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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Integracao na América Latina - artigo Paulo R de Almeida (RHBN)

Consultando o site da Revista de História da Biblioteca Nacional -- o que nunca havia feito antes -- acabei achando, para minha surpresa, um artigo que me foi solicitado alguns anos atrás, e que não sabia que estava disponível digitalmente.
Tanto melhor, posso postar aqui.
Reparem bem na cronologia extremamente delongada desse artigo: ele tinha sido preparado em 2004, para uma revista que antecedeu a RHBN, e que ficou parado durante muito tempo, até que os editores decidissem pela sua publicação:
1342. “Do afastamento à integração: as relações do Brasil com a América Latina, do século XIX ao século XXI”, Brasília, 15 out. 2004, 8 p. Artigo para a revista Nossa História. Revisto e abreviado em 25/10/2004. Revisto diversas vezes em 12/2004; complementado com ilustrações em 01/2005. Sem definição de publicação na Nossa História, em virtude de cisão na equipe de redação e criação da Revista de História da Biblioteca Nacional. Em 10/2005, decisão por retirar o artigo da Nossa História e transferi-lo para a Revista de História-BN. Publicado, sob o título “Laços Latinos”, chamada de índice “Latinos, uni-vos” e chamada de capa “Os laços do Mercosul: caminhos da integração latino-americana”, in Revista de História da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro: ano 1, nº 8, fevereiro-março 2006, p. 76-81; ISSN: 1808-4001).
Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida
Revista de História da Biblioteca Nacional18/9/2007


Depois de séculos de desconfiança, o Brasil e seus vizinhos hispano-americanos começam a trilhar juntos o caminho da integração sob o olhar atento dos EUA

A massa imponente do Brasil – herança do expansionismo português, consagrado em 1750 pelo Tratado de Madri – sempre provocou desconfiança entre os seus vizinhos hispano-americanos. Consciente disso, José Bonifácio, ministro dos Negócios Estrangeiros do regente d. Pedro, tomou a iniciativa de despachar a Buenos Aires, em maio de 1822, um emissário para servir às relações do Brasil no Rio da Prata, considerado de grande importância estratégica pois consistia em porta de entrada para o interior do continente. O mesmo cuidado teve seu sucessor, o Visconde de Cachoeira, em 1824. Este instruiu seu representante no Prata a confirmar “que não só a política do gabinete brasileiro é americana e tem por objeto a sua independência de qualquer tutela européia, mas que este Governo não desaprova nem maquina contra as instituições políticas que esses governos adotarem”.
A diferença entre os regimes políticos no continente marcou no século XIX as relações entre o império brasileiro, vinculado às dinastias européias, e as repúblicas vizinhas, que tentavam construir um sistema avesso aos princípios aristocráticos aqui adotados. A política do Império oscilou entre as intervenções (no Prata) e o isolamento (em relação à maior parte das demais repúblicas). Isso, porém, não impediu Simon Bolívar de convidar o governo brasileiro a participar do congresso de 1826, no Panamá, destinado a discutir os problemas comuns e a traçar as bases de uma possível confederação entre os novos países independentes. O Brasil julgou melhor abster-se de comparecer, pelo temor de que fossem discutidas as formas de governo no continente.
A aproximação com as repúblicas da região, por parte do Brasil, tomou impulso durante o período regencial (1831-1840). O Brasil não deveria se afastar do Velho Mundo, mas buscar igualmente estreitar as relações com as nações do hemisfério. O relacionamento do Brasil com os países vizinhos foi perturbado, no entanto, pela política de intervenções no Prata, em nome do equilíbrio político dos dois lados do rio. As marchas e contramarchas da diplomacia imperial eram justificadas pelos “desmandos” cometidos contra os interesses de brasileiros nesses países – roubo de gado nas coxilhas do Sul, por exemplo – e também pelas reclamações contra os caudilhos no poder. Quase não existiam motivos comerciais que pudessem justificar uma aproximação com as repúblicas hispânicas, sobretudo as da vertente amazônica e andina (Venezuela, Grã-Colômbia e Peru).
Empenhado em preservar seus laços de integração com a Europa, o Brasil raramente aderiu às iniciativas “americanistas” empreendidas por essas repúblicas, como a convocação de conferências pan-americanas por ocasião de ameaças externas. Havia pouca unidade de propósitos entre os vários Estados em que se tinha dividido a região, como também eram escassas as possibilidades de cooperação entre regiões e países especializados em poucas matérias-primas. Depois do rompimento, em 1830, da federação da Grã-Colômbia, seguiu-se, em 1839, o das províncias unidas da América Central, que compreende hoje Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica. Nessa mesma época, a primeira guerra do Pacífico (1837-1839) opôs o Chile ao Peru e à Bolívia, então confederados.
Na segunda metade do século, o continente foi abalado pelas guerras platinas (1851-52), pela guerra do Paraguai (1865-1870) e pela segunda guerra do Pacífico (1879-1883), opondo novamente o Chile ao Peru e à Bolívia. Na vertente econômica, as elites estavam divididas entre o livre-comércio, que seduzia os liberais, e a idéia protecionista, defendida por conservadores presos a uma ordem econômica tradicional. Outros encontros americanos foram realizados no final do século XIX – em Lima (1877-1879), em Caracas (1883) e em Montevidéu (1888-1889) – mas tiveram caráter basicamente jurídico. O isolamento brasileiro acentuou-se nessa época, em função do desastroso reconhecimento, em 1863, do regime fantoche que Napoleão III implantou no México, com a designação, como monarca, do infeliz arquiduque austríaco Maximiliano, depois fuzilado pelos nacionalistas mexicanos, bem como em função da guerra do Paraguai, que suscitou esforços de mediação entre os vizinhos.
A aventura francesa no México, que resultou num completo desastre, abriu caminho para a idéia de uma “união latino-americana”, mas após a guerra civil guerra civil nos Estados Unidos (1861-65), a nova potência do hemisfério setentrional deu início a um movimento de penetração econômica e comercial que desafiaria a hegemonia britânica em todo o continente. Um projeto de canal transoceânico foi negociado com a Nicarágua desde 1849, ao mesmo tempo em que se fazem propostas à Nova Granada (Colômbia), com o mesmo objetivo. A expansão industrial e a nova retórica expansionista dos Estados Unidos confirmam que a política norte-americana não seria muito diferente da praticada pelas demais potências européias, tornando os países da região reticentes a qualquer projeto de integração com o Gigante do Norte.
A diplomacia imperial voltada para o velho continente, a despeito da crescente importância das repúblicas americanas nas relações externas, teria de equacionar os interesses reais do Brasil com o projeto de projeção internacional: se é certo que o fornecimento de produtos de consumo e de bens de produção e os capitais para a cobertura dos déficits provinham essencialmente da Grã-Bretanha, o grande mercado consumidor do principal produto de exportação, o café, situava-se nos Estados Unidos.
As reuniões continentais se fariam, doravante, na capital do país mais importante do hemisfério. Enquanto as conferências hispânicas reuniam, se tanto, meia dúzia de representantes, os encontros de Washington passaram a juntar delegados de duas dezenas de países da região. A mudança era vista com simpatia no Brasil: os Estados Unidos tinham sido a primeira nação a reconhecer o novo Estado independente em 1824. Além disso, ao não ostentar a arrogância imperial da velha Inglaterra, gozavam de um indiscutível crédito político junto às elites brasileiras, que admiravam seu progresso industrial, e se tinham convertido, na segunda metade do século, num importante parceiro comercial.
Na última década do século XIX, foi criado, por iniciativa dos Estados Unidos, um Escritório Comercial das Américas, embrião da futura União Pan-americana (1928) e, depois, em 1948, Organização dos Estados Americanos (OEA). A despeito da grande distância entre as pretensões iniciais dos Estados Unidos e de seus parcos resultados práticos, a nova entidade resultou da I Conferência Internacional Americana, realizada em Washington de outubro de 1889 a abril de 1890, tendo o Brasil nela ingressado como monarquia e terminado como república. Os Estados Unidos pretendiam criar uma união aduaneira para promover o intercâmbio hemisférico, dispondo inclusive de uma moeda comum. O governo imperial era reticente em relação a vários dos temas da conferência de Washington, em especial, já nessa época, no que se refere à possibilidade de abertura comercial e à propriedade intelectual.
Algumas das razões para a oposição latino-americana aos projetos dos Estados Unidos se situavam no terreno econômico: além da superioridade industrial, havia o forte protecionismo agrícola, o que tornava ilusória qualquer zona de livre-comércio. Outras restrições eram de natureza política, como as intervenções dos Estados Unidos, para “proteger cidadãos e propriedades” no continente. A Argentina tinha fortes motivos para opor-se aos Estados Unidos por causa da competição nos mercados internacionais de produtos agrícolas, mostrando-se ainda contrária ao pan-americanismo, em virtude de sentir-se européia e não americana. O projeto de um espaço econômico hemisférico começou, em todo caso, sua marcha secular.
O novo regime instalado em 1889 no Brasil, contribuiu para reconciliar o país politicamente com os vizinhos hispano-americanos, introduzindo ainda princípios alternativos de política externa, como o pan-americanismo. Nas demais regiões cresciam as apreensões em relação à política expansionista dos Estados Unidos, reforçada a partir da guerra hispano-americana de 1898 – quando a Espanha se vê amputada de Cuba, de Porto Rico e das Filipinas –, confirmada depois pelas ocupações e intervenções armadas no Caribe e na América Central. No Brasil, entretanto, o barão do Rio Branco, movido por uma concepção diplomática baseada no equilíbrio de poderes com a Argentina (de fato uma disputa pela hegemonia regional), operou, a partir de 1902, uma política de aproximação com os Estados Unidos.
Logo em seguida o presidente Theodore Roosevelt (1901-1909) proclamou seu “corolário” à doutrina Monroe, com o objetivo de justificar o papel de polícia que os Estados Unidos pretendiam impor a seu entorno geográfico imediato. Nas próximas décadas, o Brasil e a Argentina passaram a competir entre si para estabelecer com os Estados Unidos uma “relação especial” que sempre se revelou ilusória, esperando igualmente ostentar, na América do Sul, um “padrão de civilização” que os Estados Unidos e as potências européias pretendiam exibir com exclusividade.
Nova York emergiu como o grande centro financeiro para a região e, em breve, para o mundo. Este movimento foi reforçado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e no decorrer dos anos 1920, quando volumes importantes de investimento diretos passaram a ser carreados para o setor primário e para a indústria de transformação – como mineração, agricultura e processamento de alimentos – de quase todos os países da América Latina. Depois de inúmeras tentativas de se consagrar, no direito americano, o princípio da não-intervenção nos assuntos internos, os Estados Unidos finalmente concederam mudar a posição a partir do governo de Franklin D. Roosevelt (1933-1945), que proclamou a “política da boa vizinhança” e rejeitou os aspectos mais rudes da política anterior.
A emergência dos regimes ditatoriais de Mussolini na Itália e de Hitler na Alemanha, que ameaçavam os equilíbrios regionais e a própria paz mundial, provocará novos esforços diplomáticos dos Estados Unidos em prol da “solidariedade hemisférica”. O movimento só seria consagrado na conferência interamericana do Rio de Janeiro, em janeiro de 1942, que se seguiu ao ataque japonês à frota americana do Pacífico, em Pearl Harbor. Ainda assim houve uma importante deserção, a da Argentina, que se manteve simpática ao regime nazista até quase o momento de sua derrocada.
Após a Segunda Guerra (1939-1945), as relações internacionais desses países continuaram a ser dominadas pelo gigante norte-americano, uma vez que o início do que se chamou Guerra Fria determinou uma nova ofensiva diplomática, acoplada a programas de cooperação militar, por parte dos Estados Unidos. Washington não atendeu, porém, aos reclamos desses países em favor de um “Plano Marshall” para a região, a exemplo do que os Estados Unidos faziam então, como ajuda, à Europa arrasada pela guerra.
Brasil e Argentina continuaram a se opor em várias áreas, pelo menos até meados dos anos 50. Neste período, estimulados pelo processo europeu de integração, decidiram impulsionar um projeto similar na região. Resultou desse esforço o primeiro tratado de Montevidéu (1960), que criou a Associação Latino-Americana de Livre-Comércio, com sede na capital uruguaia. Ao mesmo tempo a revolução cubana (1959) passou a condicionar ainda mais a política americana para a região, pois o novo regime de inspiração socialista vem introduzir um aspecto novo no relacionamento hemisférico: o da possibilidade de rompimento com o campo ocidental e a adoção de uma via não capitalista de desenvolvimento.
O cenário estava dado para a sucessão de golpes militares nos anos 60, em grande medida apoiados ou inspirados pelos Estados Unidos, o que reduziu as possibilidades de avanços no processo de integração regional, embora permitindo uma cooperação entre os novos regimes ditatoriais na luta contra o “comunismo”. Foi este o caso da Operação Condor, programa informal de cooperação entre os exércitos e polícias políticas dos países do cone sul que consistiu, na maior parte das vezes, em troca de informações sobre seus respectivos opositores políticos e movimentos de guerrilha, mas que derivou, em algumas oportunidades, em assassinatos políticos e desaparecimentos, como ocorreu nos casos das ditaduras militares do Chile e da Argentina.
Depois de décadas de afastamento, o Brasil e a Argentina, redemocratizados em meados dos anos 1980, retomaram o projeto integracionista, primeiro em escala bilateral, depois no âmbito sub-regional. O Mercosul surgiu em 1991, passando a ser visto, pela diplomacia brasileira, como base da integração sul-americana. A despeito da expansão do comércio intra-regional ao longo da década, de acordos de associação com outros países da região (Chile e Bolívia, em 1996; Peru, em 2003; Equador e Colômbia, em 2004) e da decisão política pela plena incorporação da Venezuela, no final de 2005, e possivelmente da Bolívia em 2006, o Mercosul continua a enfrentar dificuldades para firmar-se como união aduaneira.
Os Estados Unidos, gigante hemisférico, exercem grande força de atração sobre quase todos os países. Primeiro pela possível extensão dos acordos do Nafta (Estados Unidos, Canadá e México) aos demais latino-americanos. Depois, a partir de 1994, pela proposta de uma área de livre comércio (Alca). E finalmente por uma rede de acordos bilaterais ou plurilaterais, extraindo concessões desses países em troca de promessas de acesso ao mercado americano. Como já tinha ocorrido há mais de um século, Brasil e Argentina continuam a manifestar relutância em relação à integração hemisférica, em virtude dos mesmos problemas antes detectados: a economia dominante pretende acesso irrestrito aos mercados latino-americanos, ao mesmo tempo em que não cogita desfazer-se do seu próprio protecionismo agrícola.
Uma Comunidade Sul-Americana de Nações, constituída por iniciativa do Brasil, passou a oferecer, a partir de dezembro de 2004, a possibilidade de consolidar a integração comercial por meio da coordenação política entre os chefes de Estado, mas a diplomacia brasileira continua a enfrentar dificuldades para concretizar esse projeto. A falta de “excedentes de poder” – basicamente, a capacidade de projetar forças estratégicas e oferecer recursos para cooperação – e a desconfiança dos demais países em relação a uma “liderança” não de todo consensual – evidenciada na oposição da Argentina e do México à pretensão de uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU – mantêem o status quo na região.
E quanto à política dos Estados Unidos? Tudo indica que os governos americanos continuarão a ostentar sua tradicional “negligência benigna” em relação aos países da América do Sul.
Paulo Roberto de Almeida é doutor em ciências sociais, diplomata de carreira e autor de Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (Editora Senac, 2005).

Juca Paranhos: bon vivant... - Alexandre Belmonte

Há diversos equívocos neste artigo, a começar pelo título: Juca Paranhos nunca foi barão; quando este "surgiu', o personagem já não era mais o Juca Paranhos, e sim o cônsul-historiador, filho do seu pai, ou seja, o Visconde...
Não vamos nos enganar, nem exagerar, nem misturar as coisas...
Esta matéria, aliás, já foi postada aqui, em outro formato...
Paulo Roberto de Almeida
Juca Paranhos: o barão bon-vivant

Patrono da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco - cujo centenário da morte é lembrado este ano - curtiu muito a vida até ter atuação fundamental na consolidação do território nacional

Alexandre Belmonte
Revista de História da Biblioteca Nacional6/2/2012
Corre o ano de 1862 e a boemia acadêmica está no seu apogeu: o Romantismo está em toda a parte. No quarto de uma república na esquina do Beco dos Cornos, em São Paulo, o futuro barão dorme com a cabeça apoiada num velho paletó, enfiado a socos numa fronha, após uma noite de algazarra. A luz é de velas, postas em gargalos de garrafa. Uma ruidosa comemoração acaba de acontecer.
Sim, estamos falando de José Maria da Silva Paranhos Junior, o barão do Rio Branco – ou Juca Paranhos, para os íntimos. Como lembra Marcio Tavares D’Amaral, em "O Barão do Rio Branco" (Editora Três, 1974), as bagunças aconteciam “a qualquer propósito ou sem propósito algum”. Nada que um banho frio não curasse: Juca costumava se banhar, nu em pelo, no rio Tamanduateí.
Saraus literários, serenatas noturnas com flauta, violão e cavaquinho, e um jovem pela primeira vez longe dos pais, numa cidade estranha. O futuro barão vivia numa república com outros jovens, que o definiam como um “colega agradável, sempre alegre, pronto para as festas e brincadeiras”. A cavalo, ia até a Penha, a Pinheiros e ao Ipiranga. Presença constante em teatros, circos, corridas de cavalo, bailes, e também em procissões e missas cantadas. Na livraria Garraux ou em alguma confeitaria, passava horas a conversar. Vai para o Recife, conclui o bacharelado e parte para a Europa, com um prêmio de loteria de 12 contos de réis nos bolsos!

'Uma vida perdida de boêmio'
Seus hábitos pareciam incomodar muita gente. Era vaidoso, usava cabelos longos, penteados para trás, e uma solene sobrecasaca. Gostava de vestir-se bem, e dizem que era elegante e polido, de uma beleza quase feminina. Luís Viana Filho, um de seus biógrafos, chega a dizer que “nada o deliciava mais do que a indiscrição de um decote, permitindo-lhe avançar o olhar sobre um belo colo”. Ainda no Colégio Pedro II, o futuro barão iniciava sua vida sentimental de mãos dadas com uma menina da sua idade – mas era ainda tão criança que seu pai, o visconde do Rio Branco, ia buscá-lo na saída da escola.
No Rio, o barão passava várias noites em teatros e cafés, e muitos diziam que levava “uma vida perdida de boêmio”. Almoçava às 3 da tarde e jantava de madrugada, na companhia das atrizes do Teatro Alcazar. É aí que, em 1872, apaixona-se pela atriz belga Marie Stevens. O primeiro filho do casal nasce um ano depois, em Paris, e Juca faz com que ela regresse prontamente ao Brasil. Somente após dois anos é que sua mãe aceita batizar o pequeno Raul, e mesmo assim por procuração.
Nascem mais filhos, e a princesa Isabel, valendo-se da ausência do pai, assina seu ato de nomeação de cônsul em Liverpool. Marie vai para Paris com as crianças, enquanto Juca se prepara para ir a Liverpool. Nesse ínterim, apaixona-se pela sobrinha do Duque de Caxias, Maria Bernardina, “um anjo de beleza” de apenas 15 anos. Vai para Liverpool e passa seu tempo entre seus afazeres na cidade inglesa e sua vida familiar em Paris. Escreve a um amigo italiano, em 1877, dizendo que a situação não vai bem com a “marechala”: não consegue romper seu casamento com Marie e desposar Maria Bernardina. “É muito difícil, muito doloroso para um pai não saber qual será o destino e o futuro dos seus filhos”, desabafa.
Na edição impressa você confere um artigo sobre a atuação fundamental do barão na consolidação do nosso território no início da República, incluindo ainda uma foto pouco conhecida do jovem Juca Paranhos, aos 17 anos. Veja também as homenagens ao barão marcadas para este ano no Rio de Janeiro e em Brasília.
Alexandre Belmonte é pesquisador da Revista de História da Biblioteca Nacional
Grande orador, Rio Branco discursa na abertura da 3ª Conferência Pan-Americana, no Palácio Monroe, em agosto de 1906.
Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons











Adivinhem quem vai pagar?

Os mesmos de sempre, caro leitor: os clientes dos bancos...
Ou alguém acha -- talvez o Obama ache isso -- que os pobres banqueiros vão ficar mais pobres recolhendo impostos para o governo?
Alguém aqui acha isso?
Paulo Roberto de Almeida


From the Editors of American Banker
The White House plans to ask the largest U.S. firms to pay a $61 billion 'bank tax,' part of which will be used to pay for the administration's massive refinancing plan.

Privataria, PT style...: nothing to add, nothing to comment...


Matéria de um entendido...
Claro, não precisamos ficar preocupados: se trata de mera concessão, não de privatização.
Há uma ENORME diferença entre as duas coisas, sobretudo entre as COISAS...
Paulo Roberto de Almeida 
A "Concessão" dos aeroportos


Dilma entendeu de cara, a fria em que estava entrando.
Acompanhou o leilão em tempo real mas, em vez de comemorar os R$ 24,5 bilhões “angariados” – muito, mas muito mesmo a mais do que qualquer pessoa séria esperava que oferecessem pelo que estava à venda – saiu murmurando entre dentes:
 Vocês sabem como é governo: faz uma etapa e tem de fazer todas as outras. Agora tem que fazer com que as outras etapas aconteçam“.
Deve ter passado a noite em claro sonhando acordada com os instrumentos medievais de tortura que gostaria de usar em Wagner Bittencourt, o Secretário de Aviação Civil da Presidência da República que a enfiou nessa enrascada.

São 30% dos passageiros e 57% da carga do transporte aéreo nacional entregues a uma empresa africana de credenciais duvidosas que ficou com nada mais nada menos que Guarulhos; um trambiqueiro argentino de extensa folha corrida que, muito adequadamente, ficou com Brasília; e uma operadorazinha francesa especializada em negociar com genocidas africanos que levou Viracopos.
Se os dois outros vencedores são duvidosos, o argentino que levou Brasília é explícito. Daqueles que não regula mixaria. “Pagou” nada menos que 673,39% de ágio! R$ 4,5 bi pela outorga mais compromissos contratuais de R$ 2,8 bi de investimentos.
Andou fazendo coisa parecida na Argentina, onde opera aeroportozinhos regionais. Prometeu mundos e fundos. Quando as contas começaram a indicar que seria mais caro para o governo retomar os aeroportos que renegociar o contrato com o espertalhão, ele começou a cutucar o palácio.

Tentou com Duhalde em 2003. Não conseguiu. Empurra daqui, empurra dali, acabou arrancando uma renegociação de Nestor Kirshner.
Em vez dos royalties anuais devidos (equivalentes às nossas prestações pela outorga), devolveu ao governo 15% das receitas, quaisquer que fossem elas. E evidentemente elas são muito menores do que os royalties devidos. Repactuou também os planos de investimentos e emitiu títulos para pagar com papéis o resto do que devia.
Ainda assim, continua devendo US$ 104 milhões para a Casa Rosada, segundo o jornal Valor.  Como um tipo desses leva o aeroporto da capital do Brasil com a simples promessa de pagar quase sete vezes o que foi pedido pela concessão é coisa que o PT terá de explicar logo logo à Nação…
  
Já Guarulhos, o maior aeroporto do país, fica para uma obscura companhia da África do Sul que se apresenta à frente dos – adivinhem? – fundos de pensão das estatais (leia-se, o próprio PT). Esse consórcio Invepar é da onipresente Previ, que tem 38% do capital, da Funcef e da Petros, seus fiéis escudeiros representando os funcionários da “nossa” Caixa e do “nosso” petróleo (o Brasil bem que merece!), e ainda da OAS (19,4%), aquela empreiteira da família do finado Antônio Carlos Magalhães que andou encolhendo desde que ele se foi deste mundo.
Pois é. O dinheiro tem o condão de enterrar ideologias…
O governo não esperava obter por Guarulhos mais que R$ 6 bi. Quando o leilão chegou aos R$ 12 bi, um adviser das companhias mais sérias e experientes do mundo na administração de aeroportos já garantia aos presentes que “essa conta não fecha“. Pois depois disso ela aumentou mais um terço. Foi a R$ 16,2 bi, mais R$ 4,6 bi em reformas contratuais para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016!
A receita total do aeroporto de Guarulhos calculada pelo governo para os 20 anos da concessão é de R$ 17 bi, apenas 5% a mais do que os fundos do PT pagaram só pela outorga.

As prestações por essa outorga, posto esse número, sobem a R$ 800 milhões por ano. Hoje o faturamento total de Guarulhos é de R$ 500 milhões…
Como fechar a conta se o contrato diz que as tarifas aeroportuárias não podem subir?
 Com receitas não tarifárias como estacionamentos e restaurantes“, diz candidamente Gustavo Rocha, presidente da Invepar . (E com financiamentos do BNDES, é claro).
Nada, enfim, como fazer contas com dinheiro “nosso”…
Ao fim e ao cabo, a proposta mais “pé no chão” foi a do endividado Grupo Triunfo com seus franceses misteriosos, que pagou “apenas” 159% de ágio por Viracopos. É o mesmo grupo que, em 2008, “levou” as rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto, em São Paulo, mas acabou sendo desabilitado porque não conseguiu cumprir o que prometeu. Pelo menos ele devolveu o que não conseguiu pagar.

Compras da China na AL: graos, em lugar de terras?

Alguém, minimamente informado sobre economia e relações internacionais, poderia me informar qual é a diferença entre deixar os chineses comprar terras para produzir grãos, e exportar para a China, e comprar grãos para exportar para a China?
Seria apenas o impedimento de possuir terras?
Se os chineses comprarem as terras eles poderão fazer alguma coisa errada com essas terras, seria isso?
Por exemplo, produzir grãos e exportar 100% da produção, sem deixar nada para os pobres nacionais?
Mas, eles não estão proibidos de comprar 100% da produção de nacionais, certo?
Então, preferimos não ter o dinheiro da compra, e os investimentos novos na produção, e investir nós mesmos, sem receber nada permanente, e apenas vender a produção, certo?
Que inteligente, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida 



China 'troca' infraestrutura por grãos na América do Sul 
Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico, 13/02/2012

A China está mudando seu modelo de investimentos na agricultura da América do Sul. Diante das restrições a estrangeiros para a aquisições de terras no Brasil e na Argentina, os chineses passaram a privilegiar aportes em infraestrutura em troca do direito exclusivo de comprar a colheita. 

Para o Rabobank, banco holandês líder em financiamentos ao setor de agronegócios, a China tende a aumentar exponencialmente seus investimentos na América do Sul como forma de garantir seu abastecimento, sobretudo de soja, e aumentar cada vez mais as compras de milho. 

O banco menciona que estimativas da consultoria Deloitte sobre investimentos chineses no Brasil indicam que, em geral, o montante poderá alcançar US$ 40 bilhões até 2014. Em 2007, o estoque era inferior a US$ 100 milhões. Na Argentina, os aportes passaram de US$ 10 bilhões desde 2009. Outros US$ 3 bilhões a 4 bilhões foram anunciados em novos projetos agrícolas. 

Renato Rasmussen, economista do Rabobank e um dos autores do estudo do banco sobre a expansão chinesa no agronegócio da América do Sul, nota que o plano inicial de Pequim era comprar terras e produzir. Agora, para evitar problemas depois que Brasil e Argentina impuseram restrições à aquisição ou leasing de terras por estrangeiros, grupos chineses partiram para um modelo que corresponde, em parte, ao desejo desses países em atrair investimentos em infraestrutura e exportar produtos de maior valor agregado. 

Para o Rabobank, provavelmente o primeiro grande investimento chinês nesse novo modelo ocorrerá em Barreiras, na Bahia. É onde a companhia Chongqing Grain passará a processar 2 milhões de toneladas de soja já nesta safra 2011/12, produzida por parceiros em joint venture em 100 mil hectares de terra. Rasmussen voltou de Pequim com a convicção de que o projeto em Barreiras será maior do que o previsto inicialmente. Em 2011, o plano era de investimentos de US$ 2 bilhões. 

Conforme o banco, outro grande projeto pelo novo modelo pode envolver US$ 7,5 bilhões em investimentos em Goiás pela companhia Hopeful Sanhe. O plano é investir em transporte e armazenamento de soja para assegurar o suprimento anual de 6 milhões de toneladas para a China, o equivalente a 80% de toda a produção de soja de Goiás, que foi de 8,2 milhões de toneladas no ciclo 2010/11. Pequim também poderá fornecer fertilizantes, defensivos e sementes para aumentar a produção agrícola no Estado e viabilizar o comércio. 

O mesmo modelo está sendo proposto na Argentina. O Beidahuang Group fez um acordo com o governo da Província de Rio Negro para investir US$ 1,5 bilhão durante dez anos na irrigação de vales que atualmente não têm produção agrícola. Em troca, a empresa garante exclusividade para comprar a produção local de soja, milho e trigo. O projeto envolve 300 mil hectares de terra. 

Companhias chinesas também investem em insumos. A Tierra Del Fuego Energia y Química quer construir uma planta na área, e a Sinochem International está abrindo uma subsidiária na Argentina focada em agroquímicos. 

O banco vê potencial também para a expansão de acordos, por meio dos quais as companhias chinesas asseguram o acesso à produção na América do Sul através de financiamento barato das colheitas. Pequim tem centenas de bilhões de dólares em reservas e pode financiar a custos bem mais baixos do que a maioria dos concorrentes. 

A China tanto assegura contratos de longo prazo para reduzir sua exposição a vulnerabilidades no abastecimento agrícola, como torna-se menos dependentes das grandes companhias tradings e evita custos de intermediação. 

O país é o maior consumidor desses produtos e não pode atender sua demanda com a produção doméstica. Por isso, é o maior importador do complexo soja para atender sua indústria de suínos e aves, representando metade do volume negociado internacionalmente. Suas importações podem alcançar 58 milhões de toneladas de soja em grão em 2011/12, mais do que a produção da Argentina (53 milhões)

Que tal um Premio Darwin para o MDIC?; o caso da defesa comercial nao protecionista...

Um caso para os Darwin Awards, se o MDIC conhece o prêmio, claro, que distingue coisas como essas que andam sendo feitas.
Reparem no que está sendo dito: o mundo não nos compreende, não fazemos protecionismo, só adotamos medidas de defesa comercial. E isso porque aumentou o comércio, vocês compreendem: aumenta o comércio, aumentam os problemas e só por isso, aumentaram as medidas de defesa comercial.
Isso é para resolver os problemas, vocês compreendem, temos de ter competitividade e para isso precisamos de mais defesa comercial, são essas as medidas que nos dão competitividade, não lhes parece lógico isso? Tudo é simples e ninguém precisa ficar preocupado, nem os mexicanos, mesmo se nós sempre queremos comércio positivo para nós, mas não para eles, isso vocês compreendem, não é?
Aumentar tarifas até 35%, quando a TEC do Mercosul só vai até 20%, não é protecionismo, é só medida de defesa comercial, e isso precisa ficar claro.
Da mesma forma, exigir conteúdo local de 65% não é protecionismo, só estamos valorizando a proteção local, isso é competitividade, legítima, lógico, não?
Ou não?
Paulo Roberto de Almeida 


Entrevista / Fernando Pimentel
Darwinismo comercial
Luiz Antonio Cintra
Carta Capital, 13/02/2012

O ministro do Desenvolvimento defende as medidas protecionistas, explica as frentes de batalha do Brasil e afirma: "O mundo mudou"

Embora o livre-comércio tenha vigorado por poucos anos na história e o atual momento da humanidade não seja exatamente de triunfo das ideias liberais, o governo brasileiro tem sido fortemente criticado internamente por suas medidas de defesa comercial, que incluem a revisão do acordo com o México e o retorno de velhas pendengas com a Argentina. Ou por seu protecionismo démodé, como preferem os opositores das politicas adotadas.

Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, está no comando da batalha que se desenrola em frentes e continentes diversos. Nas últimas semanas, ele trocou farpas com a ministra argentina, Débora Giorgi, negociou insensamente com os mexicanos, respondeu ao aumento do IPI para carros importados e preparava-se para uma nova rodada de conversas com os chineses. “ Há uma certa incompreensão do que está ocorrendo no Brasil e no mundo", afirma Pimentel na entrevista a seguir.

CartaCapital: Nos últimos dias, surgiram críticas ao governo por uma  suposta "escalada protecionista". Como o senhor responde a essas críticas?
Fernando Pimentel: Há certa incompreensão, não das medidas adotadas, mas do que está acontecendo no mundo e no Brasil nos últimos anos. O Brasil aumentou sua inserção internacional de maneira notável. Há cinco ou seis anos, tínhamos uma corrente de comércio, ou seja, somando as exportações e importações, na casa de 120 bilhões ou 130 bilhões de dólares ao ano. O valor saltou para 400 bilhões de dólares, quase 500 bilhões: 260 bilhões de exportação e 240 bilhões de importação. Mais que duplicou a corrente de comércio, com a mesma estrutura, o mesmo arcabouço jurídico, institucional, de infraestrutura, com portos sobrecarregados, aeroportos sobrecarregados... Tudo em decorrência de um trabalho feito pelo País no comércio internacional. Não só no trânsito de mercadorias, mas também no fluxo de pessoas, de serviços, tudo aumentou numa proporção muito grande. Esse aumento acelerado da inserção brasileira tem de ser acompanhado de adaptações da estrutura de comércio, legislação e fiscalização. É natural. Evidentemente, quando existe um fluxo tão grande de importações, aumenta a demanda do setor privado sobre o governo, pedindo medidas de defesa comercial. Mas isso não é protecionisrno, a defesa comercial está nas regras da Organização Mundial do Comércio. O ministério passou anos com uma média de 30 a 50 investigações antidumping ao ano. Em 2011, tivemos 127 investigações abertas. Alguém poderia dizer que estamos em um surto de protecionismo, mas não é verdade. É apenas uma adaptação da estrutura de governo a essa realidade nova. Se aumentou a corrente comercial, evidentemente as investigações antidumping vão crescer dentro da mesma proporção. Quando uma parte da mídia falar de protecionismo, ele desconhece que mudou  a conjuntura comercial. Em paralelo, temos um grande esforço para estabelecer na indústria um novo tipo de atividade, adequado a esse aumento da exposição para o mundo. Na medida em que se abre a economia, é preciso tornar-se mais competitivo. Essas medidas tomadas recentemente buscam aumentar a capacidade de competição da nossa indústria. Queremos incentivar a inovação, usar os instrumentos de tributação e desoneração, no sentido de melhorar as condições de competitividade industrial.

CC: E no caso da revisão do acordo com o México?
FP: O acordo do México foi assinado em 2002, ou seja, dez anos atrás. Note a mudança que houve no mundo e na economia brasileira no período. Vamos manter o acordo intocado, como se nada tivesse acontecido? Não, vamos rever, estamos propondo aos mexicanos uma revisão para torná-lo mais adequado, mais comtemporâneo, tanto para a nossa realidade como para a deles.

CC: Surgiram várias medidas de defesa comercial mundo afora e outras para dinamizar as indústrias nacionais.Opresidente Obama recentemente colocou esse objetivo no topo da agenda norte-americana. Qual o peso dessa conjuntura? 
FP: Sem dúvida, ela pesa. Temos de acompanhar e responder ao movito dos países do chamado G-8. Todos eles estão extremamente cautelosos em relação às suas próprias economias e claramente preocupados com a mesma coisa que nós, ou seja, com a possível perda de competitividade. Temos um mercado muito ativo, dinâmico, em expansão. É preciso defender esse mercado, principalmente de práticas comerciais desleais. Não é protecionismo, mas defesa comercial, eu volto a insistir. E os americanos também fazem isso. A preocupacão dos Estados Unidos, que é a mesma do Brasil, é adaptar a indústria, dar um choque de competitividade, para que ela se adapte ao século XXI. A indústria brasileira é poderosa, sólida, mas é do século XX. E a mudança tecnológica foi muito forte nos últimos 15 ou 20 anos. Se não houver um esforço de acompanhamento, de dar esse salto tecnológico, aí sim começam a surgir sinais de envelhecimento, a indústria fica velha antes da hora.

CC: No caso das negociações com o México, em que sentido vai a proposta brasileira?
FP: Não será um processo muito fácil, não vamos resolver em uma semana. O Brasil quer basicamente expandir o acordo para além dos carros de passeio. Queremos incluir também os caminhões. Digo isso para afastar a ideia de que queremos reduzir o comércio como restante do mundo. Nós queremos ampliar o comércio, mas em condições mais equilibradas. Houve um desequilíbrio muito forte, especialmente no ano passado, quando ficamos claramente desfavorecidos no acordo. E queremos uma nova regra de aferição do conteúdo regional na fabricação de automóveis. Do jeito qUe está lá não ficou bom. Importam carros do México com 15% de autopeças mexicanas ou brasileiras, o que é muito pouco.

CC: Qual seria o índice desejável? 
FP: Não vamos fechar questão, depende muito de quanto o México pode atingir. Podemos estabelecer metas móveis, começar com 20%, subir a 30%, mas aí é a negociação que vai dizer. E com revisões periódicas.

CC: E no caso argentino?
FP: Dei uma entrevista em janeiro, reproduzida no mundo inteiro, em que eu dizia que a Argentina era um problema permanente para o Brasil. Eles reagiram de forma um tanto áspera, mas depois liguei para a ministra argentina (Decora Gíorgí, da indústria e Comércio) e expliquei a ela. A palavra "problema" foi usada no sentido de questão, não no sentido negativo. A Argentina é uma questão permanente para o Brasil, assim como o Brasil é uma questão permanente para a Argentina.

CC: Qual a prioridade do governo neste momento?
FP: Estamos combinando ações de curto prazo, essas de defesa comercial, de acompanhamento dos acordos bilaterais, para preservar a capacidade de competir da nossa indústria. E preservar também o nosso mercado. Então, as ações de curto prazo são fundamentais para que a indústria tenha fôlego para continuar investindo e se beneficiar das ações de médio e longo prazo, que incluem os incentivos à inovação, a desoneração das exportações... Às vezes, vejo críticas dizendo que o governo está fazendo só o "varejo" e não teríamos estratégia de alterar as condições, mas é o contrário. O varejo está sendo feito justamente para que a estratégia de longo prazo possa acontecer. Somos o primeiro governo com ousadia de começar o processo de desoneração da folha de pagamento. Fizemos em quatro setores. Com isso, estamos de fato reduzindo o Custo Brasil. Agora os efeitos não são imediatos. O governo também está fazendo um esforço muito forte para que o setor privado possa inovar. E isso não só com financiamento, mas com programas de longo prazo. A presidenta lançou, no fim de 2011, um programa importantíssimo de bolsas de pós-graduaçâo no exterior. Hoje temos só 5,5 mil bolsistas fora do País, neste ano chegaremos a 18 mil, até chegar a 100 mil. E isso para que a gente tenha capacidade de dar o salto tecnológico. O "varejo" é fundamental para que a nossa indústria consiga atravessar os próximos três ou quatro anos e se beneficiar dos efeitos positivos da estratégia traçada.

CC: Existem outros acordos que o governo pretende rediscutir?
FP: Não, mas na segunda-feira 13 chegará ao Brasil o více-primeiro-ministro da China, o terceiro homem na hierarquia politica chinesa. Ele é uma espécie de coordenador do gabinete do primeiro-ministro. Ainda que seja uma visita de Estado, estamos aproveitando para, a partir de algumas premissas, começar a construção de um acordo de longo prazo, estratégico, com a China. É nisso que queremos trabalhar ao longo deste ano, ainda que esteja por enquanto muito embrionário. Ainda não temos metas nem nada, vamos apenas abrir a discussão com eles e provavelmente vamos fazer mais uma ou duas missões à China, já que ela se tornou um parceiro muito importante para o Brasil. Nós queremos que essa relação prossiga, mas, volto a dizer, de forma mais equilibrada. Não queremos ser apenas fornecedores de matérias-primas para a China, queremos fornecer também manufaturados. Isso é algo estratégico que vamos começar a tratar com os chineses neste ano.

Desequilibrio nas transacoes correntes? Crise em vista? Editorial do Estadao


Perigo nas contas externas
Editorial O Estado de S.Paulo, 12 de fevereiro de 2012


As contas externas vão piorar neste ano, segundo todas as previsões, e uma luz amarela já se acendeu em Brasília. Mais uma vez a economia nacional vai ser puxada pelo mercado interno, isto é, pelos gastos do governo, pelo consumo das famílias e pelo investimento das empresas - se nenhum grande susto levar a um adiamento dos projetos. Autoridades têm chamado a atenção para o mercado interno como uma das vantagens do Brasil em relação a muitos outros países. É esse o mais importante ativo econômico brasileiro, já disseram alguns ministros em momentos de grande entusiasmo. Mas esse tipo de crescimento envolve riscos. Quando a demanda avança bem mais velozmente que a oferta doméstica, é preciso importar mais para compensar a diferença. Sem isso, o resultado é mais inflação. Mas há limites para a capacidade de importar e é preciso administrar com prudência as transações com o exterior. O governo sabe disso, mas deu pouca importância - até agora, pelo menos - à expansão do déficit na conta corrente do balanço de pagamentos.
As principais projeções para as contas externas variam amplamente, mas todas apontam para uma deterioração. Segundo o Banco Central (BC), o superávit comercial vai diminuir este ano dos US$ 29,8 bilhões do ano passado para US$ 23 bilhões. As exportações aumentarão apenas 4,3%, para US$ 267 bilhões, enquanto as importações crescerão 7,9%, para US$ 244 bilhões. Como o déficit em serviços continuará em expansão e as transferências pouco deverão mudar, o buraco na conta corrente se ampliará de US$ 52,6 bilhões para US$ 65 bilhões - de 2,1% para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
Economistas do mercado financeiro e de consultorias são um pouco mais pessimistas. Projetam um superávit comercial de US$ 19,5 bilhões neste ano e um déficit em conta corrente de US$ 67,9 bilhões. Além disso, já arriscam projeções para 2013 - superávit de US$ 14,5 bilhões na conta de mercadorias e um rombo de US$ 70 bilhões nas transações correntes.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) tem previsões muito mais sombrias: exportações de apenas US$ 236,6 bilhões - menores, portanto, que as do ano passado - e importações de US$ 233,5 bilhões, 3,2% maiores que as de 2011. O saldo, pouco superior a US$ 3 bilhões, será o menor em dez anos.
Apesar da ampla diferença entre os números, todas as projeções são baseadas em pressupostos comuns: a Europa continuará em grave crise, a situação pouco deverá melhorar nos Estados Unidos e o crescimento chinês, embora ainda exuberante, será menor do que foi nos últimos anos. A estagnação geral, agravada com a perda de impulso da economia chinesa, resultará em preços menores para os produtos básicos, tanto agrícolas quanto minerais. Como as commodities - matérias-primas e produtos com baixo grau de processamento - têm representado mais de 60% da receita comercial brasileira, o valor das exportações será muito afetado, se as previsões de baixa das cotações se confirmarem.
O temor de um desempenho comercial muito fraco neste ano já contamina os formuladores da política econômica. No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a projeção do superávit na conta de mercadorias está na faixa de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões. O cenário inclui tanto um aumento de importações causado pelo excesso da demanda interna quanto uma expansão medíocre das exportações, por causa do arrefecimento da economia chinesa e da queda de preços das commodities.
Todos os cenários apontam para um déficit maior na conta corrente. Quanto maior esse déficit, piores deverão ser as condições de seu financiamento, mais dependente de endividamento e de capitais especulativos. O sinal ainda é de alerta e é bom agir antes de se acender alguma luz vermelha. O governo dará um bom passo adiante se reconhecer, afinal, a insuficiência de seu Plano Brasil Maior e começar a pensar seriamente em como fortalecer a indústria para competir em todos os mercados. Para isso, precisará confiar menos em remendos fiscais e em barreiras protecionistas e cuidar mais da produtividade e dos custos.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Associacao Chavez-Lula-Dilma: refinaria da Petrobras

O editorial do Estadão não conta a história toda dessa refinaria da Petrobras.
Em primeiro lugar, que ela não precisaria necessariamente estar sendo construída em Pernambuco, pois outros estados a disputavam e também ofereceram condições excelentes: Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará.
A escolha de Pernambuco NÃO foi feita em bases técnicas, econômicas, objetivas, colocando no papel todos os dados técnicos e econômicos dos diferentes lugares possíveis.
Ela foi feita em bases inteiramente políticas, e não por estadistas, economistas ou simples políticos brasileiros, em total soberania, como deveria ser.
Ela foi feita pessoalmente por Hugo Chávez, com base em suas opiniões pessoais, não com base a um julgamento bem informado no plano técnico.
O ex-presidente Lula, a ex-ministra das Minas e Energia, logo em seguida convertida em ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, concordaram imediatamente, sem discutir, com a proposta de Hugo Chávez, o que é uma tremenda renúncia de soberania, e uma demonstração da falta de critérios técnicos na escolha do local.
Agora, independentemente de todos os atrasos do processo, como descreve esse editorial, a Petrobras ainda aguarda decisão da PDVSA (ou seja, de Chávez, pois nada, hoje, na Venezuela, repito NADA, se faz sem a palavra do caudilho). Lamentável...
Paulo Roberto de Almeida 

PDVSA falha, outra vez

Editorial O Estado de S.Paulo

11 de fevereiro de 2012 | 3h 08

Terminou, em 31 de janeiro, mais um prazo que complacentemente a Petrobrás vem concedendo à estatal venezuelana PDVSA para que cumpra, afinal, sua parte na sociedade para a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE). Há muito tempo está mais do que evidente que a empresa controlada pelo governo bolivariano de Hugo Chávez não é sócia confiável. A PDVSA deveria se responsabilizar por 40% do custo da obra, mas, até agora, não colocou nenhum centavo.
A diretoria da Petrobrás, mesmo assim, anuncia que "nos próximos dias" decidirá se prorroga o prazo mais uma vez ou se cancela a parceria. Nunca foram explicitadas as razões técnicas para essa parceria - de inspiração político-ideológica -, e a incapacidade da parte venezuelana de cumprir o que foi acertado já deveria ter levado a Petrobrás a desistir da parceria. A empresa brasileira tem outra grande oportunidade para fazer isso. Não deveria desperdiçá-la novamente.
Estabelecida em 2005, por iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - então vivamente interessado em estabelecer alianças com governos de inspiração esquerdista e de discurso antiamericano, como o do venezuelano Hugo Chávez, certamente imaginando que tais alianças fortaleceriam sua liderança regional -, a parceria entre o Brasil e a Venezuela para a construção da refinaria em Pernambuco não saiu do papel.
O acordo previa que a Petrobrás se responsabilizaria por 60% dos custos da obra e a PDVSA, pelos restantes 40%. A refinaria foi projetada para processar 230 mil barris de petróleo por dia, uma parte proveniente do Campo de Carabobo, na Venezuela, e outra do complexo de Marlim, na Bacia de Santos, em partes iguais. Cada uma delas exigiria equipamentos específicos, por causa da diferença dos óleos desses campos.
O BNDES concedeu financiamento de R$ 10 bilhões para a construção da Refinaria Abreu e Lima. As duas sócias deveriam se responsabilizar por esse empréstimo, na proporção de sua participação na sociedade.
Mas, envolvida em uma crise operacional e financeira - que se agrava à medida que o governo de Chávez a utiliza cada vez mais para a execução de programas de cunho assistencialista -, a PDVSA vem encontrando dificuldades para oferecer as garantias bancárias exigidas para assumir sua parcela no financiamento.
Do início de 2011 até agora, a PDVSA deixou de cumprir três prazos (o primeiro venceu em agosto; o segundo, em novembro; e o terceiro, em janeiro) para se responsabilizar por sua parte no empréstimo e, desse modo, formalizar sua parceria com a Petrobrás na refinaria em construção em Pernambuco. Mais uma vez, a estatal chavista não conseguiu comprovar as garantias exigidas pelo BNDES.
Mesmo que, na hipótese de a Petrobrás lhe conceder novo prazo, a PDVSA consiga se habilitar a assumir sua parte no empréstimo do BNDES, a questão não estará resolvida. Será necessário fechar os contratos financeiros, o que implicará a aceitação, pela PDVSA, dos valores já gastos na obra. Como manobra meramente protelatória, a estatal controlada por Chávez já questionou publicamente os valores anunciados pela Petrobrás como tendo sido aplicados na Refinaria Abreu e Lima, tendo informado até mesmo que contrataria uma consultoria independente para auditar o custo das obras já realizadas. Poderia, na hipótese otimista de ter aprovadas pelo BNDES as garantias oferecidas, lançar mão dessa manobra mais uma vez, para retardar sua entrada na sociedade, pois isso exige colocar dinheiro na refinaria.
As obras da Abreu e Lima começaram em setembro de 2007 e estima-se que 50% delas já tenham sido executadas, tudo bancado pela sócia brasileira. Por isso, a Petrobrás ainda não encomendou a unidade que processará o óleo proveniente da Venezuela. Com ou sem a participação da PDVSA, a Petrobrás mantém a previsão de que a refinaria estará pronta em 2013.

A crise econômica internacional e o Brasil - Revista Ciencia Hoje

A crise econômica internacional e o Brasil

Como os avanços econômicos e sociais que o país tem vivido podem ser afetados pelos abalos à economia mundial e até que ponto o país é vulnerável? Em série de artigos na CH 289, economistas analisam a questão com perspectivas distintas.
Por: Celia Lessa Kerstenetzky
Revista Ciência Hoje, 07/02/2012
A crise econômica internacional e o Brasil
Para o economista Reinaldo Gonçalves, os países desenvolvidos sairão da crise em médio prazo, enquanto no Brasil, se não houver mudanças significativas, as locomotivas voltarão aos trilhos e o vagão da 3ª classe descarrilará. (ilustração: Mauricio Planel)
O Brasil tem vivido, nos últimos anos, a feliz combinação de avanços econômicos e progresso social, em uma escala de que não se tem memória em muitas gerações.
Se não foi espetacular na comparação com os competidores usuais China e Índia, o crescimento da economia nos deixou em situação vantajosa no que se refere, por exemplo, ao emprego: ao contrário dos ‘rivais’, crescemos no mesmo ritmo que nossos empregos e apoiados em prodigiosa expansão do mercado interno, por sua vez ineditamente abastecido por políticas sociais em sentido amplo.
O inglês Richard Titmuss (1907-1973), fundador do campo teórico do Estado de bem-estar, descreveria nosso experimento recente como uma instância do “crescimento social” com que sonhava.
Não que os problemas remanescentes de crescimento social insuficiente tenham sido eliminados: longe disso. Ainda assim, enquanto a minha geração (a geração do ‘milagre’) cresceu embalada na esperança do crescimento econômico, a nova geração parece energizada pela queda da desigualdade e pelo desenvolvimento humano, aspirações mais exigentes, que serão muito provavelmente referências na formação de suas preferências políticas.
Contudo, o Brasil, assim como o homem, não é uma ilha. Desde 2008, o mundo desenvolvido sofre as consequências de uma crise financeira com epicentro nos Estados Unidos e que, como um rastilho, se espalhou pelas economias europeias e, em menor medida, pelas emergentes, agora globalizadas.
É bem verdade que não se pode generalizar a crise para toda a Europa não periférica, pois o estado de bem-estar tem se expandido, em combinação virtuosa com o crescimento econômico, no tradicional modelo de crescimento social da Escandinávia.
Nos Estados Unidos e em vários países da zona do euro, porém, a crise financeira se converteu em crise fiscal e, nessa qualidade, vem consumindo empregos, escolas, clínicas, proteção social, além de aumentar a pobreza e a desigualdade e gerar insegurança.
Os reflexos da crise, mesmo que modestos, já se fazem sentir nas economias periféricas. Até quando serão modestos?
Os reflexos, mesmo que modestos, já se fazem sentir nas economias periféricas. Até quando serão modestos? Artigo publicado na revista anti-intervencionista The Economist saudava o crescimento apoiado no mercado interno e as políticas brasileiras anticíclicas (que visam suavizar as flutuações no nível da atividade econômica) como muito efetivas para explicar o fato de o Brasil ser o último a entrar e o primeiro a sair da crise de 2008.
No entanto, a crise internacional persiste. Qual exatamente a natureza da crise atual e sua ascendência na crise do mercado imobiliário americano? Quais as possibilidades de reversão? O contágio é evitável? As iniciativas que suavizaram seus efeitos por essas bandas em 2008-2009 podem/devem ser de novo acionadas? Até que ponto estamos vulneráveis à crise por desatenção a fragilidades estruturais que seriam mais propriamente nossas?
Essas e algumas outras questões são tratadas, com perspectivas distintas, pelos economistas Reinaldo Gonçalves, Fernando Cardim de Carvalho e Márcio Garcia em três artigos na CH 289.
Você leu o texto de introdução da série de três artigos sobre a crise econômica internacional publicada na CH 289. Clique no ícone a seguir para ler a série na íntegra PDF aberto (gif)http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2012/289/pdf_aberto/crisemundial289.pdf 
Celia Lessa Kerstenetzky
Departamento de Ciência Política
Universidade Federal Fluminense

Alba vai a guerra: lutarao ate a alba; contra quem, exatamente?

Perguntar não ofende:
Contra quem os países da Alba pretendem lutar?
Ou de quem pretendem se defender?
Existem vizinhos arrogantes, que andaram tomando territórios, em épocas passadas, e que não pretendem devolver, e existem potências imperialistas, neoliberais, capitalistas (enfim, essas coisas atrasadas), que não hesitariam em lutar contra as únicas experiências de construção do socialismo no mundo (sim, porque os outros socialismos estão tratando de destruir delicadamente o sistema, transitando para o capitalismo), mas nunca é demais ter defesas sólidas, exércitos bem armados, preparados para enfrentar qualquer ameaça, whatever...


sábado, 11 de fevereiro de 2012

Yalta: From the pages of History - Roosevelt, Churchill, Stalin (NYT)


ON THIS DAY

On This Day: February 11

Updated February 10, 2012, 1:28 PM
On Feb. 11, 1945, President Roosevelt, British Prime Minister Winston Churchill and Soviet leader Josef Stalin signed the Yalta Agreement during World War II.
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On Feb. 11, 1847, Thomas Alva Edison, the prolific inventor whose more than 1,000 patents included the light bulb and the gramophone, was born. Following his death on Oct. 18, 1931, his obituary appeared in The Times.




Big 3 Doom Nazism and Reich Militarism; Agree on Freed Lands and Oaks Voting; Convoke United Nations in U.S. April 25



YALTA PARLEY ENDS
Unified Blows at Reich, Policing Spheres and Reparations Shaped
FRANCE TO GET ROLE
Broader Polish, Yugoslav Regimes Guaranteed -- Curzon Line Adopted
By Lansing Warren
Special to The New York Times
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Pacific War Role for Soviet Hinted: Date of United Nations Parley Follows 'Denouncing' Time of Russo-Japanese Treaty
OTHER HEADLINESRoosevelt Presses World Money Plan:He Asks Congress for Action on Monetary Fund and on Bank of Reconstruction
Ives Assails Foes of Anti-Race Bills as Disfavor Rises: But Demand for Immediate Vote by CIO Head is Unlikely to Head Off Opposition: Press For Public Hearing: Legislators Confident of Aid From Minorities -- Chamber Attack Called 'Degrading'
Cleve, Pruem Fall:Allies Capture Two Key Westwall Positions in North and Center: Opposition is Light: Germans Draft Women for Volkssturm -- New Clashes Reported
Manila Trap Shut; Luzon Is Crossed:U.S. Forces Unite to Squeeze Capital as Armored Push East Reaches Coast
Red Army Is at Bober River After 16-Mile Gain in Silesia WPB Takes Charge Of Match Output
Monday Meat Ban Flouted Again; Cafes Exhibit and Serve Steaks
Elliott Roosevelt Made Brigadier By Senate 53 to 11, on War Record
Washington, Feb. 12 -- Allied decisions sealing the doom of Nazi Germany and German militarism, coordinating military plans for Germany's occupation and control and maintaining order and establishing popular governments in liberated countries were signed yesterday by President Roosevelt, Marshal Stalin and Prime Minister Churchill near Yalta in the Crimea, the White House announced today.
The conference, held in the summer palace of former Czar Nicholas II on the black Sea shore, also called for a United Nations security conference in San Francisco on April 25.
The parleys, hitherto shrouded in secrecy except for a brief outline of the agenda issued Feb. 7, were held day and night from Feb. 4 until the final signatures were affixed. The announcement did not refer to President Roosevelt's future movements except that he had left the Crimea.
Main Points of Accord
Major decisions of the conference include:
(1) Plans for new blows at the heart of Germany from the east, west, north and south.
(2) Agreement for occupation by the three Allies, each of a separate zone, as Germany is invaded, and an invitation to France to take over a zone and participate as a fourth member of the Control Commission.
(3) Reparations in kind to be paid by Germany for damages, to be set by an Allied commission. The reparations commission, which will establish the type and amount of payments by Germany, will have its headquarters in Moscow. [Secretary of State Stettinius and Ambassador Harriman arrived in Moscow Monday.]
(4) Settlement of questions left undecided at the conference at Dumbarton Oaks and decision to call a United Nations conference at San Francisco April 25 to prepare the charter for a general international organization to maintain peace and security.
(5) Specific agreements to widen the scope of the present Governments in Poland and Yugoslavia and an understanding to keep order and establish Governments in liberated countries conforming to the popular will and the principles of the Atlantic Charter.
(6) A general declaration of determination to maintain Allied unity for peace.
German People Apart
The statement announced common policies for enforcing unconditional surrender and imposing Nazi Germany's doom. The document draws a distinction between the Nazi system, laws and institutions, the German General Staff and its militarism, which will be relentlessly wiped out, and the German people.
"It is not our purpose," it declared," to destroy the people of Germany, but only when nazism and militarism have been extirpated will there be hope for a decent life for Germans, and a place for them in the community of nations."
Until this conference the Allies had laid down no iron-clad program for the control and complete reorganization of Germany. Military plans will be made known only "as we execute them," said the statement, and the surrender terms "not until the final defeat has been accomplished."
Coordinated administration and control has been provided in a central Control Commission, which will be established with headquarters in Berlin. Part of its work will be to insist on the destruction of all German military equipment, elimination or control of all German industry that could be used for military production, the punishment of war criminals and the wiping out of all Nazi institutions from the German economic and cultural life.
The document mentioned no discussion of plans in the Far eastern theatre of the war or any understanding with the Soviet Union for entry into the war against Japan, but the fact that the date for the United Nations conference, April 25, comes one day after the date determining of a renewal of the Russo-Japanese agreement was remarked as significant.
That San Francisco had been chosen as the site for the next security conference of the United Nations, along with the date, aroused considerable interest here because of the city's remoteness from the European theatre of war and its position nearer the Far Eastern theatre.
New Cabinet Indicated
Special dispositions with regard to Poland include the widening of the present Provisional Government to include other democratic leaders in Poland and abroad.
The agreement sets the Polish eastern boundary, with a few alterations in favor of Poland, along the Curzon Line and recognizes that Poland must acquire substantial territory in the north and west but leaves these decisions to the peace conference. This is the first official mention to confirm the Allies' contemplation of a general peace conference.
With regard to the conflict for power in Yugoslavia the Allies have agreed that Marshal Tito and Dr. Ivan Subasitch shall set up the Government they have proposed but to include former members of the Parliament who did not collaborate with the enemy.
These Governments, it is provided, will be succeeded by those formed in conformity with desires expressed in popular elections and in the spirit of the Atlantic Charter. The statement does not deal specifically with the situation in Greece or other countries but declares that the conference also made a general review of other Balkan questions.
Fascism to Be Uprooted
In a declaration on the liberated areas, the Allies announced the intention of consulting in the interests of the liberated peoples and to cooperate in rebuilding the national economic life in these countries. Vestiges of nazism and fascism are to be destroyed, and the Allies will cooperate to establish internal peace, carry relief and form interim governments broadly representative in the Axis satellite states as well as in liberated Allied countries.
An important feature of the international security discussions was contained in the announcements that the three powers had reached agreement on the disputed question of voting procedure, which prevented completion of the work at Dumbarton Oaks. No indication of the solution was given.
The three Chiefs of State were assisted by their Foreign Ministers, chiefs of military staffs and numerous other experts, as was the case in the previous three-power meetings. Besides Secretary of State Edward R. Stettinius Jr., President Roosevelt was accompanied by Harry L. Hopkins, his special assistant, and Justice James F. Byrnes, Director of the Office of War Mobilization and Reconversion.
Other United States delegates included W. Averell Harriman, Ambassador to the Soviet Union; H. Freeman Matthews, the State Department's Director of European Affairs; Alger Hiss, Deputy Director of Special Political Affairs, and Charles E. Bohlen, assistant to the Secretary of State.
Throughout the Conference President Roosevelt occupied apartments in the former palace of the Czars. Marshal Stalin and Prime Minister Churchill were housed in separate establishments near by.
Three women were with the delegations. Though they did not participate in the discussions, they were received as conference guests. They were Mrs. Anna Boettiger, daughter of President and Mrs. Roosevelt; Mrs. Sarah Oliver, daughter of Prime Minister and Mrs. Churchill, and Kathleen Harriman, daughter of the Ambassador to Moscow.
President Roosevelt's party also included Edward J. Flynn of New York, who did not attend conference meetings but was invited as a personal friend when Mr. Roosevelt learned that he was planning a visit to Moscow.
Leahy Also in Party
Others in the President's personal party were Admiral William D. Leahy, chief of staff to the President; Mr. Byrnes, Vice Admirals Ross T. McIntyre and Wilson Brown, Maj. Gen. Edwin M. Watson and Stephen Early, the President's secretary.
President Roosevelt, whose movements have been obscured by censorship for more than three weeks, left Washington for the Crimea conference almost immediately after his inauguration ceremonies on Jan. 20. The details of the voyage were not made public, but it was revealed that the President met Prime Minister Churchill on the island of Malta, which the British and American delegations reached Feb. 2. President Roosevelt and Mr. Churchill made a prolonged exchange of views and there were formal discussions between the British and United States Military chiefs of staff.
President Roosevelt left Malta the night of Feb. 2, going by air direct to Yalta, where he was met by Foreign Commissar Vyacheslaff M. Molotoff, who extended greetings for Marshal Stalin.
The Presidential party proceeded along the Black Sea shore two miles southwest to Livadia, where stands the magnificent Summer Palace.
Meetings began the next day on the arrival of Marshal Stalin, who flew from his headquarters on the Russian front, where the Silesian Offensive was just getting under way. The delegates met either in committees or as a group. Besides daily meetings of the three heads of Governments and the Foreign Secretaries, separate meetings of the Foreign Secretaries and their advisers were held daily.
The Foreign Secretaries arranged for regular conferences every three of four months. The meetings will be held in rotation in the three capitals, the first to be called in London after the San Francisco meeting.
At the close of the conference President Roosevelt presented to Marshal Stalin a number of decorations awarded by the United States to military men in the Red Army. Those to be decorated will receive the rank of commander in the Legion of Merit. They include Marshal Alexander M. Vasilevsky, Chief of the General Staff of the Red Army; Air Chief Marshal Alexander A. Novikoff, commanding general of the Red Air Forces; Gen. A. K. Repin, Chief of the Soviet Military Mission to the United States; Lieutenant General Brendal, Lieutenant Colonel Krolenko, Major General Levanovich, Major General Slavin, Deputy Chief of the Red Army Staff, and Colonel Byaz.
The decorations were given in recognition of distinguished services in connection with their cooperation in American Air Force shuttle-bombing operations in Germany.
The first news of the historic consultation at Yalta was issued at the White House by Jonathan Daniels, administrative assistant to the President, who opened his announcement to the impatient correspondents with the statement: "This is it."
Announcement of the Allied report on the conference made in the Senate was greeted with cheers, which continued while the upper house adjourned.

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