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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Roberto Ellery: Balanço da economia em 2019 (LEITURA OBRIGATÓRIA)

UM BALANÇO DA ECONOMIA (E DA EQUIPE ECONÔMICA) EM 2019


Este ano tive a honra de ter sido convidado para encerrar o ciclo de seções de conjuntura do Conselho Regional de Economia do DF (CORECON-DF) com uma avaliação da economia em 2019. O evento ocorreu no dia cinco de dezembro, nesse post faço um resumo do que falei. Como de costume minha leitura tem mais foco em desafios e dificuldades do que em comemorações. Não que não tenham ocorrido coisas boas ou que o saldo não seja positivo, mas é porque acredito que a função de um acadêmico que resolve participar do debate público é mostrar os perigos. Já tem muita gente dentro e fora do governo trabalhando para animar a galera.

Antes de começar a falar de 2019 é importante contextualizar o que vou falar na leitura que faço da economia brasileira, especificamente da crise que estamos passando. Creio que existem duas crises econômicas, uma de longo prazo e outra de curto prazo. A primeira está relacionada a características estruturais da economia brasileira e se arrasta desde meados da década de 1970, a segunda está relacionada a graves erros de política econômica que começaram no segundo mandato de Lula e tomaram proporções gigantescas no primeiro mandato de Dilma.

A crise de longo prazo é caracterizada pela baixa produtividade e pelo baixo crescimento da produtividade em associação com uma baixa taxa de investimento. Sair dessa crise é trabalho para vários governos empenhados em uma agenda de reformas que mude profundamente a economia brasileira. Essa agenda passa por educação, ambiente jurídico, ambiente de negócios, estrutura tributária e de gastos do governo, modelo de financiamento da pesquisa e educação superior, relações de trabalho e etc. Uma agenda que começou a ser implementada em meados da década de 1990 e foi abandonada lá por 2006.

A crise de curto prazo foi inicialmente caracterizada por um desequilíbrio fiscal com forte aumento da dívida pública e um descontrole da inflação e foi agravada por uma política de subsídios e desonerações mal desenhada e mal implementada. As distorções causadas por essas políticas levaram a investimento ruins agravando o problema da produtividade e do investimento. Creio que o maior risco para economia brasileira é um retorno aos subsídios e desonerações que podem até gerar algum ganho de curto prazo, mas vão comprometer ainda mais a alocação de capital e trabalho por meio de estímulos a negócios inviáveis na ausência desses incentivos.

Grosso modo o atual governo parece ciente desse problema, mas vez por outra nos assusta como nas desonerações do Programa Verde e Amarelo e no uso da Caixa para tentar forçar a queda dos juros. Imagino que seja muito difícil resistir às pressões para resultados de curto prazo, mas a capacidade de resistir a essas pressões pode definir o rumo da economia na próxima década. Forçar um crescimento alto no curto prazo pode ser fatal no futuro não muito distante.

Com esse pano de fundo passemos a avaliação de 2019 com direito a algumas perspectivas para 2020. Começo pelo crescimento, a figura abaixo mostra o crescimento do PIB brasileiro entre 1996 e 2019, as barras mostram o crescimento trimestral e a linha mostra o crescimento em relação ao trimestre anterior. Aqui é possível ver a economia afundando ainda no primeiro semestre de 2014 e a recuperação em 2016.




Em 2019 o PIB seguiu um ritmo muito parecido com o de 2018, ou seja, continua recuperação lenta iniciada em 2016. A boa notícia é que os temores de uma nova recessão técnica não se concretizaram, a má notícia é que a frustração pode levar a equipe econômica a acionar o uso de incentivos para garantir um crescimento maior em 2020.

A decomposição do crescimento do terceiro trimestre de 2019 (último dado disponível) e o mesmo trimestre do ano anterior mostra que o maior crescimento veio da agropecuária que responde por 4,3% do PIB (5,0% do valor agregado) e cresceu 2,1% no período. Um aumento da demanda externa, notadamente da China, pode levar a um crescimento ainda maior desse setor, mas antes de soltar fogos lembre que ele responde por menos de 5% do PIB. O segundo setor com maior crescimento foi o de serviços que responde por 62,5% do PIB (72,7% do valor agregado) e cresceu 1,0% no período. Por ser o maior setor da economia tanto do ponto de vista do PIB quanto da criação de empregos o setor de serviços tem um papel fundamental para o crescimento econômico, porém exige cuidados por ser um setor muito heterogêneo entrando de atividades básicas fortemente dependentes da dinâmica econômica local até atividades de alta tecnologia. O setor que menos cresceu foi a indústria que responde por 19,1% do PIB (22,2% do valor agregado) e teve um crescimento de 0,96%.




Centro das atenções durante o período desenvolvimentista e corriqueiramente apontado por alguns economistas como o eixo dinâmica da economia a indústria merece uma atenção especial. Não por suas supostas propriedades mágicas, mas porque a análise dos grandes setores da indústria pode me ajudar a explicar minha leitura do atual momento da economia brasileira. A figura abaixo mostra o crescimento da construção civil, da indústria extrativa e da indústria de transformação.




O setor industrial que mais cresceu foi a construção civil com crescimento de 4,4%, é um setor importante que costuma sinalizar crises e recuperações e com impacto no emprego. Ocorre que também é um setor sensível a taxas de juros. O quanto desse crescimento está relacionado a queda da taxa de juros? O quanto está relacionado a ação de bancos públicos? O quão sustentável é a queda dos juros? São as perguntas básicas para avaliar as perspectivas do setor. Infelizmente não tenho as respostas, pelo menos não com a segurança necessária para compartilhar aqui. De toda forma vale registrar que se o crescimento da construção resultar de juros artificialmente baixos podemos estar recebendo o tipo de cavalo de Troia a que me referi quando falei dos riscos que a equipe econômica venha a sucumbir à pressão por resultados de curto prazo. Na cola da construção civil vem a indústria extrativa com crescimento de 4,03%. Esse setor da indústria costuma estar relacionado ao setor externo, mas é muito possível que a recuperação da Vale após o desastre de Brumadinho seja responsável por esse crescimento, repare a queda do setor nos períodos anteriores.

A indústria de transformação encolheu 0,54% no período. Se meus colegas que creditam a esse setor propriedades únicas para puxar o crescimento de longo prazo e a produtividade estiverem corretos esse é um número para lá de preocupante. Como não faço parte desta turma vejo o número com outra preocupação. Enquanto o desempenho da construção civil pode estar relacionado a estímulos e o da indústria extrativa pode estar relacionado a recuperação de um choque e efeitos externos o desempenho da indústria de transformação está mais relacionado à dinâmica interna da economia. A não recuperação da indústria de transformação deve acender uma luz amarela sobre quão sólida é a retomada do crescimento. Naturalmente não é o caso de estimular a indústria de transformação para ter um crescimento sólido, isso seria o equivalente a tentar emagrecer manipulando a balança. A ideia é que um bom ambiente econômico levará a um quadro de crescimento da produtividade com expansão da indústria de transformação e da economia como um todo. A receita para esse bom ambiente econômico é complicada, mas certamente passa por mais liberdade para que empresas e famílias tomem decisões adequadas sem medo das incertezas jurídicas e coisas do tipo.

Alguns colegas dentro e fora do governo estão com uma leitura bem mais otimista que a minha, boa parte deles está olhando o PIB pelo lado da demanda. No lugar de olhar a composição do PIB entre atividades produtivas como agropecuária, serviços e indústria olham para a distribuição do PIB em categorias como consumo do governo, consumo das famílias e investimento. Há um extenso debate entre economistas a respeito do quando esse tipo de análise, também chamada de análise pela ótica da despesa, explica o crescimento de uma economia. Até o ponto onde seja possível falar de consenso ele aponta para que tais efeitos, se existem, são de curto prazo. Exceção óbvia para o investimento que além de representar um elemento da despesa representa aumento da capacidade futura de produção. É por essa última característica, e não por ser um elemento de despesa, que o investimento pode afetar o crescimento de longo prazo.

A figura abaixo mostra o crescimento dos principais elementos da despesa (consumo das famílias, investimento e consumo do governo). O otimismo deriva da ideia que como o consumo das famílias cresce mais que o consumo do governo a economia estaria sendo puxada pelo setor privado. Não compartilho desse otimismo que chega a ter ares de euforia. Primeiro porque não acredito que consumo algum puxe o crescimento, possível exceção para situações muito específicas e mesmo assim no curto prazo, e segundo porque não há nada novo no crescimento do consumo das famílias ser maior que o crescimento do consumo do governo.




O crescimento do investimento pode ser uma boa notícia, mas é preciso cuidado. Na década passada ocorreu um forte crescimento do investimento que desaguou na crise gigantesca que estamos vivendo. Como já disse em outros lugares investir mal é muito pior do que não investir, para apontar o crescimento do investimento é necessário analisar com cuidado para onde está indo esse investimento. Essa análise está fora do escopo desse post, mas aviso que se o investimento for em estruturas que só foram compradas por conta de estímulos como as reduções de juros da Caixa no longo prazo não vamos ter muito o que comemorar, pelo contrário.

Alguns colegas respondem meus alertas apontando para a estimativas de crescimento superior a 2,0% para 2020. Com sou chato e chuto canela sem cerimônia registro que desde o começo da crise, com exceção de 2017, o pessoal do mercado superestimou o crescimento da economia no começo do ano. Na figura abaixo a linha azul claro mostra as expectativas de crescimento no começo de cada mês e a reta azul escuro mostra o crescimento que ocorreu no ano. É claro que 2020 pode repetir 2017, mas o registro do passado recente sugere que o crescimento de 2020 deve ficar abaixo do que dizem as previsões de janeiro.




A outra variável fundamental para avaliar uma economia é a inflação. Em 2019 a inflação deve ficar dentro do intervalo da meta e abaixo do centro da meta. O Boletim Focus de 20 de dezembro, último antes desse texto ser escrito, projetava uma inflação de 3,98% para este ano, se consideradas as previsões dos “Top 5” a inflação deste ano vai ficar em 4,04%. Nos dois casos está abaixo da meta, porém não é baixa, a meta que é alta. O pico de inflação em novembro que parece vai se repetir em dezembro deveria ligar o sinal de alerta no Banco Central. É fato que as previsões para 2020 apontam um IPCA na casa de 3,6%, mas se há mesmo uma mudança de regime como sugeriu Paulo Guedes essas previsões têm pouco valor. A figura abaixo mostra a inflação nos últimos anos com destaque para impressionante habilidade da equipe econômica do governo Temer, com Ilan Goldfajn à frente do BC, em controlar a inflação. Note que a linha pontilhada mostra a meta atual que é menor que a meta vigente no governo Dilma.




Muito provavelmente o desempenho do câmbio vai ser a peça-chave para a inflação e para os juros em 2020. A redução da taxa de juros diminui o prêmio de comprar títulos do Brasil, isso tende a fazer com que ocorra uma saída de dólares do país. Com essa saída ficam menos dólares no país e o preço do dólar, que é a taxa de câmbio, aumenta. É por isso que Paulo Guedes falou de um novo regime de juros baixos e câmbio alto. A figura abaixo mostra a taxa de juros no Brasil e nos EUA e ilustra de forma clara a queda da diferença, ou seja, a queda do prêmio de colocar dinheiro no Brasil.




Qual o efeito da redução do prêmio na saída de dólares? Qual o efeito da saída de dólares no câmbio? Qual o efeito do câmbio na inflação? Essas são as perguntas fundamentais para política monetária em 2020. Estudos para o Brasil mostram que o efeito do câmbio na inflação é pequeno, ocorre que esses estudos foram feitos com dados do regime de juros altos e câmbio baixo e hoje, segundo o próprio Paulo Guedes, estamos mudando para um regime de juros baixos e câmbio alto. Uma das principais lições da macroeconomia dos anos 70 é que resultados obtidos com dados de um regime podem não valer quando muda o regime, desta forma estamos no escuro em relação às perguntas acima, especialmente em relação a última. Por isso tenho recomendado cautela e pedido cuidado com a redução dos juros, manda o juízo que dirigindo no escuro andemos devagar.


 Como é possível ver nos dados o descontrole da inflação foi resolvido no governo Temer e, salvo um grande erro na condução da política monetária, não deve assombrar 2020. Outro problema foi o ajuste fiscal, esse é mais demorado para resolver. A projeções de déficit abaixo de R$ 100 bilhões para este ano decorrem de receitas extraordinárias, a redução do gasto ainda é muito pequena para que o governo respire aliviado. Um aumento das receitas pode ajudar no ponto de vista do déficit e da dívida, mas, dado o Teto de Gastos, não vai facilitar a vida do governo. Isso é bom!




O ajuste fiscal de longo prazo ganhou um grande reforço com a aprovação da reforma da previdência. Não vou entrar em debates sem fim sobre o déficit da previdência, tratei disso em várias outras oportunidades, a figura abaixo deve ser suficiente para deixar claro a importância da reforma para o ajuste fiscal. Nela estão os principais componentes na despesa primária do governo central. É visível que o gasto com previdência é o maior, o que mais cresce e o único que não foi controlado com os esforços de ajuste iniciados no final de 2014. Não seria possível controlar o gasto da União sem controlar o gasto com previdência.




O Plano Mais Brasil traz outros reforços para a política fiscal, desta vez no controle da folha de pagamento da União e dos estados. Como é possível ver na figura acima o gasto com pessoal e encargos é a segunda maior despesa primária da União, não apresenta uma tendência crescente como o gasto com previdência, mas é alto. Nos estados e municípios a situação é bem mais complicada. A figura abaixo mostra o comprometimento dos estados com pessoal em 2017, repare que em vários estados o gasto com pessoal e encargos ultrapassa 60% da receita corrente líquida.




Não bastasse os valores altos a tendência dos gastos com pessoal como proporção da receita corrente líquida é de crescimento em vários estados e na média dos estados. A figura abaixo ilustra esse fato.




Para controlar a despesa com pessoal e encargos o Plano Mais Brasil traz um conjunto de medidas, das quais destaco:

       Proibição de promover funcionários (com exceções), dar reajuste, criar cargos, reestruturar carreiras, fazer concursos e criar verbas indenizatórias
       Suspenção criação de despesas obrigatórias e de benefícios tributários
       Permissão para redução de 25% da jornada do servidor com adequação dos vencimentos

Por mais antipáticas que sejam são medidas importantes. A aplicação dessas medidas depende de condições específicas definidas nas PECs encaminhadas pelo governo. Uma pena que o governo tenha comprometido o discurso da necessidade de ajuste na folha ao conceder aumentos generosos aos militares que também ficaram de fora de medidas como a proibição de progressão funcional em períodos de emergência fiscal. Fica difícil pedir sacrifícios para os outros quando se distribui bondades para os seus.

Outra medida importante e polêmica do Plano Mais Brasil é que em 2020 e 2021 o salário mínimo será corrigido apenas pela inflação, ou seja, não haverá ganho real. É um assunto delicado dadas as diversas implicações da medida, mas alguns fatores devem ser considerados. O primeiro é que nos últimos anos o salário mínimo cresceu bem mais que a produtividade do trabalho, isso está ilustrado na figura abaixo.




Alguém pode dizer que isso acontecer para ajustar as perdas salariais ocorridas na década de 1990 ou mesmo desde a década de 1970. É difícil tratar desse assunto, mas a figura abaixo mostra que o salário mínimo cresceu bem mais que a renda média do trabalho. Isso sugere que de fato o salário mínimo cresceu muito e um freio de arrumação é necessário.




Uma outra medida importante do Plano Mais Brasil é suspender repasses do FAT para o BNDES quando de emergências fiscais, quem me acompanha por aqui ou no FB sabe o quanto defendo esse tipo de medida. A revisão dos fundos que foi objeto de PEC específica também parece ser uma boa medida.

Para além do ajuste fiscal e já chegando na crise de longo prazo o governo aprovou a MP da Liberdade Econômica e anunciou um “revogaço”. O quanto dessas medidas se tornarão realidade ou terão efeitos práticos é algo que só o futuro dirá, mas reconhecer o problema de excesso de regulação e tentar melhorar o ambiente de negócios sempre merece registro positivo. A figura abaixo ilustra o tamanho do problema. Saber que dentre os países de renda média-alta apenas na Venezuela é mais difícil pagar impostos do que no Brasil e que apenas na Venezuela e na Bósnia-Herzegovina é mais difícil conseguir permissão para construções do que no Brasil deveria assustar quem quer que pense na capacidade do Brasil retomar o crescimento econômico.




No começo do ano o governo prometeu uma forte agenda de privatizações, chegamos ao fim do ano sem privatizar nem mesmo a Eletrobras. Em respeito ao Salim Mattar vou esperar mais um pouco antes de tirar conclusões mais fortes, mas devo dizer que em 2019 o ousado programa de privatizações que traria um trilhão de reais ficou que nem o caviar da música: “Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar”. Outro front onde eu gostaria de ver mais avanços em 2020 é na abertura da economia.

Se o governo tem méritos inegáveis por tentar tocar uma agenda de reformas com vitórias importantes como a reforma da previdência também há uma agenda de contrarreformas que vez por outra dá as caras e assusta. As idas e vindas com a CPMF ou com a versão digital que apareceu no final do ano são um exemplo dessa agenda ruim. Até agora Bolsonaro aguentou firme em não bancar a volta desse tipo de imposto, mas a fixação de Paulo Guedes em taxar transações é algo inexplicável e um tanto quanto preocupante.

O uso da Caixa para reduzir juros é outra política da agenda de contrarreformas, o expediente foi tentado sem sucesso no governo da Dilma e até agora parece não ter dito a que veio no governo de Bolsonaro. Para uma equipe econômica classificada de ultraliberal é no mínimo intrigante entender a razão de no lugar de estarmos discutindo a privatização ou pelo menos a abertura de capital da Caixa estarmos discutindo mais uma tentativa de usar o banco para colocar mais distorções o mercado de crédito. No campo financeiro tivemos também um tabelamento dos juros no cheque especial, essa nem o Mantega tentou. Sei que bons economistas defenderam a medida, tenho muitas dúvidas se defenderiam a mesma medida se tomada por Tombini, mas eu não compro. Para não falar de uma estranhíssima elasticidade preço da educação financeira usada para justificar a decisão registro que o pessoal de economia comportamental, muito evocada para justificar a medida do BC, costuma falar de medidas pequenas. Confesso acompanhar esse campo apenas como curioso, mas se era para tabelar, fazer isso com valores próximos ao de mercado e reduzir o teto aos poucos com avaliações de impacto a cada redução está muito mais próximo do que se discute na área do que fixar do nada um teto que é metade do valor praticado pelo mercado.

As últimas duas contrarreformas que quero registrar são o Programa Verde e Amarelo e os incentivos para construção civil principalmente via Caixa. O primeiro é uma versão piorada das infames desonerações do governo Dilma com o agravante de tentar cobrar dos desempregados parte da conta dos direitos trabalhistas de quem está empregado. A alternativa seria a CPMF digital que, entre outras distorções, cobraria de quem está no setor informal os custos dos direitos trabalhistas dos empregados formais. Os incentivos a construção civil também foram tentados no governo Dilma, o que parecia ser um sucesso virou um problema. Todo cuidado é pouco para não repetir essa história, creio que melhor seria deixar o setor terminar de se ajustar.

Alguém poderia classificar os saques do FGTS como contrarreforma, não concordo que sejam. Primeiro porque trata-se de devolver aos legítimos donos um dinheiro retirado para bancar um fundo com retornos ridículos. Uma expropriação mal disfarçada de benesse, qualquer devolução de recursos do FGTS terá meu apoio com a única crítica da devolução não ter sido maior. Segundo porque existe no pacote onde está a medida um esforço legitimo e necessário para reduzir custos de demissão o que deve reduzir a rotatividade com possíveis efeitos positivos na produtividade do trabalho.

Encerro com um pequeno resumo desse post gigante. Em 2019 o PIB teve um comportamento semelhante ao de 2017 e 2018 mostrando uma recuperação lenta e sólida. Pode parecer frustrante, mas é muito melhor do que outra rodada de crescimento turbinado por estímulos. A inflação é alta, mas está na meta, portanto não posso falar de perda de controle ou de luz vermelha, mas a luz amarela está acesa e nervosa. O governo bancou uma agenda de reformas importante com destaque para a reforma da previdência e para a MP da Liberdade Econômica. Existe uma agenda de contrarreformas que até agora não comprometeu as reformas, mas demanda atenção máxima. O perigo está na esquina.

Privatização em marcha lenta, lentíssima, quase parando

Privatizações: os discursos não correspondem aos fatos
Ricardo Bergamini
A principal bandeira dos discursos para derrubada do governo de Dilma foram as privatizações das estatais federais, assim sendo vamos comparar os discursos com os fatos:
1 - No boletim número 1, relativo o ano de 2016, existiam 228 estatais federais. No boletim número 9, relativo ao ano de 2018, existiam 209, ou seja: no governo Temer, o Brasil ficou livre de 19 lixeiras. Nesse ritmo o Brasil levaria, no mínimo, mais 20,0 anos para se livrar de todo o entulho.
2 – O Bolsonaro pegou o governo com 209 estatais federais (boletim número 9), e em setembro de 2019 (boletim número 12) existiam 203 estatais federais, ou seja: nos 9 meses do governo, o Brasil ficou livre de 6 lixeiras. Nesse ritmo o Brasil levaria, no mínimo, mais 24,6 anos para se livrar de todo o entulho. 

2020 começa com privatizações paradas

Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

30/12/19 – ISTOÉ

Uma das principais bandeiras do governo Bolsonaro, o programa de privatizações, continua paralisado. Um ano depois da posse, a promessa de arrecadar R$ 1 trilhão com a venda de estatais, feita pelo ministro Paulo Guedes, virou pó. Banco do Brasil, CEF e Petrobras continuam intocadas. Esta última, apesar da venda das subsidiárias, ainda mantém sua autossuficiência. O governo nem se preocupou em rever o marco regulatório do Pré-Sal que garantiu à estatal o controle sobre a exploração da região e levou ao fracasso do megaleilão de campos do final do ano, espantando o capital estrangeiro. A Eletrobras, que já estava na agenda de privatizações do governo Temer, continua intocada e o governo não tem articulação no Congresso para levar adiante a venda. Pior: a quase totalidade do valor arrecadado foi utilizado para engordar as próprias estatais – não serviu para abater o déficit público nem para investimentos com infraestrutura ou para a área social.

Alguns dos maiores cabides de emprego e fontes de escândalos também continuam intactos: é o caso da Valec e da EBC. Esta última, aparelhada pelo PT com a desculpa de driblar as TVs não alinhadas, agora está sendo usada de forma despudorada pelo bolsonarismo como propaganda do governo. Para que esse quadro mude, é necessária a iniciativa do governo. O secretário de Desestatização Salim Mattar, apesar de favorável à transformação, não tem poder para mexer com as estatais e a burocracia. Dependeria do ministro Paulo Guedes e do presidente em um movimento articulado com o Congresso. Infelizmente, estes últimos não parecem dispostos a agir. A agenda mudou, apesar do discurso liberal.

Ricardo Bergamini

O despertar da África - Luiz Alberto Machado

O despertar da África

Luiz Alberto Machado

Espaço Democrático, 30/12/2019

Luiz Alberto Machadoeconomista e colaborador do Espaço Democrático

Costumo dizer que na economia globalizada, não basta conhecer apenas as características do país em que se está inserido, mas também as realidades e perspectivas dos outros atores da economia mundial.
Por algumas décadas, o bom desempenho econômico da Ásia chamou a atenção do mundo. Primeiro foi o Japão, que conseguiu, com incrível rapidez, superar as enormes dificuldades ocasionadas pela derrota na Segunda Guerra Mundial e se transformar numa das maiores potências econômicas do planeta na década de 1970. 
Em seguida, houve grande repercussão do acelerado crescimento de algumas economias do sudeste asiático, que se tornaram conhecidos pelo nome de Tigres Asiáticos: Coreia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan. Com o excepcional crescimento econômico posterior às reformas introduzidas por Deng Xiaoping em 1979, suficiente para transformá-la na segunda maior economia do mundo, é natural que as atenções tenham se voltado para a China, que se tornou “a bola da vez”. Isso fez com que o desempenho econômico de outro grande país da região, tanto em extensão territorial como em população, tenha passado quase despercebido, a Índia. Com a redução das taxas de crescimento da economia chinesa para o que se convencionou chamar de “novo normal”, a Índia foi o país que apresentou maiores taxas de crescimento do PIB por dois ou três anos consecutivos, em que pese a continuidade de acentuadas disparidades regionais, como assinalam Jean Drèze e Amartya Sen no livro Glória incerta..
Desde 2018, porém, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional, dos cinco países com maior taxa de crescimento do PIB, quatro são do continente africano, Ruanda, Líbia, Etiópia e Costa do Marfim, permanecendo a Índia como a única representante do continente asiático.
Evidentemente, a base é muito baixa, pois o nível de pobreza desses países é extremamente elevado, e muitos questionam até que ponto a crescimento de alguns países da região não tem sido artificialmente inflado por capitais chineses (que evidentemente, têm outros interesses na região, como alerta a economista Dambisa Moyo, no livro O vencedor leva tudo), mas não deixa de chamar a atenção o fato de países que passaram por um terrível genocídio como Ruanda, ou por uma ditadura atroz como a Líbia no governo de Muamar Kadafi, estejam hoje na ponta do ranking do crescimento mundial.
Outro país que chama especialmente a minha atenção é a Etiópia, que normalmente aparecia nas manchetes em razão da fome que afligia parte significativa da população. Apenas dois fatos ficaram gravados na minha memória ao longo da história: os extraordinários feitos de Abebe Bikila, que por duas vezes ganhou a maratona olímpica, tendo corrido descalço na primeira delas, disputada nas ruas de Roma em 1960; e o longo reinado (1930-1974) do imperador Hailé Selassié, que acabou posteriormente sendo cultuado pelo movimento rastafári, tendo seu nome numa série de publicações e em músicas reggae, cujo ícone é o jamaicano Bob Marley.
O acelerado crescimento desses países começa a despertar a atenção de analistas internacionais, havendo inclusive quem se refira à Etiópia como a China da África, não apenas em virtude das altas taxas de crescimento, mas também por razões históricas e culturais, afinal, como bem observa o professor José Eustáquio Diniz Alves, pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ENCE/IBGE:
A Etiópia é o berço do Homo Sapiens e dos grãos do café. Atualmente é uma das principais nações da África. A população da Etiópia, em 2018, de 107,5 milhões de habitantes é a segunda maior do continente, ficando atrás somente da Nigéria com 195,9 milhões de habitantes, mas à frente do Egito com 99,4 milhões de habitantes e
com cerca do dobro da população da África do Sul (57,4 milhões). 
O PIB da Etiópia foi de US$ 222,3 bilhões em 2018, bem abaixo do PIB da África do Sul de US$ 794,7 bilhões, da Nigéria de US$ 1,19 trilhão e do Egito de US$ 1,29 trilhão. Mas a Etiópia tem a economia que apresenta as maiores taxas de crescimento ao longo dos anos 2000.
Na sequência de seu artigo, observa o pesquisador:
A comparação da Etiópia com a China não se deve apenas ao alto crescimento econômico recente. Na verdade, os dois países possuem uma rica história. A China da Grande Muralha, da fabricação da seda, das cerâmicas e das 4 grandes invenções – bússola, pólvora, papel e tipografia – tem uma história mais conhecida. Mas ambos os países acreditam que eles estão destinados a ser grandes.
A Etiópia também tem uma civilização antiga e teve um Estado-Nação relativamente maduro bem cedo, com o Reino Aksumita, datando do século I DC Os regimes subsequentes, através dos tempos medievais e além,  exerceram uma boa quantidade de poder. Mais importante, os etíopes de hoje veem seu país como uma extensão direta dessas unidades políticas anteriores. Alguns etíopes influentes afirmaram traçar sua linhagem até o rei Salomão dos tempos bíblicos. O país tem vínculos entrelaçados com as três maiores religiões abraâmicas do mundo. A Etiópia divide com a África do Sul o posto de maior número de Patrimônios Mundiais da UNESCO na África.
Como se pode observar, está na hora de colocar a África, por muito tempo considerado o continente esquecido, na mira dos radares.

Referências bibliográficas e webgráficas:
ALVES, José Eustáquio Diniz. Crescimento demoeconômico da Etiópia: a “China
da África”? Disponível em https://www.ecodebate.com.br/2019/01/30/crescimento-
demoeconomico-da-etiopia-a-china-da-africa-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.
DRÈZE, Jean e SEN, Amartya. Glória incerta: a Índia e suas contradições. Tradução
de Ricardo Doninelli Mendes e Laila Coutinho. São Paulo: Companhia das Letras,
2015.
MOYO, Dambisa. O vencedor leva tudo: a corrida chinesa por recursos e seu
significado para o mundo. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2013.

Venezuela: a confusa atuação diplomática dos EUA para pressionar a saída de Maduro

Que o governo de Trump seja um perfeito retrato da confusão mental que domina seu principal ator, disso não há dúvida. Que essa confusão afeta igualmente a sua "diplomacia", isso também não é novidade.
Nesta matéria, alguns detalhes sobre essa confusão, que pode ter algum significado para a igualmente confusa diplomacia brasileira em relação ao mesmo assunto.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 30/12/2019


Trump’s lawyer and the Venezuelan president: How Giuliani got involved in back-channel talks with Maduro


Venezuelan President Nicolás Maduro with senior military officers in Caracas on May 24, 2018. (Wil Riera/Bloomberg News)
Venezuelan President Nicolás Maduro with senior military officers in Caracas on May 24, 2018. (Wil Riera/Bloomberg News)
The international call came in September 2018, after months of rising tension between the United States and Venezuela, a key strategic player in South America.
On one end of the line was Venezuela’s socialist president, the pariah leader of a disintegrating economywhom President Trump’s administration was seeking to isolate.
On the other end: the U.S. president’s personal attorney Rudolph W. Giuliani and then-Rep. Pete Sessions (R-Tex.).

Both were part of a shadow diplomatic effort, backed in part by private interests, aimed at engineering a negotiated exit to ease President Nicolás Maduro from power and reopen resource-rich Venezuela to business, according to people familiar with the endeavor.
Sessions had served as emissary in the back-channel effort, visiting Maduro in Caracas that spring. The phone call, which Giuliani joined, was a follow-up to that visit, Sessions’s spokesman Matt Mackowiak told The Washington Post.
The phone conversation involving the Venezuelan president and Trump’s personal lawyer, which has not been previously reported, provides another example of how Giuliani used his private role to insert himself into foreign diplomacy, alarming administration officials confused about whose interests he was representing.
Giuliani operated a similar campaign this year in Ukraine, where he pressured officials to announce investigations to benefit Trump — an endeavor that led to the president’s impeachment this month.
The impeachment inquiry pushed into the spotlight consulting work Giuliani has undertaken around the globe even as he has been representing Trump at no charge. His freelancing has triggered concerns among White House officials that his intercessions have muddied and at times undercut official U.S. policy, according to people familiar with the worries, who, like others cited in this story, spoke on the condition of anonymity to describe internal discussions. Meanwhile, federal prosecutors are scrutinizing the former New York mayor as part of an investigation into possible foreign lobbying violations.
Word of Giuliani’s call with Maduro eventually reached White House officials who did not know why he was involved, according to one former senior administration official.
Giuliani’s willingness to talk with Maduro in late 2018 flew in the face of the official policy of the White House, which, under national security adviser John Bolton, was then ratcheting up sanctions and taking a harder line against the Venezuelan government.
Around the time of the phone call, Giuliani met with Bolton to discuss the off-the-books plan to ease Maduro from office — a plan Bolton vehemently rejected, two people familiar with the meeting said.
Giuliani did not respond to multiple requests for comment. A lawyer for Bolton declined to comment. The White House did not respond to requests for comment.
In January 2019, the United States formally recognized Maduro’s rival Juan Guaidó as president, a policy move backed by Bolton. Later in the year, Giuliani would pick up a client in the region: a Venezuelan tycoon under investigation by the Justice Department for possible money laundering.
It is not clear why Giuliani became involved in the back-channel negotiations with Venezuela’s president or the extent of his role. But the tale of behind-the-scenes talks with Maduro offers another example in which the president’s personal attorney aligned with private interests to try to sway U.S. foreign policy. And the episode involves some of the figures who played a role in the Ukraine effort — including Sessions, an 11-term congressman who pushed for the ouster of the U.S. ambassador to Ukraine around the time he met with Giuliani associate Lev Parnas in 2018.
Sessions, who lost his seat that November and is now running for Congress in another Texas district, said through his spokesman that he has known Giuliani for three decades but has never worked with him on any private-sector activities.

Back-channel mission


When Trump took office, he promised to take a tougher stand against Maduro, who has been Venezuela’s president since the 2013 death of leader Hugo Chávez and has grown increasingly repressive, even as his country has sunk into economic crisis.
That approach had the backing of Republicans in Florida, which has large and politically engaged Venezuelan and Cuban communities. Sen. Marco Rubio (R-Fla.) accused then-President Barack Obama of failing to hold Maduro accountable and of naively pursuing negotiations that failed to remove him from office.
Trump’s personal interest in the country was piqued by a February 2017 White House visit by Lilian Tintori, the wife of a prominent Venezuelan political prisoner. She was also a former kite-surfing champion who had appeared in that country’s version of the reality show “Survivor.”
Trump quickly adopted Venezuela as a cause, surprising some in the human rights community, who noted that he did not show similar interest in abuses in countries such as North Korea and Russia.
That year, the Trump administration labeled Venezuela’s vice president a drug kingpin and froze his assets in the United States. It also imposed economic sanctions on Venezuelan companies and banned travel to the United States by government officials and their families.
“This corrupt regime destroyed a prosperous nation by imposing a failed ideology that has produced poverty and misery everywhere it has been tried,” Trump declared before the U.N. General Assembly in September 2017. “To make matters worse, Maduro has defied his own people, stealing power from their elected representatives to preserve his disastrous rule.”
Conditions worsened in Venezuela, where there were frequent shortages of basic goods including food and medicine, runaway inflation and spates of civil unrest. But Maduro remained in power.
In February 2018, Maduro announced that a presidential election would be held that spring. But most opposition candidates would be banned from running, leading to fears that the vote would be a sham election used to consolidate his power.
U.S. business executives with interests in Venezuela, among them Harry Sargeant III, the chief executive of a Florida-based global energy and shipping company who has worked extensively in the country, began encouraging negotiations to ease Maduro out of office.
In a statement, Sargeant said he “supported the idea of a back channel based on my over 30 years of firsthand experience in Venezuela and my observation of the political dynamic going on in Caracas at the time.”
“I believed then and now that an adversarial sanctions policy alone would have two profoundly negative effects,” he added. “First, it would exacerbate Venezuela’s humanitarian crisis. Second, I believed it would undermine key U.S. business interests in Venezuela to the benefit of American adversaries like the Russians and Chinese.”
It was against this backdrop that Mackowiak said Sessions accepted an invitation from Maduro to quietly visit Caracas and try to negotiate a path to improved relations between the United States and Venezuela.
Sessions, a former chairman of the National Republican Congressional Committee who chaired the House Rules Committee at the time, had long been interested in Venezuela, in part because many of his Texas constituents had energy interests there, according to his spokesman.
“He was pleased to help with this back-channel mission, which was coordinated with the highest levels of the U.S. State Department,” Mackowiak said, adding that Sessions met with top U.S. officials before and after his trip.
The State Department did not respond to requests for comment.
But people familiar with State Department officials’ role said those officials did not initiate the trip or organize or participate in Sessions’s meeting with Maduro. And several U.S. officials disputed the notion that the trip was done with the government’s backing, noting that the White House at the time wanted to take a harder line with Maduro and was not interested in making concessions.
National Security Council officials, in particular, were opposed to the kind of settlement with Maduro that Sessions was advocating.
“There was absolutely no interest or appetite for negotiations,” said a former White House official. “We generally did not welcome efforts like this one. It wasn’t consistent with our policy goals. We saw it as a nuisance and a distraction.”
Sessions’s spokesman dismissed such complaints as part of a “turf battle” among Washington bureaucrats.
“There might have been a disagreement between the State Department and the NSC about how best to bring peace to Venezuela,” Mackowiak said. “But Rep. Sessions was pleased to be part of an effort, coordinated closely with the State Department, to bring a democratically elected president to Venezuela.”

List of concessions


Sessions’s district is home to ExxonMobil and other oil companies that were once active in Venezuela but were forced to scale back amid political turbulence. But Sessions told the Dallas Morning News in 2018 that the oil interests did not play a role in his decision to become involved. He said he had been working with various players, including representatives of the Venezuelan opposition, to negotiate a solution for more than a year.
Sessions told the newspaper he was working to make “dialogue between parties that are trying to make progress.”
Mackowiak said Sessions used his own funds to pay for the two-day trip.
Two people with knowledge of the visit said he was hosted by Raúl Gorrín Belisario, the owner of a major television network in Venezuela who was viewed with distrust by some U.S. officials and months later would be indicted in Florida on charges of money laundering and bribery.
The people said that rather than staying in a U.S. facility, Sessions stayed at Gorrín’s lavish, modernist, walled compound in a fashionable part of the capital.
Mackowiak said that Sessions’s trip, including where Sessions stayed, was coordinated with State Department officials.
Sessions left Caracas with a list of concessions that had been agreed to by Maduro — his departure from power and a commitment to allow free and fair elections in exchange for leniency from the United States — according to Mackowiak.
But some U.S. officials said they worried that the deal Sessions was floating was intended to legitimize the upcoming election by opening up the vote to at least some opposition candidates, which could help Maduro remain in power, rather than ease him from office, according to a person familiar with the conversations. And they were concerned that the back-channel overtures sent mixed messages to the Maduro government.

A cigar bar meeting


About five weeks after returning from Caracas, Sessions met in his Capitol Hill office with Parnas, who Mackowiak said wanted to discuss a proposal to sell liquefied natural gas in Ukraine.
In an indictment this fall charging Parnas and his business partner Igor Fruman with illegally channeling foreign money into U.S. election campaign accounts, federal prosecutors said Parnas sought Sessions’s assistance in ousting then-U.S. Ambassador to Ukraine Marie Yovanovitch at the behest of “one or more Ukrainian government officials.”
On May 9, the same day that Parnas posted photos of his meeting with Sessions on Facebook, the congressman sent Secretary of State Mike Pompeo a letter urging Yovanovitch’s removal.
Mackowiak said Sessions did not act at the request of Parnas but wrote the letter after hearing concerns about the ambassador from several members of Congress who had traveled to Ukraine.
Meanwhile, in Venezuela, Maduro won reelection in May with nearly 68 percent of the vote. The international community largely rejected the vote because of allegations of fraud and the banning of key opposition parties, and civil unrest ensued as Maduro prepared to begin another term.
In August, U.S. prosecutors charged Gorrín, Sessions’s host for the congressman’s Venezuela visit, with participating in a $1 billion money-laundering and bribery scheme. Prosecutors have said Gorrín is a fugitive. Neither Gorrín nor his Miami-based lawyer responded to requests for comment.
Around that time, Giuliani, who had joined Trump’s legal team months earlier, began talks with individuals who were part of the back channel to Maduro. In August, Giuliani met in New York with Parnas and two American business executives with investments in Venezuela to discuss the effort, according to people familiar with the gathering.
The meeting took place at a favorite Giuliani hangout, the Grand Havana Room cigar bar, blocks from Trump Tower in Manhattan. Over whiskey and cigars, Giuliani agreed to try to see whether there was a way to negotiate with Maduro and perhaps reach a diplomatic solution to the political chaos and economic collapse overtaking the country, one of the participants said.

The phone call


About a month later, Maduro was on the phone with Sessions. In the room with the Venezuelan president at the time was the country’s first lady, who serves as a close adviser to her husband, as well as Venezuela’s vice president and information minister, according to a person familiar with the conversation.
Giuliani was introduced at the beginning of the call but appeared mostly to listen as Maduro and Sessions spoke, Mackowiak said.
In the nearly hour-long conversation, they reviewed the concessions that Maduro had agreed to make during Sessions’s visit months earlier, according to the person familiar with the call.
The Communications Ministry of Venezuela did not respond to a request for comment.
Later, word filtered to the White House that Giuliani and Sessions had participated in a call with Maduro, causing confusion, said a former senior administration official.
“We didn’t know why Rudy was involved at the time,” the person said.
Not long after the call, Giuliani told some of his associates that he had taken the idea of a soft landing for Maduro to Bolton, the president’s national security adviser. But he said the meeting had not gone well, according to people familiar with his account.
Charles Cooper, a lawyer for Bolton, declined to comment.
Bolton’s distaste for Giuliani’s foreign policy freelancing emerged during the impeachment inquiry. Former national security official Fiona Hill testified that Bolton warned her not to interact with the president’s lawyer, calling him “a hand grenade who’s going to blow everybody up.”
In January of this year, the situation in Venezuela disintegrated as Maduro prepared to be formally inaugurated for another term. The legislature, led by Maduro’s opposition, declared that the election had been illegitimate and named legislative leader Guaidó the nation’s new president. He was quickly recognized by the United States and dozens of other countries.
Some Venezuelan business leaders who had amassed vast wealth under Maduro but had been severely constrained by U.S. sanctions switched sides and began to assist Guaidó.
Among them was Gorrín, who played a key role in a failed effort to persuade the nation’s Supreme Court to recognize Guaidó over Maduro, part of an effort to curry favor with the Americans, as The Post has reported.
This summer, another wealthy Venezuelan energy executive, Alejandro Betancourt López, hired Giuliani to serve as his lawyer and help argue that he should not be charged in a $1.2 billion money-laundering case in Florida.
Eight men — including Betancourt’s cousin — have already been charged in the case, which alleges that top officials of Venezuela’s state-owned oil company, business leaders and bankers conspired to steal money from the company and then launder it through Miami real estate purchases and other investment schemes. Two people familiar with the matter said that Betancourt is referred to in the criminal complaint as a uncharged co-conspirator.
Jon Sale, a Miami-based lawyer representing Betancourt, has said his client denies any wrongdoing. He declined to comment on Betancourt’s relationship with Giuliani.
In early August, Giuliani was hosted at Betancourt’s lavish estate outside Madrid when Giuliani met at Trump’s direction with a top aide to the Ukrainian president, as The Post previously reported.
Giuliani later met with Justice Department officials and urged them not to charge Betancourt, The Post reported.
In response to questions about his work for Betancourt, Giuliani wrote in a text message last month: “This is attorney client privilege so I will withstand whatever malicious lies or spin you put on it.”
The news that Giuliani was representing the wealthy energy executive before the administration while also serving as the president’s personal attorney disturbed veteran U.S. officials who have experience in Venezuela.
“You have to ask, ‘Why is he doing this?’ ” said one former senior administration official.

Alice Crites and Carol Morello contributed to this report.