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quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Brasil no caminho da decadencia argentina? - Rogelio Núñez

OK, não vou falar do Brasil. Mas acho interessante aprender com os erros dos outros. O problema, neste caso, é que a Argentina abusa da faculdade de errar: ela comete as mesmas bobagens, reiteradamente, sem qualquer autocrítica; ela repete os mesmos atos insanos, várias vezes seguidas, e assim vem fazendo, nos últimos 80 anos, pelo menos...
Será que vamos pelos mesmos caminhos?
Paulo Roberto de Almeida

Argentina, um país de solavancos e em decadência

Infolatam
Madri, 16 de julho de 2013
(Especial para Infolatam por Rogelio Núñez)-. A Argentina era no início do século XX a grande potência sul-americana e seu PIB equivalia a 90% dos países mais avançados nesse momento. No entanto, desde 1930, entrou em uma lenta decadência que, até hoje, não parou. Muitos são os motivos que explicam essa decadência argentina, um deles, de raiz política, se vincula com os solavancos aos quais a classe dirigente tem submetido ao país.
Uns solavancos que finalmente estenderam entre a comunidade internacional uma sensação de desconfiança para o todo argentino. Não em vão, Nestor Kirchner levantou como bandeira eleitoral em 2003 a ideia de que queria “uma Argentina normal, quero que sejamos um país sério”.
Os solavancos, produto entre outras coisas da forte polarização política que o país vive historicamente, se refletiram em muitos aspectos de sua realidade. Por exemplo, em sua política exterior.
Uma política externa esquizofrênica
Juan Domingo Perón em sua primeira época de predomínio político passou de hastear uma posição de independência e autonomia com respeito aos EUA (a chamada Terceiro Posição) a dar uma clara volta para posições próximas à administração Eisenhower (com, por exemplo, o não respaldo ao governo de Jacobo Arbenz em 1954).
Hugo Chávez e Cristina Fernández com retrato de Néstor Kirchner
No atual período democrático (1983-2013) se pôde rever vaivéns desse tipo em cada administração.
Da postura “terceiro mundista” e inclinado aos “Não alinhados” de Raúl Alfonsínpassou às “relações carnais” com os EUA, nas palavras do chanceler Guido Di Tellano governo de Carlos Menem.
“Não queremos ter relações platônicas: queremos ter relações carnais e abjetas”, comentou nos anos 90 o então chanceler.
Para acabar, já na época dos Kirchner, em uma aliança de fato com a Venezuela chavista e um claro confronto com as administrações tanto de Bush como deObama.
“Estamos demonstrando não apenas lucros econômicos e sociais, senão que temos demonstrado o que muitas vezes quiseram nos mostrar dos grandes centros de suposta civilização, que seguem resolvendo suas diferenças com explosões de bombas”, disse em 2011 a presidente Cristina Kirchner.
Falta de uma ideia país
A política exterior não foi senão fiel reflexo de uma política interna e econômica sem coerência, continuidade ou consensos.
Governos de claro matiz intervencionista e inclusive estadista e outros mais inclinados ao “neoliberalismo” foram acontecendo nos últimos 60 anos sem solução de continuidade.
Cristina Fernández e Nestor Kirchner na praça de Maio em junho de 2008
Inclusive nas administrações de Juan Domingo Perón (1946-55) pôde se ver um peronismo estadista entre 1946 e 1952 que abriu caminho depois a um mais aberto aos investimentos estrangeiros e à iniciativa privada entre 1952 e 1955.
Essa liberalização teve uma segunda parte durante o governo de Arturo Frondizi (1958-62), mas se viu interrompida durante a gestão deArturo Illia (1963-66) que, por exemplo, renegociou os contratos petroleiros assinados por seu antecessor.
Os projetos liberais no terreno econômico de Adalberto Krieger Vasena durante a ditadura de Juan Carlos Onganía (1966-70) ou de José Alfredo Martínez de la Hoz na época dos governos militares (1976-83) deram passagem a posturas menos ortodoxas e planos de ajuste heterodoxos na primeira administração democrática, a de Raúl Alfonsín (1983-89).
Não seria a última virada, pois a chegada de Carlos Menem em 1989 e a tomada de posse como ministro de Economia de Domingo Cavallo deram passagem ao modelo da Convertibilidade baseado em políticas de abertura comercial e financeira, privatizações e diminuição do tamanho do estado.
Luis Alberto Romero (historiador): “a partir de 1980 vivemos em uma Argentina decadente e exangue, em declínio em quase qualquer aspecto que se considere”.
O colapso deste modelo entre 1997 e 2001 abriu caminho ao experimento industrialista de Eduardo Duhalde e, sobretudo, à aposta de Néstor Kirchner por enterrar e acabar com o legado dos 90, o neoliberalismo menemista.
Em 2010, por exemplo, Nestor Kirchner dizia: “os processos regionais custam muito pelas assimetrias e porque vimos de profundas crises econômicas que nos levou o neoliberalismo nos anos 90”.
Nessa linha, os Kirchner apostaram por um maior papel do Estado e por regressar às nacionalizações (Aerolineas Argentinas e YPF) e a um aberto intervencionismo com controles de preços incluídos.
Toda esta sucessão de vaivéns conduziu o estado atual da Argentina que, como assinala o historiador Luis Alberto Romero, supõe o final de “uma Argentina vital, vigorosa, sanguínea e conflitiva, que se construiu no final do século XIX e ainda era reconhecível ao concluir a década de 1960. A partir de 1980, pelo contrário, vivemos em uma Argentina decadente e exangue, em declínio em quase qualquer aspecto que se considere”.
O próximo governo argentino terá por adiante muitos desafios, mas o de fazer um consenso entre políticas de estado coerentes e com continuidade que tornem a Argentina um país sério, será um dos principais desafios desse governo.
De novo, Romero disseca o que ocorre com o país: “o kirchnerismo expressa hoje a fase superior da longa crise argentina. É tão duro e resistente como a própria crise. Não será fácil reverter tudo isto, mas há uma possibilidade. A Argentina é manejada por um grupo poderoso e fraco ao mesmo tempo, pois sua força, certamente fundada nos votos, reside no controle férreo do poder político por uma só mão. Sua primeira linha de defesa é ao mesmo tempo a última. Mudar o rumo da longa crise argentina é uma tarefa prolongada e complexa. Mas, constituir em 2015 um governo que inicie esse caminho está na ordem do possível”.
Traduzido por Infolatam

domingo, 26 de maio de 2013

E por falar em decadas perdidas, a Argentina ja acumulou pelo menos oito...

Lembro-me perfeitamente bem, mais de dez anos atrás, quando o Brasil já tinha saído de suas décadas perdidas -- grosso modo o período que vai da crise da dívida externa, em 1982 (mas ela tinha raízes ainda no primeiro choque do petróleo, em 1973), até a estabilização parcialmente alcançada em 1994, e consolidada em 1999-2000 -- aí pelas alturas de 2001-2002, quando a Argentina ainda se debatia nas agruras da sua crise terminal da lei de conversibilidade e não tinha ainda entrado na gloriosa década dos K, a partir de 2003, lembro-me, pois, perfeitamente bem de uma discussão que tive com um alto figurão da república dos companheiros, que também se preparava, então, para tomar o poder, discussão na qual esse figurão (aliás do MRE) defendia ferrenhamente a decisão argentina de moratória unilateral (que até hoje não foi completamente absorvida pelas vítimas do calote) e as decisões posteriores de intervenções pesadas no jogo econômico, com perdas enormes para as empresas nacionais e estrangeiras que tinham investido em diversas áreas abertas pelo Estado na "década menemista", e eu, modestamente, dizia que tudo isso iria custar muito caro à Argentina e ao povo argentino.
Pois bem, parece que fui desmentido por muitos anos de grande crescimento argentina durante a primeira era dos K (mas muito era recuperação da enorme descida aos infernos nos anos 2001 e 2002, com um recuo de talvez 10 ou 15% no PIB), mas eu persistia em dizer que o preço ainda seria pago um dia.
Acho que esse dia já chegou, e a Argentina vai pagar caro, e o seu povo idem, coitado, por todos esses anos de abusos inacreditáveis não apenas contra a teoria econômica e o que dizem os manuais de faculdade, mas sobretudo contra os mais elementares princípios da boa conduta nos assuntos públicos, com atropelos constantes à legalidade e à própria constitucionalidade.
Os companheiros, que aplaudiam ruidosamente a conduta argentina -- principalmente seu calote contra os banqueiros internacionais, mostrando aliás que eles nunca entenderam de mercados financeiros -- devem estar hoje apreensivos, ao ver que esse "modelo" está fazendo água, e o pior é que vai prejudicar ainda mais o Brasil, como já tinha prejudicado desde os anos 1990 e especialmente a partir de 2002-2003, ante a completa passividade do nosso irresponsável dirigente, que deixou de defender os interesses nacionais e foi cúmplice no afundamento do Mercosul.
Mais um crime econômico que pode ser creditado ao inacreditável desastre moral que tem sido a nossa lula-década.
Paulo Roberto de Almeida


Os Kirchners e a década perdida

25 de maio de 2013 | 2h 04
Editorial O Estado de S.Paulo
Numa nova tentativa de reconquistar parte do apoio que a presidente argentina Cristina Kirchner perde velozmente, a Casa Rosada vem procurando popularizar o nome de "década ganha" para a grande festa de comemoração dos dez anos da chegada dos Kirchners ao poder. Para boa parte dos argentinos e, certamente, para a grande maioria dos produtores rurais, no entanto, a festa, se simbolizar alguma coisa, sintetizará uma década perdida.
A produção e as exportações de itens que, no passado recente, caracterizaram a pujança da agroindústria argentina estão em queda, há desânimo no campo e os agricultores lamentam a perda da oportunidade aberta no mercado internacional aos exportadores de commodities, com o alto preço desses itens. Mesmo que, daqui para a frente - numa inesperada e improvável correção de suas políticas nocivas para o setor produtivo e punitivas para os consumidores -, o governo Kirchner faça as coisas certas e libere as exportações, as vantagens para o país serão bem menores do que poderiam ter sido: os preços das commodities estão em queda.
Os problemas para a agricultura argentina começaram no governo de Néstor Kirchner (2003-2007). Sua sucessora e esposa, Cristina Kirchner, que está no segundo mandato presidencial, criou outros e, por causa do estrito controle exercido pelo secretário de Comércio Interior de seu governo, Guillermo Moreno, vem tornando ainda mais difícil a produção e, sobretudo, as exportações. Embora pareçam surpreendentes, os dados recentes sobre a notável perda de importância da agricultura argentina no cenário mundial são a consequência inevitável da política kirchnerista.
A Argentina é historicamente conhecida como importante produtor de carne bovina, pela qualidade de seu produto e, sobretudo, pela condição de ser um dos principais fornecedores mundiais. Cada vez mais, porém, o estrangeiro que quiser provar a qualidade desse produto terá de fazê-lo em território argentino. A carne foi o primeiro produto a entrar na lista baixada pelo governo Kirchner (o presidente era Néstor, morto em 2010) de itens que teriam sua exportação controlada, sob o argumento de que era necessário "garantir a oferta doméstica e preços acessíveis".
Disso surgiram duas consequências. A carne tornou-se um dos alimentos básicos mais caros da dieta dos argentinos. E a Argentina, que chegou a ser o terceiro maior exportador de carne do mundo, hoje está na 11.ª posição e exporta menos do que o Uruguai e o Paraguai (o Brasil é o segundo maior exportador, atrás da Austrália).
Em 2005, a Argentina exportou 771 mil toneladas de carne; em 2012, apenas 183 mil toneladas. As vendas externas do produto são taxadas com um imposto adicional de 15%, chamado de retenção. Além disso, os frigoríficos dispõem de cotas de exportação rigidamente fixadas por Moreno e seu fornecimento para o mercado doméstico está sujeito a tabelamento.
Como resultado, os pecuaristas passaram a se dedicar a outras atividades, como a produção de soja, cuja exportação está sujeita a uma retenção maior (35%), mas não depende de cotas. O rebanho, de 57 milhões de cabeças em 2007, se reduziu para 48 milhões em 2010. Houve uma pequena recuperação nos dois últimos anos.
O país vem perdendo posições também nas exportações de outros produtos, como leite e trigo. O problema tornou-se crítico no caso das exportações da área de energia. Em 2011, a Argentina tornou-se o quarto maior exportador mundial de biodiesel, mas, desde o ano passado, enfrenta crise nessa área. A produção no primeiro trimestre deste ano foi 39,8% menor do que a de igual período de 2012, enquanto as exportações diminuíram 51,2%.
É a consequência do gesto populista de maio de 2012, quando o governo Kirchner estatizou as ações que a espanhola Repsol detinha na petrolífera YPF. Em represália, a Espanha suspendeu as importações do biodiesel argentino. E a Espanha é a principal porta de acesso do produto à União Europeia, que absorvia 75% das exportações do biodiesel argentino.

sábado, 18 de maio de 2013

As ideias andantes dos que ja nao andam mais: natural que seja assim...

Não sei se outros partilham da minha opinião, mas nunca vi, em nenhum lugar do mundo, em qualquer época, um líder político, receber doutorados honoris causa por atacado, às bateladas, de arrastão, se poderia dizer.
Só na América Latina...
E ainda se orgulham... eles e as universidades.
Eu teria uma outra atitude.
Quanto às ideias, bem, seria o caso de conhecê-las, se é que andam por aí, de fato...
Paulo Roberto de Almeida


Lula: Ideas de Chávez y Kirchner siguen circulando en Latinoamérica

RPP notícias, Jueves, 16 de Mayo 2013  |  9:00 pm
Lula: Ideas de Chávez y Kirchner siguen circulando en Latinoamérica
Fuente: EFE
Exmandatario de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, recordó que junto a Kirchner y Chávez dieron nuevo impulso al proceso de integración regional.
El expresidente brasileño Luiz Inácio Lula da Silva afirmó que las ideas de los fallecidos mandatarios Néstor Kirchner, de Argentina, y Hugo Chávez, de Venezuela, circulan "creando inteligencia y conciencia" en Latinoamérica.
Al asistir este jueves en Buenos Aires, junto a la presidenta argentina, Cristina Fernández, a la inauguración de la Universidad Metropolitana para la Educación y el Trabajo (UMET), creada por el sindicato de encargados de edificios de apartamentos, Lula recordó que fue él, junto a Kirchner y Chávez, quienes dieron nuevo impulso al proceso de integración regional.
"Su carne está enterrada pero sus ideas están por ahí, circulando por toda América Latina, creando inteligencia y conciencia en la mente de cada latinoamericano", afirmó el exmandatario brasileño.
Lula recordó cómo junto a Néstor Kirchner compartió "ideas y proyectos para acercar a ambas naciones, para consolidar la integración regional de Latinoamérica, que hoy vive uno de los momentos más extraordinarios de su historia".
Fernández: Argentina ha crecido junto con sus hermanos suramericanos
Da Silva resaltó por otra parte que la inauguración de esta universidad tiene un "enorme simbolismo" ya que es impulsada por trabajadores.
"Nosotros no hicimos milagros porque no existe milagros en la política. Solamente hicimos aquello a lo que fuimos llamados, contribuimos en nuestros gobiernos a democratizar la sociedad brasileña. La educación desempeña una función clave en esta misión", afirmó el exgobernante brasileño.
Por su parte, Fernández afirmó que "Argentina ha crecido junto con el resto de sus hermanos suramericanos", "con gobiernos que creen en la igualdad de oportunidades".
Fernández sostuvo que Kirchner junto a Lula derribaron "ese mito de la rivalidad brasileño-argentina, que impedía que ambos países crecieran juntos y servía a intereses que eran totalmente contrarios al desarrollo de los dos países".
"Ustedes quebraron esa valla, ese mito, esa leyenda, esa pretendida desunión entre Argentina y Brasil", dijo la mandataria argentina.
Según informaron fuentes oficiales, esta noche Cristina Fernández recibirá a Lula da Silva en audiencia en la Casa Rosada, sede del Ejecutivo argentino.
Este viernes, Fernández y Da Silva asistirán al Senado argentino, donde el expresidente brasileño recibirá varios títulos honoríficos concedidos por diferentes universidades argentinas.
EFE

sábado, 11 de maio de 2013

Chá de cadeira em Dilma - Editorial Estadao

Como desorganizar uma agenda diplomática? Vamos ver:
O padrão de atraso no governo anterior era de 50 minutos, mais ou menos.
O padrão de atraso do bolivarianismo era de 1h:30ms, mas podia ser mais.
Agora, parece que aumentou para 2hs.
Sinal de progresso, de crescimento?
Paulo Roberto de Almeida


Chá de cadeira em Dilma

Editorial O Estado de S.Paulo, 11 de maio de 2013
A presidente do Brasil é Dilma Rousseff, mas isso parece ser apenas um detalhe. Na fabulação bolivariana, ela não passa de uma nota de rodapé ante os "gigantes" Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez e Néstor Kirchner. Por isso, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não teve nenhum pudor em deixá-la esperando por quase duas horas, durante sua visita ao Brasil, enquanto se encontrava com o ex-presidente Lula. Não foi apenas Dilma que saiu menor desse episódio. É a própria Presidência brasileira que encolhe a olhos vistos ante o menosprezo de Lula pela liturgia do cargo que ele não mais ocupa, mas do qual não consegue "desencarnar". Dilma, por sua vez, obediente e disciplinada, parece aceitar seu status de presidente ad hoc.
Como se sabe, Maduro veio ao Brasil para obter a legitimidade política que lhe falta na Venezuela, graças à truculência com que ele está tratando a oposição - dona de metade dos votos na controvertida eleição vencida pelo herdeiro de Chávez. Maduro enfrenta resistência também nas próprias fileiras chavistas, porque, com a morte do Comandante, se multiplicaram focos de rebelião daqueles que se sentiram preteridos dentro do Politburo venezuelano e relutam jurar lealdade ao presidente.
Já começam a circular rumores de que os próprios chavistas, principalmente o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, estão conspirando para prejudicar Maduro. Suspeita-se que Cabello - que já está sendo chamado de "ditador em espera", é muito ligado aos militares e não é bem visto pelo regime cubano, padrinho de Maduro - esteja incitando a violência para precipitar a crise.
Tudo isso acontece em meio a uma avassaladora crise econômica, cujo lado mais perverso e politicamente explosivo é o desabastecimento de alimentos - que Maduro atribuiu à "sabotagem econômica", sem reconhecer a óbvia incompetência de seu governo. Não surpreende que já haja pesquisas mostrando que, se a eleição presidencial fosse hoje, o vencedor seria o opositor Henrique Capriles.
Nesse contexto, Maduro veio ao Brasil para pedir ajuda - que se traduzirá em acordos comerciais francamente desequilibrados em favor da Venezuela - e para consultar-se com Lula para saber o que fazer. O ex-presidente não o decepcionou. "Hoje, Lula nos banhou de sabedoria", declarou, entusiasmado, o venezuelano, após a audiência que contou também com a presença do presidente do PT, Rui Falcão, numa deliberada confusão de questões de Estado com interesses político-ideológicos. Lula falou durante uma hora sobre sua "experiência de luta", disse Maduro, que qualificou o petista de "pai dos homens e mulheres de esquerda da América Latina". Para o venezuelano, "dos três gigantes que começaram este processo de integração da América Latina, Kirchner, Chávez e Lula, só nos resta Lula". Assim, a visita oficial de um chefe de Estado ao Brasil converteu-se em peregrinação para adorar um santo vivo e beber de seus "ensinamentos".
Somente depois de beijar a mão de Lula e de reconhecer-se como seu "filho" é que Maduro dirigiu-se ao Planalto para ser recebido por Dilma, que lhe reservou honras de Estado, a despeito do chá de cadeira que levou. Não contente em fazê-la esperar, Maduro ainda lhe presenteou com um enorme retrato de Chávez, numa cena constrangedora, que tornou a presidente ainda menor em todo o contexto. Restou a Dilma fazer um discurso curto, protocolar, em que exaltou a "parceria estratégica" entre Brasil e Venezuela e chamou de "momento histórico" o fato de que a Venezuela assumirá a presidência do Mercosul no segundo semestre - situação esdrúxula que só está sendo possível graças a um golpe bolivariano para isolar o Paraguai, que se opunha à entrada da Venezuela no bloco.
À vontade, Maduro sentiu-se autorizado a dizer, sem que a mentira fosse contestada, que o projeto do Mercosul "nasceu em essência das ideias de Chávez". No culto à personalidade de Chávez e Lula, Dilma é cada vez mais apenas uma coadjuvante.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ironias da historia: um peronista morto pela Republica Sindical...

Quando é que isso vai acontecer por aqui?
Não digo peronistas (embora existam alguns), mas equivalentes funcionais, digamos assim...
Paulo Roberto de Almeida

Argentina After Kirchner
Peronist strongman Néstor Kircher may be dead, but the power of Big Labor is alive and well–and holding back economic reform.

By MARY ANASTASIA O'GRADY



BY MARY ANASTASIA O'GRADY

Buenos Aires

The night before former Argentine President Néstor Kirchner died of a heart attack—12 days ago—he is rumored to have had a heated argument with the leader of this country's largest labor union, known by its Spanish initials CGT. Some say it's what killed the Peronist strongman.

The dispute is instructive because it highlights the power of Big Labor in this country and explains why, despite the passing of this powerful politician who acted like a mob boss, there is still little hope that Argentina's economy will begin to modernize any time soon. It is also a cautionary tale ...
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Eu também acho que discutir com líderes sindicais pode fazer mal à saúde...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Kirchner: os mercados sao crueis e vingativos...

Claro que é bobagem esse título, colocado assim apenas para chocar.
Na verdade, os mercados apenas refletem o risco percebido por milhares de investidores.
Alguns malucos acreditam na teoria conspiratória da história, e acham que por trás dos mercados se encontra um bando de especuladores de Wall Street tramando contra os países "periféricos" ou "dependentes".
Bobagem total: os mercados são formados por milhares, centenas de milhares de poupadores e investidores que expressam suas crenças, apreensões e até irracionalidades atravése de operações de compra e venda de títulos, ações, papéis, whatever.
Claramente os mercados estão dizendo que o ex-presidente -- que Perón o guarde consigo, onde estiver -- era um risco tremendo para a saúde da economia.
Eu sei disso: uma vez fiquei parado na Argentina sem gasolina, por causa dessa mania maluca do finado presidente de enfrentar os mercados, decretando congelamentos, retenciones, e outras bobagens maiores ainda...
Descanse em paz. Os mercados podem funcionar mais tranquilamente.
Paulo Roberto de Almeida

Ações da Argentina sobem após morte de ex-presidente
Folha de S. Paulo, 28.10.2010

Os valores das ações e dos principais títulos do governo argentino subiram após o anúncio da morte do ex-presidente Néstor Kirchner. Suas possíveis pretensões de concorrer às eleições presidenciais em 2011 eram consideradas um dado negativo pelo mercado financeiro. O ex-presidente era famoso por entrar em confronto com mercados e investidores. Analistas financeiros avaliam que, com sua morte, a Argentina passou a significar menos risco político. A Bolsa de Valores de Buenos Aires não funcionou ontem por causa de um feriado na Argentina. Mas os investidores começaram a comprar ativos atrelados à dívida argentina e ações do país que eram negociados no mercado financeiro internacional logo após o anúncio da morte.