O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

domingo, 5 de dezembro de 2021

Trabalhos mais vistos e mais acessados de Paulo Roberto de Almeida - Academia.edu

        Trabalhos mais vistos e mais acessados de Paulo Roberto de Almeida

                                  Academia.edu, 5/12/2021

 

Title

All-Time Views

All-Time

Downloads

22) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Edição de Autor, 2014)

15,320

690

054) As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização (2006)

7,751

304

1297) Contra a antiglobalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador (2004)

6,194

1,265

107) A diplomacia brasileira perante o potencial e as pretensões belgas (2014)

5,541

71

16) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (2010)

4,699

296

A Constituicao Contra o Brasil: Ensaios de Roberto Campos

4,408

1,028

1462) O Brasil e a nanotecnologia: rumo à quarta revolução industrial (2005)

4,311

725

19) Integração Regional: uma introdução (2013)

3,936

637

Um Ornitorrinco no Itamaraty: cronicas do Itamaraty bolsolavista - Ereto da Brocha (2020)

3,697

525

039) Enciclopédia de Guerras e Revoluções do Século XX (2004)

3,579

302

A politica externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araujo

3,531

254

24) Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros (2014)

3,366

333

108) Brasil no Brics (2015)

2,622

128

29) O Panorama Visto em Mundorama (2015; 2a. edicao)

2,319

159

25) Rompendo Fronteiras: a academia pensa a diplomacia (2014)

2,119

104

23) Polindo a Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas (2014)

2,054

203

Marxismo e Socialismo (2019)

2,029

854

012) Mercosul, Nafta e Alca: a dimensão social (1999)

1,982

148

091) Teoria das Relações Internacionais – Apresentação (2012)

1,947

84

056) Planejamento no Brasil: memória histórica (2006)

1,852

392

094) A economia do Brasil nos tempos do Barão do Rio Branco (2012)

1,750

209

14) O Estudo das Relações Internacionais do Brasil (2006)

1,744

583

530) Brasil e OCDE: uma interacao necessaria - tese CAE (1996)

1,735

217

005) Os Anos 80: da nova Guerra Fria ao fim da bipolaridade (1997)

1,667

99

07) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (2005)

1,582

215

1820) Mercosul e América do Sul na visão estratégica brasileira: revisão histórica e perspectivas para o futuro

1,533

116

17) Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (2011)

1,513

115

2306) A economia política da velha Guerra Fria e a nova “guerra fria” econômica da atualidade: o que mudou, o que ficou? (2011)

1,473

254

01) O Mercosul no contexto regional e internacional (1993)

1,373

160

A Destruicao da Inteligencia no Itamaraty (Edição do Autor, 2019)

1,356

358

001) O Paradigma Perdido: a Revolução Burguesa de Florestan Fernandes (1987)

1,317

71

102) Oswaldo Aranha: na continuidade do estadismo de Rio Branco (2013)

1,277

221

081) O império em ascensão (por um de seus espectadores): Oliveira Lima (2009)

1,171

29

2723) Produção intelectual sobre relações internacionais e política externa do Brasil (1954-2-14)

1,163

210

110) Padroes e tendencias das RI do Brasil (2013-2015)

1,153

69

1378) O desenvolvimento na era da globalização (2005)

1,114

13

2801) Por Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica? (2015)

1,068

45

21) Nunca Antes na Diplomacia: a politica externa brasileira em tempos não convencionais (2014)

1,068

187

28) Paralelos com o Meridiano 47: ensaios (2015)

1,033

228

007) OCDE, UNCTAD e OMC: uma perspectiva comparada sobre a macroestrutura política das relações econômicas internacionais (1998)

1,019

78

 

 

A democracia que funciona, segundo Beijing - CGTN

 Ainda preciso ler:

China's State Council Information Office on Saturday released a white paper titled "China: Democracy That Works." 

Click on the attachment for the full text.  

https://news.cgtn.com/news/whitepaper/China+Democracy+That+Works.pdf


Full Text: China: Democracy That Works


Mona Ozouf: la grande historienne de la Révolution francaise - entretien au Monde

Acabo de percorrer o Dictionnaire Critique de la Révolution Francaise, qu’elle a coordonné avec François Furet. A edição brasileira tem prefácio de José Guilherme Merquior. 

Mona Ozouf, à Paris, en 2015.
RICHARD DUMAS / AGENCE VU

Mona Ozouf : « Je n’aime que les choses qui durent »

Propos recueillis par Annick Cojean
Aujourd’hui à 03h45, mis à jour à 19h58.
Article réservé aux abonnés
ENTRETIEN Je ne serais pas arrivée là si… Chaque semaine, « Le Monde » interroge une personnalité sur un moment décisif de sa vie. L’agrégée de philosophie et historienne spécialiste de la Révolution française, âgée de 90 ans, revient sur son enfance bretonne entourée de femmes, et se confie sur l’époque et le temps qui passe. 
Lecture 20 min.
Mona Ozouf, à Paris, en 2015.
Mona Ozouf, à Paris, en 2015. RICHARD DUMAS / AGENCE VU

Elle est élégante et subtile, discrète et lumineuse, incroyablement modeste malgré un parcours et une œuvre qui font d’elle l’une des plus grandes intellectuelles françaises. Historienne pétrie de littérature, philosophe passionnée par la Révolution française, féministe soucieuse de justice, elle revient, ici, sur une enfance singulière et cette « timidité bretonne » dont elle ne s’est jamais départie. A 90 ans, entourée des livres qu’elle aime tant, Mona Ozouf se raconte avec sincérité et observe la situation actuelle du monde avec un certain effroi.

Je ne serais pas arrivée là si…

Si la sœur Théodora n’avait pas dirigé, à l’automne 1910, la salle d’asile qui tenait lieu d’école maternelle à Lannilis, un petit bourg du nord du Finistère.

Vous n’étiez pas née. Comment a-t-elle pu avoir un impact sur votre destinée ?

Biden is right that global democracy is at risk. But the threat isn’t China - Aaron David Miller and Richard Sokolsky (WP)

Biden is right that global democracy is at risk. But the threat isn’t China

By Aaron David Miller and Richard Sokolsky

The Washington Post, December 3, 2021 at 9:13 a.m. EST


If the Biden administration has a foreign policy doctrine, it’s surely the president’s oft-stated vision that democracies are locked in a must-win historic battle with autocracies. “I predict to you your children or grandchildren are going to be doing their doctoral thesis on the issue of who succeeded, autocracy or democracy, because that is what is at stake,”Joe Biden intoned in his first news conference as president.

Opinions to start the day, in your inbox. Sign up.

To give substance to that focus, the administration this coming week will convene the first of two planned Summits for Democracy. The virtual gathering of leaders from more than 100 countries is designed, according to a State Department announcement, to “set forth an affirmative agenda for democratic renewal and to tackle the greatest threats faced by democracies today through collective action.” Implicitly, it is a show against authoritarianism, especially in China.

There are many good reasons to host such a gathering. It’s smart politics, fulfills a campaign commitment and counters the perception, fostered by President Donald Trump, that America is no longer interested in promoting democracy and human rights. But as a geopolitical instrument, drawing lines between democracies and autocracies is not only certain to disappoint — it’s also a deeply flawed organizing principle for America’s approach to the world.

Trump’s China tariffs failed. Why isn’t Biden dropping them?

China and Russia, which Biden has also singled out for criticism, are not the main causes of the weakening of democracies around the world. Most of the backsliding, according to a recent study, has been caused by erosion within the world’s democracies, including the United States and many of its allies. Indeed, the upcoming summit includes a number of countries — India, Brazil, the Philippines and Poland among them — marked by growing autocratic movements and infringements on freedom of expression and a free press. And pushing these and other countries to reform their political, electoral or judicial institutions from the outside is hard if not impossible.

Biden isn’t the first and won’t be the last American president to make democracy promotion central to his foreign policy. Woodrow Wilson wanted to make the world “safe for democracy”; Franklin Roosevelt promulgated the Atlantic Charter. The Clinton administration was present at the creation of the Community of Democracies. George W. Bush had his Freedom Agenda and talked about ridding the world of dictators. All found democracy promotion a useful tool to advance U.S. values and interests.

Biden seems to genuinely believe that democrats and dictators are in a do-or-die battle over who will own the 21st century. Though he insists that he doesn’t want a new cold war, some of his overcharged rhetoric belies this view. In March, Biden announced his intention “to invite an alliance of democracies to come here to discuss the future,” including holding “China accountable to follow the rules” on issues such as persecution of its Uyghur citizens and its territorial disputes with Taiwan. Biden has said of China’s President Xi Jinping that he “doesn’t have a democratic bone . . . in his body” and that Xi believes “democracy cannot keep up with” China. 

Putin is testing Biden on Ukraine. Here’s what will keep him in check.

It is simplistic to believe, however, that Chinese and Russian foreign policies are driven by the ideological impulse to spread autocracy. Both countries see the United States as their main geopolitical adversary and seek to undermine American influence and alliances wherever they can; the Chinese are also bent on outcompeting the United States in 21st-century technologies.

But the Russians don’t have an authoritarian model for export, and other autocratic-minded governments don’t need inspiration from Moscow to run kleptocratic, corrupt, repressive and misgoverned regimes. Putin’s overriding priority is self-preservation and the preservation of his regime. What evidence is there that he believes these objectives can be achieved only if the rest of the world looks like Russia?

Likewise, Xi’s main priority is maintaining his control and the Chinese Communist Party’s monopoly on power. He is all too happy to claim that the Chinese government is outperforming America’s dysfunctional system. But it is simply not the case that he thinks these goals require Beijing to actively spread authoritarianism with Chinese characteristics abroad. And China’s wealth and power, not to mention its social stability, depend on competing effectively within the interdependent global economic system, not toppling it.

Another flaw in the Biden administration’s approach is the presumption that all democracies think alike based on their shared commitment to democratic values. If only it were that simple. Values do shape a nation’s foreign policy, but history, geography, culture, political ideology and material interests also matter. It is precisely for these reasons that America’s democratic allies and partners do not see eye to eye on how to deal with China or Russia — and why they shouldn’t be forced to choose sides between the United States and the authoritarians. 

The losers always doubt election results. That reached a dangerous level in 2020.

There’s also the politically inconvenient question of whether the United States is best positioned to lead this effort. Rarely has America’s democracy crusade abroad contrasted more with its commitment to democratic practices at home — where the threats include Trump’s false claims that the presidential election was “stolen,” an insurrection to stop a democratic transition and efforts to restrict voting rights. America has a glass-house problem, and it needs to promote its democratic virtues with considerable humility. According to Freedom House’s annual country-by-country assessment of political and civil rights, the United States continued to experience erosion in democratic practices in 2020;over the past decade, America’s score dropped from 94 to 83 out of 100, among the steepest falls of any country during this period. 

It is hard to take seriously the notion that the United States can restore its “soft power” by virtue of the example it is setting at home. A recent Pew Research Center study found that a median of only 17 percent of people in surveyed countries thought U.S. democracy worth emulating, while 23 percent said it had never offered a good example. It is also hard to quibble with the proposition that America’s influence abroad is waning primarily because of its domestic problems, rather than authoritarian muscle-flexing in Moscow or Beijing.

Instead of chasing the chimerical goal of democratizing the domestic political orders of other countries according to a one-size-fits-all democratic shoe, the Biden administration would be well-advised to set its sights lower. For example, under approaches some have dubbed “micro” or “mini” multilateralism, the administration could collaborate on an ad hoc basis with a small number of like-minded democratic countries that have the skill, will, resources and capacity to make progress on pressing global problems. The recent agreement between Australia, the United Kingdom and the United States (known as AUKUS) to share advanced military technologies, as well as U.S.-led efforts to strengthen the Quad grouping of the United States, Australia, India and Japan in the Indo-Pacific, are good examples. In Europe, the United States and the European Union should get behind NATO’s proposal for a Center for Democratic Resilience. Another way to focus would be to identify countries that have a special skill or track record in overcoming a particular challenge. Estonia, for example, under great pressure from Russia, has experience in fending off cyberattacks and could share those lessons with others. The sharing among nations of such experiences and knowledge could have real practical value.

The Biden administration is fond of talking about going big, but when it comes to promoting democracy, it would be far better if it went smaller abroad and, given the perilous state of American democratic practices, very big at home.

Twitter: @aarondmiller2

 

 

sábado, 4 de dezembro de 2021

Os Estados Unidos se tornando um país do Terceiro Mundo? Assim argumenta Victor Davis Hanson, que denota o desrespeito à lei e a miséria crescente...

 Em lugar do chamado Terceiro Mundo (um conceito que já não faz muito sentido depois que a Ásia Pacífico decolou) se aproximar dos Estados Unidos, parece que são os EUA que estão ficando mais parecidos com o Terceiro Mundo.

Não sou eu quem está dizendo: é a direita americana, como refletido nesta postagem da Heritage Foundation, um dos mais conservadores think tanks americanos:

COMMENTARY
By Victor Davis Hanson
The Heritage Foundation, December 4, 2021

In my travels, I observed some common characteristics of a so-called Third World society. All of them might feel increasingly familiar to contemporary Americans.

Alguns trechos do seu artigo:
"After traveling the last 45 years in the Middle East, southern Europe, Mexico, and Asia Minor, I observed some common characteristics of a so-called Third World society. And all of them might feel increasingly familiar to contemporary Americans.

Whether in Cairo or Naples, theft was commonplace. Yet property crimes were almost never seriously prosecuted.

In a medieval-type society of two rather than three classes, the rich in walled estates rarely worry that much about thievery. Crime is written off as an intramural problem of the poor, especially when the middle class is in decline or nonexistent.

Violent crime is now soaring in America. But two things are different about America’s new criminality.

One is the virtual impunity of it. Thieves now brazenly swarm a store, ransack, steal, and flee with the merchandise without worry of arrest.

Second, the left often justifies crime as a sort of righteous payback against a supposedly exploitative system. So, the architect of the so-called 1619 Project, Nikole Hannah-Jones, preened of the riotous destruction of property during the summer of 2020: “Destroying property, which can be replaced, is not violence.”

Third Worldization reflects the asymmetry of law enforcement. Ideology and money, not the law, adjudicate who gets arrested and tried, and who does not."

Mais alguns trechos:

"In the Third World, basic services like power, fuel, transportation, and water are characteristically unreliable. In other words, much like a frequent California brownout.

I’ve been on five flights in my life where it was announced there was not enough fuel to continue to the scheduled destination. The plane was required either to turn around or land somewhere on the way. One such aborted flight took off from Cairo, another from southern Mexico. The other three were this spring and summer inside the United States.

One of the most memorable scenes that I remember of Ankara, Old Cairo, or Algiers of the early 1970s were legions of beggars and the impoverished sleeping on sidewalks.

But such impoverishment pales in comparison to the encampments of present-day Fresno, Los Angeles, Sacramento, or San Francisco. Tens of thousands live on sidewalks and in open view use them to defecate, urinate, inject drugs, and dispose of refuse.

In the old Third World, extreme wealth and poverty existed in close proximity. It was common to see peasants on horse-drawn wagons a few miles from coastal villas. But there is now far more contiguous wealth and poverty in Silicon Valley. In Redwood City and East Palo Alto, multiple families cram into tiny bungalows and garages, often a few blocks from tony Atherton.

On the main streets outside of Stanford University and the Google campus, the helot classes sleep in decrepit trailers and buses parked on the streets. "

Para ler a integra, clicar no título...

Mini reflexão sobre a escassa possibilidade dessa coisa rara chamada Idealpolitik expandir-se na representação política - Paulo Roberto de Almeida

Mini reflexão sobre a escassa possibilidade dessa coisa rara chamada Idealpolitik expandir-se na representação política

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

Especulando inocentemente, como sempre faço todas as manhãs: metade do eleitorado consciente, ou seja, bem-informado e dotado de postura cidadã, não deve ainda ter ideia em quem vai votar em 2022.

Eu não tenho essa preocupação, pois meu voto não fará nenhuma diferença: os candidatos nos quais eu votaria, ou nos quais estaria disposto a votar, não correm nenhum risco de serem eleitos: são muito idealistas.

 

Meu grau de aderência ao acesso de partidários da Idealpolitik ao Congresso: 2%. A quase totalidade dos eleitores quer ouvir promessas impossíveis: nessas condições, só os mentirosos são capazes de satisfazer tal pretensão, como já disse Thomas Sowell. 

 

Aliás, o que seria a Idealpolitik

Cabe definir!

 

Ser idealista é acreditar, por exemplo, no fim da corrupção na política, no fim da impunidade, na possibilidade real e concreta de punição aos políticos corruptos. Amostras convincentes dos adeptos das rachadinhas — entre elas as familícias — estão à vista de todos, e elas estão sendo constantemente protegidas pelos colegas parlamentares e até por juízes corruptos, o que inclui magistrados das mais altas cortes. Esse tipo de vergonha ocorre mais frequentemente do que se crê. 

 

E por que é difícil terminar com a corrupção na vida política?

Acredito que seja porque, em primeiro lugar, a política atrai os “ambiciosos mas preguiçosos”: a política lida com vastos recursos de dinheiro arrecadados de milhões de trabalhadores, honestos ou desonestos não importa, dinheiro real, arrancado compulsoriamente de todos os trabalhadores ativos por leis aprovadas pelos políticos, isto é, os chamados representantes do povo. 

Essa possibilidade de se servir do dinheiro alheio atrai muita gente, inclusive alguns idealistas, mas geralmente pessoas que gostariam de ter esses recursos à sua disposição, sem ter necessariamente de trabalhar duro para conquistá-lo mediante seus próprios esforços. 

 

Daí se constrói um ambiente de conivência entre partidários do mesmo “credo”: “Vamos fazer de forma a tornar a nossa vida mais fácil, cuidando do dinheiro de todos, por meio de serviços públicos, mas antes vamos tratar de reservar uma boa parte para nós mesmos.”

 

Essa é a fórmula mágica que atrai aqueles que denominei de “ambiciosos mas preguiçosos” para a vida política. Ela é a maneira mais fácil de viver bem, sem precisar mourejar — termo suspeito e discriminatório — exageradamente em alguma atividade ligada à produção de riqueza. É evidente que “manipular” riqueza sem a necessidade de criá-la por suas próprias mãos é bem mais atrativo do que juntar ferramentas ou a inteligência para plantar, fabricar produtos, oferecer serviços úteis à vida de terceiros e outras atividades “desgastantes”. Que prazer ter esta perspectiva: “aqui está o bolo de dinheiro que conseguimos arrecadar de todos aqueles que trabalham honestamente; vamos decidir agora como gastá-lo!” 

(É evidente que os desonestos estão fora dessa equação, pois eles subtraem secretamente recursos de terceiros sem declarar abertamente, ou oferecem “serviços”, drogas por exemplos, que são legalmente proibidos ou sancionados.)

 

Daí surgem os mil e um expedientes feitos para facilitar a vida dos chamados “representantes do povo”: bons salários, casa, comida e roupa lavada, isto é, bons serviços sempre cobertos pelo dinheiro dos outros, o que inclui serviçais de todos os tipos, em geral aspones que fingem trabalhar por algum valor qualquer e que até “consentem” em que parte dos seus salários reverta em favor de quem lhes prodigou tal situação ideal: ganhar algum sem precisar se esforçar muito (ou seja, a mesma situação do “representante do povo”, só que servindo ao próprio).

Esse é o ambiente de conivência que explica as rachadinhas, tão comuns no ambiente político.

As facilidades, prebendas e gostosuras da vida fácil contaminam todo o ambiente político, e servem inclusive aos idealistas (menos aos muito austeros, honestos e desprendidos). Fica quase impossível escapar ao ambiente de mútua compreensão com respeito às “facilidades” da vida política.

 

Mas atenção: não é fácil adentrar nesse meio! É preciso muita capacidade de convencimento, de conversa credível, para conseguir que os trabalhadores comuns deleguem tal poder de representação nos órgãos de serviço público, ou seja, as instituições do Estado, mais exatamente o poder legislativo, aquela parte do Estado que dispõe sobre o seu dinheiro (a maior parte arrecadada compulsoriamente).

É preciso muita lábia, muita conversa convincente para se obter tal mandato de representação. 

Em última instância, é preciso ter alguma capacidade de argumentação, ou então a faculdade de ter ficado famoso em alguma atividade de interesse público, música, esporte, radialismo, lugares de culto religioso, associações de classe, corporações de ofício, ou na própria atividade pública (segurança civil, por exemplo). O reconhecimento público já é a porta de entrada na política, por boas e más razões.

É aqui que os idealistas se juntam, convivem, eventualmente se congraçam, com os oportunistas, aqueles a quem eu chamei de “ambiciosos mas preguiçosos”.

Esta é a natureza humana, feita de todos os tipos de pessoas, entre elas aqueles a quem o cineasta Sergio Leone resumiu num título clássico: “O bom, o mau e o feio”!

Pode ser simplificação, mas é mais ou menos assim que funciona a maior parte da humanidade, sendo que ninguém consegue ser inteiramente uma coisa só o tempo todo: posturas e situações vão se alternando e se substituindo em função de circunstâncias variadas, que não são controladas por alguém em especial o tempo todo. 

Uma coisa, porém, favorece a existência de um maior número de “oportunistas”, com respeito ao menor número de “idealistas”: a lei da inércia, a tendência mais provável e constante, a mais universal, que atinge o ser humano: a propensão a ficar idle, ou seja, inativo, esperando que alguém faça para si aquilo que deve ser feito: cuidar da alimentação, da casa, da segurança, enfim, de todas as pequenas coisas que tornam a vida vivível e suportável.

 

Essa é a razão, também, da existência de certo número de demagogos, de mentirosos e até de autoritários (geralmente demagogos e mentirosos) na arena política: existe uma demanda constante, regular, inevitável, por esse tipo de gente na vida política. 

A lei do menor esforço!

Ela acaba redundando no maior esforço da maioria em seu próprio detrimento e em favor do grande número de oportunistas na vida política.

Os idealistas, que também existem, os partidários da Idealpolitik, estão ali pelo meio…

Sorry pelo exercício de Realpolitik!

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4036: 4 dezembro 2021, 4 p.

 


sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Sobre os impulsos democráticos no chamado “despotismo oriental” - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre os impulsos democráticos no chamado “despotismo oriental”

Paulo Roberto de Almeida

A China pretende ser uma “autocracia democrática”. Cansada de receber “lições de democracia” de potências “ocidentais” — um conceito menos válido atualmente, pois que Ocidente conquistou o mundo e praticamente universalizou o seu modo de produção, inclusive na China, mas menos suas instituições, seus valores e princípios no plano do “modo de governar” —, a atual gestão autocrática-democrática do novo imperador promete mostrar ao mundo como funciona o seu modo “democrático” de governar o Império do Meio.

“China to issue white paper on its democracy

CGTN, 03-Dec-2021

Deputies to the 13th National People's Congress (NPC) leave the Great Hall of the People after the closing meeting of the fourth session of the 13th NPC in Beijing, capital of China, March 11, 2021. /Xinhua 

China's State Council Information Office will release a white paper titled "China: Democracy That Works" at 10 a.m. Saturday, and a press conference will be held by the Office.”

Depois da Grande Fanfarra em torno dos 100 anos do glorioso PCC - o único partido comunista no mundo que conduziu o mais exitoso processo de construção do capitalismo num só país, e que aparentemente funciona melhor que o velho capitalismo manchesteriano —, agora é a vez de demonstrar que o PCC também é capaz de “construir a democracia”.


Vamos fragmentar essa coisa dos 100 anos em partes menores. Os primeiros 30 anos do PCC, de 1921 a 1949, foi de lutas contra o “feudalismo”, contra a burguesia “compradora” associada ao imperialismo ocidental, contra os senhores da guerra, contra o governo ditatorial de Chiang Kaishek, que dominava o Kuomintang, um antigo aliado nos tempos do Sun Yatsen, e contra os invasores japoneses.

Os segundos 30 anos, de 1949 a 1979, fase do maoismo demencial, foram dominados por uma tirania economicamente destruidora do que havia sobrado de sua economia, depois de um século e meio de letargia no crescimento, e de destruição de suas instituições políticas e de suas tradições culturais. O maoismo afundou a China, a despeito de ter afirmado à independência do país e garantido uma certa ordem (mas que várias vezes descambou em pura anarquia).

Apenas nos últimos 40 anos foi que o PCC se redimiu, com Deng Xiaoping, que deu início a um doloroso, mas efetivo processo de recuperação, com alguns percalços pelo caminho (como o massacre da Praça Tian Anmein, em 1989). Seus sucessores, Jiang Zemin e Hu Jintao, deram continuidade à construção do capitalismo com características chinesas.

Agora é a vez do novo Imperador, Xi Jinping — que rompeu com o sistema “helvético” de rotação no poder —, tentar criar o se modelo de “democracia com características chinesas”. 

Será que vai dar certo, essa coisa vinda do alto? Provavelmente sim, pelo menos enquanto o PCC garantir certa ordem na construção da prosperidade geral dentro da maior economia de mercado do mundo. Mas, o problema é que toda liderança eterna, feita em bases autocráticas, acaba restringindo as liberdades de inovação e de economia criativa que brotam naturalmente da energia do povo trabalhador e dos quadros médios, que precisam ter mais espaço para ousar. 

Deve durar mais uma geração.

Depois veremos…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3/12/2021