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sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Sobre os impulsos democráticos no chamado “despotismo oriental” - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre os impulsos democráticos no chamado “despotismo oriental”

Paulo Roberto de Almeida

A China pretende ser uma “autocracia democrática”. Cansada de receber “lições de democracia” de potências “ocidentais” — um conceito menos válido atualmente, pois que Ocidente conquistou o mundo e praticamente universalizou o seu modo de produção, inclusive na China, mas menos suas instituições, seus valores e princípios no plano do “modo de governar” —, a atual gestão autocrática-democrática do novo imperador promete mostrar ao mundo como funciona o seu modo “democrático” de governar o Império do Meio.

“China to issue white paper on its democracy

CGTN, 03-Dec-2021

Deputies to the 13th National People's Congress (NPC) leave the Great Hall of the People after the closing meeting of the fourth session of the 13th NPC in Beijing, capital of China, March 11, 2021. /Xinhua 

China's State Council Information Office will release a white paper titled "China: Democracy That Works" at 10 a.m. Saturday, and a press conference will be held by the Office.”

Depois da Grande Fanfarra em torno dos 100 anos do glorioso PCC - o único partido comunista no mundo que conduziu o mais exitoso processo de construção do capitalismo num só país, e que aparentemente funciona melhor que o velho capitalismo manchesteriano —, agora é a vez de demonstrar que o PCC também é capaz de “construir a democracia”.


Vamos fragmentar essa coisa dos 100 anos em partes menores. Os primeiros 30 anos do PCC, de 1921 a 1949, foi de lutas contra o “feudalismo”, contra a burguesia “compradora” associada ao imperialismo ocidental, contra os senhores da guerra, contra o governo ditatorial de Chiang Kaishek, que dominava o Kuomintang, um antigo aliado nos tempos do Sun Yatsen, e contra os invasores japoneses.

Os segundos 30 anos, de 1949 a 1979, fase do maoismo demencial, foram dominados por uma tirania economicamente destruidora do que havia sobrado de sua economia, depois de um século e meio de letargia no crescimento, e de destruição de suas instituições políticas e de suas tradições culturais. O maoismo afundou a China, a despeito de ter afirmado à independência do país e garantido uma certa ordem (mas que várias vezes descambou em pura anarquia).

Apenas nos últimos 40 anos foi que o PCC se redimiu, com Deng Xiaoping, que deu início a um doloroso, mas efetivo processo de recuperação, com alguns percalços pelo caminho (como o massacre da Praça Tian Anmein, em 1989). Seus sucessores, Jiang Zemin e Hu Jintao, deram continuidade à construção do capitalismo com características chinesas.

Agora é a vez do novo Imperador, Xi Jinping — que rompeu com o sistema “helvético” de rotação no poder —, tentar criar o se modelo de “democracia com características chinesas”. 

Será que vai dar certo, essa coisa vinda do alto? Provavelmente sim, pelo menos enquanto o PCC garantir certa ordem na construção da prosperidade geral dentro da maior economia de mercado do mundo. Mas, o problema é que toda liderança eterna, feita em bases autocráticas, acaba restringindo as liberdades de inovação e de economia criativa que brotam naturalmente da energia do povo trabalhador e dos quadros médios, que precisam ter mais espaço para ousar. 

Deve durar mais uma geração.

Depois veremos…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3/12/2021

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