O governo Dutra exibe a pior avaliação de todos nos livros de história tradicionais (isto é, de esquerda) basicamente por dois fatos: culpado de ter colocado na ilegalidade o Partido Comunista (ou seja, era de "direita"), e culpado pela rápida deterioração do balanço de pagamentos, pelo aumento maciço das importações e o esgotamento das divisas acumuladas durante a guerra.
No primeiro quesito, digamos que seja verdade: sim, ele era de direita e anticomunista, e aproveitou um pretexto qualquer para proibir o Partidão. Não importa se Prestes era um idiota e que ele tivesse declarado em resposta a uma pergunta marota de um jornalista, que o Partido ficaria do lado da União Soviética em caso de guerra do Brasil contra o império comunista (sic), o fato é que Dutra não gostava dos comunistas, aliás desde antes da Intentona de 1935.
No segundo quesito, a situação brasileira era claramente irracional: tinhamos passado anos sem importar nada, sob o regime emergencial do Estado de guerra, e normal assim que, passada essa fase, a indústria precisasse se reequipar e o consumo retomar com base em importados, já que não produzíamos quase nada, nem alimentos em volume e qualidade suficientes.
De todo modo, o governo "liberal" de Dutra "torrou" as divisas em importações "inúteis", dizem os críticos.
Pois agora, o governo anti-neoliberal dos companheiros também realiza esse feito histórico de torrar divisas com importações e produzir o maior déficit histórico da balança de transações correntes. Que coisa, companheiros, desse jeito vocês ainda vão nos arrastar para uma crise de transações correntes e para os braços do FMI, quem diria!?
Aliás, seria bom, seja uma crise dessas ou uma de natureza fiscal, pois só premido pelas crises, o Brasil realiza reformas. Não tenho certeza de que sejam as boas reformas, pois podem reforçar o protecionismo e a introversão, mais do que já temos, mas pelo menos alguma coisa tem de mudar.
Passo por cima dos erros de redação -- jornalistas não sabem mais escrever e os jornais parece que não tem mais revisores -- como esse de que "As remessas líquidas ... subiu em janeiro..."-- para simplesmente transcrever a matéria sobre o assunto e, mais abaixo, a avaliação de um analista de mercado, do Citibank, mostrando que a situação ainda pode piorar mais.
Pudera: o governo atua como aprendiz de feiticeiro, tanto na área monetária como no terreno cambial, pensando que pode enganar e orientar o mercado à custa de ordens políticas e intervencionismo renitente, continuado, e mal administrado.
Paulo Roberto de Almeida
Contas externas de janeiro têm o pior déficit da história
Déficit em conta corrente somou US$ 11,4 bilhões em janeiro
22 de fevereiro de 2013 | 10h 51
Adriana Fernandes e Eduardo Cucolo, da Agência Estado
BRASÍLIA - As contas externas se deterioram e
apresentaram em janeiro o pior resultado para todos os meses. O déficit
em transações correntes no mês passado ficou em US$ 11,371 bilhões,
informou há pouco o Banco Central. É o pior resultado para todos os
meses desde o início da série histórica da autoridade monetária, que
teve início em 1947.
O resultado de janeiro ficou abaixo das estimativas do próprio Banco
Central, que esperava um déficit de US$ 8,3 bilhões no mês. Porém, ficou
dentro do intervalo das estimativas coletadas pelo AE Projeções, de
déficit entre US$ 8,7 bilhões e US$ 13 bilhões, mas pior que o déficit
projetado pela mediana, de US$ -9,6 bilhões.
Em janeiro do ano passado, o déficit na conta de transações correntes
do balanço de pagamentos foi de US$ 7,05 bilhões. Nos últimos 12 meses
até janeiro, o déficit em transações correntes subiu para US$ 58,568
bilhões o equivalente a 2,58% do Produto Interno Bruto (PIB). O BC
projeta uma déficit de US$ 65 bilhões em 2013.
Lucros e dividendos
As remessas líquidas de lucros e dividendos de empresas estrangeiras
instaladas no Brasil para o exterior subiu em janeiro para US$ 2,068
bilhões. O valor mostra uma piora em relação a janeiro de 2012, quando
as remessas atingiram US$ 981 milhões.
Enquanto as receitas somaram US$ 76 milhões, as despesas atingiram
US$ 2,144 bilhões em janeiro. As despesas líquidas com o pagamento de
juros no exterior atingiram US$ 1,813 bilhão em janeiro. Esses gastos
aumentaram em relação a janeiro do ano passado, quando somaram US$ 1,623
bilhão.
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Brazil Macro Flash: Sharp and Worse Current
Account Deficit in January
Author:
Marcelo Kfoury