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sábado, 18 de dezembro de 2021

Sobre o mito Lula e questões conexas - Paulo Roberto de Almeida

Sobre o mito Lula e questões conexas

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com) 

 

Ao que tudo indica, Lula virou, não exatamente uma ideia (pois para isso é preciso ter um mínimo de coerência e clareza, e isso ele não tem nenhuma), mas um mito, como sempre aspirou ser, do alto da sua megalomania arrogante. Depois do General De Gaulle, parece ser o único a falar de si mesmo na terceira pessoa (“Ah, o Lula disse”, o “Lula fez”), e realmente não precisa mesmo da esquerda para se eleger. Para que precisaria, quando pode contar com os oportunistas de sempre, os grandes capitalistas e os chefetes políticos regionais? Não existe político em ascensão que não seja logo cercado pelos oportunistas de sempre, os donos do dinheiro e os demagogos habituais.

Acho que ele nem precisa fazer campanha, e o PT pode entregar os seus 600 milhões do Fundo Eleitoral — essa excrescência pornográfica contra o povo pobre — para a Assistência Social (mas os chefetes petistas talvez prefiram premiar os marqueteiros e propagandistas amigos).

Mitos, como se sabe, são imortais, como provado ainda hoje por dois cadáveres eternos na vida argentina, Evita e o próprio Perón. Eu me pergunto se teve outro demagogo que fez mais mal à Argentina do que esse casal de empulhadores. 

Lula fez boas coisas pelos pobres brasileiros, isso é certo, mas de uma maneira provavelmente não sustentável, a não ser parcialmente (isto é, retirando de outras fontes, em lugar de aumentar a produtividade) e não exatamente “eliminando a pobreza”, mas sim subsidiando o consumo dos mais pobres. Isso movimentou a demanda, está claro, daquela maneira keynesiana que deveria ser só emergencial, e não politica de desenvolvimento, e acabou por criar distorções no mercado de trabalho que também são prejudiciais aos mais pobres.

Mas quem sou eu para ficar criticando um mito do tamanho do Lula, apenas um sociólogo aprendiz com mania de ser iconoclasta, contra todos os demagogos e mentirosos, como geralmente os mitos são? Minhas palavras ou escritos não têm a menor importância em face de mitos tão poderosos quanto Lula, são apenas o resultado trivial de um cético sadio, de um contrarianista que está sempre buscando o outro lado da coisa, aquilo que não se vê, como diria o Bastiat.

Essa campanha de 2022 promete ser uma das mais aborrecidas de todas as da redemocratização, pois seu resultado já parece ter sido garantido, a menos que o Marreco de Maringá (desculpem os moristas, mas não consegui resistir à atração simpática desse apelido, que não é desrespeito, apenas um toque de humor numa conjuntura miserável que nos trouxe o psicopata no poder) consiga convencer um número suficiente de eleitores — e, claro, antes dos eleitores, os capitalistas e donos do dinheiro, assim como políticos profissionais, mas estes nunca gostaram da luta contra a corrupção — que ele merece ir para o segundo turno, o que talvez nem seja necessário: os brasileiros estão cansados de campanhas eleitorais e, sobretudo, de pagar por elas, dupla ou triplamente, sem que nada mude de fato. 

Pode ser que a maioria, convencida ou cansada, resolva liquidar toda a fatura de uma única vez, sem desconto. Evitaria aquela chatice de ter de ouvir mais mentiras uma segunda vez e de ter de se deslocar mais um domingo para as filas dos locais de votação. Vamos acabar logo com isso: pelo menos teve crescimento e oportunidades nos tempos do sapo barbudo, nosso Perón de botequim. Acredito que este possa ser o raciocínio de boa parte de pessoas que antes nem cogitavam votar pelo Guia Genial do Povo, nas que já acham isso inevitável e querem logo terminar com a chatice. 

Acho que ninguém mais, ou pouca gente, acredita em políticos, depois de todas as patifarias que eles fizeram com o dinheiro público e depois de todo o rebaixamento de qualquer moralidade no trato das questões de Estado. As pessoas já parecem conformadas com a ideia de que o Brasil é o eterno país do futuro e sempre será. Por isso que um número crescente de jovens e, também, quadros formados, resolvem sair do Brasil, por vezes definitivamente. Isso é triste, porque revela que as pessoas já não mais acreditam em nosso país, em nossa capacidade de construir uma nação digna, decente, segura, com um mínimo de respeito por tudo o que pagamos como impostos, e que termina nos bolsos e nas contas dos oportunistas, dos corruptos, dos aristocratas do serviço público (e tem demais), dos que não merecem.

O brasileiro hoje é um descrente, um pessimista, ainda que muitos se agitem alegremente com a perspectiva da volta do mito, pois eles já sabem que tudo é muito frágil e, também, sabem que o mito andou metendo a mão no dinheiro, em conivência com ricaços e políticos. Mas, se é assim que tem de ser, que seja, logo, o mais rapidamente possível. Estamos cansados de conversa mole. Os políticos nos enganam, sabemos disso, mas eles são inevitáveis, como a morte e os impostos, já dizia o sábio Benjamin Franklin. 

Ficamos por aqui, que já está longo demais. Desculpem a chateação.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4049: 18 dezembro 2021, 2 p.

 


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