanto no Mercosul como na Unasul. Ele e Guimarães alimentaram também a ideia de aproveitar a suspensão do Paraguai para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul, uma tese controversa, sem base jurídica nos acordos regionais e desconsiderando o fato de que Assunção é depositária de todos os acordos do bloco.

As articulações atabalhoadas da cúpula da diplomacia irritaram a presidenta, que foi pega de surpresa com o anúncio do impeachment de Fernando Lugo durante a Rio+20. O embaixador brasileiro no Paraguai, Eduardo dos Santos, enviou, nos últimos seis meses, inúmeros informes alertando o Itamaraty do risco de deterioração da governabilidade no Paraguai, mas essas informações não sensibilizaram a cúpula. Nem Patriota nem Marco Aurélio Garcia acharam que o problema era sério. Pressionado por Dilma, o assessor internacional argumentou que já havia recebido 23 alertas de intenção de impeachment contra Lugo, desde sua posse em 2008. Em sua opinião, não havia razão para suspeitar que o último prosperaria. Garcia e Patriota sugeriram a Dilma atuar por meio da Unasul, para compartilhar a responsabilidade na crise. Até aí, tudo bem. O problema é que a missão de chanceleres sul-americanos que desembarcou em Assunção na sexta-feira 22, dia em que o Congresso iniciou o julgamento político, teve efeito inverso ao esperado. 
Com medo de que a interferência de outros países acabasse por inviabilizar o impeachment, deputados e senadores paraguaios aceleraram o processo. Na quinta-feira 21, dia em que souberam da ida de representantes da Unasul para o País, os parlamentares paraguaios decidiram não acatar o pedido de Lugo de abrir um prazo de três dias para apresentar sua defesa. Ficou estipulado o prazo de 24 horas. Ou seja, a ação precipitou o julgamento de Lugo, que teve resultado acachapante: foram 39 votos a favor e apenas quatro contra sua saída. Entre a abertura do impeachment e a homologação da decisão do Congresso pela Suprema Corte decorreram 30 horas. O vice-presidente Federico Franco, do Partido Liberal, assumiu rapidamente com a justificativa de “evitar uma guerra civil”. Nas ruas, com exceção de pequenos grupos, não houve reação popular. Muito menos as Forças Armadas reagiram. Mesmo assim, Lugo se disse vítima de um “golpe de Estado parlamentar”.
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EQUÍVOCO
Marco Aurélio Garcia (abaixo) argumentou que já havia recebido 23 alertas
de intenção de impeachment contra Fernando Lugo (acima), desde 2008.
E não haveria razão para suspeitar que o último prosperaria
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Golpe, propriamente, não houve. Mas a forma como se deu o processo indica uma ruptura democrática no país vizinho. Embora o julgamento político tenha observado as normas constitucionais, não há lei paraguaia que regulamente o tempo que o presidente teria para sua defesa. A própria peça de acusação deixa evidente que Lugo estava condenado de antemão, ao dizer que “todas as causas para o impeachment são de notoriedade pública, motivo pelo qual não precisam ser provadas, conforme o ordenamento jurídico vigente”. 
A maneira como se deu o impeach-ment revelou também que Lugo se tornou um presidente solitário, sem o mínimo de apoio político. Ex-bispo de esquerda, adepto da Teologia da Libertação, Lugo alcançou o poder com o apoio popular ante o desgaste do tradicional Partido Colorado, que governou o país por quase cinco décadas. Mas sempre foi considerado um “outsider”, sem experiência política e apoio dentro do Congresso. Para governar, precisou fazer concessões, aliar-se ao direitista Partido Liberal, e negociar com os colorados. Em pouco mais de três anos de mandato, o agora ex-presidente decepcionou. A reforma agrária, sua grande bandeira de campanha, avançou timidamente. Pouco foi feito também em relação ao crime organizado, ao tráfico de drogas e de pessoas – questões que afetam diretamente o Brasil. 
De acordo com setores do governo que pressionam pela saída de Patriota do cargo, a impaciência de Dilma com o ministro das Relações Exteriores não é de agora. Segundo essas fontes, desde abril, quando esteve nos Estados Unidos, a presidenta fez duras críticas à atuação de Patriota no governo. A presidenta evitou despachar com Patriota até a lista de laureados da comenda do Rio Branco, e desprestigiou a cerimônia. Já o problema de Marco Aurélio Garcia, para Dilma, é que ele falaria demais. Em março, ela o desautorizou publicamente depois que o assessor vazou que o Banco Central reduziria a taxa de juros. Na crise paraguaia, a presidenta mandou Garcia consertar suas declarações à imprensa e deixar claro que o impeachment de Lugo era um problema interno do Paraguai. Mas o estrago, mais uma vez, já estava feito.
“O Patriota fez o que deveria ter feito antes, quando viajou para o Paraguai. Talvez tenha ido tarde demais”, avalia o embaixador aposentado José Botafogo Gonçalves, vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Além da reação lenta, Botafogo acha que a crise deveria ter sido discutida no âmbito do Mercosul, não da Unasul, organismo novo e ainda disperso. Essa ação permitiu a interferência dos bolivarianos Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia), fazendo coro com o discurso inflamado da presidenta argentina, Cristina Kirchner. Estrago feito, a estratégia de Dilma agora é tentar restringir a crise ao Mercosul. Ela também colocou em campo o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, que passou a falar com a imprensa e foi enviado como representante do governo à 13ª Cúpula Social do Mercosul, evento paralelo à cúpula presidencial do bloco, em Mendoza, na Argentina.
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Foto: Eraldo Peres/AP Photo