O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Uma transicao organizada, ou improvisada?: passando o bastao...

Em 2002, o presidente FHC fez aprovar uma lei sobre a transição entre mandatos presidenciais no Brasil. Prevendo sua própria saída, ele quis facilitar ao máximo a vida do seu sucessor, fosse ele quem fosse (seria Serra ou Lula), prevendo cargos em comissão e gastos com escritório de transição, o que foi rigorosamente cumprido.
No dia seguinte ao segundo turno, o presidente eleito, Lula, foi comunicado de que poderia dispor de amplos espaços pagos pela Presidência da República e que poderia nomear um número x de funcionários -- não tenho esses dados de cabeça, mas basta consultar a lei no site da PR -- com honorários equivalentes aos de altos funcionários do governo até os de mais baixo escalão, ou seja, um serviço completo, de cama, mesa e banho. E a simpatia do governo "sainte", com todas as facilidades de informação.
Lembro-me que todos os ministérios prepararam relatórios de gestão, específicos para a transição, com todas as informações disponíveis sobre os assuntos correntes e os "entrantes", ou seja aqueles "congelados" temporariamente (aguardando, por cortesia, a decisão do presidente "entrante") e aqueles que seria preciso tomar providências logo nos primeiros dias de janeiro (sim, o Brasil fez essa bobagem monumental de marcar posse no dia 1ro de janeiro, e nenhum debiloide na presidência se lembrou, até hoje, de propor uma emenda constitucional, deslocando essa posse alguns dias depois, o que é um incômodo tremendo para todo mundo).
Havia até um conjunto de informações confidenciais, sobre assuntos sensíveis, que foram passados em confiança aos apparatchiks de alto coturno do partido que conquistava o poder. FHC não precisou passar o código secreto da arma nuclear a Lula, mas deve ter-lhe repassado diversos assuntos sensíveis que estavam na ordem do dia. Todos os ministérios colocaram suas agendas à disposição da equipe de transição.

Lembro-me perfeitamente de que os representantes do partido no poder, designados pelo presidente eleito, se instalaram, com todos os seus assessores livremente designados, nas dependências do Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasília, e de lá passaram a ensaiar grandes vôos para o que seria a grande ruptura com o neoliberalismo e a superação da "herança maldita" (como tiveram a descortesia de chamar a situação que receberam, em grande medida deteriorada, em termos de inflação e taxa de câmbio, justamente devido às loucuras econômicas passadas do PT e seus "economistas").
Lembro-me, também, que os petistas todo dia anunciavam grandes planos para revolucionar isto e mais aquilo, mas, no fundo, uma grande confusão reinava sobre o que seria o governo, em janeiro de 2003, e quais seriam as suas políticas.
Retrospectivamente, podemos dizer que a cenografia do CCBB foi apenas para fins de comunicação e de imagem, pois nada daquilo foi realmente aproveitado. O que valia mesmo era a vontade do presidente e a do seu grão-vizir, o Richelieu do regime, aquele que depois foi expurgado no escândalo do Mensalão, como o chefe da quadrilha dos 40 ladrões.
Enfin, passons...

O que eu quero dizer é que não estou vendo nenhuma movimentação em torno dessa fase de transição. Ou seja, o presidente, ou presidenta, eleito no dia 31 de outubro, não terá, no dia 1ro de novembro, ao que parece, nenhuma facilidade com equipe de transição.
Não é que eu queira lembrar aos burocratas do Planalto, em especial aos da Casa Civil, que eles têm uma obrigação, em face da lei, mas caberia chamar a atenção para esse aspecto simplesmente elementar: qualquer novo mandatário tem o direito de preparar seu governo, designando uma equipe de transição, preparando projetos para os primeiros dias de governo, até a mensagem ao Congresso que se abre em fevereiro. Os ministros designados ou a designar precisam saber o que vão encontrar pela frente, e quanto mais cedo souberem disso, melhor.

Talvez os atuais donos do poder sonham com uma não-transição, ou seja, a continuidade, o que me parece uma tremenda descortesia com a própria candidata oficial. Ela tem o direito de compor a sua equipe. O mesmo se aplica, a fortiori, se for o candidato da oposição, que certamente não espera encontrar uma terra arrasada à sua espera no cerrado central.

Enfim, estou apenas lembrando o óbvio, e o que diz a lei.
Não custa, por uma vez, ter um comportamento civilizado...

Paulo Roberto de Almeida
(28.10.2010)

iPad: por enquanto estou aposentando a ideia....

Alguém tem críticas contundentes contra o Kindle?
Paulo Roberto de Almeida

Os 10 pecados do iPad

Redação Yahoo! Brasil

Qua, 27 Out - 21h39

 O tablete da Apple já vendeu mais de 4,5 milhões de unidades e é considerado o gadget do momento. A princípio, muito desse sucesso veio simplesmente da emoção de ter o novo aparelho. Mas logo começaram a surgir algumas críticas de usuários. A empresa de Steve Jobs está ciente desses defeitos e trabalha para corrigi-los.
Aqui uma complicação dos principais problemas apontados no iPad:

1- Complicações com Adobe Flash
Uma das queixas mais frequentes é a impossibilidade de reproduzir conteúdo Adobe Flash. Não deixa de ser um paradoxo ter a mão um dispositivo que lhe oferece grande experiência de navegar pela rede, mas que ao mesmo tempo lhe impede de ver alguns sites de maneira completa. Há alguns meses, Steve Jobs disse que o Flash pertence à era PC e não dos computadores portáteis, e que não é aberto como HTML5, CSS y JavaScript. Além disso, seria inseguro, instável e gasta mais bateria. O certo é que, mesmo com todos esses argumentos de Jobs, os fãs seguem decepcionados pela falta dessa ferramenta.

2- Nada de multitarefas
O iPad não conta com o sistema de multitarefas, ou seja, você não pode mudar de uma aplicação para outra sem suspender a tarefa em curso - mesmo que seja algo simples, como escrever um e-mail ou sair do Messenger para postar algo no Facebook. Há a expectativa de que novas versões do iPad corrijam esse defeito.

3- Nada de WebCam de 5 megapixels
Ao contrário de concorrentes como o Galaxy Tab da Samsung, o RIM com PlayBook e o Dell com o Streak, que integram WebCam de 5 megapixels, a Apple decidiu deixar esse recurso fora da jogada.

4- Nada de portas USB
Essa é inexplicável. O aparelho não conta com portas de conexão USB e nem para cartões de memória SD. Isso quer dizer que ele não pode conectar câmeras ou qualquer outro dispositivo periférico. Ah, claro, você pode investir mais 29 dólares (lá fora) e comprar o adaptar Camera Connection Kit.

5- Livros eletrônicos?
Assim que o iPad foi lançado, a expectativa era de que o iBooks, a loja de livros da Apple, acabaria com o mercado da Amazon. Mas não foi o que aconteceu. Um dos principais fatores para isso é a dificuldade de leitura em ambientes abertos - é complicado encontrar um ângulo em que o reflexo da luz na tela não interfira na leitura.

6- Restrição a aplicativos
A Apple decidiu que sua plataforma de aplicativos fosse fechada, ou seja, se alguém quiser baixar um aplicativo de qualquer site, precisa passar antes pela app store para obter a autorização.

7- Baixa qualidade do vídeo
O iPad não reproduz vídeos HD de 720p, já que a resolução é baixa - 1024x768. E não dispõe de saída de vídeo.

8- Pouca memória RAM
O iPad tem 256 MB de RAM, o que pode ser um problema ao abrir várias janelas da rede.

9- Aplicativos caros
Ainda que existam milhares de apps gratuitos, 80% - desenhados especialmente para o iPad - são pagos. E custam mais, em média, do que os aplicativos para iPhone.

10- Assinaturas não disponíveis
Segundo alguns desenvolvedores, a Apple ainda não tem um sistema de assinatura. Por enquanto, os usuários devem realizar seus próprios sistemas de "subscription" ou utilizar um servidor local. No entanto, a Apple já está trabalhando para oferecer o sistema de assinaturas. Tudo indica que este elemento estaria disponível em janeiro, com um novo iPad com estas características corrigidas.

Construindo a heranca maldita: as contas ficticias do Tesouro (editorial do Estadao)

Depois não digam que o governo não foi avisado de que estava adentrando em terreno perigoso.
Depois não digam que alguém foi pego de surpresa.
Há muito tempo, pessoas que seguem as contas públicas, sabem que o governo vem manipulando a contabilidade, maquiando despesas e apresentando superavits fictícios.
O governo está, irresponsavelmente, construindo uma bomba-relógio fiscal, que vai estourar no colo do próximo presidente, qualquer que seja ele.
Paulo Roberto de Almeida

A mágica do Tesouro

Editorial - O Estado de S.Paulo

28 de outubro de 2010

  O governo continua inventando expedientes para ocultar a deterioração das contas públicas. Desta vez, aproveitou a capitalização da Petrobrás para inflar a receita do Tesouro Nacional e produzir um superávit primário de R$ 26,1 bilhões em setembro. Seria o maior resultado primário de todos os tempos, se fosse real. Mas esse número - mais um prodígio nunca antes visto na história deste país - é uma ficção. Sem recorrer a ela, o Ministério da Fazenda estaria exibindo, na melhor hipótese, um déficit de R$ 5,8 bilhões. Esse é um claro sinal do descontrole do gasto. Com a economia crescendo em ritmo igual ou superior a 7% ao ano, a administração federal deveria exibir uma excelente saúde financeira.
A mágica foi prevista desde quando o governo anunciou as manobras para envolver o Fundo Soberano e pelo menos um banco federal na capitalização da Petrobrás.
A União cedeu à empresa reservas de petróleo avaliadas oficialmente em R$ 74,8 bilhões e recebeu esse montante como pagamento. Ao mesmo tempo, contribuiu com dinheiro para o aumento de capital. Mas só gastou R$ 42,9 bilhões, porque o resto foi desembolsado por intermédio da BNDESPar e do Fundo.
A diferença, R$ 31,9 bilhões, foi contabilizada como receita do Tesouro. Somadas entradas e saídas, sobraram os R$ 26,1 bilhões apresentados como superávit. Mas pelo menos uma parte do distinto público já sabia do truque e não se deixou impressionar pela mágica.
Mas o ilusionismo é mais complexo. Para reforçar o BNDES, o Tesouro emitiu papéis no valor de R$ 25 bilhões. Endividou-se, mas essa operação não afetou a dívida líquida, porque o dinheiro foi passado ao banco, formalmente, como empréstimo. Logo, foi gerado um crédito equivalente. Mas a dívida bruta cresceu e esse é o indicador mais importante para os financiadores do Tesouro.
O governo contabilizou os R$ 31,9 bilhões como "receita de concessão", num procedimento classificado como normal pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin. Segundo ele, "não houve manobra fiscal". Esse não é o ponto de vista de especialistas do setor privado e do Banco Central (BC). Em sua próxima reunião, em dezembro, o Copom fará, como sempre, uma avaliação das condições da economia e levará em conta os efeitos da política fiscal. São passos necessários para a decisão sobre os juros. O Comitê não deverá levar em conta a receita contabilizada como decorrente da capitalização da Petrobrás, informou o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton.
Essa divergência é mais importante do que talvez possa parecer à primeira vista. Não se trata de um preciosismo contábil. Trata-se de saber se a informação divulgada pelo Tesouro é um bom indicador das condições da economia brasileira. De fato, não é, assim como não seria, se o governo descontasse o valor aplicado nas obras do PAC ou destinado a qualquer outra finalidade. Não se pode tratar a meta de superávit primário como se fosse apenas um requisito burocrático.
Acima de tudo, é preciso avaliar a situação das contas públicas pela evolução da despesa. O gasto federal continua crescendo mais que o valor da produção. Neste ano, o investimento custeado pelo Tesouro aumentou, mas esse item continua sendo pouco relevante no conjunto dos desembolsos. O Orçamento federal continua sendo inflado principalmente pelos gastos de custeio e, de modo especial, por despesas pouco produtivas.
A folha de pessoal, até agora, foi 9,3% maior que a de janeiro-setembro de 2009. Aumentou menos que o PIB nominal. Mas não se pode esquecer o inchaço dos salários e encargos nos últimos sete anos. Além disso, outros itens de custeio consumiram 21,6% mais do que no ano passado - uma diferença reconhecida como indesejável até pelo secretário do Tesouro.
Durante anos, o governo se valeu do aumento da receita para gastar muito e ainda assim conseguir superávit primário. Em 2010, nem o notável aumento da arrecadação tem bastado para acomodar a gastança. Este é o problema número um e é um erro tentar disfarçá-lo.

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Acrescento, para que se torne bem evidente, o comentário que já incorporei neste post, e agradeço a meu correspondente e amigo de blog Paulo Araújo:

Caro Paulo R. Almeida.

Mansueto Almeida escreveu em seu blog posts alertando criticamente para idêntica questão tratada no editorial

http://mansueto.wordpress.com/

O artigo de hoje de Mansueto Almeida

Superávit primário: descanse em paz. Valor Econômico - 28/10/2010

Esta é a última frase. Uma conclusão fundamentada no que ele expôs de modo cristalino no artigo:

“O superávit primário morreu e talvez fosse melhor passarmos a ter metas para a poupança pública, que é um conceito que exclui os gastos de investimento. Mas se você ainda acredita na relevância do conceito de superávit primário depois deste artigo, por favor, poderia me enviar o endereço do Papai Noel?”

Artigo de Mansueto Almeida

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/10/28/superavit-primario-descanse-em-paz-mansueto-almeida

Kirchner: os mercados sao crueis e vingativos...

Claro que é bobagem esse título, colocado assim apenas para chocar.
Na verdade, os mercados apenas refletem o risco percebido por milhares de investidores.
Alguns malucos acreditam na teoria conspiratória da história, e acham que por trás dos mercados se encontra um bando de especuladores de Wall Street tramando contra os países "periféricos" ou "dependentes".
Bobagem total: os mercados são formados por milhares, centenas de milhares de poupadores e investidores que expressam suas crenças, apreensões e até irracionalidades atravése de operações de compra e venda de títulos, ações, papéis, whatever.
Claramente os mercados estão dizendo que o ex-presidente -- que Perón o guarde consigo, onde estiver -- era um risco tremendo para a saúde da economia.
Eu sei disso: uma vez fiquei parado na Argentina sem gasolina, por causa dessa mania maluca do finado presidente de enfrentar os mercados, decretando congelamentos, retenciones, e outras bobagens maiores ainda...
Descanse em paz. Os mercados podem funcionar mais tranquilamente.
Paulo Roberto de Almeida

Ações da Argentina sobem após morte de ex-presidente
Folha de S. Paulo, 28.10.2010

Os valores das ações e dos principais títulos do governo argentino subiram após o anúncio da morte do ex-presidente Néstor Kirchner. Suas possíveis pretensões de concorrer às eleições presidenciais em 2011 eram consideradas um dado negativo pelo mercado financeiro. O ex-presidente era famoso por entrar em confronto com mercados e investidores. Analistas financeiros avaliam que, com sua morte, a Argentina passou a significar menos risco político. A Bolsa de Valores de Buenos Aires não funcionou ontem por causa de um feriado na Argentina. Mas os investidores começaram a comprar ativos atrelados à dívida argentina e ações do país que eram negociados no mercado financeiro internacional logo após o anúncio da morte.

Continuando a mentir e a manipular os dados da realidade: um "academico" sectario...

Atenção: estou respondendo a um fraudador da realidade e a um mentiroso contumaz
Paulo Roberto de Almeida

Este blog se destina, precipuamente, ao debate de ideias, como esclarecido acima, se possível inteligentes, como também alertado.
De vez em quando, porém, somos levados a comentar ideias "desinteligentes", quando não estúpidas, ou então mentiras deliberadas, quando elas assumem tal proporção de publicidade nestes meios que são os nossos, que correm o risco de deformar os dados da realidade, pela manipulação deliberadamente falsa da história passada, o que pode induzir ao erro muitos jovens que não dispõem da informação correta ou do instrumental analítico para se precaverem contra os muitos fraudadores que pululam em nossas universidades (em constante processo de deterioração, como já escrevi aqui).

Pois bem, como este blog também tem essas funções didáticas, de esclarecimento e de instrução aos mais jovens, vou me permitir abusar da paciência de vocês -- eu sei que é chato lidar com mentirosos, mas por vezes é necessário fazê-lo -- para responder e continuar desmantelando as ideias falsas, os erros deliberados e as fraudes declaradas com que me deparo ocasionalmente.
É inacreditável que esse tipo de mentira com os dados da realidade passe impune na academia, o que apenas revela a degradação moral, o total desregramento ético a que estamos assistindo nos últimos anos, certamente a marca registrada dos nossos tempos.

A história é a seguinte: eu havia lido uma "Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso" -- supostamente entre colegas sociólogos, mas na verdade de um acadêmico mentiroso a um ex-presidente -- que apresentou tal deformação dos dados da realidade, contra o Plano Real, contra as políticas econômicas do período FHC, contra os simples dados da realidade, que me senti obrigado a comentar as afirmações mais deliberadamente falsas, os dados mais obviamente fraudados. Deixei de lado os "argumentos" de natureza subjetiva, pois existem sempre interpretações diferentes de itinerários econômicos, para me concentrar apenas no que era falso, no que era fraude, no que era desinformação factual, no que ia contra os dados da história recente.
Meu post é este aqui:


Distorcendo estatisticas e deformando a historia: um academico mentiroso

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Não preciso dizer que não enviei ao mentiroso em questão, mas simplesmente o postei neste blog. Um dos leitores deste meu post, pretendendo fazer um favor ao acadêmico que não merece esse nome, compareceu com um "comentário" neste post, tentando oferecer, como ele disse, um "contraponto ao [que eu afirmei]... para os leitores deste [meu] blog" . Ele o fez, porém, de forma anônima, sem dizer, aproveitando um outro comentário que o acadêmico mentiroso fez em seu blog tentando responder a questionamentos de um outro leitor, confuso quanto aos "dados" e "argumentos" propostos pelo próprio acadêmico mentiroso.
Sinceramente, eu volto a dizer que não entendo como, num país democrático como o nosso, tantas pessoas, em lugar de debater abertamente, escolher postar comentários como "Anônimos", o que não entendo e me parece uma contradição nos termos. Quem tem ideias próprias e acha seus argumentos sólidos, basta expô-los e assumir responsabilidade pelo que escreve. (Enfim, as pessoas são livres para continuar escrevendo como "anônimas" no meu blog, mas eu também sou livre para julgar se esses comentários merecem ou não ser publicados; em princípio, anônimos já começam com uma prevenção "contra", da minha parte).

Em todo caso, para retirar esse "comentário anônimo subscrito" de uma simples "nota de rodapé", pouco vista ou lida pelos visitantes e frequentadores deste blog, decidi transcrevê-lo por inteiro aqui, o que faço in fine, antecedendo-o, porém, de novos comentários de minha parte, já que as novas afirmações do acadêmico  mentiroso merecem novos comentários de minha parte. É o que faço agora.


Continuando a desmantelar inverdades e fraudes deliberadas:
(Para fins de identificação, faço as seguintes distinções: Acadêmico Mentiroso = AM; Paulo Roberto de Almeida = PRA)

AM: Eu não disse que o plano real não derrubou a inflação e sim que se situou dentro de uma tendência deflacionária da economia mundial.
PRA: Não disse explicitamente que o Plano Real (com maiúsculas, pois que já faz parte da história econômica destepaiz), mas queria sim dizer, indiretamente, que a derrubada da inflação no Brasil teve a ver com uma fantástica "tendência deflacionária da economia mundial".
Desafio o acadêmico mentiroso a provar que havia essa tal de "tendência deflacionária da economia mundial", com base em dados, em números verificáveis. Está lançado o repto.
Se ele quiser, que aproveite a dica que eu lhe dei, e vá ver os números. Estão aqui, nesta tabela insuspeita pois que construída a partir dos dados oficiais dos institutos de estatística nacionais de cada um dos países, reponderados, quando é o caso, por "number crunchers" isentos como são os da OCDE.
Este é o link: http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/1999/01/data/#top.
O AM (acadêmico mentiroso) delira, obviamente, pois TODOS, rigorosamente todos os países avançados (que na época ainda eram responsáveis por mais de 60% do PIB mundial) tinham inflações abaixo de 5%, geralmente entre 2 e 4%.
Apenas o Japão apresentava tendências deflacionárias ANTES e portanto não pode ter influenciado NENHUMA tendência deflacionária no começo dos anos 1990, como escreve AM.
O que ele repete é simplesmente uma MENTIRA, uma fraude completa, só explicada pelo seu desejo obsessivo, doentio, de diminuir o Plano Real, que ele confunde com "tendência deflacionária".

Ora, QUANDO um plano concebido e arquitetado para desmantelar todo o aparato da indexação generalizada num país -- este nosso infeliz país, convivendo com taxas de inflação de 500% ao ano -- e para TROCAR A MOEDA, todo o meio circulante, e fazer várias outras coisas mais, pode ser identificado com uma "tendência deflacionária mundial"???!!!
Isso é simplesmente delírio completo, uma fraude consumada, uma desinformação que o AM não hesita em perpetrar mais uma vez.
Não por acaso um dos comentaristas em seu blog escreveu o seguinte:
"Puxa, O Plano Real não foi o responsável pela derrubada da inflação?
Hiperinflação mundial ? Eu lembro, era 230% na Holanda, 317% no Canadá, 86% na Inglaterra, 477% no Chile e 118% na França.
Aí, por razões conjunturais mundiais, todas caíram abaixo de 10%, como em uma epidemia. Devo ser o Eremildo (personagem do golpista Elio Gaspari).
"
Ou seja, o AM se submete a gozações de quem conhece os números e não deixa passar em branco essa deformação completa por parte de quem só sabe mentir.
Não vou me dar ao trabalho de transcrever os dados reais das taxas de inflação no mundo. O AM pode fazer isso nos documentos que figuram em meu link.

AM: TODOS os países terminaram com a inflação neste período e não fizeram um plano real.
PRA: MENTIRA. A maior parte dos países responsáveis já tinham cuidado da inflação desde a primeira metade dos anos 1980, depois que os impactos do primeiro e do segundo choques do petróleo (1973-74 e 1979-1980) conseguiram ser absorvidos por MEDIDAS MONETARISTAS, de um lado (isto é, aumento da taxa de juros) e de AJUSTE ESTRUTURAL, por outro lado (isto é, reconversão produtiva num sentido de fazer a base industrial trabalhar com menor conteúdo de petróleo, o que foi obtido de maneira notável, AUMENTO de PREÇOS dos combustíveis, e uma série de outras medidas no setor real da economia).
É simplesmente ridículo dizer que TODOS os países "terminaram com a inflação" -- vejam bem, no começo dos anos 1990, o que é simplesmente ERRADO -- e o fizeram não através, NOTEM, "de um plano real", como se os países fizessem revoluções em sua macroeconomia assim, todos os dias, ou ao sabor da conjuntura.
Decerto esse AM deve imaginar que os responsáveis econômicos de TODOS os países devam decidir algo deste gênero: "Vejamos, será que vamos fazer um 'plano real' (sic) agora, ou vamos deixar para depois? Não, plano real não!; é um estelionato eleitoral; vamos esperar uma tendência deflacionária mundial e aí, muito melhor, a gente não precisa fazer nenhum esforço, é só navegar na crista da onda das tendências deflacionárias mundiais e, zut, voilà, está feito o serviço. Vamos deixar esses 'planos reais' para esses coitados do Brasil..."
O que o AM está dizendo simplesmente não faz sentido e NÃO BATE COM A REALIDADE. Ou seja, trata-se de um fraudador contumaz e repetido. Ele pretende ofender a nossa inteligência e se contrapor aos dados da realidade.

AM: "Contudo, ao manter a moeda sobre valorizada e ao não tomar medidas estruturais contra a inflação e sobretudo ao elevar absurdamente os juros, a equipe econômica manteve a nossa inflação entre as mais altas do mundo."
PRA: MENTIRA mais uma vez. O Plano Real não manteve a moeda sobrevalorizada e não pretendia fazer isso. Não sei se o AM sabe disso, mas a primeira versão do Plano Real previa um forte ajuste fiscal -- o que era desejável, necessário e mesmo indispensável, em visto do descontrole dos gastos públicos e do total irrealismo dos orçamentos públicos até então -- o que não foi feito por oposição do presidente Itamar Franco, que não queria ajustes fortes que seriam, necessariamente, temporariamente recessivos. TODO plano de ajuste estrutural, em TODO o mundo, possui um componente recessivo, até porque se tem de quebrar a espinha da realimentação inflacionária. O Brasil foi o ÚNICO país no mundo que efetuou todo um processo de estabilização sem QUALQUER EFEITO RECESSIVO.
Ora, o preço pelo não ajuste é a necessidade de se manter taxas de juros mais elevadas. Foram essas taxas de juros que foram responsáveis pela sobrevalorização do real -- que teve sua paridade estabelecida, mas não fixada, no mesmo nível do dólar, em julho de 1994 -- ao atrairem fluxos de capitais. Em economia não existem medidas que produzam efeitos em uma única direção: se a escolha foi por um ajuste SEM RECESSÃO, então o preço a pagar são juros altos.
Por outro lado, a sobrevalorização do real, temporária como foi, serviu para diminuir mais rapidamente a inflação, esta sim, o principal inimigo dos pobres. Com uma taxa de câmbio "desvalorizada" como preferem esses economistas simplórios, o resultado teria sido um ritmo menor de queda na inflação.
Concluo disso, que os economistas que proclamam, a exemplo do AM, que a moeda deveria ter sido desvalorizada -- por meios compulsórios entenda-se, pois essa gente adora controlar tudo -- são a favor da inflação, a favor de que os pobres sofram mais um pouco.
Ora, o Plano Real foi a mais fantástica redistribuição de renda que se fez na história econômica do Brasil, ao permitir a eliminação rápida do imposto inflacionário, aquele que mais atinge os pobres.
Somos levados a concluir, assim, que o AM e seus amigos são contra os pobres e amigos da inflação.
Dispenso-me de comentar o resto da frase do AM, pois ele não parece entender de economia monetária, ao fazer uma conexão direta entre juros altos e inflação alta: qualquer economista principiante, mesmo os mais renitentes keynesianos, sabe que alta de juros faz diminuir a inflação, não o contrário.
Isso apenas prova o quão pobre, eu diria miserável, é o "raciossímio" econômico do AM.

AM: "Trata-se de comparar a inflação do período FHC com a inflação de todos os outros países. E a nossa inflação foi mais de 5 vezes mais alta que os casos mais bem sucedidos."
PRA: O AM talvez não saiba mas pelo menos um terço da inflação no Brasil é "encomendada" pelo Estado, ao manter tarifas para certos serviços públicos e contratos com concessionárias indexados ao índice de inflação oficial. E por que se fez isso, em lugar de simplesmente desindexar toda a economia?
Porque ao fazer o Plano Real, num patamar de hiperinflação de 2.700% ao ano (ou mais, mas neutralizada em parte pelos mecanismos generalizados de correção monetária), não se tinha certeza de que tudo iria funcionar, e assim uma parte da economia continuou a funcionar com preços revistos e corrigidos.
O outro fator, obviamente, era o descontrole das contas públicas e a total orgia de gastos nos estados e municípios, que tiveram de ser primeiro contornados com as renegociações de dívidas estaduais e municipais de 1995 a 1998 -- o que custou os olhos da cara à União -- e depois tentativamente engessados pela Lei de Responsabilidade Fiscal, lei que os amigos e aliados do AM tentaram barrar no Supremo Tribunal Federal.
O AM tampouco lembra que a União trocou todas as dívidas estaduais e municipais por títulos federais, assumindo um pesado encargo de juros, e limitando os pagamentos dos devedores por títulos de menor taxa de juros, a 30 anos, mas com a obrigação de comprometer certo percentual dos orçamentos (de 10 a 15% segundo os casos) com o seu repagamento (o que é o mínimo que se poderia esperar).
Em conexão com isso, a acusação de que o governo FHC aumentou enormemente a dívida pública, SEM CONSIDERAR esse prêmio feito aos estados e munícipios, é de uma enorme má-fé, na verdade de um mau-caratismo impressionante.
O governo FHC colocou as contas públicas em ordem, restabeleceu a verdade dos orçamentos, reduziu a inflação para níveis civilizados, e o AM vem colocar em dúvida tudo isso? É preciso muita desfaçatez para deformar assim os dados da história.

AM: "Que teoria econômica pode considerar uma baixa inflação uma alta de preços 5 vezes maior que a do resto da economia mundial?"
PRA: O AM não sabe escrever, pois sua frase acima não faz nenhum sentido. Em primeiro lugar, porque não há nenhuma teoria econômica envolvida e sim medidas de política econômica. No caso, as metas de inflação estabelecidas em 1999, para dar uma perspectiva referencial de preços aos agentes econômicos. A inflação em 1998 já se situou abaixo de 3%, e poderia estar nesse patamar atualmente, se os amigos e aliados do AM não insistissem em MANTER O PATAMAR EM 4,5%, quando o Conselho Monetário Nacional poderia ter estabelecido uma meta menor. Se o AM quiser, posso transcrever diversas declarações do atual Ministro da Fazenda, antes e DEPOIS de assumir o cargo, em que ele se pronuncia CONTRA um patamar mais baixo para a meta de inflação.
O Brasil tem, sim, uma inflação duas a três vezes maior (não cinco) superior à médias mundiais (mas apenas duas vezes maior que a dos países emergentes). Isso se deve exclusivamente aos gastos públicos excessivos, à permissividade fiscal, todas de responsabilidade dos amigos do AM.

Fico por aqui, pois os argumentos do AM são tão pobres que me constrange ter de aulas de economia, e pior, LIÇÕES DE HISTÓRIA a um acadêmico que não merece esse nome.
Confesso que sinto vergonha pela academia brasileira e tenho pena dos alunos desse fraudador contumaz e desse mentiroso sectário.

Termino dizendo que em nenhum momento coloquei este "debate" no âmbito das eleições e dos candidatos. Não tenho nenhum e não estou tratando aqui de suas plataformas econômicas futuras.
Eu estava apenas interessado em restabelecer a VERDADE DOS FATOS, e recolocar a história em seu devido lugar.
Não tenho nenhuma ilusão de que o AM venha a se retratar por suas afirmações fraudulentas.
Mas isso faz parte do caráter dessa gente.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 28.10.2010)


Comentário transcrito por um "anônimo visitante", em nome, ou a favor, do acadêmico mentiroso em meu post supra-citado
Palavras do Acadêmico Mentiroso:
"Eu não disse que o plano real não derrubou a inflação e sim que se situou dentro de uma tendência deflacionária da economia mundial. TODOS os paises terminaram com a inflação neste período e não fizeram um plano real. Contudo, ao manter a moeda sobre valorizada e ao não tomar medidas estruturais contra a inflação e sobretudo ao elevar absurdamente os juros, a equipe econômica manteve a nossa inflação entre as mais altas do mundo. Não se trata de comparar a inflação do período Fernando Henrique com a fase que, em entrevista para os 40 anos do CEBRAP, Serra chamou de “superinflação” para distinguir de uma tendência ao crescimento infinito da inflação que seria considerada uma ”hiperinflação”. Trata-se de comparar a inflação do período FHC com a inflação de todos os outros paises. E a nossa inflação foi mais de 5 vezes mais alta que os casos mais bem sucedidos. Dizer que isto é sectarismo ou má analise econômica é demonstrar um delírio teórico insensato. Que teoria econômica pode considerar uma baixa inflação uma alta de preços 5 vezes maior que a do resto da economia mundial? É elementar exceto para quem está com a mente obliterada por uma propaganda absurda."  http://theotoniodossantos.blogspot.com/2010/10/o-debate-sobre-carta-aberta-fernando.html

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Meu novo livro: quase saindo do forno: Globalizando

Bem, já bati o martelo quanto à ilustração da capa, que não deverá, portanto, mudar. Mas, meu mais recente livro ainda não está pronto, pois ainda falta ser impresso.
Em todo caso, já corrigi as provas e ele deverá estar pronto em pouco tempo mais.
Os interessados em seu conteúdo e prefácio, podem consultar este link.

Transcrevo aqui, seu sumário:


Paulo Roberto de Almeida:
Globalizando: Ensaios sobre a globalização e a antiglobalização
Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2010, xx+272p.; ISBN: 978-85-375-0875-6 

Uma compilação de ensaios recentes e mais antigos sobre a questão central das relações econômicas internacionais contemporâneas.

Sumário:
À maneira de prefácio:
O altermundialismo, uma enfermidade infantil da globalização


Parte I
Globalização
1. O Brasil e os primeiros 500 anos de globalização capitalista
2. Contra a corrente: treze idéias fora do lugar sobre as relações internacionais
3. A globalização e as desigualdades: quais as evidências?
4. Três vivas ao processo de globalização: crescimento, pobreza e desigualdade
5. Distribuição mundial da renda: evidências desmentem concentração e divergência
6. O Brasil e os impactos econômicos e sociais da globalização
7. Globalização perversa e políticas econômicas nacionais: um contraponto

Parte II
Antiglobalização
8. Contra a anti-globalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento
9. A globalização e seus descontentes: um roteiro sintético dos equívocos
10. A globalização e seus benefícios: um contraponto ao pessimismo
11. Fórum Social Mundial: nove objetivos gerais e alguns grandes equívocos
12. Um outro Fórum Social Mundial é possível… (aliás, é até mesmo necessário)
13. Fórum Social Mundial 2008: menos transpiração, mais inspiração, por favor...
14. Fórum Surreal Mundial: pequena visita aos desvarios dos antiglobalizadores
15. Uma previsão marxista...

16. Perguntas impertinentes a um amigo anti-globalizador
17. Fórum Social Mundial 2010, uma década de embromaçãoÀ guisa de conclusão:
Se, nouvelle manière (ou as qualidades do homem na globalização)

Obras de Paulo Roberto de Almeida

Pausa para aulas de "portugueis"... ou para simples divertimento (voces escolhem)

Não sei, e confesso que hesito, quanto a opção a ser assinalada acima.
Em todo caso, são momentos de puro enlevo gramatical, exemplo de oratória, sintaxe bizarra, whatever...

http://www.youtube.com/watch?v=bSBO-XLZRoc

(desculpem manter segredo, mas o segredo é a alma do negócio, dizem alguns...)

Minha posicao sobre o voto nulo - Paulo R. Almeida


Contra o Voto Nulo: meus critérios de escolha

Paulo Roberto Almeida

Existe uma controvérsia pairando sobre as comunicações que circulam na internet nessas épocas eleitorais: a do voto nulo, justificado ou não “filosoficamente”. Provavelmente, existe mais de uma controvérsia eleitoral, mas esta é a que me foi dado examinar e me pronunciar recentemente sobre ela, talvez de modo superficial e ligeiro (o que quer dizer exatamente a mesma coisa, mais passons). Sem pretender possuir a posição “correta” – que simplesmente não existe em se tratando de escolhas políticas, embora existam, sim, posições erradas, absoluta e relativamente, nessa área, e elas tem a ver com a diminuição do “grau” de democracia no sistema político – gostaria de me manifestar a respeito de forma mais clara do que já o fiz até agora.

Existem basicamente três formas de “não” escolher qualquer candidato, para qualquer cargo, nas eleições: a abstenção, o voto nulo ou o voto em branco. A única diferença entre o voto nulo e o voto em branco, em face da maquineta de votação, é que a dita cuja contempla um botão branco, para o voto idem. Suponho que os que pretendem anular seu voto teclem outros números, admitindo-se que a máquina aceite, e confirmem esse número “errado”. Seria então um voto nulo. Num caso, como no outro, se trata de uma “não escolha”, assim como a de não comparecer no local de votação no dia marcado. Essas são, portanto, as formas de anular o seu voto: votando “errado”, deixando em branco, ou deixando de comparecer. Votou nulo ou em branco, ou deixou de votar, pronto: está feita a recusa de participação numa escolha solicitada (na verdade, requerida, exigida, porque o voto é obrigatório no Brasil).
Os que são indiferentes à política ou ao governo, qualquer governo, os que “não agüentam” mentiras de políticos (e algumas são realmente difíceis de engolir), aqueles que simplesmente não se interessam pelas mensagens dos partidos e dos candidatos, os que, finalmente, são preguiçosos demais para se deslocar no dia das eleições, simplesmente exercem o seu direito democrático de “não escolher”. Eles não costumam ficar preocupados com isso: simplesmente desligam essa “área cerebral” e seguem em frente, nas suas vidinhas pacatas e desinteressadas. Poucos se dão ao trabalho de justificar a “não escolha”. Melhor não se comover com o assunto, ponto.
Diferente é a situação de acadêmicos ou pretensos intelectuais, que pretendem justificar a sua não escolha mediante elegantes construções, com citações de frases de escritores, argumentos sobre o caráter de manada das “massas votantes”, alegações quanto às fraudes deliberadas cometidas pelos partidos, enfim, um sem número de escusas para sustentar a posição em favor do voto nulo ou abstenção. Este meu texto está, portanto, dirigido aos que assim praticam a não escolha com tentativa de justificação. Como considero tal posição “absurda”, vou também me manifestar a respeito, com argumentos que espero sejam racionais e contra-argumentáveis.

Para todos os efeitos práticos, abstenção, voto nulo ou branco se confundem nos seus resultados futuros: o cidadão votante, o contribuinte pagador de impostos se exime de fazer uma escolha entre os representantes – legisladores ou executivos – que decidirão como será gasto o seu dinheiro – recolhido por tributos compulsórios – nos projetos e obras votados nas assembléias e parlamento e implementados pelos poderes executivos. Esta é, se ouso resumir, a essência de minha contrariedade contra todas essas formas de invalidar o seu voto, a sua escolha, a sua decisão de eleitor.
Devo também dizer, preliminarmente, que sou contra o voto obrigatório. Este deve ser um direito, não uma obrigação, pois o que prima, para mim, é a liberdade do indivíduo, não a imposição do Estado. Reconheço que essa posição pelo voto livre pode parecer contraditória com a postura de considerar “absurda” a não manifestação de preferências por ocasião do escrutínio, já que a não obrigatoriedade estimularia, e muito, a abstenção, como observamos nos países nos quais o voto é um direito, não uma obrigação (cerca de metade, apenas, da população americana habilitada a votar comparece nas eleições gerais a presidente, ao que parece; os “patriotas” brasileiros enchem o peito de orgulho, ao mencionar nosso número de votantes, o que me parece sumamente ridículo, pois a democracia americana é tão vigorosa, em suas bases, que dispensa, justamente, esse tipo de participação “federal”).

Pois bem, o que eu teria a dizer contra o voto nulo, em branco ou a abstenção? Os que assim procedem costumam alegar o seguinte: “o meu voto não faz diferença nenhuma, pois se trata de apenas um voto, no meio de milhões de outros votos, e não é ele que vai determinar quem será eleito para a presidência”. Eu diria, de imediato, que faz, sim, uma enorme diferença, e não apenas para presidente, pois qualquer forma de abstenção ou “nulificação” do voto atinge muito mais o corpo representativo da nação, ou seja, parlamentos e assembléias sub-nacionais. A grande diferença está expressa diretamente no próprio ato: o agente social, o votante, o cidadão contribuinte se exime de expressar uma opinião, a sua opinião sobre os candidatos em liça. Trata-se, obviamente, de uma decisão puramente individual, totalmente legítima no plano individual, mas carregada de consequências práticas no plano social, no âmbito nacional, no futuro da comunidade nacional. Elaboro um pouco mais a esse respeito.
O ato de não votar, ou de votar nulo ou em branco, significa, simplesmente, que o indivíduo “não votante” será necessariamente representado por alguém, obrigatoriamente e inapelavelmente, mesmo que o “não votante” não faça absolutamente nada e sequer se interesse pelo processo legislativo ou pelos mecanismos de decisão em curso nos executivos locais ou nacional. Esse representante “eleito” – e ele o é também pelo “não voto”, pois o número de válidos determinará o chamado quociente eleitoral para o cálculo das bancadas proporcionais – terá legitimidade para impulsionar políticas com as quais o “não votante” eventualmente possa não estar de acordo, ou a que ele resolutamente se opõe: digamos, entregar dinheiro público a banqueiros falidos, a capitalistas protecionistas ou a invasores de terras, quando não a mafiosos sindicais.
Se o “não votante” se eximiu de expressar o seu voto contrário a um representante qualquer que pode decidir por qualquer das ações acima, é evidente que o “representante não escolhido” possui, sim, a faculdade de influenciar a vida do “não votante” contra a vontade deste (ou melhor, com a sua “colaboração”). Contra o argumento pouco filosófico de que “um voto não faz a diferença” podemos confirmar que faz, sim, enorme diferença, que é a de eleger ou deixar de eleger alguém que pode se aproximar, que seja minimamente, de nossas posições, contra aqueles que delas se afastam deliberadamente, ou que defendem políticas que rechaçamos absolutamente.
Em qualquer hipótese, a renúncia de ação por parte do “não votante” pode redundar numa usurpação de representação por parte do representante efetivamente eleito, aquele que vai decidir para onde vai o meu, o seu, o nosso dinheiro. Ela é, me parece uma “solução” de menor democracia do que a participação, ainda que a contragosto, do cidadão eleitor. Gostaria de compreender a posição daqueles que julgam ser muito complicado ou aborrecido penetrar nos detalhes das posições de cada candidato sobre cada tema de interesse cidadão, ou coletivo. Mas eu sou daqueles que não renunciam a uma única parcela de responsabilidade na comunidade política. E que não me venham falar de “indivíduos” que não gostam de ser misturados ou confundidos com a massa: todos nós vivemos em coletividade, todos nós somos parte da “massa”, qualquer que seja ela.

Pois bem, venho agora aos critérios de escolha, pois o assunto foi veiculado em comentário a um dos meus posts – aquele em que protesto contra o manifesto desonesto dos reitores das universidades públicas em favor da candidata oficial (mas eu protestaria igual se o manifesto fosse em favor do candidato da oposição) – que, aparentemente, chamou a atenção de alguns jovens universitários (ver aqui). Como me perguntou um desses jovens, leitor desse meu post: “Gostaria de saber então qual argumento é válido para declarar o voto neste ou naquele candidato.”
Eu diria o seguinte: o voto em qualquer candidato é válido, mas eu o faria acompanhar da seguinte nota de caução. Toda e qualquer escolha, eleitoral ou não, precisa ser feita de forma consciente quanto aos efeitos e consequências dessa nossa escolha, devemos sempre tentar visualizar as implicações de nossa escolha e examinar seu impacto futuro em nossas vidas e no itinerário provável de nossa comunidade.
Suspeito, ou suponho, que todos desejem viver num país “normal”, ou seja: com prosperidade, segurança, livre de corrupção, desenvolvido, organizadinho, limpinho, agradável, de preferência com altos salários e trabalho garantido, educação e saúde abundantes e a preços abordáveis – se possível gratuitos – e com plena liberdade de informação, de circulação, de expressão, sem envolvimento em confusões externas e vivendo num ambiente de paz interna (estou sendo muito exigente ou utópico?). Se queremos tudo isso, e temos o direito de pelo menos aspirar a algumas dessas coisas em nossas vidas, vamos ter de fazer algo para obter todos esses “direitos”.
Uma das maiores utopias – e inconsequências – da Constituição brasileira está, justamente, em prometer todo esse mundo de bondades róseas, sem jamais dizer como tudo isso poderá ser obtido. Existe até um senador – que eu respeito no plano individual, mas que nesse particular considero um perfeito idiota – que pretende colocar na Constituição o “direito à felicidade”, como se isso fosse fazer qualquer diferença no plano instrumental, ou prático. A constituição é cheia de direitos e quase nenhum dever; ou melhor, todos os direitos são dos cidadãos, todos os deveres são do Estado, essa entidade impessoal que segundo alguns deveria ser uma “mãezona” a zelar pela felicidade de todos e cada um: “A educação (ou saúde) é um direito dos cidadãos e um dever do Estado...”, assim reza a Constituição em diversas passagens. Faltou dizer quem vai pagar por tudo isso, onde está a produtividade (uma palavra que não existe ali) que vai sustentar esse mundo de benesses infinitas.
Independentemente, porém, de como serão resolvidas essas questões, está claro, pelo menos aos meus olhos, que os que prometem sempre tudo isso e um pouco mais estão incorrendo nessa terrível falácia constitucional que consiste em jogar com promessas futuras sem jamais dizer quem pagará por tudo isso. A demagogia eleitoral é o pior pecado que pode existir em qualquer época ou lugar. A inconsistência no uso do dinheiro público é o segundo pior pecado político que pode existir numa comunidade de cidadãos conscientes.
Por isso mesmo, meu simples critério eleitoral é o enfrentamento destas simples verdades: prometeu isto, diga de onde vai sair o dinheiro, quem vai sustentar, como serão aplicados os recursos e que benefícios esperados advirão dessa escolha, e não de outras? Em economia – e tudo se resume, em última instância, a uma questão de economia, como queria o velho barbudo – sempre existem alternativas, mas as escolhas sempre são políticas, independentemente de seus fundamentos econômicos.
O cidadão que vota nulo, ou branco, ou que se exime de escolher, está, pura e simplesmente, jogando o seu dinheiro no lixo. Ou melhor: entregando-o a alguém “mais esperto”, que saberá utilizá-lo em função de seus próprios critérios preferenciais. Sabemos que os “mais espertos” não são necessariamente os mais honestos e confiáveis, pois eles geralmente se utilizam da mentira e da mistificação para conseguir cargos políticos. Em resumo, votar consciente é votar inteligente. Renunciar a isso é não só um absurdo, como evidencia uma atitude pouco inteligente. Desculpem-me os “filosoficamente” a favor do voto nulo, mas é isto o que penso.
Boas escolhas a todos, ou corrigindo-me: a escolha “menos pior” possível.

Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 2215: 27-28.10.2010

Contra a mentira e a manipulacao - Ruth Rocha

Sempre admirei a Ruth Rocha (que não era do meu tempo de menino, mas foi do tempo dos meus filhos): eu comprava seus livros para ler para as crianças pequenas, geralmente na hora de dormir.
Uma grande escritora e uma grande personalidade. Gostaria de ter o dom que ela tem para escrever de forma simples e descomplicada. Infelizmente não tenho, e meus leitores são obrigados a conviver com a minha prolixidade horrível no estilo da escrita, frases longas demais, apostos, complementos, enfim, esses monstros metafisicos que poluem o meu texto e fazem alguns leitores desistir de me ler.
O que vou fazer? Eu não nasci Ruth Rocha e não aprendi a escrever como ela. Ruim para mim.
No meio do meu caminho, tinha várias pedras, claro, mas também tinha uma coisa chamada Escola Paulista de Sociologia, que comecei a ler desde muito cedo. Aí, infelizmente, fiquei com esse jeito florestânico de escrever que é uma praga de construção verbal, um estilo horrendo e prolixo, justamente.
Mais, passons.
Não comecei a escrever este post para falar de estilos literários.
Atualmente andamos mal de estilos, com um sujeitinho que polui o ambiente com suas frases estropiadas e seu estilo que não tem nem nome: é dele só, e espero que nos livremos rapidamente, pois já não aguento mais ler ou ouvir esse estilo se espalhando nas minhas notícias.
Mais, passons, à nouveau...

O que eu queria era simplesmente transcrever um texto da Ruth Rocha, que achei digno e necessário. Elegante, educado, mas firme e decidido.
Ela está nesse jogo por algo maior do que a escolha de um (ou uma) candidato(a). Ela pretende, como eu, simplesmente defender a verdade, ser contra as manipulações da história, e ser independente.
Comme il faut...
Paulo Roberto de Almeida

Carta à candidata Dilma
Ruth Rocha

Meu nome foi incluído no manifesto de intelectuais em seu apoio. Eu não a apóio. Incluir meu nome naquele manifesto é um desaforo! Mesmo que a apoiasse, não fui consultada. Seria um desaforo da mesma forma. Os mais distraídos dirão que, na correria de uma campanha... “acontece“. Acontece mas não pode acontecer. Na verdade esse tipo de descuido revela duas coisas: falta de educação e a porção autoritária cada vez mais visível no PT. Um grupo dominante dentro do partido que quer vencer a qualquer custo e por qualquer meio.

Acho que todos sabem do que estou falando.

O PT surgiu com o bom sonho de dar voz aos trabalhadores mas embriagou-se com os vapores do poder. O partido dos princípios tornou-se o partido do pragmatismo total. Essa transformação teve um “abrakadabra” na miserável história do mensalão . Na época o máximo que saiu dos lábios desmoralizados de suas lideranças foi um débil “os outros também fazem...”. De lá pra cá foi um Deus nos acuda!

Pena. O PT ainda não entendeu o seu papel na redemocratização brasileira. Desde a retomada da democracia no meio da década de 80 o Brasil vem melhorando; mesmo governos contestados como os de Sarney e Collor (estes, sim, apóiam a sua candidatura) trouxeram contribuições para a reconstrução nacional após o desastre da ditadura.

Com o Plano Cruzado, Sarney tentou desatar o nó de uma inflação que parecia não ter fim. Não deu certo mas os erros do Plano Cruzado ensinaram os planos posteriores cujos erros ensinaram os formuladores do Plano Real.

É incrível mas até Collor ajudou. A abertura da economia brasileira, mesmo que atabalhoada, colocou na sala de visitas uma questão geralmente (mal) tratada na cozinha.

O enigmático Itamar, vice de Collor, escreveu seu nome na história econômica ao presidir o início do Plano Real. Foi sucedido por FHC, o presidente que preparou o país para a vida democrática. FHC errou aqui e ali. Mas acertou de monte. Implantou o Real, desmontou os escombros dos bancos estaduais falidos, criou formas de controle social como a lei de responsabilidade fiscal, socializou a oferta de escola para as crianças. Queira o presidente Lula ou não, foi com FHC que o mundo começou a perceber uma transformação no Brasil.

E veio Lula. Seu maior acerto contrariou a descrença da academia aos planos populistas. Lula transformou os planos distributivistas do governo FHC no retumbante Bolsa Família. Os resultados foram evidentes. Apesar de seu populismo descarado, o fato é que uma camada enorme da população foi trazida a um patamar mínimo de vida.

Não me cabem considerações próprias a estudiosos em geral, jornalistas, economistas ou cientistas políticos. Meu discurso é outro: é a democracia que permite a transformação do país. A dinâmica democrática favorece a mudança das prioridades. Todos os indicadores sociais melhoraram com a democracia. Não foi o Lula quem fez. Votando, denunciando e cobrando foi a sociedade brasileira, usando as ferramentas da democracia, quem está empurrando o país para a frente. O PT tem a ver com isso. O PSDB também tem assim como todos os cidadãos brasileiros. Mas não foi o PT quem fez, nem Lula, muito menos a Dilma. Foi a democracia. Foram os presidentes desta fase da vida brasileira. Cada um com seus méritos e deméritos. Hoje eu penso como deva ser tratada a nossa democracia. Pensei em três pontos principais.

1) desprezo ao culto à personalidade;

2) promoção da rotação do poder; nossos partidos tendem ao fisiologismo. O PT então...

3) escolher quem entenda ser a educação a maior prioridade nacional.

Por falar em educação. Por favor, risque meu nome de seu caderno. Meu voto não vai para Dilma.

SP, 25/10/2010

Ruth Rocha, escritora
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

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Addendum (necessário), mas emprestado de um colega de lista:

Entrei no blog do Noblat, para ler os comentários sobre a carta da Ruth Rocha, e fiquei estarrecido. Apesar de não ter lido todos (já são mais de 100), constatei que há dezenas de comentários destratando a Ruth Rocha como se ela fosse uma bandida por se queixar do uso indevido de sua assinatura. As pessoas perderam completamente a noção do que é certo, do que é decência. Antigamente, um peão de fazenda analfabeto sabia que não se pode agir assim com alguém, atentando contra a sua vontade, tanto que palavra dada era documento. Hoje, depois de meio século de pregação esquerdizante, a honradez individual foi assassinada — só existe a tal "ética" do grupo, de quem grita mais alto. O problema do Brasil já não é mais político — é civilizacional. Estamos chafurdando na barbárie.

Comento eu (PRA):
De fato, eu também me dou ao hábito, que me toma um tempo indevido em face de minhas leituras e outras obrigações, de ler comentários de leitores, cartas de leitores nos jornais impressos, ou mensagens enviadas no seguimento de uma coluna ou matéria postada num site ou blog.
Confesso que fico estarrecido. As cartas em jornais são filtradas, e portanto evitam a linguagem chula, as expressões ofensivas, os exemplos mais deletérios de paixões incontidas. Já não é o caso das mensagens não moderadas dessas matérias de jornal ou colunas assinadas em blogs: é inacreditável como a educação se degradou no Brasil.
Além de palavrões escabrosos, que apenas revelam a indigência mental de seus autores, existem argumentos tão raivosamente enviesados que me confirmam, sim, que o Brasil está irremediavelmente dividido entre os a favor ou contra este ou aquele candidato. A violência verbal é tamanha que me faz imaginar um desses enfrentamentos reais, caso a oportunidade se apresente, similar às brigas de gangues de torcidas organizadas de futebol, um exemplo supremo de que, como naqueles países dominados por tribos fanatizadas por alguma crença qualquer, também temos nossos energúmenos para provocar mortes e destruição.
Infelizmente, parece que vamos continuar descendo na escala da civilização, o que é triste, muito triste.
PRA (28.10.2010)

Pausa para o cinema: Back to the Future, again...

Um dos meus filmes preferidos...agora numa caixa em BlueRay, e DVD, of course:

Bonus Points: DVD Reviews

Going 'Back to the Future' again, after 25 years


Back to the Future
"Back to the Future" on Blu-ray: The 88 miles-per-hour saga makes its high-def debut in honors of its 25th anniversary. (Universal PIctures)
Washington Post Staff Writer
Tuesday, October 26, 2010; 10:09 AM
Most of us didn't learn what we know about time travel from physicists or the writings of H.G. Wells. We learned it all from "Back to the Future," the 1985 blockbuster that introduced us to flying DeLoreans, flux capacitors and the plucky Marty McFly (Michael J. Fox) , a wannabe rock guitarist who inadvertently befriends the teenage versions of his parents after zooming back to 1955.
As further proof that time (and time travel stories) inevitably marches on, the much-beloved Robert Zemeckis movie celebrates its 25th anniversary this year, a milestone that Universal has commemorated with the release of "Back to the Future: The 25th Anniversary Trilogy," a DVD ($49.98) and Blu-ray ($79.98) set that includes the original "Future," the pair of less compelling sequels it spawned and a wealth of bonus material that reveals many of the behind-the-scenes secrets involved in crafting this complex franchise. (And before you ask, no, it's not possible to purchase each of these releases individually. If you want "Back to the Future I," you've got to take II and III as well.)
The extra that has garnered the most attention from the "Future" fan base is the newly included, never-before-seen footage of Eric Stoltz, the actor who was originally cast as Marty and completed a substantial portion of the film before being fired because, as director Zemeckis explains, his comic sensibilities didn't suit the material. During a new six-part documentary about the trilogy, we finally get to see Stoltz in character and appearing in scenes that eventually were reshot with Fox, who ultimately catapulted to mega-fame as a result of his work in the film. The clips, which leaked online before the box set even released, are fascinating but far too brief. Perhaps out of respect for the actor, the DVD doesn't include any of Stoltz's scenes in their entirety with audio, so we never get a feel for what he may have brought to the role.
That said, the documentary -- one of a only few new extras included among the multitude of deleted scenes, outtakes, featurettes and commentary tracks that appeared on previous "Back to the Future" releases -- does an excellent job of exploring the evolution of the franchise. In addition to the glimpses of Stoltz, the doc touches on other elements that were ultimately abandoned (the time-traveling DeLorean came dangerously close to being a time-traveling refrigerator), "Back to the Future's" cultural impact (Ronald Reagan? Huge fan!) and explains why some actors from the first movie didn't make the journey to the second two. (The filmmakers note that Crispin Glover, who doesn't appear in the special features, got sliced out of the ensuing films because the actor made unreasonable demands, including asking for a sizeable raise. "That is the reason George McFly is a tombstone in Part II," says co-writer and producer Bob Gale.)
It's a thorough, highly watchable making-of that that will please "Future" fans and provides the primary attraction in this collection, although there are a couple of other reasons to consider purchasing it. One is the never-before-seen look at the original, storyboarded version of the movie's climax, in which Marty and Doc Brown rely on an explosion at a nuclear test facility -- rather than the power of a lightning bolt -- to get the jolt of energy needed to speed back to 1985. The other is the enhanced experience that, on Blu-ray, comes from watching the films in high-def. The movies, making their debut in the format, all look sharper and come with improved functionality that makes it possible to toggle between commentaries and pop-up trivia tracks with seamless ease. Ultimately, though, it's the enduring affection for these films that will motivate fans to buy. Despite the elements that date the "Back to the Future" franchise as a product of the '80s (see jokes about Pepsi Free and all those Huey Lewis and the News songs) the movies, especially the original, continue to charm because -- like Frank Capra's "It's a Wonderful Life," whose small town of Bedford Falls clearly serves as a model for "Future's" Hill Valley -- they force their characters to ask whether, if given the chance, they would radically alter their own lives. The conclusions Marty McFly and Doc Brown reach may differ somewhat from those of George Bailey. But their values -- which stress the importance of pursuing one's ambitions without losing an appreciation for home and family -- are remarkably similar. And, the era-jumping powers of that tricked-out DeLorean aside, remarkably timeless.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Estupidez nacional: existe algum limite a sua expansao?

Quando eu tomo conhecimento de notícias assim, eu me questiono se o Brasil não está involuindo mentalmente. OK, sem pretender ser grosseiro, mas sendo, eu me pergunto se esses juízes do RS não estão contribuindo ativamente para o aumento da estupidez nacional.
Ou seja: acabou a responsabilidade individual. Agora, qualquer coisa que aconteça, a responsabilidade sempre é do Estado, da empresa, da coletividade. O "pobre" do indivíduo precisa ser assistido, compensado, indenizado, quase diríamos que ele precisa de um constante serviço de baby-sitter por parte do Estado, para não fazer nenhuma bobagem contra ele mesmo.
Acho que caminhamos rapidamente para o, se já não estamos no, subdesenvolvimento mental.
Paulo Roberto de Almeida

Gerente de lanchonete que engordou no trabalho deve ser indenizado
Consultor Jurídico, 26.10.2010
Uma franquia de uma rede internacional de fast food está obrigada a indenizar um ex-gerente que engordou mais de 30 quilos durante os 12 anos em que trabalhou para a empresa. A decisão unânime é da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. Os desembargadores confirmaram parcialmente a sentença do primeiro grau. Apenas reduziram o valor da indenização de R$ 48 mil para R$ 30 mil por danos morais. Cabe recurso.
De acordo com os autos, o empregado entrou na lanchonete pesando entre 70 e 75 kg e saiu com 105 kg. Para a 3ª Turma do TRT gaúcho, a franquia contribuiu para que o autor chegasse ao quadro de "Obeso 2", resultando em problemas de saúde. Conforme o desembargador João Ghisleni Filho, relator do acórdão, as provas indicaram que o ex-gerente era obrigado a degustar produtos da lanchonete - alimentos reconhecidamente calóricos, como hambúrguer, batata frita, refrigerante e sorvetes.
Além disso, no horário de intervalo, a empresa fornecia um lanche composto de hambúrguer, batatas fritas e refrigerante. De acordo com testemunhas, na loja em que o autor trabalhou a maior parte do tempo, a lanchonete não permitia a troca deste lanche por dinheiro ou vale-refeição.
O relator reconheceu que fatores genéticos e o sedentarismo possivelmente também foram causas da obesidade. Porém, na sua opinião, isso não exime a responsabilidade da empresa. "Mesmo que a adoção de alimentação saudável fosse uma escolha do reclamante, havia imposição para que fossem consumidos os produtos da reclamada como a refeição no intervalo intrajornada e, ainda, para degustação, mesmo que eventualmente, ou duas vezes ao dia, como se extrai da prova", afirma o acórdão. 

Com informações da Assessoria de Imprensa do TRT-RS.
R.O. 0010000-21.2009.5.04.0030
Revista Consultor Jurídico, 26 de outubro de 2010

Balancos e avaliacoes - artigos Paulo R. Almeida

Meus mais recentes artigos publicados:


997. “Balanço do governo Lula, 2003-2010: uma avaliação não complacente”, portal de Economia do iG em 26.10.2010 (link: http://economia.ig.com.br/balanco+do+governo+lula+20032010+uma+avaliacao+nao+complacente/a1237812318976.html). Relação de Originais n. 2188.

996. “Qual a melhor política econômica para o Brasil?: algumas opções pessoais”, Ordem Livre (25 de outubro de 2010; da série Volta ao mundo em 25 ensaios: 21; link: http://ordemlivre.org/textos/1136). Relação de Originais n. 2095.

995. “Brasil: o que poderíamos ter feito melhor, como sociedade, e não fizemos?”, Ordem Livre (4 de outubro de 2010; da série: Volta ao mundo em 25 ensaios: 20; link: http://www.ordemlivre.org/textos/1120/). Relação de Originais n. 2094.

Distorcendo estatisticas e deformando a historia: um academico mentiroso

Eu já tinha lido o material em questão, de um acadêmico conhecido, que vive, nos últimos 50 anos, de uma equivocadíssima "teoria da dependência" que até seu mentor intelectual pediu que esquecêssemos (ele diz que não disse, mas eu sustento que sim).
Eu não pretendia responder a esse lixo que desonra a academia. Mas aí começaram aquelas correntes de militantes da causa e de aluninhos ingênuos, que obviamente ignoram a história e, sobretudo, desconhecem as estatísticas corretas, e que passam a disseminar o lixo em questão como se fosse um materia fiável.
Como tenho horror à mentira e à desonestidade intelectual (que como já disse também fica sendo só desonestidade), permiti-me perder meu tempo de leitura e de estudo para redigir um desmentido a esse lixo acadêmico.
Segue abaixo. Os interessados em ler o lixo acadêmico podem encontrá-lo neste link. De minha parte, continuarei fustigando os que perpetram mentiras.
Paulo Roberto de Almeida

Distorcendo a história real: o caso patético do “teórico da dependência”
Paulo Roberto Almeida (www.pralmeida.org)

Épocas eleitorais são propícias, como se sabe, às simplificações políticas e às manipulações de dados econômicos. É normal, é o esperado, sobretudo por parte dos próprios candidatos e dos seus “conselheiros” de campanha. Não deveríamos nos inquietar além conta, uma vez que, decidida a eleição, ultrapassadas as pequenas emoções e transpirações do período eleitoral, o novo chefe do executivo tem de se haver, não com as fantasias construídas ao longo da campanha, mas com os dados frios do orçamento e os números mais sérios do balanço de pagamentos. A partir daí, ele não pode mais enganar a ninguém, a não ser ele mesmo, se insistir em desconstruir as realidades do país e do mundo e ignorar os fatos econômicos mais elementares. Quem senta na cadeira decisória não atua mais com base em ideologias e idealizações acadêmicas, e sim com base em dados reais, com vistas a adotar as melhores decisões requeridas pela situação enfrentada.
Mais preocupante, contudo, é a situação de acadêmicos – cuja função primária seria a pesquisa honesta em torno da verdade dos fatos e sua transposição para o ambiente didático das salas de aula – quando, em lugar de esclarecer e informar, eles se dedicam a obscurecer e a deformar a história real. Claro, sempre se encontram aqueles que, motivados pelas paixões eleitorais, se deixem contaminar pelo ambiente de slogans superficiais e de comparações levianas, comprometendo sua credibilidade na mesma manipulação de dados que deveria ser atribuição exclusive dos políticos. Tenho encontrado alguns no curso da campanha de 2010, mas o caráter tosco de seus argumentos apenas confirma a irrelevância dessas mensagens passageiras, destinadas à lata de lixo da política conjuntural uma vez passada a campanha eleitoral.
Diferente é o caso de um soi-disant teórico da dependência, que rompeu todas as regras da decência acadêmica ao deformar completamente os dados da realidade em recente “carta aberta a Fernando Henrique Cardoso”. Ele se refere ao presidente, não ao sociólogo, classificando seu mandato de um dos maiores fracassos na história política do Brasil. Até aí nada de mais, pois seria apenas mais um desses ataques dos conhecidos fundamentalistas da academia. Não contente, porém, com uma acusação simplória como essa, o acadêmico em questão – cujo texto bilioso vem sendo divulgado nos conhecidos pasquins de sua tendência política – pretende revolucionar a história conhecida, reconstruindo uma versão fantasiosa, que deve ser rechaçada como perfeita mentira que é. Com efeito, ele não hesita em escrever o seguinte:

Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.

O acadêmico em questão não apresenta nenhum dado para sustentar suas afirmações mentirosas. Por isso seria preciso lembrá-lo que a economia mundial JAMAIS viveu em hiperinflação; ocorreu um período, subsequente aos choques do petróleo dos anos 1970, no qual a inflação em países da OCDE chegou, sim, próxima de 10% ao ano, após o que esses países deram início a vigoroso esforço anti-inflacionário, desde o início dos anos 1980, o que trouxe o ritmo do aumento do custo de vida para patamares inferiores a 10% logo em seguida.
Apenas para ficar num exemplo: a inflação nos Estados Unidos era de 3,27% em 1972; foi para 11% em 1974 (como decorrência do primeiro choque do petróleo em 1973), mas já tinha decaído para 5,7% em 1976; ela ascendeu novamente para 11% em 1979 (em função do segundo choque do petróleo), para decair para algo em torno de 3,5 a 4% no decorrer dos anos 1980, e atingir patamares ainda menores durante os anos 1990: de 2 a 3%. Se considerarmos as duas outras maiores economias planetárias, Alemanha e Japão, as taxas são ainda menores: a Alemanha alcançou 7% apenas em 1973 e 1974, situando-se bem abaixo disso durante todo o período; no caso do Japão, altamente dependente do petróleo, os choques foram realmente impactantes em meados dos anos 1970, mas depois disso, suas taxas de inflação raramente ultrapassaram 3%. Onde está a hiperinflação mundial do acadêmico mentiroso?
Sua informação de que todas as economias do mundo convergiram para patamares inferiores a 10% em meados dos anos 1990 também carece de qualquer comprovação. A verdade é, exceto países notoriamente desregrados nos planos fiscal e monetário – o que inclui, por exemplo, Israel nos anos 1980, pelos pesados encargos da situação de guerra –, a maior parte dos países do mundo já conhecia níveis inflacionários bastante moderados desde os anos 1980, com a notável e notória divergência dos latino-americanos e vários africanos. Se o autor precisar conferir, eu posso lhe indicar todas as estatísticas de inflação (e dados macroeconômicos de maneira geral), numa fonte insuspeita de distorções estatísticas (já que dados fiáveis são a base de seu trabalho analítico): o FMI. O link para a base de dados é este aqui: http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/1999/01/data/#top.
Em qualquer hipótese, não existe convergência planetária em matéria de inflação, uma vez que esta – excluindo-se os fatores causais externos, que soem ser conjunturais, como a já mencionada alta nos preços do petróleo – depende basicamente da política monetária interna a cada país. Não preciso relembrar nossa história de desregramento monetário e fiscal e de fracassos nas tentativas de estabilização ao longo dos anos 1987-1992 para refrescar a memória do acadêmico enviesado. Que ele não goste do sociólogo e do presidente FHC é admissível, mas que também tente deformar os dados econômicos para diminuir o sucesso do Plano Real já é um caso de obsessão doentia e de impossibilidade de conviver com a realidade.
As afirmações desse “acadêmico” com respeito aos dados cambiais e fiscais do governo FHC também são do mesmo teor altamente irresponsável na transcrição dos dados reais; elas vêm carregadas de tanta desinformação que seria custoso reapresentar aqui todas as estatísticas corretas quanto à evolução dos dados macroeconômicos nos dois mandatos daquele presidente. Na verdade, todas as suas “informações” econômicas possuem o mesmo rigor demonstrado pelas afirmações sobre a inflação mundial, acima indicadas, comprovando uma capacidade de deformar os dados reais raramente visto nos anais da academia.
Se as universidades brasileiras multassem os professores que manipulam grosseiramente os dados como fez esse acadêmico, seu próximo contra-cheque viria seriamente diminuído, talvez ultrapassando o valor do salário (não merecido, pelo menos não pela missão de desinformação politicamente motivada). É triste constatar que a academia brasileira, que certamente não estimula a adesão de seus membros à mentira e à deformação estatística, abriga um acadêmico que, não contente de se rebaixar à função de cabo eleitoral, ainda pretende reescrever a história com dados fantasiosos e argumentos totalmente equivocados.

Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 2213, 26/10/2010

Brasil-Venezuela: fim de uma bela amizade?

Corrijo imediatamente: não se trata, exatamente, da amizade entre o Brasil e a Venezuela, ou entre os povos do Brasil e da Venezuela, essa sim inquebrantável, destinada a grandes realizações no presente e no futuro, amarrada por laços de cooperação e de integração jamais vistos no continente, e todo esse blá-blá-blá costumeiro, enfim, o bullshit habitual transposto num diplomatês mais correto...
Não, se trata da amizade entre dois líderes populistas, ops, populares, que se amavam muito, tanto que um defendia o outro, chegando um a dizer que "nunca se viu tanta democracia num só país" (vejam vocês que sinceridade em nome da verdadeira amizade), dois caudilhos, ops, estadistas que sempre fizeram o maior grande bem -- desculpem a linguagem, estou apenas seguinda a gramática usada nessa amizade -- a seus respectivos povos, a todos os povos do continente, à integração verdadeira, sem tutelas do império e outras interferências espúrias em nossa soberania ativa e altiva...
Parece que os dois referidos agitadores, ops, animadores da integração bilateral, plurilateral, continental e internacional (com os aliados certos, entenda-se), que por um momento disputaram a primazia regional, a liderança política neste continente vazio de líderes, já não se bicam mais. Pelo menos é o que diz esse jornalista venezuelano em seu site de fofocas políticas.
Paulo Roberto de Almeida

EL HERMANO LULA
Por unas declaraciones en las que supuestamente cuestionaba algunas acciones del Gobierno venezolano y más en particular algunas actitudes del comandante-presidente fue que el caudillo no quiso recibir una nueva visita del brasilero a Caracas. Lula habría conversado además con otros colegas presidentes los que informaron a sus ministros y por allí se fugó una confidencia muy dura contra las "palhaçadas" e "improvisações" del "reizinho" venezolano...

Da coluna Runrunes
do jornalista
NELSON BOCARANDA SARDI
El Universal, martes 26 de octubre de 2010

E por falar em farsas e mentiras...

Limito-me a transcrever três artigos recentes, que refletem o clima de divisão no país, divisão aliás estimulada pelo presidente da república (com "r" minúsculo, em seu governicho).
Paulo Roberto de Almeida

O estilo desfaz o homem
Dora Kramer
O Estado de São Paulo, 24 de Outubro de 2010

Daqui a oito dias, no próximo domingo antes das 9h da noite, o presidente Luiz Inácio da Silva começará a vivenciar o passado, as urnas apontem a eleição de Dilma Rousseff ou de José Serra para lhe suceder na chefia da Nação.

É inexorável: eleito, as atenções se voltam para o novo, o próximo, aquele que de fato traduz mais que uma expectativa, representa o poder em si. Político baiano da velha guarda, Afrísio Vieira Lima tem a seguinte filosofia: “Ninguém atende ao telefone ou à porta perguntando quem foi, todo mundo quer saber quem é.”

Pois é. Face à evidência de que a natureza humana não falha, o mundo político não foge à regra. No momento seguinte à proclamação do resultado, o País – quiçá o mundo – voltará toda a sua atenção para a fala, os planos, os gestos, as vontades, os pensamentos, a biografia, a família, os amigos e tudo o mais que diga respeito à pessoa que a partir do primeiro dia de 2011 dará expediente no principal gabinete do Palácio do Planalto.

Quando a gente vê um presidente tomar a iniciativa de se desmoralizar em público apenas porque não resiste ao impulso de insultar o adversário, a boa notícia é que falta pouco tempo para que esse estilo comece a fazer parte de referências pretéritas.

Abstraindo-se juízo de valor a respeito de Dilma e Serra, chegará ao fundo do poço que o presidente Lula se deu ao desfrute de frequentar na semana passada. Pela simples razão de que é impossível.

A novidade não esteve na distorção dos fatos – isso já faz parte da rotina. O ineditismo foi o desmantelo da farsa. Melhor dizer, das farsas, pois foram duas: uma engendrada com vagar, outra montada às pressas. Ambas malsucedidas, não duraram 24 horas.

No começo da semana, quando já se anunciara o adiamento do fim da sindicância da Casa Civil sobre Erenice Guerra para depois das eleições, eis que a Polícia Federal ressuscitou o caso da quebra do sigilo fiscal de parentes e correligionários do candidato Serra, anunciando a identificação do responsável: Amaury Ribeiro Jr., jornalista que à época do crime trabalhava no jornal Estado de Minas.

O PT tentou legitimar, assim, uma versão que fazia circular desde junho quando se descobriu que os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, apareceram em um dossiê que chegou ao jornal Folha de S. Paulo como originário do PT.

A versão – não de todo inverossímil, diga-se – era a de que as informações haviam sido reunidas por Amaury a serviço do Estado de Minas para municiar Aécio Neves de dados contra José Serra, que, por sua vez, mandara investigá-lo.

Segundo um delegado e o superintendente da PF, Amaury dissera em seu depoimento que o trabalho visava a “proteger” Aécio. Antes da entrevista dos dois, o presidente da República anunciava que naquele dia a Polícia Federal teria novidades.

Pois no dia seguinte, sabe-se que nem Amaury estava a serviço do Estado de Minas na ocasião nem citara no depoimento o nome de Aécio Neves. Ou seja, o presidente Lula comandara uma falácia e a PF aceitara se prestar ao serviço, acrescentando que as investigações estavam encerradas.

Foi desmentida em seguida pelo Ministério Público, que avisou que a polícia não estava autorizada a determinar o rumo e os prazos das investigações.

Não satisfeito, depois da pancadaria promovida por petistas contra uma passeata do candidato tucano no Rio, o presidente resolveu acusar o adversário de ser um farsante. Precipitou-se, insultou o candidato em termos zombeteiros, desqualificou um médico de respeitável reputação, foi de uma falta de modos ainda pior que o habitual.

Isso tudo para quê? Para ser logo em seguida desmentido pelos fatos exibidos no noticiário de televisão com a maior audiência do País, o Jornal Nacional.

Tudo isso sem necessidade, pois pelas pesquisas sua candidata está com 12 milhões de intenções de voto de vantagem sobre o adversário.

Tudo isso pelo exercício de um estilo abusivo que não conhece limites, mas que daqui a oito dias começará a perceber que o poder passa e a ausência dele dói.

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Brincadeira tem hora
Dora Kramer
O Estado de São Paulo, 24 de Outubro de 2010

Em primeiro lugar, o presidente Luiz Inácio da Silva é a última pessoa com autoridade moral para falar em farsas ou em “mentira descarada”, visto que é protagonista da maior delas: a falácia segundo a qual recebeu uma “herança maldita” e que a estabilidade econômica, a abertura do Brasil para o mundo, o crescimento e a entrada de milhões do mercado consumidor deve-se exclusivamente ao seu governo.

Há pouco seu governo inteiro junto com sua candidata à Presidência produziram “mentiras descaradas” ao repudiarem as denúncias de que havia na Receita quebras de sigilo fiscal de adversários políticos e que um esquema de tráfico de influência e corrupção estava montado a partir da Casa Civil.

Lula também se precipitou ao atribuir as quebras de sigilo a uma “briga de tucanos”. Baseava sua tese no fato de o mandante ser repórter do Estado de Minas sem saber que à época Amaury Ribeiro estava em férias a serviço de outrem.

O presidente da República dá razão ao antecessor que o chama de “chefe de uma facção”, quando escolhe insuflar a violência no lugar de contribuir para apaziguar os ânimos.

É o que faria um estadista.

Justiça se faça, Lula não ficou só em sua tentativa de ridicularizar o episódio. Muitos na imprensa partiram para ironias, achando um exagero a reação de José Serra atingido, afinal, só por “uma bolinha de papel”.

Foram duas imagens captadas em dois momentos diferentes, comprovou-se ao longo do dia. Mas, ainda que o candidato tucano tenha feito drama, continuam sendo inaceitáveis os ataques de militantes contrariados com a passagem do tucano pelas ruas de Campo Grande (RJ). Brincar com isso é má-fé, tratar como banal a violência eleitoral e, sobretudo, não entender o valor em jogo.

Impedir um ato de campanha com tumultos é violência. Bem como foi violência atirar um balão cheio de água sobre o carro onde estava a candidata Dilma Rousseff ontem em Curitiba. O balão não a atingiu, mas poderia ter atingido. Ainda assim resta a intenção: agredir.

O presidente da República condenará uma violência, mas aprovará a outra? Ou dirá que estava apenas condenando o “teatro” do adversário? Nisso não é crítico autorizado.

É partícipe e mesmo condutor de uma caminhada em direção ao retrocesso: a nos tornarmos permissivos com o uso da violência na política, assim como já estamos no rumo de revogar a integralidade do preceito do livre pensar.

Ovos da serpente
É assim que começa: a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou projeto de um conselho para atuar entre outras funções no “exercício fiscal sobre a prática da comunicação”.

Em Goiás, a TV Brasil Central, do governo do estado, não pode entrevistar adversários políticos.

O projeto de controle da mídia foi iniciativa de uma deputada estadual do PT cearense, aprovado por unanimidade, e ainda precisa passar pelo crivo do governador Cid Gomes.

A censura foi denunciada, num gesto inédito, ao vivo pelo jornalista Paulo Beringhs, proibido de entrevistar o candidato ao governo Marconi Perillo (PSDB), chamado no dia anterior de “mau-caráter” pelo presidente Lula em palanque.

Liberdade e luta
Já que Chico Buarque puxou o assunto ao manifestar seu encanto com o fato de o governo Lula “não falar fino com Washington nem falar grosso com Bolívia e Paraguai”, vamos ao fato: o governo brasileiro não deveria é falar fino com ditaduras.

Aliás, o mundo da cultura, que sofreu pesadamente os efeitos da durindana local, nos últimos anos não se incomodou – se o fez não foi em voz alta – com a maleabilidade das vértebras do presidente Lula diante de tiranos.

A complexidade das relações exteriores não cabe em um jogo de palavras. Já a condenação aos crimes das ditaduras às quais o Brasil se dobra para espanto do mundo requer apenas dois atributos: coerência e solidariedade.

Independentemente da opinião eleitoral.

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Sobre farsas
Merval Pereira
O Globo, 24 de Outubro de 2010

Não satisfeito de ter transgredido todas as normas legais relativas à campanha eleitoral no afã de eleger a candidata que tirou da cartola, o presidente Lula na reta final da eleição perdeu qualquer vislumbre de constrangimento que porventura ainda tivesse e passou a fazer campanha política 24 horas por dia, antes, durante e depois do expediente oficial de presidente da República, em todas as dependências oficiais do governo.

E participou diretamente nos dois últimos dias de duas das mais vergonhosas tentativas de farsas políticas da história recente do país.

Ontem, ele se despiu dos rigores do cargo e assumiu o papel do cabo eleitoral mais energúmeno que possa haver.

(Antes que algum petista desavisado ache que estou xingando Sua Excelência, devo esclarecer que utilizo o termo energúmeno no sentido de “fanático”. A palavra parece um palavrão, mas não é.

Na coluna de ontem, escrevi que Serra fora atingido por um “artefato” e houve petistas exaltados que vissem no termo um sentido alarmante que ele não tem. Usa-se a palavra para definir “qualquer objeto manufaturado”. Como não sabia o que havia atingido o candidato tucano, usei a palavra. E acertei, como veremos).

Voltando ao caso, o cabo eleitoral Lula da Silva disse que a agressão sofrida por Serra era uma “mentira descarada”.

Segundo ele, depois de ver imagens das redes Record e SBT, ficou convencido de que Serra fora atingido por uma bolinha de papel e seguiu caminhando por mais 20 minutos, quando recebeu um telefonema “de algum assessor da publicidade da campanha que sugeriu parar de caminhar e pôr a mão na cabeça para criar um factoide”.

Para encerrar o festival de irresponsabilidades, Lula comparou o caso ao do goleiro chileno Rojas, que fingiu ter sido atingido por um rojão num jogo contra o Brasil.

Ontem, o Jornal Nacional demonstrou, com o auxílio de um perito, que quem criou um factoide com claros objetivos políticos foram as reportagens que montaram dois momentos diferentes como se fossem uma sequência, tentando desqualificar o que foi uma atitude política digna dos regimes fascistas.

Serra foi atingido, sim, por uma bobina de papel crepe (o tal “artefato”) que, arremessado com força, pode provocar danos graves na pessoa atingida.

A agressividade dos cabos eleitorais petistas em si mesma já era motivo para preocupação, pois em democracias não é aceitável que grupos tentem impedir outros de se manifestar.

Desse ponto de vista, é lamentável o que ocorreu ontem em Curitiba, quando a candidata oficial foi recebida com bolas de água jogadas de cima de prédios. Se atingissem alguém, elas seriam tão perigosas quanto o “artefato” que atingiu Serra.

O que não é comparável é a origem dos dois fatos. O primeiro foi uma ação política orquestrada com a intenção de agredir o candidato oposicionista. A outra é uma irresponsabilidade.

Na quarta-feira, Lula havia anunciado para os jornalistas a conclusão de um inquérito que a Polícia Federal realizou sobre a quebra de sigilo fiscal de parentes e pessoas ligadas ao candidato da oposição José Serra.

O próprio presidente, depois de ter tentado desqualificar as denúncias sugerindo que se tratava de uma ação eleitoreira de Serra, viu-se obrigado a convocar a Polícia Federal para investigar o caso.

Soube em primeira mão o resultado do inquérito e pareceu satisfeito, tanto que anunciou aos jornalistas, sem que fosse perguntado, que a Polícia Federal iria revelar “a verdade dos fatos”, que nada tinha a ver com “as versões”.

De fato, a Polícia Federal retirou todo caráter político da investigação, e anunciou que o responsável pela compra dos sigilos quebrados era o jornalista Amaury Ribeiro Junior quando ainda trabalhava no jornal “Estado de Minas”.

O PT passou então a espalhar a versão de que se tratava de uma briga interna dos tucanos, e que o serviço sujo fora feito para ajudar Aécio Neves na disputa interna com Serra pela indicação a candidato do partido a presidente.

A suposição era de que o jornal “Estado de Minas” mantinha estreita ligação com Aécio e designara seu repórter investigativo para devassar a vida de seu adversário.

O próprio Amaury Ribeiro Junior disse que fizera os levantamentos “para proteger Aécio”, mas em nenhum momento afirmou que fora designado pelo jornal para tal tarefa, apenas insinuava o vínculo.

Não bastou que o jornal e Aécio desmentissem essa hipótese, a rede de intrigas petista passou a anunciar como verdade o “fogo amigo” tucano como gerador da quebra dos sigilos fiscais.

Pois ontem a verdade veio à tona: o jornalista não estava mais trabalhando para o “Estado de Minas” quando encomendou a quebra de sigilo dos parentes de Serra e de pessoas ligadas a ele no PSDB, e agora acusa o petista Rui Falcão, coordenador da campanha de Dilma, de ter roubado os dados de seu computador.

Esses dados, juntamente com a informação de que havia sido criado um grupo de espionagem dentro da campanha, foram vazados para a imprensa em decorrência de uma disputa de poder entre Fernando Pimentel, responsável pela contratação dessa equipe de “jornalistas investigativos” para trabalhar no “setor de inteligência” da campanha, e Rui Falcão.

Agora a Polícia Federal tem a obrigação de prosseguir nas investigações para saber quem financiou o jornalista Amaury Ribeiro Junior desde a compra dos sigilos até que surgisse oficialmente como membro da campanha dilmista no tal “setor de inteligência”.

Do jeito que as coisas ficaram, a sensação é de que a Polícia Federal foi usada pelo governo para revelar, às vésperas do segundo turno da eleição, apenas informações que prejudicassem o campo oposicionista.

A nota indignada do diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, repudiando o uso político das investigações, só pode ser considerada se a atitude da Polícia Federal corresponder a ela, o que não aconteceu até agora.